Repórter Brasil - Essa foi uma semana importante para o petróleo brasileiro. É sobre este assunto que eu converso agora com o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Presidente, a exploração de petróleo na camada pré-sal vai dar um salto importante na economia. Quando o cidadão poderá vir a sentir os efeitos de toda essa economia em torno do petróleo. Há possibilidade, por exemplo, de redução do preço do combustível? Gabrielli - Não. O preço do combustível não é em função da produção, mas em função da possibilidade de se substituir o barril que foi usado. Tem que haver uma relação de longo prazo com o mercado tradicional. Importante lembrar que para produzir petróleo no mar é necessário infraestrutura. Precisase de barcos de apoio para levar e trazer equipamento e de helicópteros para levar e trazer pessoas. Precisa-se de comida e equipamentos para serem levados até lá. Precisa de alguém que faça o equipamento de produção que vai ficar flutuando, alguém tem que fazer as tubulações que vão ligar o equipamento que está flutuando ao fundo do mar. Tudo isso envolve compra de serviços e de bens. O que nós - o presidente Lula e a Petrobras - estamos querendo fazer é essencialmente vincular o crescimento da produção do petróleo à capacidade de crescer da indústria brasileira mecânica, de motores, de metalurgia, de equipamentos, naval, construção e montagem. Fazer crescer essa cadeia produtiva como um todo. No plano atual de desenvolvimento da Petrobras, nós achamos que nossos investimentos vão viabilizar a manutenção, em média, de 1 milhão de postos de trabalho por ano. Com o présal, esse volume deve ser maior, conseqüentemente isso significa de imediato a viabilização de novas oportunidades de emprego, de renda, de trabalho, aumento da atividade econômica como um todo, melhoria das condições de impostos, aumento da arrecadação dos estados, viabilização de novos programas de ação social e desenvolvimento. Por outro lado, o petróleo é intensivamente taxado – impostos são muito altos – e conseqüentemente a geração de renda pelo petróleo paga muito imposto. Com o novo marco regulatório que o presidente Lula enviou ao Congresso, essa parcela da renda do petróleo que vai para a União será ainda maior. Isso significa, portanto, que a União terá mais recursos para desenvolver seus programas de combate de pobreza, de melhoria das condições educacionais, de saúde, de inovação em tecnologia, de programas para o meio ambiente. Como conseqüência nós temos geração de emprego e renda, aumento da arrecadação e também uma disponibilização maior do produto. O grande benefício do pré-sal não é o fato de ter mais petróleo. É a máquina que vai movimentar para produzir o petróleo. Repórter Brasil - Há duas preocupações com relação a esse momento de exploração. Uma em relação à tecnologia, o Brasil dispõe dessa tecnologia, tem vários estudos neste sentido, e também a qualificação da mão de obra. Há investimento neste momento suficiente para que essa mão de obra possa se beneficiar desse momento futuro? Gabrielli - Nós hoje temos um programa chamado “Programa de Mobilização da Indústria Nacional do Petróleo” que é um programa de vários órgãos do Governo, incluindo a Petrobras, que é a coordenadora. Estamos programando até 2010 fazer o treinamento de 243 mil pessoas. Mapeamos centenas de diferentes ocupações, onde há necessidade de treinamento, estamos com centenas de instituições de ensino e de treinamento mobilizadas para darem estes cursos, são milhares de cursos a serem dados no Brasil. Nós temos inclusive em alguns casos muito grandes bancando bolsas de estudos para poderem participar dos cursos. Este treinamento não é para a Petrobras, é para o pessoal que vai trabalhar nas empresas que trabalham para a Petrobras. Portanto nós temos consciência plena de que um investimento muito forte em treinamento e qualificação da mão-de-obra é fundamental para manter esse crescimento. Esse programa está desenhado, é o que existe hoje de desenvolvimento das áreas já concedidas do pré-sal, e com o novo marco regulatório, com as novas áreas, o programa vai se expandir e com certeza vai fazer com que a indústria e a economia brasileiras cresçam. É indispensável reforçar o treinamento de mão de obra. Repórter Brasil - Reforçar agora. Gabrielli - Reforçar agora, porque isso leva tempo. Imagine que vão se formar engenheiros, profissionais, isso vai levar seis, sete, oito anos para começar a ter a primeira leva significativa de novos funcionários. Por outro lado, a Petrobras tem uma situação muito interessante, porque tem 60% dos seus trabalhadores com mais de 18 anos na companhia e 40% com menos de oito. Entre 8 e 18 praticamente não tem nenhum. Ela tem um vazio de 10 anos que levou sem contratar ninguém que precisa rapidamente ser preenchido, porque os que têm 18 anos na companhia vão provavelmente se aposentar daqui a algum tempo e devem ser substituídos. Não se pode ficar, no futuro, com 10 anos sem gente para trabalhar. Deve-se estreitar isso acelerando contratações. Isto já está em curso. Nos últimos anos nós contratamos via concurso 40% da força de trabalho da Petrobras. Repórter Brasil - O que o senhor, presidente da Petrobras, considera mais justo: manter ou alterar as regras da distribuição de royalties para os estados? Gabrielli - Para o presidente da Petrobras isso é relativamente indiferente. A Petrobras pagará os royalties e os impostos qualquer que seja a sua distribuição. Eu, como cidadão, acho que os royalties e participações que a Petrobras vai pagar em relação ao pré-sal são muito grandes. O critério atual de redistribuição entre os estados é extremamente concentrador nos estados produtores. Eu acredito que essa riqueza não pode ser concentrada apenas nos estados produtores, deveria ser redistribuída para o conjunto dos estados brasileiros, porque a sociedade brasileira é, em última instância, a principal beneficiária dessa riqueza, pertence a ela. Então, neste sentido, eu acho que uma redistribuição das rendas nacionais poderia ser considerada, mas para a Petrobras é indiferente, nós vamos pagar de qualquer maneira. Esta regra de redistribuição provavelmente não deve ser igualitária, porque os estados produtores devem receber uma parcela um pouco maior. Da regra atual eu acho que é muito desigual a distribuição dos royalties e das participações especiais. Repórter Brasil – Agora, com o anúncio do marco regulatório, qual o principal desafio em relação ao pré-sal? Gabrielli - Eu acredito que o maior desafio em relação ao pré-sal é montar a indústria brasileira de fornecimento, a cadeia de fornecedores da companhia. Porque o ritmo de velocidade da produção do pré-sal pode ser muito alto, se a indústria brasileira não estiver bem preparada isso vai trazer, ao invés de benefícios, muitos malefícios. Vai fazer o que se chama “a maldição do petróleo”, que é a indústria de petróleo crescer muito, mas, nada mais em volta cresce e fica toda a economia do país, toda a sociedade, fortemente dependente do preço do petróleo, fortemente dependente da atividade petrolífera. Não acredito que o presidente Lula, o governo brasileiro, queira desenhar para a sociedade brasileira esse futuro. É importante utilizar essa produção e essa riqueza para viabilizar uma distribuição da renda e fortalecer a capacidade de produção para o conjunto das atividades. O que significa, portanto, que o ritmo de velocidade de produção de novos barris de petróleo para produção do pré-sal vai estar muito fortemente condicionado pelo crescimento da indústria de fornecedores do Brasil. O setor deverá criar mais empregos, mais oportunidades de trabalho e possibilidades da economia brasileira crescer, e não se contrair. Repórter Brasil - Para o cidadão brasileiro, não só para a Petrobras, o momento é bastante especial, com oportunidades, não só de negócios para a Petrobras, mas de geração de novas frentes de trabalho, qualificação da mão de obra. Gabrielli - Existem hoje aberturas de oportunidades e possibilidades enormes para vários segmentos. Como você mencionou, as atividades industriais, a cadeia produtiva de fornecimento do petróleo, as áreas de treinamento e formação de mão de obra, os provedores de serviços para essas atividades, o impacto ambiental e imobiliário que isso traz em várias regiões, fazendo, portanto que haja dinamização de várias economias. Há ainda o efeito que o aumento da arrecadação tributária vai ter sobre os estados e municípios da União Brasileira. É um fator arrecadador importante.