CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO MÉTODO DO ESTUDO DE CASO COMO FERRAMENTA DE ENSINO TRANSDISCIPLINAR. Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO SUMÁRIO 1. 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 2. 2.1 2.1.1 2.1.2 2.1.3 2.1.4 2.2 3. 3.1 3.1.1 3.1.2 3.1.3 3.1.4 3.1.5 3.1.6 3.1.7 3.1.8 3.1.9 3.2 3.2.1 3.2.2 3.2.3 4. O QUE É UM CASO? DEFINIÇÕES O INÍCIO O EMPREGO DE CASOS MODELOS DE ENSINO OS ESTUDOS DE CASOS E A APRENDIZAGEM PRÓS E CONTRAS DA APRENDIZAFEM BASEADA NA EXPERIÊNCIA O USO DO MÉTODO DE ESTUDO DE CASOS NO BRASIL CLASSIFICAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASOS A CONTRUÇÃO DE UM CASO PARA ESTUDO O PROCESSO DE CONTRUÇÃO DE UM CASO Preparação Rascunho e planejamento da redação Aprovação das declarações Revisão A PREPARAÇÃO REAL DE UM CASO COMO ESCREVER NOTAS DE ENSINO ESTRUTURA DE UMA NOTA DE ENSINO Introdução Objetivos do caso Aspectos Fundamentais Gerenciamento em sala de aula Questões para estudo Questões em sala de aula Trabalho no quadro-negro Conclusão Referencias EXEMPLO DE NOTA DE ENSINO REAL. Questões para estudo Questões para discussão Conclusão REFERÊNCIAS Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 03 03 03 04 04 05 06 07 07 10 11 12 15 15 15 16 18 18 18 18 19 19 19 20 20 21 21 21 22 22 23 24 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO 1. O QUE É UM CASO? 1.1 DEFINIÇÕES A seguir são apresentadas algumas definições dadas por pesquisadores e professores de renome acerca do que são casos e de como se procede para estudar um caso. • Estudos de casos são histórias com uma determinada mensagem. Não são simples narrativas para entretenimento. São histórias para ensinar. Clyc1e Freeman Herreic - National Center for Case Stucly in Teaching Science University at Buffalo State University of New York • Casos são narrativas projetadas para servir de base para discussão em sala de aula. Os casos não oferecem a sua própria análise; visam a testar a capacidade dos estudantes de aplicar a teoria que aprenderam em uma situação do "mundo real". Embora tenham origem na educação profissional negócios, medicina, direito e administração publica - os estudos de caso podem ser utilizados em qualquer curso. Com boa narrativa e exemplos específicos, podem ilustrar e iluminar a teoria. Howarcl HlIsock - Kennedy School of Government Case Program Harvard University • Um caso é uma fotografia tirada em um determinado ponto do tempo e escrito para servir a um objetivo de ensino especifico. E. Raymoncl Corey • Um caso é a descrição de um acontecimento de gestão. Em administração, a análise de um caso pode ser vista como equivalente, no mundo dos negócios, a uma "segunda opinião" em medicina. Thomas V. Bonoma - Harvard Business School • Um caso é a descrição de uma situação, geralmente envolvendo uma decisão, um desafio, uma oportunidade, um problema ou uma questão que uma pessoa dentro de uma organização tem que resolver. O caso permite ao participante envolver-se na situação, de maneira figurativa, assumindo o papel do tomador de decisão. José Dornelas - Badson College Dessas considerações podemos resumir e concluir que: Casos são relatos de situações ocorridas no "mundo real", apresentadas a estudantes com a finalidade de ensinar preparando-os para a prática. 1.2 O INÍCIO O método de estudo de casos ganhou fama e consolidou-se na Harvard Business School, instituição que há décadas utiliza o modelo como base para pesquisa e na formação de novos profissionais. O artigo BecauseVisdom Can't be Told (algo como "Por que a Sabedoria Não Pode Ser Ensinada"), escrito em 1940 por Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 3 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO Charles L Gragg, professor de Harvard e publicado no Harvard Alumni Bulletin, apresenta a experiência do desenvolvimento de aptidões por meio da utilização do estudo de casos na Escola de Administração de Harvard. Um dos parágrafos finais faz referência à importância do estudo de casos para a formação dos alunos: • Utilizado adequadamente o sistema de casos inicia o aluno nos caminhos do pensamento independente e do julgamento responsável. Coloca-o diante de situações que não são hipotéticas, mas reais. Posiciona-o em um papel ativo, aberto a críticas. Atribui a ele o fardo de entender e julgar por si próprio. Oferece ao aluno a oportunidade de lidar construtivamente com seus colegas e seus superiores. E, pelo 'menos na área de negócios, dá a ele a oportunidade estimulante de contribuir para aprendizagem. Em suma, os alunos, se quiserem, podem atuar como membros adultos de uma comunidade democrática. 1.3 EMPREGO DE CASOS No exterior, embora o estudo de casos seja aplicado com maior freqüência nas escolas de Administração, de Medicina e de Direito, a utilidade prática do estudo de casos tem se mostrado tão eficaz que rapidamente está sendo adotado em disciplinas de diferentes carreiras, e também no treinamento de educadores e na formação de professores. Esta realidade não é diferente no Brasil. As escolas mais progressistas já vêm utilizando o estudo de como método de ensino nas mais variadas áreas de conhecimento. 1.4 MODELOS DE ENSINO 1) Aula expositiva: O modelo tradicional é aquele centrado no professor que ensina "palestrando". Nessa situação, a comunicação ocorre na maioria das vezes no sentido professor-aluno”. O primeiro é o responsável pelo conteúdo a ser apresentado, pelo ritmo, pela seqüência do curso e pelo modo de apresentação, e as relações didáticas entre ele e os alunos ficam limitadas a perguntas e respostas. Outra característica marcante é quase não haver interação didática entre os estudantes. Esse modelo, chamado de aula expositiva, deve ser utilizado para ensinar a grandes grupos, para apresentar experiências pessoais e para sintetizar rapidamente um assunto. É um processo prático, cuja eficiência é reconhecida por professores e alunos. Tradicional, pode suscitar objeções quanto à sua efetividade cognitiva, filosófica e pragmática. No artigo clássico Listening to people, publicado em 1957, os pesquisadores Ralph Nichols e Leonard Stevens observaram que os alunos esquecem quase 50% do que ouvem logo em seguida a uma conversa e, oito horas após a conversa só terão retido 30%. Observou-se, por outro lado, que a retenção aumenta quando os alunos têm participação ativa no processo de aprendizagem. Filosoficamente, o objetivo primeiro da educação não é somente transferir informações, teorias e técnicas, mas, entre outras coisas, proporcionar o aprimoramento do senso de justiça e o desenvolvimento das capacidades crítica e de aperfeiçoar a personalidade artística. 4 Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO Além disso, do ponto de vista pragmático, de modo geral os estudantes desejam e reivindicam novos métodos de educação. 2) Processo de aprendizagem ativa: O segundo modelo de educação é o que chamamos processo de aprendizagem ativa. Com várias denominações e compreendendo técnicas diversas, esse processo é centrado na preocupação de que os alunos participem ativamente do processo de aprendizagem. No processo de aprendizagem ativa o foco não é mais a transferência de informações do ensino tradicional, mas a participação ativa do aluno no processo de aprendizagem. O meio utilizado deixa de ser o monólogo e passa a ser o diálogo entre os alunos, e entre estes e o professor. 1.5 OS ESTUDOS DE CASOS E A APRENDIZAGEM A meta fundamental perseguida por professores e alunos é a aprendizagem, que, em geral ocorre a partir do encontro com o professor ou com o seu envolvimento na atividade empreendida. Em Administração, o gerente é, por definição, um tomador de decisões. Como ensinar uma pessoa a decidir utilizando as abordagens de ensino? O mesmo ocorre com alunos de outras carreiras. A preparação profissional envolve o contato com diversas abordagens - técnicas e filosóficas -, as quais participam da construção do conhecimento e do desenvolvimento de habilidades. Em aulas expositivas, o professor apresenta informações que devem ser assimiladas pelos alunos. O professor pode valer-se ainda ele exemplos e de exercícios e da descrição de situações que propiciem a aplicação dos conceitos apresentados, possibilitando que o aluno estabeleça a correlação entre o conhecimento adquirido e a realidade em que está inserido. O método de estudo de casos possibilita, a partir das informações apresentadas, a construção do conhecimento e proporciona o desenvolvimento de habilidades. Segundo os professores Clayton Christensen, David Garvin e Ann Sweet, da Harvard Business School, existem cinco justificativas que reforçam a necessidade da utilização do estudo de casos em sala ele aula: Quando os objetivos de ensino estão focados nas qualidades mentais dos alunos (curiosidade, julgamento e sabedoria), nas qualidades morais das pessoas (caráter, sensibilidade, integridade e responsabilidade) e no desenvolvimento da capacidade de aplicar conceitos gerais e o conhecimento em situações específicas. • Porque a aula expositiva tradicional depende unicamente do talento do professor. • Porque a capacidade de ouvir com atenção, de responder de maneira construtiva, de lidar com a incerteza, de recompensar e punir e de criar um ambiente de aprendizagem aberto e confiável não são desenvolvidos no modelo tradicional de ensino. • Porque o estudo de casos oferece, também, uma oportunidade de pesquisa. • Porque o método estimula o relacionamento interpessoal e o trabalho em equipe. 5 Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO As qualidades e habilidades que serão exigidas do tão falado "profissional do futuro" têm forçado as universidades a reverem seus padrões de ensino. A proposta atual reflete a preocupação de que o estudante, além d aprender, saia da escola em condições de empreender. Um processo de educação que busque dotar os alunos as competências e características empreendedoras não se enquadram nos métodos tradicionais de formação. No ensino formal, por meio de leituras e de aulas expositivas, os alunos transformam a informação em conhecimento - ou seja, aprendem. Ao obter conhecimento, podem adquirir competências, pela integração dos conhecimentos adquiridos e sua aplicação em novas situações - ou seja, apreendem. Ao transformar competências em capacidades, o empreendedor arrisca e alcança resultados. O processo de desenvolvimento de competências e características pessoais, a partir da aquisição de conhecimento, ocorre pela passagem do "saber-fazer" para o "fazer-com-saber". Ao longo desses ciclos acontecem diversas interações e retro alimentações. Por exemplo, quando a pessoa se toma capaz ele algo, pode perceber que precisa adquirir mais conhecimento, e um novo processo se inicia. A aula expositiva é fundamental para o ensino, e continuará a ser, mas precisa ser complementada por outras técnicas. O método de estudo ele casos, como complemento do sistema tradicional de transmissão de conhecimento, propicia o desenvolvimento da comunicação entre os alunos, estimulaos a pensar mais, além de ser um incentivo à análise crítica e de envolver os alunos ativamente na aula. Tal como todos os métodos, o sistema de casos também tem limitações. Não é um sistema efetivo, por exemplo, para a transmissão de uma quantidade elevada de informações factuais, uma vez que se restringem as situações e histórias específicas. A utilização de estudo de casos possibilita maior interatividade do que uma aula tradicional. Embora as aulas expositivas sejam necessárias, o método de estudo de casos reforça a aprendizagem, ao estimular, por meio ela discussão, que os estudantes tirem suas próprias conclusões. O sucesso na aprendizagem depende da sintonia entre todos os envolvidos - do professor com os alunos e dos alunos entre si - e da qualidade e do bom funcionamento do material didático (o caso) utilizado. 1.6 PRÓS E CONTRAS DA APRENDIZAGEM BASEADA NA EXPERIÊNCIA Como todo e qualquer método, a utilização do estudo de casos, ou seja, da aprendizagem baseada na experiência, apresenta vantagens e desvantagens. Em última instância, os casos não são, na verdade, situações reais. Apenas descrevem, de maneira relativamente estática, um determinado momento, enquanto no dia-a-dia das organizações os fatos ocorrem de Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 6 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO maneira dinâmica. O caso é sempre focado, dimensionado e direcionado para o tempo e o objetivo que o professor estabelece para a aula. Por outro lado, casos sempre apresentam fatos e dados reais, possibilitando aos alunos constatar, analisar e decidir. Também são relevantes no desenvolvimento das habilidades analíticas e dão aos alunos a oportunidade de vivenciarem situações, por meio da experiência dos outros e da discussão. Além disso, auxiliam a aprendizagem dos princípios e conceitos teóricos. 1.7 O USO DO MÉTODO DE ESTUDO DE CASO NO BRASIL O método de estudo de casos vem sendo cada vez mais adotado nas universidades brasileiras. Hoje em dia, todos os cursos de pós-graduação das instituições mais conceituadas utilizam esse modelo, que poderia estar mais difundido, inclusive em nível de graduação, não fosse pela falta de casos brasileiros. Essa carência não decorre da inexistência de situações interessantes, da não-cooperação das empresas, da dificuldade de encontrar fontes de dados e de informações adequadas ou da falta de docentes capazes de fazê10, mas da escassez de iniciativas incentivadoras. Contudo, há exceções, tais como o acordo feito em 2002 pelo Sebrae/RJ com algumas instituições de ensino importantes – IBMEC, PUCRio e UFRJ - para a promoção do I Concurso de Elaboração de Casos em Administração, o que contribuiu muito para suprir a demanda por casos nacionais. Elaborados com base no banco de dados de empresas existente no Sebrae, esses casos vão enriquecer o processo de aprendizagem nas escolas brasileiras, uma vez que descrevem situações vividas em pequenas empresas, alicerces ela economia e do crescimento do Brasil. 1.8 CLASSIFICAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASOS São várias as maneiras de aplicar o estudo de casos. Neste trabalho será utilizada a classificação proposta por Clyde Freeman Herreid, professor da Universidade de Buffalo. O professor Herreid distingue os tipos de estudo de casos de acordo com a modalidade empregada em sua análise: casos para discussão, caso individuais, casos apresentados em conferências e atividades de pequenos grupos. • Tese: Descreve o resultado de um estudo científico ou d uma pesquisa experimental de tema específico e bem delimitado. Deve ser elaborada com base em investigação original. Aliás, abordagem qualificada de uma questão original é o que se espera de um trabalho de tese. • Artigo acadêmico: É o trabalho técnico-científico escrito com a finalidade de divulgar a síntese analítica de estudos realizados resultados de pesquisas. Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 7 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO • Estudo de caso direto: É a apresentação de um caso real ou fictício para exercício de análise. Na realização dessa análise, o aluno deve aplicar a teoria que lhe foi ensinada. • Relato de histórias: É uma atividade em que o professor descreve um caso, apresentando as alternativas de solução possíveis, tendo em vista os dados fornecidos pelo caso, e estabelecendo relações entre as variáveis envolvidas. • Método Socrático: professor apresenta o caso por meio de perguntas selecionadas e recorre a todos os alunos para obter respostas. De indução em indução, de análise em análise, leva os alunos a encontrarem soluções para o problema proposto. • Simpósio: É uma série de breves apresentações de diversas pessoas sobre diferentes aspectos de um mesmo tema ou problema. A apresentação pode ser individual ou em equipe. O simpósio pode ser realizado em um mesmo dia ou durante vários dias seguidos. • Julgamento: O professor apresenta um caso que será analisado pela turma. São formados quatro grupos. Um defende uma posição, enquanto o outro deve atacá-la; um terceiro grupo deverá se constituir de jurados, que irão analisar as posições apresentadas, e o quarto grupo será o juiz que deverá propor uma solução para o problema. • Controvérsia estruturada: o professor apresenta um caso ou um problema que possibilite a expressão de idéias divergentes. Alguns alunos discutem para defender uma idéia ou encontrar suas vantagens, enquanto outros devem se opor à mesma idéia ou encontrar suas desvantagens. • Debate: Consiste em desenvolver, sob a coordenação de um moderador, uma discussão informal por um grupo de pessoas selecionadas por apresentarem pontos de vista antagônicos. O moderador deve procurar manter a discussão viva e útil, evitando que saia do tema. Em uma segunda etapa os alunos poderão fazer perguntas aos grupos selecionados para a apresentação. • RPG (role playing game): É uma atividade em que cada componente do grupo assume o papel de um personagem, devendo interagir com o restante do grupo. Quando a encenação termina, a discussão se inicia com o restante da turma. • Casos interrompidos: O professor apresenta um caso com informações básicas e estruturação apenas iniciada, para que os alunos busquem a conclusão, por meio da discussão em pequenos grupos. Esse tipo de estudo de caso é semelhante ao método do PBL (veja adiante). Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 8 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO • Casos de artigos publicados na imprensa: Baseia-se em artigos ou notícias publicadas na imprensa que dêem margem a idéias controversas. Os alunos, organizados em pequenos grupos, discutirão o tema do artigo, a partir de leitura prévia, para chegarem a uma conclusão. • Apresentação de pôsteres: O pôster é muito utilizado em eventos paralelos de conferências. Os trabalhos são apresentados em forma de pôster e os autores, em um tempo determinado, podem discutir diretamente seus dados e suas interpretações com os observadores, individualmente ou em pequenos grupos. • Aprendizagem em equipe: Baseia-se na reunião de uma equipe com o objetivo de aprofundar a discussão de um determinado tema. Mais que uma coleta de fatos, leva o grupo a uma tomada de posição e a um comportamento de consenso. Valoriza a atuação de cada participante pela fundamentação teórica e prática apresentada, propiciando a troca de experiências entre os membros dos grupos. • Problem based learning: Quando aplica o método do problem based learning (PBL) ou aprendizagem baseada em problemas, o professor apresenta um problema que estimula a aprendizagem dos alunos. Por meio de orientação proposta pelo professor, os alunos devem descobrir sozinhos os conceitos de que necessitam para resolver o problema. • Equipe de pesquisa: O professor traz um caso e forma equipes de pesquisa, fornecendo uma lista básica de referências bibliográficas a ser consultada e de sites a serem acessados, como apoio teórico e prático para a resolução do caso. • Diálogo: O professor apresenta um caso, em forma de diálogo, e encaminha o tema proposto para resolução. Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 9 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO 2. A CONSTRUÇÃO DE UM CASO PARA ESTUDO Para efeito de contraste, agora será visto o que, no entender do professor José Domelas, brasileiro que leciona no Babson College, EUA, não é um bom estudo de caso: Um texto que apresente apenas a descrição dos fatos; • uma história que seja apresentada sem foco definido; e • que, além disso, não deixe claro o problema a ser discutido, e além disso, • que não mostre o ambiente com o qual o assunto ou a organização estejam envolvidos. Embora deva ser um relato de fatos, um bom caso não é uma simples história bem contada. É verdade que para ter boa aceitação é preciso que o caso seja atraente e estimulante, pois, por melhor que sejam os dados técnicos nele contidos, um caso sem atrativos tende ao descrédito. Por outro lado, uma boa história sem fundamentação, sem informações precisas e na quantidade certa, não possibilitará que os estudantes disponham de elementos para tomadas de decisão. • • • • • • • • • Portanto, para se construir um bom caso é necessário: abordar um assunto relevante, que desperte interesse,' que tenha ocorrido há não muito tempo (um tempo considerado adequado são os últimos cinco anos; no entanto, muitas situações mais antigas podem ser consideradas atuais se estiverem relacionadas com acontecimentos marcantes, clássicos), possibilitar que haja empatia entre os estudantes e os personagens centrais; ser construído com objetivo didático claro; incluir declarações e comentários dos personagens; que os fatos sejam relatados com clareza e precisão, especialmente quanto a aspectos numéricos; que esses fatos sejam abrangentes e contenham todos os dados de que os estudantes possam precisar ir para tomar decisões; que reflita situações usuais do mundo real; que o relato seja o mais breve possível, suficiente para apresentar adequadamente os fatos mas sem entediar o leitor. De certa maneira, um caso deve, no mínimo, atender aos preceitos da fórmula mnemônica 4W1H. Criada a partir de um verso de Rudyard Kippling (1865-1936), essa fórmula é adotada principalmente na área de Comunicação Social. Segundo a fórmula 4W1H, um texto deve obrigatoriamente conter as seguintes informações: que, quem, quando, onde, como, por quê. Deve-se lembrar que o caso só "existe" na sala de aula, ou seja, é necessário que aconteça a discussão, independentemente da leitura e do Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 10 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO estudo em casa, para que os objetivos do aprendizado sejam alcançados, e cabe ao professor guiar o processo para que essa discussão aconteça. 2.1 0 PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UM CASO Podem-se escrever casos para que façam parte de uma pesquisa ou para serem utilizados em aula ou em conferências, com base na experiência pessoal e em dados de fontes secundárias. Porém, atendendo a um maior rigor, sobretudo quando para pesquisa, em geral se constroem casos com a participação da organização que será apresentada no caso. O roteiro para a construção de um caso passa pelas etapas genéricas apresentadas na Figura 1.1. Esse roteiro pode ser detalhado segundo a proposta de Raymond Corey, da Harvard University (Figura 1.2). As etapas genéricas incorporam as etapas detalhadas. A etapa de elaboração e escrita das notas de aula (ou notas de ensino) será abordada em maior profundidade no próximo capitulo deste trabalho. Preparação Entrevistas Rascunho Aprovação Das citações Revisão Figura 1.1: Roteiro básico para preparação de um caso Fonte: (SERRA & VIEIRA 2006 p. 27) PREPARAÇÃO Temas e fontes Escolha da Organização Visita de campo Identificação Das fontes Definição Do escopo Procedimentos De Comunic. Cronograma Escrever as Notas de ensino REVISÃO Redação Final rascunho Avaliação do rascunho RASCUNHO Escrever rascunho Contato Entrevistas Figura 1.2 Roteiro detalhado para a elaboração de um caso Fonte: (SERRA & VIEIRA 2006 p. 39) Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 11 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO O tempo para escrita varia de acordo com o propósito, a din1ensão e o detalhamento do caso. Considerando a situação mais rigorosa, a professora Jane Linder, da Harvard University, sugere que um caso pode ser escrito no período de um a seis meses. Naturalmente, esse prazo depende de uma variável muitas vezes mais limitadora do que todas as outras: o tempo disponível para se escrever o caso. 2.1.1 Preparação Na Figura 1.2 a etapa geral de preparação engloba as seguintes subetapas: temas e fontes, escolha da empresa, visita em campo, definição do escopo e identificação das fontes de dados. • Temas e fontes: Normalmente, o professor prepara (ou escolhe) o caso para uma disciplina específica. Os casos a serem preparados, por sua vez, podem ser inspirados em uma variedade de fontes. Em Administração, por exemplo, podem-se consultar revistas (como Exame ou Forbes), jornais (como Gazeta Mercantil ou Valor) ou a própria rede de relacionamentos do professor (empresários, alunos e amigos). Escolhido o tema, as fontes de pesquisa podem ser as mesmas mencionadas anteriormente ou outras fontes mais específicas, como o site da empresa e outros ligados ao assunto. Ao pensar no tema, o professor já tinha uma intenção específica com relação aos conceitos teóricos e quanto à apuração do caso. Tendo acesso a mais elementos, ele pode fazer uma lista dos princípios que podem ser ensinados. • Escolha da empresa que será retratada no caso: Por que uma organização se submeteria a ser alvo de um estudo de caso? Em geral, um caso não é um veículo promocional, mas a exposição positiva da empresa pode ser um bom motivo para que a empresa libere informações para a elaboração do caso. Outro motivo é a oportunidade que a empresa tem de aprender sobre si mesma. O auxílio de ex-alunos que tenham ligação com a empresa ou a relação desta com a instituição de ensino facilita o acesso a. informações e à própria organização que se quer abordar. No Brasil, as relações sociais são muito importantes. "Tudo aquilo que conduz ao encontro e ao relacionamento nos' leva, por extensão, à brasilidade" (citado em Cara Brasileira). No nosso país, um professor é capaz de criar relacionamentos mesmo em cursos nos quais participou por meras duas aulas. • Decisão sobre visita de campo: Além da escolha da organização ou organizações a serem analisada(s), é importante escolher previamente a dimensão do caso e se serão realizadas visitas de campo e entrevistas. Se for necessário, pode-se elaborar uma primeira lista dos escalões hierárquicos a serem entrevistados. Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 12 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO A primeira visita à empresa deve ser minuciosamente preparada. Podese fazer um contato formal, por telefone, por e-mail ou por carta, para marcar essa visita. Esse cuidado pode ser desnecessário para pequenas empresas e empresas familiares brasileiras, devido aos relacionamentos preestabelecidos. Antes da visita, o autor do caso deve reunir (e organizar) o máximo de informações possível, de modo a planejar a base do caso e ter o que discutir na empresa. Essa visita, para não ser demorada, deve ter como objetivo eliminar dúvidas, checar informações e obter informações complementares aos dados que foram levantados anteriormente. Na primeira visita de campo, feita pelo responsável pela elaboração do caso, é importante definir o escopo final do caso; confirmar a lista de entrevistados e outros dados que possam ser fornecidos; conversar sobre os procedimentos de comunicação a serem adotados; entrar em acordo sobre horários e cronograma; e definir uma pessoa para funcionar como contato na organização. • Definição do escopo: O caso pode exigir um consenso entre os responsáveis pela elaboração e os contatos na empresa. Deve-se enfocar um problema específico da organização. Mesmo que esta apresente outros aspectos interessantes, estes devem ser deixados de lado, ou postergados para outro estudo de caso. Isto para que o caso não fique muito extenso nem fuja ao objetivo. • Identificação das fontes de dados. Nesta etapa, faz-se uma lista dos escalões hierárquicos e definem-se os nomes dos funcionários a serem entrevistados. Outras fontes de dados da empresa e fontes secundárias que sejam indicadas para elaboração do caso devem ser definidas. • Entrevistas Esta etapa compreende as seguintes sub-etapas: procedimento de comunicação, cronograma, contatos na organização e entrevistas. o Procedimento de comunicação: Tendo em vista que os casos envolvem organizações e, às vezes, as pessoas que são entrevistadas ou citadas como depoentes, devem-se adotar alguns procedimentos para evitar problemas durante a elaboração do caso e, sobretudo, quando o caso se tornar público. Em primeiro lugar, nem todas as informações, tais como comentários feitos em entrevistas, memorandos ou dados quantitativos, podem ser fornecidas ou divulgadas. É possível, inclusive, que a empresa exija que o responsável pela elaboração do caso assine um documento em que se comprometa a só publicar qualquer informação ou citação após autorização formal da organização ou da pessoa que forneceu os dados. Além disso, antes de se iniciarem as entrevistas é importante deixar claro do que trata o caso, e que tipo de envolvimento se espera de ambas as partes, a empresa retratada e o responsável pela preparação do caso. Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 13 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO o Cronograma: Por definição, quem trabalha tem seu tempo ocupado. Logo, a disponibilidade para entrevistas ou para discutir o caso é limitada; por isso, é necessário acertar uma agenda e prever alguma flexibilidade. É fundamental elaborar um cronograma em que se especifique e se limite o tempo de execução das tarefas. Essa questão envolve, antes de tudo, respeito para com os representantes da empresa com os quais se estabelecerá o relacionamento. o Contato na organização: Considerando-se que a disponibilidade dos executivos é pequena e que o contato com eles é fundamenta!' para o bom andamento do trabalho de elaboração d caso, deve-se procurar fazer com que a organização designe uma pessoa que concentre e direcione as atividades e que administre o agendamento das atividades do cronograma. Embora esse seja um procedimento óbvio, não cust3' lembrar que, antes de se iniciar essa etapa, já deve rã estar claramente definidos: o foco do caso, o tipo d informações que serão necessárias, as fontes de dados, o que pode ser utilizado e enfatizado e o cronograma de atividades. Todos esses elementos devem ser descrito em um documento - uma carta, por exemplo - a ser enviado ao representante da empresa. o Entrevistas: o entrevistador deve conquistar a confiança das pessoas ligadas à empresa, uma vez que muitas dúvidas estarão passando pela mente delas: se devem e pode fornecer as informações desejadas, o que pode e deve ser dito ao entrevistador, e como as informações, certa ou erradas, podem causar problemas para as pessoas ou para a organização. O bom êxito nas entrevistas vai depender da habilidade do entrevistador em não deixar 5 entrevistado acalentar tais dúvidas. Tipos de entrevista. As entrevistas podem s estruturadas ou não. No caso de uma entrevista estruturada o entrevistador direciona as perguntas segundo um roteiro predeterminado e mais direto. Se o entrevistador não tiver muita prática na elaboração de casos, é aconselhável utilizar esse tipo de entrevista. Em uma abordagem indireta, o entrevistador também pode ter um roteiro, mas começará com questões genéricas, e os temas abordados e o rumo da entrevista dependerão mais do entrevistado. Esse é o método mais apropriado quando o entrevistador é experiente. Inclusive, se for necessário, essa primeira entrevista pode ser seguida de outra, estruturada, para que algumas informações porventura dispersas sejam organizadas e devidamente contextualizadas. Ouvir e entender. Duas habilidades fundamentais que o entrevistador deve cultivar são a capacidades de ouvir atentamente e a capacidade de entender o que está sendo falado pelo entrevistado. Destaca-se que o entrevistador deve conduzir a entrevista com paciência, de maneira amigável e mostrando interesse pelo que está sendo dito. Além disso, deve tentar perguntar somente para iniciar a entrevista, direcionar a conversa para outro tópico, descobrir se o que está sendo mencionado é pertinente, incentivar o entrevistado a falar ou aliviar quaisquer tensões que venham da própria entrevista. O entrevistador não deve impor idéias, aconselhar ou sugestionar o entrevistado. Deve procurar exemplos concretos sobre o Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 14 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO que está sendo dito, e evitar interromper o entrevistado, para que a entrevista não perca o ritmo. Além disso, deve agradecer pelo entrevistado pelo tempo dispensado e pelas informações prestadas, deixando sempre uma abertura para uma outra entrevista. 2.1.2 Rascunho e Planejamento da Redação Antes de preparar a redação final, é interessante fazer um rascunho com as idéias coletadas e submetê-la à empresa, para obter a aprovação dela. Na verdade, o ideal é que, mesmo antes do rascunho e da entrevista, seja preparado um sumário dos assuntos que constituirão o caso, tanto para que haja um consentimento prévio quanto para que a redação final seja preparada segundo métodos adequados. Esse sumário que constituiria o "esqueleto" do caso assemelha-se ao dos livros: uma relação de partes, seções e subtítulos. Construída essa estrutura, o redator do caso vai adicionando os assuntos aos respectivos tópicos. Um texto bem estruturado, organizado, representa meio caminho andado para agradar aos leitores, o que é fundamental para uma boa aceitação do caso. Clyde Freeman Herreid afirma que a escala do interesse humano varia de O (nenhum interesse) a 100 (interesse humano total). Para os periódicos científicos, o interesse é O; para o Reader's Dígest, de 40 a 60; para os romances, chega a 100. Vê-se que é difícil atrair leitores. Portanto, além de serem interessantes, com uma boa abertura e um fechamento adequado, os casos precisam ser bem organizados, redigidos com clareza, de modo simples e coloquial, sem "tecnicismos" desnecessários. Não devem conter somente fatos, mas informações e declarações que desenvolvam o interesse humano. Dados não-relevantes devem ser suprimidos. Os dados que tenham importância fundamental merecem destaque e, na medida do possível, devem ser representados em gráficos e ilustrações. 2.1.3 Provação das Declarações A etapa de aprovação das declarações feitas nas entrevistas é realizada em conjunto com a avaliação do rascunho, o qual deve ser enviado para a pessoa de contato da organização envolvida. No entanto, antes de fazê-la, é importante apresentar a cada entrevistado aquilo que ele citou na entrevista, de modo a evitar qualquer constrangimento para ele quando for enviado à empresa o rascunho que contém o conjunto das entrevistas. 2.1.4 Revisão A revisão engloba a avaliação do rascunho e, depois, da redação final. O ideal é que o redator do caso conte com a ajuda de colegas docentes ou, preferencialmente, de algum especialista em publicação de livros ou de artiProfessores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 15 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO gos, ou de pessoa que tenha experiência em revisão e organização de textos, colaboradores que teriam papel similar ao de um orientador de tese. Esse apoio editorial pode contribuir não apenas para evitar erros gramaticais, mas também para tornar o caso mais "legível" e isento de erros. A versão final do caso deve ser enviada à organização nele retratada, com um cartão de agradecimento pela ajuda. A Última etapa é a elaboração das notas de ensino. Por ser muito específica e envolver diversas variáveis, essa etapa será abordada a seguir. 2.2 A PREPARAÇÃO REAL DE UM CASO Em 2001, as duas primeiras turmas de mestrado em Administração da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) desenvolveram um caso - com notas de ensino - sobre a Parmalat do Brasil, durante a gestão Grisendi. O tema principal era estratégia (disciplina em que estavam matriculados), com foco na estratégia de crescimento da empresa, a ligação com a estratégia da matriz, a troca do principal executivo da empresa e o posicionamento da empresa em relação ao seu principal concorrente. Nota. Antes de relatar como se deu a preparação desse caso, é importante ressaltar que, a despeito dos problemas da Parmalat mundial ern 2004, o caso cumpre seu objetivo de abordar o efeito de uma estratégia de crescimento em uma determinada ocasião. Esse estudo de caso tem sido utilizado em vários cursos de Administração, e se mostra útil, sobretudo pelos problemas enfrentados pela Parmalat na sua história recente, o que não apenas complementa o caso como serve de motivação para discussões bastante desafiadoras. Portanto, em vez de ser um desestímulo, pelo fato de os estudantes saberem que destino teve a estratégia da Parmalat, o caso é extremamente instigante. • • Preparação: A elaboração do caso Parmalat seguiu as etapas apontadas anteriormente. Os mestrandos não fizeram nenhuma entrevista, nem visitas em campo, mas consultaram diferentes fontes públicas confiáveis. Além disso, durante os anos de 1990 a Parmalat do Brasil apareceu em diversas reportagens devido ao seu crescimento acelerado e, na época da elaboração do caso, o presidente da empresa que fora responsável por esse crescimento excepcional estava sendo substituído. Tudo isso motivou a escolha dessa organização para o caso. Foram enfocados os dados fundamentais do cresci· mento da empresa. Os dados foram obtidos em fontes públicas, tais como o site da empresa no Brasil e na matriz, o site da Nestlé, a maior concorrente da Parmalat, reportagens de jornais (Gazeta Mercantil e jornal do Commercio) e de revistas (Exame e América Economia), e outras fontes (BNDES e Esporte S.A.). Entrevistas: Como foi dito anteriormente, a etapa de entrevistas não foi realizada. Entretanto, foi elaborado um cronograma, como se fora o Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 16 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO • de entrevistas, para o estabelecimento de prazos relativos às contribuições de cada grupo para o trabalho. Rascunho e revisão: Cada grupo participante do trabalho, que constituiu uma atividade de avaliação de final de curso, elaborou um rascunho do caso que foi utilizado para a elaboração do caso definitivo. Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 17 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO 3. COMO ESCREVER NOTAS DE ENSINO As notas de ensino são um importante instrumento de apoio que o autor do caso provê aos professores que aplicarão o caso em sala de aula. Assim sendo, podem apresentar o objetivo do caso e como este pode ser utilizado em sala de aula segundo o ponto de vista elo autor. As notas de ensino devem ser organizadas ele tal modo que facilitem a orientação para uso de estudo ele casos em sala de aula (ver sugestão apresentada na Figura 1.3). Introdução Obj etivos Do c aso Referências Aspect os Fundam ent ais Conclusão Gerenciam ento Em sala Trabalho No quadro Questões Para estudo Questões em sal a de aul a Figura 1.3 Sugestão de roteiro para organização de notas de ensino Fonte: (SERRA & VIEIRA 2006 p. 39) 3.1 ESTRUTURA DE UMA NOTA DE ENSINO 3.1.1 Introdução Além de conter uma visão geral do caso, a introdução deve apresentar um resumo dos objetivos de ensino. O autor do caso também pode mencionar em que cursos O tem utilizado, para quais tipos de alunos, e com que 1 resultados. Por exemplo: O estudo de caso da Parmalat tem sido utilizado em cursos de Administração, com perguntas diretas, sobretudo para alunos de graduação quando o tempo de aula é muito limitado, e em discussões nos cursos de pós-graduação, após leitura prévia. 3.1.2 Objetivos do caso Os objetivos apresentados sucintamente na introdução devem ser detalhados nesta etapa. Quando aplica um caso para estudo, o professor deve deixar claro o que deseja como resultado, e o autor do caso pode auxiliá-lo nessa tarefa. Por exemplo: Após a leitura individual do estudo de caso da Parmalat (em horário que não o da aula), os alunos deverão: • discutir os aspectosful1damentais da estratégia segundo a escola de posicionamento; • discutir a importância da visão da empresa e do líder, no caso Grisendi, no processo; • discutir os pontos fortes da concorrência. Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 18 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO 3.1.3 Aspectos fundamentais Neste tópico o autor do caso deve indicar os aspectos fundamentais para discussão que o estudo de caso deve analisar, e que tipo de informação se pode esperar conseguir dos alunos, inclusive antecipando quais assuntos e questionamentos costumam aparecer durante a discussão de caso pelos estudantes. Por exemplo, em um determinado estudo o foco é na missão, na visão e nos valores da empresa retratada nele. Nesse caso, durante a sessão de estudo podem ser debatidas a importância e a utilização desses preceitos na pequena e média empresas. 3.1.4 Gerenciamento em sala de aula Nesse tópico o autor do caso dá sugestões sobre como o caso pode ser conduzido para que se tire maior proveito dele e sobre como utilizá-lo em sala de aula, complementando e tornando operacional o que em parte foi feito no tópico sobre os aspectos fundamentais. Essas sugestões constituem o detalhamento e a ordenação das ações que devem ser empreendidas em sala e dão uma idéia aproximada de cada atividade em relação ao todo, além da condução do caso em sala (perguntas diretas, em discussão ou como PBL). Por exemplo, o caso da Parmalat, é um caso extenso, que pode ser usado em quaisquer dessas três situações ou mesmo como instrumento de avaliação, sendo resolvido individualmente ou em grupo, fora do horário de aula, É sempre recomendável a leitura prévia do caso, atividade fundamental nos casos extensos ou que contenham muitos dados numéricos. 3.1.5 Questões para estudo Estas questões são colocadas no final do caso, com o objetivo de direcionar o estudo dos alunos para aspectos especificas. Em geral são questões diretas. No fim de um caso pode haver algumas perguntas diretas que, apesar de direcionarem para respostas específicas, podem levar à discussão sobre os tópicos abordados no próprio caso ou em um capítulo de determinado livro. Por exemplo, no estudo de caso Made Internet Service, uma empresa da Incubadora Gênesis da PUC-Rio e um dos premiados na 1ª Jornada de Casos de Sucesso da Pequena Empresa, promovido pelo Sebrae/RJ em 2002, escrito pelos então alunos Heron Vitela e Cristiano Maldonado, lê-se: Sempre é necessária uma estratégia de diversificação de clientes, ou é possível uma política para tornar O cliente dependente da empresa, de modo que a empresa e o cliente fiquem ligados um ao outro?" • No caso sobre a Parmalat encontram-se as seguintes propostas de avaliação: Para facilitar a compreensão, procure identificar no caso os clientes e mercados da Parmalat no Brasil, assim como os produtos e serviços da Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 19 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO • • • empresa. Pesquise números importantes em relação ao mercado e à eficiência. Identifique as principais ações da empresa no Brasil. Comente o crescimento da Parmalat e a sua lógica de aquisições. Quais são os possíveis motivos para a empresa ter reavaliado seu processo de crescimento? 3.1.6 Questões em sala de aula Sempre que possível, as notas de ensino devem apresentar uma série de alternativas de questões a serem utilizadas em sala de aula, para estimular a discussão do caso. Em uma discussão, as perguntas diretas que apresentamos no item anterior (Questões para estudo) podem ser substituídas ou complementadas por indagações indiretas. Por exemplo: • Qual é a melhor empresa aérea: Gol, Varig ou TAM? • O bilhete da Gol é mais barato. O serviço é pior? Ou, com relação ao caso Parmalat: • Por que trocar um presidente que fez tanto sucesso? 3.1.7 Trabalho no quadro-negro Os alunos devem sair de sala com uma idéia clara do que aprenderam. O trabalho do quadro-negro, com anotações sobre o que o grupo considerou relevante no caso, deve ser feito para ajudar na síntese da discussão. Um exemplo prático é a Varig. Nos anos 1990, além de promover mudanças estruturais, a Varig passou a fazer parte da StarAlliance, e seus gerentes participaram de minicursos sobre diversos temas de administração, para atualizarem-se e familiarizarem-se com a nova situação. Em uma dessas jornadas, uma introdução à estratégia empresarial, foi utilizado o caso da Northwest Airlines que aborda a aliança estratégica dessa empresa com a KLM, união que foi precursora das muitas que ocorreram no universo das empresas aéreas (estudo de caso disponível no site www.hbsp.harvard.edu, caso 9-897-034). O trabalho de quadro-negro, que contou com a participação ativa dos alunos, foi fundamental para sintetizar as infoffi1ações das questões e demonstra a importância, para a Varig, do ingresso na StarAlliance. As questões utilizadas foram: • Que objetivos da Nortbwest podem ser identificados neste caso? • Que estratégia a empresa está adotando para alcançar esses objetivos? • Identifique, no caso: clientes e mercados, produtos e serviços, vantagens competitivas, participação de mercado, desempenho, uso de recursos. • Quais as conseqüências das ações tomadas em termos de planejamento e alocação de recursos? Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 20 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO • • • • Identifique os componentes da estratégia e da eficácia operacional segundo os conceitos apresentados por Michael Porter em seu texto What is Strategy (Halvard Business Review, nov./dez./1996). Comente a estratégia de crescimento e os aspectos dinâmicos do mercado. Comente, de maneira genérica, os aspectos estratégicos da StarAlliance. Por que é importante que os gerentes operacionais compreendam a estratégia da empresa? 3.1.8 Conclusão Em geral, as turmas esperam que o professor ou um aluno do grupo que resolveu o caso apresenta uma conclusão que resuma o caso. Os aspectos e a abordagem desse fechamento devem estar apresentados nas notas I de ensino. É importante lembrar que não há turmas nem grupos iguais. Portanto, um mesmo caso pode merecer abordagens distintas e conclusões diferentes, mesmo quando os conceitos centrais forem idênticos, As conclusões variam, inclusive, de acordo com a composição da turma: o cargo que cada um ocupa na empresa, vivência profissional ou experiência em atividades relacionadas com o assunto do caso. 3.1.9 Referências O caso deve conter uma lista de referências relativas às fontes consultadas, sejam bibliográficas ou não. Deve haver também uma lista de fontes importantes para aprofundamento ou consulta sobre os conceitos e fundamentos a serem assimilados pelos alunos. 3.2 EXEMPLO DE NOTA DE ENSINO REAL A nota de ensino que se segue foi preparada para o caso denominado Muri Vencendo pela Estratégia de Operações, sobre a Muri, empresa Gaúcha que se dedica à automação e linhas de montagem. O foco do caso é em estratégia de manufatura. • • Introdução: O caso apresenta o progresso significativo de uma Indústria, a Muri - empresa Gaúcha que se dedica à automação e linhas de montagem pela implementação do seu planejamento estratégico utilizando-se de ferramentas e estratégias de operações, comuns em textos de administração da produção. Objetivos do caso: O caso tem como objetivo mostrar a importância da implementação ela estratégia e da participação da produção/operação. Outros assuntos, tais como o papel do empreendedor e do líder, assim como conceitos de estratégia empresarial, também podem ser abordados. Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 21 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO • Utilização em sala de aula: Embora seja sempre recomendável uma leitura prévia de qualquer caso, este, por ser curto, pode excepcionalmente ser lido em sala ele aula. Os alunos devem ter conhecimento prévio da teoria ligada à gestão estratégica de operações. 3.2.1 Questões para estudo Ao final do texto do caso são apresentadas questões para estudo reproduzidas a seguir: 1) Identifique, no próprio caso e por meio de fontes adicionais (por exemplo, no site da Muri), a evolução da linha de produtos e serviços, assim como dos mercados , que a empresa tem atendido ao longo do tempo. Resposta. O aluno deverá pesquisar e identificar a mudança de foco da empresa, assim como seu posicionamento estratégico. Só com esta definição de rumo a empresa poderá pesquisar seus clientes e construir a matriz de importância versus desempenho. 2) Considerando os aspectos teóricos de estratégia de operações, explique como a operação pode funcionar em relação à estratégia da empresa. Comente como aconteceu no caso da Muri. Resposta. A teoria de estratégia de operações geralmente está disponível nos livrostexto utilizados em administração de produção e que constam nas referências bibliográficas apresentadas. Neste caso refere-se aos papéis da função produção (segundo Slack) na empresa ou a seu estágio de contribuição (conforme Bayes, Wheelwright e Chase). 3) Como a matriz de importância versus desempenho ajudou a Muri? Resposta. A matriz importância versus desempenho apresentada, segundo modelo de Wheelwright, basicamente ajuda a determinar o que deve ser priorizado e quanto deve ser melhorado relativamente à percepção do cliente e com relação à concorrência. 3.2.2 Questões para discussão A discussão do caso, com ou sem a resposta das questões apresentadas no item anterior (Questões para estudo), é incentivada nos cursos de pós-graduação. Essa discussão deve começar com questões genéricas e ir sendo conduzida, ao longo da aula para pontos mais específicos. Além disso, podem-se explorar as diferenças de pontos de vista e dificuldades práticas da utilização, da matriz de importância-desempenho em uma operação de serviços. A discussão é a parte fundamental do caso. É durante a discussão que o processo deixa de ser centrado no professor e que a tomada de decisão e a fixação do aprendizado acontecem. Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 22 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO 3.2.3 Conclusão Tanto nos cursos de graduação como nos de pós-graduação os alunos esperam por um pronunciamento do professor que sirva como fechamento do caso. Essa conclusão também pode ser feita pelos alunos, com intervenções do professor. Em nível de graduação, o professor vai, no fechamento, relacionar as respostas das perguntas diretas com o tópico a ser ensinado. Já em nível de pósgraduação, o professor fará o mesmo por meio das anotações relevantes que foram colocadas no quadro-negro. O professor pode também optar pela apresentação dos alunos à frente da sala e por receber algo por escrito dos alunos. Incentiva-se que se recebam respostas por escrito, as quais servirão para avaliação e para envolver mais os alunos. Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 23 CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO – UNIFRA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO 4. REFERÊNCIAS MARTINS, Gilberto de Andrade. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa. São Paulo, SP: Atlas, 2006. SERRA, F. VIEIRA, S. V. Estudos de casos: como redigir e como aplicar. Ed. LTC. Rio de Janeiro, 2006. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre, RS: Bookman, 2003. Professores: Greice de Bem Noro e Eduardo Abbade [email protected] - [email protected] 24