PROGRAMA DE HABILIDADES SOCIAIS COMO ESTRATÉGIA PARA A INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL PATRÍCIA LORENA QUITÉRIO [email protected] PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PROPED/UERJ) 1 INTRODUÇÃO A oficina visa auxiliar na formação e aperfeiçoamento de professores do ensino básico no emprego de estratégias de promoção das relações interpessoais através de recursos alternativos, bem como valorizar o desenvolvimento das habilidades sociais (expressividade emocional, autocontrole, civilidade, empatia, assertividade, solução de problemas, habilidades sociais acadêmicas) como forma de superação das dificuldades e promoção da inclusão. A compreensão dos processos sociais e comunicativos dos alunos com deficiência é fator essencial para sua inclusão escolar. Um dos aspectos fundamentais tanto na perpetuação como na superação das dificuldades da pessoa com deficiência é a comunicação. Alunos incapazes de exibir fala articulada, como aqueles com paralisia cerebral são frequentemente considerados como desprovidos de linguagem (CHUN, 2002). Nesta concepção, a comunicação fica reduzida aos aspectos motores e articulatórios, não levando em conta todas as demais modalidades não orais de comunicação. Com efeito, no caso da pessoa não falante, o olhar, o sorriso, os gestos, as expressões faciais, a escrita e o uso de símbolos gráficos constituem as modalidades comunicativas por excelência. Contudo, a falta de comunicação oral dificulta os relacionamentos interpessoais e com isto o próprio desenvolvimento da socialização. As pesquisas têm revelado que tipicamente as interações de pessoas que falam com aquelas que se valem de formas não orais de comunicação se caracterizam pela assimetria de papéis, ou seja, aqueles que falam assumem frequentemente o domínio na situação, reforçando assim o papel passivo do individuo não falante (VON TETZCHNER; MARTINSEN, 2000). A literatura sobre as necessidades desses indivíduos sem fala tem apontado dois fatores críticos em seu desenvolvimento: o emprego dos recursos da Comunicação Alternativa (CA) e a promoção de suas Habilidades Sociais (HS). Este tipo de comunicação tem um duplo propósito: promover e suplementar a fala ou garantir uma forma alternativa se o indivíduo não se mostrar capaz de desenvolvê-la (NUNES, 2003), bem como oferecer estratégias de comunicação aos interlocutores (NUNES, 2009; NUNES et al., 2011). Os recursos da Comunicação Alternativa, sejam eles de alta ou baixa tecnologia, estão 2 destinados a promover a chamada acessibilidade comunicativa. Para Von Tetzchner e Grove (2003) esta expressão significa aceitação, compreensão e incentivo ofertados pelo grupo social aos usuários de recursos de Comunicação Alternativa. Implica a presença de pessoas que se mostrem capazes e desejosas de acolher e responder às mensagens do indivíduo não falante, empregando elas próprias tais recursos e oferecendo condições para maximizar a autonomia comunicativa de seu interlocutor sem fala articulada. O termo Habilidades Sociais refere-se às “diferentes classes de comportamentos sociais no repertório do indivíduo para lidar de maneira adequada com as demandas das situações interpessoais” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007, p. 31). Este conceito abrange os aspectos verbais e não verbais da comunicação apresentados pela pessoa ao interagir com as demais. De fato, o aluno que não possui habilidades de comunicação oral eficientes pode ser incapaz de expressar seus sentimentos e pensamentos, e apresentar desenvolvimentos acadêmico e social prejudicados, limitando sua participação nos diferentes ambientes sociais. Neste sentido, a escola e o professor ocupam um papel essencial na promoção das Habilidades Sociais desses alunos (MURTA, 2002). Entendemos que, em sua formação inicial, os professores devam compreender o papel das interações sociais e dos recursos da Comunicação Alternativa na proposta pedagógica junto a alunos com deficiência em geral, e especialmente aqueles sem fala funcional. Desenvolver as habilidades sociais torna-se fundamental para uma real inserção do aluno em sala de aula, tanto no aspecto comunicativo quanto interpessoal (QUITERIO; NUNES, 2009). A oficina visa discutir os conceitos básicos do modelo de atuação colaborativa e a metodologia da Problematização propondo uma relação dialógica que busque a formação do sujeito e não somente a informação técnica. A Comunicação Alternativa como estratégia no programa de promoção das habilidades sociais, que visa o desenvolvimento das habilidades sociais acadêmicas (aluno) e das habilidades sociais educativas (professor / outros profissionais). Os objetivos específicos são: a) Problematizar a formação na área da Comunicação Alternativa repensando as práticas utilizadas nos cursos de formação; b) Discutir o papel do interlocutor nas interações sociais; c) Promover as habilidades sociais educativas dos profissionais que atuam nesta área de modo a favorecer uma 3 interação mais adequada; d) Utilizar os recursos da Comunicação Alternativa como consequência da interação entre os diferentes interlocutores: professor / outro profissional; professor / professor; professor / aluno; profissional / aluno e aluno/aluno-colega. DESENVOLVIMENTO A proposta pedagógica apresentada na oficina inclui uma exposição didática sobre os conceitos básicos na área de Habilidades Sociais – i) desempenho social, competência social, constructo descritivo (pessoal, situacional e cultural), componentes (não verbais, para linguísticos e verbais), déficits (aquisição, desempenho e fluência); ii) Subclasses de Habilidades Sociais: Básicas de Comunicação, Autocontrole e expressividade emocional, Civilidade, Empatia, Assertividade, Fazer amizades, Solução de Problemas Interpessoais e Habilidades Sociais Acadêmicas; iii) Avaliação e Programas de Treinamento em Habilidades Sociais; iv) Relação entre HS e Habilidades Sociais Educativas; v) Habilidades Sociais e as Deficiências Sensoriais, Físicas e Transtorno do Espectro do Autismo e, v) Elaboração de recursos que promovam as Habilidades Sociais com recursos da Comunicação Alternativa. No formato prático, a proposta é desenvolver vivências, dinâmicas e elaboração de atividades com recursos da Comunicação Alternativa. Considerando a perspectiva de uma oficina interativa, os conceitos serão trabalhados de modo articulado com a parte vivencial, pois é essencial que o educador possa experimentar e desenvolver suas Habilidades Sociais Educativas, visto que estas “são aquelas intencionalmente voltadas para a promoção do desenvolvimento e da aprendizagem do outro, em situação formal ou informal” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007, p. 95). Estudos atuais revelam que as Habilidades Sociais Educativas são condição fundamental para o estabelecimento de interações educativas entre professor e aluno, bem como são consideradas requisitas para efetivação da inclusão de alunos om deficiências e contribuem diretamente para o desenvolvimento sócio emocional dos alunos (DEL PRETTE E DEL PRETTE, 2009). Um repertório elaborado de Habilidades Sociais Educativas favorece o uso de estratégias pedagógicas facilitadoras de interação, assim 4 como a expressão de emoções e modelos adequados de comportamentos sociais e reforçamento positivo das HS dos alunos. No momento final, as alunas vão planejar e elaborar atividades para os alunos com deficiência utilizando recursos da Comunicação Alternativa. O professor possui papel fundamental como mediador no desenvolvimento das Habilidades Sociais, seja junto à população com ou sem deficiência (VILA, 2005; MOLINA, 2006; FUMO, 2008; MANOLIO, 2009; PINOLA, 2010). A partir do momento em que o professor planeja, elabora, analisa e avalia as atividades está desenvolvendo suas Habilidades Sociais Educativas, atuando como mediador do processo de desenvolvimento do desempenho e competência social dos alunos não oralizados juntamente com os alunos falantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Dentre as metas estabelecidas, destacam-se: a) melhoria da Habilidade Social Educativa dos professores e; b) valorização das habilidades sociais como forma de superação das dificuldades e promoção da inclusão. Estudos anteriores (QUITERIO, 2012; QUITERIO, 2014) relataram uma melhora significativa no desempenho social de futuros professores e professores nas relações interpessoais. Constata-se que perceberam a importância de desenvolver as habilidades sociais na atuação profissional e acadêmica, atuando como mediadores do processo de desenvolvimento do desempenho e competência social dos alunos. Observa-se que ampliaram a concepção dos recursos como alternativa para favorecer a comunicação, interação e expressão dos sentimentos das pessoas. Deste modo, ressalta-se que o principal é a função, a disponibilidade do interlocutor para se comunicar e o uso dos recursos pode facilitar esta comunicação e interação. Sinaliza-se que os comportamentos devem ser adequados e habilidosos e que devem respeitar o limite do outro, ou seja, houve uma atenção maior as subclasses, especialmente a empatia. A qualidade dos trabalhos desenvolvidos sugeriram ganhos para o grupo em conhecimentos teóricos e habilidades básicas para o manejo de grupos. Os relatos ao fim do curso sugeriram também algumas mudanças no repertório pessoal de habilidades sociais, sobretudo em autoconhecimento, assertividade, empatia e cultivo de amizades. Um olhar 5 diferenciado ressalta a importância de ambos desenvolverem as Habilidades Sociais, isto é, tanto as pessoas com deficiência precisam desenvolver as Habilidades Sociais como os sujeitos falantes precisam desenvolver estas em conjunto com as Habilidades Sociais Educativas para estarem disponíveis para interagir de modo adequado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHUN, R. Y. S. Questões de linguagem na comunicação suplementar e/ou alternativa. In C. LACERDA & I. PANHOCA (Ed.). Tempo de Fonoaudiologia III. Taubaté, SP: Cabral Editora Universitária, 2002. DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. A. P. Psicologia das relações interpessoais: vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática. Petrópolis; RJ: Vozes, 2009. FUMO, V. M. S. Habilidades sociais acadêmicas de crianças com baixo e alto rendimento escolar na interação com o professor. 2008. 174f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) - Programa de Pós-Graduação em Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 2008. MOLINA, R. C. M. Capacitação de professores para a promoção do desempenho social e acadêmico de alunos com dificuldades de aprendizagem. 2006. 241f. Tese (Doutorado em Educação Especial) - Programa de Pós-Graduação em Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 2006. MANOLIO, C. L. Análise das habilidades sociais educativas na interação professoraluno. 2009. 159f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) - Programa de PósGraduação em Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 2009. MURTA, S. G. Favorecendo a convivência: o papel da escola no desenvolvimento de habilidades sociais. Jornal de Psicopedagogia VIII, v. 38, n. 4, 2002. NUNES, L. R. Formação inicial e continuada de professores comprometida com a inclusão educacional do aluno com deficiência do ensino fundamental à universidade. Projeto de pesquisa aprovado e em andamento. Financiado pelo Capes., 2009. NUNES, L. R. O. P., QUITERIO, P. L., WALTER, C. C. F., SHIMER, C. R.; BRAUN, P. Comunicar é preciso: em busca das melhores práticas na educação. Marilia: Editora da Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial, 2011. 6 QUITERIO, P. L.; NUNES, L. R. O. de P. Jovens não oralizados: avaliação das habilidades sociais no contexto escolar. Em Anais em CDROM do III Congresso Brasileiro de Educação Especial. São Carlos: Edit Univ Federal de S. Carlos, 2009. QUITERIO, P. L. Promoção das Habilidades Sociais de alunos não oralizados com recursos da Comunicação Alternativa tendo como interlocutores alunos da graduação em Pedagogia. 2012. 190f. Qualificação (Doutorado em Educação Especial) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012. QUITERIO, P. L. Programa de Promoção das Habilidades Sociais. Transtorno do espectro do autismo. 2014. Assessoria prestada a Prefeitura de Angra dos Reis, Rio de Janeiro, 2014. ROSIN-PINOLA, A. R. Efeitos de um programa de treinamento de habilidades sociais educativas junto a professores de alunos com deficiência mental incluídos. 2010. 241f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, 2010. VILA, E. M. Treinamento de habilidades sociais em grupo com professores de crianças com dificuldades de aprendizagem: Uma análise sobre procedimentos e efeitos da intervenção. 2005. 181f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) - Programa de Pós-Graduação em Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 2005. VON TETZCHNER, S.; MARTINSEN, H. Introdução à comunicação alternativa. Porto, Portugal: Porto Editora, 2000. VON TETZCHNER, S.; GROVE, N. The development of alternative forms. In S. von Tetzchner e N. Grove (Ed.), Augmentative and alternative development issues (1-27). Londres: Whurr, 2003. 7