Revista SODEBRAS – Volume 9
N° 100 – ABRIL/ 2014
AGRONEGÓCIO DO AÇAÍ (Euterpe oleracea Mart.) NO MUNICÍPIO DE
PINHEIRO-MA
V. C. M. MENDONÇA1,2; V. L. DEL BIANCHI²
1 – INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO, IFMA; 2 – INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS, LETRAS
E CIÊNCIAS EXATAS, UNESP, SÃO JOSÉ DO RIO PRETO.
E-MAIL: [email protected]
Resumo - O presente trabalho foi realizado com o intuito de
melhor contextualização do açaí na economia local, para
posterior implementação de políticas públicas, que visem à
melhoria das condições sociais e econômicas da região. A
importância socioeconômica do açaizeiro decorre do seu
potencial de aproveitamento integral de matéria-prima. O
principal aproveitamento é a extração do açaí, mas as sementes
do açaizeiro são aproveitadas no artesanato e como adubo
orgânico. A planta fornece ainda palmito e suas folhas são
utilizadas para cobertura de casas dos habitantes do interior da
região. Os métodos utilizados na investigação foram pesquisa
documental, observação e aplicação de questionários no
município de Pinheiro-MA. Os dados obtidos foram analisados
através do programa estatístico SPSS. Com a pesquisa, observouse que o fruto do açaí adquirido para posterior processamento e
venda no município tem origem de vários povoados do município
e também de regiões próximas. Além de povoados do município de
Pinheiro, os frutos do açaí são provenientes do município de
Presidente Sarney, Pedro do Rosário e Igarapé-Mirim, estes
localizados no estado do Maranhão, e Belém, no estado do Pará.
Logo, observa-se que a produção do fruto do açaí no município
de Pinheiro-MA é insuficiente para atender a demanda interna
do município. O que demonstra a necessidade de maior incentivo
da produção do fruto na região para atender o mercado interna e
possível exportação, o que contribuiria para o desenvolvimento
do município, com a elevação da renda familiar dos produtores e
a consequente melhoria da qualidade de vida.
Palavras-chave: Extrativismo. Economia Local. Sustentabilidade.
I. INTRODUÇÃO
A Euterpe oleracea Mart., conhecida no Maranhão
como juçara, e nacionalmente como açaí, açaí-do-Pará, açaído-Baixo Amazonas, açaí-de-touceira, açaí-de-planta e açaíverdadeiro, é uma palmeira nativa da região amazônica que
ocorre espontaneamente nos estados do Pará, Amapá,
Maranhão e leste do Amazonas (SILVA et al., 2012).
Ocorre abundantemente na região do estuário do Rio
Amazonas, onde enseja importantes atividades econômicas,
envolvendo populações tradicionais e empresas locais
(ROGEZ, 2000).
O açaizeiro se destaca, dentre os diversos recursos
vegetais, pela sua abundância e por produzir importante
alimento para as populações locais, além de ser a principal
fonte de matéria-prima para a agroindústria de palmito no
Brasil. As maiores concentrações ocorrem em solos de
várzeas e igapós, compondo ecossistemas de floresta natural
ou em forma de maciços conhecidos como açaizais, com
área estimada em um milhão de hectares (EMBRAPA,
2006).
A importância socioeconômica do açaizeiro decorre do
seu potencial referente ao aproveitamento integral da
matéria-prima e por estar associado à agricultura familiar
agroextrativista. É utilizado de inúmeras formas: planta
ornamental no paisagismo; construção rústica de casas e
pontes; cobertura de moradias na área rural, remédio vermífugo e antidiarréico; produção de celulose;
alimentação utilizando-se a polpa processada e o palmito;
confecção de biojóias; ração animal; adubo orgânico, dentre
outros usos. Contudo, sua importância econômica, social e
cultural está centrada na produção de frutos e palmitos
(OLIVEIRA et al., 2010).
O fruto do açaí, consumido em forma de vinho, até o
final do século XX, era considerado um produto de
alimentação básica das populações ribeirinhas e das
camadas de baixa renda, sendo consumido com farinha de
mandioca e peixe, entre outros. A produção do açaí era até
então
predominantemente
extrativista,
objetivando
basicamente o consumo doméstico, com pouca venda do
excedente (SANTANA et al., 2006).
Conforme Embrapa (2006), a produção de frutos, que
provinha quase que exclusivamente do extrativismo, a partir
da década de 1990, passou a ser obtida, também, de açaizais
nativos manejados e de cultivos implantados em áreas de
várzea e de terra firme, localizadas em regiões com maior
precipitação pluviométrica, em sistemas solteiros e
consorciados, com e sem irrigação. Dados estatísticos
comprovam que cerca de 80% da produção de frutos têm
origem no extrativismo, enquanto os 20% restantes são
provenientes de açaizais manejados e cultivados em várzea e
terra firme.
Para a população ribeirinha, a possibilidade mais
lucrativa proporcionada pelo açaizeiro é a produção e
comercialização de seu fruto “in natura”. A produção de
frutos para o mercado local é uma atividade de baixo custo e
de excelente rentabilidade econômica (SUFRAMA, 2003).
Conforme Pagliarussi (2010), a partir de meados da
década de 90, o suco do açaí foi, gradativamente,
conquistando novas fronteiras de mercado, atendendo não
apenas ao mercado local, mas também às outras regiões do
país e ainda ao mercado internacional.
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De acordo com Embrapa (2006), o incremento das
exportações vem provocando a escassez do produto e a
elevação dos preços ao consumidor local, principalmente no
período da entressafra, de janeiro a junho. O reflexo
imediato da valorização do produto resultou na expansão de
açaizais manejados, em áreas de várzeas, e estimulou a
implantação de cultivos racionais em terra firme. Os dados
mais recentes estimam em mais de 15 mil hectares de áreas
manejadas e financiadas no Estado do Pará, gerando
aproximadamente 2 mil empregos diretos. No agronegócio
do açaí, no Pará, é estimado o envolvimento de 25 mil
pessoas.
De acordo com IBGE (2009), a produção nacional de
frutos do açaí totalizou 115.947 toneladas. O principal
produtor é o Estado do Pará que, na temporada 2009,
concentrou 87,4% da produção nacional. No Estado
encontram-se 17 dos 20 maiores produtores de frutos de
açaizeiros nativos do País. Em conjunto, os 20 maiores
municípios produtores responderam por 82,7% da produção
nacional de frutos de açaí nativo.
A exploração do açaí é de fundamental importância
para as economias dos Estados do Pará, Maranhão, Amapá,
Acre e Rondônia, pois responde pela sustentação econômica
das populações ribeirinhas. Tem sido estimado que as
atividades de extração, transporte, comercialização e
industrialização de frutos e palmito de açaizeiro geram
anualmente mais de R$ 40 milhões em receitas. A partir de
1992, quando foi atingido o ápice das exportações de
palmito, a produção de frutos de açaizeiro experimentou
crescimentos anuais significativos, em função do aumento
da competitividade da coleta de frutos, motivado por
melhorias nos preços, e do aumento da fiscalização,
evitando a destruição maior dos açaizais (EMBRAPA,
2006).
A oferta brasileira está concentrada na região norte,
porém existem outros Estados com participação importante
na produção brasileira. Entre eles, destaca-se o Maranhão
com 9.471 toneladas, em 2009, sendo os principais centros
produtores os Municípios de Luis Domingues, Carutapera e
Amapá do Maranhão.
O Município de Pinheiro, localizado no Estado do
Maranhão, produziu 68 toneladas de frutos do açaí em 2010,
sendo o valor da produção avaliado em 99 mil reais (IBGE,
2010).
Localizado na microrregião da Baixada Maranhense, o
município de Pinheiro, com 1465,51 km² de extensão e
população total estimada em 71.030 habitantes (IBGE,
2010), possui demanda de açaí muito forte, principalmente
devido a hábitos e tradições de sua população.
O município de Pinheiro, dada a sua condição como
centro econômico e de foco de atração dos principais
investimentos comerciais, agrícolas e pecuários na região da
Baixada Maranhense, se configura como um local de estudo
privilegiado para a análise do agronegócio do açaí.
No entanto, a cadeia produtiva do açaí no município de
Pinheiro é pouco conhecida. Logo, percebeu-se a carência
de dados e informações sobre esse assunto. Nesse contexto,
realizou-se o estudo da produção do fruto de açaí no
município para melhor contextualização deste produto na
economia local, sendo uma importante fonte de dados para
implementação de políticas públicas que visem à melhoria
das condições sociais e econômicas da região.
II. PROCEDIMENTOS
Os métodos utilizados na investigação se deram através
de pesquisa documental, observação e aplicação de
questionários. Foram utilizados, como fontes de pesquisa,
arquivos da Vigilância Sanitária do Município de Pinheiro,
que tratam da questão em pauta.
Em seguida, foi realizado levantamento bibliográfico
sobre o assunto, para melhor entendimento sobre mercado
nacional e regional do açaí, tratando também do
extrativismo desse fruto como forma de produção
sustentada.
Sendo assim, foi realizado, na primeira etapa da
investigação, um mapeamento a partir dos documentos
consultados sobre a cadeia produtiva do açaí no município.
A fig. 1 representa a cadeia produtiva do açaí.
Figura 1 – Cadeia produtiva do açaí (adaptado de SEBRAE, 2012)
Na sequência, foram realizadas pesquisas de campo, na
forma de entrevistas, através de aplicação de questionários
semi-estruturados (apêndice) e conversas informais com os
comerciantes de polpa de açaí para obtenção dos demais
dados necessários ao diagnóstico do agronegócio do açaí no
município de Pinheiro.
Com relação à quantidade do fruto do açaí, devido a
unidade de medida utilizada na região ser em lata – que
corresponde, em média, a 14 kg de açaí – foi feita a
conversão dos dados para quilograma.
Os entrevistados, quando indagados sobre a quantidade
do fruto adquirido, relatavam a quantidade e frequência de
aquisição, podendo ser diária, semanal ou mensal. Logo,
para padronização dos dados, calculou-se a quantidade
adquirida do fruto anualmente, conforme expressões (2.1 e
2.2) que seguem:
Quando respostas em quantidade diária (2.1):
Quantidade (kg/ano) = Quantidade diária adquirida x 264
Quando respostas em quantidade semanal (2.2):
Quantidade (kg/ano) = Quantidade semanal adquirida x 52
Ao final da pesquisa, os dados obtidos foram
analisados através do programa estatístico SPSS.
III. RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com arquivos da Vigilância Sanitária do
Município de Pinheiro, em 2011, havia 31 estabelecimentos
formalizados e 10 não formalizados que comercializavam o
açaí na cidade de Pinheiro (Fig. 2), o que implica, ainda, na
existência de uma economia informal relativa ao fruto.
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Figura 2 – Estabelecimentos que comercializam açaí na cidade de Pinheiro
Dentre os 31 estabelecimentos formalizados, 20
responsáveis pelos mesmos responderam aos questionários,
os demais, ou se recusaram a responder ou já não mais
funcionavam no endereço cadastrado no órgão.
Apesar de não ser um dos maiores produtores de açaí
do Maranhão, o município de Pinheiro produz 68 ton/ano do
fruto (IBGE, 2010). Porém, de acordo com os entrevistados,
o mercado local comercializa 633,6 ton/ano do fruto de açaí.
O que representa um déficit da oferta do produto de
aproximadamente 89% da quantidade necessária para suprir
a demanda local.
Logo, o comércio da região necessita buscar a matériaprima em outros pólos produtores. De acordo com a
pesquisa, observou-se que a cidade de Pinheiro, para
posterior processamento e venda no município, adquire
frutos de outras regiões.
Constatou-se que os frutos adquiridos, para posterior
processamento e venda no município, têm origem em vários
povoados do município e também em regiões próximas.
Dos 20 entrevistados, 18 informaram que pelo menos
um dos seus fornecedores é do município de Pinheiro.
Porém, os entrevistados não souberam responder a
quantidade adquirida de cada região/fornecedor.
Gama, Pacas e Juçaral, nessa ordem, foram os
povoados do município mais citados na pesquisa, como local
de origem dos frutos. No entanto, existem outros povoados
produtores de açaí citados com menor frequência. Dentre
estes estão os que seguem: Santa Sofia, Paraíso e Bacabal.
Além destes povoados, os frutos do açaí são
provenientes de Belém do Pará, e de povoados localizados
nos municípios de Pedro do Rosário e Presidente Sarney Três Furos e Tiquireiro –, estes localizados no estado do
Maranhão, e Igarapé-Miri, também no estado do Pará. Nessa
ordem, foram os municípios citados com maior frequência
pelos entrevistados, conforme consta na Fig. 3.
Com relação à quantidade do fruto de açaí adquirida
pelos estabelecimentos, observa-se a variação entre 28 e
280Kg/dia, sendo a média equivalente a 112,5kg/dia.
O valor de compra dos frutos encontra-se entre R$-1,20
(um real e vinte centavos) e R$-1,80 (um real e oitenta
centavos) por quilograma. A média de compra encontra-se
em R$-1,68 (um real e sessenta e oito centavos) por
quilograma do fruto. Sendo que, quando proveniente de
Belém-PA, o valor de compra por quilograma é de R$-1,60
(um real e sessenta centavos).
No entanto, conforme consta no IBGE (2010) o valor
médio nacional do fruto do açaí no ano de 2010 foi de R$1,46 (um real e quarenta e seis centavos) por quilograma.
Percebe-se assim, que o valor médio do fruto na região de
Pinheiro-MA é 13,1% maior que a média nacional.
Embora a exploração do açaí apresente grande
possibilidade de alavancagem e desenvolvimento da
economia regional, a logística e, principalmente o transporte
da região produtora até o local de venda, é bastante
deficitária, não possuindo uma estrutura mínima de
conservação (LIMA et al., 2008). Isso faz com que os frutos
percam sua qualidade e gerando ainda um aumento no custo
final do produto até chegar aos centros de comercialização.
Esse aumento ocorre porque são adicionados alguns
custos logísticos finais do processo produtivo, como o preço
do frete e do combustível gasto para o transporte destes, além
da atuação dos atravessadores. Conforme Lima et al. (2013),
tais fatores encarecem o custo do produto, que recai sobre o
consumidor.
É sabido que o valor do frete é proporcional à distância
entre o centro produtor e o local de comercialização do açaí.
A Fig. 4 mostra a distância entre os municípios produtores
citados na pesquisa até o município de Pinheiro.
Figura 4 – Distância entre Pinheiro-MA e os municípios produtores de açaí
Com relação aos hábitos alimentares locais, quando se
compara a quantidade do suco de açaí consumida no município
com a sua população, percebe-se a importância do produto na
alimentação da população. Pois, conforme constatado na
pesquisa, a quantidade de suco de açaí consumido por habitante
no município é de 2,73 l/habitante x ano.
IV. CONCLUSÃO
Figura 3 – Municípios produtores de açaí
O açaizeiro se destaca, entre os diversos recursos
vegetais, pela sua abundância e por produzir, importante
alimento para as populações locais.
No entanto, apesar das vantagens, percebe-se que a
produção do fruto do açaí no município de Pinheiro-MA
ainda é insuficiente para atender a demanda interna do
município, necessitando-se importar de outros municípios
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próximos. O que demonstra a necessidade de maior
incentivo para a expansão da produção do fruto do açaí na
região para atender o mercado local e possível exportação, o
que contribuiria para o desenvolvimento do município, com
a elevação da renda familiar dos produtores e extrativistas
com a consequente melhoria da qualidade de vida.
SUFRAMA. Potencialidades - Estudo de Viabilidade
Econômica. Vol. 1 – Açaí. Manaus- AM. 2003.
VI. COPYRIGHT
Direitos autorais: Os autores são os únicos responsáveis pelo
material incluído no artigo.
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ISSN 1809-3957
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