UMA ANÁLISE SOBRE A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS NA CONTEXTUALIZAÇÃO DAS FUNÇÕES ORGÂNICAS Maria Cristina Quaresma da Silva (UFPB/CCA – Bolsista Subprojeto Química PIBID/CAPES) Taís Machado da Silva (UFPB/CCA – Bolsista Subprojeto Química PIBID/CAPES) Maria Betania Hermenegildo dos Santos (UFPB/CCA – Professora/Coordenadora/ Subprojeto Química PIBID/CAPES) RESUMO A química é uma disciplina cujos alunos apresentam grandes dificuldades de aprendizagem dos seus conteúdos destacando-se entre esses, as funções orgânicas. Este comprometimento no ensino pode ser atribuído á falta de contextualização do assunto ministrado com o cotidiano dos alunos implicando numa aprendizagem pouco significativa. Com base nesta constatação objetivou-se, com este trabalho, verificar a familiaridade que os alunos têm com as funções orgânicas presentes em produtos que fazem parte do seu dia-a-dia. Para isto, aplicou-se um questionário contendo sete questões, a vinte e quatro alunos do terceiro ano do ensino médio de uma escola pública, na cidade de Areia-PB. Ao analisar os resultados constatou-se que 42% dos alunos afirmaram estabelecer uma relação maior com as funções orgânicas, apenas em sala de aula. Esta informação pode ser corroborada pelos dados obtidos ao se questionar os discentes sobre os compostos orgânicos presentes nas moléculas da aspirina utilizada como anti-inflamatório e analgésico, do ácido ascórbico ou vitamina c, que é utilizada em casos de gripe e resfriados e na do paracetamol utilizado como antitérmico e analgésico, 67%, 88% e 79%, não conseguiram identificar tais funções orgânicas, respectivamente, da mesma forma quando solicitados para relacionar os principais compostos orgânicos existentes no ácido fórmico que é secretado e produzido com a finalidade de ataque e defesa em abelhas, formigas e urtigas, e a propanona ou acetona, utilizada como solvente em esmaltes e tintas, 75% e 54% não conseguiram relacioná-las corretamente. Percebeu-se, com base nesses resultados, que os alunos não foram capazes de relacionar as funções orgânicas vistas em sala de aula com o seu cotidiano. Uma provável solução para este impasse seria a adoção de uma metodologia que busque contextualizar a química possibilitando, ao aluno, a oportunidade de construir, de forma significativa, sua própria concepção de mundo, colaborando para a formação de cidadão consciente e informado. Palavras-chave: Química Orgânica, Contextualização, Ensino Aprendizagem. 1 2 1 INTRODUÇÃO A Química, tal como outras Ciências da Natureza e Tecnologias (CNT) é uma disciplina em que os alunos apresentam grandes dificuldades no aprendizado, geralmente pelo método tradicional que o professor utiliza para transmitir os conteúdos aos seus alunos. Uma característica comum das aulas tradicionais é a memorização de conceitos, fórmulas e leis que levam à aprendizagem mecânica e insignificante. O conteúdo estudado em sala de aula se torna, nesta perspectiva, algo desfragmentado da realidade que os discentes vivem e pouco contribui para a almejada transformação. Aprender química não se resume a adquirir domínio de terminologia e procedimentos pontuais que, mesmo necessários são, em muitos aspectos, insuficientes (OLIVEIRA, et al., 2010). Para Fary et al. (2012), o método tradicional de ensino se preocupa apenas com a memorização, o treino, a repetição, tornando os conteúdos verdades absolutas e inquestionáveis. Os alunos que aprendem através dessas aulas tradicionais não conseguem, em geral, perceber a relação entre seu cotidiano e a química pois estão preocupados em decorar para alcançar a nota e não para adquirir conhecimento; assim, assim é necessário criar condições favoráveis e agradáveis para o ensino e aprendizagem da disciplina aproveitando as vivências dos alunos, os fatos do dia-a-dia, a tradição cultural e a mídia buscando, com isto, reconstruir os conhecimentos químicos para que o aluno possa refazer a leitura do seu mundo. Segundo Demo (2010) a aprendizagem é vista como uma dinâmica reconstrutiva que ocorre de dentro para fora, para ele, o aluno, aprender, a partir do momento em que reconstroi o conhecimento e não apenas reproduzir na prova de modo contínuo, o que se copia e escuta. Em relação ao ensino de química e apesar do termo contextualização ser tão abordado hoje em dia, vem sendo pouco utilizado favorecendo um ensino comprometido pela falta da relação dos conteúdos ministrados com o cotidiano dos alunos (BRAIBANTE, 2010). Segundo Braibante (2010); Pazinato et al. (2012) apesar da Química Orgânica representar cerca de 90% de todas as substâncias conhecidas, a constituição básica dos seres vivos e estar presente em alimentos, vestuários, fármacos, higiene e combustíveis, 3 entre outros compostos, a maioria dos professores do ensino médio ainda tem muitas dificuldades em contextualizar os conteúdos curriculares dessa disciplina em suas aulas. Com base no exposto e ciente da importância da contextualização e do cotidiano na educação objetivou-se, com este trabalho, verificar a familiaridade que os alunos têm com as funções orgânicas presentes em produtos que fazem parte do seu dia a dia. 2. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada com vinte e quatro alunos do terceiro ano do ensino médio de uma escola da rede estadual de ensino da Paraíba, que atua com o nível fundamental e médio, localizada na cidade de Areia - PB. Para avaliar a percepção dos alunos na contextualização das funções orgânicas foi aplicado um questionário com uma questão objetiva, cinco questões subjetivas e uma questão com perguntas objetivas e subjetivas, totalizando sete questões. A turma selecionada para aplicação desta atividade já tinha estudado este conteúdo; após a coleta de dados os mesmos foram categorizados e analisados por meio de gráficos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo Alba et al. (2013) a Química tem uma linguagem difícil em virtude de suas nomenclaturas, fórmulas e símbolos e da falta de contextualização das situações reais vivenciadas pelos alunos e o que eles aprendem na sala de aula; esses fatores têm desmotivado os alunos, o que torna difícil o trabalho do professor na sala de aula. O gráfico apresentado na Figura 1 expõe o ambiente em que os alunos acreditam manter uma relação maior com a Química Orgânica. Notou-se, na Figura 1, que dos discentes questionados mais de 40% indicaram estabelecer relação com química orgânica em sala de aula e 33% relataram no convívio familiar. 4 A contextualização da química orgânica através de produtos que estão presentes no cotidiano dos alunos, tem sido usada como organizadora prévia, que irá funcionar como ponte cognitiva. Segundo Moreira; Massoni (2006), a principal função do organizador prévio é servir de ponte entre o que o aprendiz já sabe e o que ele deve saber, a fim de que o material possa ser aprendido de forma significativa. Com o intuito de avaliar o grau de conhecimento dos alunos em relação às funções orgânicas e os produtos presentes em seu cotidiano, solicitou-se que os alunos identificassem os grupos funcionais orgânicos presentes nas moléculas da aspirina utilizada como anti-inflamatório e analgésico, do ácido ascórbico ou vitamina c, que é utilizada em casos de gripes e resfriados e em queimaduras profundas e do paracetamol utilizado como antitérmico e analgésico que reduz a febre e promove o alívio das dores, cujos resultados estão dispostos nos gráficos da Figura 2. Conforme se percebe na Figura 2, 67% dos discentes indagados não conseguiram identificar corretamente as funções orgânicas presentes na molécula da aspirina, 88% não foram capazes de realizar esta identificação na molécula do ácido ascórbico e 79% na molécula do paracetamol. Esses resultados são preocupantes, em razão do elevado percentual de discentes que não conseguiram associar a Química Orgânica a esses medicamentos tão presentes no cotidiano. Resultados similares foram encontrados por Aquino; Guedes; Santos (2012) ao observar que os alunos possuem ideias fracas acerca da Química Orgânica e de Compostos Orgânicos presentes no seu cotidiano. A proposta apresentada para o ensino de Química nos PCNEM se contrapõe à velha ênfase na memorização de informações, nomes, fórmulas e conhecimentos como fragmentos desligados da realidade dos alunos. É imprescindível que, neste processo, sejam contempladas, conjuntamente, diferentes ações didáticas, pedagógicas, culturais e sociais, desde as mais específicas e aparentemente simples, como a disposição física da sala de aula, até as mais gerais e muitas vezes complexas, envolvendo toda a comunidade escolar e seus entornos (BRASIL, 2002). Observam-se na Figura 3, os resultados quando os discentes foram questionados sobre os principais compostos orgânicos existentes no ácido fórmico, que é secretado e 5 produzido com a finalidade de ataque e defesa em abelhas, formigas e urtigas, e a propanona ou acetona, utilizada como solvente em esmaltes e tintas. Conforme se observa na Figura 3 (I) 75% dos alunos não foram capazes de relacionar as funções orgânicas vistas em sala de aula com as presentes no ácido fórmico; no caso da propanona o percentual foi de 54% de discentes que não conseguiram relacioná-las corretamente Figura 3 (II). Pazinato et al. (2012) detectaram, em seu trabalho que o principal guia dos professores em sala de aula é o livro didático, cujos conceitos são desenvolvidos de maneira tradicional, com poucos experimentos e, na maioria das vezes, desvinculados da realidade dos alunos. Com o objetivo de trabalhar de maneira contextualizada, muitos conceitos de química orgânica, os autores sugerem atividades experimentais que identifiquem grupos funcionais em medicamentos já que esses atuam na defesa do nosso organismo e os responsáveis por seus efeitos são moléculas orgânicas chamadas princípios ativos que possuem, em sua estrutura química, vários grupos funcionais. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nos resultados nota-se que a maioria dos discentes não conseguiu identificar as funções orgânicas nas moléculas da aspirina, do ácido ascórbico e do paracetamol, assim como quando pedidos para relacionar as funções orgânicas presentes no ácido fórmico e na propanona. Assim a contextualização da química orgânica com o cotidiano dos alunos apresentou-se como oportunidade para um estudo mais interessante e eficiente com vista à construção de uma aprendizagem significativa. 5. REFERÊNCIAS ALBA, J. et al. Estudo de Caso: Uma Proposta para Abordagens de Funções da Química Orgânica no Ensino Médio. Revista Brasileira de Ensino de C&T, v.6, n. 2. Ponta Grossa- PR, 2013. 6 AQUINO, G. B.; GUEDES, J. T.; SANTOS, L. D. Otimização do processo de ensino aprendizagem de funções orgânicas através do tema gerador “xampus”. Revista de Educação, Ciência e Cultura. v. 1, n. 1, 2013. BRAIBANTE, H. T. S. Retroprojetor como bancada de laboratório de Química. Santa Maria: Pallotti Editora, 2010. BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN +). Ensino Médio: Ciências da natureza, Matemática e Tecnologias. Brasília, 2002. DEMO, P. Ser professor é cuidar que o aluno aprenda. Porto Alegre: Mediação, 2010. p. 14. FARY, B. A. et al. Química Dos Medicamentos: Ensino De Funções Orgânicas Aliado À Conscientização Social. In: III Simpósio Nacional de Ensino de Ciências e Tecnologia. Anais eletrônicos... Ponta Grossa, 2012. Disponível em: www.sinect.com.br/anais2012/html/ensino%20qui.html. Acesso em: 03 outubro 2014. MOREIRA, M. A.; MASSONI, E. F. S. Aprendizagem significativa: a teoria de aprendizagem de David Ausubel. São Paulo: Centauro Editora, 2º ed., 2006, cap.3 OLIVEIRA, B. R. M. et al. Uma abordagem contextualizada na introdução de funções orgânicas a alunos do Ensino Médio. In: XV Encontro Nacional de Ensino de Química (XV ENEQ). Anais eletrônicos... Brasília, 2010. Disponível em: http://www.xveneq2010.unb.br/resumos/R1188-1.pdf. Acesso em: 03 outubro 2014. PAZINATO, M. S. et al. Uma Abordagem Diferenciada para o Ensino de Funções Orgânicas através da Temática Medicamentos. Química Nova Na Escola. V.34, n. 1, 2012. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc34_1/05-EA-43-11.pdf. Acesso em: 03 outubro 2014. 7 ANEXO Figura 1: Ambiente em que os discentes acreditam estabelecer uma relação maior com a Química Orgânica (I) (II) 8 (III Figura 2: Percentual de erros e acertos dos alunos ao relacionarem as funções orgânicas presentes nas moléculas da (I) Aspirina; (II) Ácido Ascórbico ou Vitamina c; (III) Paracetamol (I) (II) Figura 3: Principais compostos orgânicos existentes: (I) Ácido Fórmico e (II) Propanona