CRIANÇAS X JOGOS DIGITAIS
As vantagens e desvantagens desse novo modo de se divertir
O avanço tecnológico não para. E
cada vez mais cedo as crianças
estão lidando com esses aparatos.
Por vezes elas entendem mais do
que os adultos. Acompanham com
total facilidade esses avanços que
tem mudado até a forma com que se
divertem. A principal atividade entre
os pequenos são os jogos digitais.
Uma mania que começou nos
Estados Unidos em 1958, mas só
ficou popular no Brasil na década de
70, foi se modernizando e até hoje
faz a cabeça da garotada, que está
sempre conectado aos games.
Antigamente as crianças se divertiam
pulando corda, pique- esconde,
amarelinha,
boneca,
carrinho,
empinar pipa, mas o gosto pelas
brincadeiras mudou. Atualmente a
preferência é por jogos eletrônicos
nas mais diferentes plataformas, seja
no tablete, no smartphone, no PC ou
nos vídeo games convencionais, que
também estão inovando cada vez
mais. Mas qual o impacto dessa
relação no desenvolvimento da
criança?
O psicólogo Alessandro Vieira
defende que os jogos não interferem
no desenvolvimento das crianças,
em
relação
às
brincadeiras
tradicionais. Explica também que
enquanto jogar for uma opção de se
divertir, alguns jogos podem trazer
resultados positivos, porém adverte
que o uso excessivo pode gerar
crianças sedentárias, distraídas e
irritadiças.
Meninas brincando de boneca, como
antigamente (foto retirada do portal A
janeliha)
“Ser criança”
De pega- pega para Angry Birds, de
bolinha de gude para Super Mário, o
animal de estimação virou virtual e o
futebol de rua migrou para o vídeo
game. A mudança quanto ao modo
de se divertir dos pequenos é clara.
Mas isso altera de alguma forma o
jeito de “ser criança”?
Para Alessandro, a revolução digital,
começada nos idos de 1990, trouxe
essa mudança.
Ele acrescenta
ainda que essa inserção no mundo
tecnológico não vem só dos jogos
eletrônicos, mas também da internet
que Além da forma de brincar,
mudou também o ambiente de lazer,
comunicação e aprendizado.
Já
Sabrina, acredita que não, pois para
ela os jogos são lúdicos por
definição, e o universo infantil é
muito lúdico, que só existam fatores
positivos a agregar para as crianças.
A influência no
comportamento
Essa
discussão
sobre
o
comportamento das crianças em
relação aos games tem sido bastante
comentada, pois em algumas
famílias a criança não tem limites
para jogar, isso realmente pode
trazer alterações no desenvolvimento
da criança, pois ela deve realizar
várias atividades para diversificar
seu repertório e explorar as várias
facetas, fazendo do game uma delas
e não a principal.
Há também as várias discussões
sobre os jogos serem influenciáveis
no comportamento da criança. Um
dos argumentos mais comuns
apresentados é de que os jovens
que abriram fogo na escola de
ensino médio Columbine, no cinema
em Aurora, Colorado, e em outros
massacres tinham algo em comum:
eram jogadores de videogames.
Segundo
relato
das
vítimas
sobreviventes,
os
atiradores
pareciam estar uma cena de jogos
digitais. Mas especialistas discordam
e dizem que se a criança tem
acompanhamento e uma boa
educação dos pais, ela não será
influenciável e será perceptível
qualquer
mudança
no
comportamento dela. “O mais
provável é que a criança já tinha
problemas, que a fizeram ficar
violenta e também jogar games
violentos” diz Alessandro Vieira Reis,
psicólogo especialista em aplicação
de Psicologia Comportamental no
desenvolvimento
de
mídias
interativas.
Os jogos digitais nem sempre são
influências
negativas
para
os
pequenos. Para o psicólogo, se jogar
for uma opção divertida, tem
consequências positivas
no
desenvolvimento da criança, pois
alguns games exercitam o raciocinar
lógico e espacial. Outros ensinam
línguas mesmo que acidentalmente.
Jogo violento (foto divulgação)
Há também quem diga que jogos
violentos podem fazer bem á criança.
O blog ACRIA relata que em estudo
publicado na revista Review Od
General Psychology, Cheryl K.
Olson afirma que os jogos violentos
podem ser uma ótima forma de
descontar o estresse do dia a dia e
sentimentos como raiva e medo,
concluindo que jogos violentos
podem ajudar crianças a liberar
emoções negativas e ajudar aliviar
seu desejo de aventura e risco.
Games educativos
A desenvolvedora de games Sabrina
Carmona diz que ao criar jogos
educativos o objetivo principal é
passar um conceito, diferente de
jogos comerciais, onde o intuito é ser
divertido e rentável, mas mesmo
assim não pode faltar diversão.
“Todo jogo tem que ser divertido,
senão não é jogo, é uma simulação
on interação”, defende Carmona. Na
visão do Psicólogo Alessandro
Vieira,
Jogos
educativos
e
convencionais não têm nenhuma
diferença: “É raro ver professores
explorando
corretamente
esse
recurso. O mais comum é que
crianças aprendam sozinhas e umas
com as outras através de games
P.E. diz o especialista. Alessandro
explica que jogos P.E são jogos
convencionais. Ele destaca ainda
que as crianças, especialmente de 5
a 10 anos, não devem jogar o sem
monitoramento dos pais, mesmo
sendo jogos “educativos”.
Complicações à saúde
Vários fatores podem prejudicar a
saúde dos jogadores. O vício é um
desses problemas, que já é uma
preocupação mundial. Segundo a
agência de comunicação BR3,
países como Coreia do Sul,
Alemanha, Holanda e EUA já Têm
centros de tratamento para viciados
em jogos eletrônicos, também
podem ser encontrados problemas
como cansaço virtual, é quando os
olhos ficam fixos, sem piscar, eles
podem tornar ressecados e ardentes
fazendo, junto à radiação causada
pelo monitor, com que os músculos
do globo ocular relaxem ou atrofiem
devido à diminuição da solicitação de
movimentos.
Fotografia
pediátrica
retirada
do
blog
fisioterapia
O excesso de tempo jogando
também pode trazer problemas na
postura, tais como Cifose e
Escoliose, pode apresentar também
cefaleia e indisposição física e
mental, além de LER (Lesões por
esforços repetitivos).
Criando um game
Para a criação de um game são
feitas
pesquisas
como
quais
referências serão usadas, como
explica a CEO da Mango Games,
Sabrina Carmona, coordenadora
executiva do CS: Games. “Em
termos
de
desenvolvimento
tecnológico do game, muitas vezes é
necessário pesquisar qual melhor
ferramenta para desenvolver aquele
determinado tipo de jogo, se existe
alguma feature que pode ser
implementada e que facilitará o
desenvolvimento, entre outras coisas
mais técnicas. Além de uma
pesquisa de mercado para entender
toda a parte de monetização do
game, e onde ele se situa com o
consumidor”, acrescenta Carmona.
“Todo jogo tem que ser
divertido, senão não é
jogo, é uma simulação
on interação”
De acordo com a Sabrina, é
fundamental
buscar
uma
característica que atraia o publico
para o produto e fazer pesquisa de
mercado para criar o game
adequado ao público- alvo. “Se
estamos falando em algo comercial,
digamos, para aparelhos móveis, é
necessário entender os dados de
mercado, quais jogos fazem sucesso
no Android, quais jogos fazem
sucesso no iPhone, o que eles tem
em comum e o que você precisa
fazer para que seu jogo tenha
sucesso também”, diz.
Sabrina carmona- coordenadora executiva
do CS: Games, participa do grupo de
Pesquisa Semiótica sobre a Linguagem dos
Games da PUC-SP e CEO da Mango
Games(foto de divulgação).
Sabrina ainda atenta para a
importância com a reação aos novos
jogos. “Sempre é levado em
consideração o impacto que um jogo
terá em seu consumidor final”,
afirmou a CEO, em relação ao
cuidado
com
desenvolvimento
psicológico da criança durante o
processo de criação do game.
Diversão entre gerações
As crianças já nascem inseridas
nesse
mundo
tecnológico
ao
contrario de antigamente em que
para os pais dessa geração, a
modernização estava muito distante.
“No meu tempo eram só bonecas de
pano, casinhas de madeira e
panelinhas” diz Taís Gualberto de 45
anos.
Yasmim Lopes tem 05 anos e gosta
de bonecas, porém não como
antigamente, o guarda roupa e salão
de cabeleireiro de suas bonecas
ficam no computador, nos jogos
online, onde ela troca a roupa das
bonecas e faz os penteados e
maquiagens das suas “filhas”. “Eu
gosto mais de brincar de boneca no
computador, porque tem mais
roupinhas e sapatinhos”, conta a
pequena jogadora. Janaína Lopes,
sua mãe, diz que apesar de ser
necessário dosar para ela não ficar
muito tempo na internet, os jogos
online tem lá suas vantagens.
“Depois da descoberta dos jogos de
Barbie pela internet, nunca mais
gastei com roupas de bonecas”,
confessa Janaína.
“Acho que os jogos
podem prejudicá-lo, pois
acabam tornando-se um
hábito, quase um vício;
tomando o tempo de
outras brincadeiras e
atividades”.
Mas não é pra todas as mães que os
jogos digitais são vantajosos. Nancy
de Souza, 43, mãe de Eric,7,
acredita podem atrapalhar em alguns
pontos. “Acho que os jogos podem
prejudicá-lo, pois acabam tornandose um hábito, quase um vício;
tomando o tempo de outras
brincadeiras
e
atividades.
Atrapalham na interação com outras
pessoas
e na realização de
atividades que exijam mais do físico.
Mas
ajudam
desenvolvendo
habilidades como intimidade e gosto
pelo uso da tecnologia, coordenação
motora e visual, reflexos , etc.”,
afirma a mãe.
mas alguns eu proíbo”, defende a
mãe.
Eric jogando no notebook da mãe
(fotografia: Camila Cesar)
Em entrevista à revista Veja, a
professora Maria Isabel Leme, do
Instituto
de
Psicologia
da
Universidade de São Paulo (USP)
afirmou que em 13 anos houve
mudança na opção número um para
se divertir. "Não temos pesquisas na
área porque não há parâmetros de
comparação. No início dos anos
2000, realizei um estudo que
mostrou
que
os
videogames
ocupavam a terceira posição na
preferência dos jovens, atrás de
atividades como jogar bola. Talvez
hoje o cenário seja bem diferente",
afirma a psicóloga, que diz
testemunhar diariamente em sua
casa através dos netos, o sucesso
dos
aplicativos
para
ipad.
Eric começou a brincar com três
anos de idade e por influencia de sua
irmã mais velha, 10 anos, que
sempre esteve em contato com jogos
digitais. Quando perguntado quais
jogos prefere, ele nos dá uma lista:
Mario, Ben 10, Mario, basquete,
Lego Star Wars e GTA, que segundo
ele, “a mãe não deixa”. Se Eric
pudesse jogaria por horas, o quanto
a mãe deixasse, como ele mesmo
disse. “O controle das horas no vídeo
game é feito em média uma hora e
meia por dia, final de semana, umas
3 horas por dia, ele escolhe os jogos,
Nancy, diz que só começou a se
interessar por estes jogos digitais,
dois anos atrás, quando se divorciou.
Seus jogos preferidos são, Hottest
Party (jogos de dança), Wii Sports,
que as vezes joga nos finais de
semana, uma hora por dia. Conta
que quando criança gostava de
brincar com bola, bonecas e jogos de
tabuleiro, e que sente falta de que
seus filhos tenham a mesma
liberdade. “A diferença dos jogos
digitais é a falta de maior contato
com outras crianças. Quando eu era
criança, íamos muito à casa de
amigos e os amigos vinham na
nossa casa”, acrescenta.
Download

CRIANÇAS X JOGOS DIGITAIS