PLANEJAMENTO1
Emilia Peixoto Vieira2
- Por que fazer? Como? Para quê?
- concretização do plano de curso; o que deu certo? O que precisa melhorar? O
que foi feito?
Planejamento:
O planejamento propicia a reflexão e o debate de alguns aspectos
essenciais da escola e da prática dos professores. Reforça a necessidade de que
seja organizado e subsidiado por materiais que contribuam com o trabalho que
será desenvolvido coletivamente pela equipe da escola. Assim, abordaremos
questões como concepção de planejamento, quem somos e o que queremos
com o nosso trabalho; quem são os nossos alunos e como a escola se organiza
para trabalhar com o conhecimento. Nesse sentido, o planejamento pretende
ser instrumento subsidiário do seu trabalho, no dia a dia da Escola.
É preciso entender primeiro que o planejamento escolar ao longo dos
últimos anos vem sofrendo um desgaste, culminando numa situação de
descrédito e total burocratização desta atividade, gerando uma situação na
qual os professores fingem que planejam e a escola e diretorias de ensino
fazem de conta que o planejamento ocorreu. Tal fato provoca a entrada de
professores em sala de aula, num novo ano letivo, sem terem tido as condições
necessárias para planejar, pelo menos, o primeiro bimestre letivo. Acrescentese a isto as dúvidas relacionadas ao trabalho pedagógico, trabalho com sala
ambiente, avaliação e, mais: acertar e organizar a distribuição das aulas com o
conteúdo a ser dado.
Apesar de todas as dificuldades, acreditamos que é possível reverter tal
situação e mudar essa realidade, fazendo com que o planejamento vá
ganhando um novo significado na vida da escola, dos educadores e dos
educandos. Visando contribuir para a melhoria do planejamento, estimular a
reflexão e criação de compromissos que caminhem na direção de um ensino
comprometido com a formação da cidadania do educando e com a perspectiva
de melhores condições de trabalho para os professores, estamos apresentando
aos educadores dessa Escola subsídios teórico-práticos que os auxiliem na
construção do planejamento para o ano 2002.
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Texto produzido para palestra de planejamento da Escola Linus Pauling. 2002.
Mestre em Educação USP. Professora e Pedagoga da Educação Básica. E-mail: [email protected]
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O Planejamento escolar: revendo práticas e concepções
O planejamento constitui-se num momento privilegiado para a reflexão
coletiva sobre as ações educacionais e de integração da equipe de trabalho. É
quando podemos analisar o que desenvolvemos até a presente data e então,
traçar metas para a atuação da escola e para cada um de nós, quanto à
formação dos nossos alunos, e a transformação da realidade escolar.
O planejamento embasa a elaboração, o desenvolvimento e a avaliação
de planos de ensino e o preparo de aulas. Traduz-se numa atitude e vivência
crítica permanente diante do trabalho pedagógico que a escola desenvolve,
possibilitando ao conjunto da equipe de profissionais da escola conhecer, se
apropriar e participar do projeto educacional em desenvolvimento.
Nesse sentido, é preciso superar a visão tecnicista do planejamento e
assumir uma nova prática reflexiva. Essa nova prática traduz-se durante todo o
ano letivo, com a equipe escolar diagnosticando, analisando, decidindo,
agindo, avaliando e revendo o processo de ensino-aprendizagem desenvolvido
pela escola. Assim, planejar as nossas ações coletivamente é o caminho para
se combater as atividades desarticuladas e casuístas, caminhando na
construção de práticas educativas sintonizadas com as atuais necessidades dos
nossos alunos.
Quem somos? E o que queremos com o nosso trabalho?
Refletir sobre quem somos e nossos objetivos remete-nos a pensar sobre
nossa identidade como pessoa, como profissional e como coletivo.
Sabemos que nossas práticas são marcadas por especificidades
decorrentes do jeito de ser de cada um de nós, uma vez que nossas
características pessoais e nossas vivências profissionais são únicas e
intransferíveis. É como nos diz Antonio Nóvoa:
"Não é possível separar o eu pessoal do eu profissional,
sobretudo numa profissão fortemente impregnada de
valores, ideais e muito exigente do ponto de vista do
empenhamento e da relação humana. (...) Ser professor
obriga a opções constantes, que cruzam a nossa maneira de
ser com a nossa maneira de ensinar, e que desvendam na
nossa maneira de ensinar a nossa maneira de ser" (Vidas de
Professores, 1992, p. 7-9)
Diante disso é preciso questionar sempre o percurso que nos permite
sermos o professor que somos hoje. De que maneira nossa atuação
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educacional é influenciada pelas nossas características pessoais e pelo
caminhar profissional que vimos trilhando? É por aí que podemos perceber a
importância que nossa atuação pode ter para os demais professores da escola,
bem como identificarmos as contribuições que esse coletivo tem na
constituição de nossa identidade.
É fundamental os professores terem consciência dessa via de mão dupla,
compreenderem os processos vividos e se apropriarem dos saberes que foram
desenvolvendo ao longo da vida, procurando ampliar suas bases teóricas e
conceituais. É nesse percurso que se constroem as identidades.
Ainda conforme Nóvoa:
"A identidade não é um dado adquirido, não é uma
propriedade, não é um produto. A identidade é um lugar de
lutas e conflitos, é um espaço de construção de maneira de
ser e de estar na profissão. Por isso, é mais adequado falar
em processo identitário, realçando a mescla dinâmica que
caracteriza a maneira como cada um se sente e se diz
professor. A construção de identidades passa sempre por
um processo complexo graças ao qual cada um se apropria
do sentido da sua história pessoal e profissional. É um
processo que necessita de tempo. Um tempo para refazer
identidades, para acomodar inovações, para assimilar
mudanças". (Vidas de Professores, 1992, p. 16).
Por isso, no momento de planejamento é preciso garantir o espaço para
que o conjunto dos professores apresentem-se (no sentido profundo do termo)
como pessoas e como profissionais, identificando suas concepções, seus
objetivos. É a partir desse quadro real que se torna possível identificar e
construir os elementos comuns, capazes de assegurar a base coletiva para o
trabalho pedagógico.
Para que serve a escola em nossa sociedade?
Refletir sobre quem somos e quais são nossos objetivos envolve também
pensarmos quem somos enquanto escola, enquanto organismo social.
Nos últimos 30 anos desfez-se o consenso social a respeito dos objetivos
da escola e dos valores que ela deve fomentar ao promover a integração das
crianças e dos jovens na cultura dominante. Ao mesmo tempo a escola tem
sido chamada a desempenhar tarefas educacionais básicas para compensar as
carências do meio social de origem dos alunos, o que se traduz numa
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desafiante diversificação das funções docentes e no aumento das contradições
vividas pelos professores.
A escola também já não é vista como garantia de promoção social para
os mais desfavorecidos, o que contribui para a diminuição do seu respaldo
social. E por força de interpretações simplistas, os professores acabam sendo
considerados como responsáveis pelos fracassos dos sistemas escolares,
perdendo prestígio e reconhecimento.
Diante de um quadro tão complexo, responder quem somos e o que
queremos constitui um desafio, pois exige repensar o papel da escola e sua
relação com o conhecimento e com a sociedade.
Para contribuir nesse enfrentamento trazemos, dentre as muitas leituras a
respeito do papel da escola, a formulada por Selma Garrido Pimenta. Diz ela
que:
"O papel da escola é garantir o acesso ao conhecimento de
qualidade por parte de todas as crianças e jovens a fim de
que se situem no mundo, um mundo que é rico em avanços
civilizatórios. Em decorrência, apresenta imensos
problemas de desigualdade social, econômica e cultural.
De valores. De finalidades. A tarefa da escola é inserir as
crianças e os jovens, tanto no avanço como na
problemática do mundo de hoje, através da reflexão, do
conhecimento, da análise, da compreensão, da
contextualização, do desenvolvimento de habilidades e de
atitudes. A identidade da escola nesse processo é garantir
que as crianças e os jovens sejam capazes de pensar e
gestar soluções para que se apropriem da riqueza da
civilização e dos problemas que essa mesma civilização
produziu. É nessa contradição que se define a identidade da
escola hoje" (Educação e Formação, UNITAU, 1998,
p.50).
Grande parte dessas atribuições pressupõe uma clara compreensão do
papel do conhecimento no mundo contemporâneo e de como nossa sociedade
lida com ele. Vejamos como a autora trata da questão:
"Conhecimento não se reduz à informação. Esta é um
primeiro estágio daquele. Conhecer implica em um
segundo estágio, o de trabalhar com as informações
classificando-as, analisando-as e contextualizando-as. O
terceiro estágio tem a ver com a inteligência, a consciência
ou sabedoria. Inteligência tem a ver com a arte de vincular
conhecimento de maneira útil e pertinente, isto é, de
produzir novas formas de progresso e desenvolvimento.
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Consciência e sabedoria envolvem reflexão, isto
capacidade de produzir novas formas de existência,
humanização. E é nessa trama que se pode entender
relações entre conhecimento e poder" (Educação
Formação, UNITAU, 1998, p.52).
é,
de
as
e
Quem são os alunos da nossa Escola?
A escola é um espaço de convivência dos alunos. É por eles que ela
existe. Já imaginaram uma escola sem alunos? Apesar da obviedade desta
afirmação, o sistema educacional, em geral, tem considerado os alunos apenas
como um dado burocrático. Talvez esta seja uma das explicações de porque os
alunos se rebelam disciplinarmente. Superar isso supõe incorporá-los no
projeto político-pedagógico da escola. Fazer da escola um espaço de
desenvolvimento da personalidade pessoal, social, comunicacional, emocional,
cultural e cidadã dos alunos. Estabelecer com eles um contrato coletivo das
ações necessárias para isso. É preciso que se sintam participantes, que sintam
que são efetivamente a razão de a escola existir. Para isso, é importante que se
reconheçam, que tenham clareza de sua identidade na escola. E criemos as
condições para que isso ocorra. Como? Começando, nós próprios, a olharmos
para nossos alunos, perguntarmos quem são, de onde vêm, o que querem, o
que pensam, sentem, sonham...
Muita coisa já sabemos. No entanto é importante a cada ano/semestre
atualizarmos nosso conhecimento sobre os nossos alunos. O que já sabemos?
O que daquilo que sabemos precisa ser aprimorado? Às vezes 'sabemos'
preconceituosamente, sem dados da realidade. Às vezes sabemos por intuição
(que é uma forma de saber), mas é preciso aprofundar e alargar nosso
conhecimento.
Discutindo e assumindo compromissos de mudança
Realizar o planejamento segundo a concepção aqui apresentada envolve
o posicionamento individual e coletivo dos professores e da escola. Temos a
clareza do que queremos mudar na escola e em que direção pretendemos fazêlo é, sem dúvida, o elemento diferenciador da qualidade do trabalho a ser
desenvolvido.
Esses três dias de planejamento serão propícios para a integração e
troca de experiências acumuladas. Também será o momento de que todos
sejam acolhidos no ambiente escolar integrados numa dinâmica voltada à
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busca de estratégias para a organização do trabalho, que em breve se iniciará
na escola.
Bom trabalho. Boas vindas! O ano 2002 com a nossa organização e luta,
será com certeza um ano de grandes conquistas!
REFERÊNCIA
BARBOSA, José P. & NASCIMENTO, Aurélio E. Trabalho, história e
tendências. São Paulo, Ática, 1997.
MARQUES, Maria O. da S. Juventude, escola e sociabilidade. In: Pimenta,
Selma G. (org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo,
Cortez, 1998.
FARIA, Wilson de. Aprendizagem e planejamento do ensino. São Paulo,
Ática, 1989.
FERREIRA, Francisco W. Planejamento Sim ou Não. Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 1985.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo, Cortez, 1997.
FUSARI, José C. O Planejamento educacional e a prática dos educadores.
Revista da ANDE (8). 1984.
FUSARI, José C. O Planejamento escolar não é um ritual burocrático. Sala de
aula. São Paulo, 1989.
GENTILINI, João augusto. “Planejamento educacional e descentralização:
aspectos teóricos e metodológicos. In: GENTILINI, João augusto (org.).
Política educacional, planejamento e gestão. São Paulo, Araraquara:
FCL/Laboratório Editorial/UNESP, 2001. p. 77-99
LIBÂNEO, José C. Didática. São Paulo, Cortez, 1991.
NÓVOA, Antonio. Vidas de Professores. Dom Quixote, Lisboa- Portugal. 1992.
PIMENTA, Selma G. Projeto pedagógico e identidade da escola. Revista
Educação e Formação. UNITAU, 1998.
SANTOS NETO, Elydio. O projeto político-pedagógico da escola: caminho
para organização e articulação. Revista Educação e Formação, UNITAU,
1998.
VIANNA, Ilca O. de A. Planejamento participativo na escola. São Paulo, EPU,
1986.
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PLANO DE UNIDADE
Escola: ________________________________________ Disciplina: ____________________________ Data: _________
Série: ____________
Ano:_________
PROFESSOR (A): ____________________________________
UNIDADE DIDÁTICA: .................................................................................................
HORAS PREVISTAS: ....................................................................................................
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
SUB-UNIDADES E SEUS CONTEÚDOS
Nº
HORAS
PROCEDIMENTOS DE
ENSINO (ESTRATÉGIAS)
RECUSROS
AVALIAÇÃO
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PLANO DE AULA
Escola: ________________________________________ Disciplina: ____________________________ Data: _________
Série: ____________
Ano:_________
PROFESSOR (A): ____________________________________
UNIDADE DIDÁTICA: .................................................................................................
HORAS PREVISTAS: ....................................................................................................
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
CONTEÚDOS
Nº
AULAS
DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO
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PLANO DE CURSO
ESCOLA:
LOCALIDADE:
CURSO:
SÉRIE:
TURMA:
DISCIPLINA (OU ÁREA DE ESTUDO):
PROFESSOR (A):
ANO:
DISTRIBUIÇÃO DO TEMPO: .................. horas semanais
................... horas anuais - 20% ................
.................... horas anuais
Fevereiro: .................. horas-aulas
Agosto: ...................... horas-aulas
Março: ....................... horas-aulas
Setembro: .................. horas-aulas
Abril: ......................... horas-aulas
Outubro: .................... horas-aulas
Maio: ......................... horas-aulas
Novembro: ................. horas-aulas
Junho: ........................ horas-aulas
Dezembro ...................horas-aulas
Julho: .................. .......horas-aulas
CARACTERÍSITCAS DO GRUPO:
Nº de alunos: masculino: ........................... feminino: .......................
Total: ..........................
Procedências: .......................................................................................................
..............................................................................................................................
..............................................................................................................................
Nível sócio-econômico: ......................................................................................
..............................................................................................................................
..............................................................................................................................
I)
OBJETIVOS GERAIS:
II)
METODOLOGIA (Esboço Geral)
III)
AVALIAÇÃO (Esboço Geral)
IV)
BIBLIOGRAFIA (Esboço Geral)
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PARA REFLETIR E DISCUTIR EM GRUPOS: O PLANEJAMENTO
EM NOSSA ESCOLA.
1. Que concordância e discordância temos sobre a concepção de planejamento
apresentado?
2. Quais são nossas expectativas em relação ao trabalho de planejamento deste
ano?
3. Qual tem sido a sistemática de planejamento vivenciada na nossa escola?
Que problemas identificamos?
4. O que precisamos e queremos modificar nessa prática?
PARA REFLETIR E DISCUTIR EM GRUPOS: A CARACTERIZAÇÃO
DO CORPO DOCENTE DA NOSSA ESCOLA.
1. Quem somos nós? Quantos somos?
2. Quais são as nossas concepções e experiências?
3. Quais são as expectativas de cada um em relação:
 ao ensino?
 aos colegas?
 aos alunos?
 à direção da escola?
 aos supervisores e a equipe pedagógica?
PARA REFLETIR E DISCUTIR EM GRUPOS: O PAPEL SOCIAL E
POLÍTICO DA ESCOLA NA ATUAL SOCIEDADE BRASILEIRA.
1. Será que a escola, da forma como está organizada, dá conta de responder a
esse desafio? O que precisa mudar?
2. Como nós professores nos posicionamos diante desse conjunto de mudanças
que se faz necessário? Em que eu posso contribuir?
3. Em que e como essa reflexão pode nos ajudar a reorientar o trabalho de
planejamento? E nossos planos de ensino?
4. Como essa reflexão pode ajudar cada um de nós a repensar seu
relacionamento com os alunos e seus pais; os demais membros da escola
inclusive a administração?
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PARA REFLETIR E DISCUTIR EM GRUPOS: UM TRABALHO DE
CONHECIMENTO DOS ALUNOS.
Sugerimos um roteiro (a ser melhorado e ampliado pelos professores) para
ser respondido pelos alunos, individualmente ou em pequenos grupos. Eles
próprios poderiam fazer a tabulação dos dados e mesmo discutirem em sala.
Poderia ter questões sobre os seguintes aspectos:
Na escola: o que gosto, o que eu mudaria, tenho amigos (que também são
meus amigos fora da escola). O que é a escola para mim e o que eu gostaria
que ela fosse? O que é a escola para os demais alunos? Participo de algum
grupo? (fanfarra, banda, teatro, jornal, ciências, história, poesia, etc.) Gostaria
de participar?
Se eu não estivesse na escola onde estaria?
Em casa: costumo ajudar? Em que? Trabalho? Em que? Gosto do que
faço? Costumo brincar? Em que e onde? Assisto TV? O que? Quantas pessoas
moram em minha casa? Quantos trabalham fora? Há quanto tempo moro neste
bairro?
Sobre violência: Você já passou por alguma situação de violência? Por
parte de quem: pais, irmãos, vizinhos, desconhecidos, outros? O lugar onde
você mora e onde se situa a escola é violento? Como você lida com ela? Como
você escapa das situações?
PARA REFLETIR E DISCUTIR EM GRUPOS: COMPROMISSOS DE
MUDANÇA
1. Que queremos e precisamos mudar na nossa escola e nas nossas aulas?
2. Quais as mudanças que são necessárias no coletivo dos professores e no
plano individual?
3. Quais as condições que necessitamos para realizar um bom trabalho
pedagógico na escola?
4. Como podemos nos organizar e nos mobilizar para realizar um bom
trabalho pedagógico na escola?
5. O que precisamos reivindicar da direção, da equipe pedagógica e da
administração?
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