ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA LEONARDO DA CRUZ TICOM GESTÃO DE PESSOAS PARA AS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS: uma ferramenta ao fortalecimento do Poder Nacional Rio de Janeiro 2011 LEONARDO DA CRUZ TICOM GESTÃO DE PESSOAS PARA AS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS: uma ferramenta ao fortalecimento do Poder Nacional Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientadora: Profª Marlene De Freire Rio de Janeiro 2011 C2011 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG. ________________________________ Leonardo da Cruz Ticom - Cel Com EB Biblioteca General Cordeiro de Farias Ticom, Leonardo da Cruz Gestão de Pessoas para as Forças Armadas Brasileiras: uma ferramenta ao fortalecimento do Poder Nacional / Cel Com EB Leonardo da Cruz Ticom - Rio de Janeiro: ESG, 2011. 124 f.: il. Orientadora: Profª Marlene de Freire. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011. 1. Gestão de Pessoas. 2. Forças Armadas. 2. Motivação e Liderança. 3. Mudança Organizacional. I. Título. Tamanho: 12,5 cm x 7,5 cm - Fonte arial 10 Ao meu SENHOR... por tudo... e por ter, em Sua infinita misericórdia, permitido a conclusão deste trabalho. Aos meus pais, Paulo e Martha (in memoriam), pelo amor, dedicação, exemplos e incentivos ao longo de minha vida. À minha querida esposa Adriana a aos meus filhos Fabiane, Felipe e Paola, pelo amor, carinho, dedicação, apoio, compreensão... estímulo, AGRADECIMENTOS Ao meu SENHOR, por tudo... pelas inúmeras Bençãos derramadas sobre nossas vidas, a minha e de minha família, e pela maior de todas, a reconciliação por meio do sacrifício de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. À minha família, além de minha dívida e afeto eternos, peço-lhes, com humildade, perdão, pelos muitíssimos momentos de convívio perdidos para a elaboração deste trabalho, e lhes digo com imenso amor: OBRIGADO! À minha orientadora Marlene de Freire, minha calorosa gratidão pela dedicação verdadeira a este trabalho, tendo se colocado à disposição por completo, fosse com suas orientações acadêmicas, com indicação e fornecimento de bibliografia ou com o expressivo incentivo de ânimo, de fundamental importância, em especial nos momentos mais difíceis desta jornada. Aos meus colegas do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE)/2011, minha gratidão pelo convívio harmonioso e agradável de todas as horas, do qual sentiremos todos saudades, e aos meus caríssimos colegas Elba Alonso Rangel e Erwin Manuel Garcia Caravantes, em especial, pelo apoio técnico prestado, o qual, além de valioso, foi prova de inestimável consideração. À equipe da Biblioteca General Cordeiro de Farias, Bibliotecária Chefe Cleide Santos Souza e demais bibliotecárias e auxiliares, agradeço pela convivência atenciosa ao longo deste ano e pelo profissionalismo e zelo demonstrados no apoio prestado. A todos aqueles que me auxiliaram diuturnamente com ideias, compartilharam experiências, apresentaram sugestões, responderam questionários, prestaram esclarecimentos, transmitiram-me seus conhecimentos acerca do tema ou, enfim, de qualquer forma, direta ou indireta, honraram-me com seu apoio, digo-lhes: muito obrigado! Enfim, os meus sinceros agradecimentos a todos os que oraram ao SENHOR pela realização desta obra, bem como, espontaneamente e com prejuízo de seus afazeres e lazer, contribuíram para sua conclusão, prova inequívoca de carinho e amizade. Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. Bem aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. (Mateus: 5. 6, 10) RESUMO No Brasil, a perda de capital intelectual nas Forças Armadas (FA) vem se acentuando, já há algum tempo, seja pela inatividade precoce, reserva remunerada ou aposentadoria, para militares e civis, respectivamente, tão logo atinjam as condições para tal, ou pela recolocação no mercado de trabalho. A análise administrativa da questão, quando ocorre, se dá, em regra, mediante a formulação de simples juízos de valor desprovidos de embasamento científico, dos quais os principais se referem ao aspecto remuneratório. O estudo interdisciplinar da relação entre pessoas e organizações, com conhecimentos de Ciências como a Administração, a Psicologia e a Psicologia Organizacional, resultou em uma moderna e exitosa abordagem, a Gestão de Pessoas (GP). De gênese humanista, caracteriza-se pela perspectiva conciliatória dos interesses entre organizações e seus colaboradores, com ênfase nos aspectos da motivação e da liderança, e atenção aos valores emergentes nesta Sociedade do Conhecimento, entre os quais: a busca da autorrealização e da qualidade de vida. O objetivo central do trabalho é analisar em que medida uma mudança organizacional, mediante a adoção de políticas e práticas de GP nas FA, poderá beneficiá-las e, por conseguinte, ao Poder Nacional (PN), contribuindo, dentre outras formas, para a solução de demandas como a descrita. Utilizando, basicamente, a pesquisa bibliográfica e a observação participante, o trabalho identifica os fatores interna corporis considerados os principais óbices à moderna e eficaz gestão, a saber: o fator motivacional, a avaliação de desempenho e a comunicação organizacional. Por fim, apresenta algumas sugestões de políticas e estratégias passíveis de aplicação. Palavras-chave: Gestão de pessoas. Forças Armadas. Motivação e Liderança. Mudança organizacional. RESUMEN En Brasil, la pérdida de capital intelectual en las Fuerzas Armadas (FA) se ha venido acentuando desde hace ya algún tiempo, debido a la inactividad precoz, la reserva o la jubilación anticipada a civiles y militares respectivamente, tan luego obtengan las condiciones para tal situación o por la reinstalación en el mercado laboral. El análisis administrativo del tema, cuando ocurre, como se da, que reglas, y, a través de la formulación de juicios de valor que carecen de fundamento científico, de los cuales se refieren al aspecto principal de la remuneración. El estudio interdisciplinario de la relación entre las personas y las organizaciones, con conocimientos en las ciencias como la Administración, la Psicología y la Psicología Organizacional, resultado de un moderno y exitoso enfoque, la administración de personal (AP). De origen humano, se caracteriza por la actitud conciliadora de intereses entre las organizaciones y sus empleados, con énfasis en los aspectos de motivación y liderazgo, y la atención a los valores emergentes de esta nueva sociedad del conocimiento, entre ellos: la búsqueda de la calidad y autorrealización de vida. El objetivo principal del estudio es analizar el grado en que un cambio en la organización a través de la adopción de políticas y prácticas de AP en las FA podría beneficiarla y, por tanto, el Poder Nacional (PN), contribuyendo en viarias formas para la solución de las demandas como se describe. Utilizando, básicamente, la búsqueda bibliográfica y la observación participante, el estudio identifica los factores internos de la organización considerando los principales obstáculos de la moderna y eficaz administración, a conocer: el factor de la motivación, la evaluación del desempeño y la comunicación organizacional. Finalmente, se presentan algunas sugerencias de posibles políticas y estrategias que se pueden aplicar. Palabras clave: Administración de personal. Fuerzas Armadas. Motivación y Liderazgo. Cambio organizacional LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 Pirâmide das necessidades de Maslow ...........................................35 QUADRO 1 Necessidades humanas ...................................................................35 QUADRO 2 Associação dos modelos de Maslow e Herzberg .............................39 FIGURA 2 A formulação da estratégia empresarial ...........................................74 FIGURA 3 Um modelo de gestão de pessoas ...................................................74 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AMAN Academia Militar das Agulhas Negras BanTal Banco de Talentos Bra Brasileira(s) CAEPE Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia CDMB Comissão Militar Desportiva do Brasil CEP Centro de Estudos de Pessoal CFN Corpo de Fuzileiros Navais CGCFN Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais COMGEP Comando-Geral do Pessoal CPesFN Comando do Pessoal de Fuzileiros Navais CPMM Centro de Perícias Médicas da Marinha DAP Diretoria de Assistência ao Pessoal DAProm Diretoria de Avaliação e Promoções DASM Diretoria de Assistência Social da Marinha DCEM Diretoria de Controle de Efetivos e Movimentações DCIP Diretoria de Civis, Inativos e Pensionistas DEC Departamento de Engenharia e Construção DECEX Departamento de Ensino e Cultura do Exército DEnsM Diretoria de Ensino da Marinha DEPEC Departamento de Pessoal, Ensino e Cooperação DEPENS Departamento de Ensino da Aeronáutica DESAS Departamento de Saúde e Assistência Social DGP Departamento-Geral do Pessoal DGPM Diretoria-Geral do Pessoal da Marinha DO Desenvolvimento Organizacional DPCvM Diretoria de Pessoal Civil da Marinha DPMM Diretoria de Pessoal Militar da Marinha DSau Diretoria de Saúde DSM Diretoria de Saúde da Marinha DSM Diretoria de Serviço Militar (Exército) EB Exército Brasileiro ECEMAR Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército EGN Escola de Guerra Naval EMA Estado-Maior da Armada EME Estado-Maior do Exército END Estratégia Nacional de Defesa EsEFEx Escola de Educação Física do Exército ESG Escola Superior de Guerra EUA Estados Unidos da América FA Forças Armadas FAB Força Aérea Brasileira GP Gestão de Pessoas GT Grupo de trabalho HFA Hospital das Forças Armadas HMAB Hospital Militar de Área de Brasília LFM Laboratório Farmacêutico da Marinha MB Marinha do Brasil MD Ministério da Defesa MIT Massachusetts Institute of Technology ODS Órgão(s) de Direção Setorial(ais) OM organizações militares ONU Organização das Nações Unidas PDN Política de Defesa Nacional PMDF Polícia Militar do Distrito Federal PN Poder Nacional RH Recursos Humanos QT Qualidade Total QVT Qualidade de Vida no Trabalho SEPESD Secretaria de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto SIGESTA Sistema de Gestão de Talentos SIPLEX Sistema de Planejamento do Exército UNIFA Universidade da Força Aérea SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................12 2 2.1 2.2 GESTÃO DE PESSSOAS – VISÃO GERAL..................................................15 FUNDAMENTOS.............................................................................................18 O SENTIDO TELEOLÓGICO DA GESTÃO DE PESSOAS............................27 3 3.1 3.2 3.3 LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO.........................................................................29 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS MOTIVACIONAIS.........................................34 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE LIDERANÇA...........................................42 A TELEOLOGIA DA AÇÃO.............................................................................47 4 MUDANÇA ORGANIZACIONAL: DE RECURSOS HUMANOS PARA GESTÃO DE PESSOAS...........................................................................................49 4.1 RECURSOS HUMANOS NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ATUAL......51 4.2 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL............................................................55 4.3 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO...................................................................58 4.3.1 O processo atual...........................................................................................65 4.3.2 Consequências da hierarquização por mérito...........................................67 4.4 CONFLITO E NEGOCIAÇÃO.........................................................................69 4.4.1 O papel da negociação na gestão estratégica de pessoas.....................72 4.4.2 A função de uma ouvidoria.........................................................................82 4.4.3 Diálogo organizacional na Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF)....84 4.5 INICIATIVAS E PERSPECTIVAS..................................................................85 4.5.1 A pró-atividade como imperativo organizacional.....................................91 4.6 POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS:......................................................................94 5 CONCLUSÃO................................................................................................99 REFERÊNCIAS...........................................................................................103 APÊNDICE “A” - QUESTIONÁRIO............................................................115 APÊNDICE “B” – RESULTADOS..............................................................119 12 1 INTRODUÇÃO “O que me proponho, portanto, é muito simples: trata-se apenas de pensar o que estamos fazendo”. (Hannah Arendt – In: A Condição Humana) É fato público e notório, objeto inclusive de diversas matérias na mídia nacional, que as Forças Armadas (FA) Brasileiras (Bra), doravante referenciadas apenas por FA, vêm se ressentindo, já há algum tempo, da perda significativa de pessoal qualificado, seja pela recolocação voluntária do profissional no mercado de trabalho, em qualquer período da carreira que lhe fora proposta, seja por afastamento para a reserva remunerada, no caso dos militares, ou aposentadoria para os civis, tão logo atinjam as condições para tal. Este fato, manifestamente reconhecido na esfera organizacional, impacta diretamente o gerenciamento, interna corporis, do conhecimento acumulado. A inquietação intelectual oriunda do fato supramencionado tem acarretado a proliferação de inúmeras propostas para o trato da chamada questão do pessoal, aparecendo, na maior parte das vezes, como meras especulações, opiniões, comumente conflitantes, e, ainda, como indica a própria etimologia destas palavras, desprovidas de embasamento científico, simples juízos de valor e arraigados a conceitos ou suposições decorrentes tão-somente da vivência administrativa de seus formuladores. Uma das suposições mais comuns, manifestada irrefletida e diuturnamente na organização FA, é a de que o aspecto remuneratório da profissão militar é o cerne do problema, sua própria essência, se não for o problema. Ora, uma pergunta se apresenta: poder-se-ia simplificar tanto a questão e sua suposta resposta, em face de um problema organizacional cuja gênese não reside na esfera do tangível, do mensurável, sob a ótica matemática, da simples solução técnica ou operacional, mas, sim, que está relacionada à complexa natureza psicológica humana? Acredita-se, exatamente em decorrência desta complexidade, e buscandose obter um diagnóstico o mais preciso possível, que uma investigação científica não apenas seja recomendável, como, também, deva ser imprescindível, máxime considerando-se o fato de a sociedade atual, já denominada Sociedade da Informação, ou Terceira Onda, segundo Alvin Toffler, apresentar um novo perfil de profissional, no qual se destacam valores emergentes do contexto social. 13 A Ciência da Administração, em harmonia com a Psicologia, em especial com a Psicologia Organizacional, vem oferecendo uma moderna e exitosa abordagem para a relação entre uma organização e seus colaboradores: trata-se da Gestão de Pessoas (GP), a qual, segundo Dutra (2011, p. 17, grifo nosso), “caracteriza-se como um conjunto de políticas e práticas que permitem a conciliação de expectativas entre a organização e as pessoas para que ambas possam realizá-las ao mesmo tempo”. É coerente esperar que, motivado e pessoalmente realizado, as ações do profissional das FA, nos diversos grupos sociais em que interaja, a começar pela própria organização militar, possam contribuir para o fortalecimento da Expressão Psicossocial do Poder Nacional (PN). Assim sendo, em síntese, a motivação ou razão da presente pesquisa é incitar uma reflexão acerca do problema, por meio de uma análise lastreada em instrumental científico e não em premissas dogmáticas presentes na cultura organizacional das FA. O presente trabalho justifica-se por oferecer, mediante um estudo original e viável, uma alternativa para a adequação da gestão de recursos humanos (RH) nas FA, em face da realidade social hodierna. Considerando-se a atualidade e a importância do tema, tanto para a organização quanto para seus profissionais, pois representa o envolvimento de pessoas, suas vidas e famílias, a contribuição do estudo à compreensão do problema e à busca de uma possível solução caracteriza exatamente sua relevância. Desta forma, pode-se afirmar que o objetivo geral deste trabalho é examinar uma nova abordagem para a gestão estratégica de pessoas nas FA, condizente com a realidade social e tendente ao fortalecimento da Expressão Psicossocial do PN, o que se traduz no seguinte problema: em que medida a abordagem de GP poderá trazer benefícios para as FA e para o PN? A hipótese é que sua adoção proporcionará melhores condições para um alinhamento entre os objetivos estratégicos organizacionais das FA e as expectativas de autorrealização de seus profissionais, fortalecendo, assim, a Expressão Psicossocial do PN. A pesquisa aborda os principais conceitos relativos ao tema e sua percepção, tanto pela atual prática organizacional quanto pela abordagem proposta, 14 tais como: trabalho, comportamento, conflito, motivação, liderança, condicionamento, avaliação de desempenho, clima, cultura, mudança e comunicação organizacional. Embora, ao final, sejam apresentadas algumas estratégias de mudança organizacional, o caráter é de mera sugestão, não sendo objeto de estudo e enfoque desta pesquisa a proposta de soluções prontas e modelos específicos, tais como: avaliação de desempenho, recrutamento e seleção ou contencioso administrativo. A finalidade precípua, como proposto na obra de Demo (2010, não paginado, grifo nosso), é “incitar reflexões e questionamentos, bem como despertar o interesse de pesquisadores e estudiosos [...] e, quem sabe, fazer alguma diferença quando a questão é competitividade”, ou, talvez, sobrevivência organizacional, no sentido de FA com participação ativa, dinâmica, agregadora de realizações para a Nação, e não de existência meramente formal, simbólica ou vegetativa. A exposição do estudo dar-se-á em cinco seções. Excetuando-se a Introdução e as Considerações Finais, respectivamente seções 1 e 5, o trabalho está organizado em três seções principais. Na segunda seção, apresentar-se-á o embasamento teórico da abordagem de GP, com seus fundamentos, conceitos, inter-relacionamento sistêmico e sua finalidade. O objetivo desta seção é fornecer ao leitor a compreensão efetiva do que vem a ser GP e a razão pela qual esta se apresenta como uma proposta adequada às modernas organizações. Na terceira seção, apresentar-se-ão os conceitos de liderança e motivação, seus respectivos pressupostos teóricos, seu inter-relacionamento sistêmico e sua finalidade à GP, como elementos essenciais ao processo de mudança organizacional. Na quarta seção, abordar-se-ão as atuais características e práticas de gestão de RH nas FA, como seu posicionamento na estrutura organizacional, comunicação organizacional, avaliação de desempenho, bem como os aspectos relativos a conflito e negociação. Finalmente, analisando-se iniciativas em curso e em fase de implantação e suas perspectivas à GP, e, ainda, confrontando-se o modelo de gestão vigente com o conceitualmente proposto, apresentar-se-á um elenco de políticas e estratégias para mudança organizacional em GP. 15 2 GESTÃO DE PESSOAS – VISÃO GERAL “A individualidade não tem preço”! (do filme “O homem bicentenário”) A humanidade, em sua longa caminhada existencial, vem experimentando um processo contínuo de transformações nas relações sociais. No entanto, a partir da segunda metade do século XX, em especial, este fenômeno se acentuou, intensamente, em escala global, considerando-se os padrões até então observados. Em que pese, entre tantas mudanças, ser difícil, e até mesmo temerário, afirmar com exatidão, em particular nos dias atuais, a relação de causa e efeito entre eventos, há um relativo consenso em aceitar-se o fato de as conquistas tecnológicas estarem indissociavelmente vinculadas à origem da aceleração desse processo. As modificações atingiram os fundamentos da organização social, inclusive a própria relação entre capital e trabalho. Vive-se hoje, efetivamente, a Sociedade da Informação, ou do Conhecimento; sucessora das sociedades agrícola e industrial. As organizações, em geral em face das incertezas do ambiente global em que operam, passaram a sofrer uma crescente demanda por capacidade de adaptação, o que, aliás, tornou-se requisito fundamental para sobrevivência. Se, para as organizações públicas e privadas, a demanda crescente por uma adequada Gestão do Conhecimento é uma constante universal, o que exige o melhor aproveitamento possível do chamado capital humano, ou seja, da capacidade intelectual de seus colaboradores; para o homem, razão de ser das organizações, pois estas existem em função daquele, emergem, no momento, novos valores pessoais, tais como: a busca da autorrealização, da qualidade de vida e de um desejo individual de maior participação. Hoje, o ser humano, “visto sob uma perspectiva integrada, não pode ser considerado um recurso (recurso humano), mas um gerador de recursos” (VERGARA, p. 25, grifo nosso). Em síntese, o contrato psicológico subjacente à relação contratual estabelecida está a merecer uma acurada reflexão, motivo pelo qual, para uma demanda organizacional relacionada às pessoas, qualquer resposta estereotipada, simplista, empírica, enfim, um simples juízo de valor, não pode prosperar, em detrimento de uma alternativa fundamentada em análise científica. 16 No tocante à cientificidade, Caravantes (1998, p. 23, grifo nosso) afirma: “o que se procura, na ciência, é substituir uma série de „achologias‟, muitas vezes infundadas, produto de ensinamentos ou vivências hoje nem mesmo conscientes, que acabam orientando nosso comportamento como se verdades fossem”. Com relação aos estudos em ciências sociais, segundo Porto, Souza e Buarque (apud TEIXEIRA et al., 2010, p. 25)1, o que importa não é se a previsão é científica, mas que seja realizada com suporte de uma teoria científica e que resulte de uma formulação racional e fundamentada de hipóteses. Ora, a implantação efetiva da Estratégia Nacional de Defesa (END), aprovada pelo Decreto Nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008, demandará, em razão de sua envergadura, um processo de mudança organizacional. Segundo Araújo (2001, p.254, grifo nosso): Conceituamos mudança organizacional como qualquer alteração significativa, articulada, planejada e operacionalizada por pessoal interno e/ou externo à organização, que tenha o apoio e a supervisão da administração superior e atinja, integralmente, os componentes de cunho comportamental, estrutural, tecnológico e estratégico. Todavia, é oportuno destacar, que “o cerne de toda transformação organizacional está na transformação individual” (CARVALHO; TAVARES, 2001, p. 36, grifo nosso), pois, “em um ambiente de mudanças, o gargalo da transformação está nas pessoas e não na capacidade de a organização investir ou contratar serviços” (HEHN, 1999, p. 43, grifo nosso). Expondo as dificuldades que envolvem uma mudança em uma instituição militar e enfatizando o aspecto intelectual da tarefa, Alvin e Heidi Toffler (1994, p. 60, grifo nosso) afirmam: [O General] Dan Starry liderou o exercício intelectual que ajudou a erguer o Exército dos Estados Unidos do buraco negro da desmoralização em que ele havia caído após a Guerra do Vietnã, para o desempenho máximo na Guerra do Golfo. Ajudou, com sucesso, a reestruturar uma das maiores, mais burocráticas e recalcitrantes instituições do mundo – uma tarefa que poucos capitães da indústria, lidando com organizações muito menos pesadonas e complexas, têm conseguido realizar. Assim sendo, para o sucesso da END, torna-se importante ressaltar que o ser humano necessitará de uma bem definida perspectiva nas FA, ou seja, se será 1 PORTO, C; SOUZA, N. M.; BUARQUE, S. C. Construção de cenários e prospecção de futuros. Brasília: 1997. v. 1. ms. 17 percebido sob uma visão mecanicista, quiçá, utilitarista; ou humanista, holística, conforme definição de Knapik (2006). Para esta autora (2006, p. 18, grifo nosso): Uma visão (paradigma) mecanicista ou reducionista – impulsionada por Taylor e Fayol – ainda se encontra em muitas organizações e, mesmo sendo ultrapassada e decadente, considera, entre outros aspectos, a empresa como uma máquina e as pessoas como engrenagens. O termo utilitarista é aqui empregado como representação simbólica de um extremo da percepção mecanicista. É a ausência ou a retirada, in totum, de quaisquer vestígios de preocupação com a dimensão humana na vida organizacional. É o extremo oposto de uma visão humanista, ou seja, a subtração da natureza espiritual do homem e a ignorância de seu destino transcendental. Neste sentido, a postura da organização para com seu colaborador se assemelha, ainda que, obviamente, de forma inconsciente, ao comportamento consciente de doutrinas políticas totalitárias, as quais consideram o homem como mero objeto de serventia ao ente político, o Estado, a ponto de terem descartado pessoas julgadas indesejáveis, improdutivas ou discordantes em campos de trabalho ou de extermínio. Muito embora a comparação tenha uma conotação de hipérbole, a essência filosófica do comportamento é, de fato, a mesma. Se a resultante das ações individuais em uma organização for um vetor que permita a este ente abstrato, criado materialmente para servir ao propósito do progresso humano, ganhar vida própria, tornando-se como um Leviatã, invertendo, assim, meios e fins, e impedindo a manifestação do anseio de realização pessoal de seu profissional e/ou a oportunidade de conciliação deste com objetivos organizacionais, caracterizar-se-á, sim, uma gestão de RH utilitarista; ou melhor, apenas um trato utilitarista do homem, representativo da inexistência de um processo de gestão. A narrativa da interpretação feita pelo General Dan Starry acerca da relação entre os conceitos das ondas civilizatórias e a necessária transformação do Exército dos Estados Unidos da América (EUA), além de fornecer uma interessante percepção quanto à aplicação conceitual da teoria à prática de gestão na organização militar em geral, também fornece exemplo cristalino de um pensamento, talvez inconsciente, de raiz utilitarista. Segundo Alvin e Heidi Toffler (1994, p. 69, grifo nosso): 18 O acesso a um novo conceito de guerra só cristalizou em fins da década de 1970 e princípio da de 1980. Nesse período, Starry leu avidamente, não apenas sobre assuntos militares, mas também sobre as novas forças sociais e econômicas que nos deslocavam para além da modernidade, de uma civilização da Segunda Onda para a da Terceira Onda. Foi durante esse estudo que leu nosso livro A Terceira Onda e recomendou-o aos generais de sua equipe. - O exército – disse-nos ele em 1982, quando do nosso primeiro encontroé muito difícil de mudar. Afinal de contas, ele é uma [...] instituição de Segunda Onda. É uma fábrica. A idéia era de que nossas fábricas industriais deverão produzir, produzir e produzir armas. O exército faz os homens passarem por uma fábrica de treinamento. Depois, une os homens às armas, e nós vencemos as guerras. A abordagem toda é da Segunda Onda. Ele precisa ser levado para o mundo da Terceira Onda. Isto posto, a identificação do comportamento contemporâneo da organização militar como manifestação social da Sociedade Industrial é evidente. Significa, em outras palavras, que a forma como aquela vem lidando com seus profissionais está intimamente ligada às Escolas, ou às Abordagens, da Administração tidas como expoentes ou mais representativas do modelo industrial. Enfim, se há uma percepção de uma necessária transformação, há, também, que se admitir como imperiosa a revisão dos modelos mentais, que “moldam os elementos estruturais e equivalem a colunas e vigas sobre as quais a organização é construída” (HEHN, 1999, p. 52, grifo nosso). A mudança organizacional pretendida requer, primordialmente, a atuação no componente comportamental, ou seja, na cultura organizacional, e isto, agrade ou não aos atuais paradigmas da organização militar, significa, nesta Sociedade da Informação, abrir espaço para conciliação simultânea das expectativas, por meio de diálogo e comunicação; envolve aspectos de motivação e liderança; e demanda a reformulação da proposta de atração e retenção dos talentos. 2.1 FUNDAMENTOS A expressão Gestão de Pessoas tornou-se comum na área de Administração, em substituição ao termo tradicional Recursos Humanos. Alguns autores utilizam até Gestão com Pessoas. A pergunta inicial é por quê? Seria apenas mais um modismo? Ou trata-se de uma nova abordagem com fundamentação teórica consistente? 19 A propósito do questionamento, Hehn (1999) alerta para que todos em uma organização, principalmente as lideranças, saibam distinguir um change trigger, ou disparador de mudança, de uma moda, pois, enquanto esta tende a passar, em geral por não representar nenhum avanço, aquele traz em seu bojo uma evolução. Não percebê-lo pode ser perigoso e dispendioso. Segundo Souza (2005, p. 95, grifo nosso), “depois que as empresas aprenderam a lidar com os recursos e com os processos, chegou a hora de aprender a lidar com as pessoas, com a individualidade de cada um e com as relações entre elas”. Para o autor aí está o cerne das questões organizacionais hodiernas e, embora tenha empregado na oração o termo empresas, sua observação se refere às organizações em geral, o que significa aplicação, indistinta, às de natureza pública ou privada. É oportuno, porém, aqui ressaltar que esta situação é comum na literatura relativa ao tema, em razão da manifesta demanda do setor privado pelo estado da arte na esfera gerencial. Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2004, p. 18, grifo do autor) sustentam que, “do tradicional departamento de pessoal da década de 1950, [...] à recente área de recursos humanos, assistimos atualmente a significativas mudanças de paradigma que apontam para uma nova fase de gestão de pessoas”. Knapik (2006) descreve paradigmas como referenciais, modelos que são utilizados para justificar ações e expressar crenças, medos, valores que orientam e explicam escolhas, os quais têm como aspecto positivo a segurança proporcionada ao indivíduo, mas podem limitar ou obstruir o campo de visão do observador para o problema, em razão da rigidez do modelo, inviabilizando a percepção de longo prazo. Cumpre, pois, para o presente estudo, a identificação do paradigma mencionado, bem como a compreensão das razões para sua modificação. Embora, segundo Vergara (2005), o ser humano seja um gerador de recursos, “historicamente, as pessoas vêm sendo encaradas pela organização como um insumo, ou seja, como um recurso a ser administrado” (DUTRA, 2011, p. 15, grifo nosso). Ocorre, conforme já mencionado, que as alterações nos fundamentos da organização social atingiram a própria relação entre capital e trabalho. Aliás, convém 20 ressaltar, que, na percepção de Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2004, p. 257, grifo nosso), “ao longo da história econômica nada mudou mais, principalmente nos últimos séculos de vida humana, do que o universo do trabalho”. Capital e trabalho agora se aproximam em razão de uma causa comum, a sobrevivência dos negócios, onde ambos estão inseridos, as mudanças acontecem todos os dias e a constante é a instabilidade (BROXADO, 2001). Há, destarte, uma migração da base das relações de trabalho de uma visão paternalista para a da associação de interesses, razão pela qual “o passado da relação Empresa x Indivíduo, caracterizada pelo Recurso Humano de insumo ordinário e descartável, dá lugar ao capital humano competitivo e parceiro”. (BROXADO, 2001, p. 25, grifo nosso). As organizações preocupam-se, agora, em oferecer oportunidades para o desenvolvimento de seu pessoal, esperando, em contrapartida, comprometimento e resultados. O trabalho assumiu o status quo de verdadeiro instrumento para autorrealização humana, não mais se resumindo a um simples meio de sobrevivência. No entendimento de Hoyos Guevara e Dib (2009), mais e mais pessoas estão percebendo o trabalho de outra forma e se preocupando com a qualidade de vida, o que indica uma busca geral por mais sentido e realização. As organizações tentam se adaptar, mesmo sem querer ou sem saber, a uma nova ordem com uma nova consciência. Há, portanto, uma crise de sentido permeando hoje o mundo do trabalho com problemáticas profundas; por exemplo, propõe os autores: a realização profissional surge quando atendida a vocação íntima do indivíduo ou só há sucesso profissional na satisfação de uma necessidade do mercado de trabalho? Ao comentar a penetração social de seu livro - A Quinta Disciplina -, isto é, o fato de ter levado à reflexão não só homens de negócio, mas pessoas e profissionais de diversas áreas do conhecimento e de atividades, Peter Senge (2004, p. 20, grifo nosso) sustenta: “passei a acreditar que atualmente existe abertura para um novo movimento de significação e mudança. Nossas formas tradicionais de gerenciar e governar estão se desmantelando”. Na esteira dessas considerações, convém destacar o que declarou William O`Brien, Presidente e Chief Executive Officer (CEO) da Hanover Insurance, em entrevista concedida a Peter M. Senge (2004, p. 374, grifo nosso): 21 PMS: Bill, por que existem tais pressões pela mudança na administração hoje – seria principalmente por causa de pressões competitivas? O`Brien: Não. Eu acredito que haja algo além de pressões competitivas. Nossas organizações tradicionais estão preparadas para suprir as três necessidades humanas básicas, segundo Maslow: comida, abrigo e família. Como atualmente essas necessidades são facilmente supríveis para os membros da sociedade industrial, nossas organizações não fornecem oportunidades significativas de exigir lealdade e comprometimento das pessoas. O tumulto na gerência continuará até que as organizações comecem a abordar necessidades de ordem mais elevada: autorrespeito e autorrealização. Essa é uma questão que Hanover enfrenta há quase vinte anos – descobrir os princípios orientadores, o projeto e as ferramentas necessárias para construir organizações mais coerentes com a natureza humana. Acerca do momento, Victor E. Frankl (apud HOYOS GUEVARA; DIB, 2009, p. 162, grifo nosso) apresenta uma reflexão cuja associação ao pensamento de Abraham H. Maslow é inevitável. In verbis: Por muito tempo temos sonhado um sonho do qual estamos despertando agora: o sonho é que se simplesmente melhorarmos a situação socioeconômica das pessoas, tudo estará bom, as pessoas serão felizes. A verdade é que, conforme superamos a luta pela sobrevivência [necessidades primárias], surge o questionamento: sobreviver para quê? Mais e mais pessoas hoje têm boas condições de vida, mas não têm sentido para viver [necessidades secundárias]. Souza (2005) desenvolveu um simbolismo próprio para descrever o momento atual em GP. A Teoria da Relatividade de Einstein estabelece que a energia cinética de uma partícula de massa M, animada de uma velocidade C, é expressa pela equação E=M(c)², conhecida como equação de Einstein, ou equação da experiência de massa-energia. Assim, admite-se que uma partícula em repouso possua energia em sua massa expressa por Ei=mi(c)², onde i é a condição inicial das variáveis. Por meio de uma analogia, argumentando que, hoje, nas organizações, as pessoas são dotadas dessa energia, e, ao serem estimuladas pela motivação, atingem os resultados de acordo com a intenção desses estímulos, o autor propôs a seguinte fórmula: R=PM², onde R=resultados, P=foco nas pessoas e M=fatores motivacionais. Explica, ainda, que o índice M, relativo aos fatores motivacionais, está elevado ao quadrado por referir-se aos fatores internos e externos, ou seja, identifica o princípio da ação e reação, apontando para o fato de cada impulso externo gerar, em contraponto e de imediato, um impulso interno. 22 Souza (2005, p. 17, grifo nosso) sintetiza sua compreensão do problema afirmando que “todo resultado é relativamente dependente da energia despendida nos processos direcionados às pessoas multiplicada por fatores motivacionais externos que impulsionam os fatores internos”. Em relação ao raciocínio do autor, duas considerações são oportunas. Ab initio, longe de ser uma tentativa de formulação matemática ou mensuração, o autor propõe apenas uma reflexão sobre a importância fundamental do fator motivação, no plano pessoal, e acerca do foco nas pessoas, no plano organizacional, cuja relação pode resultar em sucesso ou fracasso organizacional. A outra é que, embora, sob a ótica científica da Psicologia, deva-se ressaltar a motivação como interna ao ser humano, ou seja, não há motivação externa, mas, apenas, fatores de incentivo ou desestímulo, entende-se que a analogia é meritória, por buscar o destaque da importância tanto do contexto ambiental na organização quanto da motivação pessoal como fator diferenciador para a obtenção de resultados organizacionais. O aspecto da motivação, como fator prioritário para o estabelecimento de um diferencial competitivo pela organização, tem sido uma constante entre os teóricos e analistas de gestão de pessoas, embora divirjam, por vezes, quanto à forma julgada adequada para a obtenção do resultado esperado. Vroom (1997) narra que Wickham Skinner (1997) estabelece um amplo alicerce para os temas motivação e avaliação de desempenho. Segundo Vroom (1997, p. xii, grifo do autor), o objetivo fundamental da gestão de RH para Skinner é “a criação de uma força de trabalho motivada, na qual as pessoas sejam dinâmicas e comprometidas, [...] condição [...] vista como a arma competitiva mais eficaz da empresa”. No entendimento de Dutra (2011), nem a visão funcionalista nem a sistêmica conseguiram lidar, ou dar conta, como expressou literalmente, com a perspectiva da pessoa, uma vez que ambas tendem a fazê-la de tábula rasa, reduzindo-a a um cargo ou posição na estrutura organizacional ou processo produtivo, sendo necessário, para uma leitura fidedigna da realidade organizacional, acrescentar àquelas a visão do desenvolvimento humano. É exatamente a partir desta última abordagem que a recíproca agregação de valor entre pessoa e organização se torna sustentável, por meio de um processo, no 23 palco do qual figuram, em especial, segundo Dutra (2011), os conceitos de aprendizagem organizacional, competências e aspectos da dimensão da pessoa, dentre outros. A fim de proporcionar respostas ao que denomina de ambiente exigente, complexo e dinâmico, Dutra (2011) argumenta que a aprendizagem organizacional necessita fundamentalmente da criação de uma cultura de aprendizagem, e a existência desta cultura, por sua vez, depende dos vínculos estabelecidos entre pessoas e organização. Os vínculos referenciados podem ser analisados a partir das percepções de cultura e de clima organizacionais. Embora exista, com frequência, relativa confusão em relação aos conceitos, tomando-se ambos como sinônimos, há, na distinção conceitual, um componente importante de natureza temporal, qual seja, “enquanto a cultura organizacional se mantém durante toda a existência de uma empresa, ou, pelo menos, durante parte dela, [...] o clima organizacional se modifica conjunturalmente” (TACHIZAWA; FERREIRA; FORTUNA, 2004, p. 241, grifo nosso). Cultura organizacional “significa, pois, um modo de vida, um sistema de valores e crenças. Enfim, são as características próprias da organização e de seus valores” (FARIA, 2002, p. 120, grifo nosso). É “composta por regras formais e informais que direcionam a forma de agir, pensar, perceber e compartilhar das pessoas que fazem parte de uma organização” (KNAPIK, 2006, p. 22, grifo nosso). Clima organizacional é “um conjunto de percepções, opiniões e sentimentos que se expressam no comportamento de um grupo ou uma organização, em um determinado momento ou situação” (TEIXEIRA et al., 2010, p. 57, grifo nosso). Trata-se do “grau de satisfação demonstrado pelos membros de uma organização na qual a motivação é fator fundamental para realização dos trabalhos” (TACHIZAWA; FERREIRA; FORTUNA, 2004, p. 241, grifo nosso). Knapik (2006) sustenta que manter um alto nível de motivação demanda identificação das pessoas com sua organização e seu ambiente de trabalho, daí o fato de o desempenho destas e sua satisfação com o trabalho serem influenciados pelo clima organizacional, o que, por sua vez, o relaciona diretamente aos estilos de liderança empregados pelas chefias. 24 A propósito do aspecto liderança, Senge (2004, p. 43, grifo do autor) afirma que “a disciplina da aprendizagem em equipe começa pelo diálogo” e destaca as pesquisas levadas a efeito pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) acerca de seu papel como elemento básico para a aprendizagem em equipe. Verifica-se, portanto, que “o clima organizacional é um fenômeno tipicamente psicossocial e mutável” (TEIXEIRA et al., 2010, p. 67, grifo nosso). À guisa de reflexão, considerando-se o clima organizacional como a resultante ambiental de todos os vetores vinculados aos aspectos psicológicos dos colaboradores em uma organização, por meio de uma analogia ao planejamento operacional militar típico, pode-se afirmar que atua como uma condicionante, ou seja, deve ser efetivamente identificado, avaliado e considerado para fins de planejamento estratégico. A chamada dimensão da pessoa consubstancia-se, de acordo com Dutra (2011, p. 21, grifo nosso), no raciocínio de que “o desafio lançado para a gestão de pessoas é como encarar cada pessoa considerando sua individualidade e como gerenciá-la dentro desse ambiente de diversidade”. Para isto, entende-se que “é preciso haver comunicação. A comunicação interna deve ser sinônimo de diálogo. Ser capaz de ouvir com atenção é saber valorizar o indivíduo” (TACHIZAWA; FERREIRA; FORTUNA, 2004, p. 245, grifo nosso). Monteiro (2010) ressalta a tendência histórica de valorização do potencial humano nas organizações, com redução da abordagem de controle e ênfase no comprometimento; destaca que vários autores consideram o ambiente justo como uma forma de se atingir um bom ambiente de trabalho, sendo esse um dos fatores para a retenção de talentos; e adverte que reter pessoas requer uma série de cuidados e monitoramento constantes, a fim de que o ambiente de trabalho permaneça agradável, justo e apto à atração e retenção dos profissionais necessários. Em se tratando de manter e reter talentos, Knapik (2006) sustenta que é necessária uma relação do tipo „ganha-ganha‟ entre colaboradores e organização, esta buscando profissionais engajados, comprometidos e fornecedores de qualidade ao trabalho e aqueles direcionados à satisfação de suas necessidades, como desenvolvimento profissional, superação de desafios, obtenção de autonomia e sensação de ser responsável. 25 Como terceiro pilar da abordagem do desenvolvimento humano está, segundo Dutra (2011), o aspecto da competência ou, a comumente conhecida, gestão por competências. Em sua percepção, alguns autores conceituam competência com uma visão limitada de seu significado, apenas representativa de um conjunto de qualificações individuais para execução de um trabalho com uma performance superior. Por exemplo, para Parry (1996 apud DUTRA, 2011, p. 21)2 é “um cluster de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionados que afetam a maior parte de um papel profissional ou responsabilidade, que se correlaciona com a performance [...]”. Dutra (2011) relata em sua análise que esse sentido de competência passou a ser contestado, a partir dos anos 80 e 90, por reconhecidos autores, para os quais o fato de uma pessoa possuir certas qualificações necessárias a um trabalho não representa garantia de sua outorga à organização. Nesta linha, para Bortef (apud DUTRA, 2011)3, a competência não decorre de treinamento, tampouco consiste em um conhecimento ou estado da pessoa. É a aplicação do conhecimento em determinado contexto, isto é, em um ambiente específico. Enfim, para Dutra (2011), atualmente os autores procuram interpretar a competência como o somatório das linhas apresentadas, isto é, o conjunto de qualificações associado à capacidade de entrega. Neste contexto, destaca-se o aspecto motivacional, razão pela qual enfatiza que a pessoa tem papel importante em Gestão de Pessoas, já que, estando consciente de um projeto profissional, e, portanto, mais exigente em relação à organização e ao seu trabalho, as políticas e práticas de gestão estabelecidas no ambiente organizacional devem agregar-lhe valor, pois, do contrário, não terão efetividade no tempo. “É preciso, [portanto], respeitar o indivíduo como ser humano, com paixões, sonhos, talentos e competências únicas” (SOUZA, 2005, p. 95, grifo nosso). Araujo e Garcia (2009) sintetizam a evolução, ou transformação, argumentando que, em face da presente realidade, a área de RH recebeu um novo perfil, uma nova roupagem, o que se traduz em uma moderna forma de ajudar a organização a crescer, com o fortalecimento das atividades de recrutamento, seleção, treinamento e desenvolvimento, enfim, de suas atividades típicas, em detrimento das chamadas rotinas trabalhistas e de natureza jurídico-trabalhistas. 2 3 PARRY, S. B. The quest for competencies. Training, 1996. BORTEF, G. De la competénce. Paris: Editions D`organizations, 1994. 26 Assim, explanam, surgiu a Gestão de Pessoas, como solução para as demandas de excelência organizacional. Conforme narrativa de Araujo e Garcia (2009), a explosão da informação desmontou algumas chamadas verdades da administração, aliás já seculares, permitindo-se hoje visualizar: alternativas em relação às fontes de recrutamento; novos métodos de seleção; treinamento e desenvolvimento com múltiplas facetas; planos de carreira não só originados na própria organização, mas, também, projetados pelas próprias pessoas; diversas possibilidades de avaliar o desempenho de todos e autoavaliação; benefícios crescentes e customizados, isto é, sob medida para determinados grupamentos; valorização extrema da saúde; cuidados com a segurança do trabalho; terceirização de muitas atividades consideradas anteriormente típicas da área de RH; exigência de assimilação de novas competências, as quais incluem conhecimento de tecnologias de gestão organizacional; e relações trabalhistas com viés de aproximação dos movimentos sindicais e não mais de confrontação. Os dois últimos aspectos demandam, ainda, segundo os autores, respectivamente, as seguintes observações: o caráter vital daquele conhecimento para a necessária ação estratégica, que, por sua vez, é essencial para uma nova postura de gestão de pessoas; e a exigência de habilidades adicionais com uma nova visão de poder e liderança, tendo, principalmente a cultura organizacional como suporte, a fim de permitir a mencionada aproximação. Assim, pode-se concluir que “somente por meio da construção de culturas orientadas à aprendizagem é que as organizações poderão atrair e manter pessoas realmente competentes e comprometidas” (HOYOS GUEVARA; DIB, 2009, p. 171). 27 2.2 O SENTIDO TELEOLÓGICO DA GESTÃO DE PESSOAS Uma investigação intelectual acerca da alteração de postura das organizações em relação às pessoas suscita inúmeras respostas e explicações quanto à influência, na dinâmica organizacional, dos chamados valores emergentes da sociedade atual. Todavia, as considerações a respeito do fenômeno, inquietantes, por sinal, podem acabar por afastar o pesquisador ou pensador de uma questão julgada fundamental: afinal, qual é o leitmotiv de toda a controvérsia, aparentemente oculto sob a névoa de tantas considerações? Acredita-se que seja a busca pelo resgate, neste século, do real significado do trabalho para a vida humana. Há uma unicidade de pensamento das fontes humanistas em relação ao tema. O pensamento da Escola Superior de Guerra (ESG) (2009b), por exemplo, considera o trabalho elemento essencial ao Bem-Estar, não apenas como fonte de recursos à sobrevivência pessoal e familiar, mas, também, como representação de autoexpressão do indivíduo. Enuncia que o conceito de trabalho transcende as teorias econômicas do valor-trabalho e dos fatores de produção e demanda a compreensão da racionalidade presente nas relações humanas no íntimo das unidades de trabalho [ou organizações], mediante a percepção da realidade dos seus integrantes – o trabalhador e o empregador [o homem e a organização], no espaço em que as relações se processam - a sociedade [ou ambiente]. É interessante observar que o pensamento institucional mencionado faz referência expressa à necessidade da satisfação de expectativas como instrumento para uma sensação de segurança, indispensável à realização do Homem como pessoa. Inclui, de forma exemplificativa, além da certeza de uma remuneração condigna, o respeito da sociedade pelas tarefas por este desempenhadas. Por fim, sugere que a capacitação para o trabalho, por meio da aquisição de habilidades adequadas às realidades flutuantes do mercado, ocorra de forma o mais conciliatória possível às aptidões e aos interesses do indivíduo. Ora, o que se pode nitidamente perceber é um alinhamento finalístico, de natureza filosófico-conceitual, entre o doutrinador e a abordagem de Gestão de Pessoas, embora não originária e necessariamente intencional. Uma leitura pelas 28 entrelinhas permite a identificação do foco do discurso sobre o aspecto motivacional do trabalho para a vida humana. Neste sentido, Worthy4, em uma crítica severa à burocracia mecanizada do movimento da administração científica fundado por Taylor, afirmou que este modelo removeu do cenário a iniciativa pessoal e que o tratamento de pessoas como se fossem meios, categorias de status e função, e não indivíduos, trouxe, como consequência, a destruição do significado do próprio trabalho, o que representa um desperdício fantástico para a sociedade (WORTHY apud MINTZBERG, 2003). Mintzberg (2003) afirma que os maiores níveis educacionais aumentam as aspirações, a necessidade de autorrealização com prioridade sobre a de segurança, e que o homem moderno parece existir para seus sistemas, pois muitas das organizações criadas para servi-lo passaram a dirigi-lo. O que, porém, tem um significado marcante é o fato de, em seu livro - A Condição Humana -, em 1958, Hannah Arendt (2010, p. 133, grifo nosso) ter identificado o cerne da questão, ainda em um mundo da segunda onda, industrial, com predominância de uma orientação organizacional inspirada no modelo da administração científica, de cunho mecanicista. In verbis: A bênção da vida como um todo, inerente ao trabalho [...] não deve ser confundida com o período de alívio e alegria inevitavelmente breve que segue a realização e acompanha o acabamento. A bênção do trabalho consiste em que o esforço e a gratificação seguem um ao outro tão proximamente quanto a produção e o consumo dos meios de subsistência, de modo que a felicidade é concomitante ao processo, da mesma forma como o prazer é concomitante ao funcionamento de um corpo sadio. [...] O direito de buscar essa felicidade é realmente tão inegável quanto o direito à vida; é inclusive idêntico a ela. Aí está, portanto, o farol para o planejamento da organização, qual seja, projetar seus objetivos, iluminando, simultaneamente, o caminho para a realização do homem por meio do trabalho, pois esta é, sem dúvida, a condição humana. Na percepção de Hoyos Guevara e Dib (2009), presencia-se o processo de transição individual e coletiva da Sociedade do Conhecimento para a Sociedade da Consciência. 4 WORTHY, J. C. Big business and free men. New York: Harper & Row, 1959. 29 3 LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO “Se você não puder ser uma árvore frondosa, No alto de uma montanha, Seja um pequeno arbusto na beira do rio, Mas seja o melhor arbusto que você puder ser”! (D. Mallock) De acordo com Freire (2000, p. 11, grifo nosso), “nos campos motivacional e da liderança encontram-se o estímulo e o foco para a aprendizagem inovadora”. Para a autora, liderança e motivação são os vetores estruturantes para as mudanças sociais e organizacionais. Mas, afinal, o que é motivação? A acertada resposta a esta pergunta é fundamental para a compreensão do presente momento na relação entre pessoas e organizações e para uma adequada e estratégica gestão de pessoas. Segundo Hoyos Guevara e Dib (2009), as pessoas são movidas à ação de acordo com uma escala de valores. Valores, como conceitos, crenças, estados finais ou comportamentos desejados, que funcionam como critérios orientadores da ação individual ou da sociedade. “Os valores guiam o comportamento do indivíduo em relação ao que lhe é mais importante” (AGLE; CALDWELL, 1999 apud HOYOS GUEVARA; DIB, 2009, p. 168, grifo nosso)5. Freire (2000) entende que os motivos ou necessidades são a razão do comportamento e, basicamente, funcionam como molas da ação, devendo ser considerados para que as transformações efetivamente ocorram nas mudanças sociais. Para Vergara (2005), pós-modernismo é a denominação atribuída por alguns ao sistema de valores que prioriza aspectos relacionados à qualidade de vida, diferente da ênfase exclusiva no aspecto econômico, caracterizadora da sociedade industrial. Embora ressaltando o risco de tornar-se excessivamente simplista, a autora classificou os valores emergentes em dois grupos: o primeiro relacionado ao desejo de maior participação pessoal, expressa pelo exercício de direitos, deveres e responsabilidades; e o segundo relativo à realização do potencial humano; ambos orientadores, portanto, de uma transformação pessoal. 5 AGLE, B.R.; CALDWELL, C. Understanding research on values in business. Business and Society, Chicago, v. 28, n. 3, set. 1999. 30 Na compreensão de Hoyos Guevara e Dib (2009), quando o ser humano percebe que é dotado de uma capacidade criativa e inventiva, começa a se questionar acerca do pronto, do que existe, para a busca do não explícito, o que corresponde ao processo do devir (vir a ser) da filosofia essencialista. Esta é a explicação para as crises existenciais, pois o ser humano sempre foi, em todos os tempos, e em maior ou menor escala, ser de ambiguidade na busca de si próprio. Desta forma, complementam, torna-se perceptível a intrínseca relação entre o sentido individual dado à vida e os valores assumidos por uma sociedade, ou seja, na prática, sua maneira de pensar. É por esta razão, especialmente em se tratando de motivação, que Souza (2005) sustenta ser necessária a alteração na forma de pensar, pois a utilizada até o presente momento não mais se adapta à realidade, já que o referencial taylorista, tendo como fundamentos “prever e controlar”, construiu “organizações rígidas, pouco criativas, fortemente hierarquizadas e menos comprometidas com valores humanos” (AMARAL, 2009, p. 78, grifo nosso). Para Amaral (2009), o modelo mecanicista, lamentavelmente, ainda influencia as ciências de gestão, orientando o ser humano à condição de apêndice no processo, em que pese não mais atender, de forma satisfatória, às necessidades decorrentes de uma nova compreensão das organizações, pois estas, sendo construídas e constituídas por seres humanos, são igualmente humanas, e não máquinas. Em uma narrativa acerca do porquê de um novo modelo de gestão de pessoas, Dutra (2005) aborda a questão da percepção organizacional para aspectos como longevidade e competitividade, respectivamente, para profissionais nas faixas de 50 e 30 anos. Assim, afirma que, se, desde o início dos anos 90, o ápice da vida profissional, para pessoas que atuam em atividades intelectuais, já se deslocou para os 50 anos e continua avançando, é coerente esperar uma alteração no conjunto de expectativas destas, com significativos reflexos em seus projetos profissionais e pessoais. Por sua vez, o jovem de 30 anos, em face de um cenário com ambiente de grande competitividade para os próximos 20 anos, precisa adotar a postura de um fundista e não de um velocista. Portanto, se a organização não tiver sensibilidade para oferecer ao profissional de 50 anos oportunidades de desenvolvimento ou não criar condições para o jovem de 30 anos visualizar um 31 processo de desenvolvimento sustentado, haverá dificuldade para o envolvimento de ambos. Freire (2000, p. 40, grifo nosso) leciona que “o envolvimento é a chave para a implementação das mudanças e para o aumento do sentido de compreensão”, relacionando-se, portanto, à motivação. Deve-se, por oportuno, estabelecer a diferença entre motivação e estímulo. “Motivar alguém é uma tarefa desafiadora. Motivação é uma porta que se abre de dentro para fora. As organizações de sucesso são motivadas (M), as pessoas são despertadas em suas próprias motivações (M²)” (SOUZA, 2005, p. 92, grifo nosso). Vergara (2005) trata motivação como uma força, uma energia que impulsiona a pessoa na direção, ou melhor, no sentido, de alguma coisa, e, ainda, que ela é absolutamente intrínseca, isto é, está no íntimo do ser humano, nascendo de suas necessidades interiores; do que decorre não ser possível motivar outrem. Cita, inclusive, que, ao falarem em automotivação, autores de best-sellers estão se utilizando de um pleonasmo, senão cometendo um equívoco. Ninguém motiva ninguém. Tudo o que se pode fazer é estimular, incentivar, provocar a motivação. Em uma definição conceitual bastante sintética, Broxado (2001, p. 3, grifo nosso) afirma: “a motivação é uma força que se encontra no interior de cada pessoa e que pode estar ligada a um desejo”. Sob o título - Condicionar não é motivar: a abordagem behaviorista Broxado (2001, p. 6) inicia o texto com a pergunta “por que as empresas insistem em motivar?” Em seguida, apresenta o seguinte comentário de Bergamini (1993, p. 25 apud BROXADO, 2001, p. 6, grifo nosso)6: “existe uma confusão [...] entre condicionar pessoas e motivá-las. Uns acham que conseguem motivar outros. Porém, existem posições contrárias [...] em que apenas forças interiores é que motivam as pessoas”. A chamada concepção behaviorista – comportamentalista, ou Teoria do Estímulo-Resposta, segundo a qual uma condição externa específica induz o comportamento, é utilizada por um grande número de organizações no Brasil, de acordo com Broxado (2001), e está intimamente associada ao referencial taylorista, de natureza mecanicista, marcante na evolução de gestão de pessoas, em especial na questão motivacional. As FA não fazem exceção à regra. 6 BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação. São Paulo: Atlas, 1993. 32 São expoentes dessa corrente de pensamento: Pavlov, com seus estudos acerca do condicionamento canino e de outros animais; Edward Lee Thorndike, com sua Lei do Efeito, segundo a qual os hábitos que trazem recompensas se inserem no repertório psíquico do ser, ou seja, o comportamento humano seria um processo de fixação ou eliminação de estímulos e respostas; e Skinner, com sua teoria do condicionamento operante e seus elementos, reforço positivo e reforço negativo, demonstrando, em experimentos com ratos e pombos, que os animais voltavam a repetir o comportamento de acionar algum dispositivo, por terem sido recompensados, isto é, recebido o prêmio da conquista. A leitura e a análise da lição de Bowditch e Buono (2004) são absolutamente imprescindíveis à abordagem e à compreensão do problema que originou a presente pesquisa. Entendem que a distinção entre motivação e recompensa reside na diferença entre recompensas intrínsecas e extrínsecas e na forma como estas relacionam-se à satisfação e ao desempenho, aquelas vinculadas à natureza do trabalho em si e estas aos seus aspectos materiais, ao contexto de sua execução. Exemplos típicos das extrínsecas são: boas condições de trabalho, salários e benefícios complementares, tais como: assistência médica e odontológica, complementação de auxílio-doença e planos de aposentadoria. Já as intrínsecas caracterizam-se pela intangibilidade, abrangem aspectos de realização pessoal e profissional, a percepção pela pessoa da estima de terceiros em relação a si ou o interesse despertado por uma atividade. Para os autores, a recompensa extrínseca tem por escopo a relação entre meios e fins, pois as pessoas manifestam comportamentos a fim de receberem incentivos ou evitarem sanções. A tarefa caracteriza-se como meio para obtenção do fim desejado, a recompensa. Já a intrínseca é, básica e essencialmente, a motivação pelo próprio trabalho, pelo prazer de sua realização. É um fim por si só. Bowditch e Buono (2004, p. 53-54, grifo nosso) concluem sua análise afirmando que, evidentemente, o maior ou menor valor dos incentivos extrínsecos está na forma como a pessoa percebe o trabalho, como este integra seu autoconceito, pois, se o vê “como um meio de crescimento e desenvolvimento pessoal, e como um modo de avaliar e desafiar a capacidade pessoal, a realização da tarefa se torna um fim por si só, e os incentivos extrínsecos se tornam menos importantes [...]”. 33 Assim, os autores não descaracterizam a importância dos incentivos extrínsecos, concluindo apenas que seu valor é relativo, de pessoa para pessoa. Já Vroom (1997) assinala que Levinson (1997) adota uma postura crítica em relação ao suposto poder atribuído às chamadas fontes extrínsecas de motivação, denominadas por este de grande falácia dos tolos, o morde e assopra, que o próprio Vroom denominou de a cenoura e a vara e Lewin de forças induzidas; em outras palavras, uma expressão do tradicional castigo e recompensa. Ressalta, também, que Walton (1997) se alinha às convicções de Herzberg (1997) e Levinson no sentido de ser preferível a chamada motivação intrínseca, qual seja, aquela relativa, ou advinda, do relacionamento da pessoa com a tarefa. Para Freire (2000, p. 51, grifo nosso), “o pensamento de E. Deming é claro quando postula que as pessoas, ao se tornarem mais intrinsecamente motivadas e mais coerentes em seu desempenho pessoal, são predispostas ao aperfeiçoamento constante”. No entendimento de Vroom (1997), recompensas extrínsecas e intrínsecas assumem um papel complementar entre si e podem ser empregadas simultaneamente, observando-se, em cada caso, os tipos de atividades, ambientes de trabalho e culturas envolvidas. Neste sentido, destaca-se, não se reputa desprestígio aos estímulos exteriores. Obviamente, têm o seu valor, mas na dosagem adequada a cada caso. O que não se recomenda é a tentativa de estimular pessoas apenas com incentivos extrínsecos. Broxado (2001), inclusive, sustenta ser uma ingenuidade o fato de grande número de organizações insistirem neste procedimento. Como ensina Bergamini (1993 apud BROXADO, 2001, p. 8, grifo nosso): “de maneira clara, um comportamento reativo condicionado se dá, por um simples movimento efêmero, e nunca por aquilo que pode ser chamado de motivação”. Assim, há necessidade de buscar-se uma motivação de longo prazo, “onde cada indivíduo [seja] trabalhado para atingir a autorrealização, movido pelas crenças e valores da empresa, pois o ato motivacional será permanente” (BROXADO, 2001, p. 22, grifo nosso); valorizando-se, desta feita, a autoestima. Convém lembrar que “a autoestima de uma pessoa é um de seus bens mais valiosos. [...] Para defendê-la, certas pessoas têm reações aparentemente ilógicas 34 para quem avalia a situação somente do ponto de vista material” (HEHN, 1999, p. 100, grifo nosso). Como “motivação é o resultado da interação entre o indivíduo e a situação” (ROBBINS, 1999, p. 109, grifo nosso), havendo uma efervescente dinâmica social, com alteração de valores, é compreensível que o homem hodierno apresente uma demanda motivacional cada vez mais complexa e acelerada. Portanto, “em um mundo globalizado e competitivo, a preocupação com a motivação tem um aspecto estratégico; significa incentivar as pessoas para a ação, [...] de modo a evitar a acomodação e a estagnação da criatividade e da inventividade” (KNAPIK, 2006, p. 96, grifo nosso). Diante do exposto, o aspecto marcante para a compreensão da GP é a constatação da absoluta impossibilidade de o fenômeno motivacional continuar a ser abordado pelas organizações apenas sob a ótica simplista da Teoria do EstímuloResposta de Pavlov, Thorndike e Skinner. A insuficiência da teoria behaviorista para atendimento à demanda motivacional do atual homem organizacional deve-se, no raciocínio de Broxado (2001, p. 10, grifo nosso), ao fato de que esta “não alcança a essência das mudanças pessoais e profissionais de cada um [...] nos dias atuais da globalização”. O ser humano é, sim, uma realidade física e espiritual, cujas reações são muitíssimo mais elaboradas e complexas do que as apresentadas pelo gato de Thorndike ou pelo cão de Pavlov. Enfim, “o processo motivacional é demasiado complexo para ser explicado por uma única teoria” (TACHIZAWA; FERREIRA; FORTUNA, 2004, p. 245, grifo nosso), o que, para Bowditch e Buono (2004), torna difícil a criação de um esquema totalmente abrangente para simplificação do estudo, não em razão da ausência, mas do excesso de respostas. 3.1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS MOTIVACIONAIS Em que pese a citada profusão teórica, há necessidade de reflexões a respeito, especificamente, de certos aportes, ofertantes, no mínimo, de razoáveis condições para a melhor compreensão quanto ao impacto das novas demandas motivacionais sobre as organizações, os quais serão apresentados ut infra. 35 Uma das mais importantes contribuições, senão a principal, à percepção da importância da autorrealização como principal força motivadora, foi a de Abraham Maslow (1908-1970). Maslow desenvolveu uma teoria conhecida como hierarquia das necessidades humanas, segundo a qual elas podem ser escalonadas em níveis, sob um princípio hierárquico de importância e influência, a saber: fisiológica, de segurança, social, de estima e de autorrealização. Normalmente esta disposição é visualizada sob a forma de uma pirâmide. Figura 1: Pirâmide das necessidades de Maslow Fonte: Faria (2002, p. 111). Necessidades Humanas Totais Fisiológicas Alimento Repouso Abrigo Sexo de Segurança Proteção contra: Perigo Doença Incerteza Desemprego Roubo Sociais Relacionamento Aceitação Afeição Amizade Compreensão Consideração de Estima Necessidades do ego: Orgulho Autorrespeito Progresso Confiança Necessidades de status: Reconhecimento Apreciação Admiração pelos outros Quadro 1: Necessidades humanas Fonte: Faria (2002, p. 112, grifo do autor). de Autorrealização Autodesenvolvimento Autossatisfação 36 O aspecto hierárquico da Teoria de Maslow é explicado por Caravantes (2000) pelo fato de a necessidade superior surgir apenas quando a de ordem inferior estiver relativamente satisfeita, e representado por meio de uma escada, onde cada degrau só pode ser alcançado após a superação do imediatamente anterior. Embora Maslow seja contestado por inúmeros autores e pesquisadores, Caravantes (2000), inclusive resumindo de forma bastante objetiva estas críticas, ressalta a importância, para o estudioso da Administração, desta abertura proporcionada a uma nova forma de enxergar a motivação, de aceitá-la como fenômeno complexo, singular. Afirma que “a Teoria de Maslow é simultaneamente bem estruturada e suficientemente flexível para que cada um [...] possa utilizá-la como um instrumento balizador de sua ação” (CARAVANTES, 2000, p. 77, grifo nosso), ou seja, não como a verdade absoluta, mas como uma contribuição para a possível resposta ao problema motivacional. Knapik (2006) destaca que as quatro primeiras necessidades podem ser atendidas mediante condições externas e, tão logo sejam, não estimulam, ou, como disse, motivam, mais o comportamento; de maneira distinta das demandas por autorrealização, satisfeitas apenas pela sensação de recompensa percebida pela pessoa, isto é, pelo ofertado por esta a si própria. Completa sua análise sustentando: “no trabalho, a satisfação dessas necessidades exige certa autonomia, vontade e oportunidade de correr riscos, além de liberdade para experimentar” (KNAPIK, 2006, p. 101, grifo nosso). Em seu prefácio à nova edição do livro - Maslow no gerenciamento – Warren Bennis, alinhando-se também ao pensamento apresentado por Maslow, afirma que, segundo este, a “tarefa de cada homem é melhorar a si próprio. Joe Doakes não deve tentar ser como Abraham Lincoln ou Thomas Jefferson [...]. Ele deve se tornar o melhor Joe Doakes do mundo. Isto ele pode fazer, e somente isto é necessário e possível. [...]” (MASLOW, 2000, p. xvii, grifo nosso). É interessante observar a coincidência da proposta filosófica de vida idealizada por Maslow com o pensamento do poeta D. Mallock apresentada no início desta seção. Nota-se, em ambos, que autorrealização, em sinonímia de paz ou felicidade, não consiste em se vencer nenhuma disputa com outros concorrentes. Trata-se de um encontro do homem consigo. 37 Neste sentido, em relação ao mundo do trabalho, à carreira, Prather (2005, p. 90-91, grifo do autor) resume: É insensatez pensarmos em chegar ao topo da carreira. Não existe uma carreira perfeitamente definida nem um topo verdadeiro. O único avanço na carreira do qual você pode ter certeza é assegurar-se de que está em paz agora a respeito do passo que pode dar hoje. Na introdução da mesma obra, Deborah C. Stephens e Gary Heil afirmam que a abordagem de Maslow já caracterizava a descrição do mundo atual, a era digital, onde a vantagem competitiva das organizações ou instituições tem como principal fonte o potencial humano. Demonstrando ser um homem a frente de seu tempo, décadas aliás, pois vivia no auge da América industrial, pós-Segunda Guerra Mundial, Maslow (2000, p. xxii, grifo nosso) alertava: “trata-se, sim, de um conjunto de valores ortodoxos sendo claramente confrontados por um outro sistema de valores mais moderno, mais eficiente e verdadeiro”. Outra contribuição de relevo à temática foi a oferecida pelos estudos de Frederick Herzberg. Em seu artigo clássico – Mais uma vez: como motivar seus funcionários? – originalmente publicado na Harvard Business Review, em 1968, Herzberg (1997), em um primeiro momento, estabelece a distinção entre movimento e motivação; e, na outra parte do trabalho, apresenta sua Teoria de MotivaçãoHigiene. Para o autor, as recompensas e castigos extrínsecos não correspondem a motivação. Denomina-os de “chute no traseiro” (CNT) ou, em inglês, Kick in the ass (KITA). Admitindo a deselegância da expressão, sustenta que a empregou para ressaltar a abordagem animal utilizada para tratar seres humanos, característica, ao menos à época, de grande parte da ciência do comportamento. Argumenta que ao se chutar um cachorro ele sairá do lugar, mas caso se deseje um novo movimento, é necessário chutá-lo outra vez. De forma análoga, pode-se carregar ou descarregar a bateria de uma pessoa sucessivamente, porém só é possível falar-se em motivação se houver um gerador próprio, dispensando-se estímulo externo. Em outras palavras, entende que o movimento é resultante do temor, do castigo ou do fracasso na obtenção de recompensas extrínsecas, típico procedimento de treinamento de animais, cujo correlato, para humanos, são as técnicas de modificação comportamental. Já a motivação é um motor interno, 38 baseado nas necessidades de crescimento pessoal, isto é, em sua derradeira recompensa, de natureza intrínseca, decorrente de um trabalho interessante e desafiador. Para Herzberg, embora os resultados imediatos comportamentais de ambos pareçam semelhantes, a dinâmica é distinta, pois, se por um lado o movimento demanda constante reforço e produz efeitos imediatos, a motivação, por outro, permite benefícios mais duradouros ou perenes, dispensando-se recompensas incrementais. A formulação da Teoria dos Dois Fatores, higiênicos e motivacionais, para o autor, parte de uma premissa relacionada a um problema semântico. Em geral, raciocina-se com satisfação e insatisfação como antônimos. Todavia, em se tratando de comportamentos de pessoas no trabalho, não se deve pensar desta forma. O oposto de satisfação no trabalho é ausência de satisfação, não insatisfação; já o oposto de insatisfação no trabalho é ausência de insatisfação, não satisfação. “Os estudos de Herzberg levaram à conclusão de que os fatores que influíam na produção de satisfação profissional eram desligados e distintos dos fatores que levavam à insatisfação profissional” (CARAVANTES, 2000, p. 77). Segundo Herzberg, os fatores envolvidos na produção da satisfação (e motivação), denominados de crescimento ou motivadores, são intrínsecos ao trabalho, à natureza da tarefa, enquanto os que evitam a insatisfação são os fatores de higiene, extrínsecos a esta natureza, porém ligados às condições do trabalho, isto é, ao ambiente. São fatores motivadores: “execuções, reconhecimento pelas execuções, o trabalho em si, responsabilidade e crescimento ou progresso”. São fatores de higiene: “política e administração da empresa, supervisão, relacionamentos interpessoais, condições de trabalho, salário, status e segurança” (HERZBERG, 1997, p. 61-62). Caravantes (2000) sustenta que Herzberg os chamou de fatores higiênicos porque promovem a criação das condições básicas para que o indivíduo possa ser motivado, ou seja, proporcionam a higiene organizacional necessária ao ponto de partida para a motivação. 39 Na proposta de Herzberg (1973 apud CARAVANTES, 2000)7, a maximização da oferta de vantagens higiênicas não se caracteriza em problema. O erro consiste na percepção de que o somatório das necessidades humanas pode ser definido apenas sob aspectos higiênicos. Muito mais do que os custos monetários, a consequência mais danosa desta postura unilateral da organização se manifesta sobre as premissas psicológicas das relações entre a organização e as pessoas e em seus efeitos para a autoestima destas. Muito embora, segundo Herzberg (apud FARIA, 2002, p. 112, grifo nosso), sejam os fatores motivacionais os que interferiram “de forma mais intensa e profunda no comportamento”, verifica-se que “o núcleo central das ações organizacionais, no intuito de motivar o indivíduo, está centrado com toda certeza mais nos fatores higiênicos do que nos motivacionais” (CARAVANTES, 2000, p. 79, grifo nosso). Para Caravantes (2000, p. 80, grifo nosso), a Teoria de Herzberg também sofreu críticas severas no sentido de que seu estudo, com a mesma metodologia, deveria ter sido aplicado a um número maior de diferentes populações. Ainda assim, a associação das Teorias de Maslow e Herzberg proporciona condições à reflexão acerca de respostas para a seguinte questão: “o que faz com que o homem ingresse em uma organização e trabalhe em prol dos objetivos da mesma?” Quadro 2: Associação dos modelos de Maslow e Herzberg Fonte: Caravantes (2000, p. 80) 7 HERZBERG, Frederick. O conceito da higiene como motivação e os problemas do potencial humano de trabalho. In: HAMPTON, David L. Conceitos de comportamento na Administração. São Paulo: EPU, 1973, p. 54. 40 Na observação de Knapik (2006, p. 102, grifo nosso), “o segredo para garantir a motivação dos trabalhadores caracteriza-se pelo enriquecimento das tarefas, ampliando-se as responsabilidades, as metas e os desafios profissionais”, sem descuidar do somatório de estímulos extrínsecos já analisados. Uma terceira abordagem, distinta de Maslow e Herzberg e absolutamente relevante ao presente estudo, é a de David McClelland. Robbins (apud KNAPIK, 2006, p. 104, grifo nosso) explica que este pesquisador elaborou uma teoria motivacional acerca do “alto ou baixo grau de satisfação de necessidades, que podem ser adquiridas socialmente mediante aprendizagem”. Para McClelland, as necessidades específicas que movem as pessoas são três: de realização - NACH (need of achievemet); de filiação – NAFF (need of affiliation); e de poder – NPOW (need of power). Em que pesem todos os argumentos contra a eventual hierarquia das necessidades ou preponderância dos fatores motivadores, o fato, muito bem ressaltado por Freire (2000, p. 23, grifo nosso), é que “a necessidade de realização é um motivo humano distinto, e que pode ser isolado de outras necessidades. Mais importante do que isso, o motivo de realização pode ser isolado e avaliado em qualquer grupo”. Ora, considerando-se os pressupostos teóricos abordados, a inquietação intelectual surgida permite a formulação da hipótese de que o predomínio de estímulos exteriores, marcantes na cultura militar em geral e também nas FA, seja tão significativo a ponto de estimular, por meio da cultura organizacional, uma aprendizagem com foco prioritário em NPOW, em detrimento de NACH e NAFF. Obviamente este trabalho não permite e nem se propõe a um nível de profundidade para obtenção de uma resposta científica especificamente a esta nova hipótese, pois já possui seu próprio foco. Todavia, oferece suporte teórico para reflexão quanto à admissibilidade teórica de sua ocorrência. É de notar-se que o fato estimulante a esta pesquisa foi exatamente a saída de pessoal das FA, por reposicionamento no mercado de trabalho, e, ressalte-se, qualificado, muitos na faixa de 40 a 55 anos, cujas necessidades básicas da pirâmide de Maslow estão, em maior ou menor grau, atendidas. Então, por que buscam o reposicionamento? Por que a reserva remunerada ou a aposentadoria se ainda poderiam tentar ascender ao topo da carreira? 41 A resposta pode estar na associação dos pensamentos de D. Malloock e Hugh Prather, sob a ótica de Maslow, Herzberg e McClelland, máxime considerandose o elevado nível de preparação técnico-profissional e/ou intelectual dessas pessoas, concursadas e cursadas. É possível que, tendo asseguradas todas as suas necessidades de ordem inferior, estejam buscando a autorrealização ainda não encontrada no ambiente organizacional ou tenham descoberto, em determinado momento de suas vidas, a vocação para a NACH ou NAFF, embora estimuladas pela organização para a NPOW, ainda que involuntariamente, mediante estímulos extrínsecos, ao longo de sucessivos anos. Convém destacar o aspecto interessante, levantado por Freire (2000), de que McClelland, tendo estudado as características de pessoas com demanda significativa por realização, demonstrou que estas parecem mais atraídas por realização pessoal do que por recompensas extrínsecas. Enfim, trata-se apenas de uma hipótese, reflexões elaboradas durante a pesquisa e aqui registradas com intuito de, ao final, sugerir-se aprofundamento teórico mediante novos estudos. Mas, enfim, neste contexto, qual seria a chave para contar com profissionais e equipes verdadeiramente motivadas? Segundo Randolph e Blanchard (2011, p. 55-56, grifo nosso), “a chave é o empoderamento. [...] o processo de liberar o poder que existe nas pessoas – seu conhecimento, sua experiência e sua motivação – e direcionar esse poder à concretização de resultados positivos para a organização”. É interessante observar, consoante o sustentado até o presente pelos diversos autores, que o conceito aqui não é o de motivar as pessoas, isto é, de uma ação externa capaz de criar esta atitude, mas, sim, de abrir espaço para a energia interna fluir em proveito da pessoa e da organização. Na percepção de Randolph e Blanchard (2011), implica aumentar as responsabilidades dos colaboradores, envolvendo-as, com sensação de plenitude, mediante compartilhamento de riscos e oportunidades. Para Souza (2005, p. 25, grifo nosso), as ações neste sentido “devem ser suficientemente eficazes a ponto de estimular nas pessoas a motivação para o autodesenvolvimento”. 42 Randolph e Blanchard (2011) lembram, ainda, de que o processo de liberação significa a criação de um ambiente organizacional propício e isto só é possível com uma transformação enorme de atitude. É exatamente o que sustenta Ticom (2003, p. 178, grifo nosso): “a mudança organizacional pretendida requer, primordialmente, a atuação no componente comportamental, ou seja, na cultura organizacional” das FA. Verdadeiramente, as pessoas são o cerne do processo. Nesta linha de pensamento, Souza (2005, p. 30-31, grifo nosso) comenta, acerca do que qualifica como core business de recursos humanos, que “todas as atividades são importantes, mas, atrair, reter e qualificar talentos é o que resume nossa existência, [...] [pois] nenhuma teoria, plano ou política de governo fará do negócio um sucesso. Isso só pode ser feito por pessoas”. Referindo-se à transição individual e coletiva da Sociedade do Conhecimento para a Sociedade da Consciência, é oportuno e fundamental lembrar a observação de Hoyos Guevara e Dib (2009, p. 172, grifo nosso) de que “essa mudança requer novos valores e atitudes que abandonem métodos dogmáticos, dualistas, meramente racionalistas e ultrapassados de sentir, pensar e agir”. Neste contexto, avulta de importância o papel da liderança, pois a transformação de atitude necessária ao empoderamento, como afirmam Randolph e Blanchard (2011, p. 56, grifo nosso), “deve ocorrer especialmente no coração de cada líder”. Na advertência de Freire (2000, p. 66, grifo nosso), “as instituições precisam se lembrar que suas transições para uma nova cultura, [...], só terão êxito se os líderes apoiarem essas transformações e mudanças nas responsabilidades de liderança”. 3.2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE LIDERANÇA No entendimento de Vergara (2005) e Broxado (2001), a motivação é, respectivamente, uma energia, ou força, existente no interior do ser humano, isto é, em estado potencial, e, para Freire (2000), a liderança é a energia para criar, a inspiração para a ação, razão pela qual há muito está associada à palavra inspirar, cuja origem latina é inspirare, literalmente soprar a vida. Em síntese, se motivação 43 é energia, “liderança é ação, não posição”, conforme afirmou Donald H. McGannon (apud ADAIR, 2010, p. 13, grifo nosso). Esta “capacidade para induzir o comportamento ou neste influir é o poder” (FREIRE, 2000, p. 22, grifo nosso). Mas qual é o tipo ideal de líder em um cenário de mudanças e que tipo de poder deve ser empregado? Hoyos Guevara e Dib (2009) destacam que o poder da influência exercida sobre si próprio e sobre os outros é o mais adequado à sociedade do conhecimento ou consciência. A este poder o denominaram liderança. Segundo Irwin Federman (apud FREIRE, 2000, p. 25, grifo nosso), “fazer uma pessoa se sentir bem em qualquer momento de suas idas e vindas diárias é, em meu ponto de vista, a própria essência da liderança”, daí Levinson (1997) advertir que a liderança envolve uma compreensão da motivação, para a qual sugere a dedicação de todos os líderes, iniciando-se pelo combate a já mencionada grande falácia dos tolos, o castigo e recompensa. Há muitas teorias sobre liderança, algumas a compreendem como resultado da ação do líder no uso de suas qualidades individuais, outras preconizam a inexistência de líderes ou liderados, sendo a posição de destaque do líder mera resultante da estrutura organizacional e não de sua personalidade. Todavia, entende-se neste estudo que “a liderança não é somente mais uma função exclusiva do indivíduo, é também uma função do grupo. Uma significativa vertente considera que a liderança é largamente situacional” (FREIRE, 2000, p. 6, grifo nosso). A percepção ut retro, de acordo com Freire (2000), aponta para o surgimento de liderança no contexto da situação, isto é, a coincidência no espaço-tempo de uma situação que exige determinadas ações e alguém com as qualidades necessárias para sua implementação, o líder. Abordando a questão de espiritualidade e Ética nas organizações, a partir da abordagem de D`Ambrosio8, Hoyos Guevara e Dib (2009, p. 176, grifo nosso) definem adequadamente o cenário e indicam a natureza da liderança necessária ao momento. In verbis: Em vista do que exploramos sobre as instabilidades individuais e sociais, as transformações sociais e no mundo do trabalho, e, em contrapartida, pensando nas possibilidades e capacidades de transformação dos modelos mentais do ser humano e das organizações para um viver e conviver mais digno e salutar, entendemos que é preciso desenvolver, nas organizações 8 D`AMBROSIO, U. Transdiciplinaridade. São Paulo: Palas Athena, 1997. 44 de vanguarda, um estilo de Liderança Transformadora que valorize o autoconhecimento e a autorealização individual e coletiva, estimulando o pleno desenvolvimento do potencial humano (mindware e heartware), dando mais sentido e qualidade de vida aos colaboradores e favorecendo a criação da necessária sintonia e sinergia, sempre orientadas por uma Ética da Diversidade e uma Ética da Solidariedade. Blanchard et al. (2011, p. 73, grifo nosso) sustentam que “se o empoderamento é a chave [...] é essencial ter uma estratégia para mudar a ênfase na visão do líder como chefe e avaliador para passar a vê-lo como parceiro e incentivador”. Os autores argumentam que por longo tempo se trabalhou apenas com dois estilos de liderança, autocrática e democrática, cada qual com suas características e seus defensores. Entendem que a limitação do gerente a um ou outro extremo o torna um quase-gerente. O gerente por inteiro deve ser dotado de flexibilidade capaz de adaptar seu estilo de liderança às situações. A supervisão insuficiente ou em demasia impacta negativamente o desenvolvimento dos colaboradores. Assim, “para que uma pessoa seja incentivada a dar o melhor de si, a liderança deve se adequar ao nível de desenvolvimento em que a pessoa se encontra” (BLANCHARD, p. 74, grifo nosso). É conveniente recordar a lição de Freire (2000, p. 40, grifo nosso), de que “para motivar pessoas a alcançarem um desempenho máximo, em primeiro lugar é importante descobrir as áreas onde as necessidades e objetivos organizacionais coincidem com as necessidades, objetivos e capacidades pessoais”. A adequação do estilo de liderança ao nível de desenvolvimento é a estratégia essencial do estilo Liderança Situacional, modelo criado em 1968 na Ohio University por Ken Blanchard e Paul Hersey. Para Freire (2000, p. 45, grifo nosso), “essa compatibilização entre o estilo de liderança utilizado pelo líder e o nível de maturidade dos seus subordinados constitui a adequação necessária para assegurar a maximização da eficácia de ambos na produtividade”. Freire (2000, p. 45) destaca a capacidade integradora da teoria da liderança situacional, sua universalidade, como um de seus aspectos mais significativos. Assim afirma: A teoria de „P. Hersey e Blanchard‟, além da integração coerente e operacional, consegue criar um modelo novo de liderança, assimilando conceitos da teoria do condicionamento operante de „Skinner‟, da Hierarquia das Necessidades de „Maslow‟, da higiene-motivação de „Herzberg‟ [...] 45 O modelo revisado da teoria, a Liderança Situacional II, para Blanchard et al. (2011, p. 74, grifo do autor), “se baseia na crença de que as pessoas podem e querem crescer, e de que não existe um estilo de liderança que seja considerado o melhor para incentivar esse crescimento. A aplicação do estilo de liderança deve ser feita sob medida conforme a situação”. Do exposto, verifica-se a inadequação de um estilo de liderança personalista, que trate indistintamente todos os integrantes de uma equipe, como se houvesse uma unidade de expectativas ou existisse um projeto de vida coletivo, único e idêntico para todos, onde a individualidade de cada sonho fosse uma pequena parte do todo soberano. Assim, trata-se de erro crasso organizacional estabelecer-se, com fins motivacionais, um padrão único de tratamento para todos os colaboradores, acreditando-se que determinado estímulo possa provocar o mesmo comportamento em pessoas diferentes. Para Blanchard et al. (2011, p. 83), “todas as pessoas têm um potencial de desempenho máximo – é necessário apenas saber em que ponto elas estão e ir ao encontro delas”, isto é, saber o anseio de cada uma, o estímulo individualmente adequado. Para umas há carreira e topo a alcançar, para outras há autorrealização na tarefa; algumas pessoas aceitam, ou em algum período se sujeitam, ao papel do operário de Chaplin no filme Modern Times, outras almejam a satisfação na singularidade do resultado de sua ação, na arte de seu trabalho. “O desafio é saber o que satisfaz essas pessoas. O processo de motivação exige informação constante, condições para a realização do trabalho e reforço contínuo” (Souza, 2005, p. 98, grifo nosso), o que ressalta a importância da comunicação organizacional. A propósito, o modelo revisado, Liderança Situacional II, segundo Blanchard et al. (2011, p. 74, grifo nosso), “perdurou como uma das mais eficazes abordagens para gerenciar e motivar pessoas, pois abre os canais de comunicação e encoraja a parceria entre o líder e as pessoas que este apóia e de quem depende”. Desta forma, de acordo com Freire (2000), há necessidade de alteração na maneira de pensar-se o estímulo motivacional, isto é, há demanda por uma nova visão, e “o líder de mudança precisa estar preparado para defender a necessidade de mudança e buscar novas responsabilidades no desenvolvimento próprio e no da equipe” (FREIRE, 2000, p. 68, grifo nosso). 46 Blanchard et al. (2011) entendem que há três habilidades para o uso eficaz da Liderança Situacional II: diagnóstico, flexibilidade e parceria para o desempenho. O diagnóstico refere-se à capacidade de observação de dois fatores no colaborador direto: competência e empenho. Competência, representando o somatório de conhecimentos e habilidades individuais para o cumprimento de uma meta ou tarefa, e empenho, a motivação ou autoconfiança da pessoa para sua realização. O uso sem reservas, ou confortável, de vários estilos de liderança caracteriza o domínio da flexibilidade. A formação de parcerias para o desempenho implica a abertura de canais de comunicação, aumentando em qualidade e quantidade o diálogo entre líder e liderados, daí a afirmação de Blanchard et al. (2011, p. 85) no sentido de que “liderança não é algo que você faz às pessoas, mas algo que faz com elas”. Aliás, o que vai ao encontro do verdadeiro sentido de comandar. Para estes autores, a liderança eficaz é aquela resultante de uma jornada transformacional, composta por quatro etapas: autoliderança, liderança um a um, liderança de equipes e liderança organizacional. Em síntese, a jornada do líder inicia-se pelo autoconhecimento, passa pela capacidade de estabelecer relação de confiança com outras pessoas, uma a uma, amadurecendo-o, por meio do respeito ao poder da diversidade e ao poder do trabalho em equipe, o que lhe permitirá o exercício da liderança de equipes e, em função do que foi desenvolvido nas três fases iniciais, em termos de perspectiva, confiança e comunidade estabelecidas, pode-se prever se desempenhará bem ou não a liderança organizacional. Demarest, Edmonds e Glaser (2011, p. 234, grifo do autor) argumentam que “para liderar com eficiência qualquer mudança cultural, precisaríamos construir tanto competência (conhecimentos e habilidades) quanto comprometimento (motivação e confiança) nesses líderes. Mas qual é a característica marcante para esta liderança eficaz em um alto nível? De acordo com Blanchard, Blanchard e Zigarmi (2011) é a de liderança servidora, termo cunhado por Robert Greenleaf em 1970, que significa para os autores aquela focada no bem comum. Para estes autores (2011, p. 255, grifo nosso), “os verdadeiros líderes estão dispostos a desenvolver os outros”, pois “entendem que suas posições são 47 empréstimos feitos por todos os que têm interesses investidos na organização, especialmente as pessoas que se reportam a eles”. Não se sentindo proprietário de nada, o líder servidor acredita que zelar por tudo e por todos ao seu alcance resume sua missão na vida, isto é, servir e não ser servido, o que incentiva as pessoas a ofertarem o melhor de si. Enfim, “a chave para desenvolver uma organização eficaz é criar um ambiente que valoriza tanto os relacionamentos quanto os resultados” (BLANCHARD et al., p. 87, grifo do autor), e a mudança organizacional necessária neste sentido só pode ser empreendida por iniciativa da liderança organizacional. 3.3 A TELEOLOGIA DA AÇÃO Em seu livro - O Ócio Criativo - o sociólogo Domenico de Masi sustenta a tendência à convergência futura entre trabalho, lazer e estudo. Hoyos Guevara e Dib (2009) observam: De Masi estuda as dinâmicas secretas do processo criativo, especulando se seria possível aumentá-lo e colocá-lo em sintonia com a eterna aspiração humana pela felicidade, que, para Humberto Rhoden, só é possível atingir por meio do autoconhecimento e da autorrealização. Freire (2000, p. 71, grifo nosso) lembra que “em todo lugar, em todos os níveis de organização, as pessoas estão sentindo a necessidade de justificar sua existência”. A busca de uma razão ou justificativa para a vida, sob a perspectiva da felicidade, é uma constante. Na visão freudiana, o mover-se ocorre pelo desejo; para outros, é mais complexo, trata-se do fenômeno motivação. Independente da gênese, a questão se traduz na definição individual de metas existenciais, o que significa diferentes formas e condições de realização pessoal e, consequentemente, demanda atenção das organizações para a adequada e individualizada seleção e aplicação de estímulos motivacionais, por meio de uma liderança verdadeiramente servidora. Em relação ao sucesso, desestimulando sua procura, Victor Frankl (apud HOYOS GUEVARA; DIB, 2009, p. 179, grifo nosso)9 afirma: “quanto mais o definir 9 FRANKL, V. E. Man`s search for ultimate meaning. Perseus Publ, 2000. 48 como sua meta, mais difícil será atingi-lo. O sucesso, como a felicidade, não são para serem procurados, são consequências [...] do efeito colateral não intencional de nossa dedicação a uma causa maior que nós mesmos”. Para Hoyos Guevara e Dib (2009), essa causa é o amor, o que justifica a explicação, por Blanchard, Blanchard e Zigarmi (2011), de liderança servidora associada ao conceito de bem comum, e de Jesus como exemplo deste estilo, de comprometimento e de eficácia. Por processos ditos de mudança comportamental ou de amadurecimento pessoal e espiritual, ou sob quaisquer outras explicações, vivenciados sob a dinâmica social hodierna, o fato é que mais e mais pessoas estão buscando reescrever suas vidas, ou estilos de vida, o que é perceptível na busca de um novo diálogo com as organizações, uma vez que, à condição humana, o trabalho é conditio sine qua non. Assim, como sustenta Freire (2000, p. 71, grifo nosso): Os estudos de várias posições teóricas sobre Liderança e Motivação como vetores de mudanças sociais e organizacionais demonstraram a riqueza e as vantagens de se fazer o exercício da liderança de alto grau de envolvimento, e dos propósitos dos líderes realizarem algo significativo para que cada indivíduo possa reinscrever sua história pessoal. Afinal, analisando a dicotomia viver para trabalhar ou trabalhar para viver, Hoyos Guevara e Dib (2009, p. 168, grifo nosso) afirmam que “é necessário trabalhar para viver, porém viver mais criativamente, viver mais plenamente”. 49 4 MUDANÇA ORGANIZACIONAL: DE RECURSOS HUMANOS PARA GESTÃO DE PESSOAS “Alguns homens vêem as coisas como elas são e perguntam: por quê? Eu sonho com coisas que nunca existiram e pergunto: por que não?” (Arnold Toynbee) “Vamos inventar o amanhã, em vez de nos preocuparmos com o que aconteceu”. (Steve Jobs) A chamada Organização Militar em muito contribuiu, ao longo da História, para o desenvolvimento da Administração, com princípios como unidade de comando, escala hierárquica, delegação de autoridade, planejamento e controle centralizados e operações descentralizadas, o estado-maior (staff), dentre outros. Nas FA, os gestores têm ciência e consciência deste fato e, ao realizarem análises, elaborarem cenários prospectivos e definirem ações estratégicas, demonstram, natural e, talvez, até inconscientemente, uma tendência ao não questionamento dos pressupostos teóricos de seus raciocínios, isto é, dos paradigmas presentes em seus planejamentos. Isto parece bastante lógico e coerente, considerando-se o histórico de sucesso, tanto da aplicação daqueles princípios às organizações em geral, ao longo da existência humana, como do desempenho das próprias FA, seja comparando-as aos outros setores da administração direta, no plano organizacional dentro do Estado brasileiro, seja considerando sua atuação nos eventos que demandaram seu emprego, strito sensu, segundo expertise própria de seu métier. Verifica-se, hoje, um significativo e importante fluxo de orientações em sentido contrário, isto é, da Administração em geral para a Organização Militar, em função, especialmente, da dinâmica vida organizacional no setor privado. Neste sentido, várias organizações públicas, entre as quais as militares, vêm implantando modernas e exitosas práticas de gestão oriundas do setor privado. Ocorre, no entanto, que a grande contribuição encontrada nessas práticas ou modelos de gestão é trazer, em seu bojo, uma visão do trabalho diferente daquela ofertada pela Abordagem Clássica da Administração, qual seja, a substituição da visão mecanicista, onde o ser humano acaba sendo reduzido a um insumo, por uma percepção humanista, holística, coerente com os novos valores sociais, entre os quais a valorização da qualidade de vida, o desenvolvimento pessoal, enfim, a própria realização do potencial humano. 50 A moderna e competitiva organização possui uma nítida percepção de não mais haver espaço nas relações de trabalho para o chamado recurso humano, pois hoje se administram relações entre pessoas. É com fulcro nesta premissa que ela traça seus objetivos e define suas ações estratégicas. Ocorre que a Organização Militar, por força da natureza de sua missão precípua, qual seja, atuar em um ambiente caótico, o do conflito, da guerra, demanda, de forma imperativa, uma estrutura weberiana do tipo hierárquicotradicional com funções verticalizadas, o que, por sua vez, estimula a tendência natural para uma conformação restritiva à Abordagem Clássica (Taylor e Fayol), de enfoque mecanicista, limitadora do papel do homem na organização. Desta forma, por mais que ocorram esforços no sentido de manter-se aberta a porta da sensibilidade para as necessidades do homem, o planejamento e a execução das ações nas FA acabam, via de regra, inexoravelmente, sendo realizados sob uma visão unilateral, isto é, considerando com exclusividade o interesse organizacional. Argumentar-se-ia, com obviedade, que ao decisor cabe priorizar o objetivo organizacional na elaboração de planejamentos e na solução de demandas. Sim, com certeza; mas, não, obrigatoriamente, ignorando o anseio individual, algo natural e inerente à natureza humana. Não se constitui, portanto, pecado original ao planejamento estratégico organizacional considerar a necessidade de realização pessoal dos colaboradores, nem, tampouco, heresia contra a estruturação hierárquico-funcional a proposta de diálogo com os colaboradores para fins de planejamentos de carreira, consultandose seus interesses, a fim de conciliá-los com os objetivos organizacionais. Convém destacar que, em hipótese alguma, neste estudo, se questiona a estrutura hierárquica como sendo absolutamente imperiosa ao funcionamento da Organização Militar, pois, em função da natureza de sua atividade-fim, não há registro histórico apresentando caso de sucesso fora deste modelo. Argumenta-se, sim, tratar-se de uma ingenuidade administrativa, aliás incompatível com o nível do capital intelectual das FA, acreditar-se que a mantença de uma postura unilateral nas atividades relativas à gestão de pessoal é necessária, em função dos pilares hierarquia e disciplina ou de quaisquer considerações 51 decorrentes da visão mecanicista da era industrial; bem como que qualquer forma de diálogo organizacional possa oferecer-lhes riscos. O diálogo, ferramenta básica da comunicação organizacional, ao contrário do pensamento estereotipado de alguns, estimula a confiança do profissional nas FA, associando-as cada vez mais a valores como justiça organizacional e camaradagem, bem como identifica a liderança organizacional como portadora de princípios de Liderança Militar. Uma defesa dos atuais paradigmas institucionais para a gestão de RH nas FA poderia argumentar pela existência da oportunidade para realização pessoal, bastando, para tanto, segundo uma visão meritocrática, o interessado prosseguir na carreira que lhe fora originalmente proposta, superando os obstáculos ou provas de seletividade, coerente com a figura da pirâmide organizacional, onde no topo chegariam os supostos melhores. Um overview acerca da gestão de RH nas FA fornece ao analista substancial quantidade de exemplos comprobatórios da insustentabilidade do modelo atual, em especial no aspecto de retenção de talentos. 4.1 RECURSOS HUMANOS NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ATUAL Observam-se, na área de defesa, abordagens distintas entre os diversos entes envolvidos quanto à gestão de pessoal, o que demonstra divergência conceitual em relação ao tema e ausência de unidade de resposta às demandas. O Decreto nº 7.364, de 23 de novembro de 2010, publicado no Diário Oficial da União nº 224, de 24 de novembro de 2010, que aprovou a nova estrutura regimental do Ministério da Defesa (MD), criou a Secretaria de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto (SEPESD), com três departamentos: o Departamento de Pessoal, Ensino e Cooperação (DEPEC), o Departamento de Saúde e Assistência Social (DESAS) e a Comissão Desportiva Militar do Brasil (CDMB). À SEPESD subordinase, ainda, o Hospital das Forças Armadas (HFA). Da leitura das atribuições funcionais destes elementos organizacionais se verifica o aspecto favorável da associação entre pessoal, ensino e saúde, o que vai ao encontro do recomendado pela GP. Todavia, o pessoal referenciado é somente o civil e as áreas de saúde e assistência social, embora incluam o pessoal militar, 52 limitam-se apenas aos aspectos comuns a mais de uma Força, ou seja, inexiste uma diretriz comum às FA para gestão do pessoal militar. Tanto assim que podem ser observadas, ut infra, nas diferentes estruturas, distintas percepções. A Marinha do Brasil (MB), o Exército Brasileiro (EB) e a Força Aérea Brasileira (FAB) têm como órgãos de direção setorial (ODS) responsáveis pela área de pessoal, na primeira linha de suas estruturas organizacionais e imediatamente abaixo dos respectivos Comandos, a Diretoria-Geral do Pessoal da Marinha (DGPM), o Departamento-Geral do Pessoal (DGP) e o Comando-Geral do Pessoal (COMGEP). Na MB, a DGPM tem como elementos subordinados: o Centro de Perícias Médicas da Marinha (CPMM), o Laboratório Farmacêutico da Marinha (LFM) e as Diretorias: de Pessoal Militar da Marinha (DPMM), de Saúde da Marinha (DSM), de Pessoal Civil da Marinha (DPCvM), de Assistência Social da Marinha (DASM) e de Ensino da Marinha (DEnsM). A Escola de Guerra Naval (EGN), responsável pelos cursos ao pessoal de níveis funcionais mais elevados, é diretamente subordinada ao Estado-Maior da Armada (EMA), isto é, não está vinculada nem ao órgão de pessoal, diretamente, nem à área de ensino, especificamente. É oportuno observar, com relação particularmente ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da MB, que os aspectos gerais da carreira, tanto para oficiais como para praças, o que se pode denominar de política de pessoal em sentido amplo, são estabelecidos pela DGPM. Todavia, aspectos específicos às tarefas de Fuzileiros Navais, isto é, uma política de pessoal própria, são gerenciados pelo ComandoGeral do Corpo de Fuzileiros Navais (CGCFN) e conduzidos pelo Comando do Pessoal de Fuzileiros Navais (CPesFN), abordando itens como: avaliações semestrais, parâmetros de testes físicos e requisitos para promoção. No EB há, convém destacar, o Departamento de Ensino e Cultura do Exército (DECEx), também no mesmo nível do DGP, o que significa que a formação e o aperfeiçoamento de pessoal são de responsabilidade distinta do órgão encarregado de executar a política de RH. Ressalte-se a existência, ainda, do Centro de Estudos de Pessoal (CEP), subordinado a uma das diretorias do DECEx. Ao DGP subordinam-se as seguintes Diretorias: de Serviço Militar (DSM), de Controle de Efetivos e Movimentações (DCEM), de Avaliação e Promoções 53 (DAProm), de Civis, Inativos e Pensionistas (DCIP), de Saúde (DSau) e de Assistência ao Pessoal (DAP). Na FAB, o Comando-Geral do Pessoal (COMGEP) e o Departamento de Ensino da Aeronáutica (DEPENS) também estão na primeira linha na estrutura organizacional. A este se subordina a Universidade da Força Aérea (UNIFA), que, por sua vez, enquadra a Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (ECEMAR). Evidentemente que, resguardadas as particularidades sócioculturais e organizacionais de cada nação, uma melhor percepção global pode ser observada na Direcção-Geral de Pessoal e Recrutamento Militar do Ministério da Defesa Nacional de Portugal, onde pessoal civil e militar da área de defesa figuram como objeto de atenção e as atividades de ensino e saúde são consideradas integrantes da gestão de pessoal. Suas atribuições são, in verbis: Estudar, propor e assegurar a concretização das medidas de política de recursos humanos, militares, militarizados e civis, respectivos regimes jurídicos e demais legislação aplicável, assim como propostas relativas à mobilização necessária à prossecução dos objectivos permanentes da política de defesa nacional; Propor e avaliar as medidas relativas aos vínculos, carreiras e remunerações do pessoal militar, militarizado e civil das Forças armadas; Planear, dirigir e monitorizar o processo de recrutamento militar e de apoio à reinserção sócio-profissional; Propor, avaliar e executar a política de apoio aos antigos combatentes; Propor e avaliar a política nos domínios do ensino, formação e desenvolvimento profissional; Propor e avaliar a política social e de reabilitação, acompanhar a respectiva execução e instruir os processos de qualificação dos deficientes das Forças Armadas; Participar na definição da política de ensino superior militar, em articulação com o Conselho de Ensino Superior Militar; Participar na definição da política de saúde militar e apoio sanitário, em articulação com o Conselho de Saúde Militar; e 54 Planear, dirigir e monitorizar com a colaboração dos ramos das Forças Armadas as actividades relativas ao Dia da Defesa Nacional. Da análise dos organogramas de cada uma das FA e das atribuições de seus órgãos, há nítida percepção de autonomia na organização de suas respectivas áreas de pessoal e de uma identidade conceitual quanto ao foco, qual seja, a manutenção do princípio de recursos humanos, do tradicional departamento de pessoal das décadas de 50 e 60, sob o primado da previsão e do controle. Exempli gratia, apenas no EB: em seu site na internet, na área - Exército em Ação/ Pessoal – lê-se: “gerenciar esses recursos humanos é uma tarefa que cabe ao Departamento-Geral do Pessoal [...]”; no site do DGP, a missão do órgão é definida como “planejar, orientar, coordenar e controlar as atividades de pessoal decorrentes da Legislação de Pessoal vigente e do Sistema de Planejamento do Exército (SIPLEx), a fim de assegurar ao Exército Brasileiro condições [...]”; e o elemento organizacional responsável pela alocação de pessoal aos seus diversos órgãos é a Diretoria de Controle de Efetivos e Movimentações e em seu site observa-se, como visão de futuro: “ser reconhecida como padrão de excelência no controle dos efetivos do Exército e na movimentação dos militares de carreira”. Ora, em uma visão atualizada de gestão de pessoas, a DCEM poderia projetar-se em ser reconhecida como padrão de excelência no atendimento às necessidades de pessoal do Exército, o que permitiria ampliar seus horizontes para expectativas de conciliação de interesses, desde que implantados ou aprimorados certos instrumentos de diálogo organizacional, conforme demonstrarse-á. Cabe aqui uma citação específica, à guisa de reflexão, que a existência de dois órgãos no mesmo nível na pirâmide organizacional, como o DECEx e o DGP no Exército, é, sob a ótica da GP, contraproducente, pois as ações destinadas à capacitação e à habilitação técnica do pessoal são planejadas e conduzidas por órgão distinto ao que orienta as demais ações relativas ao pessoal, o que, certamente, introduz uma dificuldade ao planejamento estratégico, na medida em que se requer a coordenação da ação de duas chefias. 55 Os exemplos elencados não são numerus clausus nem para o EB. Poder-seia aqui aprofundar a exemplificação ad infinitum, pois as três forças singulares apresentam indícios no mesmo sentido, isto é, estruturas e órgãos com atribuições semelhantes. Todavia, como o que se pretende neste tópico, de forma objetiva, é identificar a opção organizacional pelo viés de inspiração mecanicista, pela fábrica de treinamento descrita pelo General Dan Starry, a análise de aspectos como comunicação organizacional, avaliação de desempenho, recolocação profissional, equidade nas oportunidades aos pares, dentre outros, apresenta-se como mais ilustrativa. 4.2 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL “A boa comunicação é essencial para a eficácia de qualquer grupo ou organização, [lembrando] que a comunicação deve incluir tanto a transferência quanto a compreensão do significado” (ROBBINS, 1999, p. 197, grifo nosso). Para uma comunicação adequada no âmbito organizacional, Bowditch e Buono (2004, p. 87-88, grifo nosso) sustentam: Embora o processo básico da comunicação e os modos, barreiras e habilidades de comunicação interpessoal evidentemente influenciem esta forma de comunicação, a chave para a comunicação organizacional é a disposição e a estrutura de como a comunicação é dirigida a pessoas específicas e grupos que dela precisam para fins de trabalho, solução de problemas, controle ou tomada de decisões. Na verdade, o modo como um grupo ou organização são estruturados, em última análise, é que determinam a acessibilidade e a facilidade com que seus integrantes podem se comunicar entre si. No questionário, em anexo, aplicado ao Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) – 2011, da Escola Superior de Guerra (ESG), aos militares das três forças, Coronéis e Capitães-de-Mar-e-Guerra, 12 (doze) da MB, 13 (treze) do EB, e 15 (quinze) da FAB, e duas servidoras civis, uma da MB e outra da FAB, foram obtidos dados que apenas ratificam o presenciado uti oculi no dia a dia organizacional. Cabe ressaltar que as condições do grupo-alvo, quais sejam, média de 30 (trinta) anos de serviço, nível de pós-graduação, vasto conhecimento e experiência profissional, e, ainda, perspectivas de continuidade na carreira, não apenas caracterizam satisfatoriamente o grupo como o pessoal qualificado, cuja evasão 56 originou a inquietação intelectual deste estudo, como, também, associadas à natureza das perguntas, permitem a leitura das respostas com predominância pelo viés qualitativo. Em relação à pergunta – o(a) Sr.(Sra.) já respondeu a alguma pesquisa de clima organizacional? Caso positivo, quantas ou com que frequência? – podem ser observados aspectos como: o caráter de perplexidade do questionado em algumas respostas, comparando a frequência do evento em relação ao seu tempo de serviço; a baixa incidência de pesquisas, como regra geral, nas três Forças; as diferenças dentro de uma mesma Força, em função da especificidade do profissional, por exemplo, o CFN, dentro da MB, já adota a prática regular da pesquisa. Em relação à pergunta - em algum momento de sua carreira, fosse durante o exercício normal de suas funções em um cargo, ou durante a realização de um curso ou estágio, o(a) Sr.(Sra.) já foi entrevistado por alguma pessoa ou equipe em sua Força, com vistas a seleção ou escolha para um futuro local de trabalho, um cargo ou um projeto? - observa-se que, em regra geral, o diálogo, mediante entrevista, não é uma prática organizacional para ocupação de cargos, como opção ao atendimento, simultâneo, tanto do interesse organizacional como do pessoal. Cabe destacar que o universo observado é de oficiais e civis de nível superior. Em relação às perguntas - a sua Força disponibilizou algum canal de comunicação para manifestação do seu projeto profissional pós-conclusão do CAEPE, isto é, expectativas de trabalho em áreas específicas de seu interesse, de residência em determinadas cidades ou de limitações funcionais decorrentes de necessidades familiares? Caso positivo, especificar: - verificase que a postura organizacional evidencia-se, de forma marcante, como unilateral. O máximo que permite é oferecer ao profissional a manifestação de opções, segundo uma listagem prévia e de forma bastante impessoal, distante o suficiente para não haver envolvimento ou percepção afetiva, por meio de contato pessoal, do anseio ou problema vivido pelo profissional. O que cada um pode fazer é tentar acionar sua network, ou rede de relacionamentos, em busca de uma solução, pois não há um canal verdadeiramente aberto para oitiva da pessoa. 57 Em relação às perguntas - caso a resposta ao item 12) [pergunta anterior], tenha sido positiva, o(a) Sr.(Sra.) recebeu algum retorno, via contato pessoal, telefônico, e-mail, relatando o resultado da análise de sua situação pelo órgão de pessoal de sua Força? Caso positivo, de que tipo?- as respostas tornam manifesto que o chamado retorno, no sentido de diálogo ou negociação, inexiste. Há, somente, a divulgação do resultado do processo de designação feito pelas Forças, por critérios subjetivos não informados. A obtenção de informações antes da divulgação organizacional oficial, realizada, aliás, de certa forma, conforme a ritualística de um resultado de concurso, ocorre excepcionalmente, em razão de contato de algum órgão interessado no profissional, informando-o de que o propôs ao órgão de pessoal da Força. Corroborando o observado nas respostas ao questionário, acerca do grau de abertura organizacional ao diálogo, no EB, verbi gratia, o processo de definição de comandantes, chefes ou diretores e a designação, para as organizações militares (OM), dos concludentes dos diversos cursos de formação, aperfeiçoamento e de alta direção, como o da ECEME, inicia-se com o preenchimento, por parte dos envolvidos no universo, de uma lista de prioridades. Após este ato, o profissional apenas tomará conhecimento da decisão na forma descrita ut retro. Profissionais com mais de quinze, vinte ou trinta anos de serviço, de nível superior, com especializações diversas, enfim, um seleto universo de gerentes de alto nível, não possuem um canal aberto para, pessoalmente, dialogarem com a alta direção o futuro de suas vidas profissionais. Finalmente, em relação à pergunta - o(a) Sr.(Sra.) admite como plausível, a curto prazo, isto é, logo após a conclusão do CAEPE, a possibilidade de transferência para a reserva remunerada ou aposentadoria, caso a designação de sua nova Organização Militar não se constitua em um estímulo positivo a sua motivação para o trabalho, seja, por exemplo, em razão da cidade de sua localização ou da natureza da atividade a ser desenvolvida? – o quadro apresentado deve merecer uma reflexão acurada por parte das FA, pois, neste sumário levantamento junto aos profissionais no topo de suas respectivas carreiras, constata-se que, inexistindo pessoalidade no diálogo organizacional, e, hipoteticamente, havendo um conflito de interesses, a organização arrisca-se à perda significativa de capital intelectual. 58 Isto posto, parece ser o momento de pensar-se no endomarketing. De forma sintética, segundo Zambaldi e Mascarenhas (2010, p. 217, grifo nosso): [...] o endomarketing pode ser entendido como um conjunto de atividades capaz de alavancar a relação entre colaborador e organização, potencializando o compartilhamento de conhecimentos, as relações sociais intra e interorganizacionais, o aproveitamento das oportunidades internas de desenvolvimento, contribuindo para a retenção e o aproveitamento dos talentos em prol dos resultados organizacionais. 4.3 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO No entendimento de Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2004, p. 207, grifo nosso), “a avaliação de desempenho pode ser considerada um dos mais importantes instrumentos de que dispõe a administração de uma empresa para analisar os resultados à luz da atuação de sua força de trabalho”. A percepção do papel e da importância da avaliação de desempenho para o alcance dos objetivos organizacionais, em linhas gerais, não difere substancialmente em sua essência entre os estudiosos, ocorrendo apenas variações quanto à forma ou à técnica a serem aplicadas. Existem vários aspectos relevantes em relação ao processo de avaliação, entre os quais: comissão de avaliação, feedback e distorções. Gerhinger (1998, p. 105, grifo nosso) lembra que “avaliar significa atribuir valor. E isso não é bom, porque, bem lá no fundo desse atribuir, há sempre uma overdose de julgamento subjetivo”. Daí ser visível que, em uma avaliação feita por um colegiado, ocorra uma tendência à redução drástica de eventuais efeitos nocivos oriundos da subjetividade de um só avaliador. Com relação ao feedback, Robbins (1999, p. 362, grifo nosso) adverte que “a revisão de desempenho deve ser vista mais como uma atividade de aconselhamento do que um processo de julgamento”. Neste sentido, “cada empregado deve ter pleno conhecimento de sua avaliação, a fim de que possa manter e desenvolver os seus pontos fortes e corrigir os seus pontos fracos” (TACHIZAWA, FERREIRA e FORTUNA, 2004, p. 212, grifo nosso). Robbins (1999, p. 362, grifo nosso) sinaliza que “a solução do problema de feedback de desempenho não é ignorá-lo, mas, sim, treinar os gerentes em como conduzir sessões de feedback construtivas”. 59 Portanto, o feedback é conditio sine qua non a um processo de avaliação cuja finalidade seja, efetivamente, proporcionar o chamado desenvolvimento organizacional (DO), aqui entendido como sendo “um processo através do qual se dá atenção planejada e sistemática ao desenvolvimento de uma maior competência, de uma melhoria da eficácia e do funcionamento geral da organização” (BOWDITCH; BUONO, 2004, p. 199, grifo nosso). Por sua vez, o DO tende a proporcionar um incremento na Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). De acordo com Bowditch e Buono (2004, p. 207, grifo nosso): A despeito do conjunto de definições adotado, os elementos que distinguem as questões da QVT são: (1) uma preocupação com o efeito do trabalho nas pessoas bem como na eficácia da organização, e (2) a idéia da participação dos trabalhadores na solução de problemas e tomada de decisões da organização (grifo nosso). No que diz respeito às principais distorções que podem ocorrer na avaliação de desempenho, Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2004) relacionam os seguintes: leniência, efeito de halo, falsidade, obstáculos políticos, obstáculos interpessoais e diferentes graus de rigor. Já Robbins (1999) cita: critério único, erro de indulgência, erro de halo, erro de semelhança, diferenciação baixa e informação forçada para combinar com critérios de não desempenho. Alguns diferem apenas na terminologia empregada por cada autor, sendo, no entanto, único em sua essência o conceito. Todavia, o que é relevante ressaltar é o fato de que existem problemas potenciais na avaliação de desempenho, decorrentes da própria natureza humana, os quais não podem ser ignorados, sob pena de invalidar-se o processo, tornando sem serventia os resultados obtidos. Pelo potencial de grave dano que podem causar a uma avaliação, destacarse-ão aqui algumas distorções. O erro de indulgência consiste, segundo Robbins (1999), em superestimar ou subestimar o desempenho do indivíduo, em função da aplicação do próprio sistema de valores do avaliador como padrão. Se em uma mesma organização todos fossem avaliados por uma mesma pessoa, o fator de erro, havendo, seria aplicado a todos, linear e uniformemente. No entanto, surge a dificuldade quando existem diferentes avaliadores fazendo julgamento, pois os erros de indulgência são diferentes. 60 Outro problema é o erro de halo ou efeito de halo. De acordo com Robbins (1999, p. 359, grifo nosso), “é a tendência de um avaliador deixar a estimativa de um indivíduo sobre um traço influenciar sua avaliação daquela pessoa sobre outros traços”. O efeito do estereótipo criado sobre um indivíduo, seja positivo ou negativo, manifesta-se exatamente neste momento. Considerando-se o efeito de halo como a tendência para nivelar o julgamento ou por cima ou por baixo, Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2004) enfatizam que isto pode redundar em prejuízo ou valorização injusta ao indivíduo, pois se é malvisto, por ter deficiências em alguns aspectos, pode não obter reconhecimento em quesitos nos quais possua bom desempenho. De forma análoga, mas, por exegese a contrario sensu, os que são considerados bons, podem vir a ter avaliação superestimada, isto é, alta em todos os quesitos, inclusive nos que deixam a desejar. Um exemplo desse tipo de situação, que ilustra adequadamente o descrito, foi um experimento levado a efeito em atividade de natureza militar e assim descrito por Wagner III e Hollenbeck (2000, p. 61, grifo nosso): As expectativas de quem percebe um objeto, por exemplo, geralmente afetarão a avaliação desse objeto. Uma razão para isso é que a nossa atenção é atraída mais facilmente para objetos que confirmem nossas expectativas. Um bom exemplo pode ser encontrado no estudo de Eden e Shani sobre tripulações de tanques do exército israelense. Nesse estudo foi dito a um grupo de comandantes de tanques que dados dos testes indicavam que alguns membros das tripulações possuíam excepcional habilidade e que outros eram apenas medianos. Na realidade, os soldados foram designados aleatoriamente aos comandantes, sendo que os dois grupos testados eram igualmente capazes. No entanto, quando posteriormente solicitados a avaliar o desempenho de seus homens, os comandantes informaram que o desempenho dos soldados excepcionais era melhor que o desempenho dos soldados considerados medianos. Os pesquisadores explicaram os resultados observando que os comandantes naturalmente esbanjavam mais atenção em indivíduos pelos quais nutriam expectativas mais positivas. Esse efeito parece particularmente pronunciado entre líderes do sexo masculino. Acerca das inadequações dos sistemas de avaliação, Levinson (1997a) argumenta que há um consenso quanto à existência de elementos inerentemente incorretos na maioria deles. As desvantagens mais evidentes são as mencionadas ut infra. Os julgamentos de desempenho são subjetivos e impressionistas, por mais bem definidas que sejam as dimensões da avaliação. 61 Os avaliadores fazem, com frequência, julgamentos arbitrários, em decorrência de informações inadequadas, fornecidas nas avaliações, acerca das sutilezas do desempenho. “Normalmente, classificações feitas por gerentes diferentes, especialmente gerentes de unidades diferentes, não podem ser comparadas” (LEVINSON, 1997a, p. 191, grifo nosso). Segundo Thompsom e Dalton (1970, p. 149 apud LEVINSON, 1997a, p. 191)10, quando estímulos exteriores são definidos segundo “uma curva de distribuição normal que, em contrapartida, se baseia na classificação de resultados e não no comportamento, pode-se acabar não só [...] [negando-os] a funcionários competentes como também desmotivandoos”. Em que pese a conveniência de um feedback livre e freqüente, o que muitas organizações recomendam aos seus gerentes, há dificuldades para a garantia de atendimento deste princípio. De acordo com Levinson (1997a, p. 191), “o feedback demorado, além de criar frustação, quando o bom desempenho não é reconhecido rapidamente, gera raiva, quando o julgamento se baseia em inadequações passadas”. Enfim, “a tentativa de fundamentar as decisões de promoções e demissões em dados de avaliações torna essas decisões abertas a debates ásperos” (LEVINSON, 1997a, p. 191, grifo nosso). Ora, é exatamente em função de todas essas questões que cercam a avaliação de desempenho que há uma corrente contrária à avaliação individual. Batitucci (2000, p. 127, grifo do autor) informa que “Mary Walton relaciona a avaliação individual de desempenho como uma das sete doenças fatais da Administração”. Nesse sentido, um trabalho antológico versando acerca de avaliação de desempenho individual em atividade militar, e sob inspiração do pensamento de Deming, é o artigo – TQL and the Navy Evaluation System –, de autoria do Lieutenant Commander James A. Sinkiewicz, da U.S. Navy, publicado originalmente na revista Proceedings, em julho de 1993. O artigo é um libelo acusatório contra a 10 THOMPSON, Paul H.; DALTON, Gene W. Performance appraisal: managers beware. Harvard Business Review, p. 149, jan. /fev. 1970. 62 avaliação individual de desempenho, cabendo ressaltar que foi escrito na época em que se encontrava no auge a conhecida Qualidade Total. Foi traduzido e adaptado pelo Departamento de Estudos e Pesquisa do Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão (CAAML) da MB e publicado na Revista Passadiço, ano VII, número 11. O primor do raciocínio do autor torna conveniente, ou melhor, impõe seu acompanhamento pela transcrição direta. Sinkiewicz (1994, p. 1, grifo nosso) inicia o artigo comentando: A eliminação das avaliações de desempenho e a hierarquização de indivíduos por mérito são aspectos da filosofia do Dr. W. Edwards Deming, que vêm municiando com argumentos convincentes a teoria dos que acreditam que a Gestão de Qualidade Total (GQT) jamais será completamente implementada nas tarefas afetas ao serviço militar naval. Dr. Deming insiste que o atual sistema de avaliação confronta e compara valores individuais, destrói o trabalho em equipe, promove o carreirismo, deixando muitas pessoas desestimuladas para o serviço, embora atualmente ainda se constitua no suporte dos planos de carreira militares. A Marinha, se quiser proceder segundo uma organização de qualidade, deverá rever seu atual sistema de avaliação. Deming (apud SINKIEWICZ, 1994, p. 1, grifo nosso), no discurso proferido durante a entrega do “Prêmio Deming” de 1985, comentou: A classificação de pessoas, por qualquer sistema de avaliação que se faça uso, dividirá o grupo em três subgrupos, a saber: a) pessoas fora dos limites de controle – no lado ruim; b) pessoas fora dos limites de controle – no lado bom; e c) pessoas dentro dos limites de controle. Os grupos a) e b) requerem atenção especial. Todavia, indivíduos dentro dos limites de controle não devem ser distinguidos uns dos outros, segundo uma hierarquização por mérito. As diferenças dentro destes limites são provenientes do próprio sistema e não das pessoas que o compõe. Qualquer um no grupo c) poderá receber o mesmo percentual de gratificação ou elogio em seus assentamentos. Não existe significativa distinção entre estes indivíduos. Sinkiewicz (1994, p. 1-2, grifo nosso) apresenta um exemplo, ou dele próprio ou de Deming [sic]. In verbis: [...] consideremos um navio de guerra em faina de atracação. Ao longo do convés principal, marinheiros com retinidas na mão aguardam ordens para lançá-las ao cais. O navio se aproxima do pier e, quando a ordem é dada, meia dúzia de retinidas são lançadas, pelo peso de suas pinhas, na direção do pier. Um lançamento longo faz com que marinheiros no cais trabalhem a espia talingada à retinida, encapelando-a ao cabeço. Outra retinida, inevitavelmente, fica emaranhada em si própria e retesada, cai a pouca distância do seu destino. Será que, porventura, algum lançador de retinida verdadeiramente apresentou desempenho abaixo do obtido por seu 63 companheiro? Pode o supervisor efetuar futuras avaliações baseadas neste desempenho? Um marinheiro pode efetuar lançamentos de retinida, ora longos, ora curtos, sem que se possa satisfatoriamente concluir o porque desta diferença de desempenho. Muitos eventos aleatórios – incluindo a direção do vento, a posição do sol, o peso das pinhas utilizadas, o tipo de linha e o nível de adestramento do lançador, afetam o alcance de um lançamento. Deve então este marinheiro ser avaliado com base no desempenho acima mencionado? – „Não‟, diz Dr. Deming: -„Na realidade, é o sistema de avaliação de desempenho atual que precisa ser avaliado, e não os marinheiros a ele submetidos. Certamente cada marinheiro fará o melhor que puder, com os meios que lhes foram fornecidos. As variações entre indivíduos e seus desempenhos, sempre existirão, contudo, é imprescindível aos líderes, estarem conscientes destas diferenças e da natureza dessas variações. Segundo Sinkiewicz (1994), considerando-se que a maioria dos lançamentos ocorrerá dentro de três desvios padrões da média de todos os lançamentos, o que estatisticamente corresponderá a 99% (noventa e nove por cento) dos casos observados, o supervisor não deverá avaliar aqueles marinheiros entre os limites de controle superior e inferior, situados, respectivamente, três desvios padrão à direita e à esquerda da média, da curva de probabilidade normal, pois as diferenças observadas são, em grande parte, simples resultados de eventos aleatórios ocorridos durante os lançamentos, ou seja, resultado de fatores ordinários, decorrentes do sistema que contém o navio em faina de atracação, nunca dos marinheiros. Sinkiewicz (1994, p. 3, grifo nosso) assim arremata o raciocínio: Fatores especiais de variação resultam em indivíduos fora dos limites de controle, ou demonstrando uma tendência (padrão definido) de lançamentos, ainda que dentro dos limites de controle. A meta do líder deverá ser identificar estes fatores especiais de variação, distinguindoos dos fatores ordinários através de métodos quantitativos e objetivos. É possível que um marinheiro esteja constantemente acima do limite de controle superior, merecendo, neste caso, uma especial atenção por parte do supervisor. Ele pode possuir algum novo método ou alguma habilidade pessoal que deva ser investigada. Alguns ensinamentos devem ser extraídos do marinheiro que tem desempenho melhor que o dos outros para que se reduza a variação total dos futuros lançamentos de retinidas, aumentando a distância média de todos os lançamentos. Igualmente, em situação semelhante estará o marinheiro que constantemente apresente desempenho abaixo do limite de controle inferior. Este [...] necessita de ajuda do supervisor [...] Destacando o papel do líder, Sinkiewicz (1994, p. 3, grifo nosso) sustenta: Lembre-se, a meta do líder é: -„Estreitar os limites de controle, para permitir a menor variação possível num processo, ou nas diferenças entre as pessoas envolvidas‟. 64 Isto significa: -„Empenhar-se para elevar o nível médio de desempenho dos marinheiros, buscando descobrir (através de métodos quantitativos e objetivos) e orientar aqueles que necessitam de atenção especial‟. Referindo-se à “desmotivante e devastadora política que a Marinha Americana vem adotando”, Sinkiewicz (1994, p. 4, grifo nosso) apresenta a seguinte proposta: [uma] aproximação mais racional [...], que se constitua num relatório de desempenho, apenas daqueles marinheiros que estejam fora (acima ou abaixo) dos limites de controle objetivamente determinados, de preferência, no exato instante em que ocorrer o evento, ao invés de uma vez por ano [...]. Na prática, segundo o autor, o percentual que demandaria avaliações não ultrapassaria 5% (cinco por cento) do efetivo. A síntese do pensamento do autor é a essência de uma proposta adequada sob a ótica de GP. Segundo Sinkiewicz (1994), se o sistema afeta o desempenho do marinheiro, não deve haver registro para comparações posteriores com seus pares. Os aspectos mais relevantes do desempenho do pessoal devem ser documentados por meio de um relatório diário ou mensagem. Os fundamentos basilares de qualquer processo de seleção devem recair sobre as qualificações e habilidades, não sobre comparações relativas. Para Batitucci (2000), a avaliação individual, em geral realizada pelo chefe isoladamente para cada um de seus subordinados, é a mais comum nas organizações e não se constitui em uma boa prática a ser seguida. Todavia, em decorrência de paradigmas culturais geradores de pressões praticamente insuperáveis, não se pode ignorá-la, pura e simplesmente. Pode-se, sim, no mínimo, com ela conviver de forma mais adequada. Para tanto, Batitucci (2000) propõe um modelo, denominado Acompanhamento e Avaliação 100%, que aborda uma filosofia globalizada e coletiva de acompanhamento e avaliação, onde vários segmentos participam do esforço para ajudar a melhor direcionar o caminho do empregado, em contraposição às práticas individualizadas existentes. Nesse modelo, Batitucci não se preocupa em detalhar o que avaliar (fatores de motivação), pois julga que esses fatores de avaliação devam ser compostos segundo a missão e os objetivos de cada organização, bem como em razão das características de cada área de trabalho e de cada função. 65 A proposta consiste, enfim, em uma avaliação cujo valor final resulte da média ponderada entre a avaliação individual do empregado e a avaliação global da equipe da qual ele participa, o que é lógico, ao considerar-se a natureza coletiva da atividade organizacional. Afinal, “a razão da existência de uma organização é realizar mais do que cada indivíduo poderia realizar sozinho. Por que então enfatizar e recompensar [ou julgar e castigar] somente o desempenho individual [...]?” (LEVINSON, 1997b, p. 216, grifo nosso). A propósito, “se essa psicologia de recompensa - castigo estiver presente dentro da organização, o processo de avaliação através da administração por objetivos certamente fracassará” (LEVINSON, 1997b, p. 214, grifo nosso). Enfim, a procura incessante por uma alternativa o mais justa possível para um processo de avaliação de desempenho deve ser um dos alvos prioritários em GP, pois poderá até servir como contraponto ao fato preocupante descrito por Levinson (1997a, p. 194, grifo nosso): “A proficiência no trabalho e a concretização de metas normalmente são condições necessárias mas insuficientes para o progresso; os elementos principais do sucesso em uma organização são políticos [..]”. Dessa forma, embora a objetividade na avaliação seja considerada utópica, um clamor em vão, segundo Levinson (1997b), ainda assim deve ser considerada como farol a guiar o processo, pois é o que de melhor recomenda o senso mediano de Justiça e Ética no relacionamento entre organização e colaborador, o qual requer, necessariamente, diálogo. Os processos de avaliação de desempenho, aliás praticados na maioria das organizações, segundo a observação de Randolph e Blanchard (2011, p. 67, grifo do autor), “impedem, por sua natureza, o empoderamento e precisam ser reestruturados. O foco precisa ser desviado da avaliação dos membros da equipe pelo gerente para a colaboração entre aqueles e o gerente”. 4.3.1 O processo atual Nas FA, a avaliação de desempenho tem as seguintes características: utiliza-se apenas de um único formato, o do tipo individual, semestral para MB e anual para FAB e agora, após a última alteração no processo em 2008, também para o EB; 66 é realizada, via de regra, por uma só pessoa, embora haja particularidades, como no caso do EB, em que é facultada a realização por uma comissão de até três avaliadores; normalmente, emprega pautas comportamentais genéricas, ou seja, sem diferenças entre funções ou cargos e aplicada de modo linear a todos de um mesmo círculo profissional, oficiais ou praças; em alguns casos o feedback é demorado; e principalmente, serve para hierarquização por mérito e influencia os diversos processos seletivos. Com relação ao feedback, observam-se posturas divergentes entre as Forças. À guisa de exemplos: Na MB, as praças assinam suas avaliações, e as notas são lançadas em suas Cadernetas-Registro (CR), enquanto os oficiais podem acessá-las, uma a uma, desde a primeira como oficial, em suas respectivas páginas de avaliações, onde a última já fica disponível poucos dias após ter sido enviada eletronicamente para a Diretoria de Pessoal. No EB, o DGP não fornece informação acerca de cada ficha de avaliação, salvo requerimento próprio do interessado. Os avaliadores têm a faculdade de mostrarem suas avaliações aos seus avaliados. Todavia, se não o fizerem, por discricionariedade, a percepção do impacto de determinada ficha de avaliação será sentida somente no documento chamado perfil do avaliado, o qual traduz a resultante de um somatório de avaliações. Caso o profissional queira identificar, pontualmente, uma determinada avaliação, deverá elaborar requerimento próprio específico para tal. Na FAB, também é facultado ao avaliador realizar a mostra da avaliação completa ao avaliado. Recomenda-se àquele a apresentação, no mínimo, de um feedback, a fim de este seja orientado acerca de possíveis desvios. A média aritmética das doze últimas avaliações serve para hierarquizar uma turma segundo uma Lista de Mérito Relativo (LMR), dividida em três terços, conforme uma curva normal. O profissional tem acesso apenas à informação quanto ao terço em que se situa nesta LMR. 67 A propósito da transparência, por oportuno, Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2004, p. 212, grifo nosso) advertem que cada profissional “deve ter pleno conhecimento de sua avaliação, a fim de que possa manter e desenvolver os seus pontos fortes e corrigir os seus pontos fracos”. Em síntese, sem adentrar especificamente no mérito das diferenças metodológicas específicas entre as avaliações de cada Força, o descrito ut retro demonstra, inequivocamente, o primado mecanicista do prever e controlar, da hierarquização por, ressalte-se, um suposto mérito, desconhecedor das habilidades ou competências das pessoas. O objetivo é apenas o de escalonar, do suposto melhor ao suposto pior, os indivíduos. Trata-se, definitivamente, do oposto ao recomendado. Diz-se suposto porque as ferramentas empregadas, além de permitirem um elevadíssimo grau de subjetividade, servem para hierarquizar os indivíduos com base em notas ou médias, ao invés de, conforme proposto por Sinkiewicz (1994), com base na abordagem de Demig, descrever os aspectos elogiáveis ou reprováveis do comportamento do avaliado, no momento da ocorrência do evento, mediante um relatório de desempenho. Se houvesse a obrigatoriedade de fazê-lo, poder-se-iam identificar características ou traços de personalidade e considerá-los para definições de cargos, funções, tarefas ou missões. Aliás, embora não tenha sido objetivo desta pesquisa, mas é passível de sêlo em outras futuras, é admissível que, se questionados, os ODS das respectivas Forças não saibam responder a simples pergunta: afinal, qual é o fundamento científico ou a que escola de pensamento da Psicologia o modelo vigente se filia? Em face do exposto, é até possível, o que também recomenda uma pesquisa específica, ser a avaliação de desempenho, hoje, para as FA, o calcanhar de Aquiles ao desenvolvimento de uma verdadeira motivação. 4.3.2 Consequências da hierarquização por mérito A problemática da hierarquização por mérito reveste-se de capital importância para a gestão estratégica do capital intelectual, podendo representar fator de desmotivação e, consequentemente, vir a determinar o fracasso dessa atividade, com os naturais reflexos para a vida organizacional. 68 A prática atual para a quase totalidade de funções, missões ou cargos, enfim, para os diversos processos seletivos, é a consulta ao posicionamento do profissional no que se poderia denominar de ranking. Evidentemente que, ao ser selecionado para determinada tarefa, após sua conclusão, agregará mais pontos no ranking. Ao entrar em novo processo seletivo, continuará na dianteira e assim sucessivamente. Esse profissional entrou em uma espiral de sucesso ou espiral virtuosa, enquanto outro tende a permanecer na inércia em um círculo vicioso de falta de oportunidades, sem que sejam verificadas suas potencialidades individuais, advindas de suas capacitações e habilitações. Pode-se imaginar, hoje, por exemplo, um oficial com especialização em determinada área do conhecimento humano ser preterido por outro, para um cargo cujo desempenho recomendasse ou sugerisse esta habilitação, pelo simples fato de o outro ter uma pontuação maior, ainda que menos capacitado intelectualmente. A origem do problema surge logo nos primeiros processos seletivos do profissional recém-egresso das escolas de formação militar. Relembrando o experimento com a tripulação de carros de combate, ao ser identificado, por meio de uma percepção inicial como bom, tenderá a ser tratado como tal, recebendo melhor conceituação, e, já nos primeiros processos seletivos, preterirá outros em semelhantes condições, iniciando, assim, sua espiral de sucesso. Esse fato está gerando um quadro de verdadeira segregação organizacional nos processos de seleção, com um grupo de profissionais cuja pontuação tende a ser estratosférica, inatingível pelos comuns, tornando-os, em termos comparativos, inalcançáveis. A situação descrita não favorece a imperiosa necessidade de percepção, por parte dos profissionais de uma organização, daquilo que se convencionou chamar de justiça organizacional. Neste sentido, Assmar e Ferreira (2004 apud DEMO, 2010, p. 23)11 “lembram que o termo [...] foi definido por Greenberg, no fim da década de 80, no intuito de destacar a relevância do construto nas relações entre indivíduos e organizações”. 11 ASSMAR, E. M. L.; FERREIRA, M. C. Cultura, justiça e saúde no trabalho. In: TAMAYO, A. et al. (Org). Cultura e saúde nas organizações. Porto Alegre, 2004, p. 155-178. 69 Na busca da relação entre a percepção de justiça tridimensional (distributiva, procedimental e interacional) e comportamentos organizacionais, tais como retaliação e comprometimento, Rego (2002 apud DEMO, 2010)12 afirma que se há injustiça nos resultados recebidos, mas os procedimentos/interações foram justos, esta sensação pode inibir a pessoa de agir contra a organização. No entanto, se esta presencia uma combinação onde ambos são injustos (resultados e procedimentos/interações), a tendência será de vigorosas reações negativas. 4.4 CONFLITO E NEGOCIAÇÃO A cultura organizacional das FA tende, em princípio, a rejeitar a palavra conflito, associando-a, de pronto, ao confronto, quiçá, transgressão, isto é, uma questão de natureza disciplinar, no mínimo. Todavia, os termos representam situações distintas. George A. Kohlrieser (apud FERRUCCIO, 2011a), experiente negociador em situações extremas, entende que o conflito é a situação de divergência entre pessoas, em contexto onde estão presentes tensão, emotividade, discórdia e polarização. Ele emerge quando inexiste ou se rompe uma ligação ou elo (bonding), uma química, entre estas. Argumenta que, na maior parte das organizações, eles permanecem submersos até emergirem algum dia, e que conflito não é confronto, tratando-se apenas da habilidade na mantença de um sincero diálogo. Finalmente, adverte ser imprescindível aos líderes prepararem-se prioritariamente para negociação em detrimento de métodos coercitivos. Segundo Kohlrieser (apud FERRUCCIO, 2011a, não paginado, grifo nosso), “o âmago da resolução de conflitos [...] é falar, ouvir, conversar. O que nós precisamos hoje em dia é de diálogo, diálogo e diálogo para promover o entendimento”. Para ele, as pessoas não se interessam sequer em ouvir o outro. Como o verdadeiro diálogo significa a busca conjunta, ou seja, um pensar junto, em prol de uma verdade maior, ouvir é mais significativo para os líderes do que falar. Em palestra ao CAEPE, na ESG, em 2011, no desenvolvimento do tema – conflito e negociação –, a Dra. Alice Ferruccio, do Instituto COPPEAD de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deixou claro que 12 REGO, A. Comprometimento afetivo dos membros organizacionais: o papel das percepções de justiça. Revista de Administração Contemporânea, 6 (2), p. 209-241, 2002. 70 o conflito é inerente à natureza do ser humano, iniciando-se em sua psique, nas inter-relações entre ID, EGO e SUPEREGO, isto é, algo natural à existência humana, e, seja de natureza intrapessoal ou interpessoal, deve ser recebido com naturalidade e adequadamente tratado. De acordo com a palestrante, falhas na comunicação estão na origem do conflito, o qual, sendo substancial, de meta de trabalho, por exemplo, pode transformar-se em emocional, ou seja, de valores, crenças, caráter, personalidade, caso não seja corretamente equacionado 13 (informação verbal) . Segundo José Diney (apud FERRUCCIO, 2011b), ao lidar-se conscientemente com o conflito, pode-se transformá-lo em estímulo e sabedoria. Para sua solução no ambiente de trabalho, é necessária a compreensão de que as pessoas se originam de realidades e processos educacionais distintos, estes por vezes desnivelados, bem como possuem personalidades diferentes, com seus próprios aspectos emocionais, culturais e psicológicos; em síntese, trata-se da denominada individualidade. Portanto, embora demande atenção às suas reais causas, sua ocorrência nas relações de trocas profissionais deve ser vista como absolutamente normal. Conforme apresentado anteriormente, em que pese soar estranho à Organização Militar o termo conflito, em razão de sua cultura organizacional, assim como a sugestão de negociação, sob a ótica administrativa, a argumentação no sentido de sua compreensão se dá sob a perspectiva da Psicologia e do Comportamento Organizacional, isto é, com cientificidade. Não se está a defender a aceitação, aí sim, do confronto, no sentido disciplinar, como algo a ser tolerado. O que se pretende neste estudo é incitar reflexão organizacional para não se empurrar, ao estilo - para debaixo do tapete -, algo latente, muitas vezes perceptível, manifesto e manifestado de forma ética e disciplinarmente correta, absolutamente normal, como o desconforto de um profissional com sua situação no trabalho, tarefa, localidade de execução desta, ou expectativas não atendidas. Tal conduta, isto é, a omissão ou inação diante dos fatos, tende a escalar o conflito para níveis de crise e confronto. Para Renato Mafra (apud FERRUCCIO, 2011c, não paginado), “os custos emocionais, psicológicos, sociais e financeiros dos conflitos são incalculáveis”. 13 Palestra proferida por Alice Ferruccio no Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) da Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 06 jul. 2011. 71 Portanto, o conflito é de um impacto psicossocial significativo, uma vez que tem consequências e reflexos na família do profissional e nos demais grupos sociais dos quais participa. Desta forma, sendo a motivação um elemento intrínseco à natureza humana e considerando-se que ao administrador cabe “conhecer [as] necessidades para melhor entender o comportamento das pessoas e utilizar a motivação como um meio para melhorar a qualidade de vida” na organização (FARIA, 2002, p. 111), é absolutamente imperiosa a abertura urgente nas FA de canais de comunicação organizacionais, de trato o mais pessoal e individualizado possível, entrevistas, por exemplo, de modo a permitir aos profissionais a manifestação de seus anseios, com vistas à possível conciliação de interesses. Neste sentido, Ticom (2003), ao propor um novo modelo de assessoramento jurídico para o EB, com um viés de anticontencioso, o faz exatamente com fulcro no fato de que o atendimento às necessidades humanas anula, reduz ou, no mínimo, equaciona o conflito, além de motivar o homem; razão pela qual a quase totalidade das organizações modernas se preocupa em evitar a lide, e estabelece mecanismos próprios de autoavaliação e resolução de conflitos, a fim de atender tanto ao pessoal interno como a terceiros. Exemplo disto são as ouvidorias. Ticom (2003) argumenta que, se alguém julga possuir um direito subjetivo e o requer à organização ou solicita algo que, embora não lhe seja assegurado por nenhum dispositivo normativo, entenda ser possível seu atendimento com benefícios mútuos, para si e para a organização, antes de qualquer julgamento, ou préjulgamento, dever-se-ia indagar se alguma necessidade (Maslow) ou fator (Herzberg) está deixando de ser atendido, até porque a solução de conflitos, no sentido técnico da palavra, ressalte-se, não obriga a relação entre a organização e seu colaborador avançar para o nível de confronto, quiçá pela via regulamentardisciplinar. Assim sendo, sustenta Ticom (2003) que o estabelecimento de uma estrutura de anticontencioso transcende a subjetividade de uma argumentação quanto ao maior ou menor grau de atenção para a componente motivacional e adentra a seara objetiva da economia de meios. Uma solução administrativa, máxime com benefícios mútuos, é, indubitavelmente, menos onerosa para as partes, 72 sob quaisquer aspectos, do que uma demanda judicial e/ou a perda do capital intelectual. O anticontencioso é um princípio a ser aplicado para solução de controvérsias, bastante debatido atualmente em diversos círculos acadêmicos e profissionais, em especial entre operadores do Direito. Caracteriza-se por ser uma nova concepção que transcende a simples proposta de se evitar, eliminar ou anular o conflito mediante prevenção; corresponde à adoção de medidas de conciliação, mediação e arbitragem. É um princípio de ação, o qual, evidentemente, deve ser aplicado atendendo as peculiaridades de cada organização. Não se trata de copiar modelos prontos, senão criar mecanismos, rotinas administrativas e, principalmente, adotar postura comportamental compatível com o princípio norteador descrito. Questões como movimentações para outras cidades ou para organizações militares (OM) e reorientação ou recolocação profissional podem ser muito bem conduzidas por meio de negociação. Não é necessário às FA evitar o diálogo como forma de afirmação de que o interesse organizacional deva prevalecer na decisão ou escolha. Algo como – preencha o papel ou a listagem disponibilizada on-line e aguarde a soberana vontade organizacional se manifestar –, tudo cercado de profundo sigilo, em nada contribui para a motivação. O profissional qualificado tem ciência e consciência dos limites possíveis, mas, também, deseja ser reconhecido, e, como tal, ouvido. A propósito, em palestra ao CAEPE, na ESG, em 2011, ao abordar o tema – processo decisório –, a Profª Danielle Migueletto, do Instituto COPPEAD de Administração da UFRJ, argumentou que as organizações, em geral, ainda hoje se utilizam muito dos mecanismos do tipo comando e obediência, embora necessitem empregar com mais intensidade os instrumentos de mediação, conciliação e arbitragem (informação verbal)14. 4.4.1 O papel da negociação na gestão estratégica de pessoas Caravantes (1998) afirma que, dentre tantas definições encontradas para organização, Peter Drucker, considerado o pai da Administração Moderna, é quem melhor vem lidando com o conceito. Para Drucker (1994 apud CARAVANTES, 1998, 14 Palestra proferida por Danielle Migueletto no Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) da Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 20 set. 2011. 73 p. 27, grifo nosso), “uma organização é um grupo humano, composto por especialistas que trabalham em conjunto em uma atividade comum”. A gestão estratégica de pessoas, segundo Dutra (2011, p. 67-68, grifo nosso), pode ser definida “como um processo estruturado de interação das pessoas, [...] entre si e com a organização e/ou negócio, de forma a construir um projeto coletivo de desenvolvimento”. Embora a origem da palavra estratégia esteja vinculada à atividade militar, pois significa literalmente – a arte do general –, derivada do grego strategos (general), no contexto atual da dialética organizacional, é empregada como a arte de solução de problemas no sentido de assegurar-se o alcance dos objetivos definidos. Estes, porém, vistos sob um prisma de conciliação de interesses, com o intuito de obter-se o melhor de um capital intelectual motivado, em face de um ambiente competitivo. A propósito, a definição dos objetivos de uma organização nasce em decorrência natural da interpretação de sua missão e visão, à luz de seus princípios, valores e crenças. Afirmam Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2004, p. 60, grifo nosso): A análise das organizações bem-sucedidas leva-nos a constatar um fato marcante: sua filosofia básica (princípios, crenças e valores compartilhados) influencia muito mais as suas realizações do que seus recursos econômicos e tecnológicos. De fato, o êxito de uma organização irá cada vez mais depender de uma sólida base de princípios, crenças e valores institucionais que permita orientar e coordenar esforços e talentos individuais e coletivos visando a metas e objetivos maiores. Segundo Vilas Boas (2005), para a consecução desses objetivos, formula-se uma estratégia organizacional, a partir dos objetivos globais e setoriais, bem como da missão e visão da organização, utilizando-se dois tipos de análise: do ambiente externo e do ambiente interno. Aquela visa à avaliação das oportunidades a serem aproveitadas e das ameaças a serem neutralizadas ou evitadas, no contexto externo à organização, enquanto esta dos pontos fortes e fracos da própria organização. No modelo proposto por Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2004), a GP está indissociavelmente relacionada ao conceito de uma nova organização, na qual estão presentes, como princípios: gestão estratégica, o enfoque sistêmico, sólida filosofia básica (princípios, crenças e valores institucionais), isto é, seu credo institucional, tecnologia da informação e a dimensão humana da qualidade. 74 A representação gráfica da formulação da estratégia organizacional, segundo Chiavenato (1999, p. 56 apud VILAS BOAS, 2005, p. 14)15, e a representação esquemática do modelo de Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2004) são as seguintes: Missão Para onde queremos ir? Visão Objetivos Organizacionais O que há no ambiente externo? O que temos na empresa? Análise ambiental Análise organizacional Quais as oportunidades e ameaças que existem no ambiente? Quais as forças e fraquezas que temos na organização? Estratégia Organizacional O que devemos fazer? Figura 2: A formulação da estratégia empresarial Fonte: Chiavenato (1999, p. 56 apud VILAS BOAS, 2005, p. 14). Meio Ambiente - Planejamento de pessoal Estratégias genéricas - Recrutamento, seleção contratação de pessoal Gestão estratégica Princípios Processos Sistêmicos Estratégias de GP Gestão de Pessoas (GP) e - Administração de cargos e salários - Planejamento de carreira - Avaliação de desempenho - Treinamento e desenvolvimento - Clima organizacional Figura 3: Um modelo de gestão de pessoas Fonte: Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2004, p. 18, grifo nosso). 15 CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 75 No modelo apresentado encontram-se dispostas sete estratégias, ou, em outras palavras, os principais aspectos, para os quais as ações devam ser direcionadas, em uma visão estratégica da organização e “que dizem respeito à função de gestão de pessoas: o planejamento, a captação e contratação, a manutenção, a motivação e bem-estar, o desenvolvimento das habilidades, o desempenho, a perspectiva de carreira, os salários e os benefícios” (TACHIZAWA, FERREIRA e FORTUNA, 2004, p. 127, grifo nosso). Barnard16 (apud CHIAVENATO, 2009) define uma organização como um sistema de atividades conscientemente coordenadas entre duas ou mais pessoas, onde a cooperação entre estas é essencial para sua existência, daí afirmar que só existe organização quando: há pessoas capazes de se comunicarem e dispostas a contribuir com ação, com vistas a um propósito comum. Em relação ao processo de comunicação, Stephen Jobs afirma que “a única chance que temos de nos comunicarmos é com o sentimento” (JOBS apud BEAHM, 2011, p. 50, grifo nosso), ou seja, é preciso colocar-se para fora o que se sente e o que se deseja, enfim, verbalizar, sendo necessária a correspondente atenção do interlocutor, ainda que de opinião discordante. Do exposto, duas conclusões podem ser obtidas: a moderna organização, aquela capaz de enfrentar os desafios demandados por um ambiente de incertezas, onde o capital intelectual figura como diferencial competitivo, é aquela onde o conceito de atividade comum, de Drucker, abrange objetivos comuns entre pessoas e organização; e a GP não apenas deve estar presente no planejamento estratégico, ela, de fato, se constitui em seu núcleo central, ou seja, o centro das ações, seu core business; e como não há outra forma de tratar pessoas a não ser dialogando e negociando, tem-se a relevância da comunicação organizacional e da infraestrutura ofertada ao seu desenvolvimento. Então, surge a pergunta: mas, afinal, quais premissas devem servir como base conceitual para a elaboração de um modelo de GP? A resposta de Dutra (2011) envolve quatro aspectos, denominados como os focos de sua proposta. 16 BARNARD, Chester I. As funções do executivo. São Paulo: Atlas, 1971. 76 O desenvolvimento em substituição ao controle, já que “a obtenção do comprometimento entre a organização e as pessoas pressupõe as ideias de desenvolvimento e satisfação de ambas e a consistência no tempo de gestão de pessoas” (DUTRA, 2011, p. 44). Prioridade para os processos em detrimento dos instrumentos, tendo como metas: a transparência, a simplicidade e a flexibilidade. Os processos são o que definem uma percepção comum da realidade, permitem o estabelecimento de compromissos e a definição de papéis e responsabilidades. Nos modelos onde há comprometimento com a realidade organizacional, os processos são privilegiados em relação aos instrumentos, o que já não ocorre nos modelos tradicionais. Há que se identificar o que é fim e o que é meio para atingi-lo. Por vezes prioriza-se a forma, o instrumento, em detrimento do conteúdo, da finalidade. Perde-se o foco. Interesse conciliado como foco em vez de interesse exclusivamente organizacional, buscando-se equilíbrio nas relações com respeito às diferenças individuais e grupais para alavancagem mútua. Pessoas e grupos não podem ser feitos de tábua rasa pelas práticas de gestão. Foco em um modelo estratégico e integrado, isto é, com visão sistêmica, em substituição àquele constituído por partes desarticuladas entre si. Os processos ou práticas das funções de GP devem estar integrados e não segmentados, como por exemplo, o de capacitação dissociado de remuneração; o que lembra a questão dos departamentos ou diretorias de ensino distintas da área de pessoal. Assim, dentre tantos aspectos que compõem a gestão estratégica de pessoas, as categorias de movimentação estão intimamente relacionadas ao problema do presente estudo, pois tratam de atração, retenção e qualificação de talentos, o core business citado por Souza (2005). São elas: captação, internalização, transferência, expatriação e recolocação. Conforme observado preliminarmente, não é objetivo deste trabalho a apresentação de modelos prontos, mas, sim, a propositura de reflexões apontando sugestões. Neste sentido, embora existam considerações relevantes às diversas categorias, duas demandam enorme sensibilidade e interesse: a internalização e transferência. Considerando que internalização é o conjunto de atividades tendentes à construção de uma relação entre a pessoa e a organização, Dutra (2011) entende 77 que este processo se inicia na percepção da imagem da organização pelo mercado ou no contato inicial com a pessoa, momento em que expectativas mútuas começam a ser construídas, o já mencionado contrato psicológico. Uma das práticas de internalização comumente adotadas pelas organizações é a negociação de expectativas, ou seja, “ações desenvolvidas durante os contatos preliminares [...] [onde] são avaliadas as expectativas entre a pessoa e a organização, tais como: condições de trabalho, possibilidades de desenvolvimento e carreira, formas de recompensa [...] etc” (DUTRA, 2011, p. 88, grifo nosso). De acordo com Dutra (2011), em que pese o relacionamento entre as partes merecer uma atenção constante, esta prática é, via de regra, trabalhada no começo e abandonada posteriormente. Poucas organizações mantêm-na perene. Enfim, de nada adiantam as melhores ações de recepção se não há continuidade ou coerência nas subseqüentes. Ressalta, ainda, que devem ser criados “canais de comunicação para que a pessoa possa manifestar-se sobre a adequação de sua relação” com a organização (DUTRA, 2011, p. 88, grifo nosso). Observa-se que a corrente predominante na Administração recomenda o acompanhamento constante, desde o início da relação profissional, a fim de identificar-se uma eventual necessidade de sua adequação, o que pode apontar à conveniência, dentre outras ações, de uma transferência ou recolocação, em função de uma reorientação de interesses, seja por parte da pessoa ou da organização. A transferência, normalmente, ocorre como um movimento interno na organização, com mudança de área de atuação, carreira ou área geográfica e a recolocação no mercado é uma característica da modernidade em GP, em função da longevidade profissional e do encurtamento das carreiras, razão pela qual “as empresas e os profissionais de gestão de pessoas devem estar mais atentos para pensar a movimentação das pessoas de forma ampla, inclusive para fora da empresa [organização]” (DUTRA, 2011, p. 94, grifo nosso). O diálogo e a negociação podem conduzir à convergência de interesses. Os aspectos mencionados demonstram a imperatividade da existência de canais de comunicação verdadeiramente abertos, ou seja, em seu sentido stricto, permitindo a troca de informações, o fluxo em ambos os sentidos, de modo a viabilizar a 78 negociação, sem a qual não há o “ganha-ganha” e o capital intelectual da organização pode vir a sofrer significativas perdas. Ora, é exatamente neste ponto da análise que se deve refletir acerca da manifestação da clássica visão mecanicista do recurso humano, por meio do modus operandi das FA na gestão de pessoal, uma visão, via de regra, unilateral e desprovida de diálogo em relação à orientação ou reorientação da vida profissional de seus integrantes, com muitos processos decisórios desta natureza cercados de sigilos absolutamente desnecessários e contraproducentes. A propósito, não há nenhuma heresia dogmática em se requerer transparência nos processos em que, em razão da atividade ou função, não sejam exigidos o sigilo. A hierarquia e disciplina permanecem valores basilares, sem as quais nenhuma estrutura militar sobreviveu ou sobrevive. O que não se pode é mascarar a existência de práticas, cuja origem está no modelo organizacional mecanicista-industrial, ou sequer admitir a possibilidade de sua existência ou de seu questionamento, argumentando-se, sem fundamento, que isto atingiria algum dos pilares institucionais. Trata-se, apenas, de estereótipo, preconceito ou conveniência. Portanto, a negociação das carreiras, por exemplo, é algo que se deve considerar. Aliás, em relação à alteração no contrato psicológico, por um redirecionamento de interesses pessoais, na mesma linha de Prather (2005), quanto à inexistência, hoje, de uma carreira retilínea, Souza Neto (2005, p. 34-35, grifo nosso) sustenta: A carreira não deve ser entendida como um caminho rígido a ser seguido pela pessoa, mas como uma sequência de posições e de trabalhos por ela realizados. Essa sequência, articulada de modo a conciliar o desenvolvimento individual com o da empresa, é o que chamaremos de carreira. Retomando-se à questão do modus operandi, sua gênese está na cultura organizacional. O modelo adotado é o autocrático, acerca do qual Max Gehringer (1998) afirma que sua preocupação é convencer a pessoa de que a organização lhe oferta todo o necessário e, também, que está lhe fazendo o enorme favor de mantêla empregada. Assim, em retribuição, aquela lhe deve obediência irrestrita. Quando o colaborador se demite é rotulado de traidor da causa e ao ser demitido é visto como um ingrato expulso do paraíso organizacional. 79 De pronto, verifica-se que o sistema autocrático é insustentável no contexto hodierno. Weinberg (2005 apud Souza Neto, 2005)17 sintetiza a atual realidade em GP, afirmando que, sob uma visão moderna e estratégica, o mercado de trabalho é um ambiente de troca, de negociação, onde a pessoa oferece seu talento ou capacidade, buscando a satisfação de necessidades físicas, psicológicas e sociais, entre outras, enquanto a organização, fornecendo-lhe as condições para tal, usufrui dos benefícios advindos desta habilidade. Ainda, complementando as observações quanto à autocracia na organização, especificamente no tocante à criatividade, de forma objetiva, realística, Gehringer (1998) adverte que esta forma de gestão traz o marcante malefício de impedir a formação de sucessores, pois, sendo grande a concentração de poder, ao ocorrer substituição da liderança por pessoas condicionadas à subserviência por longo tempo, “o substituto irá se comportar como um cão amestrado que se perdeu do dono e não saberá mais para que lado balançar o rabo [...]” (GEHRINGER, 1998, p. 24, grifo nosso). Muito embora, principalmente em se tratando de FA, seja necessária uma padronização de determinados procedimentos e atitudes, a fim de possibilitar a identificação das pessoas como profissionais da organização, ou seja, nas palavras de Maanen (1989)18, um processo de socialização das pessoas na organização, Dutra (2011) recomenda que esta não desencadeie um processo de adestramento comportamental, isto é, a repressão ou a padronização do comportamento das pessoas e suas relações com a organização, sob pena de, se assim o fizer, eliminar “as possibilidades de contribuições criativas das pessoas, [...] perdendo toda a riqueza da diversidade oferecida pelas diferenças individuais” (DUTRA, 2011, p. 89, grifo nosso). A individualidade, portanto, não somente deve ser preservada e, não, eliminada; como, também, caracteriza-se como de extrema importância para a motivação e a criatividade. Observa-se, nas FA, que a preocupação com o processo de internalização existe somente no início do vínculo, partindo-se do pressuposto de que a pessoa aceitou uma proposta de casamento profissional, com regras imutáveis, de uma 17 WEINBERG, Monica. O que o país pode aprender com o bem-sucedido modelo de educação implantado na Coréia do Sul. Revista Veja, Rio de Janeiro, fev. 2005. 18 MAANEN, J. V. Processando as pessoas: estratégias de socialização organizacional. In: FLEURY M. T. L.; FISCHER, R. M. Cultura e poder nas organizações. São Paulo: Atlas, 1989. 80 carreira retilínea, não passível de reorientação profissional, com ponto de partida e de chegada muito bem definidos, o qual só será atingido pelo melhor, por aquele que superar todos os obstáculos e provas de seleção da organização, segundo critérios fixados unilateralmente por esta. Assim sendo, a percepção da proposta psicológica passada à pessoa, em geral, muito jovem, é exatamente a mencionada por Gehringer (1998) de que ela deve se sentir imensamente grata à organização por ter sido acolhida em seu seio, cujo plano de carreira ofertado é perfeito e, caso não venha a se satisfazer, o que é visto como ingratidão e problema de natureza pessoal, pode ou deve buscar a recolocação, mas, atentando para os riscos do mercado de trabalho, o chamado lá fora. Aliás, é fato interna corporis público e notório que, em especial durante as três últimas décadas do século passado, comentários como – é, mas lá fora, o profissional A está ganhando apenas X – eram muito comuns como forma de realçar a necessidade de gratidão e assustar o indivíduo quanto aos riscos de uma recolocação no mercado. Este pensamento, presente no inconsciente ou consciente coletivo organizacional, desconsiderando as diferenças de qualificação nas comparações, por vezes ilógicas, em face do abismo entre as habilitações das pessoas comparadas, minimiza ao extremo o valor da individualidade, das denominadas habilitações ou competências pessoais, realça a necessidade de gratidão e serve como desestímulo à exteriorização de insatisfações de toda ordem, sejam salariais ou com o ambiente organizacional. A mensagem psicológica é a de que se a pessoa não estiver satisfeita pode se retirar da organização. Esta postura, em síntese, que ainda pode estar presente na atualidade nas FA, a bem da verdade desconsidera o fato de que foi a pessoa que a escolheu, sendo desta o papel apenas de selecioná-la dentre inúmeras outras, especificamente em razão de sua melhor qualificação, demonstrada em concurso público ou em outro processo seletivo. Logo, se há que se pensar em gratidão, que o ente organizacional também o faça, pois foi selecionado, dentre tantos, por uma pessoa para receber o seu talento. Mais recentemente, na primeira década deste século, possivelmente em face da perene estabilidade da economia nacional, com perceptível crescimento, e o consequente surgimento de novas oportunidades profissionais, não apenas com 81 oferta de melhoria salarial, mas, também, de desafios e espaços para realização pessoal, a perda de talentos começou a tornar-se objeto de considerações menos estereotipadas e a ser analisada sob um prisma de maior cientificidade. Todavia, ressalte-se, são reflexões preliminares, ainda prevalecendo nas FA uma tendência às respostas simplistas, do tipo: - isto é uma questão de salário. Um clássico exemplo, igualmente um fato organizacional público e notório, têm sido os comentários de jovens oficiais recém-formados em institutos de altíssimo nível, como o Instituto Militar de Engenharia (IME) e o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), quando, ao solicitarem demissão, apresentam como motivo predominante para a decisão a dissonância entre a proposta profissional original, geradora de expectativas de satisfação e realização pessoal, com as atividades atuais desenvolvidas em seus respectivos ambientes de trabalho. Exempli gratia, porém, de um case de sucesso em negociação organizacional, no sentido de conciliação de interesses, foi o do atual chefe do setor de fisioterapia do Hospital Militar de Área de Brasília (HMAB), o Tenente-Coronel de Infantaria do EB Rômulo Vaz Nogueira. Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 1987, desde o início da carreira interessou-se pela fisiologia do esforço, tendo realizado Curso de Instrutor de Educação Física na Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx). Ao longo de sua vida profissional foi redirecionando seu foco de realização pessoal para esta atividade, em função das experiências vividas e de sua filosofia de vida. Assim, como Oficial Superior, veio a cursar Fisioterapia. Com diversos cursos de especialização, experiência na atividade e reconhecido como profissional de elevada reputação na comunidade dos profissionais da área de saúde, hoje, todo seu vínculo afetivo-motivacional de natureza profissional, é no sentido desta atividade. Seu aproveitamento foi um caso de conciliação de interesses por oportunidade, isto é, sem planejamento prévio. O militar fora designado para a função de Fiscal Administrativo do HMAB e lá, em razão da dinâmica de eventos, por interesse mútuo, profissional e organização, veio a assumir o cargo atual. Sob o aspecto motivacional, a decisão parece ter sido acertada, conforme se observa, a partir de seus comentários: “-quando decidi cursar Fisioterapia, o fiz 82 porque queria seguir meu coração [...]; - gratificante é a pessoa fazer aquilo que gosta” (informação verbal)19. Contudo, há o problema da permanente vinculação, para todos os fins, à sua formação de origem, ou enquadramento funcional, no caso a Arma de Infantaria do EB. Assim, ainda que tenha o melhor desempenho possível em sua função atual, existem parâmetros determinantes e limitadores para sua progressão funcional. Casos assim de transferência, por mudança de área de atuação, não são mais tão raros nas FA, conforme informações e relatos correntes obtidos no dia a dia organizacional. A atividade de assessoramento jurídico do EB é um exemplo manifesto de ampla negociação, em face da premente necessidade da organização. Todavia, o que se faz necessário é um planejamento estratégico para otimização no aproveitamento do capital intelectual, permitindo-se a conciliação de interesses, em atendimento, também, aos princípios básicos da Administração Pública, o que demanda estudos técnicos, administrativos e jurídicos. Desta forma, se a análise de situações, como as mencionadas ut retro, for realizada sob o escopo de ciências como a Administração e a Psicologia, dentre outras, o decisor estratégico poderá contar com uma série de respostas tecnicamente precisas, e, não, de achismos, o que lhe permitirá a formulação de melhores políticas e estratégias organizacionais. Para isto, porém, percepção quanto à origem do eventual conflito, diálogo e negociação são imprescindíveis. 4.4.2 A função de uma ouvidoria Não é possível decretar-se o fim do conflito no relacionamento humano. O que se deve fazer é assimilar naturalmente esta realidade. A imagem de que qualquer anseio pessoal, diferente daquele considerado como sendo o organizacional, seja inconcebível, constitui-se em uma simplificação impossível da complexidade das relações humanas, o que só pode realmente ocorrer mediante a criação de estereótipos. Há necessidade, portanto, de trazer a questão para o nível mental do consciente, ou seja, debatê-la e tratá-la adequadamente. 19 NOGUEIRA, Rômulo Vaz. Entrevista concedida a Leonardo da Cruz Ticom. Rio de Janeiro, 19 set. 2011. 83 Este é o motivo pelo qual a esmagadora maioria das organizações, públicas e privadas, entendendo a importância do problema, vem criando suas ouvidorias. Uma ouvidoria, em um sentido moderno de atuação, não é uma “central de reclamações”, o que, aliás, já se confrontaria com a cultura organizacional militar. Tampouco desempenha apenas o papel de encaminhamento de informações aos respectivos setores interessados. A atual percepção do papel de uma ouvidoria é agregar valor na solução dos problemas organizacionais, inclusive nas demandas, sejam com pessoal próprio, clientes ou terceiros, mediante relacionamento pró-ativo com outros entes organizacionais, internos ou externos. Portanto, estereótipos não se coadunam à real dimensão de sua importância, principalmente no endomarketig. A ouvidoria é o elemento organizacional facilitador, por excelência, da aplicação do princípio do anticontencioso. Conforme já mencionado, as peculiaridades organizacionais devem ser consideradas na estruturação de uma ouvidoria, em especial na esfera da cultura militar, o que recomenda, portanto, um delineamento normativo adequado e específico. Todavia, há que se cuidar para esta não transformar-se em uma disfunção da Burocracia Weberiana, aquilo que se denomina de órgão burocrático, ou seja, o oposto em termos da pró-atividade desejável. A observação é relevante máxime quando a natureza específica de determinado assunto ou o volume de demandas na matéria apontam a conveniência de uma ouvidoria especializada. Assim, pode-se admitir a possibilidade de uma estrutura de ouvidoria própria em gestão de pessoal. É natural que diversos órgãos da área de pessoal das FA já possuam suas ouvidorias, mas não com o foco proposto neste estudo. Atuam com recebimento de informações e solicitações em relação às suas tarefas tradicionais, às suas funções ordinárias. O que se propõe neste trabalho é um espaço de manejo das necessidades e interesses tanto pessoais como organizacionais, observando-se, obviamente, os preceitos da Ética Militar e os princípios básicos das FA, hierarquia e disciplina. Assim, evidentemente que não lhe seriam encaminhadas, ab initio, toda e qualquer pretensão, principalmente por haver uma legítima preocupação com a questão da preservação dos canais e das esferas de competência próprias. Porém, adequadamente desenhada, dimensionada, estruturada e sob o manto de um 84 arcabouço normativo ajustado à sua finalidade, uma ouvidoria para GP pode significar a construção de um locus organizacional para avaliação e eventual revisão do contrato psicológico original. Cumpre destacar o pensamento de Levinson (1997c, p. 211, grifo nosso) quanto ao fato de que “nenhum objetivo terá poder de incentivo significativo se for proveniente de escolhas forçadas e não relacionadas aos sonhos subjacentes do indivíduo, seus desejos e aspirações pessoais”, pois “a qualidade é, na verdade, uma conseqüência natural de uma busca apaixonada por aquilo que se faz” (PETERS, 1998 apud TACHIZAWA, FERREIRA e FORTUNA, 2004, p. 67, grifo nosso)20, 4.4.3 Diálogo organizacional na Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Em entrevista acerca dos aspectos comunicação organizacional e avaliação de desempenho, o Coronel da PMDF Paulo Roberto Batista de Oliveira declarou que é realizada tanto a avaliação de desempenho individual como a do grupo de trabalho e que seu resultado é fornecido ao avaliado sem necessidade de solicitação, ou seja, é espontaneamente informado pela Força. Quanto ao aspecto entrevista, afirmou que esta ferramenta sempre é utilizada antes de qualquer transferência voluntária ou convite, tendo sido ele próprio, por exemplo, entrevistado para designação do cargo a ser ocupado após a conclusão do CAEPE em 2011, e, no caso de Oficial no último posto, esta é feita pelo próprio Comandante da Força. Com relação ao diálogo na gestão do pessoal, considera que a política de pessoal na PMDF está calcada nos seguintes aspectos: o interesse institucional, com a observância das características e especificidades do cargo e do profissional, para fins de classificação; o comprometimento pessoal dos integrantes da Força, quando voluntários para cursos, mediante assinatura de Termo de Compromisso, no sentido de serem empregados em organizações militares correspondentes às especializações realizadas; 20 PETERS, T. O ciclo da inovação. São Paulo: Campus/Elsevier, 1998. 85 aceitação da manifestação do interesse pessoal do militar, classificando-o onde este julgue que melhor contribuirá para o desenvolvimento organizacional; e interesse familiar, por uma questão médica devidamente comprovada, por exemplo, o qual terá prioridade sobre quaisquer outros. Paulo Roberto B. de Oliveira afirmou, ainda, que tem observado, nos últimos anos, a adoção pelo Departamento-Geral de Pessoal da PMDF, como política, solicitar ao interessado a indicação de três organizações militares para sua classificação, em ordem de prioridade, dentre as que dispõem de vaga e que, a juízo daquele departamento, sejam correspondentes às características profissionais do militar, sendo comum o atendimento na primeira opção, e, caso isto não ocorra, o militar será entrevistado, oportunidade na qual poderá argumentar e justificar sua necessidade (informação verbal)21. 4.5 INICIATIVAS E PERSPECTIVAS Conforme o pensamento da ESG (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 2009a, p. 31), o Poder Nacional é “a capacidade que tem o conjunto de Homens e Meios que constituem a Nação para alcançar e manter os Objetivos Nacionais, em conformidade com a Vontade Nacional”. Para tal, embora uno e indivisível, requer harmonia e equilíbrio entre suas manifestações, ou expressões: a política, a econômica, a militar, a científica e tecnológica e a psicossocial. A Expressão Psicossocial, manifestação predominantemente psicológica e social do Poder Nacional, tem como fundamentos: a pessoa humana, o ambiente e as instituições sociais. No pensamento institucional, níveis de bem-estar são um dos fatores desta Expressão, ou seja, uma das variáveis que indicam estados e comportamentos, bem como “diferentes formas e variações de intensidade das interações mantidas entre os [seus] diversos componentes analíticos” (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 2009b, p. 18, grifo nosso). Embora não se trate de um elenco numerus clausus, mas, sim, exemplificativo, são considerados mais relevantes desta Expressão, no fator acima 21 OLIVEIRA, Paulo Roberto Batista de. Entrevista concedida a Leonardo da Cruz Ticom. Rio de Janeiro, 08 set. 2011. 86 mencionado: saúde, habitação, trabalho, seguridade social, previdência social, assistência social, segurança individual e comunitária e urbanização. A compreensão da importância do trabalho pelo pensamento da ESG (2009) foi descrita ao abordar-se o sentido teleológico da GP, onde se pôde perceber a sintonia de ambas as abordagens. O alinhamento filosófico-conceitual identificado comprova a premissa argumentativa deste estudo no sentido de que a sensação de segurança e bemestar, percebida pela pessoa em relação ao seu trabalho, no caso sob análise, do profissional das FA, proporciona um fortalecimento da Expressão Psicossocial. Portanto, o uso de ferramentas de gestão, como aquelas disponibilizadas pela GP, atuam, em sentido finalístico, como elementos agregadores do Poder Nacional, o que não permite sua desconsideração como reflexão teórica ou aplicação prática. Em que pese a importância assinalada, a apreciação de determinadas políticas e estratégias do Estado brasileiro para as FA ou não apresentam atenção para aspectos motivacionais de seus integrantes ou não o fazem com a devida nitidez. O Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005, aprovou a Política de Defesa Nacional (PDN). Muito embora se possa argumentar tratar-se de um documento da Alta Administração Pública, cujo caráter delineador de diretrizes genéricas não recomendasse determinados detalhamentos mais específicos, como os relacionados à Política de Pessoal para as FA, mas devesse apenas induzir uma percepção pela leitura das entrelinhas da norma em exame, o fato é que nem assim se pode perceber algo significativo no sentido de afastar-se o primado mecanicista do RH, em favor de um estímulo motivacional. Na seção - 6. ORIENTAÇÕES ESTRATÉGICAS – o inciso VI do parágrafo 6.2 trata da “existência de forças armadas modernas, balanceadas e aprestadas” como um dos pressupostos básicos de capacidade militar com credibilidade para gerar efeito dissuasório (BRASIL, 2005, p. 6, grifo nosso). Apesar de a terminologia militar ter um sentido técnico para o termo aprestamento, o que até justificaria seu emprego na frase, o recorrente uso de termos ligados ao funcionamento de maquinários e procedimentos mais afetos ao condicionamento de animais, reforça a sensação de desconsideração quanto à dimensão humana e sua consequente qualidade na ação. 87 Em uma leitura segundo o pensamento da ESG (2009a), o Homem nacional é quem pegará em armas para defender sua Terra e suas Instituições e não o fará satisfatoriamente se não estiver motivado, conforme sobejamente demonstrado pela História. Assim, uma alternativa possivelmente melhor de técnica de redação para a PDN teria sido resguardar a preocupação com o melhor recurso das FA, qual seja, seu capital intelectual, descrevendo-se a “existência de forças armadas modernas, preparadas e motivadas”. A Estratégia Nacional de Defesa (END), aprovada pelo Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008, preconiza três eixos estruturantes de ações estratégicas de médio e longo prazo, a fim de modernizar a estrutura nacional de defesa: reorganização das FA, reestruturação da indústria brasileira de material de defesa e política de composição dos efetivos das FA. À semelhança do argumentado em relação à PDN, poder-se-ia ter como eixo estruturante, em vez deste último, e de forma mais abrangente, uma política de gestão do pessoal das FA, o que englobaria todas as outras atividades, inclusive saúde, formação, definição de habilitações e capacitações necessárias, além da própria composição de efetivos. Das vinte e duas diretrizes constantes da END, duas referem-se ao pessoal: a de número 8 (oito), “reposicionar o efetivo das três Forças”, e a de número 15 (quinze), “rever, a partir de uma política de otimização do emprego de recursos humanos, a composição dos efetivos das três Forças, de modo a dimensioná-las para atender adequadamente ao disposto na END” (BRASIL, 2008, não paginado). Aquela se refere somente à alteração na distribuição espacial de unidades (organizações militares) e esta se encerra em seu próprio texto, não havendo complementos explicativos, de cuja leitura se extrai a preocupação de natureza apenas quantitativa e não qualitativa. Na parte relativa ao EB, especificamente, há uma referência quanto à necessidade de todas as brigadas contarem com “recursos humanos com elevada motivação e efetiva capacidade operacional, típicas da Brigada de Operações Especiais [...]” (BRASIL, 2008, não paginado). Assim, considerando-se que um referencial foi estabelecido, sugere-se a identificação deste suposto diferencial motivacional, suas características, causas e desdobramentos, a fim de aquilatar-se a 88 real possibilidade de aplicação de idênticos ou semelhantes estímulos às demais brigadas. Finalmente, no tópico - II-MEDIDAS DE IMPLEMENTAÇÃO – na área referente aos Recursos Humanos, narra-se “promover a valorização da profissão militar [...] assim como fomentar o recrutamento, a seleção, o desenvolvimento e a permanência de quadros civis, para contribuir com o esforço de defesa” (BRASIL, 2008, não paginado). A continuidade do texto não indica com clareza a forma como se pretende valorizar a profissão, o que conduz cada analista à formulação de seu próprio juízo de valor, podendo-se, desta forma, inferir-se que se trata somente de melhoria em um dos estímulos exteriores, salários, até porque manifesta preocupação com atração, retenção e qualificação apenas de pessoal civil. O exame da documentação relacionada à gestão de pessoal nas FA, como um dos aspectos da análise do cenário atual, não sinaliza, em regra, nas três Forças, perspectivas de mudanças significativas no trato do tema, embora ações, como as que serão descritas a seguir, recomendem atenção e acompanhamento, em função de seu dúplice potencial, isto é, de resultados favoráveis ou não, dependentes das ações futuras decorrentes da interpretação da proposta. A Portaria nº 075-Estado-Maior do Exército (EME), de 10 de junho de 2010, aprovou a Diretriz para Implantação do Processo de Transformação do EB. Neste instrumento normativo, um dos vetores de transformação é o de RH, para o qual foi constituído um grupo de trabalho (GT). A norma estabelece como objetivo: “redimensionar espacial, quantitativa e qualitativamente os RH do EB”. A descrição de sua tarefa precípua é: “propor medidas para reestruturar a sistemática de provimento de cargos e funções no âmbito do EB, para reduzir o percentual de pessoal permanente nos quadros de cargos da Força”. Já como tarefa secundária tem: “propor, se necessário, outras medidas de reestruturação requeridas” (BRASIL, 2010c, p. 57, grifo nosso). É evidente que expectativas são criadas, embora se deva registrar que o foco prioritário proposto não foi o de uma revisão geral do modelo de gestão, tãosomente ajustes pontuais. Todavia, como ainda se vive a dinâmica dos debates, estudos e propostas, há oportunidade para reflexão mais ampla acerca do modelo de gestão em vigor, o que avulta de importância o papel da liderança organizacional. 89 Na publicação - O processo de transformação do Exército – disponível no site do EB, a denominada gestão dos RH é listada como o 4º vetor de transformação. Foram selecionados dois eixos de atuação: o de ajuste da composição dos efetivos e o da gestão de pessoal. Àquele foram enumeradas várias ações, todas típicas de um viés de racionalização de efetivos, não havendo, em essência, nenhuma proposta sob o enfoque de GP. Todavia, este último eixo, denominado gestão de pessoal, apresenta uma nova abordagem, a de gestão de competências, onde, após tecer breves comentários sobre necessidades de mudanças na Gestão do Conhecimento, em decorrência dos fatores ambientais, sustenta que “as próprias carreiras necessitam ser revistas, no sentido de flexibilizar os requisitos de progressão funcional, permitindo um maior aproveitamento das especializações e das aptidões adquiridas ao longo da vida profissional” (BRASIL, 2011?b, p. 37, grifo nosso). A redação do texto supramencionado pode sugerir um natural alinhamento conceitual às propostas de GP, em face até do vocábulo utilizado, gestão de competências. No entanto, não é prudente uma leitura imediata neste sentido, pois, se naturalmente já são possíveis distintas interpretações para um mesmo texto, quando há, inclusive, identidade ou unicidade nos pressupostos teóricos, máxime em se considerando a razoável probabilidade de ter havido uma percepção quanto à necessidade de modificações, sem, contudo, ter ocorrido a propositura de uma mudança organizacional em sentido stricto, isto é, com mudança comportamental, nos termos conceituais de GP. As ações decorrentes da diretiva registrada no documento, sob orientação da liderança organizacional, é que definirão o alcance prático da proposta. No tocante às iniciativas em curso, deve-se evidenciar que, sob o enfoque específico da busca por um melhor aproveitamento das habilitações e capacitações do pessoal, foi aprovada no EB, em 21 de julho de 2011, a Portaria nº 090-DECEx, estabelecendo a Diretriz para a Implantação do Sistema de Gestão de Talentos do DECEx – SIGESTA. Referenciando, dentre outras normas, a própria Portaria nº 075-EME, em sua concepção geral, o SIGESTA propõe-se a ser um “instrumento eficaz de apoio à decisão para simplificar, fundamentar e dar maior transparência ao processo de 90 seleção de pessoal para o desempenho de funções [...]” no sistema do DECEx (BRASIL, 2011c, p. 26, grifo nosso). No tópico descritivo de sua concepção geral, pode-se perceber, de imediato, o leitmotiv da norma, qual seja, permitir a identificação do potencial humano da organização, mediante a estruturação de um banco de dados, denominado de Banco de Talentos (BanTal). Assim, para o DECEx, Gestão de Talentos é uma estratégia institucional, um conjunto de processos integrados e complexos destinados ao conhecimento e ao desenvolvimento das potencialidades dos integrantes do EB. A diretriz mencionada cita que o BanTal “é uma das principais ferramentas utilizadas para a gestão do capital intelectual, para transformar dados em informações combinadas e úteis” (BRASIL, 2011c, p. 28, grifo nosso). Especificamente sobre o papel do BanTal, o idealizador do SIGESTA, General de Brigada (Gen Bda) da Reserva Remunerada (R/1) Aragão, demonstrou a compreensão de que este, sendo um espaço onde os interesses pessoais serão apresentados com nitidez, por meio do relato de pesquisas, cursos, titulações e experiências profissionais, poderá até servir como ferramenta ou espaço para conciliação de interesses pessoais e organizacionais (informação verbal)22. A iniciativa do BanTal é, de fato, inspiradora; no entanto, há que se ponderar certos aspectos. O próprio Gen Aragão relata que alguns integrantes do EB questionam a serventia deste banco de dados, uma vez que o DGP já possui o seu próprio, com registros diversos de habilitações do pessoal militar. Sem adentrar no mérito técnico das diferenças, cabe ressaltar que a principal é a finalidade, i. e., o recém-proposto visa gerenciar o capital intelectual, o conhecimento, enquanto o do DGP destina-se às ações da tradicional gestão de RH nas FA, o conhecido departamento de pessoal, com tarefas como: selecionar, avaliar, controlar, catalogar, hierarquizar por mérito, dentre outras. Em face do exposto, mais uma vez o papel da liderança organizacional volta à tona no debate. Em síntese, existem inúmeras ferramentas à disposição dos decisores organizacionais, bem como são adotadas diversas iniciativas setoriais. Todavia, a questão fulcral cinge-se na visão do líder organizacional, pois o melhor aproveitamento de qualquer ferramenta ou processo dependerá, única e 22 ARAGÃO, A. Entrevista concedida a Leonardo da Cruz Ticom. Rio de Janeiro, 11 jul. 2011. 91 exclusivamente, da sensibilidade em se orientar seu uso de modo a obtê-lo. Nenhuma máquina, sistema ou recurso poderá fazê-lo, somente a visão do ser humano, em especial do líder. Assim, se a mudança organizacional inicia-se na mente humana, sendo considerada necessária e dita pretendida pelas FA, haja vista a END, espera-se que liderança organizacional promova a sinalização do rumo a ser seguido. As iniciativas estão presentes, porém a perspectiva em GP nas FA ainda é uma incógnita. Assim, é oportuno lembrar a reflexão de Alvin e Heidi Toffler (1994, p. 291, grifo nosso) no sentido de que “a promessa do século XXI irá evaporar-se com rapidez se continuarmos a usar as armas intelectuais de ontem”. 4.5.1 A pró-atividade como imperativo organizacional A Gestão do Conhecimento é, segundo Carvalho e Tavares (2001), algo que guarda semelhança com a cultura organizacional, pois é, na prática, uma postura organizacional, um estado de sensibilidade tendente a motivar os colaboradores de uma organização a produzir e explicitar, ou seja, entregar, no sentido mais completo da palavra, o seu conhecimento individual em favor da organização. Assim, sendo uma questão de sabedoria, se a organização não estiver sensibilizada, a aquisição de sistemas e ferramentas diversas não proporcionará a efetiva Gestão do Conhecimento. Como ferramentas, destacam-se o modelo de integração sistêmica e a infraestrutura de comunicações. Em referência àquela, Alvin e Heidi Toffler (1994, p. 99, grifo nosso) ressaltam sua importância, lembrando as palavras do General William G. Pagonis, em referência a Guerra do Golfo: Esta é a primeira guerra, na era moderna, em que cada chave de fenda, cada prego tem o seu paradeiro registrado. O que tornou isto possível para as forças armadas foram não apenas computadores, bancos de dados e satélites, mas também a integração sistêmica deles [...]. Com relação à infraestrutura de comunicações, os Toffler (1994, p. 99, grifo nosso) assinalam: Como as empresas de Terceira Onda, forças armadas de Terceira Onda requerem imensa e ramificada infraestrutura eletrônica. Sem ela, a integração sistêmica seria impossível. [...] Sem esse sistema nervoso, a integração sistêmica dos esforços teria sido impossível [...]. 92 Ainda como alerta ao papel coadjuvante das ferramentas, Kleber Nascimento (1977 apud ARAÚJO, 1994, p. 28, grifo nosso)23 adverte que o sistema fechado “tende a se concentrar em regras de funcionamento interno, a reverenciar o controle como critério primeiro da viabilidade organizacional e, por conseguinte, na ênfase em procedimentos e não em programas”. Nesta perspectiva, deve-se lembrar a lição de Carvalho e Tavares (2001, p. 46, grifo nosso) no sentido de que “o homem é o sujeito do conhecimento. É quem o faz acontecer. Se, por um único instante, negar-se a interpretar, a aprender, a questionar, todo o fluxo de formação do conhecimento estará prejudicado”. A propósito, em palestra ao CAEPE, na ESG, em 2011, acerca do tema – Gestão Estratégica da Inteligência e do Conhecimento –, o Prof. Dr. Marcos Cavalcanti, do Instituto COPPEAD de Administração da UFRJ, afirmou que criatividade, autoestima e autoconfiança são essenciais às pessoas para desenvolverem todo o seu potencial na Sociedade do Conhecimento. Em resposta ao questionamento acerca de quais são os principais cuidados a serem observados pelas organizações públicas e privadas, em relação ao seu capital intelectual, no sentido de se otimizar a Gestão do Conhecimento, sustentou que a organização deve, inicialmente, estabelecer seus objetivos, isto é, saber efetivamente o que deseja alcançar, ter clareza em relação a este aspecto. Assim, poderá definir as competências julgadas necessárias aos seus colaboradores, para, em seguida, elaborar as estratégias no sentido de identificar e desenvolver os talentos de seu capital intelectual (informação verbal)24. Desta forma, a questão da pró-atividade como imperativo à moderna organização fica registrada, de forma lapidar, na abordagem de Hehn (1999) quanto ao que denomina de Síndrome da Princesinha. Para o autor, muitas organizações se comportam como uma princesinha presa em seu castelo à espera de um salvador, o que tem sido responsável pelo insucesso de inúmeras empreitadas. É o comportamento típico de pessoas e organizações que não agem como sujeitos da ação, mas como observadores de algo que lhes foge ao controle. 23 NASCIMENTO, Kleber T. A revolução conceptual da administração: implicações para formulação dos papéis e funções essenciais de um executivo. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, abr./jun. 1977. 24 Palestra proferida por Marcos Cavalcanti no Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) da Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 20 set. 2011. 93 Segundo Hehn (p. 75, grifo do autor), “a contribuição que ela [organização] dá para que isso ocorra [o fim de seu sofrimento] está no „prêmio‟ que ela representa. Ela é bela e dedicará todo o seu amor ao príncipe. E é só. O resto do esforço cabe ao príncipe!”. Assim, ela permanece esperando um estímulo, ou evento, significativo e poderoso, oriundo do ambiente externo, para solução de seus problemas com saltos quânticos de qualidade, um sistema informatizado, uma consultoria, ou, por exemplo, um líder, o que é muito comum, aliás, em estruturas hierarquizadas. Hehn (1999, p. 76, grifo nosso) destaca que, embora não haja nada de errado em contratar uma solução adequada para a transformação necessária, “o erro está em acreditar que basta contratar, que não é preciso se envolver, liderar, assumir riscos, trabalhar”. Assim, organizações com Síndrome da Princesinha seguem a tendência ao esquecimento de que, em um processo de transformação, o menor e mais fácil dos custos a serem pagos é o financeiro, razão pela qual muitas vezes descartam seus salvadores com a mesma facilidade com que os contrataram. Enfim, a mensagem é que se as lideranças de uma organização a querem transformada, “elas devem ser absolutamente pró-ativas, devem sair da torre e lutar lado a lado com o príncipe” (HEHN, 1999, p. 76, grifo nosso). Isto posto, de forma mais objetiva e transparente possível, deve-se registrar que as FA necessitam, em se tratando da gestão do que chamam de RH, ou seja, da gestão de suas pessoas, de seu capital intelectual, mudar seu referencial autocrático, segundo o qual permanece em uma postura de um paterfamiliae romano, ao qual todos se submetem, como se lhe devessem um grande favor, e atentar para a realidade mercadológica, a qual fornece espaço de sobra, não apenas para boa remuneração, como para autorrealização, máxime em se considerando a elevada média na qualidade de seu pessoal. Exempli gratia, em se tratando de gestão de pessoas, em entrevista, o Sr. Fernando Valle, responsável pelo Departamento de Recursos Humanos da 3M do Brasil, empresa cuja solidez e reputação dispensam apresentações, informou que a 3M do Brasil foi classificada pelo Instituto Great Place to Work como a 42ª empresa melhor para se trabalhar no Brasil e 2ª da Região Metropolitana de Campinas, bem 94 como uma das 13 (treze) empresas no Brasil a figurar no índice das 150 (cento e cinquenta) melhores da FIA/USP – Você S/A. De acordo com o entrevistado, a avaliação de desempenho abrange cerca de 4000 (quatro mil) funcionários, excetuando-se aqueles com menos de três meses na organização, e, de forma diferente do realizado na maioria das empresas, as quais restringem o foco ao quadro administrativo e de vendas, é ampla, representativa de um sinal de respeito para cada funcionário em particular. Visa a um mérito anual como combinação de posicionamento na faixa salarial acrescido da nota de contribuição no ano anterior, identificação de altos potenciais e de oportunidades de desenvolvimento, dentre outros fatores. Quanto às pesquisas de clima organizacional, argumenta que este é um processo muito sério e consolidado, sendo o tratamento dos resultados do tipo topdown, ou seja, são todos analisados, transformados em planos de ação e „cascateados‟ da diretoria até as posições mais simples na 3M, mediante o que denominam comunicação face a face. Em relação à questão do tratamento ao anseio individual de recolocação na própria 3M ou no mercado em geral, de desenvolvimento pessoal (cursos técnicos, especialização, mestrado e doutorado), e, ainda, de reavaliação do pacto psicológico, respondeu que o processo de acompanhamento e diálogo viabiliza, obviamente respeitando-se o tempo de maturação em cada função, o qual não é aconselhável em tempo inferior a dois anos, a busca da conciliação de expectativas. O desenvolvimento pessoal é bastante incentivado, partindo-se do pressuposto de que não [há] um pacto psicológico, pois o funcionário deve ser dono de sua carreira, sendo o papel organizacional o de oferecimento de oportunidades (VALLE, 2011). 4.6 POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS Segundo Teixeira et al (2010), a fim de enfrentar com eficácia a incerteza e a ambiguidade do ambiente hodierno, as organizações devem se mostrar capazes de conceber um modelo estratégico de gestão de pessoas, segundo os fundamentos aqui demonstrados, com efetiva realização na transformação de estratégias em ações, com uma atuação de visão ampla, global, sob a perspectiva de longo prazo, aceitando e preparando-se para os riscos dela decorrentes. 95 Desta forma, prosseguem, para atingir-se um nível de excelência organizacional, é imperativo o deslocamento da gestão de pessoas de uma posição tático-operacional para o nível estratégico, o que demanda a concepção de um novo modelo de gestão estratégica de pessoas, que, por sua vez, compreende: “uma análise dos desafios impostos pela ambiência da gestão de pessoas, os princípios que fundamentam o modelo e a estrutura do modelo” (TEIXEIRA et al, 2010, p. 83, grifo nosso). Para os autores, o passo inicial para a elaboração e implementação de um modelo constitui-se no estudo, na ambiência da gestão de pessoas, dos desafios impostos, ou seja, em uma análise de cenários. Para tal, é oportuno recordar a premissa básica dos argumentos de Robbins (2009, p. 277, grifo do autor) no sentido de que “o comportamento das pessoas no trabalho não é um fenômeno aleatório. [...] suas atitudes e seus comportamentos podem ser explicados e previstos com uma razoável dose de precisão”. Dentre outros, destacam-se os desafios que se seguem. A aplicação efetiva de estratégias, em razão destas, por vezes, terem duração limitada às suas simples formulações, conforme percepção de Ulrich (2002 apud TEIXEIRA et al., 2010)25. A capacidade de formulação de políticas e instrumentos para viabilizar o desempenho das pessoas na forma de um diferencial competitivo. A aceitação de um novo tipo de colaborador, de novas modalidades de contratação dos colaboradores e de organização do trabalho, bem como de sua humanização. A criação de um clima favorável à negociação, pois esta “passa a ser uma função vital da GP, como meio de assegurar maior participação [...], aumentar o [...] comprometimento [...], minimizar conflitos e assegurar a eficácia organizacional” (TEIXEIRA et al., 2010, p. 87). Assegurar-se de maior visibilidade no ambiente organizacional, com a formulação ampla e sistemática de programas de comunicação, o que proporciona, ainda, a transparência nas relações organizacionais, sendo relevante destacar que, ao invés de serem percebidas como atitudes 25 ULRICH, Dave et al. HR tomorrow`s management. New York: John Wiley, 1997. 96 de antagonismo, as demandas por visibilidade e transparência sinalizam maior envolvimento das pessoas na vida organizacional. As chamadas políticas e práticas de GP, no sentido conciliatório mencionado por Dutra (2011), podem ser traduzidas, segundo o método de planejamento da ESG, nas políticas e estratégias de ação. Na estrutura do modelo concebido por Teixeira et al. (2010), o chamado objetivo estratégico é o correspondente à política no modelo da ESG. Enfim, independente da terminologia, a síntese epistemológica da GP é admitir-se o fato organizacional de um novo perfil de colaborador, entender suas demandas e estruturar um modelo estratégico, segundo princípios de ação, no sentido da conciliação de interesses, em prol do diferencial ofertado pelo talento. A definição do que possa ser caracterizado como uma política ou estratégia é algo muito mais dependente da sensibilidade do analista do que propriamente uma identificação baseada em parâmetros exatos. O que pode inicialmente ser definido como política eventualmente venha a tornar-se uma estratégia para um fim diferente do originalmente proposto, o que requer atenção e análises constantes. Assim sendo, acredita-se que as propostas possam ser até melhor dimensionadas, mediante um trabalho de planejamento realizado por equipe multidisciplinar, isto é, com a elaboração de estudos e avaliações complementares, pois grupos bem dimensionados tecnicamente tendem a ofertar uma radiografia detalhada das necessidades e a apontar caminhos ao seu atendimento. Desta forma, percebidos os desafios, conhecidos os princípios e cientes, quanto ao aspecto estrutura do modelo, conforme proposto no início deste trabalho, que o objetivo é a apresentação de algumas sugestões e, não, a propositura de um modelo organizacional completo ou específico para determinada área, como, por exemplo, avaliação de desempenho ou comunicação organizacional, e, ainda, tendo como leitmotiv a pró-atividade, listam-se, a seguir, algumas propostas, até para que sirvam ao debate desta(s) futura(s) equipe(s) a ser(em) constituída(s). Política nº 1 – Elaboração de um Plano Estratégico de GP às FA. Estratégias: Estudar a possibilidade de o Ministério da Defesa elaborar o planejamento estratégico de GP para as FA, para as carreiras civis e militares; 97 Realizar um levantamento técnico, a fim de identificar-se a real dimensão do provável desgaste motivacional no pessoal das FA; Identificar os óbices organizacionais à implantação de um novo modelo de GP nas FA e adotar medidas de ajuste; Realizar a análise e descrição dos cargos nas FA; Analisar os atuais modelos de avaliação de desempenho, identificar sua pertinência ou não ao modelo proposto e substituí-los, sempre que não alinhados à gestão por competências; Realizar o mapeamento das competências organizacionais e funcionais nas FA, como passo inicial ao processo de implantação da gestão por competências; Reavaliar os planos de carreira com as decorrentes ações necessárias às alterações na legislação pertinente, tornando-os mais flexíveis, em geral, às categorias de movimentação, e, dentre estas, com especial atenção às transferências com mudança de área de atuação ou carreira e às recolocações, inclusive com relação ao eventual retorno às FA, após um período do profissional no mercado de trabalho; e Reavaliar os planos de carreira sob a ótica remuneratória diferenciada por cargos. Política nº 2 – Integração das áreas e/ou atividades atinentes à GP. Estratégias: Pelo MD, elaborar diretrizes gerais às FA, quanto à estruturação sistêmica, integrada e de acordo com um modelo de gestão por processos; Reavaliar as atribuições da SEPESD/MD de modo a redefinir seu papel consoante o modelo proposto; e Unificar, em cada Força, sob uma mesma gerência, caso ainda seja preciso, as áreas relacionadas à GP, como, exempli gratia, no caso do EB, o DGP e o DECEx. 98 Política nº 3 – Elaboração de um planejamento de comunicação organizacional. Estratégias: Criar ouvidorias especializadas em assuntos relacionados à GP; Instituir a prática de entrevistas aos alunos e estagiários dos estabelecimentos de ensino, nos diversos cursos e níveis, durante a realização do curso e/ou estágio, a fim de proporcionar a oportunidade de diálogo para conciliação de interesses e reorientação profissional, quando for o caso; e Criar e manter bancos de gestão de talentos como loci organizacionais apropriados ao conhecimento mútuo, entre a organização e seus profissionais, de modo a facilitar o diálogo organizacional. 99 5 CONCLUSÃO “Para fazer as coisas acontecerem é preciso ter visão de futuro para vivenciar os riscos”. (Marlene Freire) “Não há nada tão poderoso quanto uma ideia cuja hora chegou”. (Victor Hugo) Quando se trata de Poder Nacional e suas expressões, embora conceitualmente a proposta seja de uma percepção de dinamismo em todas elas, nota-se, em função das abordagens e dos diálogos organizacionais, uma tendência inconsciente a se por em destaque o potencial das expressões econômica, militar e científica e tecnológica, como ofertantes de boas ou más condições à ação da expressão política, em função da resultante dos respectivos estágios de desenvolvimento de cada uma delas. À expressão psicossocial, apontam os indícios, resta o imaginário de produto pronto e acabado, decorrente da manifestação, no palco da realidade social e política da Nação, das características psicológicas da pessoa, resultado, por sua vez, da interação de traços de sua personalidade com o ambiente, ao longo de seu histórico processo cultural. Arnold Toynbee, ao enunciar sua teoria do desafio e resposta, manifesta a compreensão, em relação à nação ou Estado-Nação, de que, em algum momento de sua História, um estímulo externo demandará a oferta de uma resposta e será exatamente a qualidade desta o fato determinante ao seu sucesso futuro ou à sua sobrevivência. Neste contexto, dois aspectos destacam-se: inicialmente, a coincidência de poder-se elaborar raciocínio análogo em relação a entes organizacionais diferentes, uma organização qualquer, como FA, por exemplo; e o outro, que a resposta não será necessariamente igual àquelas já manifestadas no passado, pois o fator psicossocial é mutável. Essa mutabilidade da resposta no tempo decorre da natureza motivacional humana, igualmente instável, porém previsível, à luz de indícios. O objetivo deste trabalho não foi no sentido de avaliar-se a qualidade de uma possível resposta das FA ao estímulo crise ou guerra, o qual poderia recair sobre o Estado-Nação. Foi, sim, proporcionar condições à reflexão quanto ao potencial de perda de capital intelectual, de perda de qualidade na Gestão do Conhecimento, em face de um quadro de possível desgaste motivacional de seu pessoal, o que, em última análise, até permitiria a alguns questionar se isto não poderia, hipoteticamente, influir no 100 diferencial da resposta em um evento desta magnitude. Isto, porém, demandaria outro estudo. Todavia, o fulcro da questão cinge-se ao enfoque dialético da ação e reação, das relações de causa e efeito, entre os estímulos mútuos trocados na relação das FA, ente organizacional, e seu pessoal, ou colaboradores, a partir de práticas e fórmulas empregadas na sua gestão de pessoal, ou de RH, como aquela o denomina; muitas vezes de um positivismo extremado, como o de tentar transformar o desempenho funcional de um ser humano em um número ou grau, a fim de hierarquizá-lo, segundo um suposto mérito. Neste sentido, embora compreenda-se como natural, em regra geral, a movimentação no mercado de trabalho, a incapacidade organizacional crescente, manifesta de modo público e notório, inclusive com divulgação recorrente na mídia nacional, em oferecer estímulos capazes de proporcionar a retenção de muitos de seus talentos, deve ser objeto de reflexão e questionamentos quanto às práticas atuais e às ações a se adotar, a fim de manter-se nas FA pessoal capaz de ofertar, plenamente, seu capital intelectual, de modo a garantir à organização o diferencial competitivo, não só em relação ao mercado, como concorrente na busca pelos talentos, mas, também, na comparação com a capacidade de gestão de talentos de outras FA mundo afora. Este trabalho, ao tratar do aspecto motivacional e de liderança, o fez em harmonia à percepção de que se constituem em vetores, vigas ou colunas estruturantes para as mudanças sociais e, no presente caso, organizacionais. A motivação é o objeto de estudo, a transformação é julgada necessária e a liderança organizacional precisa manifestar-se por meio de ações, sob pena de as FA permanecerem sob a síndrome da princesinha, a qual já demonstrou não permitir à organização solucionar satisfatoriamente suas demandas. Assim, se as FA desejam um nível de criatividade e inovação, típico de uma organização habituada ao estado da arte, deverá, também, posicionar-se neste mesmo estado da arte no relacionamento com seus colaboradores, i. e., sair de uma relação de viés mecanicista, por vezes até utilitarista, para uma abordagem humanista, a Gestão de Pessoas, pois, como afirma Steve Jobs: “a inovação diferencia o líder do seguidor”. 101 Esse caminho demanda, precipuamente, uma mudança comportamental, uma alteração na postura organizacional, o que não será obtido sem envolvimento e comprometimento de todos, a começar pelas lideranças organizacionais. Estas deverão, dentre outras ações: admitir a necessidade de superação de dogmas organizacionais relacionados às pessoas, muito ligados ao pensamento de Behavioristas como Pavlov, Thorndike e Skinner; mover-se para a era do conhecimento, a fim de cumprir com eficácia seu papel no ambiente hodierno, o que lembra a figura de linguagem usada pelo General Starry ao identificar a percepção de uma FA como fábrica de soldados, uma instituição de Segunda Onda, da era industrial, a qual precisa adequar-se a realidade; rever conceitos e práticas como comunicação organizacional e avaliação de desempenho; compreender o sentido intrínseco do conflito à natureza humana e perceber o potencial da negociação, principalmente porque o profissional busca hoje, talvez como nunca antes tenha feito, realização pessoal e autodesenvolvimento. Afinal, como disse Steve Jobs: “artistas assinam seu trabalho”. Há, portanto, sobeja comprovação de que a abordagem de Gestão de Pessoas, por buscar, essencialmente, manter acessa a chama motivacional das pessoas, estimulando a conciliação de seus interesses com as organizações, proporciona as condições favoráveis à melhor entrega destas ao trabalho, o que, no caso das FA, favorece o PN, de forma imediata pela propensão à continuidade da produção intelectual destes talentos na organização e, de forma mediata, pela projeção ou reflexo deste nível motivacional atingido no ambiente profissional sobre sua vida em sociedade. Cabe ressaltar, por imperiosa necessidade cautelar, que a apreciação, mediante diálogo, de anseios pessoais, com oferta de oportunidade para o atendimento de expectativas e à conciliação de interesses, com vistas à retenção de um quadro qualificado de pessoal, cujo histórico é marcado por longa aprendizagem na organização e por significativos vínculos afetivos, em absoluto oferece risco aos pilares básicos institucionais, a hierarquia e a disciplina. Embora a hierarquia seja algo enfático às FA, elas não são as únicas organizações estruturadas com esta característica. Desta forma, tanto a liderança organizacional, ao elaborar o planejamento estratégico, deve considerar a maturidade de seu quadro profissional, como ambos devem ter o discernimento, por 102 meio de critérios de razoabilidade, de que a aplicação ponderada de instrumentos de negociação à gestão de carreiras, em nada altera o modus operandi à condução da atividade-fim de uma força armada, qual seja, aquele necessário à atuação em face do fenômeno da guerra. Enfim, a Gestão de Pessoas deve ser o foco prioritário das ações estratégicas das FA com vistas à obtenção do diferencial qualitativo, a partir de uma equipe motivada de colaboradores, o que em muito fortalecerá a Expressão Psicossocial do Poder Nacional. A motivação é fundamental, pois o trabalho, bênção da vida, é a expressão do amor (Kalil Gibran), razão pela qual há que se concordar com a assertiva de que nenhum feito notável jamais foi realizado sem entusiasmo (Ralph Waldo Emerson). Quod erat faciendum! 103 REFERÊNCIAS ADAIR, John. Liderança e motivação: a regra do meio a meio e os oito princípios fundamentais para motivar os outros. Tradução Henrique Amat Rêgo Monteiro. São Paulo: Clio Ed., 2010. AMARAL, Roberto Galassi. Um novo gestor. Pedra fundamental para a gestão sustentável. In: HOYOS GUEVARA, Arnoldo José de; ROSINI, Alessandro Marco; SILVA, José Altemar da; RODRIGUES, Mônica Cairrão (Orgs.). Consciência e desenvolvimento sustentável nas organizações: reflexões sobre um dos maiores desafios da nossa época. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2009. p. 75-94. ARAGÃO, A. Entrevista concedida a Leonardo da Cruz Ticom. Rio de Janeiro, 11 jul. 2011. (informação verbal). ARAÚJO, Luís César Gonçalves de. Organização e métodos: integrando comportamento, estrutura, tecnologia e estratégia. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1994. ______. Organização, sistemas e métodos e as modernas ferramentas de gestão organizacional: arquitetura, benchmarking, empowerment, gestão pela qualidade total, reengenharia. São Paulo: Atlas, 2001. ______; GARCIA, Adriana Amadeu. Gestão de pessoas: estratégia e integração organizacional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução Roberto Raposo e revisão técnica Adriano Correia. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. ASSMANN, Rômulo. Gerenciando a segurança e a saúde no trabalho. Disponível em: <http://www.rh.com.br/Portal/Qualidade_de_vida/Artigo/4128/gerenciando-asegurança-e-a-saude-no-trabalho.html>. Acesso em: 15 nov. 2005. ASTI VERA, Armando. Metodologia da pesquisa científica. Tradução Maria Helena Guedes Crespo e Beatriz Marques Magalhães. Porto Alegre: Globo, 1976. BAKER, Mark W. Como Deus cura a dor. Tradução Cynthia Azevedo. Rio de Janeiro: Sextante, 2008. ______. Jesus, o maior psicólogo que já existiu. Tradução de Claudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante, 2005. BALLESTERO ALVAREZ, Maria Esmeralda. Organização, sistemas e métodos. São Paulo: MacGraw-Hill, 1990. v. 1. ______. Organização, sistemas e métodos. São Paulo: MacGraw-Hill, 1991. v. 2. 104 BAPTISTA, Bettyna Patrícia; LUCHETI, Wilson David; POERNER, Marcos. Avaliação dos resultados em treinamento comportamental: como o investimento no capital humano pode retornar às organizações. São Paulo: Ed. ABRH, 2002. BARROS, Luiz Fernando Terra de. Informação gerencial: um elo com o planejamento estratégico. Guia RH. 1998. Disponível em: <http://www.guiarh.com.br/>. Acesso em: 19 dez. 2005. BASTOS, Cleverson Leite; KELLER, Vicente. Aprendendo a aprender: introdução à metodologia científica. 22. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. BATITUCCI, Márcio Dayrell. Recursos humanos 100%: a função de RH no terceiro milênio. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2000. BEAHM, George. O mundo segundo Steve Jobs: as frases mais inspiradoras do visionário líder da Apple. Tradução Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2011. BEAUFRE, André. Introdução à estratégia. Tradução Luiz de Alencar Araripe. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Ed., 1998. BERGAMINI, Cecília Whitaker; BERALDO, Deobel Garcia Ramos. Avaliação de desempenho humano na empresa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1988. BERTUCCI, Janete Lara de Oliveira. Metodologia básica para elaboração de trabalhos de conclusão de cursos (TCC): ênfase na elaboração de TCC de pósgraduação lato sensu. São Paulo: Atlas, 2011. BINDER, Fábio Vinícius. Sistemas de apoio à decisão. São Paulo: Érica, 1994. BISPO, Patrícia. Bem viver: um programa de qualidade. RH.com.br. Disponível em: <http://www.rh.com.br/Portal/Qualidade_de_vida/Material/4188/bem-viver-umprograma-de-qualidade.html >. Acesso em: 08 set. 2011a. ______. Ergonomia: mais saúde no trabalho. RH.com.br. Disponível em: <http://www.rh.com.br/Portal/Qualidade_de_vida/Entevista/3803/ergonomia-maissaude-no-trabalho>. Acesso em: 08 set. 2011b. ______. Qualidade de vida: é possível chegar lá. RH.com.br. Disponível em: <http://www.rh.com.br/Portal/Qualidade_de_vida/Material/4188/qualidade-de-vida-epossivel-chegar-la.html>. Acesso em: 08 set. 2011c. ______. Multibrás investe em qualidade de vida. RH.com.br. Disponível em: <http://www.rh.com.br/Portal/Qualidade_de_vida/Material/4188/multibras-investe-emqualidade-de-vida.html>. Acesso em: 08 set. 2011d. BITENCOURT, Claudia (Org.). Gestão contemporânea de pessoas: novas práticas, conceitos tradicionais. Porto Alegre: Bookman, 2004. 105 BLANCHARD, Ken (Org.). Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho. Tradução Raul Rubenich. Ed. rev e ampl. Porto Alegre: Bookman, 2011. BLANCHARD, Ken; BLANCHARD, Margie; CAREW, Don; PARISI-CAREW, Eunice; FINCH, Fred; HAWKINS, Laurence; ZIGARMI, Drea; ZIGARMI, Pat. Liderança Situacional II: o conceito integrador. In: BLANCHARD, Ken (Org.). Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho. Tradução de Raul Rubenich. Ed. rev e ampl. Porto Alegre: Bookman, 2011, p. 73-87. ______; BLANCHARD, Scott; ZIGARMI, Drea. Liderança servidora. In: BLANCHARD, Ken (Org.). Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho. Tradução de Raul Rubenich. Ed. rev e ampl. Porto Alegre: Bookman, 2011, p. 245-268. BOWDITCH, James L.; BUONO, Anthony F. Elementos de comportamento organizacional. Tradução José Henrique Lamendorf. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988: atualizada até a Emenda Constitucional nº 67, de 2 dez. 2010. Brasília, DF, 2010a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 28 jul. 2011. ______. Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005. Aprova a Política de Defesa Nacional, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 01 jul. 2005. Seção 1, p. 5. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20042006/2005/Decreto/D5484.htm>. Acesso em: 21 fev. 2011. ______. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia Nacional de Defesa, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 dez. 2008. Seção 1, p. 4. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6703.htm>. Acesso em: 21 fev. 2011. ______. Decreto nº 7.364, de 18 de novembro de 2010. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, das Funções Gratificadas - FG, das Gratificações de Exercício em Cargo de Confiança, das Gratificações de Representação pelo Exercício de Função e das Gratificações de Representação GR do Ministério da Defesa. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 nov. 2010b. Seção 1, p. 2. Disponível em: <http://www.in.gov.br/visualiza/index.jsp?data=24/11/2010&jornal=1&pagina=1&total Arquivos=152>. Acesso em: 21 set. 2011. ______. Ministério da Defesa. Comando do Exército. Organograma. Brasília, DF, [2011?a]. Disponível em: <http://www.exercito.gov.br/web/guest/estruturaorganizacional>. Acesso em: 07 set. 2011. 106 BRASIL. Ministério da Defesa. Comando do Exército. O processo de transformação do Exército. Brasília, DF, [2011?b]. Disponível em: <http://www.exercito.gov.br/c/document_library/get_file?uuid=c5e7cd57-dd14-4fa8bc52-2a9316e61863&groupId=10138>. Acesso em: 29 jul. 2011. ______. ______. ______. Portaria nº 657, de 4 de novembro de 2003. Estabelece a missão, a visão de futuro, a síntese dos deveres, valores e da Ética do Exército e os fatores críticos para o êxito da missão, e dá outras providências. Brasília, DF, 2003. Disponível em: <http://www.exercito.gov.br/06OMs/gabcmtex/PEGEB/legislacao/port657.htm>. Acesso em: 29 mar. 2006. ______. ______. ______. Portaria nº 075-EME, de 10 de junho de 2010. Aprova a Diretriz para Implantação do Processo de Transformação do Exército Brasileiro. Brasília, DF, 2010c. Disponível em: <http://www.sgex.eb.mil.br/sistemas/be/boletins.php>. Acesso em: 29 jul. 2011. ______. ______. ______. Portaria nº 090-DECEx, de 21 de julho de 2011. Aprova a diretriz para a implantação do Sistema de Gestão de Talentos do DECExSIGESTA. Brasília, DF, 2011c. Disponível em: <http://www.sgex.eb.mil.br/sistemas/be/boletins.php>. Acesso em: 29 jul. 2011. ______. ______. Comando da Força Aérea Brasileira. Organograma. Brasília, DF, 2011d. Disponível em: <http://www.fab.mil.br/portal/organograma/organograma_2010.pdf>. Acesso em: 07 set. 2011. ______. ______. Marinha do Brasil. Organograma. Brasília, DF, 2011e. Disponível em: <http://www.mar.mil.br/menu_h/organizacoes/organizacoes_mb.htm>. Acesso em: 07 set. 2011. ______. Ministério do Meio Ambiente. Agenda ambiental na administração pública. Brasília, DF, 2011f. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=36>. Acesso em: 29 jul. 2011. BROXADO, Sílvio. A verdadeira motivação na empresa: entendendo a psicologia organizacional e dicas para a motivação no dia-a-dia das empresas. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. CARAVANTES, Geraldo Ronchetti. Teoria geral da Administração: pensando & fazendo. 3. ed. Porto Alegre: AGE, 2000. CARMELLO, Eduardo. A competência resiliência: administrando situações adversas e de alta pressão. Portal da Associação Brasileira de Qualidade de Vida. Disponível em: <http://www.abqv.org.br/artigos_leitura.php?id=35>. Acesso em: 08 set. 2011. 107 CARMO, Romeu Mendes do. Gestão da tecnologia da informação. Guia RH. 1998. Disponível em: <http://www.guiarh.com.br/p62.htm>. Acesso em: 19 dez. 2005. CARVALHO, Gilda Maria Rocha de; TAVARES, Márcia da Silva. Informação & conhecimento: uma abordagem organizacional. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. CAVALCANTI, Marcos. Palestra proferida ao Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) da Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 20 set. 2011. (informação verbal). CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. COSTA, Eliezer Arantes da. Gestão estratégica. São Paulo: Saraiva, 2005. COZZO, Alexandre Slivnik; BATISTA, Daniele Barrionuevo Kallas. Programas de qualidade de vida no trabalho: um olhar sobre seus benefícios para as empresas e para os colaboradores. Disponível em: <http://www.abqv.org.br/novo/?q=content/programas-de-qualidade-de-vida-motrabalho-um-olhar-sobre-seus-benef%C3%ADcios-para-empresas-e-pa>. Acesso em: 02 set. 2011. CROZIER, Michel. O fenômeno burocrático. Tradução Juan A. Gíbi Sobrinho. Brasília: Universidade de Brasília, 1981. CRUZ, Anamaria da Costa. Apresentação de trabalhos acadêmicos, dissertações e teses. Niterói: Intertexto, 2002. DEMAREST, Garry; EDMONDS, Chris; GLASER, Bob. Gerenciando uma transformação cultural de sucesso. In: BLANCHARD, Ken (Org.). Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho. Tradução de Raul Rubenich. Ed. rev e ampl. Porto Alegre: Bookman, 2011, p. 227-242. DEMO, Gisele. Políticas de gestão de pessoas nas organizações: papel dos valores pessoais e da justiça organizacional. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2010. DUTRA, Joel Souza. Gestão de pessoas: modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2011. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual básico: elementos fundamentais. Rio de Janeiro, 2009a. v. 1. ______. Manual básico: assuntos específicos. Rio de Janeiro, 2009b. v. 2. ______. Manual básico: método para o planejamento estratégico/ESG. Rio de Janeiro, 2009c. v. 3. 108 ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual para elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso: monografia. Rio de Janeiro, 2011. FARIA, José Carlos. Administração: teorias e aplicações. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. FERRUCIO, Alice. Palestra proferida ao Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) da Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 06 jul. 2011. (informação verbal). FERRUCCIO, Alice. Gestão de conflitos. Rio de Janeiro: ESG, COPPEAD, 2011a. Apostila. FERRUCCIO, Alice. Sucesso e conflito no mundo do trabalho. Rio de Janeiro: ESG, COPPEAD, 2011b. Apostila. FERRUCCIO, Alice. Consultoria em gestão de conflitos. Rio de Janeiro: ESG, COPPEAD, 2011c. Apostila. FORRESTER, Viviane. O horror econômico. Tradução Álvaro Lorencini. São Paulo: Ed. UNESP, 1997. FREIRE, Marlene de. Liderança e motivação: vetores para mudanças sociais e organizacionais. 2000. 95 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia) – Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 2000. GEHRINGER, Max. Relações desumanas no trabalho: da primeira entrevista à aposentadoria. 2. ed. ampl. Salvador: Casa da Qualidade, 1998. GERGEN, Kenneth Jay. A psicologia do intercâmbio de comportamento. Tradução Dante Moreira Leite. São Paulo: Edgard Blücher, 1973. GESTÃO de pessoas, não de pessoal: os melhores métodos de motivação e avaliação de desempenho. Prefácio de Victor H. Vroom. Tradução de Ana Beatriz Rodriguez; Priscilla Martins Celeste. 11. ed. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 1997. xviii, 274 p. (Série Harvard Business Review Book). GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. GURGEL, Ana Olímpia C.; OLIVEIRA, Enildo de. RH positivo: novo mundo do trabalho. Rio de janeiro: Qualitymark, 2001. HEHN, Herman F. Peopleware: como trabalhar o fator humano nas implementações de sistemas integrados de informação (ERP). São Paulo: Gente, 1999. 109 HERZBERG, Frederick. Mais uma vez: como motivar seus funcionários? In: Gestão de pessoas, não de pessoal. os melhores métodos de motivação e avaliação de desempenho. Prefácio de Victor H. Vroom. Tradução de Ana Beatriz Rodriguez e Priscilla Martins Celeste. 11. ed. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 1997. p. 55-81. (Série Harvard Business Review Book). HOYOS GUEVARA, Arnoldo José de et al (Orgs.). Consciência e desenvolvimento sustentável nas organizações: reflexões sobre um dos maiores desafios da nossa época. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2009. HOYOS GUEVARA, Arnoldo José de; DIB, Vitória Catarina. A crise de sentido e o futuro das organizações na sociedade do conhecimento. In: HOYOS GUEVARA, Arnoldo José de; ROSINI, Alessandro Marco; SILVA, José Altemar da; RODRIGUES, Mônica Cairrão (Orgs.). Consciência e desenvolvimento sustentável nas organizações: reflexões sobre um dos maiores desafios da nossa época. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2009. p. 161-181. KASPARY, Adalberto J. Português para profissionais: atuais e futuros. 17. ed. Porto Alegre: Edita, 1997. KASPARY, Adalberto J. Habeas verba. 4. ed. Porto Alegre: Do Advogado, 1998. KNAPIK, Janete. Gestão de pessoas e talentos. Curitiba: Ibpex, 2006. KÖRBER, Alexandre. Na era do e-RH. HRsmart solução em e-RH. Disponível em: <http://www.hrsmart.com.br/Na%20Era%20do%20e-RH.ppt>. Acesso em: 20 dez. 2005. LAURINDO, Fernando José Barbin. Tecnologia da informação. São Paulo: Futura, 2002. LEVINSON, Harry. Atitudes tolas em relação à motivação. In: Gestão de pessoas, não de pessoal: os melhores métodos de motivação e avaliação de desempenho. Prefácio de Victor H. Vroom. Tradução de Ana Beatriz Rodriguez; Priscilla Martins Celeste. 11. ed. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 1997a. p. 83-93. (Série Harvard Business Review Book). ______. Avaliação de que desempenho? In: Gestão de pessoas, não de pessoal: os melhores métodos de motivação e avaliação de desempenho. Prefácio de Victor H. Vroom. Tradução de Ana Beatriz Rodriguez; Priscilla Martins Celeste. 11. ed. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 1997b. p. 189-203. (Série Harvard Business Review Book). ______. Administração por objetivos de quem? In: Gestão de pessoas, não de pessoal: os melhores métodos de motivação e avaliação de desempenho. Prefácio de Victor H. Vroom. Tradução de Ana Beatriz Rodriguez; Priscilla Martins Celeste. 11. ed. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 1997c. p. 205-222. (Série Harvard Business Review Book). 110 LOUREIRO, Roberto de Oliveira. Como competir na era do capital humano. Guia RH. Disponível em: <http://www.guiarh.com.br/p91.htm>. Acesso em: 19 dez. 2005. LUPORINI, Carlos Eduardo Mori; PINTO, Nelson Martins. Sistemas administrativos: uma abordagem moderna de O&M. São Paulo: Atlas, 1985. MARRAS, Jean Pierre (Org.). Gestão estratégica de pessoas: conceitos e tendências. São Paulo: Saraiva, 2010. MARRAS, Jean Pierre. A gestão de pessoas na era do conhecimento. In: MARRAS, Jean Pierre (Org.). Gestão estratégica de pessoas: conceitos e tendências. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 129-146. MASLOW, Abraham H. Maslow no gerenciamento. Tradução Eliana Casquilho, Bazán Tecnologia e Linguística. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2000. xxx, 362 p. MIGUELETTO, Danielle. Palestra proferida ao Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) da Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 20 set. 2011. (informação verbal). MINTZBERG, Henry. Criando organizações eficazes: estruturas em cinco configurações. Tradução Ailton Bomfim Brandão. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003. MONTEIRO, Rogério. Talentos: busca e retenção. In: MARRAS, Jean Pierre (Org.). Gestão estratégica de pessoas: conceitos e tendências. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 115-128. NOGUEIRA, Rômulo Vaz. Entrevista concedida a Leonardo da Cruz Ticom. Rio de Janeiro, 19 set. 2011. OBERG, Winston. Torne a avaliação de desempenho relevante. In: VROOM, Victor H. Gestão de pessoas, não de pessoal. Tradução Ana Beatriz Rodriguez e Priscilla Martins Celeste. 11. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. p. 239-251. O`BRIEN, James A. Sistemas de informação e as decisões gerenciais na era da internet. Tradução Cid Knipel Moreira. São Paulo: Saraiva, 2002. OGATA, Alberto J. N. O inimigo oculto da produtividade. Site da Associação Brasileira de Qualidade de Vida. Disponível em: <http://www.abqv.org.br/novo/?q=content/O-inimigo-oculto-da-produtividade>. Acesso em: 30 ago. 2011. OLIVEIRA, Murilo Alvarenga. Relação de trabalho e clima organizacional. Rio de Janeiro: UFFRJ / CEP-EB, 2005. OLIVEIRA, Paulo Roberto Batista de. Entrevista concedida a Leonardo da Cruz Ticom. Rio de Janeiro, 08 set. 2011. 111 PARENTE, Carlos. Saber comunicar para atingir a mente e o coração das pessoas. Disponível em: <http://www.abrhnacional.org.br/cpub/pt/site/noticia1.php>. Acesso em: 12 abr. 2005. PORTUGAL. Ministério da Defesa Nacional. Direcção Geral de Pessoal e Recrutamento Militar. Atribuições. Coimbra, 2011. Disponível em: <http://www.mdn.gov.pt/mdn/pt/mdn/Servi%C3%A7os+Centrais+de+Suporte/dgprm> Acesso em: 07 set. 2011. PRATHER, Hugh. Como ser feliz apesar de tudo. Tradução Iva Sofia Gonçalves Lima. Rio de Janeiro: Sextante, 2005. RANDOLPH, Alan; BLANCHARD, Ken. O empoderamento é a chave. In: BLANCHARD, Ken (Org.). Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho. Tradução de Raul Rubenich. Ed. rev e ampl. Porto Alegre: Bookman, 2011. p. 54-71. RAPOSO FILHO, Amerino. Dimensões da estratégia. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Ed., 1990. 2 v. ROBBINS, Stephen P. Comportamento organizacional. Tradução Christina Ávila de Menezes. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Ed., 1999. ______. Fundamentos do comportamento organizacional. Tradução técnica Reinaldo Marcondes. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. RODRIGUEZ, Martius V.; FERRANTE, Agustin J. Tecnologia de informação e mudança organizacional. Tradução Washington Luiz Salles, Louise Anne N. Bonitz. Rio de Janeiro: Infobook, 1995. SANTOS, João Alberto Neves dos. A gestão do processo de mudanças. 2003. Miltiplicando Qualidade. Disponível em: <http://www.ibqn.com.br/jornal/htm_multi17/multi17_02.htm>. Acesso em: 09 set 2011. SANTOS, Ruthberg dos. Sistemas de informação e gerenciamento de RH. Rio de Janeiro: UFFRJ / CEP-EB, 2005. SATO, Carlos Akira. Como garantir a qualidade de vida nas organizações. Disponível em: <http://revistamelhor.uol.com.br/textos.asp?codigo=10383>. Acesso em: 12 abr. 2005. SCHELIGA, Liliana. Programas de suporte psicossocial. Site da Associação Brasileira de Qualidade de Vida Disponível em: <http://www.abqv.org.br/artigos023.php>. Acesso em: 15 nov. 2005. SENGE, Peter M. A quinta disciplina. Tradução OP Traduções. 16. ed. rev e ampl. São Paulo: Best-seller, 2004. 112 SEVERO SANTOS, João Francisco. Promoção de saúde, responsabilidade social e impacto econômico na empresa. Disponível em: <http://www.rh.com.br/ler.php?cod=3947&org=2>. Acesso em: 16 nov. 2005. SINKIEWICZ, James A. A gestão pela qualidade total e o sistema de avaliação da marinha americana. Tradução e adaptação Departamento de Estudos e Pesquisa do Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão da Marinha do Brasil. Revista Passadiço, Rio de Janeiro, ano 7, n. 11, p. 1-6, 1. sem. 1994. SKINNER, Wickham. Muito chapéu para pouco gado: gestão de recursos humanos. In: Gestão de pessoas, não de pessoal: os melhores métodos de motivação e avaliação de desempenho. Prefácio de Victor H. Vroom. Tradução de Ana Beatriz Rodriguez; Priscilla Martins Celeste. 11. ed. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 1997. p. 3-17. (Série Harvard Business Review Book). SOUZA, Levi Lima de. A teoria da relatividade na gestão de pessoas: uma nova visão para gerenciar pessoas com foco no crescimento das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. SOUZA NETO, Silvestre Prado de. Novas perspectivas em recursos humanos. Rio de Janeiro: UFFRJ / CEP-EB, 2005. STEVE JOBS. Steve Jobs sobre a vida: encontre o que você ama. [California: s. n.], 2005. Vídeo (14:42 min), son., color. Discurso proferido aos alunos da Universidade de Stanford. Disponível em: <http://economia.ig.com.br/empresas/comercioservicos/steve+jobs+sobre+a+vida+e ncontre+o+que+voce+ama/n1597177502783.html>. Acesso em: 18 set. 2005. SZAJMAN, Cláudio. Ser humano criativo. Disponível em: <http://www.abrhnacional.org.br/cpub/pt/site/noticia2.php>. Acesso em: 12 abr. 2005. TACHIZAWA, Takeshy; MENDES, Gildásio. Como fazer monografia na prática. 6. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001. ______; FERREIRA, Victor Cláudio Paradela; FORTUNA, Antônio Alfredo Mello. Gestão com pessoas: uma abordagem aplicada às estratégias de negócios. 4. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2004. TEGON, Cezar Antonio. Sistema de informação de recursos humanos no Brasil. Disponível em <http://www.guiarh.com.br/PAG21J.htm>. Acesso em: 19 dez. 2005a. TEGON, Cezar Antonio. Gestão de pessoas na era da informação. Disponível em: <http://www.guiarh.com.br/PAG21N.htm>. Acesso em: 19 dez. 2005b. ______. A era da hiperconectividade. Disponível em: <http://www.elancers.com.br/forin/noticias_res.asp?id=5>. Acesso em: 19 dez. 2005c. 113 TEGON Consultant Group. Sistemas informatizados de gestão de pessoal. [S. l.: s. n.], [200-]. Disponível em: <http://www.tegom.com.br/smp_tbook_res.asp?info=28>. TEIXEIRA, Gilnei Mourão et al. Gestão estratégica de pessoas. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2010. TEMPOS modernos. Direção: Charles Chaplin. Intérpretes: Charles Chaplin; Paulette Goddard; Henry Bergman; Tiny Sandford; Chester Conklin, Hank Mann; Stanley Blystone e Al Ernest Garcia. Roteiro: Charles Chaplin. Estados Unidos: [s. n.], 1936. 1 bobina cinematográfica (87 min). Trecho do filme com duração de 4:54 min. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=zMvEyrenZjA&feature=related>. Acesso em: 18 set. 2005. TICOM, Leonardo da C. O assessoramento jurídico no Exército Brasileiro: uma abordagem sistêmica. 2003, 198 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Militares) Escola de Comando Estado-Maior do Exército. Rio de Janeiro, 2003. TOFFLER, Alvin. Powershift: as mudanças do poder. Tradução Luiz Carlos do Nascimento Silva e revisão técnica Marcus da Costa Moraes. Rio de Janeiro: Record, 1995. ______; TOFFLER, Heidi. Guerra e anti-guerra. Tradução Luiz Carlos do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Record, 1994. TOWNSEND, Sílvia Helena Covais. Relações humanas e qualidade de vida no trabalho. Disponível em: <http://www.rh.com.br/ler.php?cod=4120&org=2>. Acesso em: 15 nov. 2005. VALLE, Fernando. Gestão de pessoas na 3M: práticas. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 31 ago. 2011. VERGARA, Sylvia Constant. Gestão de pessoas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005. VILAS BOAS, Ana Alice. Planejamento estratégico de recrutamento e seleção de pessoas. Rio de Janeiro: UFFRJ / CEP-EB, 2005. WAGNER III, John A.; HOLLENBECK, John R. Comportamento organizacional. São Paulo: Saraiva, 2000. WALTON, Richard E. Do controle ao comprometimento no local de trabalho. In: Gestão de pessoas, não de pessoal: os melhores métodos de motivação e avaliação de desempenho. Prefácio de Victor H. Vroom. Tradução de Ana Beatriz Rodriguez; Priscilla Martins Celeste. 11. ed. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 1997. p. 95-112. (Série Harvard Business Review Book). ZAMBALDI, Felipe; MASCARENHAS, André Ofenhejm. Endomarketing como ferramenta de administração estratégica e gestão de pessoas. In: MARRAS, Jean Pierre (Org.). Gestão estratégica de pessoas: conceitos e tendências. São Paulo: Saraiva, 2010. 114 ZENTGRAF, Maria Christina. Metodologia da pesquisa. Rio de Janeiro: ECEME, 2002. 43 p. 115 APÊNDICE “A” – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ESTAGIÁRIOS DO CAEPE DAS FORÇAS ARMADAS, CIVIS E MILITARES, E DAS POLÍCIAS MILITARES Este documento destina-se a coleta de dados à monografia: “Gestão de Pessoas para as Forças Armadas Brasileiras: uma ferramenta ao fortalecimento do Poder Nacional”, de autoria do Cel Com Leonardo da Cruz Ticom, no Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) 2011. Força: Marinha ( ) Situação: ) militar ( Exército ( ( ) FAB ( ) PM_______ ) servidor civil QUESTIONÁRIO “Desde já, muito obrigado!” 1) Quantos anos completos de serviço o(a) Sr.(Sra.) possui nesta data? Resposta: __________________________ 2) O(a) Sr.(Sra.) já possui tempo para transferência para a reserva remunerada ou aposentadoria? ( ) SIM ( ) NÃO 3) Clima organizacional é o ambiente psicológico que existe dentro de um departamento ou empresa, é aquela condição interna percebida pelas pessoas e que influencia seus comportamentos. Está ligado à motivação da equipe, aos aspectos internos da organização que conduzem a diferentes níveis ou tipos de motivação e dão origem a comportamentos que podem ser favoráveis e benéficos ou desfavoráveis e prejudiciais ao trabalho (Knapik, Janete). Isto posto, pergunta-se: em sua vivência profissional na Força, o(a) Sr.(Sra.) já respondeu a alguma pesquisa de clima organizacional? ( ) SIM ( ) NÃO Caso positivo, quantas ou com que freqüência? ________________________. 4) Considerando-se Política de Pessoal como sendo a proposta de gestão de recursos humanos de sua Força, definida por sua finalidade, objetivos e ações estratégicas, e normatizada em documento(s) escrito(s), pergunta-se: o(a) Sr.(Sra.) tem conhecimento da Política de Pessoal de sua Força? ( ) SIM ( ) NÃO 116 Caso positivo, esta: ( ) lhe foi apresentada formalmente pela Força em palestra ou reunião; ( ) foi encontrada por meio de pesquisa pessoal; ( ) outros, especificar:__________________________________________ _______________________________________________________________. 5) Em sua Força há avaliação de desempenho? ( ) SIM ( ) NÃO 6) A avaliação de desempenho é ( ) individual; ( ) do grupo de trabalho; ( ) ambas; ( ) outros, especificar:__________________________________________. 7) O(a) Sr.(Sra.) recebe da Força, espontaneamente, isto é, sem necessidade de requerimento próprio, o resultado de cada avaliação? ( ) SIM ( ) NÃO 8) Qual é a periodicidade desta avaliação? a. ( ) eventual; b. ( ) trimestral; c. ( ) semestral; d. ( ) anual; e. ( ) outros, especificar:________________________________________. 9) A avaliação de desempenho é utilizada para sua hierarquização por mérito em relação aos seus pares? ( ) SIM ( ) NÃO 10) Caso a resposta do item anterior tenha sido afirmativa, esta hierarquização influencia os demais processos seletivos aos quais o(a) Sr.(Sra.) concorre? ( ) SIM ( ) NÃO 117 11) Em algum momento de sua carreira, fosse durante o exercício normal de suas funções em um cargo, ou durante a realização de um curso ou estágio, o(a) Sr.(Sra.) já foi entrevistado por alguma pessoa ou equipe em sua Força, com vistas a seleção ou escolha para um futuro local de trabalho, um cargo ou um projeto? ( ) SIM ( ) NÃO Caso positivo, especificar as condições: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 12) A sua Força disponibilizou algum canal de comunicação para manifestação do seu projeto profissional pós-conclusão do CAEPE, isto é, expectativas de trabalho em áreas específicas de seu interesse, de residência em determinadas cidades ou de limitações funcionais decorrentes de necessidades familiares? ( ) SIM ( ) NÃO Caso positivo, especificar: a. ( ) aplicação de pesquisa em papel; b. ( ) disponibilização de documento com resposta exclusiva via internet; c. ( ) entrevista; d. ( ) ouvidoria; e. ( )outros, especificar:_____________________________________. 13) Caso a resposta ao item 12) tenha sido positiva, o(a) Sr.(Sra.) recebeu algum retorno, via contato pessoal, telefônico, e-mail, relatando o resultado da análise de sua situação pelo órgão de pessoal de sua Força? ( ) SIM ( ) NÃO Caso positivo, de que tipo? _______________________________________________________________ 14) O(a) Sr.(Sra.) admite como plausível, a curto prazo, isto é, logo após a conclusão do CAEPE, a possibilidade de transferência para a reserva remunerada ou aposentadoria, caso a designação de sua nova Organização Militar não se constitua em um estímulo positivo a sua motivação para o trabalho, seja, por 118 exemplo, em razão da cidade de sua localização ou da natureza da atividade a ser desenvolvida? ( ) SIM ( ) NÃO 15) CASO o(a) Sr.(Sra.) julgue oportuno apresentar alguma SUGESTÃO ou queira tecer comentários acerca da gestão de recursos humanos nas Forças Armadas Brasileiras, por favor utilize o espaço abaixo e/ou, se necessário, anexe quaisquer folhas ao presente questionário. Suas observações são muito importantes! Muito obrigado! _________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Nome (apenas se desejar):____________________________________________ MUITO OBRIGADO! 119 APÊNDICE “B” – RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ESTAGIÁRIOS DO CAEPE DAS FORÇAS ARMADAS, CIVIS E MILITARES, E DAS POLÍCIAS MILITARES O registro das respostas, da forma apresentada, uma a uma, decorre do tratamento qualitativo pretendido. Em relação à pergunta – o(a) Sr.(Sra.) já respondeu a alguma pesquisa de clima organizacional? Caso positivo, quantas ou com que frequência? – o resultado é o que se segue. Na MB, dois nunca responderam, e os demais, aqui denominados de pessoas A1, B1, C1, D1, E1, F1, G1, H1, I1 e J1, escreveram, respectivamente, apenas uma; duas vezes em trinta anos; duas vezes; duas vezes (2007/2008); três; no máximo três vezes, em todo este tempo de serviço (33 anos); duas ao longo da carreira, a última em 1995; cinco anos; aproximadamente de dois em dois anos; anual, orquestrado pelo CPesFN. No EB, três nunca responderam, e os demais, aqui denominados de pessoas A2, B2, C2, D2, E2, F2, G2, H2, I2 e J2 escreveram, respectivamente, uma; duas; duas; raramente; raramente; talvez duas a três vezes; talvez três; seis, anualmente; aproximadamente dez, em frequência anual; e uma por ano, durante quatro períodos. Na FAB, seis nunca responderam, e os demais, aqui denominados de pessoas A, B, C, D, E, F, G e H, escreveram, respectivamente, uma vez; duas; duas vezes ao longo da carreira (para prevenção de acidentes aeronáuticos); três vezes; três vezes esporádicas; acredito que mais ou menos três; raramente; e cinco vezes. Em relação à pergunta - em algum momento de sua carreira, fosse durante o exercício normal de suas funções em um cargo, ou durante a realização de um curso ou estágio, o(a) Sr.(Sra.) já foi entrevistado por alguma pessoa ou equipe em sua Força, com vistas a seleção ou escolha para um futuro local de trabalho, um cargo ou um projeto? - o resultado é o que se segue. 120 Na MB, sete responderam não e cinco responderam sim. As respostas afirmativas referiam-se a cargos específicos: “-[...] para assistente e ajudante de capitania”; “-[...] Antártida e/ou Organização das Nações Unidas (ONU)”; “-[...] Antártida”; “-[...] Estação Antártida Brasileira; “-[...] aperfeiçoamento em submarino”. No EB, onze responderam não e dos dois que responderam sim, nota-se que um deles ou não leu a pergunta até o fim ou não a compreendeu, pois a resposta foi: “-sim, melhoria do processo de instalações”. A outra foi: “-sim, ao final do curso da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME)”. Na FAB, catorze responderam não e somente um respondeu: “-sim, para o cargo de ajudante-de-ordens”. Em relação às perguntas - a sua Força disponibilizou algum canal de comunicação para manifestação do seu projeto profissional pós-conclusão do CAEPE, isto é, expectativas de trabalho em áreas específicas de seu interesse, de residência em determinadas cidades ou de limitações funcionais decorrentes de necessidades familiares? Caso positivo, especificar: - o resultado é o que se segue. Na MB, nove responderam não e três responderam sim, da seguinte forma: “-sim, por intermédio de Almirante da própria ESG”; “-sim, preenchimento de papeleta específica para esse fim („preferência de comissão para oficiais‟)”; “-sim, entrevista e ouvidoria”. No EB, oito responderam não e cinco responderam sim, assinalando o item “disponibilização de documento via internet”. Na FAB, nove responderam não e seis responderam sim. Destes, cinco assinalaram o item “disponibilização de documento via internet”, e um marcou “outros”. Adicionaram os seguintes comentários: “-escolha de um, dois ou três lugares e três unidades”; “-especifíca local e serviço que gostaria de fazer”; e “-com apresentação, opção do estagiário (sem qualquer garantia de atendimento) de três unidades/cidades” (grifo nosso). 121 Em relação às perguntas - caso a resposta ao item 12) [pergunta anterior], tenha sido positiva, o(a) Sr.(Sra.) recebeu algum retorno, via contato pessoal, telefônico, e-mail, relatando o resultado da análise de sua situação pelo órgão de pessoal de sua Força? Caso positivo, de que tipo?- o resultado é o que se segue. Na MB, dos três que haviam respondido sim ao item anterior, dois responderam não a esta pergunta, sendo que um afirmou: “-apesar de ter sido disponibilizado o canal de comunicação, não o utilizei”. O único que recebeu retorno foi o que se utilizou de entrevista e ouvidoria e a resposta foi por meio de ligação telefônica e e-mail. No EB, dos cinco que haviam respondido sim ao item anterior, três responderam não a esta pergunta e os dois que assinalaram sim, complementaram: “-informativo institucional” e “-contato telefônico do Departamento de Engenharia e Construção (DEC). Na FAB, dos seis que haviam respondido sim ao item anterior, quatro responderam não a esta pergunta e os dois que assinalaram sim, especificaram: “-telefonema da opção de destino” e “-foi solicitado apenas as cidades/OM de preferência e que as preferências foram recebidas”. Finalmente, em relação à pergunta - o(a) Sr.(Sra.) admite como plausível, a curto prazo, isto é, logo após a conclusão do CAEPE, a possibilidade de transferência para a reserva remunerada ou aposentadoria, caso a designação de sua nova Organização Militar não se constitua em um estímulo positivo a sua motivação para o trabalho, seja, por exemplo, em razão da cidade de sua localização ou da natureza da atividade a ser desenvolvida? – o resultado é o que se segue. Na MB, oito responderam sim, três responderam não e um se absteve. No EB, sete responderam sim e seis responderam não. Na FAB, doze responderam sim e somente três responderam não. Destes, um registrou: “-uma vez que fui designado para missão no exterior após o CAEPE”. 122 A fim de contribuir à reflexão organizacional, seguem-se algumas das observações feitas pelos estagiários das FA. “- O CFN possui um Programa de Subespecialidades com o propósito de empregar militares em atividades mais afetas às suas habilidades e pendores. Por exemplo, um CB – IF com aptidões em informática poderá ser empregado em atividades ligadas á informática, em detrimento das atividades inerentes à Arma Infantaria. Entretanto, isto não é regra. O referido programa integra o banco de dados do Sistema de Pessoal do CFN”. “- No atual estágio da gestão de pessoas fica a sugestão das Forças tratarem seus integrantes com tempo de serviço para a transferência para a reserva remunerada, de forma individualizada; procurando atender aos anseios, aspirações e necessidades. Hoje, constato que na MB as pessoas em final de carreira são consideradas ainda como número, o que tem ocasionado a solicitação para a TRRM de militares que ainda poderiam permanecer na ativa mais algum tempo” (grifo nosso). “- Além da preocupação com a gestão de recursos humanos, falta a preocupação com as condições de trabalho dos nossos subordinados. Convenção da Organização Marítima Internacional (IMO). „O Elemento Humano‟. „Human Element‟” (grifo nosso). “- A política de pessoal não é moderna, não considera requisitos e capacidades diferentes para funções e cargos diferentes, considerando que „quem é bom para uma coisa é bom para tudo‟; as avaliações muitas vezes são feitas por „aparência‟ e „estereótipo‟, por generalização de um atributo para os demais, pois há atributos demais, difíceis de serem observados pelo avaliador; falta de avaliação lateral” (grifo nosso). “- A avaliação não é feita de modo correto. Por exemplo, quando estamos próximos à promoção (de Capitão para Major; de Major para Tenente-Coronel...) é fornecida uma ficha para todos os integrantes da turma para que se coloque quem deve ser promovido por merecimento. Ora, muitas vezes (grande maioria) a lembrança ou a vivência que se tem sobre os companheiros é a da AMAN. Deveríamos colocar as 123 opiniões apenas com aqueles com quem tivéssemos servido. Outra coisa, para as promoções, os critérios deveriam ser transparentes, ou seja, todos os graus que compõem o valor final da pontuação deveriam ser explicitados. No Boletim, somente aparece o valor final”. “[...] finalmente, visualizo a necessidade de se valorizar os recursos humanos cada vez mais, buscando conciliar interesses profissionais e pessoais, estes últimos particularmente em relação aos familiares” (grifo nosso). “[...] realizar ENTREVISTAS com candidatos para ocupar cargos sensíveis na tropa, no Quartel-General do Exército, Presidência da República, Ministério da Defesa e exterior. [...] criar uma espécie de ouvidoria nas organizações militares, de forma que os militares possam externar suas ansiedades e aspirações (merece estudo mais aprofundado)” (grifo nosso). “- Creio da necessidade de existir algum instrumento para impedir que a ficha de conceito se torne um instrumento de punição e passe a ser usada como ferramenta para melhor procurar [sic] as pessoas onde elas possam dar maior rendimento” (grifo nosso). “- O Exército tem um projeto de gerir as competências de seus integrantes, chamado de „Banco de Talentos‟. Acho uma brilhante idéia, voltada ao melhor aproveitamento do capital humano da Força Terrestre, mas ainda tenho dúvidas sobre o aproveitamento das competências para as devidas necessidades em expertises que o Exército tem” (grifo nosso). “- [...] as avaliações ainda sofrem muito da subjetividade dos avaliadores e não sofrem tratamento estatístico de correção, quero dizer, aproximar avaliadores rigorosos dos benevolentes” (grifo nosso). “- Na Força Aérea tem sido a área menor trabalhada [a de recursos humanos] em relação aos departamentos do alto comando. A avaliação anual é subordinada ao Gabinete do Comandante e ao Estado-Maior e não ao Comando-Geral do Pessoal. De uma forma geral existe uma preocupação em atender ao interesse do militar quanto ao Estado onde servir e de lhe fornecer uma moradia oficial” (grifo nosso). 124 “- Existe a avaliação sistêmica anual na FAB, mas os conceitos não são obrigatoriamente apresentados, sendo obrigatório uma entrevista, onde são expostos os pontos fortes e fracos dos subordinados. Os militares da Aeronáutica são escalonados através de uma „Lista de Mérito Relativo‟ [LMR] formada pelos conceitos da Avaliação anual. Esta LMR é utilizada para missões no exterior e outras funções, mas não é utilizada para promoção” (grifo nosso). “- A avaliação é realizada levando em conta muitos aspectos „subjetivos‟ e tal fato prejudica um fiel escalonamento dos oficiais de uma mesma turma, considerando a falta de padronização dos avaliadores” (grifo do autor). “- [...] Como o processo de avaliação carrega um peso extremamente forte de subjetividade, o emprego sistemático de listas com base nessa avaliação para designação de comissões ou „fornecimento de prêmios‟ por desempenho, por exemplo, podem ser instrumentos de injustiça. Logo, deve ter cuidado especial quanto ao uso de mérito na gestão de pessoas” (grifo nosso). “- A Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) tem nos seus eixos a „Qualidade de vida no Ambiente de trabalho‟. „Onde as instituições públicas devem desenvolver e implantar programas específicos que envolvam o grau de satisfação da pessoa com o ambiente de trabalho, melhoramento das condições ambientais gerais, promoção da saúde e segurança, integração social e desenvolvimento das necessidades do trabalhador ao desenvolver suas atividades na organização, tendo como ideia básica o fato de que as pessoas são mais produtivas quando mais satisfeitas e envolvidas com o próprio trabalho‟ (metas descritas na A3P – 2009). O programa envolve o grau de satisfação do funcionário com o ambiente de trabalho, melhoramento das condições ambientais gerais, promoção da saúde e segurança, integração social e desenvolvimento das capacidades humanas, entre outros fatores. Ou seja, implantar programas de qualidade de vida, saúde e segurança” (grifo nosso).