Resenha
Contribuições para a interpretação
do método de Marx
Por Evandro de Carvalho Lobão
Docente da Faculdade Cásper Líbero. Doutor em Educação pela
Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
Livro resenhado:
Netto, José Paulo
Introdução ao estudo do Método de Marx
São Paulo: Expressão Popular, 2011.
ISNB: 978-7743-182-3
64pp
Resenha
Relevantes contribuições para a interpretação do método de Marx são encontradas no
livro Introdução ao Estudo do Método de Marx – cujo autor, o Professor José Paulo Netto (da
Faculdade de Serviço Social da UFF), reconhecido marxista, com vasta produção intelectual
na recepção e divulgação de autores marxistas, bem como na reflexão sobre o capitalismo
contemporâneo, dispensa maiores apresentações. Trata-se de um livro diminuto no tamanho,
mas grande em sua importância para o debate metodológico, sobretudo quanto à interpretação do método na gigantesca obra de Karl Marx; a essa interpretação oferece generosos subsídios e contribuições.
Sua Introdução é aberta com o seguinte registro: “A questão do método é um dos problemas centrais (e mais polêmicos) da teoria social” (p. 9, grifo do autor). Para corroborar essa
afirmação, observa que, entre os clássicos da sociologia, Durkheim e Weber dedicaram vastas
formulações a essa questão, sendo que ainda em torno dela giraram os debates quando da
“crise da sociologia acadêmica” (id.), nas décadas de 1960/70, e da “discussão sobre os ‘paradigmas’” (id.), no decorrer da década de 1990. Preliminarmente, assinala que a questão do método
em Marx envolve não só problemas de caráter teórico (ou filosófico), mas também outros que
são decorrentes do vínculo que o marxismo possui com movimentos revolucionários, bem
como com as experiências do socialismo real – nesse sentido, são designados problemas resultantes de “razões ideopolíticas” (p. 10).
Na primeira seção, Interpretações equivocadas, aborda a fonte dos erros mais frequentemente cometidos nas diversas interpretações do marxismo. Considera que a tal fonte desses
erros é o reducionismo (legitimado tanto pela Segunda Internacional, com as obras de Kautsky
e Plekhanov, quanto pela Terceira, com o marxismo oficial da União Soviética), segundo o
qual: de uma certa base econômica decorre toda uma superestrutura cultural. Em contraposição ao reducionismo (tendo como referência, do jovem Lúkacs, História e Consciência de
Classe), entende que o elemento próprio e distintivo do marxismo é a perspectiva da totalidade; só em última instância há uma dependência da superestrutura em reação à base, mas no
sentido em que a produção cultural é uma continuidade da produção dos meios de vida que a
suportam – que por sua vez são apenas sua pré-condição de existência, não determinam seu
conteúdo e forma efetivos.
Na segunda, O método de Marx: uma longa elaboração teórica, recupera o percurso
mais amplo da formulação do método por Marx. Desse percurso, o ponto de partida encontra-se em 1844 – quando começam seus estudos da Economia Política, tomando como problema de investigação: “a gênese, a consolidação, o desenvolvimento e as condições de crise
da sociedade burguesa, fundada no modo de produção capitalista” (p. 17). Embora o começo
desse percurso se encontre nos Manuscritos Econômicos-Filosóficos (de 1844) e seu clímax
n’O Capital (primeiro volume, de 1867), considera que é nos Grundrisse (de 1857/58) que se
encontra a sistematização mais bem elaborada do seu método.
Em seguida, na seção Teoria, método e pesquisa, privilegia o significado da noção de
teoria na perspectiva marxista; distinguindo-o seja de abordagens positivistas, seja de relativistas, considera que para Marx teoria é o conhecimento consciente de um certo objeto, para
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Revista Communicare
Evandro de Carvalho Lobão
além de sua aparência, em sua essência – “isto é: capturando a sua estrutura e dinâmica” (p. 22).
Ainda no ponto de vista do marxismo, aborda a questão da objetividade: no conhecimento da
sociedade, o sujeito é parte do objeto; a verdade da teoria decorre de suas implicações práticas
– “a teoria tem uma instância de verificação de sua verdade, instância que é a prática social e
histórica” (p. 23); e a existência de leis, em contraposição às leis da natureza, é válida apenas em
certos contextos históricos e sociais.
Depois, em As formulações teórico-metodológicas, recupera a recepção por Marx da
noção hegeliana da história da sociedade enquanto um processo, bem como a sua concepção
das ideias, da consciência, enquanto elaboração de seres humanos em certa posição social e,
assim, num certo momento da correlação entre classes sociais. Então passa a analisar a chamada “Introdução de 1857” (parte dos Grundrisse), enfatizando que: seu ponto de partida é
o objetivo de “estudar uma determinada forma histórica de produção material: a ‘produção
burguesa moderna’” (p. 38); o método propriamente (a terceira parte dessa introdução), em
resumo, parte do concreto caótico da objetividade social como se apresenta ao sujeito do conhecimento, que por sua análise e síntese elabora categorias abstratas que lhe permitem, então, conferir significa ao concreto.
Por fim, em O método de Marx, apresenta uma reflexão sobre seu próprio texto. Constata que não apresentou ao leitor nem um conjunto de regras metodológicas, nem um rol de
definições – “porque, para Marx, o método não é um conjunto de regras formais que se ‘aplicam’ a um objeto que foi recortado para uma investigação” (p. 52). De modo lapidar, considera
que a “Introdução de 1857”, no percurso intelectual de Marx, consiste em “um ponto de chegada e um ponto de partida” (p. 54); é um ponto de chegada das suas formulações anteriores,
já que é um momento privilegiado de reflexão e síntese sobre o método do conhecimento da
sociedade, que foi constituindo até realizar essa elaboração, e simultaneamente também um
ponto de partida para suas formulações subsequentes, no sentido de embasar o trabalho monumental ao qual se dedicaria a partir de então - a crítica da Economia Política.
Volume 13 – Nº 2 – 2º Semestre de 2013
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Introdução ao Estudo do Método de Marx