agt
a força da
flo resta
Esses objetos vem para provocar. propondo uma nova
forma
de
se
relacionar
com
o
fazer,
produzir
e
o
consumir. É o resultado de uma aproximação que parte
do
imaterial,
saberes.
Na
o
espiritual,
mitologia
o
respeito
Yawanawá,
as
que
resgata
araras
levavam
as mensagens nos seus cantos de saudade e esperança.
As luminárias agora assumem o seu papel de mensageiras.
Cantam como as araras, a esperança de um futuro mais
humano para as relações, para as alianças e para um
desenvolvimento
profundo,
com
resgate
das
raízes
ancestrais, trazendo a cura de uma memória baseada
na exploração e na separação do TODO. Esses objetos
tem a função de comunicar e abrirem o caminho para
um movimento sistêmico de fazeres através de contos
que foram passados de avô para pai, de pai para filho,
como na tradição oral dos povos indígenas, a única
possibilidade de permanência da cultura, como um TODO.
Muka Voini is the most important man in the history of our creation. It was he who named all rivers in our region and
all of the Gregório River tributaries where the Yawanawás have always lived.
In his final moments of life, he said that halfway across the world there were other peoples.
There were many. They were thousands. Like ants, like anthills, they don’t stay uncovered at birth as we do. They don’t
walk about like us, in the forest, without taking it down, without cutting.
Their path is equal to that of the ants: it clears everything, destroy in order to build.
Before Muka Voini’s death, his youngest son made him a request: “Father, when you die go ask these people to come
meet us.” After his death, the spirit of Muka Voini travelled halfway across the world.
It went to those people and told them they could come here…
But Muka Voini warned us: “My children, since you are asking me to bring them here, don’t let there be war. Unite. As
such, you will be able to live the rest of your lives.
You may marry their women, and they may marry your women. This will become a great alliance.
If you receive them with war, they will multiply over you, and you will not be able to stand against them. They are in
millions. Before Cabral arrived here on this land, we already knew of their
existence”.
It was Muka Voini who brought muka to earth, this sacred plant, part of who we are, and of the highest spirituality.
It is not a story. It is not a legend. It is a true being from our people.
The legend of Muká as told by chief Biraci
Muká Voini é o homem mais importante da história da nossa criação. Foi ele quem deu o nome de todos os rios da
nossa região e de todos os afluentes do rio Gregório, onde o povo Yawanawá sempre viveu.
E nos seus últimos momentos de vida, falou que do outro lado do mundo existiam outros povos.
E eram muitos. Eles eram milhares. Como formigas. Formigueiros, não ficam de pele limpa quando nascem, como nós.
Não andam que nem nós, no mato, sem derrubar a mata, sem cortar.
O caminho deles é que nem o das formigas: limpam tudo, destroem tudo para construir.
Antes de Muká Voini morrer, seu filho caçula lhe fez um pedido: “Pai, quando o senhor morrer, vá pedir para esse povo
vir nos conhecer.” Depois que morreu, o espírito de Muká Voini atravessou o mundo.
Passou nesse povo e disse a eles que podiam chegar aqui... Mas Muká Voini nos recomendou: “Meus filhos, já que
vocês estão pedindo para eles virem para cá, então não façam guerra, tornem-se aliados. Assim vão poder viver bem
pelo resto da vida. Vocês podem se casar com as mulheres deles, e eles podem se casar com as mulheres de vocês.
Isso vai se tornar uma grande aliança. Se vocês os receberem com guerra, eles vão se multiplicar para cima de vocês,
e vocês não vão aguentar. Eles são milhões. Antes de Cabral chegar aqui nesta terra, a gente já sabia da existência
desse povo”.
E foi Muká Voini quem trouxe o muka para a terra, essa planta sagrada, da nossa formação, da nossa mais alta
espiritualidade.
Não é história. Não é lenda. É um ser verdadeiro do nosso povo.
A lenda do Muká contada pelo cacique Biraci
muká
Cacique Biraci sentado na rede na sua casa,
com seu filho Biraci Junior
fruto de um grande amor com uma branca.
Chief Biraci sitting on a hammock in his home,
with his son Biraci Junior
fruit of a great love with a white woman.
CACIQUE
BI RACI
brasil
yawanawá
Meu avô fez o primeiro contato com homem branco há 150 anos. Desde então nós, Yawanawá
aprendemos do homem branco o pior que ele tem: as drogas, o álcool, a prostituição, a violência.
O homem branco não é só isto...De onde vem toda esta ciência?
Toda esta sabedoria, toda riqueza humana? Tem muita coisa rica, muita coisa boa.
E é isto que a gente tem que aprender a buscar, esta é a maior novidade.
My grandfather first made contact with the white man 150 years ago. Since then, we the Yawanawá, have learned the
worst from the white man: drugs, alcohol, prostitution, violence.
The white man is not only that ... Where does all this science come from?
All of this wisdom, all of this human wealth? There are so are many riches, there’s so much good.
That’s what we need to learn to seek, that is the biggest novelty.
aldeia
vozes que sonham
O sonho é mostrar a cultura Yawanawa, não como algo exótico, mas como a verdadeira
economia criativa brasileira.
Conheci a aldeia Nova Esperança durante o festival Yawa, em outubro de 2012. Durante uma semana, os Yawanawá,
se pintam, dançam, cantam, brincam, para mostrar a seus convidados, sua majestosa cultura.
Conheci também um povo generoso e cheio de amor, disposto a compartilhar tudo que tem de mais sagrado e a
grandiosa riqueza que possuem.
Os Yawanawá até a década de 80 estavam quase em extinção. Entretanto, toda esta cultura que nos foi apresentada
durante o festival, foi absolutamente proibida. Catequizaram os índios prometendo o paraíso e julgando como coisa
do demônio seus rituais, sua língua, suas tradições, suas pinturas, matando sua espiritualidade e sua cultura.
Antes dos missionários houve os seringalistas que também os escravizaram.
Faz apenas 30 anos que o cacique Biraci voltou para a sua aldeia, totalmente disposto a resgatar sua cultura e naquela
ocasião ateou fogo nas bíblias e expulsou os missionários.
Brigou com a Policia Federal que o chamou de comunista, subversivo por defender seu povo, quase foi parar na cadeia.
Esta luta pela liberdade me encantou. A falta de consciência e alienação do povo brasileiro em relação a saga dos
índios me motivou a mergulhar de cabeça nesta riqueza escondida, afim de valorizar e mostrar para o mundo a beleza
em toda a sua dimensão, na forma mais transparente e verdadeira deste povo marcado pela exploração e massacre.
Este é um povo que guarda saberes e segredos, que possuem o conhecimento da cura pelas plantas da floresta. Que
mantém ainda viva a conexão profunda com a natureza.
O povo Yawanawa ainda guarda fortes resquícios deixados pela violenta descaracterização imposta pelo branco. O
resultado disto está na pobreza das suas casas, na perda da identidade alimentar, trocando alimentos naturais por
industrializados. Entretanto, apesar de todo o esforço pelo resgate cultural, a saúde, a autonomia e a sustentabilidade
ainda é muito incipiente, o que os deixa frágeis, doentes e dependentes de uma constante ajuda governamental.
Marcelo Rosenbaum
village
Voices that dream
The dream is to show Yawanawá culture, not as something exotic but as the true
Brazilian creative economy.
I got to know the Nova Esperança Village during the Yawa festival, in October of 2012. During one week, the Yawanawá
paint themselves, dance, sing, and play, to show guests their majestic culture.
I also met generous people who are full of love, willing to share all that is most sacred and the great wealth they
possess.
The Yawanawá up to the 80s were almost extinct. However, all this culture that was presented to us during the festival,
was absolutely prohibited. Catechized the indigenous, promising them paradise, and deeming devilish their rituals,
their language, their traditions, and their paintings, killing their spirituality and culture.
Before the missionaries, there were rubber extractors who enslaved them.
It’s only been 30 years since chief Biraci returned to his village, completely invested in redeeming their culture. Thus,
at that time, he set fire to the bibles and kicked out the missionaries.
He fought with the federal police who called him a communist, subversive for defending his people, he almost ended
up in jail.
This struggle for freedom fascinated me. The lack of awareness and alienation of the Brazilian people in relation to this
indigenous plight, motivated me to plunge head in into this hidden wealth in order to appreciate and show the world
the beauty, in all of its dimensions and in its transparency and truthfulness, people marked by exploitation and
massacre.
These people hold knowledge and secrets, which possess a deep wisdom of healing though plants in the forest. That
still keeps alive the deep connection with nature.
The Yawanawá people still retain strong remnants left by the violent distortion imposed by the whites. The result is in
the poverty of their homes, the loss of their food identity, exchanging natural goods for industrialized foods. However,
despite all efforts to rescue culture, health, independence and sustainability, all is still incipient, leaving them weak, sick
and dependent on constant government assistance.
Marcelo Rosenbaum
FALANDO PARA O POVO
YAWANAWÁ
O QUE FOMOS FAZER LÁ
Telling the Yawanawá
what we
were doing there
Tive um sonho, que é muito mais que vir aqui e fazer
uma coleção de luminárias...
Temos muito o que aprender com vocês, como é a
cultura Yawanawá, que sem duvida é o maior valor que
vocês tem, e vamos transformar isto em produto e
colocar no mundo. Vamos cruzar os oceanos, de onde
os portugueses vieram um dia e transportar através
das luminárias toda esta força, toda esta historia.
Durante o festival tive uma visão de jacarés e jibóias
gigantes feitas de miçangas e emanando luz por todos
os lados, depois vi o jacaré num barco no rio Gregório,
indo para Milão.
Com essa imagem voltei para São Paulo disposto a
realizá-la. Na saída, antes de entrar no barco, o
cacique Bira me deu uma lança e falou: Marcelo você
é um guerreiro !
Acreditando nesta força passei três meses
entusiasmado e cheio de coragem para realizar o
projeto, ouvindo constantemente as pessoas dizendo:
Trabalhar com índio? Você é louco!!!
Tenho certeza que vamos conseguir mostrar
juntos que existem sim formas de trabalhar com índio,
tanto acredito nisto que trouxe comigo mais trinta
pessoas, entre eles arquitetos, astróloga, cinegrafistas,
designers, diretora de arte, fotografo, gestores de
empreendedorismo, pesquisadora de hábitos
alimentares, além de toda equipe do nosso escritório.
Com os elementos da cultura de vocês, os saberes e o
imaginário, aliados a nossas técnicas, vamos fazer
tecidos de miçangas, inspirados nos mitos e
lendas que vamos escutar aqui e transformar em
luminárias fantásticas. Meu sonho é que este produto
esteja na casa dos brasileiros, entendendo e
conhecendo um pouco da cultura Yawanawá,
uma das etnias moradoras do Brasil desde os tempos
imemoriais.
Esta floresta que vamos criar vai sair com a gente.
Existe uma coisa mágica que vai fazer isto acontecer!
Como diz o Bira, a cultura dos índios é como uma erva
poderosa, que todos pisaram, arrancaram os galhos, as
folhas, mas agora ninguém mais pisa e esta erva está
com a raiz fortalecida, pois não foi arrancada e ela vai
crescer mais bela, frondosa.
I had a dream, which was much more than to come
here to make a light fixture collection...
We have much to learn from you, about how is
Yawanawá culture, which undoubtedly is the greatest
value you possess and we’ll turn it into product and
place it in the world. We will cross-oceans; where the
Portuguese once came from and through the light
fixtures, transport all this strength, all this history.
During the festival I had a vision of giant
alligators and pythons made out of beads, with lights
radiating from all its sides, and then I saw the alligator
on a boat over the Gregório River, on his way to Milan.
I returned to São Paulo with this image and I was
willing to make it happen. Upon departure, before
getting on the boat, Chief Bira gave me a spear and
said: Marcelo, you are a warrior!
Believing in this strength, I spent three months
feeling enthusiastic and full of courage to undertake
the project, constantly hearing people say: Working
with indigenous people? You are crazy!!!
I’m sure that together we’ll be able to show that
indeed there are ways to work with indigenous
people. I believe it so much that I brought with me
over thirty people, including architects, an astrologer,
videographers, designers, an art director, a
photographer, entrepreneurship managers, an eating
habits researcher, and all of our office staff.
Adding elements of your culture, knowledge and
imagination to our techniques, we’ll be able to make
beaded fabrics, inspired by myths and legends we’ll
hear about here we’ll turn them into fantastic light
fixtures. My dream is for this product to enter
Brazilian homes, so Brazilians may understand and
get to know a bit about Yawanawá culture, an ethnic
group residing in Brazil since immemorial times.
This forest we’ll create will come with us.
There is something magical that will make this happen!
As Bira says, indigenous culture is like a powerful
herb that everyone stepped over, tore the branches,
and the leaves. But now no one will step over it
anymore, the herb’s roots are stronger because they
were not pulled, and now it will grow even more
beautiful, verdant.
A GENTE
TRANSFORMA*
O AGT* usa o
design para
expo r a alma
brasileira
DESIGN útil
USEFUL DESIGN
O design como catalisador de mudanças para
o redesenho de um novo mundo.
Tem a beleza como o maior agente de mudança,
em seu significado integral e a favor de todos.
Desenvolve a consciência da função social
do design.
É colaborativo e interdependente.
The design as a catalyst for change and for the
redesign of a new world.
The beauty as the greatest agent for change, in its
full meaning and in favor of all.
Develops awareness of design’s social functions
It’s collaborative and interdependent.
AGT
AGT
Propõe despertar e organizar talentos coletivos e
individuais, a partir da crença de que todo individuo
tem potenciais, perspectivas e memórias próprias.
Contribui para validar e valorizar os potenciais e
saberes e transformar em oportunidades dentro e
fora das comunidades.
Oportunidade consiste na abertura de mercados,
geração de renda através do reconhecimento das
tradições, trazendo a permanência da cultura, gerando
auto estima e dignidade.
Proposes to awaken and organize individual
and collective talents, coming from the belief that
every individual has potential, perspectives and
memories of their own.
Contributes to validate and enrich potential and
knowledge, transforming them into opportunities
within and outside the communities.
Opportunity is opening markets, income generation
through recognition of traditions, bringing culture
permanence, generating self esteem and dignity.
shuhu
o exercício de transpor a tipologia da oca em forma de luminária ascendeu
a vontade de, junto com as jovens lideranças YawanawÁ, sair no resgate de
técnicas ancestrais esquecidas.
the exercise to transpose the hut’s typology into a lamp fixture shape,
increased the willingness of the young YawanawÁ leaders
to seek out and rescue ancestral techniques, which were long forgotten.
runuãkené
A jibóia era o pajé de antigamente, ela vinha falar com a gente
em sonho. ela vinha como espírito nos ensinar a medicina da mata
Palavras do grande pajé Yawa, 100 anos
The Anaconda was the shaman of old, she came to talk to us
in dreams. She came as a spirit to teach us the medicine of the woods.
Words of the great shaman Yawa, 100 years old
a lenda
do
jacaré
ponte
...E o velho sábio pediu para que eles andassem no
caminho mais alto possível e cantassem e dançassem,
pois a festa não podia ter fim.
Viajaram por três meses sem parar.
Era uma época em que os pajés falavam com os
animais, até que encontraram um jacaré gigante
que servia de ponte para outra margem do rio e já
tinha várias árvores nascidas em cima dele, fizeram
um acampamento sem saber que era um jacaré.
Quando descobriram, o jacaré avisou que só poderiam
atravessar se dessem comida por três meses e não
poderiam ser os netos do jacaré que estavam por perto.
Depois de três meses acabou toda a comida, não
tinha mais veado, não tinha mais anta, paca, queixada,
nenhum tipo de animal, nenhunzinho.
E como sempre tem gente que não obedece, um
índio foi lá e matou um jacarezinho e deu de comida
para o jacaré ponte. O jacaré, para se vingar, cantou
para seduzir e convidou os índios a atravessarem para
o outro lado do rio.
Na segunda leva de índios ele virou e comeu uma
parte deles e a outra jogou no rio cheio de piranhas
gigantes que devoraram os índios.
A água ficou tão vermelha que parecia que tinham
jogado urucum de tanto sangue e foi ai que o povo se
dividiu. Acreditamos que nosso povo está espalhado
por todo lado.
A partir dai se criou o canto do Kanarô que é a arara
azul, que voa mais alto levando e trazendo mensagens
de saudades.
... And the wise old man asked them to walk in the
highest possible path and sing and dance because the
party could not end. They traveled for three months
without stopping. It was a time when the shamans
spoke with animals, until they met a giant alligator
that served as a bridge to cross over the river bank,
several trees already grew on top of him. They made
camp never knowing it was an alligator.
When they found out, the Alligator warned them that
they could only cross through if they fed him for three
months, and that they could not feed on his
ººgrandchildren standing nearby.
After three months all the food was gone, there was
no more deer, no more tapir, paca, or peccary pigs,
any kind of animal, not even one. As always, some
people don’t obey, one indigenous man killed a small
alligator and fed the Alligator Bridge.
In order to get revenge, the alligator sang to seduce
them and invited the indigenous men to cross to the
other side of the river. Upon the second wave of men,
he turned and ate some of them and threw the rest in
the river, full of giant piranhas who devoured them.
The water turned so red that it looked like people had
thrown annatto in, there was so much blood, and it
was there that the people were divided. We believe
that our people are scattered everywhere.
From then on the song of the Kanarô, the blue macaw,
was created. It flies the highest, taking and bringing
messages of longing.
The
legen d
of the
Alligator
Bridge
kape
A criação do povo Yawanawá
A great warrior of the people killed an old man, cut off his head, opened it and found a stone. The warrior took the stone,
placed in a basket, and left for his home. Arriving there he hung the basket and went to sleep. Throughout the evening he
began to hear a noise, he got up and noticed the basket was spinning, when he opened up the basket, he discovered a
headdress made out of macaw feathers. He took the macaw feathers and threw them out. The basket started spinning
faster several headdresses came out from it: made of blackbird feathers, harpy eagle, heron, python leather, peccary
pig skin. Until the basket starts to spin so fast that the warrior loses control of transformation from enchanted stone
that he took from the old man. Suddenly, from all the spinning, the basket falls to the ground and shatters with such
great force that it hits the bottom of the Earth, and from there, a stream of men are born, wearing headdresses made
of macaw feathers, jaguars and herons. Thus, creating all of the Nawa people, all of our brothers: Kàmãnawa – jaguar
people, Iskunawa – blackbird people, Ushunawa - white heron people, Shanenawa - blue bird people, Rununawa –
snake people, Kaxinawá – bat people.
And at that moment, the creation spell made thousands of people appear, climbing up a hill with their headdresses,
and already having a place to live on earth: the OCA*.
That is how the Yawanawá came to be, the people who were born of the peccary pig headdress.
*typical indigenous hut or home
the creati on of the yawanawá peo ple
hunãti
Um grande guerreiro de um povo matou um velho, cortou sua cabeça, abriu e encontrou uma pedra. O guerreiro
pegou a pedra colocou dentro de uma cesta e saiu para sua casa. Chegando lá, pendurou a cesta e foi dormir. Durante
a noite começa a escutar um ruído, levanta e vê a cesta girando, quando ele abre a cesta, dentro tem um cocar de
pena de arara.
Ele pegou a pena de arara e colocou fora. A cesta começa a girar mais forte e começam a sair vários cocares: de pena
de japó, de gavião real, de garça, de couro da jibóia, de pele da queixada. Até que a cesta começa a girar com tanta
velocidade que o guerreiro perde o controle de transformação da pedra encantada que ele havia pego do velho.
De repente a cesta, de tanto girar cai no chão e se quebra com muita força indo bater no fundo da terra e de lá
começa a nascer uma fila de homens com cocar de pena de arara, de onça de garça e assim vem a criação de todo
o povo Nawa, todos nossos irmãos: Kàmãnawa - povo da onça, Iskunawa - povo do japó, Ushunawa - povo da garça
branca, Shanenawa - povo do pássaro azul, Rununawa - povo da cobra, Kaxinawá - povo do morcego.
E neste momento, o encanto da criação faz surgir milhares de pessoas subindo uma ladeira com seus cocares já tendo
um lugar na terra para morar: a OCA.
E assim se deu a origem dos Yawanawá, o povo que nasceu do cocar da Queixada.
mayti
O cocar é o símbolo da nossa identidade
indígena, não é enfeite, não é adorno, é a
nossa conexão eterna com o nosso criador.
cacique biraci
The headdress is a symbol of our indigenous identity,
it is not an embellishment, nor an adornment, it is our
eternal connection with our Creator.
cacique biraci
puriti
O processo criativo
São três estúdios de design com repertórios completamente diferentes, cada
um trazendo olhares diversos de uma bagagem urbana, de cinemas, exposições,
literatura, viagens.
O encontro dos designers se deu pela primeira vez embaixo de uma mangueira,
escutando histórias e mitos indígenas contadas pelo Nani, uma das lideranças da
aldeia.
Foi pela voz do Nani que pudemos aprender o que são os ”Kenes” num sentido
amplo: são as mais variadas manifestações de tudo o que nossa visão pode captar
e num sentido mais palpável são os desenhos e os grafismos expressos nas pinturas
de corpo e no artesanato das miçangas.
Num segundo momento, solicitou aos artesãos envolvidos no trabalho de luminárias
que mostrassem todos os desenhos “kenes”. Foi a partir destes desenhos, na
intersecção com os mitos e convívio com a floresta, que começamos os primeiros
esboços.
O exercício de transpor a tipologia da oca em forma de luminária ascendeu a
vontade de, junto com as jovens lideranças Yawanawá, sair no resgate de técnicas
ancestrais esquecidas. Fomos para dentro da floresta em busca de cipós, madeiras
e palhas.
O trabalho de co-criação se deu, desde o início, com as peças criadas em conjunto,
numa sinergia em que todos se envolviam e opinavam simultaneamente, colocando
instintivamente em prática os princípios do design útil. E foi neste clima que se
reconstituíram os elementos da floresta, com a mistura dos olhares e percepções.
the creative process
There are three design studios with completely different repertoires; each contributing
with a different take from their urban luggage: cinema, exhibitions, literature, and travels.
The designers first met under a mango tree while listening to stories and indigenous myths
told by Nani, one of the village’s leaders.
It was through Nani that we were able to learn what the “Kenes” are.
In a broad sense they are varied manifestations of all that our vision can behold, and in a
more concrete sense they are the drawings and artwork expressed in body paintings and
beads craftwork.
Secondly, he asked artisans who were involved in working with fixtures to show us their
drawings - “Kenes”. It was from those drawings, an intersection of the myths with living
in the forest, that we started the first sketches.
Next, the exercise to transpose the hut’s typology into a lamp fixture shape, increased
the willingness of the young Yawanawa leaders to seek out and rescue ancestral techniques,
which were long forgotten. We went into the forest in search of wood, vines and straw.
The co-creation work took place since the beginning with pieces that were created together,
a synergy that allowed everyone to be involved and simultaneously shared their opinion,
instinctively putting the principles of good design into practice.
It was under this atmosphere that elements of the forest were reconstructed, with a mixture
of visions and perceptions.
runuãrun uahu
A jibóia, ela foi uma das pessoas que causou a primeira morte . Ela tinha tanta sabedoria que queria experimentar
fazer uma coisa diferente. Então ela pensou em trazer a morte e inserir no homem.
Palavras de Nani
The anaconda, she was one of the people who caused the first death. She had so much wisdom that she wanted to try to do something
different. Then she thought of bringing death and introduce it to men.
Words by Nani
tapete de luz...
O KEÑE está no mundo inteiro, está em todos os lugares, a gente que não
sabe, que não percebe.
A gente está aqui no keñe da luz, do claro - a claridade.
A gente separa dia da luz. E nos nossos cantos a gente pede claridade para
as nossas mentes, para colocar o tapete de luz para a gente entrar.
No tapete sagrado de luz a gente pede para não correr risco, para não pisar
em lugares que podem atrapalhar nosso caminhar.
O tapete de luz é uma coisa dada pelo espírito, é um caminho que se tem
que trilhar sem medo de fazer alguma coisa errada. É o tapete sagrado. É o
keñe das coisas boas, do defensor, que o criador coloca no nosso caminho
para a gente andar em cima.
Yuve keñe.
Palavras do Nani, embaixo de uma mangueira
carpet o f li ght...
The keñes are all over the world, is everywhere we don’t know, we
don’t take notice. We are here in the keñe of light, luminous - bright.
We separate the day from the light, and in our chants we ask for
clarity of mind, for a carpet of light to be placed so we can enter.
On the sacred carpet of light we ask not to be in danger, not to step into
places that can disturb our path.
The carpet of light is something given to us by the spirit, it is a path that one
has to walk without fear of doing something wrong. It is the sacred carpet,
the keñe of good things, the guardian, which the creator places on our path
so that we may walk over.
Yuve keñe.
Nani’s words, under a mango tree
shunuã
luz que brilha n o camin ho brilha eM mim brilha em você
DE VOLTA A SÃO PAULO, COM AS PEÇAS CRIADAS, FINALIZAMOS AS LUMINÁRIAS EM CONJUNTO
COM A LA LAMPE, EMPRESA QUE VAI COMERCIALIZAR A COLEÇÃO.
BACK IN SÃO PAULO WITH THE GENERATED PIECES, THE FIXTURES WERE FINALIZED
IN PARTNERSHIP WITH “LA LAMPE”, THE COMPANY THAT WILL COMMERCIALIZE THE COLLECTION.
FICHA TÉCNICA AGT YAWANAWÁ/ STAFF AGT YAWANAWÁ
Concepção e Direção/ Concept and Direction
Marcelo Rosenbaum
Equipe Executiva/ Executive Team
Adriana Benguela
Mariana Brunini
Ludimilla Bueno
TIRANDO AS PEDRAS DO CAMINHO
Nosso compromisso é de juntos criarmos uma prática que proporcione uma consciência de como gerir os
recursos materiais em todas as dimensões, facilitando a vida cotidiana da comunidade, a permanência da cultura
e o resgate da dignidade.
Removing Stones from the Path
Our commitment is to create a practice together that provides awareness of how to
manage material resources in all dimensions, facilitating the communIty’s the daily life, the permanence of
culture, and the restoration of dignity.
Design de ProdutO/ Product Design
Rosenbaum®– Marcelo Rosenbaum
Fetiche Design – Carolina Armellini e Paulo Biachi
Nada Se Leva – André Bastos e Guilherme Leite Ribeiro
Direção de Arte e Design Gráfico/ Art Direction and Graphic Design
Fabiana Zanin
FONT®FLORESTA - FABIANA ZANIN/ CHICO NETO
Fotos/ Photography
AGT / A GENTE TRANSFORMA / 2013 / A FORÇA DA FLORESTA
POVO DA QUEIXADA (YAWA - QUEIXADA / NAWA - GENTE) VIVE ÀS MARGENS DO RIO GREGÓRIO DESDE OS TEMPOS IMEMORIAIS
TRIBO INDÍGENA YAWANAWÁ / ALDEIA NOVA ESPERANÇA / TARAUACÁ / ACRE / BRASIL
PEOPLE OF THE PECCARY PIG (YAWA – PECCARY PIG / NAWA - PEOPLE) THEY LIVE ON THE SHORES OF THE GREGÓRIO RIVER SINCE IMMEMORIAL TIMES.
SOBRE PROJETO/ ABOUT PROJECT
WWW.ROSENBAUM.COM.BR
SOBRE PRODUTO/ ABOUT PRODUCT
WWW.LALAMPE.COM.BR
Lucas Moura
Textos/ Copy
Lydia Vainer
Tradução de textos/ Translator
Mariana Seixas
Pesquisa de Arquitetura/ Architecture Research
Henrique Pinheiro
Bruna Riscali
Pesquisa Gastronômica/ Gastronomic Research
Ana Luiza Trajano
Assessoria em Gestão e Empreendedorismo/ Management and Entrepreneurship Advice
Aliança Empreendedora
ACRE
*
BRASIL
Propriedade intelectual/ intellectual property
AZPI
Participação Especial dos Empreendedores/ Entrepreneurs Special Contribution
Marcilene Lusia Barbosa – AGT Várzea Queimada/PI
Geovane da Silva Melo – AGT Parque Santo Antonio/SP
Assesoria de Imprensa/ Press Advisor
Marqueterie
Jornalista responsável / Mariana do Couto Prado de Almeida MTB 50705/SP
Agradecimentos Especiais/ Special thanks
Cacique Bira e todos os moradores das Aldeias Nova Esperança e Amparo
Artesãos/ Artisans
Aldelícia, Adelaide, Adriana, Alderina, Alice, Ana, Ângela, Arlene, Baby, Bê, Birê, Bolinha, Chiquinha, Darico, Doutor, Elem,
Elessandra, Eliana, Elzilene, Érica, Feia, Gleice, Ikashahu, Íria, Itelvina, Jael, Jana, João, João Felipe,Kana Maxi, Léia, Lia, Lilda,
Mª Alzira, Macirlene, Márcia, Marilene, Matsa,Matxa, Miliana, Monaline, Nãynawa, Nii, Nizete, Odete, Ozelia, Piko, Quesia,
Ronaldo,Rosiane, Salete, Samire, Shatxi, Shaya, Tabita, Tamires, Tayana, Nawashahu, Txuca, Vimi, Xauka, Ika, Lainara, Baxinha,
Xoka, Tina, Chico, Celeste, Sandra, Luiz, Raquel, Xutu, Kashahu, Mukura, Kagao, Izael, Bada, Brasil, Txai Marco.
EQUIPE LA LAMPE/ LA LAMPE TEAM
Alessandra Friedmann, Adriana Fernandes, Cláudia Petrucci, Márcia Flores, Thiago Guimarães, Ana Cláudia Silva, Márcio Neri,
Eduardo Sola, Felipe Rodrigues, Luciana Malgarisi, Alan Brito, Simone Hanauer, Rodrigo Santos, Sidney Rosseti, Deivid Ribeiro,
Thiago Souza, Rafael Martins, Flávia Fiore, Gisele Fernandes, Daniele Costa, Maria Carneiro.
FOTOS STILL/ STILL PHOTOGRAPHY
Thiago Calazans
Agradecimentos aos parceiros/ Special Thanks to Partners
Cristiane Rosenbaum, Marcos Lopes, Ana Bravo, Renata Rocha, Gabriel Valdivieso, Kaká Werá, Elaine Silva, Charles Bezerra,
Marcelo Coimbra, Felipe Milanez, Maria Helena Estrada, João Castanho.
Apoio
“É o tempo do homem voltar para sua origem. Para a terra. O nosso coração. Olhar a terra.
Saber amar uns aos outros, saber se respeitar. Buscar alianças, se solidarizar.”
Pajé Yawa, 98 anos ditas no final de 2010
“It is time for man to return to its origin, to Earth, to his heart, to look at Earth.
Learn to love each other, to learn to respect, search for alliances, and show solidarity”
Shaman Yawa, said at the age of 98, in late 2010
i uhuuu
agt
a fo rça da
flo resta
These objects come to provoke. proposing a new way
of relating to making, producing and consuming. The
end result of an approach that comes from what is
immaterial, spiritual, respectful of knowledge rescue.
In Yawanawá mythology, macaws brought messages in
their songs of longing and of hope. The light fixtures now
assume their role as messengers. They sing, like macaws,
of hope for a more humane future in relationships, for
alliances, and for deep development; rescuing ancestral
roots, bringing healing to memories based on exploitation
and separation of ALL. These objects have the role of
communicating and unfolding the path for a systemic
production movement through stories that were passed
down from grandfather to father, father to son, as in the
oral tradition of indigenous peoples, the only possibility
of permanence of culture, as a unit.
Download

revista online