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ISSN: 23170336
Gestão de estoque: estudo de caso em um frigorífico de
Anaurilândia 1
COSTA, M. A. B.1,2*, CORNETO, E.2, DALPIAZ, J.2, SILVA, P. C.2, TOBAL, D. A.2
Resumo:
A administração dos estoques tem papel fundamental nas empresas. No decorrer
desse trabalho são abordados conceitos da administração de estoque, bem como método de
controle que as organizações podem usar para um gerenciamento adequado dos seus estoques
finais. Também é dada uma atenção ao que se diz dos custos de estocagem, muito debatido por
diversos autores, bem como também se é muito discutido as proposições que se referem aos
estoques de segurança. São vistos ainda fatores que dão à administração de estoques
características que a colocam como setor estratégico das empresas. Esses conceitos formam um
pressuposto base para a aplicabilidade do estudo de caso, nele foram observados os conceitos
teóricos deste trabalho na prática organizacional, principalmente aos aspectos de controle
adotados. O estudo propiciou uma verificação de erros, tanto no processo produtivo quando na
estocagem, que por vezes geraram desperdícios de recursos na empresa, no estudo é apresentado
também propostas de melhorias para que esses problemas para que os mesmos sejam eliminados
ou minimizados.
Palavras chave: Estoque, Controle, Administração, Frigorífico.
Abstract: The inventory management plays a fundamental role in the organization. In the
course of this work are discussed concepts of inventory management, as well as a method of
control that organizations can use to proper management of its ending stocks, Also attention is
given to what is said of the costs of storage, much debated by several authors, and is also much
discussed propositions that relate to safety stocks. Visas are still factors that give the inventory
management features that place it as a strategic sector enterprise. These concepts form a basic
assumption for the applicability of the case study, it was observed the theoretical concepts of
this work in organizational practice, especially those aspects of control adopted. The study
provided a check of errors both in the production process when in storage, which sometimes led
to waste of resources in the company, the study is also presented proposals for improvements to
these problems so that they are eliminated or minimized. At the end of the conclusions of this
research work are presented with the final considerations and finally is given the references.
Key words: Stock, Control, Management, Fridge.
1
Universidade Federal de São Carlos
2
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
*Marcela Avelina Bataghin Costa, e-mail: [email protected]
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Produção/construção e tecnologia, v. 3, n. 5, 2014
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1. Introdução
A administração eficaz de estoques cada vez mais desponta como uma
necessidade vital das organizações, tornando-se uma questão determinante no
desempenho das empresas. Aperfeiçoar o investimento em estoques, sua gestão e
possuir uma estocagem eficiente, influi no desempenho da produção e nas vendas
(FRANCISCHINI e GURGEL, 2010). Em tempos de competitividade acirrada, as
empresas travam uma verdadeira guerra pela busca e fidelização de clientes. Para tanto,
são investidos muitos recursos da mesma, não apenas financeiro, mas de tempo
(MAXIMIANO, 2004). Dessa forma, o gerenciamento de estoque, propiciando
atendimento pontual aos clientes, no momento e quantidade desejada, é um diferencial
competitivo, assumindo então características estratégicas (BERTAGLIA, 2009;
MARTINS e ALT, 2009).
Segundo Moreira (2012) e Francischini e Gurgel (2010), existem dois setores
funcionais das empresas que empenham nos estoques cuidados especiais: setor
operacional e setor financeiro. Surge assim um paradoxo: manter ou não manter níveis
de estoques. Ballou (2006) pondera que há razões favoráveis e contra, onde os pontos a
favor giram em torno do apoio à produção e os pontos contra quanto a sua onerosidade.
Os objetivos desse trabalho são: ressaltar a importância da administração dos
estoques, bem como da logística eficiente para que a empresa tenha o desempenho
positivo, abordar métodos de gestão de estoque e desenvolver um estudo de caso
observando o controle e a logística que são empregados nos estoques.
2. Administração de estoques
O gerenciamento dos estoques começa antes mesmo do produto estar
finalizado. Toda empresa existe por que produz bens ou serviços visando suprir uma
necessidade, obtendo dessa transação um retorno financeiro. Para tanto, as empresas
passam pelo modelo de produção: inputs, transformação e outputs (SLACK,
CHAMBERS, JOHNTONS, 2009). Entretanto, no processo produtivo podem ocorrer
diversos fatores que interrompam a produção (greve operacional, falta de matéria prima,
por exemplo) justificando assim, um estoque de produtos acabados, para que as vendas
e as receitas da organização não sejam afetadas todas as vezes que problemas ocorram.
Ainda como justificativa da existência de estoques pode-se elucidar um aumento
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repentino de demanda, ao ponto que a empresa não consiga alavancar rapidamente a
produção(FRANCISCHINI e GURGEL, 2010).
Logo se percebe a função reguladora atribuída pelos estoques, ao que Martins e
Alt (2009) fazem uma analogia do vetor tempo de entrada (produção) e tempo de saída
(vendas ou consumo) com uma caixa d’agua ao passo que: se muita água (produtos) sai
e pouca entra o nível da caixa diminuirá, em relação oposta, se há muita entrada e pouca
saída, esse nível aumentará. Fica mais clara, assim a filosofia Just-in-time, quando nos
vetores de tempo de produção e nos vetores vendas busca-se uma igualdade
(BERTAGLIA, 2009).
Segundo Francischini e Gurgel (2010) os estoques podem ser de quatro tipos:
de matérias-primas (materiais e componentes adquiridos e armazenados que ainda não
sofreram processamento); de materiais em processo (materiais e componentes sofreram
pelo menos um processamento e aguardam utilização posterior); de produtos auxiliares
(peças de reposição, materiais de limpeza e de escritório) e estoques de produtos
acabados (produtos prontos para comercialização). Este trabalho tem como ênfase o
estoque de produtos acabados.
2.1 custos dos estoques
Os estoques por terem a características de reguladores de fluxo sofrem duas
pressões: a primeira pressão é para operações de baixos níveis de estoque, pautadas
principalmente na premissa de que estoques são sinônimos de desperdícios, devendo ser
eliminados ou extremamente reduzidos (just-in-time); a segunda pressão é para
operações de altos níveis de estoques, “puxados” principalmente pela probabilidade de
pronto atendimento aos clientes, essas pressões ficam mais claras visualizadas na figura
1 (BALLOU 2006; MARTINS e ALT, 2009).
Pressão para níveis baixos
ESTOQUES
Pressão para níveis Altos
Figura 1: pressão para os níveis de estoque. Adaptado de Martins e Alt, 2009
Alguns autores divergem em aspectos de separação dos custos gerados pelos
estoques, para Ballou (2006) os custos podem ser advindos da terceirização desses
serviços (quando a empresa opta por uma gestão de estoque, estocagem terceirizada) ou
custos privados, (quando a própria empresa administra essa função). Assim conceitua os
custos como: armazenagem pública, armazenagem arrendada com manuseio manual,
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estocagem privada e armazenagem privada com manuseio automatizado. Para
Francischini e Gurgel (2010) o custo de estoque pode ser desmembrado em quatro
partes, sendo: custo de aquisição, que é o valor pago pela empresa compradora; custo de
armazenagem, onde há o maior esforço para manter esse valor o mais baixo possível
(mais uma vez aqui desponta o Just-in-time), pois é um dos itens que mais onera a
empresa quanto à lucratividade; custo de pedido, sendo ele “o valor gasto pela empresa
para que determinado lote de compra possa ser solicitado ao fornecedor e entregue na
empresa compradora” e por fim o custo da falta, onde há a maior pressão para níveis
altos de estoque, pois a falta de um item pode causar diversos e imensos prejuízos à
empresa, em geral esse custo é difícil de calcular com precisão, pela variabilidade de
valores intangíveis, rateios e estimativas necessárias para o cálculo. Bertaglia (2009)
elenca como tipos de custos: custos de aquisição, de manutenção, de espaço, de capital,
de serviço, de risco e de falta de estoque.
Ainda sobre os custos, Dias (2012) afirma que existem duas variáveis que
incidem sobre eles: o fator quantidade e o fator tempo de permanência. Esses fatores
incidem nas divisões de custos, sendo essas divisões: armazenagem (entrando aqui,
custos de capital, de mão de obra, de edificações e de manutenção), pedido (mão de
obra, material e custos indiretos) e o da falta de estoque. Dias (2012), conceitua ainda
que o custo total de estoques (CT) é igual à soma dos custos totais de armazenagem
(CTA) e dos custos totais de pedido (CTP), assim temos a fórmula descrita abaixo (1):
CT = CTA + CTP
(1)
2.2 Técnica de administração de estoques: curva ABC
É possível analisa com base no item anterior, que manter estoque é um dispêndio
não só de dinheiro, mas de energia, pessoas, espaço, etc. pela organização.Vários
autores abordam técnicas para um gerenciamento de estoques, técnicas essas que
auxiliam para uma tomada de decisão mais precisa, deixando de lado a intuição como
aspecto mais relevante para essa decisão (PEDRO, 1998; BERTAGLIA, 2009). Uma
das técnicas mais conhecidas é a Curva ABC.
Também chamada de curva 20-80, a curva ABC é um método de priorização
para facilitar a análise, permitindo uma concentração nos itens que trazem mais
benefícios pelo objetivo proposto do estoque. “Poucos vitais, muitos triviais”
(BALLOU, 2006; FRANCISCHINI e GURGEL, 2010).
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Esse método consiste na separação dos itens em classes de importância (A, B e
C) e segue a regra de Pareto, onde poucos itens (20%) representam a maior parcela de
importância (80%), a separação por relevância permite então uma tomada de decisão
gerencial em casos fortuitos de redução de estoque, por exemplo (ALVARENGA, 2000;
BERTAGLIA, 2009).
Segundo Martins e Alt (2009), cerca de 10% a 20% do total de estoques,
representam a classe A; 30% a 40% pertencem à classe B e que 50% são da classe C,
porém não há uma forma totalmente aceita de determinar quanto cada uma das classes
absorve da porcentagem total. Moreira (2012) reitera que a região A corresponde aos
itens mais importantes, que devem receber atenção especial, a região B também devem
receber atenção, porém menor que a anterior, por fim a região C, devem ser controladas,
mas com menos rigor e atenção das demais. Quanto à formação da curva, Bertaglia
(2009) enumera três pontos essenciais, que são: coleta de dados, cálculo do custo anual
total para cada item e organização dos itens em ordem decrescente de valor. Já para
Francischini e Gurgel (2010): definir a variável a ser analisada, coleta de dados, ordenar
os dados, calcular os porcentuais e construir a curva. A formação dos cálculos (de
ambos os autores) será desconsiderada nesse trabalho em razão dos objetivos e da
metodologia propostos.
Embora diferentes conceituações da formação, os autores são unânimes quanto
à relevância da curva ABC e sua aplicabilidade, sendo essa uma técnica gerencial
utilizada para decisões diversas, como expansão ou retração do nível de estoques,
gerenciamento de valor monetário e de espaço dos mesmos, onde após classificados os
itens, direciona-se o esforço necessário a cada um pela sua relevância e impacto na
organização (ALVARENGA, 2000; BERTAGLIA, 2009; FRANCISCHINI e
GURGEL, 2010).
2.3 Estoque de segurança (estoque mínimo)
O estoque de segurança visa suprir lacunas ocasionadas por falhas, diminuindo
os riscos de não atender as solicitações dos clientes, sejam eles internos ou externos
(MARTINS e ALT, 2009). Francischini e Gurgel (2010) apontam essas falhas como:
aumento repentino de demanda, demora no procedimento do pedido de compra e atrasos
na entrega do fornecedor. Percebe-se que um estoque mínimo (ou de segurança) atenua
essas falhas caso ocorram. A importância do estoque mínimo esta relacionada ao grau
de imobilização financeira da empresa, o ponto de pedido então deve ser muito bem
calculado, uma vez que se muito alto, os custos de estocagem se elevam e se muito
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baixo acarretaria em custos de ruptura e perdas de vendas (DIAS, 2012). O ponto de
pedido, que também é conhecido como sistema de pedido com quantidade fixa, se
baseia na avaliação de quantidades em tempo real ao consumo ou retiradas do estoque,
verificando se já é hora de fazer a reposição (BERTAGLIA, 2009).
A reposição desse estoque mínimo pode ser realizada de duas formas diferentes,
na sistemática Q e na sistemática P. Na primeira o intervalo entre as revisões é variável,
sendo fixa a quantidade encomendada, inversamente na sistemática P, tem-se fixo os
intervalos entre as revisões e variável a quantidade, ambos os modelos possuem
vantagens e desvantagens quanto utilizados, como se percebe na tabela 1
(ALVARENGA, 2000).
Tabela 1. Vantagem e desvantagem das sistemáticas Q e P.
Método
Sistemática Q
Tempo
Variável
Sistemática P
Fixo
Quantidade
Fixa
Vantagem
Desvantagem
Estoque de reserva
Exigência de monitoramento
menor
sistemático (custoso)
Variável
Elimina a necessidade
Estoque médio superior ao da
de controle contínuo
sistemática Q
por produto
Fonte: Adaptado de Alvarenga (2000).
Além desses acima, Martins e Alt (2009), ainda agregam o estoque de segurança
com consumo e tempo de atendimento probabilístico (ou variável), quando conceitua
estoque de segurança. Vários autores trazem uma abordagem dos tipos de cálculos
desenvolvidos para determinar as margens de estoque de segurança ou estoque mínimo,
Dias (2012), por exemplo, sita o método da fórmula simples, da raiz quadrada, da
porcentagem de consumo e o método do estoque mínimo com alteração de consumo e
tempo de reposição, mas esses cálculos não serão exemplificados nesse trabalho, pelo
objetivo proposto. Independente do cálculo, Bertaglia (2009) afirma que, quanto maior é
o objetivo de atender bem o cliente, maior é o cuidado que se deve empenhar na
definição do nível desse estoque mínimo.
2.4 O estoque e a estratégia
O modo como as empresas gerem os seus estoques influenciam em seus retornos
financeiros e a forma como competem no mercado, logo se percebe que essa gestão
pode interferir nos resultados estratégicos das organizações, uma vez que o
posicionamento estratégico dos produtos irá interferir no modo como são administrados
os estoques (BERTAGLIA, 2009). Assim pode-se concluir que o gerenciamento de
estoque deve estar conivente com a estratégia da empresa. Francischini e Gurgel
conceituam cinco decisões de gerenciamento dos estoques, para alinhar-se à política e
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estratégia adotada: necessidade (comprar quando necessário); restrição (comprar um
lote que atenda a necessidade da organização durante todo um período, tomando então
riscos de falta de itens); Facilidade (manter níveis de estoques suficientes para a
produção num determinado período – lead time); adequação (manter porcentagem de
estoque suficiente para atendimento dos clientes quando o pedido ocorrer) e giro (níveis
de matéria prima e produtos acabados possibilitam alcance da meta já definida de giro
do estoque total).
Moreira (2012), afirma que os chamados padrões básicos de consumos
“demanda dependente” e “demanda independente” conduzem estratégias diferenciadas
de controle de estoques, fazendo-se necessário entender essa dinâmica. Quando a
demanda depende de condições que fogem do controle das empresas, ou seja, quando
essa é regulada pelo mercado, ela é conceituada como independente, logo, é chamada de
demanda dependente quando o consumo consegue ser programado internamente
(BERTAGLIA, 2009). Métodos de controle de estoques são desenvolvidos para atender
essas premissas de demanda dependente (MRP) e independente (lote econômico de
compra, sistema P, sistema Q) (MOREIRA, 2012).
3. Método de pesquisa
O método de pesquisa adotado para a condução deste estudo é a revisão
bibliográfica seguida de uma pesquisa de campo (estudo de caso) e posterior análise e
discussão dos dados obtidos.
Com vista aos objetivos, a pesquisa é exploratória com o intuito de proporcionar
maior familiaridade com o tema exposto (MARCONI e LAKATOS, 2001). A
abordagem da pesquisa é predominantemente qualitativa, pois não se utilizou
parâmetros estatísticos para analisar ou qualificar os resultados.
Para Miguel et al. (2012) os métodos mais apropriados para conduzir uma
pesquisa qualitativa é o estudo de caso ou a pesquisa-ação. Como os autores deste artigo
não tiveram envolvimento direto com o objeto a ser analisado optou-se pelo estudo de
caso. A coleta de dados ocorreu por meio de visita pessoal e entrevista aos responsáveis
pelo controle de estoques no frigorífico, localizado na cidade de Anaurilândia, estado de
Mato Grosso do Sul.
4. Pesquisa de campo
4.1 Características gerais da empresa
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Trata-se de um Frigorífico de médio porte localizado no distrito industrial da
cidade de Anaurilândia e que produz carnes Bovinas, suínas, ovinos e miúdos em geral.
Embora a empresa esteja a mais de 50 anos no mercado, atuando intensamente no ramo
varejista, o frigorífico possui apenas 6 (seis) meses. Atualmente a empresa possui 5
(cinco) supermercados operando nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul
O frigorífico abate em média 250 novilhas por semana (mais ou menos 50
cabeças por dia) sendo o abate realizado em um dia e a desossa em outro. O objetivo da
empresa no momento é de fornecer seus produtos apenas para sua rede de
supermercados, porém nos próximos meses visa distribuir para regiões mais próximas.
A empresa possui 52 funcionários diretos e 01 indireto sendo alocados da
seguinte forma, conforme mostra o Quadro 1.
Setor
Funcionários
% dos funcionários
por setor
2
33
9
2
2
2
3
53
3,77
62,26
16,98
3,77
3,77
3,77
5,66
100%
Escritório
Abate
Desossa
Estoque
Refeitório
Limpeza industrial
Pátio
Total
Quadro 1: Distribuição dos funcionários por setor
Quanto à escolaridade dos funcionários, pode-se observar conforme mostra o
quadro 2, que mais da metade (56,26%) dos funcionários da empresa possuem apenas
ensino fundamental. Aproximadamente 24,52% possuem ensino médio, 7,57% algum
curso técnico e somente 5,66% dos funcionários possuem ou estão cursando nível
superior. Além destes, 5,66 não são alfabetizados.
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Curso Técnico
Superior (cursando)
Analfabeto
Total
56,26%
24,52%
7,57%
5,66%
5,66%
100%
Quadro 2: nível de escolaridade dos funcionários
Importante destacar que o nível de escolaridade dos funcionários não influencia
diretamente nas distribuições das funções, sendo que funcionários com maior know-how
adquirido através de experiência ocupam posições de maior responsabilidade.
A remuneração dos colaboradores em regime mensal conforme a função de cada
um varia entre R$ 678,00 até R$ 3550,00.
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4.2 Processo de produção
Todo o processo de produção e estocagem se inicia com a chegada das novilhas
em caminhões e o descarregamento das mesmas em um curral para que possam
aguardar até o momento do abate que pode ser realizado no mesmo dia, ou o mais
comum das situações, que é o recebimento da matéria prima para ser processada no dia
seguinte. Neste estágio pode-se dizer que existe um estoque de matéria prima (viva) que
ainda não entrou no processo de produção.
Após este tempo de espera (chegada – início do abate) as novilhas vão sendo
(uma de cada vez) abatidas e dessangradas. Este processo é necessário para que o
sangue não influencie no aspecto da carne. Após a sangria o couro das novilhas são
retirados e estocados para que possam ser levados até um curtume (cliente da empresa)
que irá processá-lo e destiná-lo.
Após o abate o animal é divido em duas bandas (partes). Em seguida os miúdos,
(bucho, coração, fígado, língua, mocotó, pulmão, rabo, rim e fígado entre outros) são
limpos para serem estocados. Pode-se dizer que neste estágio, já existe na empresa,
grande quantidade de estoque em processamento.
4.3. Estocagem e controle
Essas duas “bandas” do bovino são refrigeradas cerca de vinte quatro horas para
facilitar a desossa e cortes. Após este período na câmara fria são retirados os cortes
tradicionais da carne, coxão duro, coxão mole, músculo, patinho, picanha, alcatra,
contra filé, filé mignon, capa de filé, fraldinha, ponta de peito, capa da paleta, acém,
miolo de paleta, miolo de acém, contra file, costela, alcatra e o Cupim. Posteriormente a
separação dos cortes os produtos são pesados, identificados, separados e colocados em
caixas, para melhor estocagem e distribuição.
O controle de estoque na empresa deve ocorrer pelo menos em tese da seguinte
forma: com o auxilio de um sistema computadorizado as caixas são pesadas e apontadas
no sistema conforme peso e código do produto (cada tipo de carne possuindo um
código). Este sistema auxilia no controle do estoque permitindo que seja realizada a
conferencia e emissão das notas fiscais por meio das suas informações.
Para funcionar adequadamente os dados e informações inseridas no sistema
devem ser corretos. No entanto identificações e pesagens incorretas dos produtos estão
ocasionando grandes transtornos aos gestores da organização, pois estes acontecem com
grande frequência e acarretando perca financeira.
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Realizado por dois funcionários, a gestão de estoque consiste na separação das
peças de carnes por tipo e peso. Em seguida é feita a estocagem das caixas por tipo de
produtos. É por meio da conferencia semanalmente realizada do estoque que se
identifica algumas diferenças entre os tipos de carnes que realmente constam nas caixas
e o que é mostrado nas etiquetas que estão identificando os produtos. Além disso,
muitas vezes o peso também não é compatível com o descrito na etiqueta e disponível
no estoque.
Geralmente quando isto ocorre é necessário refazer todo o processo, o que gera
custos de tempo e retrabalho. Além disso, embalagens e em alguns casos o próprio
produto, acabam danificados.
Caso notas fiscais sejam emitidas para estes produtos com pesos e tipos
inconsistentes a empresa pode ter graves problemas junto à fiscalização, que pode
entender tal divergência como sonegação fiscal.
Buscando identificar e estudar soluções para esses problemas este estudo
mapeou as prováveis fontes causadoras e concluiu que erros operacionais são os
principais motivos de tais transtornos. Dois são os departamentos onde os erros ocorrem
com mais frequências:
 Setor de embalagem: por falta de capacitação e conhecimento dos funcionários
os produtos são identificados de forma errada, ou seja, não existe na empresa
uma capacitação adequada aos funcionários do departamento que acabam
identificando, por exemplo, um corte, com nome e código de outro.
 Setor de pesagem: os pesos e códigos dos produtos são digitados pelos
funcionários manualmente. Apenas 1 (um) número digitado errado pode alterar
significativamente tanto o peso real do produto, como o tipo de carne que está
sendo embalada.
5. Proposições de melhorias
Identificados os setores problemáticos e possíveis causas para os erros ocorridos
fica claro que a falta de capacitação e comunicação adequada dos envolvidos com o
controle de estoque tem sido a principal causa dos erros e distorções no processo de
estocagem. Sendo assim propõem-se: investimento na capacitação dos funcionários.
Uma proposta sugerida pelos próprios funcionários é o isolamento em um local
mais reservado e sem distração do responsável pela pesagem do produto acabado no
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estoque, evitando que ocorram distrações que possam influenciar no desempenho
eficiente do mesmo.
É necessário que a empresa forneça um treinamento adequado aos funcionários,
que os capacite a identificar corretamente os tipos de carnes e trabalhar com o sistema
disponibilizado. Este treinamento pode ser conduzido por empresas especializadas ou
por funcionários já capacitados pela empresa, o que não geraria grandes custos para a
mesma e reduziria custos de retrabalho, tempo e perda de matéria prima. Além disso,
melhoraria a imagem da empresa junto a seus parceiros e clientes.
6. Conclusão
Percebe-se com este estudo, que o gerenciamento dos estoques das empresas
independente de seu porte e número de funcionários quando feito inapropriadamente
pode trazer dificuldades.
Além de um aporte das normas da empresa, o administrador de estoque deve
ter um domínio mínimo de conhecimento das técnicas e estudos realizados nessa área,
pois os mesmos trazem uma ajuda significativa de noção sistêmica ao qual ele está
inserido na organização, e corrobora ainda com um melhor desempenho de suas
funções. Uma vez que a falta de embasamento desses conceitos ocorra,a organização
fica propensa a erros e consequentemente, a perdas.
Pode-se averiguar também, que a administração de estoques está ligada à
produção, mas não se restringe a esta, outros setores da empresa também estão ligados
direta ou indiretamente, como financeiro, vendas, marketing, planejamento estratégico,
e claro, logística, por exemplo:um estoque de quantidade elevada de produtos acabados,
pode ser resultado de uma ação estratégica que visa atender de imediato ao consumidor
quando a venda é realizada, fazendo com que a distribuição tenha de ser feita
prontamente, o marketing pode se utilizar dessa estratégia como agregação de valor ao
produto. É vital, nesse caso, que a organização tenha uma comunicação eficaz, para que
todo o processo seja feito de forma adequada, sem ruptura.
O estudo de caso desse trabalho permite verificar que pequenos problemas
podem gerar grandes transtornos. A falta de preparo dos funcionários alocados ao
estoque, bem como o espaço no qual a parte final da produção (pesagem) está,
constantemente propiciaram erros, que não só uma vez, ocasionam em perdas de tempo,
de material e claro, perdas financeiras. Fica comprovado com o estudo que o
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gerenciamento de estoque quando não bem feito gera conseqüências danosas.
Especificamente neste case, há fatores que incidem para que problemas ocorram, como
o fato da empresa estar no início de suas atividades (ainda não completou um ano de
operação) ou ainda à sua cultura organizacional, visto que não foi dada a atenção
necessária no que se refere aos investimentos em treinamento operacional.
Relevante faz-se saber, que uma análise das características aqui apresentadas
como feedback, bem como uma proposta para aprofundamento do estudo, na intenção
de desenvolver uma aplicação mais aprofundada da gestão de estoques como a
aplicabilidade da curva ABC, será enviada à empresa, deixando em aberto esse trabalho
para possíveis alterações.
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