MINISTÉRIO DA SAÚDE MISSÃO PARA OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS AGRUPAMENTOS DE CENTROS DE SAÚDE (ACES) LINHAS DE ACÇÃO PARA A SUA IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO Documento de Trabalho Índice 1. O que é novo nos ACES? Como concretizar? 2. Unidades funcionais e respectivas missões 3. Competências necessárias e seu desenvolvimento 4. Selecção, formação, acompanhamento e avaliação dos dirigentes 5. Sistema de lideranças e sistema de gestão 5.1. Órgãos e instrumentos de gestão 5.2. Unidade de apoio à gestão (UAG) 6. Desenvolvimento da governação clínica/técnica 7. Painel de indicadores (gestão organizacional e gestão técnica) 8. Linhas de acção e responsabilidades O presente documento resume as estratégias para concretizar o disposto no Decreto-Lei n.º 28/2008, de 22 de Fevereiro, que cria os agrupamentos de centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde, abreviadamente designados por ACES. Focaliza-se no desenvolvimento dos sistemas de liderança e de gestão. Adopta uma perspectiva sistémica para evitar cair em concepções redutoras e lineares deste processo tão complexo. A implementação dos ACES integra-se no quadro global da transformação organizacional da administração pública, da administração da saúde e dos serviços prestadores de cuidados de saúde primários 1. O que é novo nos ACES e como concretizar? Os centros de saúde reorganizados no novo modelo de ACES caracterizam-se pelos seguintes aspectos distintivos: Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) – Linhas de Acção para a sua Implantação e Desenvolvimento 1 MINISTÉRIO DA SAÚDE MISSÃO PARA OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS Estrutura organizacional assente em cinco tipos de unidades funcionais com trabalho em equipa multiprofissional, com missões específicas, intercooperantes e complementares, organizadas em rede; Autonomia administrativa para decidir e implementar soluções adaptadas aos recursos e às condições de cada local e comunidade; Órgãos e instrumentos próprios de gestão organizacional; Sistemas de liderança e de governação clínica e técnica bem definidos; Mecanismos de representação e de participação da comunidade e dos cidadãos. Para esta transformação são necessárias diversas iniciativas estruturantes, designadamente: 1. Reorganizar internamente os actuais centros de saúde em unidades/equipas com missões diferenciadas, embora interdependentes e complementares; 2. Seleccionar e recrutar criteriosamente os vários tipos de dirigentes dos novos ACES; 3. Proporcionar formação inicial e contínua aos dirigentes; 4. Introduzir e desenvolver a governação clínica nos ACES e nas suas unidades funcionais clínicas; 5. Organizar a agregação e partilha de recursos ao nível dos ACES; 6. Reafectar os recursos e competências existentes nos serviços de âmbito subregional aos ACES e aos serviços regionais, consoante a sua natureza; 7. Criar unidades de apoio à gestão (UAG) em cada um dos novos ACES; 8. Introduzir órgãos e mecanismos de representação e de participação efectivas dos cidadãos e da comunidade nos ACES; 9. Desenvolver um sistema de monitorização e de avaliação dos dirigentes e dos ACES, enquanto organizações de saúde; 10. Definir um plano global de implementação dos ACES com metas, prazos e responsabilidades. Tudo isto será suportado pela disponibilização de documentos de apoio, de instrumentos de gestão e de acompanhamento e por sistemas de informação. Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) – Linhas de Acção para a sua Implantação e Desenvolvimento 2 MINISTÉRIO DA SAÚDE MISSÃO PARA OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS 2. Unidades funcionais e respectivas missões As unidades funcionais traduzem um modelo organizativo baseado em equipas multiprofissionais direccionadas para aspectos complementares da missão do centro de saúde. A MCSP elabora orientações enquadradoras para cada tipo de unidade, tendo em conta as vocações que a seguir se enunciam: 2.1. Cuidados de saúde à pessoa e à família (com liberdade de escolha em função dos recursos disponíveis) Unidade de Saúde Familiar (USF) Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) As USF distinguem-se das UCSP apenas pelo nível de desenvolvimento de dinâmica de equipa, designadamente pelos compromissos de cooperação inter profissional livremente assumidos (e que não podem decretar-se nem forçar-se por via “normativa”). Ao estádio de trabalho em equipa de uma USF corresponde um grau de autonomia e instrumentos de responsabilização e exigência de desempenho mais desenvolvidos. Este estádio associa-se a processos de contratualização com níveis de exigência de monitorização, de avaliação de desempenho, e respectivas consequências, sem precedentes nos cuidados de saúde primários em Portugal. Um indicador de liderança e gestão de um ACES poderá estar associado ao processo de estímulo e de apoio à evolução desejada e voluntariamente assumida do estádio de UCSP para USF. 2.2. Cuidados orientados e organizados para grupos e ambientes específicos (cuidados de abrangência comunitária e de apoio e complementaridade da acção das USF e das UCSP) Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) Unidade de Saúde Pública (USP) As USF, UCSP e UCC articulam-se necessariamente com a USP sempre que estiver em causa a defesa e promoção da saúde colectiva. Incluem-se neste âmbito os processos de planeamento de saúde populacional, abrangendo a programação, o acompanhamento da execução e a avaliação das intervenções das diversas equipas com impacto na saúde comunitária. Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) – Linhas de Acção para a sua Implantação e Desenvolvimento 3 MINISTÉRIO DA SAÚDE MISSÃO PARA OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS 2.3. Saúde populacional, ambiental e pública (Intervenções orientadas para garantir o bem público comum no domínio da saúde) Unidade de Saúde Pública (USP) Observatório de saúde local, unidade de administração de saúde populacional, de coordenação de estratégias locais de saúde de âmbito comunitário e de autoridade de saúde. 2.4. Apoio técnico-assistencial às restantes unidades (Competências e meios específicos complementares da acção das restantes unidades funcionais) Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP) A URAP é uma unidade que organiza e coordena múltiplos meios, recursos e competências assistenciais específicos, de cada ACES, cuja missão é a de apoiar as demais unidades funcionais. 2.5. Apoio logístico ao funcionamento de todas as equipas e dos órgãos de gestão (viabilização do funcionamento adequado de toda a organização) Unidade de Apoio à Gestão (UAG) A UAG é uma unidade de “back-office” que viabiliza que, em cada momento, existam condições materiais e objectivas para que todos possam cumprir a sua missão. 3. Competências necessárias e seu desenvolvimento A mudança do modelo de centros de saúde sem autonomia para os ACES pressupõe um caminho longo, difícil e complexo a percorrer. Caminho que se faz pela acção reflexiva, pela experimentação, pela aprendizagem continuada e pelo desenvolvimento de novas competências. Estas competências são de vários tipos: Competências de liderança de pessoas e de equipas Competências de gestão organizacional Competências de gestão clínica e técnica Competências de gestão operacional de recursos humanos, materiais, financeiros e de informação Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) – Linhas de Acção para a sua Implantação e Desenvolvimento 4 MINISTÉRIO DA SAÚDE MISSÃO PARA OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS Competências para a capacitação, promoção da literacia em saúde e facilitação da participação e do “empowerment” dos cidadãos e da comunidade em relação à sua saúde. Para o desenvolvimento destas competências decorrerá um programa inicial de iniciativas-farol e de harmonização e enquadramento de âmbito nacional, seguindo-se programas da responsabilidade de cada ARS, I.P. 4. Selecção, formação, acompanhamento e avaliação dos dirigentes O objectivo é o de atingir uma massa crítica de dirigentes capazes de estimular o empenho e de facilitar e organizar o envolvimento dos profissionais e da comunidade. A participação e o desenvolvimento de sentimentos de pertença e de apropriação são essenciais para obter o empenho de todos. Os aspectos técnicos e instrumentais da gestão são essenciais, mas são mais fáceis de resolver e devem subordinar-se a este vector determinante. Cada dirigente terá uma carta de compromisso, um plano personalizado de desenvolvimento de competências e uma avaliação. Em cada ARS, I.P. é constituída uma Equipa de Apoio ao desenvolvimento da gestão nos ACES. Estas equipas são enquadradas metodologicamente pela MCSP até Abril de 2009. 5. Sistema de lideranças e sistema de gestão Os processos de liderança estão interrelacionados com os processos de gestão, mas são distintos destes. O desenvolvimento do sistema de lideranças num ACES inclui os órgãos de gestão organizacional e clínica e também os coordenadores e líderes técnicos das várias unidades. O desenvolvimento do sistema de lideranças decorrerá paralelamente ao desenvolvimento do sistema de gestão. Os centros de saúde nunca tiveram autonomia de gestão. O seu controlo administrativo foi sendo feito à distância a partir das sedes de distrito (pelos serviços sub-regionais das ARS). A reafectação dos recursos, meios e competências destes serviços de âmbito sub-regional é um processo que exige sensibilidade e visão estratégica. Esta reafectação será feita para os níveis local e regional consoante a natureza dos recursos e das competências em causa. Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) – Linhas de Acção para a sua Implantação e Desenvolvimento 5 MINISTÉRIO DA SAÚDE MISSÃO PARA OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS 5.1. Órgãos e instrumentos de gestão Os órgãos e os instrumentos de gestão dos ACES estão definidos do Decreto-Lei n.º 28/2008, de 22 de Fevereiro e a sua implementação e supervisão é da responsabilidade directa de cada ARS, I.P. 5.2. Unidade de apoio à gestão (UAG) O estudo efectuado pelo Gabinete de Análise Económica da Universidade Nova de Lisboa (GANEC), por encomenda da MCSP, aponta para a seguinte caracterização geral dos ACES: Quanto à dimensão financeira os custos de exploração dos ACES variam entre os 10 e os 73 milhões de euros, concentrando-se a maioria entre os 20 e os 40 milhões de euros. São organizações da ordem de grandeza das 1000 maiores empresas portuguesas, sendo que cerca de 20% ombreará com as 500 maiores. Quanto ao número de profissionais por ACES este variará entre 127 e 921. De acordo com o critério de Pequenas e Médias Empresas (PME) da União Europeia a grande maioria (61 ACES) estará na escala das grandes empresas. A magnitude dos recursos envolvidos na maior parte dos ACES, quer em termos financeiros, de número e diversidade de unidades assistenciais , de número de profissionais, e de população coberta e área abrangida, caracterizam-nos como organizações complexas, de média/grande dimensão (embora menor que as “subregiões de saúde”). Por isso, deverão dispor de um robusto componente de gestão e de logística e de qualificados serviços de “back-office”. Assim, tendo em conta o disposto no Decreto-Lei n.º 28/2008, de 22 de Fevereiro, no que respeita à UAG, esta deve dispor de um staff administrativo adequado, identificando-se como áreas chave: Sistemas de informação; Gestão de recursos humanos; Gestão financeira; Instalações, equipamentos e manutenção; Aprovisionamento, compras e logística; Assessoria jurídica; Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) – Linhas de Acção para a sua Implantação e Desenvolvimento 6 MINISTÉRIO DA SAÚDE MISSÃO PARA OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS Serviços de apoio geral. A criação dos ACES e a constituição das diversas unidades funcionais com quadro administrativo permitem extinguir os serviços sub-regionais das ARS e os serviços administrativos dos actuais centros de saúde. A reafectação de recursos das actuais SRS para os ACES deve recorrer aos seguintes critérios: Carácter gestionário ou transaccional das actividades; Proximidade ou interligação à actividade assistencial; Potencial de obtenção de economias de escala; Ganhos de produtividade por via da especialização. Tudo deve ser feito para evitar descontinuidades em áreas críticas da gestão: vencimentos, concursos de pessoal, contratos, compras, gestão de stocks, contabilidade, entre outras. 6. Desenvolvimento da governação clínica e técnica A MCSP enquadrará e desenvolverá um quadro de referência e um conjunto de iniciativas para o desenvolvimento continuado de competências de governação clínica e técnica nos ACES. 7. Painel de indicadores (gestão organizacional e gestão clínica e técnica) A MCSP desenvolverá e ensaiará, em estreita colaboração com as ARS I.P. e com o apoio técnico do GANEC e de outras entidades, um painel de indicadores para monitorização e avaliação dos desempenhos de gestão organizacional e gestão clínica e técnica nos ACES. 8. Linhas de acção e responsabilidades O apoio à autonomia de gestão dos ACES passa pela constituição das várias unidades funcionais, pela criação das UAG e por processos de acompanhamento e de desenvolvimento com duas componentes paralelas: 1. A MCSP trabalhará em estreita ligação com alguns ACES (pelo menos um por cada ARS) e com as equipas regionais de apoio a este processo para definir e testar no terreno, um painel de monitorização e um balanced scorecard que possibilite a contratualização e o acompanhamento do desempenho das novas organizações e dos seus dirigentes; Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) – Linhas de Acção para a sua Implantação e Desenvolvimento 7 MINISTÉRIO DA SAÚDE MISSÃO PARA OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS 2. Paralelamente dar-se-á a instalação dos órgãos e a produção dos primeiros instrumentos de gestão dos ACES, segundo um cronograma preestabelecido. Este processo inclui a afectação de recursos dos actuais serviços sub-regionais aos ACES, criando UAG baseadas em quatro áreas (gestão financeira, recursos humanos, gestão da informação e apoio à contratualização e serviços gerais). O diálogo e entrosamento permanentes destas componentes permitirá validar as principais funções e/ou actividades e tarefas específicas das quatro áreas funcionais (mapear, simplificar e desmaterializar os respectivos processos e fluxos), assim como ajudará a prever os recursos humanos necessários (competências e potenciais de trabalho); Um dos produtos deste processo interactivo será também a elaboração de um referencial (roteiro) de apoio nacional à definição e desenvolvimento da UAG dos ACES. MCSP, Agosto de 2008 Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) – Linhas de Acção para a sua Implantação e Desenvolvimento 8