Jazz
em
6–15
Agosto
2010
o outro lado do jazz
6 Sexta 21:30h — Anfiteatro ao Ar Livre
John Surman
Jack DeJohnette
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john surman © dr
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John Surman
Nascido 30 Agosto 1944 em Tavistock (Reino Unido).
Da emancipação à confluência das vanguardas dos anos 1960 até à afirmação de um universo
sincrético transportado na direcção da introspecção, o itinerário de John Surman no seio
do jazz europeu é por sua vez exemplar e singular. Ainda criança aprende na escola canto baseado em melodias tradicionais, depois adopta o saxofone barítono (a escuta decisiva de Harry
Carney, aulas com Howard Johnson). Londres, 1962: John Surman sai da sua Cornualha natal
depois de ter estudado com o ensemble que Mike Westbrook constituiu em Plymouth. Estuda no London College of Music, multiplica actuações (blues com Alexis Korner, hard bop com
Ronnie Scott…), e em breve se encontra próximo da emulação da cena inglesa onde as aventuras
fundadoras tomam forma: o Brotherhood of Breath de Chris McGregor, ou ainda as primeiras
emoções do jazz-rock com John McLaughlin (participa no primeiro disco do guitarrista, Extrapolation, em 1969).
Se o saxofonista fica à margem das experiências mais radicais (em torno de John Stevens, Derek
Bailey …), The Trio que forma em 1969 com dois músicos americanos, o contrabaixista Barre
Phillips e o baterista Stu Martin, permanece ainda hoje visionário. Na transição entre o último
período de John Coltrane e as músicas improvisadas europeias, lança as bases de um processo
colectivo apaixonado pela liberdade que não perde de vista a interacção formal. Revela-se saxofonista barítono de excepção: fraseado naturalmente sinuoso, fulgurante nas suas escapadelas
e no lirismo de nuances (do grave carnal à ligeireza do sobre agudo). The Trio fará ainda figura
ao juntar-se aos franceses Michel Portal e Jean-Pierre Drouet (Alors!!! em 1970), e alargando-se
em grande orquestra compreendendo particularmente Kenny Wheeler, Chick Corea e Dave
Holland (Conflagration em 1971). A intensidade da experiência conduziu John Surman a avaliar
as suas distâncias, retirando-se para iniciar outras perspectivas.
De um solo inaugural em 1972, Westering Home, à associação com a label alemã ECM em 1979,
os anos 1970 são marcados por uma pesquisa solitária de novas coordenadas musicais, voltada
especialmente para o folclore britânico. Inicia-se nos sintetizadores, desenvolve climas etéreos
marcados pela música repetitiva. Esta plenitude de marcada espiritualidade não deixará de
desviar os seus primeiros admiradores, mesmo que um tal horizonte melódico e a sua atenção
às texturas fossem já significativas em The Trio. Reconhecemos sempre o seu clarinete baixo
sedoso por caminhos furtivos, o soprano pontilhista ou tudo em círculo fechado. Novos encontros com a cantora Karin Krog, a bailarina Carolyn Carlson, e no decorrer dos anos 1980
com o baterista Jack deJohnette e depois com o pianista Paul Bley. As relações em duo são privilegiadas, sensíveis mesmo em contextos alargados. Em 1997, Proverbs and Songs, com orgão e
coro, marca um retorno às origens: “Se revir o que realmente me marcou na música, foi bem antes
de ter encontrado o jazz”, disse. Se no seio do trio de Anouhar Brahem com Dave Holland em
meados dos anos 1990, o mal entendido não se dissipa sobre uma expressividade tendente à
evanescência, os contextos acústicos sublinham sempre uma emulação rara como testemunha
do seu quarteto histórico com um companheiro de estrada, o pianista John Taylor. John Surman
continua a ser, sobretudo, um improvisador virtuoso.
Thierry Lepin
in Médiathèque de la Cité de la musique
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jack dejohnette © jos knaepen
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Jack DeJohnette
Nascido em 9 Agosto 1942 em Chicago (Illinois, E.U.A.).
A notoriedade actual deste baterista passa pela sua participação em grupos prestigiosos (de Miles
Davis nos anos 1970 ao trio de Keith Jarrett hoje em dia), e poderá fazer esquecer a variedade
e riqueza de uma carreira de sideman assim como uma actividade de leader.
O jovem Jack debuta muito novo no estudo do piano clássico que prossegue durante uma dezena
de anos paralelamente ao do saxofone. No liceu toca rock and roll e blues antes de descobrir
o jazz e de sentir a influência de Ahmad Jamal que ouve em 1958. Depois de entrar na universidade, Jack toca em grupos da região de Chicago onde se especializa progressivamente na bateria.
É aí que participa nos inícios do free jazz e se liga aos futuros membros da AACM, como Muhal
Richard Abrams. É igualmente aí, no princípio dos anos 1960, que numa noite substitui Elvin
Jones por três temas … no grupo de John Coltrane. Instalando-se em Nova Iorque em meados de
1960, é logo contratado pelo organista John Patton, depois Jackie McLean e ainda pelo popular
Charles Lloyd Quartet com o qual tocaria no festival de Antibes em Julho de 1966. Os compromissos e as colaborações multiplicam-se desde então: Betty Carter, Abbey Lincoln, Stan Getz,
as presenças nos grupos de Coltrane ou Thelonious Monk… Em 1968 encontra-se ao lado de
Eddie Gomez no trio de Bill Evans em várias aparições públicas assim como numa digressão
pela Europa.
O compromisso com Miles Davis começa no verão de 1969 e prosseguirá até meados de 1971
(Bitches Brew, concerto na Ilha de Wight…). A presença de Jack DeJohnette estende-se, tanto
em cena com em estúdio, e leaders como George Benson, Joe Henderson, Pat Metheny, MCoy
Tyner ou Chick Corea juntam-se à lista dos seus parceiros. Forma em 1971, Compost, um grupo
de jazz-rock no qual toca piano. Alguns anos mais tarde (1975) nascerá Directions com o guitarrista John Abercrombie e contrabaixista Peter Warren, seguido de uma segunda colheita,
New Directions (1978) compreendendo Lester Bowie. De uma outra associação com Abercrombie
e Dave Holland nascerá o trio Gateway, várias vezes reformado. Special Edition (1979) inclui os
saxofonistas David Murray e Arthur Blythe.
De entre os projectos postos em pé nos anos 1980 (um trio com Eddie Gomez e Charlie Persip
e uma gravação de piano com Eddie Gomez e Freddie Waits), o mais durável é, incontestavelmente, o trio com Keith Jarrett e Gary Peacock, formação devotada à releitura dos standards.
É preciso não esquecer nem a participação de DeJohnette no grupo de Pat Metheny e Ornette
Coleman nem, em 1987, no novo Special Edition com Greg Osby e Gary Thomas ao qual se sucederam várias fórmulas. Em 1990, Paralel Realities associa-o a Pat Metheny e Herbie Hancock,
Dave Holland completando a fórmula em cena. É na companhia do mesmo baixista que nasceram no mesmo período os trios com Steve Coleman ou ainda com Dave Liebman. Ouvimo-lo
igualmente em trio de pianistas como Laurent de Wilde ou Gonzalo Rubalcaba ou ainda com
Special Edition, piano solo ou com Gateway. Em 1998, surge no Festival de Willisau (Suíça) no
seio de um quarteto com Graham Haynes, Elliott Sharp e Bill Laswell. Faz parte, desde 2003 do
trio Beyond com o organista Larry Goldings e o guitarrista John Scofield, trio constituído em
referência do Tony Williams Lifetime. Entre muitas outras actividades e digressões mundiais
com Keith Jarrett é igualmente baterista do trio de Bruce Hornsby.
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É pouco arriscado afirmar que Jack DeJohnette é, depois de Roy Haynes, um dos mais importantes bateristas modernos em actividade. A sua formação e experiência de pianista, em evidência,
permitem explicar, caso a caso, a sua inteligência geral sobre o jogo colectivo (sobretudo em
trio), a dimensão melódica do seu estilo de bateria e a sua inspiração de compositor. De entre as
suas influências destacam-se Vernell Fournier (descoberta numa revelação de Ahmad Jamal),
Max Roach e Philly Joe Jones. Mas Jack DeJohnette coloca-se naturalmente no prolongamento
simultâneo de Tony Williams (com Miles Davis) pela precisão, e de Elvin Jones (com Coltrane)
pela descontracção. A procura de liberdade que caracteriza o estilo de Jack DeJohnette não é
estranha à sua integração de elementos essenciais do free jazz desde os anos 1960. Ela passa
por si com rigor e uma exactidão excludente, qualquer que seja o dilúvio ou o caos aparente que
produz, em toda a perda de domínio e de sensação da pulsação e do tempo. Esta arte de assumir
riscos eleva-se à incandescência no seio do trio de Keith Jarrett, grupo literalmente animado
pelo diálogo entre o pianista e o baterista.
Como leader e compositor, DeJohnette apoia-se numa diversidade de experiências e o eclectismo das suas orientações estilísticas (jazz, ritmos latinos, rock, músicas tradicionais), juntando
a isso, por vezes, ressonâncias mais pessoais de ordem espiritual (Earth Walk, 1991). No piano,
Jack DeJohnette coloca-se sob as influências cruzadas de Ahmad Jamal, Bill Evans e Red Garland. Mas é, sem dúvida, paradoxalmente, na concepção melódica do seu estilo de bateria que
se exerce e se expande plenamente o seu domínio do piano. Não se esquecerá a sua actividade
de pedagogo em várias publicações ou vídeos, The Art of Modern Drumming (com Charlie Perry,
D.C. Publications, 1984) e Musical Expression on the Drum Set (Homespun Tapes, 1992).
Vincent Cotro
in Médiathèque de la Cité de la musique
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