DRA. MÔNICA FERREIRA LEITE Hospital Regional da Asa Sul/SES/DF Brasília, 23 de agosto de 2012 www.paulomargotto.com.br Introdução  Entidade clínica multifatorial: síndrome composta pela presença de níveis tensionais elevados associados a alterações metabólicas, hormonais e a fenômenos tróficos (hipertrofia cardíaca e vascular).  Hipertensão arterial essencial é a doença crônica de maior prevalência no mundo.  Fator de risco importante para doença cardiovascular (aterosclerose), doença renal e acidente vascular cerebral (40% dos óbitos).  Em algumas crianças pode ser secundária, em outras pode representar o início precoce da hipertensão arterial essencial observada nos adultos. Introdução  Prevalência na criança/adolescente: 1% a 13% .  Papel do nefrologista pediátrico e do pediatra: evitar o “tracking”.  “Tracking”: crianças com valores de pressão “normais altos” ou “pré-hipertensivos” tendem a manter pressões mais elevadas ao longo dos anos e a se tornar adultos hipertensos.  Objetivos: detectar e tratar formas secundárias de hipertensão e confirmar elevações de PA mesmo discretas que podem representar o início da HAS primária ou essencial e que evolui com lesões de órgãos-alvo. Fisiopatologia  A) Resistência vascular sistêmica influenciada por: 1 . sistema renina-angiotensina 2 . sistema nervoso simpático 3 . secreção diminuída de substâncias vasodilatadoras, por exemplo prostaglandinas 4 . secreção alterada de outras substâncias vasopressoras 5 . hiperplasia de arteríolas: pode favorecer a manutenção de HA  B) Débito cardíaco.  C) Volume plasmático, o qual pode variar em função de: 1 . secreção de hormônios de córtex adrenal 2 . ingestão de sal (sódio) 3 . alterações da função renal Etiologia  Geralmente é secundária na criança abaixo dos dez anos (90% dos casos), na maioria das vezes devido à doença renal.  Quanto menor a idade, maior a probabilidade da hipertensão ser secundária.  Hipertensão arterial essencial predomina acima dos dez anos, com níveis pressóricos não muito elevados, no percentil 95 ou discretamente acima dele. Pode ser considerada resultado de uma interação entre predisposição poligênica e múltiplos fatores ambientais. Etiologia  Fatores de risco para HA essencial:  História familiar positiva para hipertensão e frequência cardíaca alta em repouso  Baixo peso de nascimento  Alta ingestão de sódio (fórmula láctea: 3x maior que leite humano)  Relação sódio/potássio da dieta  Obesidade  Estado emocional desfavorável  Nível socioeconômico elevado  Anticoncepcionais, drogas, tabagismo Etiologia Etiologia Recém-nascidos: – trombose/estenose de artéria renal; –– trombose venosa renal; – anormalidades renais congênitas; – coarctação da aorta; – displasia broncopulmonar (raro); – PCA (menos comum); – hemorragia intraventricular (raro). Primeiro ano de vida: – coarctação da aorta; – doença renovascular; – doença do parênquima renal. De 1 a 6 anos: – doença do parênquima renal; – doença renovascular; – coarctação da aorta; – hipertensão essencial; – causas endócrinas (mais raro). De 6 a 12 anos: – doença do parênquima renal; – doença renovascular; – hipertensão essencial; – coarctação da aorta; – causas endócrinas (menos comum); – iatrogênicas (menos comum). De 12 a 18 anos: – hipertensão essencial; – iatrogênicas; – doença do parênquima renal; – doença renovascular (menos comum); – causas endócrinas (menos comum); – coarctação da aorta (menos comum). Diagnóstico  À anamnese, a suspeita de hipertensão é feita na minoria dos casos. Porém, o histórico de cefaléia recorrente é importante nos escolares e adolescentes.  Medida da pressão arterial deve ser estimulada e realizada como parte do exame físico em todas as crianças acima de 3 anos e abaixo disso em situações especiais (prematuridade, muito baixo peso ao nascer, cardiopatia congênita, ITU recorrente, doença renal na família, evidência de aumento da pressão intracraniana, câncer, transplante de órgão sólido ou medula óssea). Diagnóstico  Hipertensão arterial: PA sistólica ou diastólica acima do p95 (valores limites específicos para cada faixa de percentil de estatura e separados para idade e sexo) confirmados em 2 medições, em pelo menos 3 ocasiões diferentes, com metodologia adequada. Aferição da PA (Task Force)  Ambiente tranquilo, paciente calmo, repouso por pelo menos 5 minutos; braço direito na altura do coração.  Técnica adequada: altura do manguito, largura e comprimento da bolsa, método palpatório e auscultatório.  Método de eleição: auscultatório (esfigmomanômetro de mercúrio) Aferição da PA  Posição do manguito: 2-3 cm acima da fossa antecubital, centralizando a bolsa de borracha sobre a artéria braquial. A largura da bolsa de borracha deve corresponder a 40% da circunferência do braço, e seu comprimento envolver 80% a 100% do braço.  Se não tiver o tamanho adequado deve-se selecionar o maior para não mascarar uma hipertensão verdadeira, mas um pequeno pode levar a leituras ainda mais elevadas .  O estetoscópio é colocado sobre a artéria braquial, insufla-se o manguito até 30 mmHg acima do desaparecimento do pulso radial e se esvazia mais lentamente, 2-3 mmHg/segundo. Na ausculta dos ruídos de Korotkoff, padronizou-se o primeiro som (aparecimento do som) como pressão sistólica e o quinto (desaparecimento dos sons) para a pressão diastólica. Aferição da PA  Métodos automáticos : aceitáveis para medida de pressão arterial em pediatria principalmente em recém-nascidos e lactentes em que a ausculta é difícil, ou quando são necessárias medidas mais frequentes, como nos pacientes em terapia intensiva. Não são muito fidedignos na determinação da pressão diastólica e necessitam de calibração regularmente.  Método recomendado para determinação da pressão arterial em crianças é o auscultatório. Diagnóstico  As médias das pressões sistólicas e diastólicas a partir do primeiro ano de vida devem ser lançadas em tabelas que levam em consideração não apenas o sexo e a idade mas também o correspondente percentil de estatura! Classificação  PA normal: PAS e PAD < p90  Se PA > p90, deve ser aferida mais 2 vezes na mesma visita e feita a média.  Pré-hipertensão: PAS ou PAD entre p90 e p95. PA> ou igual a 120x80mmHg já é considerada pré-hipertensão.  Estágio 1 de hipertensão arterial: PAS ou PAD entre p95 e p99+5mmHg. Repetir a aferição em 2 outras ocasiões e, se confirmada, investigação.  Estágio 2 de hipertensão arterial: PAS ou PAD mais de 5 mmHg acima do p99. Encaminhamento ao especialista para início de investigação e terapêutica. Classificação  Paciente sintomático: encaminhado para atendimento especializado e início da investigação e terapêutica.  Hipertensão arterial do jaleco branco: níveis pressóricos elevados no consultório, que não são confirmados através das medidas na monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA). Investigação  Objetivos:  Confirmar a elevação da pressão arterial.  Avaliar lesões de órgãos-alvo.  Identificar fatores de risco para doenças cardiovasculares.  Diagnosticar a etiologia da hipertensão arterial. Investigação  Diferenciação de causa primária da secundária:  Quanto menor a idade e maiores os níveis da pressão arterial (estágio 2), maior a chance de ser secundária.  Aumento agudo da pressão arterial: secundária.  Hipertensão diastólica ou noturna aferida por MAPA são mais sugestivas de secundária.  Sinais, sintomas ou achados de exame físico associados a alguma doença de base sugerem causa secundária.  Obesidade ou história familiar positiva são sugestivas de hipertensão primária. Investigação  História clínica:  Obstétrica: peso ao nascer, sofrimento fetal, anóxia, displasia     broncopulmonar, cateterismo umbilical; Familiar: hipertensão essencial e complicações, doença genética associada à hipertensão secundária (ex. doença policística), sintomatologia de hipertensão (cefaléia, vômitos, escotomas); Patológica: doenças renais e urológicas atuais ou pregressas (ex. infecções urinárias); Uso de medicações: vasoconstritor nasal ou oral, corticóides, anticoncepcionais; Revisão de sistemas: sintomas sugestivos de causa endócrina (ex. perda de peso, polidpisia, poliúria, sudorese, taquicardia, palpitação). Investigação  Exame físico:  medida da pressão arterial em membro superior e inferior e palpação de pulsos em 4 extremidades (coarctação da aorta);  achados sugestivos de genitália ambígua lembram hiperplasia congênita de supra-renal;  sinais sugestivos de doenças genéticas (ex.: neurofibromas e manchas café-com-leite na neurofibromatose);  sinais sugestivos de causa endócrina – obesidade central, fácies de lua cheia, estrias, hirsutismo, aumento da tireóide;  sinais de doença renal ou renovascular – massa renal ou rins aumentados de volume, edema, sopro abdominal. Investigação  Proposta pela atualização de 2006 da Segunda Força Tarefa Americana: Fase 1:  Hemograma completo  uroanálise e urocultura  uréia, creatinina  eletrólitos, cálcio e ácido úrico  glicemia de jejum  perfil lipídico  ultrassom renal (se possível com Doppler das artérias renais)  ecocardiograma  fundoscopia Investigação  Outros exames:  insulinemia  triglicerídeos  colesterol total e frações  Rx tórax  ECG  Polissonografia Investigação  Fase 2:  DMSA  uretrocistografia miccional  cintilografia renal (com e sem captopril)  dosagem de renina com e sem diurético de alça  aldosterona sérica  catecolaminas em urina de 24 horas  esteróides séricos e urinários Investigação  Fase 3:  Arteriografia renal e dosagem de renina em veia renal  Cintilografia com meta-iodo-benzil-guanidina (MIBG)  Catecolaminas em veia cava  Biópsia renal Investigação MAPA:  Taxa de sucesso para realização em crianças é alta, em torno de 70% a 80%, sofrendo influência da idade, sendo que as crianças maiores e adolescentes são mais receptivas ao exame.  Na prática clínica, tem sido mais utilizada para o diagnóstico de hipertensão arterial do jaleco branco e em pacientes com hipertensão limítrofe ou instável. Proveitosa também na avaliação do efeito terapêutico anti-hipertensivo, quando existirem dúvidas no controle da pressão arterial em 24 horas e no diagnóstico de alterações do ritmo circadiano (quando não existe queda noturna da pressão arterial), sinal este precoce de alteração da reatividade vascular . Tratamento  Objetivo: reduzir PA abaixo do p95  Se há associação com outros fatores de morbidade reduzir abaixo do p90  Classificação:  Grupo A: sem fatores de risco e sem lesões de órgãos-alvo  Grupo B: presença de fatores de risco, exceto diabetes mellitus, insuficiência cardíaca ou renal e sem lesões de órgãos-alvo  Grupo C: presença de lesões em órgãos-alvo, doença cardiovascular, renal e/ou diabetes mellitus Tratamento Conduta terapêutica de acordo com os níveis de pressão arterial Pressão Arterial Grupo A Grupo B Pré-hipertensão Não-farmacológico Não-farmacológico Não-farmacológico Estágio 1 Não-farmacológico Não-farmacológico Medicamentoso (12 meses) (6 meses) Estágio 2 Medicamentoso Medicamentoso Grupo C Medicamentoso Tratamento não farmacológico  Mudança no estilo de vida  Dieta: reduzir o peso e prevenir o ganho ao longo do tempo com acompanhamento especializado. Diminuir a ingestão de sal (preconiza-se o uso de dieta sem adição de sal = 2g de sódio), aumentar ingestão de K, frutas, vegetais, fibras e laticínios desnatados. Evitar alimentos gordurosos.  Exercícios físicos: aeróbicos por 30 a 60 minutos.  Mudança de hábitos: evitar tabagismo e álcool.  Suspender anticoncepcional oral. Tratamento farmacológico  Princípios gerais do tratamento medicamentoso:  O medicamento deve ser eficaz por via oral  Deve ser bem tolerado  O tratamento deve ser iniciado com as doses mínimas efetivas preconizadas. Aumentar gradativamente e/ou associar outro hipotensor de classe farmacológica diferente (sinergismo)  Respeitar período mínimo de quatro semanas para aumento de dose ou associação de novo anti-hipertensivo  Considerar condições socioeconômicas Tratamento farmacológico  Associações eficazes:  beta-bloqueador+diurético;  IECA+antagonista de canal de Ca;  IECA+diurético;  Antagonista de AII+diurético;  Antagonista de canal de Ca+beta-bloqueador  Etiologia da hipertensão deve sempre ser revista quando crianças e adolescentes classificados como hipertensão primária são refratários à combinação de 2 fármacos (secundária?) Tratamento farmacológico Complicações  Sequelas ateroscleróticas das coronárias  Angina e infarto do miocárdio  Hipertrofia ventricular esquerda  Insuficiência cardíaca congestiva  Acidente vascular cerebral  Insuficiência renal crônica  Doença arterial periférica  Encefalopatia hipertensiva Muito obrigada!