Product: OGlobo PubDate: 07-03-2012 Zone: Nacional Edition: 2 Page: PAGINA_D User: Schinaid Time: 03-06-2012
4 • O PAÍS
O GLOBO
MERVAL
PEREIRA
Os números enganam
A não ser os populistas de sempre, que fazem da política trampolim para seus interesses pessoais, ou então
os militantes que aproveitam qualquer brecha para valorizar as supostas vantagens de seu governo, mesmo
quando vantagens aparentes são apenas fantasias manipuláveis, não se viu o governo comemorar a informação de que o Brasil chegou ao sexto lugar no ranking
das maiores economias do mundo medidas pelo Produto Interno Bruto (PIB), confirmando previsões, apesar
do pequeno crescimento ocorrido em 2011.
crescimento do PIB de
3,5% ao ano chegaremos a
2050 com uma renda per
capita de US$ 26.500, próximo à de Portugal hoje,
muito longe do que já têm
hoje França e Alemanha
(cerca de US$ 44 mil), menos do que o Japão (cerca
de US$ 45 mil) e os Estados
Unidos hoje (cerca de
US$48 mil).
Com o resultado do PIB
do ano passado, essa meta
não foi atingida se levarmos em conta os últimos
três anos. Mas a média de
crescimento dos oito anos
do governo Lula (4%), embora tenha ficado abaixo
da mundial, está acima
desse patamar.
Há uma diferença fundamental entre a concepção
econômica predominante,
que leva em conta o PIB como medida de avanço de
um país, e a que coloca como prioridade a qualidade
de vida dos cidadãos.
A Noruega, por exemplo,
não é nem de longe uma
das maiores economias do
mundo, mas é a número
um no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
método criado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq e pelo Prêmio
Nobel Amartya Sen para
avaliar outras dimensões
que não apenas o PIB, utilizado pela ONU para medição da qualidade de vida
de um povo.
Além do PIB per capita
corrigido pela paridade do
poder de compra de cada
país, o IDH leva em conta a
longevidade e a educação.
Para aferir a longevidade, o
indicador se vale da expectativa de vida ao nascer.
O item “educação” é avaliado pelo analfabetismo e
pela taxa de matrícula em
todos os níveis de ensino.
Evidentemente o ideal seria unir os dois indicadores,
e por enquanto são os países desenvolvidos que conseguem fazer isso.
A maior economia do
mundo continua sendo a
dos Estados Unidos, que é
também o 4, colocado em
IDH. A China, que já é o segundo PIB do mundo e, tudo indica, alcançará os Estados Unidos em alguns
anos, mas, quando se trata
de qualidade de vida, está
na rabeira da lista do IDH,
em 101, lugar.
O Japão, que caiu para o
terceiro lugar no ranking do
PIB, está em 12, lugar no IDH.
A Alemanha é a mais bem colocada entre os grandes da
zona do Euro, em 9, lugar.
A França está em 20, lugar. O Brasil, que atingiu a
sexta posição no PIB, está
em 84, lugar no IDH e perde
para países da sua região,
como Chile, Uruguai, Argentina e Cuba.
O Reino Unido, que ultrapassamos pelo PIB, está
em 28, lugar na relação do
IDH, enquanto a Itália está
em 24,. Os dois últimos do
ranking das dez maiores
economias do mundo, Rússia e Índia, estão também
na rabeira da lista do IDH:
Rússia em 66, (melhor que
o Brasil) e Índia em 124, (pior que a China).
Como se vê, os números
podem mentir, dependendo
do uso que se faça deles.
E-mail para esta coluna: [email protected]
2a Edição Quarta-feira, 7 de março de 2012
SAÚDE PÚBLICA
Secretário afirma que acesso à
rede municipal foi ampliado
Mas diz que, ‘em alguns momentos’, demanda é maior que estrutura dos hospitais
l
Mesmo o PIB do Brasil
tendo crescido apenas
2,7%, foi o suficiente para
ultrapassar o do Reino
Unido e ficar próximo do
da França, que, pelo andar
da crise econômica internacional, deve ser o próximo país a ser superado pelo Brasil.
O PIB da França cresceu
1,7%, e o do Reino Unido,
apenas 0,8%. Embora não
seja uma conquista banal,
essa subida do Brasil de
posto se deve mais à queda
dos concorrentes do que a
nossos próprios méritos.
E ainda nos falta muito
para que consigamos ter
no país o mesmo nível de
vida que continuam tendo
os países de economias
“maduras”, ainda com muita gordura para queimar.
É claro que essa gordura
em boa parte foi armazenada por ações colonialistas passadas e que ainda
estão em prática em algumas regiões, mas uma revisão histórica não retirará desses países também
avanços tecnológicos e
progressos sociais que
nos custarão muitas reformas estruturais e muitos
anos para tentar igualar.
Apesar da crise financeira, a Alemanha cresceu
mais que nós (3%), e também perdemos terreno para alguns emergentes que,
junto conosco, subverteram a ordem hierárquica
das maiores economias do
mundo, até há bem pouco
tempo dominada pelos chamados “desenvolvidos”.
Dos Brics (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul),
o Brasil cresceu menos do
que três que já anunciaram
oficialmente seus números.
A China continua puxando a economia mundial com
um crescimento de 9,2%; a
Índia manteve um crescimento na casa dos 6%
(6,9%); a África do Sul cresceu 3,1%.
O Brasil, em compensação, cresceu mais que os
Estados Unidos (0,7%) e
grande parte da Europa:
Espanha (0,7%); Itália
(0,4%) e Portugal (- 1,5).
Mas mais uma vez ficou
abaixo da média mundial,
que foi de 3,8%.
Em termos de PIB per capita dentro dos Brics, a Rússia fechou 2011 com US$ 16,7
mil, seguida pelo Brasil,
com US$ 11,6 mil; pela África
do Sul, com US$ 11 mil; pela
China, com US$ 8,4 mil; e pela Índia, com US$ 3,7 mil.
Devido ao baixo índice
educacional e à falta de infraestrutura, Brasil e Índia
crescerão em velocidade
menor que Rússia e China
nos próximos 20 anos, segundo estudo da Goldman
Sachs, criadora dos Brics.
E, mesmo que a lista das
dez maiores economias do
mundo sofra novas alterações nos próximos anos,
apenas a Rússia tem condições de vir a ter uma renda
per capita semelhante à dos
países desenvolvidos.
Pelas projeções, os cidadãos dos Brics continuarão
sendo mais pobres na média que os cidadãos dos países do G-6 tradicional.
No caso específico do
Brasil, se conseguirmos
manter uma média de
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Carolina Benevides
[email protected]
l O secretário de Saúde do município do Rio, Hans Dohmann,
afirma que, desde 2009, a rede
passa pelo “maior processo de
acesso à saúde pública do país”:
— Nunca se deu acesso a dois
milhões de pessoas em tão curto
espaço de tempo.
De acordo com ele, o “sistema
antigo, com especialistas nos
postos de saúde, é inviável”:
— Há uma cultura, até mesmo
por parte dos profissionais de
saúde, de que é viável, mas o fato
de a pessoa ser médica não faz
dela entendedora do sistema de
saúde. É um consenso no mundo
que implantar rede de atenção
primária regionalizada é o mais
correto, o que fazemos repete os
melhores sistemas de saúde do
mundo, como o da Austrália, da
Inglaterra e Portugal. No entanto,
muita gente que está na ponta
não entende isso.
Sobre o acolhimento nos hospitais ser realizado por enfermeiros, Dohmann afirma que a orientação é que os enfermeiros
trabalhem sendo supervisionados por uma equipe médica:
— Os riscos são analisados.
Quem é redirecionado foi avaliado. Esse conceito é consagrado mundialmente.
Em nota, a Secretaria municipal de Saúde e Defesa Civil informa que “os hospitais de emergência da prefeitura do Rio trabalham com política de portas
abertas, atendendo a todos os
pacientes que os procuram. Com
isso, em alguns momentos, as
unidades trabalham com demanda além da sua estrutura física.
No entanto, todos os pacientes
são acolhidos, estabilizados e recebem atendimento”.
Em relação à falta de médicos
nos postos de saúde e nas clínicas de Saúde da Família, o secretário diz que a ideia é que os
postos sejam para “marcação e
avaliação do paciente por médicos das famílias”.
— Teremos uma policlínica
em cada área, e serão dez áreas
na cidade. De lá, encaminharemos as pessoas para o Programa
Saúde da Família, para os hospitais universitários e os federais.
Sobre o tempo de espera por
uma consulta e o número reduzido de médicos nos postos de
saúde, Dohmann explica que
“dependendo do risco, a pessoa
é atendida até no mesmo dia”:
— Se houver risco imediato,
ela será atendida. Se for uma
marcação eletiva, é possível
mesmo que demore 30 dias,
mas isso não coloca em risco a
saúde do paciente. Além disso,
levar criança com febre para o
posto não é o correto. Nesses
‘Nenhum médico falou comigo’
Parentes de pacientes criticam demora no atendimento e falta de informação
Pablo Jacob/04-03-2012
Fábio Brisolla
[email protected]
Simone Cândida
[email protected]
Moradora de Japeri, na Baixada Fluminense, a dona de casa
Sueli Gonçalves, de 58 anos, foi
levada às pressas para a emergência do Hospital Municipal
Miguel Couto, na Gávea, na Zona
Sul do Rio, por volta das 23 horas do último sábado. Dez horas
depois, queixando-se de tonteira e com uma trombose no pé
esquerdo, ela permanecia em
uma maca aguardando avaliação do cirurgião-vascular.
Segundo o filho de Sueli, o ascensorista Ricardo Gonçalves,
de 35 anos, a equipe de plantão
no sábado informou que ela precisava ser operada, mas que o
procedimento só poderia ser realizado quando ocorresse a troca de equipe porque o especialista vascular estava ocupado
com um caso mais grave:
— Minha mãe está lá dentro e,
até agora, nada foi feito. Ela nem
l
NILZETE MOSTRA a guia para acompanhar sobrinho internado um dia antes
recebeu comida.
Já a atendente Nilzete da Silva,
de 39 anos, que domingo estava
na emergência do Hospital Municipal Souza Aguiar, sofria para
ter informação sobre o seu sobrinho de 14 anos, Marcus Vinícius
da Silva, que caiu e feriu a cabeça
quando jogava futebol, no Morro
dos Prazeres, em Santa Teresa.
— Ele chegou aqui no sábado
umas 18h30m, trazido pelos
bombeiros. Só fui falar com uma
assistente social hoje (domingo)
às 8h, quando ela me deu um papel autorizando que eu fique como acompanhante. Mas a segurança disse que eu só podia entrar depois de 12h. Estou aqui
desde anteontem e nenhum médico falou comigo. Tive que entrar escondida na sala onde ele
está. Ele é um menino, está todo
sujo e numa maca sem lençol. n
casos, ela deve ir às UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento).
Com as UPAs, as pessoas têm a
alternativa de serem atendidas
no mesmo dia.
Em nota, a secretaria diz que
“em 2008, a capital fluminense
apresentava cobertura de Saúde
da Família de 3,5%. Com o programa de Saúde da Família, elevou essa porcentagem para mais
de 31%, em três anos”, e que “a
ampliação da oferta foi possível
com a inauguração de 56 clínicas
da família”. Além disso, destaca
que, “entre 2009 e 2011, contratou cerca de 11 mil profissionais
de saúde, sendo mais de 1.600
médicos.” A nota diz ainda que
“o total de procedimentos de
atenção básica e de média e alta
complexidade realizados na rede da prefeitura do Rio aumentou 64% em três anos” e que foram “investidos mais de R$ 200
milhões nos últimos três anos”. n
notas
a Asbaixas
n
do Rio
Os sete itens que avaliam
o acesso da população ao
SUS e as notas do Rio:
l 1) Internações clínicocirúrgicas de alta complexidade: 2,41
l 2) Internações clínicocirúrgicas de média complexidade: 2,94
l 3) Procedimentos ambulatoriais de alta complexidade e população residente: 2,88
l 4) Procedimentos ambulatoriais de média complexidade e população residente: 1,88
l 5) Exames de mamografia realizados em mulheres de 50 a 69 anos: 0,98
l 6) Exames Papanicolau
(colo de útero) em mulheres de 25 a 59 anos: 2,61
l 7) Cobertura populacional pelas equipes básicas
de saúde: 3,20
* O IDSUS analisou dados de 2008, 2009 e 2010. O
Rio teve a pior nota, entre
as principais cidades do
país: 4,3.
OPINIÃO
DESCUIDO
l O MEC deveria, antes de
trombetear números alvissareiros sobre novas creches, ou qualquer outro
assunto, investigar se as
estatísticas correspondem à realidade.
O GLOBO foi checar e não
encontrou o que as trombetas oficiais alardeavam.
Ficou parecendo marketing político a favor da
candidatura do ex-ministro Fernando Haddad a
prefeito de São Paulo. E
pouco inteligente.
NOTA
MENINGITE NA BAHIA
A Secretaria de Saúde
do Estado da Bahia confirmou ontem a morte
de um homem de 44
anos por meningite C,
no último sábado, em
Salvador. De acordo
com a secretaria, ele
era morador de Paripe,
no subúrbio da capital,
e já chegou ao hospital
em estado grave. É a segunda morte por meningite C na Bahia. A primeira vítima também
morava em Salvador.
Até 13 de fevereiro, foram registrados 13 casos da doença no estado, segundo dados oficiais. Em 2011, no mesmo período, foram 20
ocorrências com cinco
óbitos.
l
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Secretário afirma que acesso à rede municipal foi ampliado