A PROPAGANDA VIA INTERNET João Augusto Ramos e Silva* 1. INTERNET A tecnologia das redes de computadores é uma das principais responsáveis pela difusão da informática e seu uso pelas organizações. A Internet, denominada de mãe das redes, rede das redes, é a maior e mais importante das redes de computadores. Estima-se haver mais de 13 milhões de computadores interligando mais de 170 países, através dos quais, mais de 40 milhões de usuários têm acesso à Rede e trocam informações com outras pessoas ou instituições, crescendo a uma taxa de um milhão de novos usuários por mês (LUNA, 1996). Segundo LAQUEY e RYER (1994), a Internet surgiu em 1969 com a denominação de ARPANET, oriunda da experiência de comutação de pacotes da ARPA - Advanced Research Projects Agency, do Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América (alterada posteriormente para DARPA), com o objetivo de compartilhar hardware e software entre os pesquisadores militares e universitários ligados à área de defesa militar. A World Wide Web, WWW, W3, Teia Mundial, Teia ou Web é a aplicação Internet preferida, tanto pelas empresas, quanto pelos usuários, que se beneficiam de suas páginas no formato hipertexto e multimídia. Foi proposta em 1989 e implementada em 1990 por Tim Berners-Lee e Robert Gaillian, pesquisadores do Laboratório Europeu de Física da Partícula CERN, localizado em Genebra na Suíça, enquanto buscavam o desenvolvimento de uma interface amigável para com o usuário, que pudesse ser de fácil manipulação. As páginas WWW são compostas por uma linguagem denominada HMTL - Hypertext Markup Language, escrita em texto ASCII. Têm um protocolo próprio, o HTTP - Hypertext Transfer Protocol e acesso através de um localizador URL - Uniform Resource Locator. Para visualizar-se as páginas (home-pages) compostas na Web, necessita-se de um navegador (browser) (CUTLER & HALL, 1995). Para POWELL e WICKRE (1995), a característica mais importante da Web é a capacidade interativa proporcionada pelo hipertexto, possibilitando a navegação através do acionamento de ligações a recursos de multimídia, arquivos, outras partes do texto e até a uma nova página de um servidor situado em outro país. A outra característica é a facilidade de localizar informações, utilizando-se de palavras-chave encontradas nos textos HTML, acionadas através dos vários instrumentos de procura. Foi Vannevar Bush quem utilizou pela primeira vez a idéia de hipertexto em 1945. No início dos anos sessenta, Theodore Nelson fez uso do termo para exprimir a idéia de escrita/leitura não-linear em um sistema de informática e 2 descrever documentos, diferentemente do formato linear dos livros, filmes e discursos. Do hipertexto ao hiperdocumento, o termo expande-se para a hipermídia, resultante da utilização de múltiplos recursos de mídia (textos, imagens, sons e animações) em um único documento não-seqüencial, composto de ligações ou links estabelecidos pelo autor, deixando à livre escolha do usuário, o caminho que queira seguir na leitura do documento (Microsoft Press, 1991, apud RNP, 1996). 2. MARKETING NA INTERNET O pensamento mais recente do marketing dirige-se para uma nova mídia, que tem como base a Internet, Information Superhighway e a interatividade entre os vendedores e os compradores. Para PEPPERS e ROGERS (1994), o marketing um-a-um ou marketing individualizado é resultado da mudança de enfoque do marketing de massa para o atendimento de cada cliente como um indivíduo, à maneira dos primórdios do comércio, só que desta feita auxiliado pela tecnologia da informática e da comunicação, mudando complemente a relação entre a empresa e seus consumidores e criando novas oportunidades de negócios (Quadro 1). QUADRO 1 - MUDANÇA DE PARADIGMA DO MARKETING DE MASSA PARA O INDIVIDUALIZADO MARKETING DE MASSA MARKETING INDIVIDUALIZADO Luta pela fatia de mercado Busca da fatia de clientes com maximização do valor vitalício Aquisição constante de novos clientes, em Manutenção dos atuais clientes com um fluxo detrimento da retenção dos antigos constante de novos negócios Diferenciação dos produtos Diferenciação dos clientes através da customização Economia de escala Economia de escopo Gerenciamento de produtos Gerenciamento de clientes Levar os clientes aos seus produtos Levar os produtos aos seus clientes Mídia dispersa, unilateral e dispendiosa Mídia individual, bilateral e econômica Fonte: adaptado de Peppers e Rogers, 1994. Segundo GRANERED (1996) o marketing no ambiente eletrônico é diferente do marketing tradicional. De acordo com a profecia de Marshall McLuhan, apud GRANERED (1969), em 1960, a mídia eletrônica criou uma aldeia global na qual o meio era a mensagem. Isso significa que o meio de comunicação tinha uma grande influência sobre o público, mais até que a própria informação, influenciando a audiência, que aceitava passivamente ou rejeitava as mensagens de via única. Com o advento de novas mídias (TV a cabo e por satélite, emissoras de rádio, jornais e revistas), o consumidor passou a ser mais seletivo em relação à entrada de informações, distinguindo os conteúdos preferidos nas mensagens oferecidas pelas várias 3 mídias, mudando a profecia de McLuhan de que a mensagem se torna o meio. Hoje, com o acréscimo da interatividade da comunicação on-line, muda-se do antigo paradigma da difusão da comunicação para o novo paradigma do marketing um-a-um e do marketing de banco de dados. Na realidade esse enfoque de acesso individual ao consumidor já acontecia antigamente nas pequenas localidades onde os comerciantes conheciam seus clientes e seus hábitos de compra. Hoje esse retorno é possível mediante a aplicação do marketing de relacionamento com a utilização de bancos de dados informatizados. Como o consumidor não busca apenas produtos, mas também procura soluções, não basta querer oferecer bens e serviços, sem também criar bases para um relacionamento. Os marketeiros comunicam-se com seus consumidores através de várias mídias, por onde a empresa atinge seus clientes atuais e potenciais, segmentados ou não, através do esforço de marketing, procurando informar, lembrar e persuadir. HOFFMAN e NOVAK (1995) foram pioneiros na análise do modelo de comunicação de marketing representado pela Internet. A comercialização no ambiente hipermídia mediado por computador, representado pelo segmento World Wide Web, muda o conceito radicalmente, permitindo a utilização do modelo de comunicação interativo multimídia de vários para vários. Essa mudança decorre das facilidades presentes no contexto hipermídia, que estão permitindo às empresas e aos consumidores realizarem transações on-line, superando outras formas de comercialização, como as utilizadas pelos serviços on-line, além do que oferece a versatilidade do ambiente Web propício à pesquisa. Percebem-se, na evolução do conceito de marketing, as diferentes fases que vão desde antes dos anos sessenta até hoje. Ao modelo original foi adicionado o conceito interativo do marketing eletrônico, mostrando que somente o conhecimento do contexto do consumidor não é mais suficiente, pois o foco passa a ser as necessidades dos clientes e não as necessidades percebidas. A audiência não é mais abstrata, entretanto não é facilmente definida e nem mensurada, formando subgrupos de informação envolvidos numa sociedade virtual (Figura 1). MÍDIA TRADICIONAL Televisão Rádio Revistas especializadas Boletim informativo Fonte: Granered (1996). MÍDIA ELETRÔNICA SUBGRUPOS DE INFORMAÇÃO Páginas Web E-mail Usenet BBS 4 FIGURA 1 - SUBGRUPOS DE INFORMAÇÃO A concepção original da idéia parte do modelo simplificado da mídia de massa, onde a empresa (E) transmite conteúdo através do meio para seus consumidores (C), mas não permite a interação entre eles, atendendo somente as funções de informar e lembrar (Figura 2). C C E CONTEÚDO MEIO C C C Fonte: Lasswell, 1949; Katz e Lazarsfeld, 1955, apud Hoffman e Novak, 1995. FIGURA 2 - MODELO TRADICIONAL DE COMUNICAÇÃO DE UM PARA VÁRIOS, PARA A MÍDIA DE MASSA Adiciona-se a esse, o modelo tradicional simplificado de comunicação interpessoal mediado por computador de um para um, composto de emissor e receptor, que se comunicam através do meio, permitindo o retorno (feedback), como um processo de interatividade típico desses presentes na comunicação do tipo face a face (Figura 3). C CONTEÚDO MEIO CONTEÚDO C Fonte: Rafaeli, 1988, apud Hoffman e Novak, 1995. FIGURA 3 - MODELO DE COMUNICAÇÃO DE MARKETING PARA COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL E MEDIADA POR COMPUTADOR Baseia-se também no modelo proposto por Steuer (1992), apud HOFFMAN e NOVAK (1995), denominado de telepresença, sugerindo um relacionamento de ambiente mediado, responsável pela interação entre emissor e receptor (Figura 4). 5 TECNOLOGIA DAS TELECOMUNICAÇÕES EMISSOR RECEPTOR Fonte: Krueger, 1991e Steuer, 1992, apud Hoffman e Novak, 1995. FIGURA 4 - COMUNICAÇÃO MEDIADA Pelo novo modelo de comunicação de vários para vários, no ambiente hipermídia mediado por computador, o conteúdo é hipermídia e o meio são redes distribuídas de computadores, permitindo uma interatividade tanto com o meio, quanto através dele. Nesse modelo, tanto o consumidor, quanto a empresa podem interagir com o meio. E, da mesma forma que a empresa provê conteúdos do seu produto, um consumidor pode também faze-lo, provendo conteúdos relacionados aos mesmos produtos e dirigidos ao mesmo meio (Figura 5). CONTEÚDO E MEIO E CONTEÚDO E CONTEÚDO CONTEÚDO C E C C C Fonte: Hoffman e Novak, 1995. FIGURA 5 - NOVO MODELO DE COMUNICAÇÃO DE MARKETING NO AMBIENTE HIPERMÍDIA MEDIADO POR COMPUTADOR As vendas on-line tiveram início no ano de 1984 e provocaram desconfianças nos consumidores, pois rompiam o paradigma do comércio tradicional, cuja base era uma credibilidade assentada nos aspectos de localização física do ponto, política de devoluções de mercadorias e presença física dos vendedores. De acordo com a empresa SIMBA Information Inc. de Connecticut (USA), as vendas on-line, em 1994, registraram um valor variando entre 50 e 200 milhões de dólares, devendo expandir-se em 1998 para US$ 2,5 bilhões. Esse mercado foi legitimado em 1994 pela Home Shopping Network, ao adquirir a Internet Shopping Network, uma das empresas pioneiras em vendas na Internet, desde sua criação em 1993. No final de 1994, segundo a Internet Distribution Services, mais de 7.000 empresas, o 6 que corresponde a 30% das 500 maiores empresas escolhidas pela Revista Fortune, possuíam home-page na WWW (LYNCH e LUNDQUIST, 1996). Os canais e as formas de distribuição de produtos e serviços sofrerão os maiores impactos desse meio, pois as compras poderão ser feitas de casa. Diferentemente da TV, serão interativas, permitindo até experimentos, utilizando-se da realidade virtual. Para os produtos de informação (software, vídeo, música, livros e notícias) a entrega acontecerá pela própria linha. Os serviços de agenciamento de informações tornar-se-ão desnecessários diante da presença de agentes , programas orientados a objeto, dotados de inteligência artificial, que vasculham a Rede na procura das melhores opções de respostas às solicitações dos seus pedidos realizando cotação de preços internacionais. Acredita-se que, como contrapartida para o desaparecimento de empresas e a redução de empregos, advirão melhorias ao meio ambiente, com a diminuição do número de veículos nas ruas e o barateamento dos imóveis e áreas de estacionamento. O único problema, em fase de resolução e padronização, é a segurança quanto ao pagamento e o atestado das transações comerciais, no formato de cartões ou dinheiro eletrônico, com chancela criptografada por código numérico, reconhecimento de voz e impressão digital. Abrese também uma oportunidade ímpar diante da competição e da globalização dos mercados às pequenas empresas, permitindo a busca por seus nichos, para poderem assim participar num nível de igualdade junto às grandes corporações (CASTRO, 1995). 3. PROPAGANDA NA WWW Em Commercial scenarios for the Web: opportunities and challenges, HOFFMAN, NOVAK e CHATTERJEE (1995) fazem uma análise da World Wide Web como canal de distribuição e meio de comunicação de marketing, avaliam os benefícios e desafios, tanto das empresas, quanto dos consumidores, as barreiras ao crescimento comercial e, por fim, propõem uma classificação do esforço de comercialização na Web. A WWW é um eficiente canal de propaganda, marketing e distribuição de bens e serviços de informação, que tornam possível o marketing integrado, no qual vários veículos de comunicação são coordenados para criar um esforço único de marketing, estrategicamente apropriado para maximizar a resposta do consumidor. Nesses aspectos, os consumidores podem usufruir de vários benefícios: • acesso a uma grande quantidade de informações, que, pela dinâmica resultante da natureza interativa e do ambiente em hipertexto, permitem pesquisa de forma não linear, auxiliando no processo de decisão de compras; 7 • o acúmulo, a análise e o controle de dados especializados permitem a compra por comparação e a experimentação de produtos on-line e estimulam as compras; • redução de preços, como decorrência da competição entre os vários fornecedores presentes no mercado eletrônico, resultando também em melhor qualidade e variedade de itens. Para as empresas, os benefícios decorrem dos potenciais do próprio meio, ou seja: • utilização da Web como canal de distribuição eficiente e de baixo custo, principalmente para empresas de editoração, serviços de informação e produtos digitais, facilitando a entrega de imediato, eliminando-se a intermediação e custos de marketing; • transferência das funções de preenchimento de formulários e pedidos on-line de compras para os consumidores, possibilitando a captura de informações sobre preferências e comportamentos de compras na Web; • comunicação de marketing por interação assíncrona através de endereço de correio eletrônico ou formulário on-line, possibilitando o marketing de relacionamento e o suporte ao consumidor; • oportunidades de repassar benefícios de valor agregado aos componentes do composto de marketing. Existem ainda os benefícios operacionais, como a redução de erros, tempo e custos indiretos no processamento de informações capturadas de bancos de dados on-line e a facilidade de penetração em novos segmentos de mercados remotos. HOFFMAN e NOVAK (1996) consideram a World Wide Web como a primeira rede global implementada no ambiente hipermídia mediado por computador, onde os usuários do meio provêem e interagem conteúdo hipermídia para comunicar-se. A Web distingue-se como ambiente de marketing, pois incorpora interatividade tanto com pessoas, quanto com computadores. Dentro do ambiente virtual, o ato de percorrer as página em busca de informações para a tomada de decisão chama a atenção dos consumidores, trazendo competência distinta do mundo físico. O esforço de marketing orientado para descobrir e atender as necessidades do consumidor evolui para uma ação mais altruística de cooperação, enfocando menos a estratégia competitiva e mais a estratégia cooperativa, requerendo a construção de novas regras de mercado e transformando o paradigma existente. O marketeiro pode utilizar-se dessa interação com os consumidores para projetar novos produtos, desenvolver estratégias de marketing e inovar o conteúdo. 8 Para RIBENBOIM (1995), a Internet realmente é uma nova mídia de massa de alcance global, composta de uma variedade de mercados especializados do qual fazem parte consumidores com o mesmo perfil característico, porém situados em diversas regiões, proporcionando uma abertura para as ações do marketing direto com elevada taxa de retorno e baixo custo operacional. As empresas, para manterem sua presença na Rede, devem navegar na WWW, Gopher e servidores de FTP, buscando informações sobre o seu negócio e novas formas de estratégias de marketing na Internet para seus produtos e serviços. Através de um marketing passivo, devem participar de fóruns de discussão de assuntos do seu interesse, enviando mensagens informercials compostas por informações de relevância adicionadas de seu marketing institucional, numa relação de broadcasting, difundindo a mensagem de um para vários ou, então, também optar pela relação um-a-um, utilizando-se do correio eletrônico. Para ações mais diretas, de um marketing ativo, devem optar pela criação de um serviço de informação on-line, também denominado de site de informações, com os seguintes objetivos: • elaborar e distribuir newsletters digitais (e-newsletters) de forma periódica para os seus clientes e prospects; • oferecer serviços de informação via e-mail, conhecidos como Infoboot, para o envio automático de informações sobre a empresa e seus produtos e serviços; • criar e manter fóruns de discussão que sejam sobre assuntos de interesse dos seus clientes; • montar páginas da empresa na WWW. De acordo com a descrição de STRANGELOVE (1995), nas últimas cinco décadas, viu-se a publicidade passar do formato texto para o som e depois para as imagens; da imprensa para o rádio, depois para o cinema e a televisão, num formato reducionista e unidirecional, sem feedback com os consumidores. Não se pode entender a Internet como mais uma ferramenta de marketing, mas como uma nova mídia, que está evoluindo muito mais rápido do que as mídias anteriores. O mercado de massa criou uma imensa lacuna entre o produtor de bens ou serviços e o consumidor, por isso a Internet propõe-se a resgatar os elementos que faltam: informação, feedback, conteúdo e comunidade. Com base na comunicação, fez ressurgir a leitura e a escrita, caracterizando o fornecimento de conteúdo na forma de textos, áudio, fotos e vídeos. Isso vem de encontro à tendência desenhada pelo marketing, bem como tem permitido equívocos como o de transferir-se simplesmente os conteúdos da mídia tradicional para a Internet. Elaborar conteúdo para a comunidade mais culta da História é uma dura 9 realidade a ser enfrentada, mesmo assim grande parte das 10.000 empresas que fazem marketing na Rede ainda o fazem, desconhecendo o conteúdo em hipertexto e hipermídia que lhes é oferecido. No cyberspace o consumidor liberta-se do conteúdo controlado da comunicação de massa e tem acesso às fontes primárias de informação. Mas não basta apenas criar páginas com informações sem, entretanto, estabelecer-se uma relação de comunicação com os consumidores, bem característica do meio virtual: a interatividade. Retorna-se à antiga forma de comércio, buscando-se a lealdade nas relações interpessoais, com o prolongamento das relações entre vendedores e compradores. CRONIN (1995) demonstra que a comunicação na Internet deve buscar um alto conteúdo informativo e alta interação com os clientes, diferente das formas tradicionais de propaganda e das mais recentes estratégias de marketing adotadas (Figura 6). A forma de comunicação da empresa com os seus clientes muda do enfoque comum da propaganda para a ALTO BAIXO CONTEÚDO INFORMATIVO informação (Quadro 2). Informercial, materiais impressos (prospectos, especificações sobre o produto, etc.) Formas tradicionais de propaganda Distribuição eletrônica de informações (servidores de informações, grupos de discussão, etc.), visitas pessoais de vendas Vendas por telefone e pedidos via multimídia interativa BAIXO ALTO INTERAÇÕES COM OS CLIENTES FIGURA 6 - MATRIZ DA INFORMAÇÃO X INTERAÇÃO QUADRO 2 - DIFERENÇAS ENTRE A PROPAGANDA E A INFORMAÇÃO VIA REDE PROPAGANDA INFORMAÇÃO De mão-única Interativa Conteúdo reduzido Multifacetada Inflexível Personalizada Transmitida ao público em geral Mediante solicitação Fonte: adaptado de Cronin, 1995. 10 O acelerado crescimento da WWW, utilizando-se de inteface gráfica, transforma-a numa mídia capaz de competir com a TV, com a diferença de que, neste caso, o consumidor é que vem ao encontro da mensagem. Esta, portanto, deve possuir um grau de atratividade capaz de mantê-lo e fazê-lo retornar as suas páginas (D’ELBOUX, 1995). Durante o ano de 1995, teve início a publicidade dentro da Web, com o surgimento das primeiras ciberagências, voltadas à Internet e a outras formas de publicidade on-line, ambientadas na mídia interativa, enquanto poucas agências das mídias tradicionais mal se aventuravam nesse campo. Embora recente, a publicidade na Internet discute no IAC - Internet Advertising Council - os padrões publicitários que separariam um anúncio de um editorial na Web (MURPHY, 1996). Segundo previsão de John Nardone, apud CARL (1996), diretor da Modem Media, a publicidade na WWW será uma combinação de mídia de massa com o marketing direto, onde a relação cliente-anunciante será modificada, pois a publicidade e o editorial confundem-se no ambiente hipertexto. Bill Peck, além de ter sido o primeiro a realizar uma campanha publicitária na Net, também desenvolveu o primeiro custo por mil, tendo iniciado seus trabalhos na HotWired, indo depois para a InfoSeek (US$ 1,5 milhões/trimestre em vendas de anúncios). Para ele o conteúdo é mais importante que a criatividade (CARL, 1996) (Quadro 3). QUADRO 3 - PREVISÕES DAS EMPRESAS SOBRE OS VALORES APLICADOS EM PUBLICIDADE NA INTERNET (US$ MILHÕES) EMPRESA 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Forrest 37,0 74,0 -700,0 2.600,0 -Jupiter 80,0 343,0 1.100,0 2.200,0 3.600,0 5.000,0 SIMBA -- 110,0 402,4 --- 1.860,0 Bear Strearns -- 150,0 ---- 1.700,0 Alex Brown ---- 1.400,0 --Fonte: Variouys/CyberAtlas, 1996. CKS Interactive, da Califórnia/USA, foi a primeira empresa a utilizar a expressão propaganda interativa, que, para seu gerente-geral Pete Snell, apud JANAL (1996), pode ser assim definida: A propaganda interativa é a habilidade de interagir com a fonte da mensagem que você está recebendo e conseguir que a fonte da mensagem responda aos seus desejos. Snell prefere a denominação distribuição de informações interativas, pois acredita que a ênfase deva estar no fornecimento de informações e não no comportamento clássico de persuasão, bastante desgastado pelo uso da propaganda. Convém esquecer as promoções correntes, procurar servir em vez de tentar manipular o consumidor e jamais transcrever o material da mídia impressa diretamente para as páginas de sua empresa na Internet. E, por fim, 11 convém lembrar que a interface de contato com o consumidor precisa adequar-se a estas características: • deve ser intuitiva; • precisa ser atraente; • deve se comunicar através de ícones; • precisa se integrar com o restante do material promocional, que deve apresentar sempre as mesmas mensagens. A propaganda está presente na Internet. Várias empresas utilizam seus sites como veículos de publicidade, enquanto outras estão aplicando seus recursos em promoções publicitárias destinadas à Rede (Quadros 4 e 5). QUADRO 4 - OS DEZ MAIORES SITES EM PUBLICIDADE NA INTERNET ORDEM WEB SITE US$ MILHÕES 1 Netscape 9.665 2 InfoSeek 5.785 3 Yahoo 5.689 4 Lycos 4.123 5 Excite 3.641 6 ZD Net 3.183 7 CNET 3.176 8 ESPNet SportZone 2.443 9 WebCrawler 2.160 10 NewsPage 2.145 Fonte: Jupiter Communications, apud CyberAtlas, 1996. QUADRO 5 - AS QUINZE MAIORES EMPRESAS QUE APLICAM EM PUBLICIDADE NA INTERNET ORDEM EMPRESA US$ MILHÕES 1 Microsoft Corp. 2.906 2 Netscape 2.173 3 IBM Corp. 2.087 4 Excite Inc. 1.850 5 InfoSeek 1.773 6 AT&T Corp. 1.736 7 CNET 1.555 8 NYNEX Corp. 1.549 9 McKinley Group 1.468 10 Yahoo! 1.340 11 Lycos 1.295 12 DEC 1.146 13 Toyota 869 14 Individual Inc. 754 15 Apple Computer 716 12 Fonte: Jupiter Communications, apud CyberAtlas, 1996. JANAL (1996) procura distinguir diferenças entre a propaganda on-line e a propaganda tradicional, enfatizando que as dimensões do tempo e espaço assumem perspectivas completamente diferentes nos sistemas on-line, pois, neste, o tempo é mensurado pela duração do acesso do consumidor e o espaço virtual não tem limites de páginas. Contabilizando-se o número de acessos, será possível determinar a audiência, pois são os usuários que procuram pelos anúncios e eles pertencem a um determinado segmento de mercado. Quanto às promoções, aconselha o oferecimento de amostras grátis, realização de concursos e o fornecimento de informações sobre produtos. A publicidade na Internet está cada vez mais diferenciada daquela presente na imprensa ou na televisão. Assim, os anunciantes e publishers voltam-se para a determinação do valor de um anúncio e como melhor fazer uso do meio. A empresa americana Jupiter Communications (WELZ, 1996) prevê que os fornecedores de informação na WWW terão seu maior faturamento em publicidade (Quadro 6). QUADRO 6 - FATURAMENTO DAS PRINCIPAIS MÍDIAS NOS USA DESCRIÇÃO US$ Anúncios na WWW em 1995 43,0 milhões Anúncios dos serviços on-line em 1995 12,0 milhões Anúncios na WWW e serviços on-line em 1996 343,0 milhões Anúncios na WWW e serviços on-line no ano 2000 5,0 bilhões Anúncios em publicidade de rádio no ano 2000 2,0 bilhões Anúncios em publicidade impressa em 1995 22,5 bilhões Anúncios em publicidade impressa no ano 2000 30,0 bilhões Anúncios de TV em 1995 32,4 bilhões Anúncios de TV no ano 2000 51,0 bilhões Fonte: Jupiter Communications, apud Welz, 1996. A WebTrack, apud WELZ (1996), empresa de pesquisa americana, após coletar dados de anunciantes, concluiu que a maioria das compras de anúncios é realizada por um pequeno grupo de anunciantes e indústrias, liderados pelos setores de computadores e equipamentos de escritórios com 28%, seguidos pelas telecomunicações com 11,5%. Alimentos, refrigerantes e bebidas alcoólicas, que constituem a maioria dos anúncios da mídia impressa e televisiva, representam apenas 2% na Web. Na opinião da WebTrack, a WWW possui características apropriadas para compras mediadas, como viagens, carros e computadores, que fazem uso da interatividade para manter o relacionamento entre vendedores e compradores, diferente das compras impulsivas de baixo envolvimento, que não influenciam o comportamento do consumidor (Quadro 7). 13 QUADRO 7 - RELAÇÃO DAS DEZ MAIORES DA WEBTRACK FATURAMENTOS COM ANÚNCIOS GASTOS COM ANÚNCIOS RANKING DOS EDITORES US$ RANKINK DOS ANUNCIANTES US$ 1)Lycos 833.400 1)IBM 460.900 2)Yahoo 715.000 2)Microsoft 248.200 3)Netscape 649.500 3)AT&T 245.700 4)ESPNetSportsZone 466.700 4)Netscape 227.400 5)InfoSeek 460.100 5)NYNEX 198.500 6)Pathfinder 380.000 6)MCI 187.300 7)HotWired 368.300 7)c/Net 177.800 8)Excite 320.500 8)Internet Shopping Network 172.900 9)ZD Net 301.000 9)Excite 165.900 10)c/Net 294.800 10)Saturn Corp. 158.400 Fonte: WebTrack, apud Welz, 1996. Além da colocação de banners em páginas Web, existem também sites exclusivos para anúncios, onde a informação e o entretenimento, na forma de jogos interativos e chat rooms, são a tônica maior. São os infotainment, onde informações e entretenimento convivem juntos, realçando a identidade da marca, permitindo a interação e realizando vendas por marketing direto e entregas on-line de produtos ou serviços digitais. Utilizam-se também patrocínios, permitindo que empresas patrocinadoras de páginas forneçam informações de conteúdo em serviços de busca, reduzindo o preço de produção de textos (WELZ, 1996) (Quadro 8). QUADRO 8 - PRINCIPAIS AGÊNCIAS PUBLICITÁRIAS NA WWW AGÊNCIAS CONTAS Vivid Studio Silicon Graphics, Microsoft Avalanche Elektra Records, Games of the XXVI Olympiad IconNet Saab, NBC Razorfish Time-Warner, Pepsi io360 Sotheby’s, Bellcore DimensionX Intel, Sega Organic Colgate, Levi-Strauss ModemMedia Zima, AT&T SiteSpecific Duracell Batteries Agency.com GTE, Metropolitan Life Siteline Snapple, L’Oreal Poppe Tyson Netscape, The White House Messner Vetere Berger, McNamee MCI, Volvo Schmetterer Margeotes, Fertitta, Donaher and Weiss Stolichnaya TBWA/Chiat/Day Nynex Ogilvy & Mather Interactive IBM 14 Fonte: Welz, 1996. O programa I-Traffic, da Traffic Resouce (WELZ, 1996) é capaz de registrar amostras de taxas e informações sobre o tráfego em impressões (contagem do número de vezes que uma página contendo um banner é chamada por um usuário), gerando o índice CPM (custo por mil impressões), que permite categorizar os sites. Mesmo assim, ainda não existe um completo conhecimento sobre a publicidade na Web, carecendo de padronização de termos técnicos, avaliação do tráfego, estimativa do valor dos anúncios e análise e medição do público usuário na Rede. A Coalition for Advertising Supported Information and Entertainment - CASIE, formada pela American Association of Advertising Agencies e a Association of National Advertisers, uniram-se para determinar diretrizes de avaliação do público da mídia interativa. Uma das formas de coleta de dados sobre seus usuários é feita através da solicitação de preenchimento de questionários condicionados a download de seus arquivos ou então usando programas que identificam o tipo de domínio e país do usuário ou penetram através dos browsers no computador-cliente, contando o número de visitas e rastreando sua passagem pelo site (Quadro 9). QUADRO 9 - VALORES COBRADOS POR MIL IMPRESSÕES (USA SITES US$ CPM Newspage 275 The Wall Street Journal 80 InfoSeek 50 Netscape 30 Yahoo 20 Pathfinder 29 Playboy 3 Fonte: Traffic Resouces, apud Welz, 1996. A natureza da Internet e da propaganda são diferentes entre si. A Internet é a primeira forma de comunicação de massa que surgiu sem o patrocínio da propaganda, porque o conteúdo não pode ser controlado. Mesmo assim, a propaganda continuará a existir no ciberespaço, mas sem a habilidade de controle do conteúdo. A estrutura fundamental da mídia de massa é composta por: • geração de renda: propaganda; • poder: elitista e monopolista; • conteúdo: controlado por poucos, ideologicamente carregado; • participação: consumo passivo; 15 • função: influencia o comportamento do consumidor (WELZ, 1996). Em um paper do Project 2000, NOVAK e HOFFMAN (1996) avaliam a propaganda mantida pelos sites Web, comparando os gastos destinados à propaganda com vários outros meios nos Estados Unidos, classificando e descrevendo os tipos de propagandas que são utilizadas nas páginas da Web (Quadro 10). QUADRO 10 - GASTOS EM PROPAGANDA NAS VÁRIAS MÍDIAS NOS USA MEIO US$ BILHÕES Correio - resposta direta 31,200 Telefone - resposta direta 82,700 Outdoor tradicional 1,830 Cartazes 3,000 Revista impressa 12,500 Jornais impressos 37,700 Rádio 11,100 Televisão 38,100 Web 0,312 Outros 21,300 Fonte: Direct Marketing Association, 1996 e Outdoor Advertising Association of America, Inc., 1996, apud Novak e Hoffman, 1996. O modelo de patrocínio está atraindo as empresas, que esperam um crescimento vertiginoso da propaganda nesse novo meio, muito embora ainda inexista uma padronização de termos, ou de princípios para medição do tráfego nos sites comerciais, assim como das respostas dos consumidores à propaganda e nem de modelo de determinação de preços (Quadro 11). QUADRO 11 - TIPOS DE PROPAGANDAS MANTIDOS EM SITES WEB ORDEM TIPO EXEMPLO % 1 conteúdo patrocinado Hotwired 55 2 diretórios e agentes de busca patrocinados Infoseek 36 3 portal de entrada Netscape 19 Fonte: Novak e Hoffman, 1996. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA CARL, Jeremy. “Cyberagências” desafiam o mercado publicitário. Web Week, Rio de Janeiro, v.1, n.1, p. 6-7, ago. 1996. CASTRO, Vladmir Estivill. Internet: el mercado del nuevo siglo. Lania, México, 1995. [http://www.lania.mx/spanish/publicaciones/newsletters/summer95/art3.html]. Oct 1996. CRONIN, Mary J. 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