Product: OGlobo 14 PubDate: 21-10-2013 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_N User: Asimon Time: 10-20-2013 20:35 Color: C K Y M l O GLOBO Segunda-feira 21 .10 .2013 OGLOBO Tema em discussão | | Futuro da reforma agrária | Nossa opinião | | Melhorar o existente A A desaceleração na distribuição de terras reforma agrária, como qualquer política pública, pode ser avaliada por está em linha com um fato incontestável: a meio de estatísticas frias — número necessidade da reforma agrária, bandeira de assentados, por exemplo —, mas que faz parte da História do Brasil, à direita e também, de forma mais ampla, pela qualida- à esquerda, foi tirada da agenda do país pela de dos assentamentos. E, por esta ótica, a si- própria modernização do campo. O “latifúndio improdutivo” virou figura de retórica, o tuação é preocupante. A ponto de o próprio governo Dilma ter de- agronegócio o tornou produtivo. O próprio fim da superinflação acabou com cidido suspender a cessão de terras, para concentrar os esforços em corrigir os graves o entesouramento de terras para fins de reserdesvios observados em muitos assentamen- va de valor. Foi uma época em que até os bantos. Mas, semana passada, anunciou a reto- cos procuravam ampliar a rede de agências com imóveis próprios, para promada de desapropriações, num teger os ativos da corrosão do poato claramente condicionado Eleição leva der de compra da moeda. ao calendário eleitoral. Dilma a voltar O crescimento mesmo da agriO resultado da visão de que a instalar cultura empresarial puxou a agriquanto mais terras para a reforcultura familiar. É conhecida a exma agrária, melhor foi mostranúcleos, periência, no Sul, em que grandes do em reportagens do GLOBO: quando grupos da agroindústria se articuassentamentos sem qualquer muitos dos lam com extensas malhas de forinfraestrutura que lhes permita necedores constituídos de pequesobreviver sem a ajuda do goexistentes se nos proprietários. Não há qualverno. Estradas precárias, falta favelizam quer contradição entre eles, ao de assistência técnica, problecontrário. E é devido à multiplicimas no abastecimento de água são algumas das distorções decorrentes de dade de arranjos produtivos — grandes áreas falta de planejamento oficial que convertem cultivadas com grãos e destinadas à agropevilas de assentados em favelas rurais. Nelas, cuária, como indicado, e pequenas e médias aspirantes a agricultores sobrevivem apenas propriedades eficientes articuladas com a devido ao Bolsa Família e a cestas básicas dis- agroindústria — que tornou o Brasil uma potência agrícola. tribuídas pelo poder público. E, além de tudo, o processo de migração paNa Amazônia, a incúria foi tamanha que famílias desassistidas pelo Incra se transformaram ra as cidades, clássico numa sociedade em em vetores de desmatamento, pois a madeira modernização, reduziu o número dos benefiera (e é) a sua única fonte de sustento imediato. ciários em potencial de uma reforma agrária. Há fotos de satélites que atestam o desastre soci- O correto, então, é mesmo melhorar o que já al e ambiental da ocupação predatória da região foi feito. Mas, infelizmente, as eleições levam Dilma na direção oposta. l feita em nome da reforma agrária. | Outra opinião Uma nova rota ELVINO BOHN GASS entes. Ainda somos o país de concentração fundiária, o campeão em uso de agrotóxicos nas lam 2003, quando Lula assumiu a Presi- vouras e o que ainda emprega mão de obra em dência, havia no Brasil mais de 240 condições análogas às de escravidão. No governo mil famílias sem terra acampadas. As- Dilma, a reforma agrária está acelerando e qualisentá-las, com todas as condições pa- ficando esta integração de políticas em desenvolra a produção agrícola, gerando renda e digni- vimento, dando eficiência à implementação das dade no campo, era o que precisava ser feito. E políticas públicas e dotando o Incra de capacidafoi. Desde então, o Brasil realizou a maior re- de para oferecer ao seu público os serviços nevolução em políticas públicas para o meio ru- cessários. Reforma agrária, agora, se faz, tamral, assentando mais de 600 mil famílias em bém, com o Plano Brasil sem Miséria, o PAC, o aproximadamente 85 milhões de hectares de Brasil Carinhoso, o Bolsa Família, entre outros. Essa nova rota da reforma leva terras. Combinada com o PAC, a em conta características das famínova Política de Reforma Agrária A reforma se lias, que orientam as ações do Inlevou estradas aos assentamenfaz também cra e do MDA. Exemplo: abordar tos; o Programa Terra Sol ofereceu com o Plano com políticas públicas de inserção infraestrutura para o beneficianos mercados e de suporte tecnomento da produção; o Pronera, Brasil sem lógico as famílias de agricultores educação para jovens e idosos do Miséria, o mais avançadas economicamente campo; e o Minha Casa Minha ViPAC, o Brasil e organizadas coletivamente; e da, habitação rural adequada. Por ampliar o escopo ambiental das intermédio do Plano Safra da Carinhoso e o políticas públicas para as comuniAgricultura Familiar, levou-se asBolsa Família dades que estão sobretudo na sistência técnica e extensão rural a Amazônia. Outra ação é atuar no mais de 300 mil famílias por ano; recursos do Pronaf alcançaram R$ 6,4 bilhões; conjunto de pobres e extremamente pobres. Nos dez anos de governo do PT, o meio rural e os mercados institucionais de compras públicas permitiram que o alimento da agricultu- tem respondido à altura das oportunidades oferra familiar e da reforma agrária chegasse às es- tadas e o país, como um todo, vivencia enormes mudanças sociais e econômicas. Contudo, uma colas públicas e às entidades assistenciais. Essa dinâmica de integração de políticas tem reforma agrária realizada em todo o território nafuncionado. Recente estudo da FGV constatou cional, que democratize o acesso à terra e comque a redução na desigualdade social no meio bata as desigualdades no meio rural, continua rural alcançou 8,3%, bem superior aos 6,5% da sendo uma estratégia essencial para o desenvolmédia histórica brasileira; e verificou que o índi- vimento sustentável do Brasil. l ce de Gini, que afere a desigualdade, indicou o valor de 0,489, ou seja, 10,3% inferior ao detecta- Elvino Bohn Gass é deputado federal (PT-RS) do no país. Resultados satisfatórios, mas insufici- e secretário nacional agrário do partido E DENIS LERRER ROSENFIELD O marinês O marinês é uma nova língua política que se caracteriza por abstrações e fórmulas vagas com o intuito de capturar o apoio dos incautos. Suas expressões aparentemente nada significam, porém procuram suscitar a simpatia de pessoas que aderem ao politicamente correto. Contudo, só aparentemente nada significam, pois carregam toda uma bagagem teórica que, se aplicada, faria do Brasil um país não de sonháticos, mas de pesadeláticos. A candidata Marina Silva ganhou imenso protagonismo nas últimas semanas ao ingressar no PSB do governador Eduardo Campos fazendo um movimento político inusitado. Ao aparentemente aderir ao candidato socialista, terminou roubando para si a cena política como se fosse, de fato, a protagonista principal. De segunda posição, a de vice, age como se encarnasse a primeira, de presidente. No afã de ganhar espaço midiático, não cessa de dar entrevistas e declarações, tendo conseguido o prodígio de, em um único dia, dar três entrevistas aos maiores jornais brasileiros, o “Estadão”, O GLOBO e a “Folha”, que fizeram manchetes dessas declarações. Nada disse, porém não parava de dizer. Vejamos algumas dessas expressões, sob a forma de um dicionário explicativo. “Coligação” ou “aliança programática”. Eis uma fórmula das mais utilizadas. Em uma primeira abordagem, significaria uma aliança de novo tipo, baseada em programas, e não mais em acordos meramente pragmáticos. O seu objetivo consiste em mostrar que as ideias são prioritárias, e não Organizações Globo PRESIDENTE Roberto Irineu Marinho VICE-PRESIDENTES João Roberto Marinho - José Roberto Marinho OGLOBO é publicado pela Infoglobo Comunicação e Participações S.A. DIRETOR-GERAL: Marcello Moraes DIRETOR DE REDAÇÃO E EDITOR RESPONSÁVEL Ascânio Seleme EDITORES EXECUTIVOS Chico Amaral, Paulo Motta, Pedro Doria e Silvia Fonseca Rua Irineu Marinho 35 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ CEP 20.230-901 Tel: (21) 2534-5000 Fax: (21) 2534-5535 Princípios editoriais das Organizações Globo: http://glo.bo/pri_edit mais os meros interesses partidários. Ocorre que um escrutínio mais atento dessas ideias mostra uma concepção extremamente conservadora da relação homem/natureza, devendo ele abandonar a “civilização” do “lucro” e do “consumo” e voltar à floresta. É como se o homem atual fosse uma espécie de excrescência natural. A natureza é endeusada sob a forma de um neopanteísmo como se mexer em uma árvore constituísse uma agressão a algo sagrado. Se há desmatamento é porque os seres humanos precisam se alimentar e não por simples ímpeto destrutivo. O Brasil, lembremos, é o país mais conservacionista do planeta, tendo preservado 61% de sua cobertura natural nativa, além de mais de 80% da Amazônia. A oposição de Marina Silva à agricultura e à pecuária, se viesse a ser governo, se traduziria por um imenso prejuízo ao país, hoje celeiro do mundo. A candidata, quando ministra do Meio Ambiente, se mostrou claramente avessa ao progresso, procurando, por exemplo, inviabilizar de todas as formas não apenas a comercialização dos transgênicos, como a própria pesquisa. Ou seja, ela se posicionou contra o conhecimento científico. O “novo” significa, aqui, opor-se ao progresso da ciência e ao desenvolvimento econômico. O alegado “princípio da precaução” era, nada mais, do que o “princípio da obstrução”. Digna de nota é também a sua concepção dos indígenas, como se os seus direitos se sobrepusessem a quaisquer outros. Ela possui uma aversão intrínseca ao direito de propriedade, não se importando nem mesmo com os agricultores familia- Fale com O GLOBO AGÊNCIA O GLOBO DE NOTÍCIAS Venda de noticiário: (21) 2534-5656 Banco de imagens: (21) 2534-5777 Pesquisa: (21) 2534-5779 Atendimento ao estudante: (21) 2534-5610 PUBLICIDADE Noticiário: (21) 2534-4310 Classificados: (21) 2534-4333 Jornais de Bairro: (21) 2534-4355 MARCELO res e os pequenos produtores. Justifica pura e simplesmente a sua expropriação, devendo ser abandonados. Ademais, seguindo as suas ideias, os indígenas deveriam ser consultados — na verdade, decidiriam — sobre quaisquer projetos em áreas próximas às suas ou sobre as quais tenham pretensões de direito. Convém lembrar que o país possui, segundo o IBGE, uma população indígena, em zona rural, em torno de 530 mil pessoas (um bairro de São Paulo), ao qual se acrescenta outras 300 mil em zona urbana. Já ocupam 12,5% do território nacional. Ora, se todas as pretensões de ONGs indigenistas fossem contempladas, com o apoio militante da Funai, chegar-seia facilmente a 25% do território. Nem haveria índio para ocupar toda essa vasta extensão de terra. Geral e Redação (21) 2534-5000 Missas, religiosos e fúnebres: (21) 2534-4333. Plantão nos fins de semana e feriados: (21) 2534-5501 Loja: Rua Irineu Marinho 35, Cidade Nova International sales: Multimedia, Inc. (USA). Tel: +1-407 903-5000 E-mail: [email protected] ASSINATURA/Central de atendimento: www.oglobo.com.br/centraldoassinante Acrescentem-se, ainda, regras cada vez mais restritivas em relação ao meio ambiente, algumas das quais, até o novo Código Florestal, que ela procura reverter, tinham o efeito totalitário da retroatividade, e outras aplicações em curso de quilombolas e populações ribeirinhas, os “povos da floresta”, no marinês, para que tenhamos as seguintes consequências: a) o país não poderia mais construir hidrelétricas na Amazônia, impedindo a utilização nacional dos recursos hídricos. A oposição à hidrelétrica de Belo Monte é um exemplo disto; b) ficaria cada vez mais difícil a extração de minério no país, fazendo com que não se possa mais explorar essas jazidas, produzindo um enorme retrocesso econômico e social; c) a construção de portos e rodovias tornar-seia inviável em boa parte do território Classifone (21) 2534-4333 nacional, isto quando se têm imensas carências nessas áreas; d) a construção civil seria outra de suas vítimas; e) a agricultura e a pecuária e, de modo geral, o agronegócio, esses motores do desenvolvimento econômico, seriam os novos bodes expiatórios. “Democratizar a democracia.” Eis outra expressão muito bonita que encobre a sua função essencial. Tratase, na verdade, de instituir formas de consulta que confeririam poder decisório aos ditos movimentos sociais, que compartilham as “ideias” marinistas. Assim, para qualquer projeto seria necessário fazer consultas às seguintes entidades (a lista não é exaustiva): a) Cimi (Comissão Indigenista Missionária) e CPT (Comissão Pastoral da Terra), órgãos esquerdizantes da Igreja Católica, que seguem a orientação da Teologia da Libertação, avessa ao lucro, à economia de mercado e ao estado de direito; b) MST e órgãos afins como Via Campesina e outros, que seguem a mesma orientação esquerdizante, propugnando pela implementação no Brasil dos modelos chavista e cubano; c) ONGs nacionais e internacionais como o Greenpeace e o ISA (Instituto Socioambiental), que passariam a decidir igualmente sobre os diferentes setores listados da economia nacional, algumas financiadas por Estados e empresas estrangeiras. Palavras, muitas vezes, encobrem significados inusitados, sobretudo daqueles que se dizem puros e não contaminados pela política. l Denis Lerrer Rosenfield é professor de filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul Para assinar (21) 2534-4315 ou oglobo.com.br/assine ou pelos telefones 4002-5300 (capitais e grandes cidades) e 0800-0218433 (demais localidades), de 2ª a 6ª feira, das 6h30m às 19h, e aos sábados, domingos e feriados, das 7h às 12h Twitter: @falecom_OGLOBO. 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