Influências do Jornal “A Luta” Na Formação de Padrões e Representações na Sociedade de Campo Maior/PI no Contexto Histórico de 1967 A 1979 José Ribamar de Sena Rosa Influências do Jornal “A Luta” Na Formação de Padrões e Representações na Sociedade de Campo Maior/PI no Contexto Histórico de 1967 A 1979 José Ribamar de Sena Rosa Mestrando em História Social na Universidade Severino Sombras [email protected] Resumo: De posse das colunas e editoriais do jornal A LUTA1 - digitalizados e inventariados - formando acervo de pesquisa, foi olhado para dentro deste acervo de memória, oscultado seu coração – as colunas e editoriais do jornal – aplicado tratamento teórico e metodológico, extraído os signos, padrões e representações que marcaram a sociedade campomaiorense da época, por ter sido a principal fonte que alimentou aquela população de cultura, política, informações sociais e religiosas. Palavras-chave: Acervo. Memória. Imprensa. Abstract: Possession of the newspaper columns and editorials A LUTA – scanned and inventoried – forming body of research, was looked into this collection of memory, to hear of your heart – the columns and editorials of the newspaper – to apply theoretical and methodological treatment, extracted the signs, standards and representations the marked society by Campo Maior of the time, having been the main source of that population that fueled culture, politics, social and religious information. Keywords: Collection. Memory. Media. A renovação das abordagens culturais e políticas – principalmente no século XX – redimensionaram a importância da imprensa, passando a ser considerada fonte documental e como agente histórico dos acontecimentos. Para Heloísa de Faria Cruz e Maria do Rosário da Cunha Peixoto em artigo sobre a atual importância da imprensa brasileira: 1 Periódico que existiu na cidade de Campo Maior/PI, no período de 11/1967 a 09/1979. Caminhos da História, Vassouras, v. 7, Edição Especial, p. 119-122, 2011 119 Influências do Jornal “A Luta” Na Formação de Padrões e Representações na Sociedade de Campo Maior/PI no Contexto Histórico de 1967 A 1979 José Ribamar de Sena Rosa “Particularmente em relação à imprensa, é fácil constatar que seu uso, faz algum tempo, encontra-se disseminando os ambientes de trabalho das ciências sociais e das humanidades. Nos diversos campos de pesquisa, da comunicação à semiótica, da crítica literária à educação, a imprensa aparece como fonte e também como objeto de pesquisa [...] Também na área da História, no ensino e na investigação sobre os mais variados temas e problemáticas, a utilização de materiais da imprensa hoje está cada vez mais generalizada. E, sem dúvida, tais usos nos distanciam de um tempo em que a imprensa era considerada como fonte suspeita, a ser usada com cautela, pois apresentava problemas de credibilidade. Nestas últimas décadas perdemos definitivamente a inocência e incorporamos a perspectiva de que todo documento, e não só a imprensa, é também monumento, remetendo ao campo de subjetividade e da intencionalidade com o qual devemos lidar”.2 Portanto, ao escolher um jornal ou qualquer meio midiático, o historiador precisa fazer um tratamento teórico e metodológico de sua fonte. A imprensa possui historicidade e particularidades próprias e requer que seja trabalhada e compreendida como tal. Como todo documento ou monumento, os fragmentos de um veículo de imprensa – uma coluna social, cultural, um editorial, cartas aos leitores – exige remetê-lo a uma determinada conjuntura, perguntando e desvendando sua intenção e historicidade. Transformar esse documento em fonte é então imperativo. Deve ser analisado e não incorporado. Novas perguntas iniciais e centrais terão que ser feitas, tais como a conjuntura histórica do momento da publicação, as relações de forças entre os grupos sociais, identificando se inimigos, adversários ou de oposição. Ficar atento de que os testemunhos do passado falam de um lugar social e se reportam a um determinado tempo e que as colunas e editoriais do jornal foram produzidos por alguém que utilizou outras fontes e sofreu influências e que constitui manipulação de interesses e intervenção na vida da sociedade vigente. Nelson Werneck Sodré, pioneiro no estudo da imprensa no Brasil também comenta: “Os avanços tecnológicos de proporções inéditas, trouxeram profundas mudanças nos meios de comunicação, em detrimento da imprensa. No Brasil, o destaque, de qualidade e função, é o que definiu a imprensa industrial, acompanhando as relações capitalistas. Gerou, aqui, conglomerado empresarial agrupando jornal, revista e alguns casos, rádio e televisão, assinalando a passagem da imprensa para segundo plano” [...] Há muitos anos não aparecem entre nós, o surgimento de um grande jornal. Pelo contrário, reduziu-se acentuadamente. A imprensa brasileira hoje se caracteriza pelo número reduzido de jornais e pela oligopolização”.3 Analisando o que escreveu Marialva Barbosa sobre os jornais no Brasil, podemos ter uma idéia do papel da imprensa na sociedade brasileira e sua conformação histórica ao longo do século XX. 2 CRUZ, Heloísa de Faria & PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha, Na Oficina do Historiador: conversas sobre História e Imprensa, http://revistas.pucsp.br/inedex.php/revph/article/viewfile/22211/1322, p.2 3 SODRÉ, Nelson Werneck, História da Imprensa no Brasil, Rio de Janeiro, Mauad, 1999, p.10-12 Caminhos da História, Vassouras, v. 7, Edição Especial, p. 119-122, 2011 120 Influências do Jornal “A Luta” Na Formação de Padrões e Representações na Sociedade de Campo Maior/PI no Contexto Histórico de 1967 A 1979 José Ribamar de Sena Rosa A autora lembra que todo relato histórico é uma interpretação do passado a partir do presente. Ou seja, a história é sempre uma reconstrução que o pesquisador faz a partir dos vestígios do passado que, de alguma forma, chegam até ele. É justamente no regaste desses vestígios memoráveis que a pesquisa se realiza. E que as questões tecnológicas ocorridas no século XX trouxeram bruscas transformações no jornalismo impresso e na difusão das informações diárias no Brasil Vejamos o que ela comenta a respeito de história e imprensa: “Sem memória não há passado e a operação que assegura a transição da memória a história é o testemunho. Através do testemunho as coisas vistas se transferem para o plano das coisas ditas. Construir história da imprensa é pois, fazer o mesmo movimento da escrita da história. É perceber a história como processo complexo, na qual estão engendradas relações sociais, culturais, falas e não ditos. Compete ao historiador perguntar pelos silêncios e identificar no que não foi dito uma razão de natureza muitas vezes política”.4 A segunda metade do século XX se caracterizou por grandes inovações na área de eletricidade, aviação, eletrônica e biotecnologia, com a disseminação de computadores para uso pessoais. No Brasil deste período, por mais de vinte anos a situação política vivia época peculiar, assumindo o poder um grupo civil-militar. Grande parte da classe dominante brasileira apoiou e participou desse processo, inclusive a maioria dos maiores empresários do setor midiático, numa espécie de “acordos de cavalheiros”. A justificativa ideológica permeará o discurso – tais como o “comunismo” o “bem comum”, o “povo”, a “democracia” e a “nação”, dentre outros – e a grande imprensa brasileira em sua grande maioria, cometeu graves atentados aos valores democráticos naquele período. Para tentar legitimar o regime militar brasileiro, a censura política à imprensa tinha o propósito de silenciar críticas e buscar a legitimação do regime, criando um novo imaginário ideológico, que era a utopia de ratificar o autoritário. O governo controlava a informação e só divulgava o que era de seu interesse. Pode-se dizer que a atual imprensa brasileira tem autonomia, com status de um quarto poder, entretanto, um poder desvirtuado daquele que Hipólito José da Silva buscou ao fazer seu periódico em Londres. A notícia hoje no Brasil virou mercadoria que deve ser vendida a todo custo. A impressão é que 200 anos não foi o tempo suficiente para nossa imprensa encontrar sua real identidade. É neste contexto histórico que nasceu e viveu o jornal A LUTA. Fundado por Raimundo Antunes Ribeiro em novembro de 1967, jornalista visionário, o jornal existiu até setembro de 1979. Tinha impressão e circulação semanal. Se naquele período, segundo Nelson 4 BARBOSA, Marialva, História Cultural da Imprensa – Brasil – 1900-2000l, Rio de Janeiro, Mauad, 2007, p.13-14 Caminhos da História, Vassouras, v. 7, Edição Especial, p. 119-122, 2011 121 Influências do Jornal “A Luta” Na Formação de Padrões e Representações na Sociedade de Campo Maior/PI no Contexto Histórico de 1967 A 1979 José Ribamar de Sena Rosa Werneck Sodré, os grandes jornais haviam se tornado grandes empresas capitalistas ou compondo conglomerados empresariais, imagina-se as dificuldades encontradas por Raimundo Antunes Ribeiro e seus epígonos, em manter o periódico funcionando por quase doze anos seguidos. Em torno de sua personalidade, de seus ensinamentos e de sua obra, agregaram-se seus diádocos na continuação do jornal após sua saída. Único jornal da cidade naquele período, atuava como noticioso, literário, crítico e publicitário. Nele, a população buscava informações literárias, fofocas, informativos da igreja, do único cinema da cidade, dos padrões de conduta da época, política, polícia, esportes, escolas, lazer, folclore, publicidade em geral, além de informações do Estado do Piauí e Brasil. A LUTA viveu em um período singular na vida do povo brasileiro - a tomada do poder central da nação por um grupo civil-militar - onde muitos jornais e jornalistas foram perseguidos ou tiveram seus direitos suprimidos. E os componentes deste pequeno periódico, também foram afetados pela macro situação que a nação brasileira vivia, com prisões e pressões políticas a colaboradores e ao próprio fundador do jornal. Não menos importante, o referido periódico foi contemporâneo de uma conjuntura histórica de grandes mudanças de comportamentos, tecnológicas, políticas, sociais e econômicas da nação brasileira. Sabendo que a imprensa periódica produzida no Brasil pode ser considerada hoje uma importante fonte de pesquisa histórica, com os registros deixados no papel impresso e mostrando a efetiva força simbólica das palavras, foi no abstrato gerado pelo jornal A LUTA - naquele contexto histórico – que as tramas políticas e sociais perpassaram a população campomaiorense da década de 1970. Analisando e investigando as diversas colunas e editoriais do referido jornal, voltaram a viver no nosso tempo presente, monumentos importantes, significantes e marcantes da vida da sociedade e da própria cidade de Campo Maior/PI, daquele período de tempo. Como o periódico foi a principal fonte de leitura que os cidadãos de Campo Maior/PI tinham para se informar, entreter-se e formar opiniões acerca dos acontecimentos locais e alhures, interrogações e observações foram elaboradas seguindo as regras próprias da história, encontrando fragmentos despecebidos ou em parte escondidos, porém excepcional e importantes, da realidade da época, trazendo implicitamente uma série de indagações para nós e para nossa própria sociedade de hoje. Através de argumentos sólidos, foi demonstrado que o referido periódico marcou época e toda uma geração como fonte informativa, externando as reais influências e imaginários que marcaram, registraram conceitos e posicionamentos profundos na sociedade de Campo Maior/PI. Levando em conta as idéias, os homens e instituições daquela cidade e analisando a diversidade dos fundamentos dos aspectos culturais, sociais, políticos e religiosos, as publicações semanais do jornal mostraram os fragmentos, padrões, representações, registros, signos deixados pelos seus editores, reconstruindo a realidade da época daquela sociedade campomaiorense. Caminhos da História, Vassouras, v. 7, Edição Especial, p. 119-122, 2011 122