JOÃO BERNARDO E O MARXISMO ANTI-HUMANISTA
Autor: Alexandre Capatto
Curso: Ciências Sociais
O método sempre foi algo largamente discutido desde a origem das Ciências Sociais, especialmente
em sociologia e na ciência política. A tentativa de explicação de determinada realidade social demanda
uma rigidez metodológica cujas conseqüências são determinantes sobre o rumo de qualquer pesquisa.
O marxismo, desde Marx aos dias de hoje, aplicou incontáveis esforços nessa tentativa, quando
procura desvendar a essencialidade dos fenômenos sociais empregando seu método dialético histórico.
Para o marxismo ortodoxo a chamada realidade concreta desses fenômenos sociais parece ser o ponto
de chegada de um método que visa compreender os fenômenos sociais em suas múltiplas
determinações, sempre crivados por uma particularidade histórica, buscando deste modo eliminar a
naturalização das coisas. Lukács define o método como o único critério capaz de diferenciar marxistas
ortodoxos dos heterodoxos. Ele nos atenta que muito mais que um simples critério, o método
corresponde à forma de apreensão do mundo. Utilizando como referencial teórico o autor João
Bernardo, que se afirma enquanto um “marxista heterodoxo”, buscaremos neste trabalho perceber o
elemento de ruptura no método analítico da realidade entre este e Marx. Em princípio o fulcro da
crítica de Bernardo ao método de Marx se refere à variante implícita na lógica do pensamento de
Marx, materializado em O Capital, que parece, em determinados momentos, oscilar a uma
naturalização de alguns preceitos ideológicos particulares como se fossem uma constante verdadeira e
universal. A importância em se estudar tal ruptura se faz para que possamos entender a gênese
metodológica do autor que lhe possibilitou, em distinção a Marx, conceber importantes e decisivas
noções na apreensão dos fenômenos sociais como a classe dos gestores, Estado Restrito/Estado
Amplo, a sua diferencial concepção de consciência, ideologia e poder. O livro Dialética da Prática e
da Ideologia de João Bernardo têm sido a principal fonte dos elementos aqui pretendidos. Neste livro
o autor define sua concepção do real negando aos indivíduos qualquer existência prática. Se não
bastasse dizer que a ação dos indivíduos está completamente sujeita às instituições sociais às quais se
insere, Bernardo ainda aprofundará essa noção ao afirmar que se nos desprendermos do mundo das
aparências perceberemos que as próprias instituições aparecem enquanto sujeitos da ação e seus
sujeitos únicos. No modelo proposto pelo autor, as instituições sociais e não os indivíduos são o
elemento definidor da realidade social, implicando numa releitura da formação da consciência dos
indivíduos e suas condicionantes externas.
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JOO BERNARDO: O MARXISMO ANTI