1 Universidade de Brasília Benilce Alves de Jesus Rodrigues O PAPEL DO ESPORTE ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Belo Horizonte Março de 2007 2 Benilce Alves de Jesus Rodrigues O PAPEL DO ESPORTE ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Monografia apresentada ao curso de especialização em Esporte Escolar pelo Centro de Educação a Distância, da Universidade de Brasília, como requisito parcial de obtenção de titulo de especialista. Área de especialização: ensino aprendizagem Orientadora: Professora Cristiane Abranches Pereira Benda Belo Horizonte Março de 2007 3 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a Deus, a todos que me apoiaram e incentivaram. E principalmente aos nossos alunos portadores de necessidades especiais, que me ajudaram a ver o mundo com outros olhos e entender que um simples olhar de aceitação e inclusão pode mudar o mundo. 4 AGRADECIMENTOS A Deus pela força concedida para poder iniciar, desenvolver e concluir este trabalho. Aos mestres que contribuíram para o crescimento e aperfeiçoamento, em especial a Orientadora da monografia Cristiane Abranches Pereira Benda . 5 UM CREDO DE FÉ CREIO: . Que ninguém precisa pular, gritar, ver e ouvir para ser eficiente. . Que toda criança é importante. . Que a educação pública pode e deve oferecer serviços a todas as crianças inclusive as excepcionais. . Que a educação especial é parte e não à parte da educação comum. . Que em educação é tão importante o que se faz pela criança como o que se faz com a criança. . Que o maior problema de um deficiente não seja andar, falar, ver e ouvir. Mas sim, ser Útil. 6 SUMÁRIO RESUMO...........................................................................................................................07 1- INTRODUÇÃO.............................................................................................................08 1.1 Problema..............................................................................................................08 1.2- Justificativa..........................................................................................................08 1.3- Objetivos..............................................................................................................09 2- REVISÃO DE LITERATURA.....................................................................................10 2.1-Retrospectiva Histórica da Educação Especial.............................................10 2.2 - Legislação........................................................................................................15 2.3 - Formação Profissional...................................................................................19 2.4 - O Papel do Esporte Escolar na Educação Inclusiva....................................22 . Princípios e características.............................................................................22 .O Profissional de Educação Física e a inclusão Escolar...............................26 .Enfoque Sociointeracionista de Vigotsky.....................................................27 2.5-Aspectos Organizacionais e Pedagógicos na Educação Inclusiva................30 . Adequação do Espaço Físico...........................................................................30 .Gestão................................................................................................................32 .Organização de Currículos.............................................................................36 .Relação Professor Aluno.................................................................................38 . Avaliação Escolar.............................................................................................40 3 – MÉTODO.....................................................................................................................42 3.1 Amostra..............................................................................................................42 3.2 Procedimentos..................................................................................................44 . Depoimentos....................................................................................................45 3.3 Análise dos dados..............................................................................................49 3.4 Resultados.........................................................................................................50 4- CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................51 REFERÊNCIAS................................................................................................................53 7 RESUMO A proposta de Educação Inclusiva fundamenta-se na teoria de Vigotsky que sugere um novo paradigma possibilitando um modo diferente de olhar a escola, o conhecimento, o aluno, o professor e a sociedade. O núcleo temático desta pesquisa teve como finalidade estudar sobre a educação oferecida aos alunos com necessidades educativas especiais, conhecer a história da educação especial até os nossos dias e a contribuição do Esporte Escolar na Educação Inclusiva. Esta monografia tem por tema O papel do Esporte Escolar na Educação do Sujeito com Dificuldades de Aprendizagem. O enfoque que se dá na monografia é de um sujeito global, que pode apresentar dificuldades ou deficiências que não o impedem de aprender e desenvolver o seu potencial. A metodologia do texto é de uma pesquisa bibliográfica sobre o tema e de uma pesquisa de campo, ou seja, uma entrevista para saber como está sendo implementada a prática pedagógica inclusiva para todos os alunos, com ênfase a Educação Física. Os resultados permitiram através dos depoimentos, concluir que o Esporte Escolar exerce grande influência no desenvolvimento emocional e social de todos os alunos. Mas, ainda se faz preciso apontar os descompassos existentes que se apresentam como desafios para que seja garantida a educação escolar para todos e o papel da sociedade pela garantia dos direitos legitimados. Palavras chaves: inclusão, Educação Física e Esporte pedagógica, pesquisa de campo. Escolar, prática 8 1- INTRODUÇÃO 1.1- Problema A educação deve ser, por princípio, liberal, democrática e não doutrinária. Dentro desta concepção o educando é, acima de tudo, digno de respeito e do direito à educação da melhor qualidade. A principal preocupação da educação, desta forma, deve ser o desenvolvimento integral do aluno e a sua preparação para a vida produtiva na sociedade. A presente proposta busca refletir sobre a contribuição do esporte escolar na inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais no ensino regular. A inquietação subjetiva do tema abordado é pautada na seguinte problemática: -Será que o esporte escolar contribui para a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais no ensino regular? 1.2- Justificativa O presente estudo justificasse pelo fato de ser um tema muito polêmico no campo educacional. Este é um desafio proposto à escola atual, que se depara com a exigência de realizar mudanças educacionais, para que atenda a cada aluno dentro de sua especificidade e proporcione uma educação de qualidade a todos estes. A educação de alunos com necessidades educativas especiais tem sido objeto de estudo e discussão por vários autores que buscam alternativas eficazes de atendimento educacional a esses alunos. Com o objetivo de reverter a situação de segregação e descaso para com essas pessoas é que se apresenta a proposta da escola que já está sendo adotada por alguns países. Essa escola visa a inclusão de todos os alunos ao ensino regular, independente das suas limitações, por que acredita nas suas potencialidades. Baseado no direito à educação, no direito à igualdade de oportunidade e no direito de participar na sociedade, a escola inclusiva centra-se 9 na problemática do ensino e da aprendizagem atendendo a individualidade de cada aluno e suas necessidades educativas especiais. Fica o desafio de assegurar a educação como direito social do cidadão portador de deficiência. As diferenças específicas de cada homem não devem prevalecer sobre a sua humanidade. Apesar da prática da inclusão ser uma situação real em nosso cotidiano há uma grande necessidade de aprofundar as idéias sobre este assunto. A escassez de informações e a falta de preparo dos profissionais de educação, ainda têm gerado grande insegurança e dúvidas no processo de inclusão nas séries iniciais do Ensino Fundamental. 1.3- Objetivos Este tema tem como objetivo geral saber como está sendo implementada a prática pedagógica inclusiva para todos os alunos, com ênfase a Educação Física. Os objetivos específicos visam contextualizar historicamente a educação especial no Brasil, discutindo a atual política de educação contida na Lei de diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96) que tem como princípio a educação para todos sem qualquer forma de exclusão, Analisar o processo de inclusão das pessoas com necessidades especiais na escola, na sociedade e principalmente no esporte, discutir as práticas que respeitam as diferenças individuais, com ênfase no atendimento nas aulas de Educação Física. O Art. 60 parágrafo único é bem claro quando diz: O poder Público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições especializadas. Mas para que a escola inclua realmente todos os alunos, é necessário a participação e responsabilidade dos governos e de toda sociedade. 10 2- REVISÃO DE LITERATURA 2.1 RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA EDUCACAO ESPECIAL A perspectiva da deficiência andou sempre ligada a crenças sobrenaturais, demoníacas e supersticiosas. ... As coisas e situações desconhecidas causam temor, a falta de conhecimento sobre as deficiências em muito contribui para que as pessoas portadoras de deficiência, por serem diferentes “fossem marginalizadas, ignoradas” (MAZZOTTA, 1996, p. 16). Pessoas com deficiências físicas ou mentais na antiguidade, não eram consideradas seres humanos como as demais, concepção que justificava as práticas de eliminação ou abandono de crianças mal formadas ou deficientes. Com o advento do cristianismo, os “deficientes”, passam a também ter alma, o que, conceitualmente, lhes outorga o status de ser humano. Eliminá-los deixa de ser uma prática aceitável, por ferir os desígnios divinos. Possuidores de alma, filhos de Deus, porém nunca iguais, sempre marginalizados. Os “deficientes” passam pelo conformismo piedoso do cristianismo até à segregação e marginalização operadas pelos “exorcistas” e “esconjuradores” da Idade Média, os quais eram considerados possuídos pelo demônio, alguns estados de transe eram aceitos como possessão e os cegos reverenciados como videntes, profetas e adivinhos. Através da Revolução Francesa que tinha como ideais a liberdade, igualdade e fraternidade, estas pessoas passaram a ser objeto de assistência e entregues aos cuidados de organizações caritativas e religiosas. Segundo Fonseca (1995), os trabalhos científicos vieram dar uma nova visão à problemática com a criação do conceito da idade mental e o nascimento da psicanálise como técnica terapêutica. Os períodos de pós-guerra, também imprimiram novos dados ao problema como o estudo da neurologia e da patologia do cérebro. Esses estudos foram importantíssimos pela contribuição que trouxeram a compreensão e a educação da criança “deficiente”. Com a valorização dos direitos humanos após a 2ª Guerra Mundial, surgem os conceitos de igualdade de oportunidades, direito à diferença, justiça social nas novas concepções jurídico-políticas, filosóficas e sociais de 11 organizações como a Organização das Nações Unidas, para a Educação, a Ciência e a Cultura, Organização Mundial de Saúde, Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, conselho da Europa, Organização Internacional do Trabalho, reabilitação Internacional. As pessoas com deficiências passaram a ser consideradas possuidoras dos mesmos direitos e deveres de todos os outros cidadãos e, entre eles, o direito à participação na vida social e à sua conseqüente integração escolar e profissional. Mas com todas essas conquistas, continuaram sendo discriminadas. “O Deficiente é uma pessoa estigmatizada pelo meio social. A idade, a cor da pele, a diferença social, a diferença física ou mesmo comportamental têm sido, com freqüência, marca em nossa sociedade, servindo essas pessoas ao abuso do poder, ou livre arbítrio” (ROSADAS, 1994:9). Para Fonseca (1995) os poderes de comportamento convencionados como normais em uma sociedade dependem, fundamentalmente, dos valores de sua cultura. Em toda sociedade, por razões as mais diversas, há inúmeras pessoas que não atendem apropriadamente às exigências estabelecidas para seus membros e as diferenças individuais tendem a se acentuar ou não em função das exigências naturais e sociais do meio; e do grau de tolerância, compreensão ou aceitação da sociedade para com as diferenças existentes entre os seus membros. Não é difícil compreender que os membros de cada sociedade serão considerados normais ou desviantes, em relação às respostas que der a tais exigências. E neste contexto, as pessoas que apresentam respostas muito diferentes daquelas que são esperadas, ou que não são consideradas importantes para o grupo social, passam a ser vistas como “anormais", já que não se conformam às normas e valores estabelecidos. No final da década de 70 houve uma profunda modificação na concepção clássica da excepcionalidade que passou a ser entendida sob uma perspectiva educacional que busca substituir a terminologia da deficiência por necessidades educativas especiais. Essa expressão aparece pela primeira vez na Inglaterra, no relatório Warnock, publicado em 1978 como resultado de inquérito feito sobre o atendimento educacional de crianças pré-escolares e crianças “deficientes”. Esse documento recomendava a abolição das categorizações como base para 12 identificar crianças com necessidades especiais, segundo a natureza de suas dificuldades. O conceito de necessidades educativas especiais passa a ser usado quando o aluno apresenta, na sua escolarização, algum problema de aprendizagem que exige atenção específica e maiores recursos educacionais para atender suas necessidades e evitar dificuldades. Essa concepção amplia os limites da Educação Especial incluindo um número cada vez maior de alunos com variadas dificuldades de aprendizagem como atrasos na aprendizagem de diferentes matérias, lentidão na compreensão da leitura, problemas de linguagem, distúrbios emocionais, de conduta, sociais e outros. Estes alunos constituem uma grande proporção da população. A Educação Especial deixa assim de ser concebida como a educação para um certo tipo de aluno para ser considerada como o conjunto de recursos humanos e materiais à disposição do sistema educativo eliminando o sistema paralelo segregador. Uma análise retrospectiva da história da Educação Especial no Brasil evidencia que sua trajetória acompanha a evolução da conquista dos direitos humanos. Houve época em que pessoas portadoras de deficiências eram sacrificadas porque nada de útil representavam para a sociedade. A filosofia humanística ainda não tinha seus contornos delineados, o que explica os choques de idéias quanto ao posicionamento do homem na vida social, econômica, política e religiosa. Durante séculos, os portadores de deficiência foram considerados seres distintos e à margem dos grupos sociais. Mas, à medida que o direito do homem à igualdade e à cidadania tornou-se motivo de preocupação dos pensadores, a história da Educação Especial começou a mudar. A histórica rejeição aos portadores de deficiência cedeu lugar à compaixão e às atitudes de proteção e filantropia, que até hoje perduram e muitas vezes prevalecem, apesar de todos os esforços que têm sido realizados para que essa postura seja substituída pelo reconhecimento da igualdade de direitos a todo cidadão, sem discriminações. Nas duas últimas décadas, registraram-se consideráveis avanços na conquista da igualdade e do exercício de direitos. 13 No âmbito legal merecem destaque: • A lei 5.692/71, das Diretrizes e bases do Ensino de 1º e 2º Graus, que no Art. 9 confere destaque ao atendimento a portadores de deficiência; • A Constituição Federal, que no Art. 208, inciso III, garante o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiências em igualdade de condições como qualquer outro aluno. Além deste inciso, todo o texto da carta Magna aplica-se às pessoas portadoras de necessidades especiais, o que é compatível com o ideário da democracia. No âmbito político-administrativo, ainda em 1971, o Ministério da Educação e Cultura criou um grupo tarefa, através da Portaria n. º 86, de 17 de junho, para realizar uma completa avaliação da Educação especial no Brasil, que resultou na apresentação de um relatório, de dezembro do mesmo ano, com sugestões, diretrizes e propostas para a criação de órgão especializado, destinado a lidar exclusivamente com a Educação Especial. Naquele momento, a centralização administrativa era aconselhada, porque as decisões em torno da Educação especial, além de assistemáticas, permaneciam apenas no âmbito dos Conselhos Estaduais de Educação. Era, portanto, necessário criar um órgão que centralizasse e direcionasse tais ações. Mais que uma referência cronológica, este fato tem um significado sócio-político, com desdobramentos que perduram até os dias atuais. A intenção de estabelecer e garantir o atendimento pedagógico em Educação especial materializou-se em 1972 quando, por ocasião da formulação do 1º Plano setorial de Educação, o governo elegeu a Educação especial como área prioritária. Em decorrência deste Plano, foi criado o centro Nacional de Educação especial (CENESP). Este fato reveste-se da maior importância, em qualquer análise histórica que se faça a respeito, por marcar o início das ações sistematizadas, visando à expansão e melhoria do atendimento educacional prestado no Brasil. Atualmente é à Secretaria de Educação Especial – SEESP/MEC, que cabem essas responsabilidades. Em consonância com as atribuições do Ministério da Educação e do Desporto, a Secretaria de Educação Especial coordena ações voltadas à formulação de políticas, oferece fomento técnico e 14 financeiro, e promove as articulações necessárias de aprimoramento da Educação Especial em Organizações Governamentais e Organizações Não Governamentais. Hoje, a administração do Ministério da Educação e Cultura coloca, em seu organograma, a Educação Especial no mesmo patamar administrativo dos demais graus de ensino. No âmbito técnico-científico, a questão das pessoas portadoras de deficiências ganhou a relevância internacional em 1981, ano a elas dedicado. No Brasil, além do Congresso nacional, que possibilitou trocas de experiências entre diversos países, inúmeras outras ações foram desde então desencadeadas, em atenção aos direitos e deveres dessas pessoas. Nas duas últimas décadas, registrou-se sensível aumento da produção teórica, fruto de estudos e pesquisas que têm substituído as práticas empíricas e destituídas de cunho científico, nas propostas pedagógicas. Igualmente, influentes têm sido os movimentos em prol da operacionalização do processo de integração escolar e no mundo do trabalho. Ultimamente, a questão tem ocupado a principal temática dos eventos que se realizam em todo o Brasil, ao lado de uma discussão salutar acerca dos princípios de normalização, simplificação e individualização. A sociedade civil organizada, particularmente os grupos de técnicos e os familiares têm sido responsáveis por uma importante parcela do avanço da Educação Especial no Brasil. As Organizações não Governamentais, nestas incluem-se as APAEs, representam, ainda hoje, significativa frente de trabalho, atuando também como grupo de pressão em prol da conquista de direitos a que todos fazem jus, sem discriminações. Segundo Werneck (1993) esse período é conhecido na educação especial como fase de integração. Dentre os princípios norteadores destacam-se: • Individualização: adequação do atendimento educacional às necessidades de cada aluno, respeitando-se, assim, suas diferenças individuais. • Normalização: oferecimento aos alunos portadores de deficiências as mesmas oportunidades, estilo ou padrão de vida considerado normal, ou comum à cultura em que eles estão inseridos. • Integração: inserção de pessoas portadoras de deficiências nos sistemas sociais como educação, trabalho, família e lazer. 15 O conceito de Educação Inclusiva entra em nossa realidade educacional a partir do documento das Organizações das Nações Unidas, “Educação para todos” de 1990 e a Declaração de Salamanca de 1994. Apesar de se registrarem conquistas importantes nessas duas últimas décadas, ainda persistem inúmeras dificuldades, sobretudo no que diz respeito à conceituação de deficiência e a oposição ensino especial x Ensino Regular. 2.2 - LEGISLAÇÂO “Educação: direito de todos”, este princípio objetiva possibilitar que pessoas com necessidades especiais devido suas características relacionadas com impedimentos, deficiências, ou incapacidades, tenham também oportunidade de desenvolver suas condições pessoais, suas potencialidades. (ROSADAS, 1994: 38). Em nível nacional a legislação vem realizando substancialmente o desenvolvimento da Educação Especial. A estrutura jurídica aborda, em diversos momentos, a questão dos indivíduos com necessidades especiais. Analisaremos, entretanto os documentos mais importantes que dizem respeito ao direito à educação e a sua inserção na rede regular de ensino. A Constituição Federal promulgada em 1988 aborda a questão das pessoas com necessidades especiais. Há dispositivos que garantem a igualdade de direitos no trabalho, as adaptações materiais, físicas e sociais visando a lhes propiciar acesso aos bens sociais e locomoção o mais independente possível, bem como o direito à assistência social especial, ao ensino especializado, sempre que necessário. Conforme texto constitucional: Art. 208 – O dever do estado com a educação será efetivo mediante garantia de: III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado o direito de assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à conviv6encia familiar e comunitária, além de colocá-los a 16 salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. III – criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador da deficiência, mediante treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. Embora a Constituição Brasileira esteja garantindo aos alunos com necessidades especiais o direito à educação e ao atendimento nas escolas regulares, ela não incentiva a inclusão, pois, define que o atendimento desses alunos deve ser especializado, prevendo a manutenção das classes especiais, escalas ou serviços especializados, para atender somente aqueles que não podem se beneficiar da escolaridade em classe de ensino regular. Trata-se de uma concepção de integração parcial onde a escola só integra alunos que não constituem um desafio à sua competência.O mesmo acontece na lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. º 9.394/96 no artigo 4, inciso III e no Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelecido pela Lei n. º 8.069/90, com relação à educação, no artigo 54. Nessas leis os termos, especializado e preferencialmente, permitem diferentes interpretações. O termo especializado pode ser entendido como sinônimo de segregação e a expressão preferencialmente pode ser traduzida como uma opção de atendimento a essa clientela na rede regular de ensino. A nova Lei de Diretrizes e Bases assegura um capítulo específico para a Educação Especial.Isto pode significar um grande avanço na conquista dos direitos dos alunos com necessidades educativas especiais.Entretanto, há o aspecto segregador no fato de se designar uma legislação específica para essa clientela, estigmatizando-a reforça-se assim o enfoque tradicional que estabelece uma dicotomia entre o ensino regular e o especial. Ainda com relação à legislação é importante registrar a Lei n. º 7.853/89, que explica a responsabilidade do poder público em relação aos indivíduos com necessidades especiais e dispõem sobre o apoio à sua integração social e confere ao Ministério Público atribuições para atuar em casos de discriminação prevendo a criminalidade.De acordo com o seu teor, nenhuma escola pode 17 recusar o acesso da pessoa com necessidades especiais, nem sob o argumento de que não estão preparadas para recebê-la. Não só a literatura pertinente, como a própria legislação e documentos oficiais de órgãos da Secretaria de Educação preconizam a necessidade de integração desses educandos, o que significa que, teoricamente: existe a preocupação de se encarar o aluno da educação especial, não como pertencendo a uma categoria separada diferente qualitativamente dos demais. (RAIÇA & OLIVEIRA, 1990: 29). A Política Nacional de Educação Especial cuja elaboração foi coordenada pela Secretaria de Educação Especial do ministério de educação e do desporto (SEESP/MEC), no decorrer de 1994, compreendeu a elaboração de um conjunto de objetivos destinados a garantirem o atendimento educacional ao alunado com necessidades educativas especiais. Dentro desta concepção, o documento confirma que a principal preocupação da Educação especial é o desenvolvimento integral do homem e sua preparação para a vida social produtiva. Pode-se incluir na análise da legislação relativa à educação de alunos com necessidades educativas especiais o Plano decenal de educação para todos, elaborado pelo Ministério da Educação e do desporto em 1993, cujo lema é “nenhuma criança sem escola”. Tal plano inclui os indivíduos com necessidades especiais como um dos seguimentos da clientela escolar merecedores de uma educação especial com estratégias específicas, buscando sua integração no sistema regular de ensino. É importante registrar que no período entre a promulgação da nova constituição e da Lei de Diretrizes e Bases Nacionais, houve um momento histórico internacional no campo da educação: a Conferência Mundial sobre educação para Todos, em 1990. Dentre as diversas recomendações desta conferência, é particularmente importante destacar-se a primeira: “relembrando que a educação é direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo inteiro”. Na estréia desta conferência, aconteceu em Salamanca, na Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994, a Conferência mundial sobre necessidades educativas Especiais, que reuniu delegados de 92 países e 25 organizações internacionais. Essa conferência teve o objetivo de promover a Educação para Todos, analisando 18 as mudanças fundamentais de políticas necessárias para favorecer o enfoque da educação integradora, capacitando as escolas a atenderem a todas as crianças, sobretudo às que têm necessidades educativas especiais. Além disso, foi aprovada nessa confer6encia a Declaração de Salamanca, cujos princípios norteadores são: o reconhecimento das diferenças, o atendimento às necessidades de cada um, a promoção da aprendizagem, o reconhecimento da importância de “escolas para todos” e formação de professores. Dessa forma, os aspectos político-ideológicos presentes nos princípios desta declaração têm como pano de fundo, a perspectiva de um mundo inclusivo, onde todos têm direito à participação na sociedade, em busca da realização do mais alto nível de democracia. Sem dúvida, a democracia constitui um fim ao mesmo tempo em que se realiza como um processo. Um processo de solução de problemas das partes e do todo coletivo, de encaminhamento de propostas e programas, de adoção de regras aceitas pela maioria, com pleno respeito às minorias. Um processo que deve cada vez mais ampliar o acesso a direitos, garantir a plena participação dentro de regras claras e aplicáveis a todos, independentemente de raça, cor, sexo, religião e origem social. Entretanto, a proposta inovadora de educação inclusiva deve ser analisada com base no contexto político, social e educacional brasileiro, sem que se esqueça que, um mundo globalizado, muitas vezes ocorre a tendência ao decalque, ou seja, a importação de conceitos e práticas que, em vez de possibilitarem um avanço, uma alternativa, acabam por se tornar mais uma experiência frustrada. Assim, precisamos entender que democratizar a educação significa proporcionar a todos o acesso e permanência na escola. Dessa forma, nosso sistema educacional precisa saber não só lidar com as desigualdades sociais, como também com as diferenças. Precisamos saber, então, associar o acesso à permanência com qualidade e equidade. Fica o desafio de assegurar a educação como um direito social do cidadão portador de necessidades especiais, como uma aquisição importante para sua inserção, sem visualizar a ação educativa como um mecanismo de equalização ou superação de diferenças ou deficiências. É a necessidade de ampliar 19 oportunidades educacionais que assegurem as demandas específicas do alunado dito especial, sem a redução do “especialismo” e sem perder a especificidade que delimita e justifica a própria educação escolar. 2.3- FORMAÇÃO PROFISSIONAL Inclusão numa sociedade de excluídos, passa a ser palavra-chave para se alcançar a verdadeira democracia. A cidadania se estabelece pela igualdade de direitos e deveres e, pela oportunidade de poder exercê-los plenamente. Nossa preocupação é com relação aos portadores de deficiência, por que fazem parte das chamadas minorias excluídas, como os negros, pobres e miseráveis, analfabetos e desempregados. Precisamos, então, atender à premente necessidade de uma “educação para todos”. Diante do paradigma da inclusão, precisamos pensar na educação dos portadores de deficiência, desde a educação infantil até a superior. Uma das condições do funcionamento da escola é o professor, embora saibamos que a própria instituição escolar terá que buscar novos posicionamentos diante dos processos de ensino-aprendizagem, orientados por concepções e práticas pedagógicas que atendam à diversidade humana. Como afirma Kassar (1995:82), “... a mudança da história de nossa educação consolida-se mediante a viabilidade da construção de novas percepções por quem produz a prática pedagógica”.Portanto, o investimento na formação do educador é necessário por possibilitar novas inter-relações que serão fundamentais para a formação de novos pensamentos, novas falas e novas práticas. A tendência atual é no sentido de que o professor tenha uma formação generalista, para que saiba lutar com as diferenças individuais de seus alunos e para que se torne apto a adotar metodologias diversificadas, de modo a garantir o aprendizado dos mais variados tipos de educando. Este tipo de formação acadêmica, aliada a condições adequadas de ensino, facilitam a implementação da proposta da educação inclusiva, que vem sendo assumida internacionalmente. (MEC/SEESP, 1995: 17). Por conseguinte, este novo momento passa a exigir dos professores outros conhecimentos além daqueles que receberam nos seus cursos de 20 formação para o magistério.Da mesma forma, também os cursos de nível médio e superior de formação de professores necessitarão de grandes mudanças em sua estrutura curricular. É indispensável uma reforma na formação de professores, que precisam aprender a identificar e atender às necessidades especiais de aprendizagem de todas as crianças, jovens e adultos portadores ou não de deficiências. Tanto na educação infantil quanto na educação fundamental, a meta principal é satisfazer as necessidades específicas de aprendizagem de cada criança, incentivando-a a aprender e desenvolver seu potencial, a partir de sua realidade particular. Isso requer, por parte dos professores, maior sensibilidade e pensamento crítico a respeito de sua prática pedagógica.Esta prática pedagógica deve ter como objetivo a autonomia intelectual, moral e social de seus alunos. A partir do momento da inclusão, o professor precisa ter a capacidade de conviver com os diferentes, superando os preconceitos em relação às minorias.Tem de estar sempre preparado para adaptar-se às novas situações que surgirão no interior da sala de aula. A UNESCO (1997) aponta para um propósito, o da “possibilidade de implicar a participação dos professores em experiências demonstradoras de novas ações e em torno de oportunidade e apoio à reflexão, experimentação e ação”.Segundo esse órgão, há três fatores cruciais que influenciam a criação e desenvolvimento de salas de aula mais inclusivas. 1. A importância das planificações em torno do todo da classe escolar.O plano do professor deve ter como relevância a consideração da vida na sala de aula, considerando os pontos de vista dos alunos e relacionando as experiências projetadas com a sua própria prática. 2. A utilização eficiente dos recursos naturais que apóiam o aprendizado dos alunos.Nota-se que o aluno e sua aprendizagem estão associados à prática do professor.Mas, na escola inclusiva, há um recurso do qual os professores dispõem: os próprios alunos.São eles, na sua diversidade, fontes de experiências, de desafios, de apoio, de contribuições para as 21 perspectivas do aprendizado.Retoma-se, neste ponto, a importância da organização da classe, onde a relação pedagógica é construída e repensada.Sob o ponto de vista educativo, programas “aluno-a-aluno” poderiam ser alternativa viável para refletir e atuar, com inovações na prática. 3. Não se pode deixar de fazer referências sobre a formação docente.Há que se destacar discussões e análises sobre a formação inicial e continuada que privilegia o desenvolvimento pessoal, profissional; e organizacional. Entretanto, como é pouco provável que se tenha, a curto prazo, condições de formar todos os educadores no ensino Superior, é importante que as secretarias de Educação dos Estados e Municípios implantem programas de capacitação preparando-os para trabalhar com a diversidade em sala de aula e, conseqüentemente, junto aos alunos com necessidades educativas especiais. Neste sentido, a formação do educador deve ser orientada para uma constante interação e reciprocidade entre a formação inicial e a formação em exercício. “É possível construir um professor conseqüente que se vê como elaborador e reelaborador de sua prática, que se percebe sabendo e não sabendo, buscando fundamentos teóricos e, com isso, novas possibilidades para seu fazer pedagógico” (KASSAR, 1995: 85). Essas ações são fundamentais para a construção de uma educação que atenda as necessidades, as possibilidades e ao interesse do conjunto da população escolar brasileira. Para isso, todavia, precisamos de profissionais de educação responsáveis e competentes não só do ponto de vista pedagógico, mas também profissionais que não sejam desvinculados dos condicionamentos político-sociais. 22 2.4 - O PAPEL DO ESPORTE ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA . Princípios e Características A nova proposta de Educação Inclusiva recomenda que todos os indivíduos portadores de necessidades educativas especiais sejam matriculadas em turmas regulares, o que se baseia no princípio de educação para todos. Frente a este novo paradigma educativo, a escola deve ser definida como uma instituição social que tem por obrigação todas as crianças, sem exceção. a escola deve ser aberta, pluralista, democrática e de qualidade.Portanto, deve manter suas portas abertas às pessoas com necessidades educativas especiais. A escola que desejamos para nossa sociedade deve conter, em seu projeto educativo, a idéia da unidade na diversidade. Não é possível a coexistência de democracia e segregação. “Um novo paradigma está nascendo, um paradigma que considera a diferença como algo inerente na relação entre os seres humanos. Cada vez mais a diversidade está sendo vista como algo natural” (MADER, 199, p.47). A escola deve promover o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, moral e social dos alunos com necessidades educativas especiais, e ao mesmo tempo facilitar-lhes a integração na sociedade como membros ativos. Mas, para que isto aconteça, é importante que o indivíduo portador de necessidades educativas especiais seja visto como sujeito eficiente, capaz, produtivo e, principalmente, apto a aprender. É nesta busca de respostas para atender à diversidade, que o processo pedagógico fica, com certeza, mais rico, propiciando uma melhor qualidade de educação para todos. É desta forma que todos se beneficiam da educação inclusiva, que todos se enriquecem: alunos, professores, família e comunidade. A educação numa democracia é o principal meio de instrumentalização do indivíduo para o exercício de suas funções na sociedade. Logo, é de vital importância que as diretrizes norteadoras da política nacional de educação contemplem todos os alunos, sem exceção. 23 Assim sendo, ancorada nessas pontuações e reportando-se às características e princípios da escola inclusiva, podem ser apontadas algumas direções em várias situações e setores escolares que garantirão a implementação desta escola. Necessidades especiais podem estar presentes na população escolar. Divisa-se da mesma forma a visão de uma escola que se organize e se abra ao atendimento, ao acesso no sistema educacional. Assim, os princípios norteadores de uma educação para todos são: • Toda pessoa tem direito fundamental à educação, possibilitando-lhe o atendimento e a manutenção de um nível adequado do processo. • O ser humano possui características e interesses singulares, próprios da sua condição social. • Os sistemas e projetos educacionais devem considerar a diversidade das características dos seres humanos na situação de escolarização. • Há nos sistemas educacionais, os programas regulares para intervir com pedagogias tanto para as crianças chamadas normais, como um quadro de escolas regulares, que contemplem programas especiais, com orientação inclusiva, abre perspectivas de construir meios eficazes para combater atitudes discriminatórias, desenvolver a tolerância na comunidade e conhecer uma educação para todos. Em outras palavras deve-se pensar e crer que a escola inclusiva permite, na prática, evidenciar o fundamento de que todas as crianças devem apresentar. Isso se reporta à elaboração de planos que reconheçam e respondam às necessidades dos alunos. Acomodar estilos, ritmos de aprendizagem, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Antevê-se, assim, a questão pedagógica que a escola inclusiva pode encarar: as intervenções desenvolvidas junto aos escolares, exigindo uma revisão das concepções do ensino, da aprendizagem e até da avaliação. É nesta última que em geral emergem os mecanismos de exclusão – centrados na seleção e autoritarismo, muitas vezes, não compreendidos pelos próprios professores, pelos alunos e, muito mais, pelas famílias. 24 Paralelamente a esta situação localizada, temos tendências na política social para promover integração e participação para combater a exclusão. Falar em inclusão e participação para combater a exclusão. Falar em inclusão é falar em dignidade humana do cidadão, usufruir e exercer os direitos humanos. Dentro do campo da educação, adotar a escola inclusiva é projetar e desenvolver a equalização de oportunidades e objetivar a integração de todos, promovendo igualdade de oportunidades e de participação. Portanto, vale dizer o que não é inclusão: • Ignorar as expectativas e necessidades dos estudantes. • Desconsiderar as solicitações da família, mediante a decisão de limitar possibilidades. • Dispor demandas “desmedidas” sobre escola, no seu todo organizacional, sem considerar a realidade e, mais, a cultura organizacional. • Colocar alunos em sala de aula, com necessidades especiais, sem suporte pedagógico ou de outra natureza.Segundo o Project Prompt (1994), a educação inclusiva significa: “atitudes de aceitação das diferenças, não um simples processo de colocação dos alunos, em salas de aula e/ou ambiente comunitário”. Esse significado é pertinente à posição sobre escolas regulares, ou seja: Escolas regulares são os meios mais capazes para combater atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos; para, além disso, proporcionar uma educação adequada para a maioria das crianças e promover a eficiência, numa relação custo – qualidade, de todo o sistema educativo (UNESCO, 1994). Não se trata, então, neste âmbito, de reforçar diferenciações entre escolas categorizadas como regulares, ou como inclusivas, mas sim admitir a real possibilidade de um quadro mais amplo: a democratização da educação. 25 É neste processo então que se divisam os princípios da escola inclusiva: 1. Valorização da diversidade: na comunidade humana há como admitir padronizações, igualdades.Há uma afirmativa até de que: “somos iguais, com desigualdades”.Valorizar a diversidade implica em repensar categorizações e representações sobre os alunos, em uma perspectiva de reflexão sobre rótulos.A questão dos rótulos, assentada historicamente e justificada pedagogicamente (pela avaliação), no âmbito da escola inclusiva, exige pesar contra-argumentos, quais sejam (UNESCO, 1997): • Os rótulos acentuam as causas priváveis das dificuldades dos alunos desviando a atenção dos fatores que são otimistas em relação ao sucesso dos mesmos. 2. As escolas inclusivas podem melhorar as respostas dele para cada aluno.Este princípio abarca as projeções do reconhecimento e respeito a variedades existentes no seio da escola.Esse reconhecimento se processa, em termos práticos, pela real participação do aluno na experiência escolar. 3. As escolas inclusivas devem ter o compromisso de oferecer apoio para todos os alunos obterem êxito, admitindo dificuldades e diversidades, o que sugere formas reais da melhoria do próprio ensino.Este princípio reporta à questão da aprendizagem, à questão do trabalho dos professores, razões básicas da escola e componentes da cultura organizacional da mesma.Caracterizada, assim, a escola nas dimensões expostas, vemos que, há questões cruciais, quais sejam: • A participação de toda comunidade escolar em torno da inclusão, e não somente a participação da escola; • O reconhecimento das necessidades escolares; • A busca da qualidade educacional. 26 Todos esses pontos exigem a reflexão e a mobilização para exigências, se não urgentes, pelo menos possíveis. . O Profissional de Educação Física e a inclusão Escolar Pode-se perceber que o professor de classes regulares de educação tem, em sua maioria, dificuldades de trabalhar com crianças com necessidades especiais. Isso é devido, sobretudo à formação profissional e aos recursos humanos e materiais, muitas vezes escassos nas escolas regulares, principalmente as publicas. Desta forma, a inclusão envolve um processo de reforma e de reestruturação das escolas como um todo, com o objetivo de assegurar que todos os alunos possam ter acesso a todas as gamas de oportunidades educacionais e sociais oferecidas pela escola e impedir a segregação e o isolamento. Caso isso não ocorra, toda e qualquer tentativa de mudança rumo a inclusão não passará de mais uma tentativa frustrada, que infelizmente somente a história poderá comprovar. O profissional de Educação Física faz-se necessário no sentido de contribuir com a política de inclusão possibilitando a todos a prática de jogos e esportes em espaços e tempos iguais. A concepção que advoga a prática desportiva segregada ou hierarquizada por idade, habilidades e performance tem pouco espaço na perspectiva da inclusão. Os jogos e os esportes estão passando por um dos desafios mais importantes de sua trajetória histórica, isto é, atender a nova realidade da política de inclusão. Neste contexto poucos são, ainda, os professores de Educação Física que têm dúvidas em relação às possibilidades de deficientes praticarem algum tipo de atividade esportiva, recreativa ou de lazer. Portanto, o profissional de Educação Física deve acompanhar as possibilidades de inclusão dos alunos com vistas a facilitar essa inclusão, as vezes tão difícil, mas sempre necessária. Essa visão assemelha-se ao princípio filosófico do humanismo democrático que deve direcionar as atividades da escola. 27 Nesse contexto a escola tem como base a construção de uma sociedade centrada no homem, a qual respeita seus semelhantes em suas diversidades, compreendendo o mundo na sua complexidade e heterogeneidade através do conhecimento. A diversidade cultural e social começa a lançar uma nova filosofia educacional.Da homogeneidade ortodoxa, a humanidade vai aceitando uma heterogeneidade tolerante.A semelhança indiferenciada dá lugar à semelhança diferenciada (FONSECA, 1995: 73). A visão humanista valoriza a heterogeneidade, o que é particular, acolhendo as diferenças. A ênfase dada no espaço para a diferença conduz ao aprendizado, pois apenas o diverso cria a instabilidade necessária ao risco de mergulhar no desconhecido. Novos espaços são então oferecidos a uma gama variada de indivíduos marginalizados até então pelo sistema educacional uniformatizante. Nessa perspectiva os alunos aprendem juntos, independente de suas condições sociais, pessoais ou culturais, fomentando a solidariedade entre eles, o que contribui para a melhoria da qualidade de ensino. Dessa maneira, é dada aos alunos com necessidades educativas especiais as mesmas condições oferecidas aos demais alunos. Advogamos uma filosofia educacional em que qualquer criança, independente do seu potencial de aprendizagem (normal ou atípico), deverá ter o direito a uma educação que lhe permita realizar o seu máximo potencial humano.(FONSECA, 1995, P. 106). Desta forma, escola inclusiva busca a possibilidade de um comprometimento não com o código de valores da sociedade atual, mas com o ser humano e com sua potencialidade, a partir da escuta de suas singularidades e especificidades. . Enfoque Sociointeracionista de Vigotsky A inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais na escola regular como necessária, precisa de um referencial teórico que possibilite uma 28 nova visão da educação Especial e que supere a cultura da homogeneização, conduzindo à busca de novos caminhos que permitam uma convivência com o outro, onde igualdade e diferença não são pólos opostos, mas complementares. Nesse sentido as idéias de Vigotsky tem particular relevância para a área da Educação Especial e da psicopedagogia, pois fornecem a base de uma abordagem para a compreensão de algumas das importantes questões relativas à prática da Educação Especial. Segundo Fonseca (1995), numa abordagem crítica da deficiência, Vigotsky admite que as leis fundamentais do desenvolvimento são as mesmas tanto para crianças normais quanto para crianças “deficientes”, porém, a criança “deficiente” teria seus próprios caminhos para processar o mundo.O autor defende a tese de que defeito não é uma criança menos desenvolvida que seus pares; ela desenvolve-se de forma diferente apresentando um desenvolvimento qualitativo único.A criança deficiente representaria uma variação, um tipo especial de desenvolvimento, e não uma variante quantitativa do tipo normal. Essa visão desvia o foco da deficiência do aluno para o campo de suas possibilidades, sendo um dos princípios da escola inclusiva a qual o aluno deixa de ser considerado a partir do defeito e do problema psicossocial de que é portador, para ser visto em suas potencialidades, no seu direito de compartilhar eficiência. Para Vigotsky, se por um lado o defeito significa uma limitação, um problema no desenvolvimento, em contrapartida, estimula uma intensificação ao crescimento do indivíduo, precisamente porque cria dificuldades.Assim, o defeito poderia estimular um processo de superação, ou seja, a diminuição de uma faculdade pode ser total ou parcialmente superada com o fortalecimento de outra. Aprender a aprender é possível também nos deficientes.Por mais condições adversas que se levantem, o organismo humano é um sistema aberto e sistêmico e, como tal, a inteligência só pode ser concebida como um processo interacional, flexível, plástico, dinâmico e auto-regulado (FONSECA, 1995: 73). Nessa perspectiva a escola inclusiva oportuna a convivência dos alunos com necessidades educativas especiais com os ditos “normais”, fazendo com que aqueles mobilizem toda a sua energia representada pela sua vontade de se 29 comunicar, de serem aceitos socialmente com seus sonhos, fantasias, desejos e se reestruturem psicologicamente em busca de respostas às necessidades de suas realizações como pessoa frente aos apelos sociais do seu meio impostos pelos alunos ditos “normais” e assim ocorre o seu processo de desenvolvimento. Segundo Kassar (1995) na concepção de Vigotsky, a construção de novos caminhos necessita da aprendizagem, e o meio humano é muito importante.Na relação de desenvolvimento e aprendizagem identificam-se dois níveis de desenvolvimento: nível de desenvolvimento real ou efetivo e nível de desenvolvimento potencial. O nível de desenvolvimento real pode ser entendido como referente àquelas conquistas que já estão consolidadas na criança; funções ou capacidades na criança, as quais ela já aprendeu e domina. O nível de desenvolvimento potencial refere-se àquilo que a criança é capaz de fazer mediante a ajuda de outra pessoa. Nesse caso, a criança realiza tarefas e soluciona problemas através do diálogo, da colaboração, da imitação, experiência compartilhada e das pistas que lhe são fornecidas. A distância entre o que ela é capaz de fazer de forma autônoma e o que realiza em colaboração com os outros elementos de seu grupo social caracteriza o que Vigotsky chamou de Zona de desenvolvimento potencial ou proximal. Nesse sentido, o desenvolvimento da criança é visto de forma prospectiva, pois a zona de desenvolvimento proximal daquelas funções que ainda não amadureceram, estão em processo de maturação. O aprendizado é o responsável por criar a zona de desenvolvimento proximal, na medida em que, em interação com outras pessoas, a criança é capaz de colocar em movimento vários processos de desenvolvimento que, sem a ajuda externa, seriam impossíveis de ocorrer. Esses processos se internalizam e passam a fazer parte das aquisições do seu desenvolvimento individual. Esse conceito abre uma imensa possibilidade no entendimento do desenvolvimento humano e traz, conseqüentemente, implicações para a prática pedagógica do educador.Mostra que o aprendizado escolar produz mudanças inteiramente novas e substanciais no desenvolvimento infantil e que o amadurecimento das funções corticais superiores não se dá por um processo espontâneo, exclusivamente biológico, mas por um processo social de apropriação cultural (VIGOTSKY citado por KASSAR 1995, p.56). 30 Vigotsky enfatiza o papel fundamental do mediador na condução do desenvolvimento proximal através da atividade colaborativa.Essa mediação propiciada pelo professor ou pelos colegas que têm melhor desempenho faz todas as crianças avançarem rapidamente inclusive as com necessidades educativas especiais. O desenvolvimento humano está associado, à convivência social. E é essa concepção que se baseia a escola inclusiva, pois ela é organizada de forma a encorajar os alunos “normais” e com necessidades educativas especiais a se tornarem capazes de aprender cooperativamente num processo de mediação onde os alunos com mais competência são os mediadores da aprendizagem juntamente com o professor ““. Desse modo a abordagem histórico-cultural de Vigotsky considera que toda função psicológica desenvolve-se em dois planos: primeiro, no da relação entre indivíduos e, depois, no próprio indivíduo. O processo de desenvolvimento vai do social para o individual, ou seja, as nossas maneiras de pensar e agir são resultado da apropriação de formas culturais de ação e de pensamento do grupo. Baseando-se na idéia de Vigotsky na qual o homem é constituído socialmente acredita-se que quanto maior a diversidade dos componentes numa interação social, mais rica será a formação social e a construção do conhecimento dessas pessoas.Essa importância atribuída às interações sociais é um dos fundamentos básicos da escola inclusiva. 2.5- ASPÉCTOS ORGANIZACIONAIS E PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: . Adequações do espaço físico Nos países desenvolvidos, ao longo do tempo, a comunidade foi se conscientizando de que era preciso haver planejamento para acolher, por exemplo, os deficientes físicos. Ônibus, travessias e diversos locais públicos foram construídos para recebê-los com dignidade. Esta preocupação com o 31 espaço físico é recente em nosso país, de modo que só os projetos mais atuais atendem aos requisitos básicos. Mas será que somente o espaço físico apropriado é suficiente para essa integração? Será que a mudança de espaço físico, das classes especiais para as classes comuns, resolverá os problemas destas crianças com necessidades educativas especiais? É preciso ressaltar a existência de um outro “espaço”, desta vez, situado em cada indivíduo: “o espaço da intersubjetividade” em que se dá a constituição do sujeito pela linguagem, permeando todas as interações. Esse “espaço” envolve inúmeros aspectos dos quais destacaremos os os filosóficos, os sociais e psicológicos( cognitivos e emocionais). As vivências, a consciência dos deveres e dos direitos, o sentimento de solidariedade, os receios, os preconceitos, tudo isto vai povoando esse “espaço de intersubjetividade”, desenvolvendo uma determinada concepção de cidadania. A maioria das crianças é muito solidária. Elas aceitam com extrema facilidade os colegas portadores de necessidades educativas especiais. Vayer & Roncin (1989, p.65-66) relatam resultados de pesquisas realizadas por psicólogos americanos que observaram interações de quatro crianças deficientes físicas e deficientes mentais com nove crianças não – deficientes na mesma idade: 4-5 anos. No decorrer da experiência, as crianças não-deficientes foram desenvolvendo progressivamente atitudes cada vez mais favoráveis em relação aos seus colegas desfavorecidos. Outras pesquisas com crianças maiores de 2.ª e 4.ª série, apontam que o grau de aceitação do colega deficiente é maior em função dos contatos, ou seja, dos conhecimentos que as crianças tem uma da outra. A criança está sempre disposta a ajudar o outro. Ela desconhece os preconceitos. Ela sente prazer em auxiliar/ensinar o colega desfavorecido e isto reverte em benefício de seu próprio desenvolvimento cognitivo e social. Se a solidariedade da criança não-deficiente torna a inclusão viável, resta-nos perscrutar o que se passa no “espaço de intersubjetividade” dos pais das crianças não-deficientes. A questão “Meu filho que é normal não será prejudicado com a implantação da escola inclusiva?” 32 Uma afirmativa de Vayer & Roncin (1989), baseada em pesquisas, poderá ser útil para que as dúvidas se dissipem. As referências e experiências específicas de integração de crianças deficientes no meio das não-deficientes são bastante numerosas nas publicações americanas. Elas confirmam o que acabamos de citar: o fato de colocar as crianças deficientes com as outras crianças é sempre favorável ao desenvolvimento dos sujeitos desfavorecidos e jamais é negativo para os demais (VAYER & RONCIN, 1989, p.69-70). Uma compreensão abrangente sobre as deficiências e uma concepção clara dos objetivos da escola inclusiva são fundamentais para que haja a colaboração dos pais das crianças não-deficientes, o que permitirá que seus filhos possam continuar a agir com espontaneidade nas interações com as crianças desfavorecidas. Será mais fácil para os portadores de necessidades educativas especiais aceitarem a própria deficiência, se as pessoas não-deficientes da comunidade escolar os recepcionarem bem e conviverem com eles de modo solidário, respeitando as condições de aprendizagem de cada um. Os pais das crianças deficientes, às vezes mais do que elas próprias, serão os primeiros a detectar os sinais de presença ou ausências de solidariedade. Se esta dimensão estiver assegurada, terá sido dado um grande passo para que sejam encontradas as soluções educacionais. A partir de experiências em Portugal, Fonseca (1995) ressalta que: “É necessário munir os professores do ensino regular com novas atitudes, novas aquisições e novas competências. Fazer a integração esquecendo os professores do ensino regular poderia ser desastroso em nosso entender. Uma comunidade bem informada atuará com mais solidariedade, favorecendo de um lado o crescimento de uma geração de indivíduos menos preconceituosos, de outro, propiciando um desenvolvimento eficaz de pessoas eles terão condições de se tornarem mais independentes. A sociedade como um todo se beneficiará. .Gestão A educação de qualidade para todos que se concretiza através da inclusão implica em mudanças relativas à administração e aos papéis 33 desempenhados pelos membros da organização escolar.Nesse sentido é primordial que sejam revistos os papéis desempenhados pelos diretores, supervisores e coordenadores, no sentido de que ultrapassem o teor controlador, fiscalizador e burocrático de suas funções pelo trabalho de apoio e orientação ao professor e a toda a comunidade escolar. A descentralização da gestão administrativa feita por meio dos colegiados, conselhos e assembléias de pais e de alunos promove uma maior autonomia pedagógica, administrativa e financeira de recursos materiais e humanos das escolas. Mudam-se os rumos da administração escolar e, com isso, o aspecto pedagógico das funções do diretor, coordenador e supervisores emergem.Nesse sentido, não se pode desvincular a gestão democrática do processo pedagógico educativo mais amplo.A escola educa e forma o cidadão por suas relações pedagógicas.(FONSECA, 1994, p.83). Nessa vertente, é de se supor ser o diretor o elemento coordenador da comunidade educativa, ao encorajar discussões, análises e disseminar práticas e experiências inclusivas no seio da escola. Ele é o responsável pela articulação do diálogo escola-comunidade no que se refere à aceitação da diversidade e compreensão de seus benefícios. O diretor sensibilizará os profissionais de educação para a construção de um Projeto Político Pedagógico de uma escola que verdadeiramente acolha a todos os que dela necessitam. O comprometimento e o compromisso da escola, ao assumir sua autonomia, coorporifica-se no Projeto Político Pedagógico o qual deverá projetar e desenvolver equalização de oportunidades e objetivar a inclusão de todos os alunos. Com a Declaração de Salamanca os estudiosos de educação despertaram para a necessidade de discutir o conceito de Escola Inclusiva que diz respeito não só ao campo da Educação Especial, mas que supõe mudanças significativas na Educação Comum, supondo entendimentos entre especialistas de todas as áreas. A idéia principal que orienta esta nova concepção é a de que, para realizar suas funções, a escola deve acolher todas as crianças.É aí que se coloca 34 o grande desafio às escolas e aos educadores, posto que ao recomendar o acolhimento de todas as crianças não há exceção de qualquer natureza, que facilite a adoção de qualquer natureza, que facilite a adoção de qualquer forma de descriminação, ou quaisquer alegações. Sendo assim, a escola deverá abrigar todas as diferenças, privilegiando, reconhecendo e valorizando a originalidade humana como enriquecedora das experiências educativas. Inclui-se nesta nova escola, crianças pertencentes a todos os grupos minoritários e até aquelas com dificuldades graves de aprendizagem. Uma escola como esta desenvolverá uma pedagogia especial para todos, pois está acordado que todos têm direito aos mesmos benefícios de um processo de escolarização competente, centrada na criança, em suas necessidades e ritmo de aprendizagem.Desse modo, nesta escola não terão lugar esforços de homogeneização e padronização de recursos, técnicas e materiais, bem como do processo de avaliação, porque a diferença humana é que representa a norma e todos deverão ser felizes ao assumirem suas características que serão reconhecidas e respeitadas. Esta escola contribuirá para mudanças sociais radicais, gerando uma sociedade justa de cidadãos felizes que são respeitados e valorizados de acordo com suas capacidades, e que têm espaço, tempo e lugar para desenvolvê-las num clima cooperativo. Esta escola fará a mudança social. Aí é que se situa o desafio educacional, de a escola realizar seu verdadeiro papel social de mudar a sociedade, já que esta escola somente vingará numa sociedade mais moderna e justa. E hoje o que temos encontrado como barreiras à implementação desta escola tem vindo de nossa sociedade que ainda se move norteada por idéias preconcebidas de exclusão de toda diversidade e de recusa em se abrir para acolher aqueles que não se enquadram em seus padrões de expectativas. É sabido que vivemos em uma sociedade competitiva; dessa forma, não assumimos a posição de otimista ingênuo que acredita que esta mudança será simples. Pelo contrário, só vemos possibilidades de concretização dessa mudança após muito preparo e muito trabalho de conscientização. Entretanto, esta mudança de “olhar”, da limitação para a 35 possibilidade, proverá, sem dúvida, um evidente êxito na aplicação dos procedimentos pedagógicos e conseqüentemente todos sairão beneficiados. Desde os anos 60, o discurso da integração tem apontado as possibilidades das pessoas com necessidades educativas especiais, no intuito de demonstrar suas capacidades remanescentes e de envolver mais interessados na luta contra a exclusão. Mas, o argumento de que “a integração e a participação fazem parte essencial da dignidade humana e do gozo e exercício dos direitos humanos, não tem sido suficiente, uma vez que a reforma das instituições sociais não só é uma tarefa técnica, mas também depende, antes de tudo, da convicção, do compromisso da boa vontade de todos que integram a sociedade” (Declaração de Salamanca, 1994). No entanto, estas mudanças não podem ser impostas à escola e à sociedade, porque por muito tempo, as políticas públicas e os sistemas educacionais se encaminharam na direção das segregações dos casos considerados “diferentes”. Não será em curto período de tempo que conseguiremos mudar entendimento tão arranjado sem que se empreendam ações cuidadosamente planejadas de esclarecimento à população e aos profissionais das escolas. De modo geral, nossa população não conhece as possibilidades dos portadores de necessidades especiais, por isso teme e recusa-se a conviver com eles.Nossos professores, por sua vez, têm sido sacrificados na luta diária. Nossas escolas, despreparadas e ameaçadas, ouvem de seus dirigentes que não há mais verbas para reformas e estas crianças diferentes precisam ficar em escolas especiais, por que lá elas terão atendimento de especialistas que a escola regular não pode oferecer.Não é má vontade que existe, mas um esgotamento de um modelo de escola que não vem atendendo bem nem crianças ditas normais.Podemos deduzir que: “A escolarização integradora é um meio mais eficaz para fomentar solidariedade entre crianças com necessidades especiais e seus colegas especiais – ou classes especiais na escola de caráter permanente – deveria ser uma exceção, só recomendável naqueles casos, poço freqüentes, nos quais se demonstre que a educação nas classes comuns não pode satisfazer às necessidades educativas ou sociais da criança, ou quando necessário para o bem-estar da criança ou das outras crianças”. (Declaração de Salamanca, 1994). 36 . A Organização de Currículos No Brasil, o princípio da inclusão e da educação para todos enfrenta grandes dificuldades para ser efetivado, pois exige mudanças fundamentais na política educacional, no aprimoramento da qualidade do pessoal docente e, principalmente, no compromisso político. Atualmente, um pequeno número de escolas, estão especializadas para atender à heterogeneidade do alunado, por isto, durante algum tempo, ainda vamos conviver com o ensino especial oferecido de modo separado, em escolas ou classes especiais.Entretanto, dentro desta realidade, pode-se tentar diminuir, tanto quanto possível, as barreiras que se interpõem ao ensino integrador. Cabe às escolas especiais um papel importante nesta luta pela educação para todos: incentivando a implementação de escolas integradoras no sistema regular de ensino; partilhando a responsabilidade do atendimento às crianças nas classes inclusivas, através do apoio ao professor e sua capacitação. A escola inclusiva é um espaço educativo que engloba relações sociais que não acontecem exclusivamente pela transmissão de conteúdos prontos.A integração entre áreas do conhecimento e a concepção transversal de organização curricular considera as disciplinas acadêmicas como meios e não fins em si mesmas e parte do respeito à realidade do aluno, de suas experiências de vida cotidiana, para chegar à sistematização do saber. No atendimento a alunos cujas necessidades especiais estão associadas a grave deficiência mental ou múltipla, a necessidade de apoios e ajudas intensas e contínuas, bem como de adaptações curriculares significativas, não deve significar uma escolarização sem horizonte definido, seja em termos de tempo ou em termos de competências e habilidades desenvolvidas. As escolas, portanto, devem adotar procedimentos de avaliação pedagógica, certificação e encaminhamento para alternativas educacionais que concorram para ampliar as possibilidades de inclusão social e produtiva dessa pessoa. 37 O tempo de aprender é subjetivo e não pode ser estabelecido simplesmente em anos, meses e dias. Está intimamente ligado ao aqui e agora, ao ontem de sua própria história, mesmo que história breve, com seu futuro, com seus modos pessoais de aprender, e aspectos mais gerais, socioculturais, econômicos e pedagógicos (BARALDI, 1994, P. 168) A proposta curricular desta escola procura vincular os conhecimentos acadêmicos, ou seja, as disciplinas escolares, ao contexto social e histórico da escola, adotando os ciclos de formação e rompendo com a fragmentação das séries escolares tradicionais. Ampliando o tempo para que os alunos aprendam eliminando a seriação, a reprovação, nas passagens de um ano para outro; estaremos oferecendo condições para que alguns possam percorrer o caminho se sua escolaridade sem interrupções e risco de serem indevidamente confundidos e categorizados como pessoas incapazes, repetentes, alunos especiais e finalmente abandonarem a escola. O currículo na escola inclusiva não implica em que se desenvolva um ensino individualizado para os alunos que apresentam necessidades educativas especiais, não se segregam os atendimentos, seja dentro ou fora da sala de aula e, portanto, nenhum aluno é encaminhado às salas de reforço ou aprende a partir de currículos adaptados. O professor não predetermina a extensão e a profundidade dos conteúdos a serem construídos pelos alunos nem facilita as atividades para alguns, porque, de antemão, já prevê dificuldades que possam encontrar para realizá-las. Por que é o aluno que se adapta ao novo conhecimento e só ele é capaz de regular o seu processo de construção intelectual. Todas essas considerações admitem que um currículo com objetivos de permitir acesso, direto e usufruto da aquisição do conhecimento por todos os alunos, não é só questão de instrução formal, mas de desenvolvimento e participação de todos os alunos. O currículo deve manter propostas com vistas a garantir a aprendizagem significativa pelos alunos dos diferentes conteúdos selecionados em função dos objetivos que se pretende atingir. Assim professores e alunos constroem o currículo que é organizado com diferentes projetos em consonância com a diversidade dos interesses dos alunos. 38 Os resultados educacionais dependem de como o ambiente escolar favorece o acesso ao currículo e o organizará de modo a ser desenvolvido pelo aluno. Aprendizagem significativa é a aprendizagem à vida, aplicável à vida relacionada com suas experiências. É a aprendizagem ligada às aspirações e à realidade do aluno. É a aprendizagem que parte da sua vida para melhorar a sua vida. É aprendizagem que satisfaz o “eu” [grifos no original] do aluno (KARLING, 1991, p.265). O aluno portador de necessidades educativas especiais precisa ser considerado a partir do contexto social real em que vive. Sem negar a defasagem do ponto de vista cognitivo que a diferencia da criança não rotulada, é necessário que se pense mais nas semelhanças dos modos de aprender e se aproxime à educação especial da educação regular, para se chegar a um sistema democrático de educação, direito de todos os cidadãos. A diversidade do aluno especial não deve dificultar e muito menos impedir a sua articulação com o sistema deficiência regular de educação, a fim de adquira os conhecimentos básicos que o aluno portador de exigidos pela sociedade, efetivando, assim, o processo de construção de sua cidadania. A leitura e a escrita, por exemplo, consideradas exigências quase universais para inserção no mercado de trabalho, e, ainda, desenvolvimento importante fator para o próprio do pensamento e integração social, precisa ser discutida enquanto conteúdo da educação especial. Deve-se levar em conta, todavia, as possibilidades do aluno portador de deficiência de construir este conhecimento. Assim o currículo da escola inclusiva facilita o desenvolvimento de competências essenciais e dá respostas às necessidades presentes e futuras. . Relação Professor x Aluno O professor bom, amigo e companheiro dos alunos é aquele que leva a sério o seu trabalho, em relação àquilo que realiza no seu fazer pedagógico. Essa interação é considerada um elemento muito importante no processo ensinoaprendizagem. 39 A forma como o professor se relaciona com seus alunos vai determinar, entre outros aspectos, a forma como estes se relacionam com o conteúdo. O modo como o professor trabalha o conteúdo e comporta-se com os alunos acaba por influenciar a visão que o educando tem sobre o processo de aprendizagem: como uma aventura de vivências e descobertas ou como uma tarefa obrigatória, marcante e enfadonha (FRANCHI, 1995, p.119). A relação professor-aluno reflete intensamente sobre o aprendizado, pois o conhecimento é estruturado pelos sujeitos que aprendem na interação com os outros. Está embutida aí a ajuda do professor para o desenvolvimento das competências do pensar, em função do que coloca problemas, abre espaço para expressarem seus pensamentos, sentimentos, desejos, de modo que tragam para a aula sua realidade vivida. O vínculo afetivo é um grande facilitador no processo de ensino e aprendizagem, pois cria um clima de prazer na apresentação do conteúdo onde as dificuldades são percebidas e acolhidas como parte do processo que auxilia na superação das dificuldades. Deve ser mantida pelo professor uma relação horizontal que privilegie o diálogo e demonstre um sentimento positivo quando interage com seus alunos, pois existe uma clara relação entre o comportamento e o rendimento dos alunos e o que se espera dele. Cativemos o aluno pelo nosso calor humano, pela nossa simpatia, pela nossa delicadeza. Prezemos a verdade, a justiça e o bem. Os alunos detestam a mentira e a injustiça. Sejamos amigos sinceros, francos e leais dos alunos. Nada de hipocrisias ou segundas intenções em nossa amizade com eles. Não queiramos com isso apenas conseguir que se interessem pelas atividades, mas, que progridam, que cresçam e se auto-realizem. Façamos com que sintam apoio e confiança. Assim os teremos como amigos e poderemos exercer melhor nossa função de educadores. Criemos clima agradável em sala de aula. Clima de amizade, de coleguismo, de harmonia e de calor humano. Clima em que o aluno sinta bem, se sinta útil, aceito, compreendido e livre para expressar-se à vontade, imaginar e criar. Esse clima dá ao aluno segurança, apoio e tranqüilidade. É condição para uma boa aprendizagem e para um crescimento emocional e psicológico saudável (KARLING, 1991, p.101). Para que emerja uma relação afetiva entre professores e alunos, é fundamental que o professor aceite o aluno com suas possibilidades e limitações 40 considerando sempre que o aluno existe com capacidades individuais e grupais, hábitos, herança cultural, social, familiar e vivência social. As atitudes positivas constituem um importante passo que facilita a educação dos alunos com necessidades educativas especiais, pois, a baixa expectativa em relação a esses alunos no campo da aprendizagem ou da conduta social influencia seus ritmos de aprendizagem. O professor tem a responsabilidade de estruturar uma interação colocando os alunos em grupos de trabalho, organizando-os na base da heterogeneidade das suas habilidades, juntando alunos com dificuldades especiais numa determinada área com alunos mais habilidosos no assunto estudado. As estratégias de aprendizagem cooperativa levam a uma melhora significativa das atitudes por parte dos alunos não-deficientes face aos seus colegas com dificuldades especiais ou mesmo com deficiências graves, ao mesmo tempo que permite a estes, um aumento significativo da sua auto-estima e das atitudes face a si mesmo. “"Eles podem (e devem) se relacionar bem com qualquer pessoa, principalmente com aquelas que os entendem, e para entendê-los não é preciso pré-requisitos. Basicamente tratá-los da mesma forma como tratamos qualquer pessoa: sem distinções, pena ou protecionismo. Sobretudo acreditando em suas potencialidades” (ROSADAS, 1994, p.13). Os ambientes inclusivos ocorrem para estimular os alunos em geral, a se comportarem ativamente diante dos desafios do meio escolar, abandonando, na medida do possível, os estereótipos, os condicionamentos, a dependência típica das pessoas, sejam normais ou com alguma necessidade especial. . Avaliação Escolar Na escola inclusiva os alunos resolvem os mais diversos problemas sem a preocupação e a obrigação de encontrar a resposta exigida, mas aquela que corresponde às suas condições de compreensão. Segundo Hoffman (1991:80) 41 “... a valorização das respostas dos alunos pode acontecer justamente ao transformarmos suas alternativas de solução em outras perguntas, ou ao considerá-las como argumentos dignos e importantes para discussão...”. Assim a avaliação é compreendida como um conjunto de atuações que tem todo o processo de ensino-aprendizagem e que tem a função de sustentar, orientar, e ajustar a intervenção pedagógica e verificar o grau de aprendizagem que foi atingido pelo aluno. Medindo assim a qualidade da aprendizagem pelo percurso do aluno ao ultrapassar suas dificuldades e ao construir gradualmente os seus conhecimentos pelos progressos e avanços dele próprio diante do que era capaz de realizar antes e do que consegue agora. Nesse contexto os resultados da avaliação são para o professor, elemento de reflexão contínua sobre a sua prática, de criação de novos instrumentos de trabalho, de retomada de aspectos que devem ser revistos, ajustados ou reconhecidos como adequados para o processo de aprendizagem individual de seus alunos ou de todo o grupo. 42 3 – MÉTODO: 3.1 Amostra A pesquisa qualitativa foi escolhida para saber como está sendo implementada a prática pedagógica inclusiva para todos os alunos, com ênfase a Educação Física e sua contribuição para a inclusão. Para tanto selecionei uma escola da rede Municipal de Belo Horizonte que atende estudantes com deficiência, Os profissionais que colaboraram neste estudo foram selecionados por atuarem na escola como coordenador pedagógico, professor regente, professor de Educação Física , coordenador do programa Segundo Tempo e estagiários acompanhantes de alunos incluídos . Estes profissionais podem fornecer informações relevantes para a pesquisa pois são os principais atores envolvidos neste processo, na referida escola. Foram contactados 5 profissionais, todos colaboraram com a pesquisa oferecendo as informações necessárias. A entrevista foi realizada face a face, com a utilização de um questionário . Escolhi a Escola Municipal Acadêmico Vivaldi Moreira, onde trabalho desde 2003, fui professora de jogos e brincadeiras por três anos e coordenadora do Programa Segundo Tempo por dois anos. A escola encontra-se localizada no bairro Jaqueline, funcionando, provisoriamente nas dependências da Paróquia Nossa Senhora do Belo Ramo. Foi inaugurada no dia 13 de abril de 2002, atendendo a cento e vinte cinco crianças com a faixa etária compreendida entre seis e oito anos. Desde sua inauguração, a escola através de seu grupo docente e demais funcionários, vem desenvolvendo projetos de trabalho que visam a integração escola comunidade, bem como o desenvolvimento do aluno em seus múltiplos aspectos. Projetos como JBI – Jogos e Brincadeiras Infantis, Corpo São Mente Sá, Vivendo e Aprendendo, de Geo-História e Ciências, Lendo com a Família e o projeto Turma Integral, foram propostas para o enriquecimento do trabalho desenvolvido. Os alunos são atendidos em três turnos ( manhã, tarde e noite ) e em turmas de 1º e 2° ciclo ( alunos de 6 a 11 anos) e Educação de jovens e adultos, num total de aproximadamente 500 alunos. 43 Os princípios que orientam a trajetória da Escola Municipal Acadêmico Vivaldi Moreira são os mesmos princípios que orientam a Escola Plural e que assim podem ser traduzidos: . Respeito às diferenças econômicas, sociais,culturais, raciais, sexuais, geracionais ( escola inclusiva). . Organização das turmas de ensino fundamental de acordo com as idades de formação ( ciclos de idade de formação). . Organização das turmas de ensino fundamental na modalidade EJA de acordo com a idade social. . Proposta curricular que busque a formação integral das crianças, préadolescentes, jovens e adultos. . Participação efetiva dos pais e da comunidade na vida escolar. A organização de uma Proposta pedagógica e curricular moldada por estes princípios, será tanto quanto eficaz na medida em que contribui para com o desenvolvimento e “aquisição de destrezas instrumentais básicas: aprender a ler, a escrever, a fazer uso da linguagem oral e matemática”, promover a sua socialização e percepção de si mesmo como um sujeito histórico. Visto, a Escola Municipal Acadêmico Vivaldi Moreira, compreende a extensão, a complexidade e a especificidade dos processos educativos desencadeados na Escola, tem como Proposta Pedagógica o rompimento com a lógica transmissiva de conteúdos para a lógica da percepção da Escola como um espaço de vivência da pluralidade sócio-cultural, para que a partir dessa teia de relações e vivências possa desabrochar a criança e o desenvolvimento de sua aprendizagem de maneira significativa e prazerosa, construindo pontes entre o saber sistematizado culturalmente e as experiências que compõem a realidade vivida pela sociedade, a realidade em que se encontra inserida a Escola e conseqüentemente o corpo discente, esta é a nossa missão. A clientela atendida pela Escola é, em sua maioria, de nível sócio – econômico baixo e grande parte dos alunos enfrentam sérios problemas sociais e emocionais dentro de eu contexto social. Os maiores problemas da escola dizem respeito aos alunos com dificuldades de aprendizagem geradas, por vezes pela ausência e descaso familiar; 44 Há ainda alunos com problemas comportamentais/disciplinares oriundos de aspectos diferenciados: problemas familiares, saúde, socioeconômico, gerando desajustes no ambiente escolar e dificuldades de aprendizagem; Quanto à formação profissional, há dificuldades para a realização de cursos de aperfeiçoamento sem gerar prejuízos aos alunos e aos pares. Por fim, em relação ao espaço físico. A escola está funcionando provisoriamente do salão Paroquial da Igreja Nossa Senhora do Belo Ramo, com uma infra–estrutura precária tanto no aspecto físico quanto na materialidade. Apesar, de sua estrutura ter recebido melhorias para que o atendimento acontecesse. 3.2 Procedimentos Para este estudo realizei pesquisa bibliográfica em livros, artigos críticos oficiais, para conhecer e analisar criticamente a história da Educação Especial até os nossos dias, a atual legislação referente aos alunos com necessidades especiais e a sua contribuição para a melhoria do atendimento educacional. Posteriormente iniciei a pesquisa de campo onde as informações foram registradas por mim, mediante notas escritas, à medida que se desenrolava a entrevista. Contei com a colaboração de profissionais da escola que são fontes relevantes de dados. Entrevistei a coordenadora pedagógica, o professor de educação física e coordenador do Programa Segundo Tempo, uma professora regente e dois estagiários que acompanham dois alunos incluídos. Os depoimentos foram obtidos através de uma entrevista semi-estruturada, com as seguintes questões: 1 Quais os casos existentes na escola que contenham experiências de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais? 2 Quais as estratégias pedagógicas utilizadas pelo profissional de Educação Física para efetuar a inclusão? 3 Qual a contribuição do Esporte Escolar para a inclusão? 4 Quais situações de aprendizagem os estagiários tem vivenciado com os alunos? 45 5 Quais os recursos necessários para uma melhor inserção escolar das pessoas com necessidades especiais? Todos os contatos foram feitos pessoalmente, com exposição dos motivos da pesquisa, bem como a apresentação das questões onde alguns dos entrevistados acharam necessário um tempo para responderem. A primeira questão seria direcionada a coordenadora, a segunda e a terceira ao professor de Educação Física, a quarta aos estagiários acompanhantes dos alunos e a quinta a uma professora regente da classe em que um dos alunos está inserido. . Depoimentos “Ao longo desses 5 anos, a escola recebeu; . Um caso de Síndrome de Down, onde a História familiar é complicada. O aluno tem 11 anos e está na escola desde 2003. É agitado e frequentemente reage com agressividade diante das frustrações. Contudo o desenvolvimento foi gratificante, tanto no aspecto emocional, sócio-afetivo e lingüístico. Mas na compreensão e construção de conhecimentos específicos, inclusive da língua escrita, consideramos que o desenvolvimento poderia ser melhor se recebesse um atendimento mais específico. No entanto, uma discussão vem sendo feita em relação a este caso: Será que valeu a pena a não retenção do aluno em virtude da relação estabelecida com a turma? . Um caso de uma criança que teve complicação no parto, e que a família não tem um diagnóstico definido. Ele está com 10 anos e incluído em uma turma de alunos com 7e 8 anos. Apresenta dificuldades em relação ao equilíbrio e movimentação, atrofia na visão, dificuldades na fala, tornando necessário a presença de um estagiário, pois ele necessita de ajuda para se locomover,para ir ao banheiro, ao refeitório, a quadra e a outros locais onde as atividades estão sendo realizadas. Faz semanalmente terapia ocupacional e fonoaudiologia. . Um caso de lesão no sistema nervoso central, por ocasião do nascimento evoluindo com atraso global no desenvolvimento neuropsicomotor. A criança está com 6 anos, anda, sobe escadas e corre. Tem o tônus ( tensão da musculatura) e o equilíbrio diminuídos. Devido a isso tem menor resistência física, cansa-se e cai com freqüência. Apresenta coordenação motora fina em condições satisfatórias 46 para realizar com pouca ajuda, atividades de auto cuidado. A criança tem compreensão relativa do que lhe é falado e apresenta déficit de linguagem. Fala poucas palavras. Distrai-se com facilidade. Isto faz com que permaneça pouco tempo em cada atividade. Ela não avalia bem o perigo das situações, sendo importante a supervisão de um estagiário perto de janelas, em parques, escadas, banheiro e na quadra. A criança faz terapia ocupacional e fonoaudiologia. . Um caso em que a criança está com 11 anos e deveria estar freqüentando uma turma de 3º ano do 2º ciclo. No entanto, está inserida em uma turma de tempo Integral, formada por crianças entre sete e oito anos, iniciando no processo de alfabetização. É portadora de retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, agitação psicomotora, seqüelas de Embriopolia pelo álcool. Tem tomografia cerebral computadorizada e Eletro encefalograma , normais . Faz uso de Dogmetil gotas pediátrico. Tem dificuldade na organização, em manter a atenção mostra-se interessada e participativa. Relaciona-se bem com os colegas e professores sendo bem aceita pelo grupo. . Muitos casos onde a história familiar é complicada acarretando dificuldades emocionais, baixa auto estima, poucas oportunidades socioculturais e dificuldades de aprendizagem. Como elas não trazem marcas físicas, vão seguindo com seus rótulos e suas dificuldades. Contudo, em todos esses casos citados acima, o desenvolvimento foi gratificante, tanto no aspecto emocional, sócio-afetivo e lingüístico”. ( Coordenadora pedagógica, 16 anos de atuação em escola pública ). “ Receber uma pessoa portadora de deficiência múltipla em uma escola comum parece, à princípio, impossível de acontecer. Mas quando os fatos são reais, é preciso tentar. De fato acolher estes alunos não foi uma tarefa fácil. Tudo aconteceu da seguinte forma: Em primeiro lugar procurei conhecer melhor a situação dos alunos para saber como lidar com eles e encontrar estratégias para atendê-los bem. Consciente da situação de cada criança, parti para o trabalho prático promovendo atividades alternativas. As diversas e diferentes crianças que recebemos nos ensinam muito, nos trazem alegrias, angústias e desafios. Sempre tentamos possibilitar as crianças vivenciarem situações que as estimulem 47 pensar, refletir, opinar, conviver, relacionar e construir seu próprio conhecimento, considerando-a e valorizando-a na sua singularidade. Temos tentado com muita vontade e compromisso atender com qualidade essas crianças com deficiências , mas ainda não consideramos que o direito a um desenvolvimento integral está garantido Por último quero deixar claro que a política de inclusão, aponta para a necessidade de uma nova perspectiva para os jogos e os esportes, isto é, a possibilidade de serem praticados por todos em espaços e tempos iguais”. ( Professor de Educação Física e coordenador do Programa Segundo Tempo na Escola. 10 anos de atuação em escola pública). “O aluno P. M. C. não gosta de ficar sem atividade durante as aulas de Educação Física, por isso o professor tinha que encontrar atividades alternativas, que na maioria das vezes eram realizadas no colchão, ajudado por outras crianças ou por mim. Atividades com bolas, movimentos físicos e outros. No princípio a criança sabia falar pouquíssimas palavras. Praticamente não interagia com os colegas de classe. O professor percebendo suas limitações sugeria atividades e jogos voltados para o desenvolvimento das funções que ajudassem a superar suas dificuldades. Aos poucos os colegas foram se mostrando prestativos, companheiros e dispostos a ajudá-lo. Tanto dentro como fora da sala de aula. Ele então se sentiu amado e respeitado, num mundo que poderia compartilhar aprendizagens e descobertas. É uma criança capaz e dentro de suas limitações pode vencer”. ( Estagiário acompanhante do aluno P.M.C. cursando o 7º período de Letras na UNIBH ). “ A minha sensação na interação com a aluna L.C.F.R. é a de que estou apresentando o mundo a ela, estou mediando o contato dela com a realidade e com isso enriquecendo a sua construção de mundo. Não é sempre que consigo transmitir a ela as idéias discutidas e passadas pelos professores. Ela tem necessidade de tocar nas crianças. No início não era bem compreendida mas hoje já existe uma compreensão entre os colegas que reconhecem a necessidade 48 da aluna. Ela é bastante amigável, relaciona-se bem com todos os colegas e professores, participa de algumas brincadeiras de forma cooperativa ,sem medo ou vergonha de aprender em um ritmo diferente. Podemos perceber que sua aprendizagem tem sido contínua e apresenta avanços significativos e notórios”. ( Estagiária do Programa Segundo Tempo , cursando o 5º período de Pedagogia na FCSAL Faculdade de Santa Luzia ). “ A escola não tem poder para romper com os problemas estruturais da sociedade, da família e do aluno, mas pode contribuir no processo de desenvolvimento das crianças.. Portanto ao receber o aluno com necessidades especiais em uma escola comum, algumas modificações precisam ocorrer para que haja uma melhor inserção. Novos caminhos precisam serem aprendidos para lidar com as diferenças. Uma reforma e uma reestruturação como um todo. Isto inclui o currículo corrente, a avaliação, os registros e os relatórios de aquisições acadêmicas dos alunos, a forma de agrupamento dos alunos nas salas de aula, a pedagogia e as práticas de sala de aula, bem como as oportunidades de esporte, lazer e recreação. Assegurando assim, a todos os alunos o acesso a todas as gamas de oportunidades educacionais oferecidas pela escola e impedir a segregação e o isolamento. É preciso conhecer as características e sintomas de determinadas crianças para trabalhar para além desses sintomas, para além das situações sociais, familiares. Dependendo da criança è necessário um assistente de apoio à aprendizagem. Portanto, o professor que irá se relacionar e acompanhar o processo da construção do conhecimento da criança portadora de atenção especial, deve e tem o direito de receber preparação apropriada ao seu desenvolvimento profissional, receber uma formação que o ajude a superar inseguranças ,quebrar preconceitos e resistências, para que ele possa ressignificar sua prática contribuindo efetivamente no processo de desenvolvimento das crianças. ( Professora regente da classe em que um dos alunos está inserido. B.A.J.R. 22anos de atuação na escola pública). 49 3.3 Análise dos dados Minha inquietação inicial sobre a contribuição do Esporte Escolar na inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais no ensino regular foi de encontro com as informações colhidas dos entrevistados. A análise dos dados pode ser organizada em quatro itens: . Coragem de fazer a inclusão: Não ouvi professoras desesperadas pelo fato de terem um aluno com necessidades especiais. Ao invés de desesperarem procuravam trabalhar e aprender. . Simplicidade: Os relatos conseguiram nos mostrar que a inclusão não é um bicho de sete cabeças e que nada mais válido que a criatividade do professor para lidar com esses alunos. . Contribuição do Esporte Escolar para a inclusão: As atividades de Educação física possibilitam a socialização. Em todos os casos citados, o desenvolvimento no aspecto emocional, sócio-afetivo e lingüístico foi gratificante. São atividades que propiciam a interação entre os alunos. As trocas estabelecidas entre elas ajudam no seu processo de desenvolvimento. . Desafio: Na realidade, diante das falas dos entrevistados, o igual não existe. De onde será que vem essa nossa dificuldade de lidar com o diferente, seja qual for a sua nuance? O primeiro passo já foi dado pela rede Municipal de Belo Horizonte, ao definir pelo princípio da inclusão. As crianças estão incluídas na instituição social que tem como função específica coordenar a construção e sistematização do conhecimento. Neste sentido os profissionais da escola entrevistados, tem tentado com muita vontade e compromisso atender com qualidade, essas crianças com deficiências, mas ainda não se pode considerar que o direito a um desenvolvimento integral está garantido. 50 3.4 Resultados Hoje, a inclusão da criança e do adolescente com deficiência na escola regular é uma realidade e um direito garantido por lei. No entanto o princípio da inclusão deve ser abraçado por todos. Por essa razão é fundamental uma discussão aberta sobre este desafio, como ele vem acontecendo e se ele tem contribuído para o desenvolvimento do aluno. À medida que os profissionais iam relatando as experiências, os processos vivenciados e a realidade sobre a diversidade existente no espaço escolar, pude refletir e analisar se o Esporte Escolar tem contribuído para a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais no ensino regular. Observei que os profissionais de Educação Física vêm buscando no saber médico respostas para a prática pedagógica, conhecimentos sobre o processo de aprendizagem e desenvolvimento e a função da escola na vida dos incluídos. Este compromisso vem contribuindo com a aprendizagem de todos, respeitando as potencialidades e necessidades de cada um. Segundo Vygotsky, geralmente, atribuímos uma série de qualidades negativas à pessoa portadora de deficiência e falamos muito sobre as dificuldades de seus desempenhos, por pouco conhecermos das suas particularidades positivas, Desse modo, homogeneizamos características, falamos muito sobre suas faltas e esquecemos de falar sobre as características positivas que as constituem como pessoa. No entanto, diz Wygotsky (1989b), “é impossível apoiarse no que falta a uma criança, naquilo que ela não é. Torna-se necessário ter uma idéia, ainda que seja vaga, sobre o que ela possui , sobre o que ela é”. (p.102). Portanto, os professores de Educação Física vem considerando que o importante é conhecer como o aluno se desenvolve. O significativo não é a deficiência em si mesma, não o que falta, mas, como se apresenta seu processo de desenvolvimento, como ele interage com o mundo, e as mediações que auxiliam na sua aprendizagem. “A socialização da criança não só ativa e exercita suas funções psicológicas, como é fonte do surgimento de uma conduta determinada historicamente (...) A relação social é a fonte do desenvolvimento dessas funções, particularmente na criança deficiente mental”. ( vygotsky, 1989b. p. 109). No Esporte escolar é possível o desenvolvimento das relações sociais. 51 4- CONSIDERAÇÕES FINAIS Cada pessoa é uma pessoa “total”, com qualidades e dificuldades, e todas fazem parte de sua personalidade. A participação na vida do outro nos emociona, pois descobrimos aos poucos a identidade do outro. Percebemos o outro como um ser semelhante a nós, com fraquezas e capacidades. Participação é a palavra – chave, pois, implica, abertura para a comunicação, aproximação e convivência para a igualdade social... para a integração. Neste contexto pode-se ver que a escola inclusiva sugere como proposta educacional, o acolhimento, em seu seio, de toda a diversidade de alunos. A escola inclusiva preconiza uma educação onde todos os alunos possam adquirir conhecimentos, desenvolver suas aptidões e dons específicos ; onde todos os alunos tenham o apoio necessário e um ambiente propício ao desenvolvimento máximo de suas dificuldades e sejam incluídos na sociedade exercendo sua cidadania. Essas interações e intervenções educativas propiciam o desenvolvimento cognitivo, emocional e social de todos os alunos, contribuindo para que possam ser bem sucedidos. O presente estudo teve como objetivo refletir sobre inclusão no ensino regular, como vem ocorrendo, bem como a contribuição do esporte escolar perante esta realidade. A política da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte tem como princípio assegurar a inclusão escolar de todas as crianças. Essa política vem contribuindo para o crescimento do número de alunos com deficiência, incluídos nas escolas Municipais, e o professor de Educação Física que atua no esporte escolar vem conduzindo seu processo de ensino aprendizagem adotando uma nova perspectiva para os jogos e os esportes, isto é, superando a grande barreira existente contra a inclusão, a concepção que advoga a prática desportiva segregada ou hierarquizada por idade, habilidades e performance, possibilitando a prática esportiva por todos em espaços e tempos iguais. Apesar de todas as contradições, avanços e retrocessos a inclusão vem acontecendo e o esporte escolar vem contribuindo para essa transformação social rumo ao mundo que queremos. 52 A proposta da Escola Inclusiva para os alunos com necessidades educativas especiais não é solução definitiva, pronta e fechada em si mesma.Pelo contrário, só há possibilidade de concretização dessa mudança após muito preparo e muito trabalho de conscientização. Serão precisas muitas ações que envolvam diretamente os profissionais da educação e com a sociedade principalmente, para que essa nova clientela escolar seja de fato incluída, concretizando assim, uma escola, de fato, democrática. Se hoje, em nosso país, não temos o ideal da educação de qualidade para todos, é possível que amanhã seja diferente, depende do caminho que se escolher para trilhar. 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, João Roberto Moreira. Guia Prático do Diretor de Escola. 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