UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE PSICOLOGIA
Hyani Patrícia Vicente
Marisa Bremer
AS CONDUTAS DOCENTES E A AUTOESTIMA DO ALUNO:
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR
Governador Valadares
2011
HYANI PATRÍCIA VICENTE
MARISA BREMER
AS CONDUTAS DOCENTES E A AUTOESTIMA DO ALUNO:
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR
Monografia apresentada ao curso de
Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas
e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce,
como requisito para aprovação na disciplina
Trabalho de Conclusão de Curso.
Orientadora: Professora
Jaqueline Bicalho
Governador Valadares
2011
Mestre
Adelice
HYANI PATRÍCIA VICENTE
MARISA BREMER
AS CONDUTAS DOCENTES E A AUTOESTIMA DO ALUNO:
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR
Monografia apresentada ao curso de
Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas
e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce,
como requisito para aprovação na disciplina
Trabalho de Conclusão de Curso.
Governador Valadares, ______ de_____________ de 2011.
Banca Examinadora:
____________________________________________________________
Professora Mestre Adelice Jaqueline Bicalho - Orientadora
Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE
_____________________________________________________________
Professor Omar Azevedo Ferreira
Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE
_______________________________________________________________
Professor Roberto Jorio Filho
Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE
Dedicamos aos nossos professores, pela
participação na nossa formação profissional e
contribuição para o nosso desenvolvimento
pessoal.
AGRADECIMENTO
Agradecemos à nossa orientadora, a professora mestre Adelice Jaqueline Bicalho, pela
atenção, paciência e carinho, além das orientações, que foram indispensáveis para a realização
deste trabalho.
“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.”
(Rubem Alves).
RESUMO
Esta pesquisa bibliográfica discute a interferência das condutas docentes na formação da
autoestima positiva do aluno. Para tanto, inicia-se conceituando autoestima e descrevendo sua
importância para a vida do indivíduo. Caracteriza a interação professor-aluno, o que inclui a
importância do professor para o aluno como adulto significativo, cujas atitudes interferem na
formação da autoestima positiva do aluno. Traz algumas práticas docentes favorecedoras de
um clima propício ao desenvolvimento global do aluno. Por último faz uma reflexão acerca da
contribuição da psicologia escolar para a temática em questão, atendendo às demandas
referentes à interação professor-aluno e as formas de interações sadias que promovam o
crescimento pleno do aluno. Este estudo segue uma abordagem qualitativa de revisão
bibliográfica com o propósito de responder a seguinte pergunta norteadora: Em que aspectos
as condutas docentes interferem na formação da autoestima positiva do aluno? Busca-se como
objetivo geral analisar sob o viés da psicologia escolar, a relação existente entre as condutas
docentes e a formação da autoestima do aluno. Os objetivos específicos são: conceituar
autoestima; caracterizar a interação entre professor e aluno; compreender as condutas
docentes negativas e aquelas favorecedoras do desenvolvimento positivo da autoestima do
aluno; refletir sobre as contribuições da psicologia escolar para melhorar a interação entre
professor e aluno no contexto da sala de aula. Conclui-se que as condutas docentes podem
interferir na formação da autoestima do aluno, prejudicando seu desenvolvimento, e que o
psicólogo escolar deve atuar na promoção de interações sociais positivas que favoreçam o
bem-estar de todos envolvidos, principalmente alunos e professores.
Palavras-chave: Autoestima. Interação professor-aluno. Psicologia escolar.
ABSTRACT
This literature discusses the interference of the conduct of teachers on student's positive selfesteem. To this end, self-esteem begins conceptualizing and describing its importance to the
individual's life. Characterizes the teacher-student interaction, including the importance of
teacher to student as significant adult, whose attitudes interfere with the formation of positive
self-esteem of students. Bring some teaching practices favoring an environment conducive to
overall development of the student. Finally some thoughts about the contribution of school
psychology for the theme, given the demands concerning the teacher-student interaction and
ways to promote healthy interactions in the full growth of the student. This study follows a
qualitative approach to review in order to answer the following guiding question: What
aspects of teaching behaviors interfere with the formation of positive self-esteem of the
student? Search is aimed at analyzing the bias in school psychology, the relationship between
teacher behaviors and student self-esteem training. The specific objectives are: to
conceptualize self-esteem, to characterize the interaction between teacher and student, faculty
understand the negative behaviors and those favoring the development of positive self-esteem
of pupils; reflect on the contributions of educational psychology to improve interaction
between teacher and student in the context of classroom. We conclude that the conduct
teachers can influence the formation of student self-esteem, impairing their development, and
that the school psychologist must act in promoting positive social interactions that favor the
well-being of all involved, especially students and teachers.
Keywords: Self-esteem. Teacher-student interaction. School psychology.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................................9
1 SOBRE A AUTOESTIMA........................................................................................................12
2 AÇÕES DOCENTES E A FORMAÇÃO DA AUTOESTIMA............................................19
2.1 O CONTEXTO DA SALA DE AULA.....................................................................................19
2.2 A INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNO.................................................................................23
3 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR..............................................................33
4 CONCLUSÃO............................................................................................................................40
REFERÊNCIAS............................................................................................................................43
9
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa visa compreender em que aspectos as condutas docentes interferem
na formação da autoestima positiva do aluno. Serão tratadas como condutas docentes as
atitudes do educador tanto no que se refere às relações interpessoais que mantém com seus
alunos, quanto às práticas pedagógicas que adota na sala de aula, pois ambas podem interferir
na formação positiva da autoestima do aluno em processo de aprendizagem.
A escola é um lugar onde o estudante passa boa parte do seu tempo diário, se
relacionando com colegas, professores, e demais funcionários da mesma. A escola é mais que
um espaço de aprendizagem de conteúdos curriculares, mas também de desenvolvimento
pessoal. Buscar-se-á compreender as
condutas docentes e sua interferência no
desenvolvimento do aluno, principalmente na sua autoestima, através das relações
estabelecidas entre ambos no espaço escolar e através das interações na sala de aula, bem
como pelas práticas pedagógicas ali exercidas. Os termos criança e aluno serão utilizados, no
decorrer da pesquisa, sob o mesmo sentido e ótica; mas sabe-se que o aluno no geral também
é adolescente e/ou adulto.
A autoestima é um fator muito importante no desenvolvimento de uma pessoa, ela
influenciará de forma muito significativa a maneira como o indivíduo conduzirá sua vida,
como se dará suas relações interpessoais, sua relação com o trabalho, como enfrentará
situações difíceis ao longo da sua vida, podemos dizer que, a autoestima colabora de forma
muito importante para que uma pessoa tenha sucesso na vida, ou seja, que consiga realizar
com êxito as coisas que muitos realizam, como ter um trabalho, uma família, amigos e estar
bem consigo mesmo.
Diferente do autoconceito que é o conceito que o indivíduo atribui a si mesmo, a forma
como se descreve, como define suas características físicas, personalidade, crenças e opiniões,
autoestima se refere ao valor que o indivíduo atribui a si mesmo, tem a ver com o gostar de si,
valorizar-se, ter boa imagem de si, ser confiante e seguro nas suas relações consigo e com o
mundo.
10
É importante para a psicologia escolar compreender como as condutas docentes
interferem na formação da autoestima positiva do aluno, visto que ela se ocupa das relações
que determinam de forma direta ou indireta a qualidade da aprendizagem, das relações
estabelecidas entre o aluno e o objeto de conhecimento, as quais se dão principalmente na
interação entre o professor e o aluno, além das relações entre alunos e seus pares e entre
alunos e demais personagens da escola. Assim podemos dizer que as interações que afetam a
relação entre o estudante e seu objeto de conhecimento é de interesse da psicologia escolar. A
partir da compreensão do papel do professor na formação da autoestima do aluno e o modo
com que ela se constrói neste espaço relacional, é possível pensar em novas formas de atuação
dentro da escola que favoreça o desenvolvimento pessoal do aluno, para que este se sinta
motivado e valorizado neste e em outros contextos de sua vida.
Um fator motivacional para o desenvolvimento desta pesquisa se deu pela percepção de
que o sistema de ensino brasileiro enfrenta graves problemas como a indisciplina, a violência,
o bullying, dificuldades de aprendizagem dentre outros. E que, embora estes problemas sejam
de ordem social, a escola colabora para seu agravamento, principalmente através das
dificuldades de interação entre os agentes educacionais. Percebe-se que apesar de todas as
mudanças sociais, as tecnologias da informação, os saberes produzidos pela ciência, inclusive
a psicologia, a escola mudou muito pouco e práticas que já deviam ter sido superadas
continuam a fazer parte do cotidiano escolar.
Dada a importância do educador, principalmente no papel do professor, de ser um
agente implicado não somente na aprendizagem de conteúdo curriculares, mas de relações
humanas, e como participante e formador da personalidade, é de suma importância
compreender como esta relação está acontecendo, como o educador participa da formação da
auto-estima do aluno, quais condutas interferem no desenvolvimento positivo da autoestima e
como deve ser sua atuação para que favoreça o desenvolvimento global do aluno.
A pesquisa traz como objetivo geral analisar, sob o viés da psicologia escolar, a relação
existente entre as condutas docentes e a formação da autoestima do aluno. Os objetivos
específicos são: conceituar autoestima; caracterizar a interação entre professor e aluno;
compreender as condutas docentes negativas e aquelas favorecedoras do desenvolvimento
positivo da autoestima do aluno; refletir sobre as contribuições da psicologia escolar para
11
melhorar a interação entre professor e aluno no contexto da sala de aula e da escola como um
todo.
O estudo segue como método, uma abordagem qualitativa de revisão bibliográfica com
o propósito de responder a seguinte questão norteadora: Em que aspectos as condutas
docentes interferem na formação da autoestima positiva do aluno? Para melhor discorrer
sobre o tema pesquisado, o presente trabalho foi dividido em capítulos da seguinte maneira:
No primeiro capitulo será conceituado autoestima, demonstrado sua importância na vida
do ser humano e a forma como esta determina a seu comportamento em relação a si mesmo e
ao mundo externo.
No segundo capítulo será caracterizada a relação professor-aluno, como se dá esta
relação na sala de aula, sua importância para a aprendizagem tanto de conteúdos curriculares
quanto para o desenvolvimento pessoal do aluno, e será analisado ainda as condutas docentes
positivas e sua relação com a formação da autoestima do aluno, como o professor deve agir
para criar um clima agradável na sala de aula, onde a interação entre ele e o aluno favoreça o
desenvolvimento deste último.
O terceiro capítulo tratará da visão da psicologia escolar sobre o tema e como o
psicólogo escolar pode atuar de forma a contribuir para que as interações sociais na escola,
inclusive entre professor e aluno sejam promotoras de crescimento pessoal e social para
alunos e para os demais agentes implicados no processo educativo.
Acredita-se que, a escola é um lugar de humanização, de construção de conhecimento,
de valores, de ética, porém não tem cumprido este papel como deveria. Portanto, deve tornarse um lugar melhor, diferente do que tem sido atualmente. Sabe-se que a escola não é a única
responsável pela formação da autoestima, mas possui uma grande responsabilidade neste
processo. A escola é imprescindível para o desenvolvimento humano, necessita formar
sujeitos mais críticos, confiantes, sadios, que possam ser promotores de novas realidades
sociais.
12
1 SOBRE A AUTOESTIMA
Soler (2005) destaca a autoestima como uma importante necessidade humana,
indispensável para um desenvolvimento normal e saudável. A autoestima expressa a
confiança na capacidade de pensar e enfrentar desafios da vida e, ainda, expressa confiança
no direito de ser feliz, isto significa que a pessoa se julga merecedora e digna de expressar
suas necessidades, qualidades, desejos e desfrutar do resultado de seus esforços.
Coopersmith (1967) apud Gobitta e Guzzo (2002) conceitua autoestima da seguinte
forma:
...a avaliação que o indivíduo faz, e habitualmente mantém, em relação a si mesmo.
Expressa uma atitude de aprovação ou desaprovação e indica o grau em que o
indivíduo se considera capaz, importante e valioso. Em suma, a auto-estima é o
juízo de valor que se expressa mediante as atitudes que o indivíduo mantém em face
de si mesmo. É uma experiência subjetiva que o indivíduo expõe aos outros por
relatos verbais e expressões públicas de comportamentos”. (COPERSMITH, 1967
apud GOBITTA E GUZZO, 2002)
A autoestima é então, a valorização pessoal do indivíduo, representa o quanto ele se
acha competente, capaz, valioso. E isto será refletido em seu comportamento, suas ações terão
a influência da sua autoestima.
Para Soler (2005) a autoestima é a soma de dois aspectos, a auto-eficiência, que é a
confiança no funcionamento da mente, na própria capacidade de pensar e de entender os fatos
da realidade, interesses e necessidades; o outro aspecto é o auto-respeito, que significa ter
certeza dos próprios valores, acreditar no seu direito de viver e ser feliz, se sentir bem ao
afirmar de maneira apropriada o seu pensamento, sentimentos, necessidades, desejos, vendo a
felicidade como um direito natural. Para este autor, a auto-eficiência e o auto-respeito são os
dois pilares da autoestima, representam sua essência, se um deles estiver ausente, a autoestima
estará comprometida.
Já Coopersmith (1967) apud Berns (2002) aponta quatro fatores que compõe a
autoestima: a competência, que se refere ao sucesso em cumprir as exigências de
desempenho; o poder, que envolve a capacidade de controlar e influenciar as outras pessoas; a
virtude, que se refere à obediência a padrões morais e éticos e por último a importância da
13
aceitação, a afeição e atenção por parte dos outros. Portanto, para se ter um alto nível de
autoestima é preciso que o indivíduo perceba que cumpre as exigências de desempenho do
seu grupo social, além de exercer algum poder de influência sobre estas pessoas e ainda
considerar o seu comportamento moral e ético como um bom comportamento, se sentindo
aceito e estimado pelos demais.
Na concepção de Branden (2000) e Rosenberg (1956) apud Avanci et al (2007)
a
autoestima é classificada em três níveis; alto, médio e baixo. A baixa é caracterizada pelo
sentimento de incompetência, inadequação à vida e incapacidade de superação de desafios. A
alta é caracterizada pelo sentimento de confiança e competência, e a média caracteriza-se por
uma alternância de sentimentos de adequação e inadequação, o que causa por sua vez, uma
inconsistência no comportamento do indivíduo.
Para Erthal (1999), uma pessoa pode estar satisfeito ou desapontado consigo mesmo.
Quando ela tem uma autoestima positiva tende a catalogar todos os seus possíveis prêmios ou
méritos. A autoestima é essencial para um funcionamento eficaz, ou seja, realizar feitos tão
bons quanto à maioria das pessoas. A baixa autoestima, por sua vez, atrai todas as
experiências catastróficas, pois quando se antecipa os julgamentos desfavoráveis dos outros,
escolhe-se justamente os comportamentos que os propicie. Se a pessoa se julga não
merecedora do reconhecimento dos outros, ela vai se comportar de forma que suas
expectativas sejam confirmadas, vai se comportar de forma que os outros não reconheçam
seus méritos.
Soler (2005) considera que as pessoas com um alto nível de autoestima são mais
criativas, confiam mais em suas intuições se submetendo menos ao sistema de crenças de
outras pessoas, são mais auto-suficientes, valorizam mais suas percepções e sua produção
mental. Assumem toda responsabilidade pela própria existência, não culpando os outros pelos
seus erros e fracassos, reage bem a mudanças sem apego inadequado ao passado. Tem mais
disponibilidade para admitir e corrigir seus erros quando os comete, tem forte orientação para
a realidade, a verdade tem mais valor do que estar certo. Do contrário, as pessoas com um
baixo nível de autoestima, não valorizam suas próprias idéias, não as considera
potencialmente importantes, assim, com também não se consideram dignos de importância,
tem dificuldade diante de mudanças, em lidar com o novo e, ao dominar o desconhecido,
sente-se insegura.
14
Coopersmith (1967) apud Gobitta e Guzzo (2002) acrescenta ainda:
Uma pessoa com auto-estima alta mantém uma imagem bastante constante das suas
capacidades e da sua distinção como pessoa, e que pessoas criativas tem alto grau de
auto-estima. Estas pessoas com auto-estima alta também tem maior probabilidade
para assumir papéis ativos em grupos sociais e efetivamente expressam suas visões.
Menos preocupados por medos e ambivalências, aparentemente se orientam mais
diretamente e realisticamente às suas metas pessoais. (COPERSMITH, 1967 apud
GOBITTA E GUZZO, 2002)
A pessoa com uma boa imagem de si mesmo é mais criativa, busca a realização das suas
metas, além de que tem mais probabilidade de assumir papéis ativos em grupos sociais, o que
é muito importante para a sociedade, pois esta precisa de pessoas que possam participar
ativamente nas comunidades na luta por seus direitos sociais.
A autoestima exerce grande influência na forma como a pessoa percebe o mundo à sua
volta, pois o valor que será atribuído aos estímulos que recebe e às suas experiências, depende
do conceito que tem de si mesmo, seu comportamento se guia pelas qualidades e valores que
percebe em si mesma. Desta forma, a autoestima se constitui num fator determinante nas
relações interpessoais do indivíduo, já que este enxerga o mundo e os outros de acordo com a
valorização que atribui a si mesmo. Conforma Sánchez e Scribano (1999), uma pessoa que
atribui a si mesmo uma valorização positiva assume todas as experiências de sua vida, não
ignorando ou distorcendo suas percepções. O seu eu real é bem próximo do seu eu ideal, não
demonstra atitudes de defesa e mostra-se aberta a novas experiências, percebe a realidade de
forma mais autêntica, aceitando com maior facilidade as outras pessoas. Já as pessoas com
uma baixa autoestima são, geralmente, companheiros difíceis, estando com freqüência na
defensiva e suas tensões internas dificultam seu relacionamento com outras pessoas. Assim
pode-se dizer que a autoestima tem influência sobre o próprio indivíduo e sobre as pessoas
que com ele se relacionam.
Erthal (1999) vem esclarecer que a maneira como a pessoa encara suas capacidades e os
papéis que desempenha na vida representa seu eu real, a interpretação do que ela é. O que ela
gostaria de ser, suas aspirações, representa seu eu ideal, aquilo que ela deseja e pensa que
deve ser. Quando a pessoa tem uma imagem muito ruim de si mesma, ou seja, uma baixa
autoestima ela pode criar uma imagem idealizada para compensar esta imagem negativa.
Quando esta imagem idealizada está muito longe da realidade, o indivíduo perde o sentido
15
verdadeiro da sua vida, passa a viver em busca de projetos impossíveis de ser alcançado, o
que provoca ansiedade e sensação de fracasso.
Segundo Rojas Marcos (2008) o que a pessoa pensa a respeito de si mesma estará
sempre acompanhado de um sentimento. Quando opina a seu próprio respeito, esta opinião
estará acompanhada de um tom emocional coerente com esta opinião. Se o juízo de valor for
favorável, o sentimento será prazeroso, se o juízo de valor for negativo o sentimento que o
acompanha será desprazeroso. Os pensamentos vinculados a uma autovalorização positiva são
de competência, confiança e orgulho de si mesmo e os sentimentos são de alegria, segurança e
bem-estar. Já uma autovalorização negativa traz consigo reprovações, condenação, sentimento
de vergonha, de culpa, de decepção e de fracasso.
Sanchez e Scribano (1999) consideram que a partir de muitas pesquisas realizadas sobre
a autoestima foi deduzida a importância da mesma para um comportamento social, afetivo e
intelectual adequado:
Observou-se que, quando não possui um autoconceito adequado, uma pessoa
não pode estar aberta a suas próprias experiências afetivas, e principalmente
aos aspetos desfavoráveis do seu caráter. Por outro lado, uma pessoa com
baixa auto-estima não se mostra como é frente aos outros e sim representa
para eles os papéis que considera oportunos em cada momento. Aspectos
como a autodeterminação ou a independência afetiva também são afetados
negativamente pela carência de um autoconceito bem desenvolvido. A falta de
auto-estima influi de forma notável no bem-estar espiritual, no próprio nível
de satisfação e, acima de tudo, na própria saúde e capacidade psíquica.
(SANCHEZ E SCRIBANO, 1999, p. 13-14)
Ainda em relação a influência da auto-estima nas relações interpessoais, Soler (2005, p.
108 ) afirma que: “ Quem possui uma auto-estima elevada, tem como consequência uma aloestima¹ (amor, estima aos outros) também elevada. Ela quer o melhor para si, mas não em
detrimento dos outros, ou seja que os outros também tenham o melhor.” Esta afirmação
demonstra a importância da autoestima pra as interações sociais do indivíduo, para o meio em
que ele vive.
______________
¹Alo:
Radical
grego
www.educacional.com.br.
que
significa
outro,
acesso
em
20/05/2011,
disponível
em
16
Ter alto nível de autoestima é importante para as realizações do indivíduo, para que se
sinta seguro, competente, capaz, valorizado, pertencente a seu grupo social e com relações
interpessoais saudáveis. A autoestima é a base para uma boa saúde psicológica. Afinal é
difícil ter uma vida satisfatória nutrindo sentimentos de incapacidade, de incompetência, isto
traz frustração, mal-estar, prejudica a vida da pessoa e a impede de viver de acordo com suas
reais possibilidades.
A autoestima desenvolve-se desde o nascimento da criança, através da interação desta
com as pessoas significativas que a cercam, principalmente os pais, e ainda, avós, tios, e
outras pessoas da família. Desenvolve-se primeiramente através da linguagem não verbal, que
são as atitudes que os pais têm com a criança na forma de fornecer-lhe os cuidados básicos, de
atender suas necessidades e desejos, nas reações a seus atos, aplaudindo, mostrando interesse
ou reprovando e até na forma como a pega no colo. E posteriormente através do que é
verbalizado ao seu respeito. (MOYSÉS, 2007)
Para Alencar e Virgolim (1993) apud Virgolim et. al (2008), as pessoas significativas
dizem coisas sobre a criança, as qualidades, os defeitos que percebem nela, os
comportamentos que os deixam tristes ou felizes, desta forma vão lhe colocando rótulos. A
criança, como ainda não possui a capacidade de julgamento, aceita estes rótulos, sem
questioná-los e os agrega à sua autopercepção. E quando se insere em novos contextos leva
consigo estes conceitos que formou de si mesma e a ele são agregadas novas percepções.
Assim, a autoestima é conseqüência das avaliações realizadas pelas pessoas que cercam a
criança, que se vê refletida na imagem que estas pessoas lhe oferecem de si mesmo, como se
fossem um espelho, assim o indivíduo se torna aquilo que os outros pensam que ele é.
As pessoas participam da formação da autoestima precisam saber como deve ser o
ambiente favorável para o desenvolvimento desta, para que sua contribuição nesta formação
seja positiva. Um ambiente favorável, segundo Sanchéz e Scribano (1999), é aquele onde a
criança tem autonomia para que possa acreditar que é capaz de fazer as coisas por si só, os
adultos precisam oferecer-lhe possibilidades de fazer tarefas sozinha e a tratá-la como capaz
de fazer estas tarefas. Atitudes de superproteção, controle excessivo, considerar a criança
menos capaz do que ela é, favorece uma baixa auto-estima. Já atitudes democráticas, onde há
interação verbal e explicação da conduta por parte dos adultos favorece o desenvolvimento da
autoestima, a criança recebe a mensagem de que é importante, porque os adultos lhe explicam
17
as coisas, lhe dão as razões e não apenas ordens. Quando há a falta de aceitação, de afeto,
acolhida, do interesse que é mostrado pela criança, será negativa a imagem que ela terá de si
mesma, perderá a confiança em si e no pouco valor que acredita ter.
A respeito dos elogios, Guilhardi (2002) diz que devem ser específicos, deve se dar
destaque maior à criança e não ao comportamento. Deve-se dizer a criança, por exemplo, que
está feliz com ela por ela ter se comportado de maneira adequada e não ao contrário, dizer que
está feliz com aquele determinado comportamento dela. Os elogios, porém não devem ser
feitos apenas como reforçadores pelos comportamentos adequados, devem fazer parte do
cotidiano da criança. Os pais devem priorizar sempre a criança e não o seu comportamento.
Desta forma a criança se sente amada de verdade, independente do seu comportamento, ela
aprenderá a amar a si própria se tornando independente do amor dos adultos significativos,
não precisará mais se comportar como os outros esperam para receber amor e
reconhecimento, passando a reconhecer suas próprias conquistas.
Podemos afirmar, então, que a autoestima se constrói e se define à medida que o
indivíduo vai se desenvolvendo, através da influência das pessoas significativas, primeiro no
ambiente familiar e posteriormente no ambiente escolar e social e também a partir das
próprias experiências de sucesso e de fracasso nestas relações.
Sanchez e scribano (1999) falam também da importância de professores e colegas na
formação da autoestima:
A criança passa uma grande parte do seu tempo na escola com os
professores e seus colegas. O aluno se vê envolvido em múltiplas
experiências e situações de êxito ou de fracasso. Recebe sistematicamente a
influência de seu professor e dos colegas de turma. Nos anos de
escolaridade obrigatória, o professor aparece aos olhos dos alunos como
uma pessoa especialmente significativa, revestida de um prestígio que lhe
dá um notável poder de influência, que se reflete na formação do
autoconceito, especialmente do autoconceito acadêmico. Os colegas, por
sua vez, condicionam, em grande medida, a estima que a criança
desenvolve sobre si mesma. Sua aceitação ou rejeição, o valor que lhe é
atribuído, incidem sobre a formação de sua avaliação. (SANCHEZ E
SCRIBANO 1999, p. 19)
A partir da visão destes autores, fica claro a importância da autoestima positiva para a
vida de uma pessoa e também a importância das pessoas significativas na construção desta
autoestima positiva. É através das manifestações e das ações das pessoas significativas que se
18
adquire a consciência de ser um indivíduo digno de apreço ou de desprezo. As influências
mais importantes são dos pais, as primeiras pessoas significativas. Estas pessoas significativas
dizem para a criança de forma explícita ou implícita quem ela é desta maneira vai formando
sua personalidade, o qual inclui sua valorização pessoal, sua autoestima. Professores e colegas
também participam deste processo a partir do momento em que a criança começa a freqüentar
a escola e se inicia a interação neste contexto. Dependendo de como será este processo, ele
colaborará para que o aluno construa uma alta autoestima ou uma baixa autoestima. Assim,
às percepções que o aluno traz consigo, serão somadas novas percepções que vão construindo
a sua auto-estima, na infância e no decorrer do seu próprio desenvolvimento.
Reafirma-se que, a autoestima não é dada, inata ou herdada, ela é construída a partir das
primeiras relações da criança, através das primeiras pessoas significativas que são os pais, e
posteriormente pelas demais pessoas com as quais a criança se relacionará, como parentes
próximos, colegas e professores. O que estas pessoas significativas dirão, as mensagens
enviadas à criança terá grande valor para ela, adquirindo caráter de verdade que podem ser
tanto positivas quanto negativas. Portanto, se for dito a uma criança, de forma verbal ou
simbólica que ela não possui valor, ela passará a acreditar nisto. Desta forma, através das
relações interpessoais da criança com as pessoas significativas para ela, a autoestima vai
sendo construída. As crianças estão começando a freqüentar a escola cada vez com menos
idade, passando a se relacionar em outro meio fora do contexto familiar, o que faz com que a
escola tenha um importante papel já nos primeiros anos da infância, principalmente os
professores, que embora não serão os únicos com quem os pequenos se relacionarão, farão
parte dos adultos significativos na formação de sua personalidade.
19
2 AÇÕES DOCENTES E A FORMAÇÃO DA AUTOESTIMA
Através de suas atitudes, o professor pode criar na sala de aula um clima emocional
positivo, agindo de forma a apoiar o aluno, sendo cordial, afetuoso, fazendo com que o aluno
se sinta seguro, condição básica para sua autoestima, ou pode criar na sala de aula, um clima
emocional negativo, através das críticas, da repressão, da hostilidade, causando ansiedade,
fazendo com que o aluno perca a autoconfiança, descrendo do seu próprio valor. Este capítulo
objetiva discorrer sobre o fazer docente e sua interferência na vida do aluno, ambos nos seus
diversos aspectos.
2.1 O CONTEXTO DA SALA DE AULA
O sistema educacional brasileiro apresenta muitos problemas e com conseqüências
sociais preocupantes, deixando claro que este sistema precisa de mudanças, a fim de que a
sociedade avance na superação destas conseqüências.
Sobre esta necessidade de mudanças, Virgolim (1994) apud Virgolim et al. (2008), diz o
seguinte:
A escola deve se voltar para a busca de um modo mais saudável de
aprender, fortemente vinculada aos aspectos positivos do comportamento
humano: ajustamento, felicidade, prazer, satisfação, alegria verdadeira. A
escola deve ser atrelada, prioritariamente, ao crescimento pessoal dos
indivíduos, voltado também para o relacionamento interpessoal e pessoal,
desenvolvendo nos alunos as potencialidades necessárias para que eles se
tornem adultos psicologicamente sadios, criativos, conscientes e
integrados. Este é o desafio que as escolas devem urgentemente enfrentar.
(2008, p.25).
A escola deve se tornar um espaço onde professores e alunos possam se desenvolver,
aprender uns com os outros. Para Koehler (2003), a escola deve contribuir para a
humanização da criança enquanto ser em desenvolvimento, ajudar a reparar as mazelas da
violência presente no cotidiano, e que mudanças não dependem apenas dos educadores, mas
estes não podem se eximir das implicações dos seus atos seja no processo de aprendizagem,
20
nas relações humanas ou no processo de constituição da personalidade das crianças e
adolescentes.
Quanto às contribuições negativas da escola no desenvolvimento do aluno, Camacho
(2000) apud Marriel et. al (2006) aponta o fazer negativo na prática docente como sendo
ainda muito presente no cotidiano escolar, discute-as como uma espécie de violência não
física, onde cabe ofensas verbais, humilhações, discriminação, segregação, desvalorização
com palavras, atitudes de desmerecimento, sendo que muitas vezes, não ocorre apenas na
relação professor-aluno, mas também nas demais relações dentro da escola.
Há ainda outras formas de violência mais sutis e de menor visibilidade, segundo
Guimarães, (1992) apud Marriel et. al., (2006) que também fazem parte do cotidiano escolar.
Práticas educativas negativas que precisam ser erradicadas do fazer educativo, como a
imposição de conteúdo destituído de interesse para o aluno, que não tem significado para sua
vida, a pressão a partir do poder de conferir notas ao aluno, tratamento pejorativo, a
ignorância quanto aos problemas do aluno, exposição do aluno ao ridículo, agressões verbais
e autoritarismo.
Estes não são problemas novos enfrentados pelo nosso sistema de educação, são
problemas que fazem parte da história da educação e que caminham junto com a sociedade.
Porém é preciso mudar a forma de ver o papel da educação e adotar novas práticas que visem
não somente o desenvolvimento intelectual do aluno, mas que contemple seu
desenvolvimento global.
Infelizmente, o que ainda percebe na prática educacional, é aquele fazer chamado por
Freire (1987), de concepção bancária de educação, onde o trabalho do professor consiste em
depositar o conteúdo no aluno, que recebe este conteúdo passivamente e vai acumulando-o.
Esta relação do aluno com o conhecimento mantém a sua ingenuidade e busca adaptá-lo a sua
realidade social, evitando a transformação do seu meio através do pensar autêntico, da crítica,
do conhecimento e busca de seus direitos e deveres. Nesta forma de educação a relação
educador-educando é pautada na contradição, onde o educador é o que deposita e o educando
o que recebe o conhecimento, sendo esta relação algo mecânico, estático, onde não há lugar
para o diálogo.
21
A educação comprometida com a liberdade, com a humanização, segundo Freire (1987),
é uma educação onde não há esta contradição educador-educando, onde ele, o educador, não
educa apenas, através do diálogo, ele educa e é educado, ambos se educam, mediatizados pelo
mundo. O conhecimento deixa de ser uma propriedade do professor para ser a incidência da
reflexão deste e dos educandos, desta forma a educação se torna um ato reflexivo, um
constante desvelamento da realidade, onde emerge a consciência de mundo, onde é possível
ter uma postura crítica da realidade.
Para que se dê esta verdadeira educação libertadora e humanizadora, Freire (1996, p. 25)
descreve os saberes necessários à prática educativa, ou saberes que favorecem um ensino que
leva o educando à autonomia, a uma compreensão de mundo construída por si mesma, onde o
educador é mediador deste processo, para ele, “ensinar não é transferir conhecimentos, mas
criar as possibilidades para sua produção ou construção”.
Entre os saberes considerados pelo referido autor está a rejeição a qualquer forma de
discriminação, o reconhecimento da identidade cultural, a consciência do inacabamento do
ser, o respeito à autonomia do estudante, o bom senso, a humildade, a alegria, a esperança, a
convicção de que a mudança é possível, a curiosidade, a generosidade, o comprometimento, a
compreensão da educação como forma de intervenção no mundo, liberdade, autoridade, saber
escutar, disponibilidade para o diálogo, querer bem aos estudantes. Estes saberes,
verdadeiramente adotados pelo educador são, sem dúvida, muito importantes para
desenvolver a autoestima dos educandos, pois são saberes que se relacionam à autonomia, ao
respeito à aceitação do outro na sua diversidade cultural, ao dialogo, ao querer bem ao
educando, são práticas intimamente ligadas ao desenvolvimento da autoestima.
A educação deve ajudar a desenvolver o potencial de cada aluno, dentro das
suas potencialidades e limitações. Precisa praticar a pedagogia da
compreensão contra a pedagogia da incompreensão, da intolerância, da
rigidez do pensamento único, da desvalorização dos alunos com dificuldades,
sejam elas quais forem, é preciso praticar a pedagogia da inclusão. Não se
deve permitir que na sala de aula, alunos sejam excluídos por professores e
por colegas, que sejam ignorados, que alguns alunos sejam supervalorizados
em detrimento de outros, que suas dificuldades emocionais não sejam levadas
em conta. (MORAN, 2007, p.57)
Para Moram (2007) questões como estas se dão na sala de aula porque a escola dá mais
importância à formação intelectual e deixa de lado a parte afetiva e emocional. O professor
22
não tem uma formação afetiva e emocional e tende mais a enxergar os erros do que os acertos
além de que, muitas vezes, a própria autoestima do professor é baixa, principalmente pela sua
desvalorização profissional e pelas condições estressantes de trabalho.
Freire (1996) fala também das dificuldades enfrentadas pelos professores, dificuldades
estas que persistem no tempo, como os baixos salários, as condições de trabalho e outras,
porém ele entende que, as dificuldades não eximem os professores de uma prática
comprometida com a responsabilidade de que necessita de uma atuação que cumpra seu papel
de formador de cidadãos.
Meleiro (2007) aponta como dificuldades enfrentadas por muitos professores,
principalmente no setor público, a temperatura elevada na sala de aula, principalmente nos
meses mais quentes do ano, a iluminação inadequada, o barulho intenso, o numero excessivo
de alunos na sala de aula, o uso de drogas entre os alunos, a falta de limite de alguns alunos
que não respeitam o professor e ainda a meta do Ministério de Educação e Cultura de reduzir
o índice de analfabetismo, o que acaba desgastando muito o professor que tem que fazer um
grande esforço para aumentar as notas dos alunos com dificuldades na aprendizagem. As
escolas não proporcionam aos professores materiais necessários para atividades criativas,
inibindo as atividades que demandem estes recursos. A insatisfação e a falta de perspectivas
de crescimento desestimulam os professores, que passam a encarar seu trabalho diário como
um fardo pesado e sem gratificação pessoal, diminuindo sua motivação no dia-a-dia, o que
gera queda no seu desempenho, frustração, alteração de humor e conseqüências físicas e
mentais advindas do estresse.
São muitas as dificuldades enfrentadas pelos professores e muitas as cobranças, pois
recai sobre eles a grande responsabilidade de ensinar e ao mesmo tempo formar pessoas
dentro deste complexo quadro que se encontra a educação. É necessário que o educador não
desanime, pois a sociedade precisa que desempenhe seu papel da melhor maneira, mas é
preciso também que a sociedade reconheça seu papel de formador de cidadãos e lhe propicie
melhores condições de trabalho.
É no contexto da sala de aula que o aluno passa a maior parte do tempo em que se
encontra na escola e é neste espaço que se dá a sua interação com o professor, este deve então
ser um lugar privilegiado para o crescimento do aluno. Infelizmente devido ao não preparo
23
dos educadores e das dificuldades que enfrentam no seu dia-a-dia, suas condutas podem ser
prejudiciais à autoestima do aluno.
2.2 A INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
Interação social pode ser definida como a influência mútua ou recíproca entre as
pessoas, ou relação entre os indivíduos em que o comportamento de um deles é estímulo para
o comportamento dos outros. (CABRAL e NICK, 2006, p. 172).
A influência mútua é uma característica de toda interação humana e na interação
professor-aluno não se limita à área do conhecimento. A responsabilidade maior da qualidade
desta influência está no professor, pois é ele quem controla a situação e estrutura da sala de
aula, além de que dispõe de maiores recursos para sua ação, como a autoridade, própria do seu
papel. (MORALES, 2003, p. 164)
French e Raven (1972) apud Coutinho e Moreira (2001), apresentam as bases
fundamentais de poder que são utilizados por uma pessoa para influenciar outra, estas bases
são: o poder legítimo, aquele instituído oficialmente, baseia-se no reconhecimento do papel
institucional do líder, o que lhe confere o direito de ditar comportamentos; o poder de
coerção, que é baseado na possibilidade de uma pessoa infligir castigos caso a outra não
obedeça; o poder de recompensa ocorre quando uma pessoa tem a capacidade de influenciar à
outra em virtude da possibilidade de recompensá-la; o poder de referência, quando um
indivíduo se identifica com o outro por possuírem pontos de vista e valores semelhantes e o
poder especializado, aquele que se baseia no reconhecimento da capacidade do indivíduo em
uma determinada área do conhecimento.
Para Coutinho e Moreira (2001), quando a relação professor-aluno é baseada no modelo
de poder legitimado, é conferido ao professor o direito de determinar quais comportamentos
são aceitos e quais não serão, ou seja, ele dita as regras da sala de aula, no que diz respeito à
sua dinâmica, à sua disciplina, e aos conteúdos curriculares. A liderança coercitiva é
percebida na sala de aula quando o professor utiliza recursos como atribuição de notas baixas,
expulsão da sala de aula, reprovações como forma de punição e outros. O poder de
24
recompensa dá-se na sala de aula quando o aluno percebe que o professor poderá recompensálo por um bom comportamento, assim passa a agradá-lo cuidando bem do seu material
escolar, sendo pontual às aulas, tirando boas notas. Quando o aluno toma o professor como
referência busca uma relação de afetividade com o professor, o que não é ruim, mas pode
levá-lo a se submeter à vontade do mesmo. O poder especializado é exercido pelo professor
quando o aluno percebe a sua competência profissional, a sua segurança na condução da
classe. Para as referidas autoras, os professores geralmente exercem mais de uma forma de
liderança sobre seus alunos, e aquela baseada no poder especializado é superior as demais
formas quando se quer chegar a uma liderança mais democrática e preocupada com o
desenvolvimento do aluno.
Sobre a influência que o professor exerce sobre seus alunos, Freire (1996) diz o
seguinte:
O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente,
sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida
e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das
pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum desses passa pelos alunos
sem deixar sua marca. (FREIRE 1996, p. 73)
Pode-se dizer então que a relação entre professor e aluno é uma relação dinâmica, onde
ambos se influenciam mutuamente, e se comportam de acordo com a percepção que um tem
do outro.
Para Piletti (1986), a percepção é um fator de grande importância na interação social,
um depende do outro. A atuação do professor na sala de aula dependerá da sua percepção, a
percepção que tem dos seus alunos influenciará na sua interação com eles. O professor se
aproximará mais daqueles alunos com os quais se simpatiza mais, e o mesmo acontece com os
alunos, se aproximarão mais daquele professor que lhe fazem sentir bem e mais valorizados.
Este afastamento ou aproximação, simpatia ou antipatia que sentimos por outra pessoa
depende da percepção que temos da mesma, sendo a percepção um fator importante na
interação social. Para este autor se o professor tiver uma percepção errada de um aluno, irá
tratá-lo de acordo com esta percepção errada, se achar que um aluno não é capaz e tratá-lo
desta forma, o mesmo poderá vir a se comportar de forma incapaz como é esperado pelo
professor, o que ele chama de profecia auto-realizadora.
25
Patto (1986) apud Morais e Souza (2000) define profecia auto-realizadora como a
concretização do que se espera de uma pessoa, principalmente quando a primeira tem poder
sobre a segunda. Esta postura do professor o leva a desacreditar nas possibilidades de
determinados alunos, deixando-os à margem do processo em sala de aula, o que acaba por
levar à confirmação da crença do professor, pois o aluno na medida em que é deixado de lado,
desacreditado, se torna um aluno desmotivado, descrente de suas capacidades.
Piletti (1986) considera ainda que, uma percepção errada pode ainda levar ao
preconceito, o fato do aluno ser repetente, morar em uma comunidade carente, se vestir de
determinada forma, pode levar o professor a julgamentos falsos, baseados em uma realidade
parcial sobre o aluno, passando a tratá-lo de forma preconceituosa.
Quanto a estes julgamentos preconceituosos, Piletti (1986) recomenda que o professor
tome certas precauções, evitando juízos apressados sobre os alunos, procurando compreender
as razões dos seus comportamentos, pode fazer isto observando constantemente o
comportamento dos mesmos, ter conversas formais ou informais com estes e seus pais, pois, o
preconceito não permite que se conheça a pessoa como ela realmente é, e todas as pessoas têm
potencial de aprendizagem, o professor deve buscar conhecer estes potenciais e desenvolvêlos, mas se basear seu trabalho em percepções erradas e preconceituosas sobre os alunos, isto
não poderá ser feito.
Leite (1979) faz esta consideração sobre a importância da percepção das qualidades do
aluno, ele concorda que a qualidade percebida pelo professor tende a ser acentuada. O
problema reside, segundo ele, no fato de que, as escolas dão mais valor às qualidades
intelectuais e de conformismo social e só são acentuadas estas duas qualidades. O que
acontece então, é que, aqueles alunos que não apresentam estas qualidades buscam outras
formas de serem notadas, através do exibicionismo, da indisciplina, da hostilidade, e se torna
um círculo vicioso, os alunos bons ficam cada vez melhores e os alunos ruins ficam cada vez
piores. E ainda há professores que tendem a valorizar o lado positivo das pessoas, enquanto
outros têm a tendência de valorizar o lado negativo.
Outro ponto a ser considerado na interação professor aluno, é o papel do professor
enquanto modelo. Muitas vezes este não tem consciência deste seu papel, da possibilidade
que seus comportamentos, crenças, valores sejam copiados. Muitas vezes, se aprende mais
26
com o que o professor faz do que o que ele diz. Por ser um exemplo, pode transmitir a eles
atitudes tanto positivas quanto negativas. Para Morales (2006) muitas coisas nós aprendemos
por imitação de modelos. Aquele professor que é querido e estimado será aquele com o qual
os alunos mais se identificarão. Desta forma ensinará sem se dar conta, através do seu jeito de
ser, dos seus comportamentos na sala de aula. As suas atitudes demonstradas na sala de aula,
como sua disponibilidade, seu interesse manifestado por todos igualmente, a paciência e a
preocupação em preparar aulas interessantes, influencia a atitude dos alunos em relação a
quem ensina, em relação à matéria ensinada, a escola, e inclusive a respeito de si mesmos. Ou
seja, ao se sentir valorizado, o aluno também se valorizará.
Morales (2006) ressalta a importância da consciência docente desta forma implícita de
ensinar sem intencionalidade, e se o que está ensinando é positivo e deve ser reforçado.
Ressalta ainda que, a instituição escolar também deve fazer esta mesma reflexão, da
mensagem que está passando para seus alunos, pois o que é importante é demonstrado através
das ações. As atitudes da escola dizem para o aluno o que é importante e o que não é, isto
inclui o aluno, se este tem valor ou não.
Outro fator importante na interação professor-aluno, segundo Piletti (1986) é o clima
psicológico na sala de aula, este pode ser favorável ou desfavorável ao crescimento pessoal
dependendo do tipo de liderança que o professor exerce. Se for do tipo democrático, as
chances de sucesso, de crescimento de ambos será maior, porque quando o professor ouve
seus alunos, estimula sua participação, consegue melhores resultados que professores mais
frios e distantes, mesmo estes sendo mais competentes no conteúdo que ensina, o que
evidencia a importância da afetividade na sala de aula. A liderança democrática permite aos
alunos se tornarem mais responsáveis e independentes e sabemos que a autonomia é um fator
positivo para a promoção da autoestima. Por outro lado, o professor que exerce uma liderança
autoritária, determinando tudo que os alunos devem fazer, que não diz aos alunos os critérios
das avaliações, que acha que as notas não merecem discussão, que não participa das
atividades da turma, leva os alunos à apatia e à agressividade. Neste tipo de liderança, quando
o professor se ausenta, os alunos deixam as atividades de lado e começam comportamentos
agressivos e destrutivos, mostrando sua insatisfação com a situação. “O professor deve
sempre procurar estimular, ao invés de punir, orientar, ao invés de forçar, compreender ao
invés de condenar” (PILETTI, 1986, P. 88).
27
Tricoli (2007) explica como o aluno se torna apático ou agressivos dentro da sala, para
ela, quando o professor grita com um aluno, expondo-o perante a turma, mesmo que o aluno
não se sinta atingido por esta atitude, outro aluno que esteja assistindo a cena pode ficar com
medo de participar da aula, se tornando recluso e isolado para não chamar a atenção e correr o
risco de ser exposto. Ou ainda, um aluno que queira chamar a atenção, aprenderá fazê-lo,
imitando o colega, podendo se tornar um líder negativo, tendo comportamentos ainda mais
inadequados para monopolizar a sala de aula. Para a referida autora:
O professor agressivo, que grita para colocar ordem em classe, com certeza,
após um período de convivência com esses alunos, terá em sua classe
pessoas parecidas com ele, falando alto e agredindo a todos, inclusive a ele
próprio, ou alunos mais calados, retraídos, com medo de receber um grito
(violência verbal) diante de alguma colocação, todavia, o professor calmo e
seguro conseguirá que sua turma torne-se calma e segura ao longo do ano.
(TRICOLI, 2007, p. 97)
Para Voli (2000) a autoestima do professor interfere na sua tarefa diária e é base de uma
tarefa educativa e afetiva que dá o verdadeiro significado ao ato de educar. O professor deve
estar em sintonia consigo mesmo e com seus alunos para que possa reconhecer neles e em si
mesmo os recursos necessários para o desenvolvimento de suas potencialidades, para que
possam se valorizar.
Sobre a sintonia do professor consigo mesmo e com os alunos, Leite (1979) diz que,
quando isto não acontece, o professor não interage de forma legítima com os alunos, não tem
autocrítica, assim pode demonstrar preferência por determinado aluno, causando revolta nos
demais, pode ignorar o fato dos alunos não gostarem da forma como dá aulas, pode ignorar a
opinião dos alunos e não se dar conta desta forma de comportar. E ainda há outro ponto
importante, quando o professor não se conhece, ele pode não enxergar nos alunos aquelas
qualidades que não enxerga em si mesmo, ou ainda, pode supervalorizar aquela qualidade que
gostaria de ter ou vir a rejeitar um aluno que tem uma característica que rejeita em si mesmo.
Por isto é importante o autoconhecimento para o professor, ter consciência da forma como
atua na sala de aula e compreender o porquê das suas atitudes.
Para Voli (2000) quando o professor tem uma autoestima elevada, isto se refletirá no seu
comportamento e no dos alunos, pois:
28
A projeção de si mesmo que envia à classe é recebida por seus alunos, que
por sua vez vão se sentindo seguros, reforçados em seu próprio
autoconceito, partes integrantes do grupo, motivados a aprender e
conscientes da sua capacidade de fazê-lo. Sua projeção motiva seus alunos a
entrar por si mesmos em uma situação de autoestima e, por tanto, de autodisciplina, auto-responsabilidade e auto-realização. (VOLI, 2000, p. 147)
Quanto ao conhecimento do comportamento do aluno e da sintonia do professor com
estes, Leite (1979) considera que, embora as crianças e adolescentes vivam intensamente o
universo das relações interpessoais, a escola, muitas vezes, ignora completamente este fato.
Chama a atenção para a importância do professor conhecer a dinâmica das relações dos seus
alunos, principalmente que conheça o significado dos comportamentos de agressividade, de
hostilidade, de perseguição, de liderança. Saber o sentido destes comportamentos para
compreender porque seus alunos agem desta forma, assim pode colaborar para modificar este
tipo de relação, evitando contribuir para estas relações negativas e também suas
conseqüências.
A partir do momento que o professor se conhecer, ter uma autoestima positiva, livre de
medos excessivos, culpas e vergonhas, expressão de uma baixa autoestima, ele poderá ter
outras atitudes com os alunos, sem levar tudo para o lado pessoal, confiará mais no seu
próprio juízo pessoal. Isto será um primeiro passo para não desanimar diante da falta de
retorno dos alunos, mas sim, rever suas atitudes em relação a eles, ai poderá ser empático e
compreensivo, mudara sua forma de se relacionamento e os alunos perceberão seu
comportamento e também mudarão. (VOLI, 2000)
Segundo a referida autora, quando o professor tem autoestima elevada, cria
possibilidades na sala de aula para um clima de segurança e valorização, motivando os alunos
através da confiança que transmite a eles, é seguro na sua atuação e compreende os
comportamentos dos alunos e consegue se colocar no lugar deles.
Sobre o clima de confiança, de empatia e de liberdade na sala de aula, Rogers (1985) os
considera essencial para uma verdadeira relação entre professor e aluno. Ele afirma que o
educador deve criar condições que promovam a aprendizagem. E que o melhor ambiente
promotor desta aprendizagem é resultado da interação humana, principalmente da interação
entre o professor e o aluno.
29
Rogers (1985), fala de crescimento pessoal, a partir da liberdade de aprender, fala de
atitudes docentes libertadoras, favorecedoras do desenvolvimento pessoal do aluno, o que
inclui sua autoestima. A primeira destas atitudes abordadas por ele é a autenticidade, o
professor comunica aos alunos o que pensa e o que sente verdadeiramente, sem precisar
passar para o aluno uma imagem falsa de si mesmo, não tem necessidade de se mostrar com
uma pessoa perfeita, mas sim como alguém que tem qualidades e defeitos. Desta forma o
aluno aprende a comunicar de forma verdadeira o que sente, sem precisar negar uma
característica que não considera boa, podendo aceitá-la sem culpa, ansiedade ou sentimentos
de menos-valia.
Rogers (1985) destaca ainda como fundamental as atitudes de empatia, aceitação,
apreço e confiança. O professor aceita o aluno como uma pessoa única, que tem valor por si
mesmo, como um organismo em desenvolvimento. Aprecia seus sentimentos, suas opiniões,
sua pessoa. Tem a sensibilidade de se colocar no lugar do aluno e compreender o que se passa
com ele, permitindo-o se sentir aceito incondicionalmente. O professor pode demonstrar este
apreço e confiança de várias formas, como, aceitar plenamente o temor e a hesitação com que
o aluno aborda um novo problema e a satisfação do aluno com sua realização. Pode aceitar a
apatia ocasional do aluno bem como seus desejos de buscar novas formas de explorar o
conhecimento. Pode aceitar sentimentos pessoais que perturbam ou promovam a
aprendizagem, sentimentos que envolvam a vida do aluno, as suas relações interpessoais,
familiares e as dificuldades da fase da adolescência. Pode apreciar o estudante como uma
pessoa imperfeita com muitos sentimentos e muitas potencialidades.
Axline (1980), também considera essencial um bom relacionamento entre professor e
aluno, pois só assim o aluno poderá se desenvolver de forma saudável. Assim como Rogers
(1985), ela acredita que o professor deve permitir que o aluno seja ele mesmo, que o
compreenda, aceite, reconheça seus sentimentos de maneira a tornar claro o que ele está
sentindo e pensando, com estas atitudes faz com que o aluno adquira auto-respeito. A autora
deixa claro que os limites devem existir para a expressão de sentimentos e os professores
podem, inclusive, proporcionar aos alunos, atividades específicas para este fim. Quando um
aluno diz, por exemplo, que odeia o professor e a escola, o professor pode aceitá-lo como uma
pessoa que está vivendo um momento difícil, com um problema familiar, ou um problema na
própria escola. Este professor pode clarificar para o aluno o que ele está sentindo ao invés de
mandá-lo calar a boca ou expulsá-lo da sala. Quando o professor age de forma a aceitar os
30
sentimentos do aluno, ele permite que este aluno perceba a forma como está se comportando,
o que está sentindo e assim pode fazer novas escolhas.
Para Voli (2002), outro fator muito importante para a formação da autoestima é o
respeito. Respeito pelas diferenças de cada pessoa, com seus sentimentos e emoções. Ele
eleva o valor e dá importância àquele que respeita e a quem é respeitado. O respeito leva a
confiança: “o respeito mútuo faz com que nos dirigimos uns aos outros com uma linguagem
verbal ou não-verbal positiva, e nos leva a atitudes, sentimentos e interações motivadoras de
auto-estima” (VOLI, 2002, p. 144).
Para Leite (1979), o professor deve deixar de valorizar apenas as qualidades intelectuais
do aluno, buscar também suas outras boas qualidades, invés de acentuar a inadequação para
determinadas tarefas. É preciso fazer a avaliação correta, buscar em cada aluno as suas
qualidades positivas para que possam ser desenvolvidas, e também para que o aluno se autoavalie de forma correta.
Moran (2007) considera que, para que um professor contribua para o desenvolvimento
integral do aluno deve buscar compreender as necessidades dos mesmos, suas características
individuais e seu desenvolvimento tanto físico, como emocional, intelectual e social. Deve ter
consciência que o aluno é uma pessoa concreta, com preocupações, problemas, defeitos e
qualidades, um ser em formação que precisa ser compreendido como tal, pelo professor e
pelas demais pessoas da escola, para que possa desenvolver-se de forma harmoniosa e
equilibrada.
O aluno está na escola como uma pessoa completa, como sujeito de conhecimento e
afeto e, segundo Almeida (1999), a escola não pode negligenciar, subestimar ou suprimir o
espaço das emoções nas suas atividades. É preciso que a escola e principalmente os
professores, saibam lidar adequadamente com a expressão das emoções no seu espaço. É
preciso permitir que a emoção seja expressa e que seja entendida para que não se dificulte o
desenvolvimento emocional da criança, pois “o desenvolvimento afetivo e intelectual são
aspectos diversos de uma mesma e única realidade: o desenvolvimento pessoal do indivíduo.
Eles são inseparáveis, pois o desenvolvimento de um depende do desenvolvimento do outro”.
(ALMEIDA, 1999, p. 102)
31
Compreende-se aqui que, além da importância do afeto para a vida do aluno, deve-se
considerar também que este se encontra em desenvolvimento da personalidade, por isto devese considerar a importância do papel do professor neste processo, pois será também um
modelo de identificação. E segundo Stratton e Hayes (1994) a identificação é um processo
essencial no desenvolvimento, pois é através dela que se adquire novas características. A
identificação refere-se à internalização da aprendizagem imitativa, de modo a tornar-se
incorporada ao autoconceito. Ou seja, o professor como adulto significativo terá seu
comportamento, atitudes, características imitadas por seus alunos e isso será internalizado por
eles, passando a fazer parte da personalidade deles. Assim a atenção que o professor dedica
ao aluno se torna ainda mais importante, o seu comportamento poderá fazer muita diferença
no desenvolvimento do aluno.
Libâneo (2004) também fala das novas atitudes docentes diante das realidades do mundo
contemporâneo. Descreve como prática o professor assumir o ensino como mediação, e não
como transmissão de conhecimentos, principalmente diante das novas tecnologias da
informação. Esta seria uma mediação do aluno com os conteúdos, considerando o
conhecimento e experiências e os significados que os alunos trazem consigo, levando também
em conta, o potencial cognitivo, a capacidade, os interesses, o modo de pensar do aluno. Para
o autor, O professor deve ser aquele que desenvolve a competência de pensar, colocando
problemas, perguntando, dialogando com os alunos, permitindo que expressem seus
sentimentos, pensamentos desejos, que sua realidade vivida possa estar presente na sala de
aula. Entre outras atitudes docentes importantes e necessárias à prática docente, o referido
autor fala da importância da integração do exercício da docência com a dimensão afetiva:
A cultura escolar inclui também a dimensão afetiva. A aprendizagem de
conceitos, habilidades e valores envolve sentimentos, emoções, ligadas às
relações familiares, escolares e aos outros ambientes em que os alunos
vivem. Proporcionar ao aluno uma aprendizagem significativa supõe da
parte do professor conhecer e compreender motivações, interesses,
necessidades de alunos diferentes entre si, capacidade de comunicação com
o mundo do outro, sensibilidade para situar a relação docente no contexto
físico, social e cultural do aluno. (LIBÂNEO, 2004, p. 44)
O professor além de ter domínio do conteúdo, deverá saber relacionar-se
competentemente, transformando a sala de aula em um lugar prazeroso, participando
ativamente do processo de aprendizagem. A sala de aula precisa ser um espaço de
convivência, de vida, onde o aluno se sinta motivado, estimulado. O professor precisa ter
conhecimento do valor da interação professor-aluno, para não agir como dono do saber e
32
poder compreender a sala de aula como um espaço de relações sociais e afetivas,
humanizando o ato de aprender. (KULLOK, 2002)
Encontramos também em Piletti (1986) a importância de um clima de liberdade e
motivação na sala de aula, ele diz o seguinte:
Num clima de liberdade, o aluno motivado pra aprender interessa-se pelo
que faz, confia em sua própria capacidade, trabalha com mais dedicação,
produz mais e consegue alcançar seus objetivos. O trabalho em liberdade
gera alegria e satisfação para quem o faz e resulta em realização pessoal e
atitudes positivas em relação aos outros. (PILETTI 1986, p. 92)
Quando o aluno não compreende o conteúdo e nada é feito para ajudá-lo, ele acaba por
desistir de participar do processo de aprendizagem, perdendo a confiança em si mesmo,
podendo no futuro abandonar a escola e buscar outras formas de compensações para sua
sensação de fracasso, como o álcool e a delinqüência. Voli (2002) nos diz que, quando o
professor tem consciência da importância da autoestima do aluno, ele pode fazer toda a
diferença.
Dada a importância do professor na vida de um aluno, ele pode fazer a diferença,
contribuir para que este desenvolva uma boa autoestima e se torne uma pessoa sadia, que
saiba se relacionar consigo mesmo e com as outras pessoas, podendo participar da construção
de um mundo melhor para todos, ou pode contribuir para desestimulá-la, fazê-lo acreditar que
não é capaz, se tornar apático ou agressivo e ainda contribuir para que ela desista da escola,
através do autoritarismo, do preconceito, da incompreensão, levando consigo experiências de
fracasso e sentimentos de pouco valor.
Como já foi visto, para o desenvolvimento da autoestima é necessário um ambiente de
interações saudáveis, estimulador da autonomia, livre de críticas negativas, agressões verbais
ou simbólicas e controle excessivo; um ambiente onde haja liberdade, alegria, motivação,
afetividade, aliados ao processo de aprendizagem. É preciso que o professor se conscientize
da importância do seu papel no desenvolvimento dos seus alunos para que suas atitudes sejam
positivas e favoreçam o crescimento destes.
33
3 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR
É importante para a psicologia escolar compreender como se dá a interação na sala de
aula, para que possa apontar caminhos que resguardem o desenvolvimento positivo do aluno,
infelizmente, o que se vê nos últimos tempos é que a educação apresenta sérios problemas e
sabe-se também que o sistema educacional não é o único culpado, mas se têm um problema
social que se reflete de forma muito grave dentro da escola. Busca-se compreender, através
da literatura pesquisada, a forma como a escola está fazendo sua parte, como está
contribuindo para o não desenvolvimento pessoal do aluno e propor formas mais adequadas
de atuação que contemplem o desenvolvimento global do mesmo para que a sociedade tenha
pessoas mais integradas e que possam realizar as necessárias mudanças sociais.
Se constitui um desafio o modo como o psicólogo escolar deve atuar diante desta
demanda, como ele pode colaborar com a escola na busca de um modo de ensinar e aprender
em que sejam considerados os aspectos da formação da autoestima do aluno, levando em
conta todos os autores envolvidos no processo.
Acredita-se que psicologia escolar, na busca de um modo mais saudável de interação
professor-aluno, deve se preocupar também com o professor, e não voltar sua atenção
somente para os alunos, suas motivações e interesses. Pensando o processo educacional como
uma relação dinâmica entre professor e aluno, não se pode esquecer que os dois elementos são
importantes e necessários, são a base da escola, e ambos têm que ser motivo de atenção.
Assim deve-se pensar também na satisfação do professor, para que a autoestima deste,
associada a do aluno, seja a base para uma interação sadia entre ambos.
Para Del Prette e Del Prette (1996), a atuação do psicólogo escolar se dá na e através das
interações sociais no contexto da instituição escolar, com caráter essencialmente social que se
articula com a atuação dos outros agentes envolvidos no cotidiano da escola, incluindo os pais
e a comunidade, o que resulta em um fazer coletivo. Sua atuação deve contribuir para a
criação de novos cenários e novas realidades sociais, pois transformações só podem ocorrer
através de condições e relações sociais concretas.
34
Para os referidos autores, as interações no contexto escolar, entre o aluno e professor e
também com os demais envolvidos com a prática escolar pode facilitar ou dificultar a relação
entre o aluno e seu objeto de conhecimento, ou seja, pode facilitar ou dificultar a
aprendizagem. E como se trata de interações sociais, nas quais se dão o desenvolvimento
social, pessoal, não apenas de aprendizagem de conteúdo intelectual, estas podem ser
facilitadoras ou dificultadoras do desenvolvimento total do aluno.
Na escola, como um lugar privilegiado de interações sociais, a atuação do psicólogo
escolar não podia ser diferente, ele se dará nas interações e através das interações. Sendo
assim, ele atua juntamente com todos os agentes da escola, incluindo pais e até a comunidade
em que a escola está inserida, o que faz com que sua atuação provoque mudanças além do
contexto escolar. As mudanças provocadas na escola se refletirão em mudanças na
comunidade. Pessoas integradas, com bom desenvolvimento pessoal e interpessoal, sabedoras
de seus direitos e deveres como cidadãos, com certeza farão a diferença em suas
comunidades.
Esta atuação do psicólogo escolar a partir das interações sociais exige deste profissional
capacidade analítica para a compreensão das relações e capacidade instrumental para trabalhar
estas relações; como pode ser visto na seguinte citação:
A atuação do psicólogo escolar, se orientada por esta perspectiva, requer
capacidade analítica para apreender as múltiplas relações que caracterizam a
instituição escolar e os agentes nela envolvidos e para identificar
necessidades e possibilidades de aperfeiçoamento destas relações, e
capacidade instrumental (técnica e interpessoal) para participar de
interações construtivas com todos esses agentes. Além de ser capaz de
analisar a natureza e a qualidade das relações essenciais (professor-alunoobjeto de conhecimento) e de suporte (as que ocorrem intra e entre os
demais agentes – administração, família, especialistas, pessoal de serviços –
e destes com os professores e alunos), o PEE deve também ser capaz de
contribuir para criar condições de interação com e entre esses agentes, no
sentido de definir o projeto pedagógico da escola e o papel de cada um
deles na concretização desse projeto e de promover sua capacidade crítica e
criativa para avaliarem e conduzirem, entre si e junto aos alunos, relações
efetivamente educativas e coerentes com este projeto. (DEL PRETTE e
DEL PRETTE, 1996, p. 153)
A partir destas duas capacidades básicas, o psicólogo escolar trabalhará as interações
sociais, a partir da sua própria interação neste contexto. Trabalhará na busca de interações que
favoreçam o crescimento de todos os envolvidos na instituição escolar, promovendo
35
capacidade crítica para que os próprios agentes avaliem e conduzam relações efetivamente
educativas e condizentes com o projeto pedagógico da escola.
Andaló (1984) acrescenta que o psicólogo escolar deve assumir o papel de agente de
mudanças dentro da escola, atuando como um elemento centralizador de reflexões e
conscientizador dos vários papéis desempenhados pelos demais envolvidos no processo
educacional. Na sua ação diante dos problemas escolares não deve centralizar seu olhar
apenas sobre os alunos, mas sim sobre as relações que se estabelecem neste contexto, levando
em conta o meio social em que estão inseridos.
Andaló (1984) afirma ainda que em seu trabalho como psicóloga escolar, na perspectiva
de agente de mudanças, trabalha com a formação de grupos operativos com os alunos, com os
professores, com a equipe técnica, na busca de suscitar a reflexão crítica sobre a instituição,
incluindo o processo de ensino aprendizagem, a relação professor-aluno e as mudanças sociais
que estão ocorrendo. Procura desfocar a atenção sobre o aluno como única fonte de
dificuldades e crise em que a instituição escolar está enfrentando. Busca uma visão global
desta crise e as possíveis alternativas de enfrentamento.
Sobre a crise que a instituição escolar está enfrentando, Novaes (1996) a caracteriza
como uma realidade social complexa, onde os problemas sociais como pobreza, a resistência
e transgressão às normas, falta de valores éticos e morais, a busca do prazer imediato, a
violência urbana, aumento no consumo de drogas, a crescente desestabilização familiar e
outros fatores se refletem na escola, através das relações educativas e do processo ensinoaprendizagem. E diante desta realidade, a psicologia escolar deverá cada vez mais buscar a
interdiciplinaridade, ou seja, buscar em outras áreas de conhecimento a compreensão e
possíveis respostas a estas questões, além de fazer uma análise constante das implicações
socioculturais do processo educativo, pois será cada vez mais cobrado na definição do seu
papel na construção da realidade social. Então, cabe ao psicólogo escolar analisar o que a
instituição escolar está produzindo e seus efeitos sociais e colaborar para mudanças que se
façam necessárias, “deverá procurar trazer contribuições para a sociedade educativa e para a
transformação social que envolve as instituições, as famílias, as escolas, assim como as
comunidades.” (NOVAES, 1996, p.71).
36
Martinez (2010) também fala da atuação tradicional do psicólogo escolar e as suas
novas possibilidades de atuação. Na atuação tradicional, fruto do próprio desenvolvimento da
psicologia, que é baseado no modelo médico, clínico de atendimento, o psicólogo escolar
trabalhava apenas com o diagnóstico, avaliação e intervenção, principalmente dos problemas
de aprendizagem ou de comportamento. Acompanhando as mudanças no âmbito da
psicologia, dos seus enfoques teóricos e epistemológicos, de uma nova compreensão de
sujeito como parte de um sistema cultural e histórico, o psicólogo escolar pode ampliar sua
atuação, fortalecer sua contribuição para otimização da educação.
Entre as formas possíveis de atuação do psicólogo escolar, possibilitadas por esta
concepção de sujeito constituído cultural e historicamente, citadas por Martinez (2010) está o
diagnóstico, análise e intervenção em nível institucional no que diz respeito à subjetividade
social da escola, com o objetivo de traçar estratégias de trabalho que favoreçam as mudanças
necessárias para otimização do processo educativo. Esta forma de atuação proposta pela
autora se pauta no reconhecimento de que os sujeitos se constituem e são constituidores dos
contextos sociais em que estão inseridos, buscando a compreensão da forma como se dá estas
relações sociais e como as pessoas se sentem e como atuam neste espaço. É o reconhecimento
da dimensão psicossocial da escola. Assim o psicólogo escolar trabalhará na dimensão
psicoeducativa e na dimensão psicossocial, para otimizar o processo educativo.
Andrada (2005) vê como possibilidade de atuação do psicólogo escolar a aplicação de
conhecimentos psicológicos na escola no que se refere ao processo ensino-aprendizagem, em
análises e intervenções psicopedagógicas e também no que se refere ao desenvolvimento
humano, às relações interpessoais e à integração família-comunidade, práticas para a
promoção do desenvolvimento integral do ser; além da análise das relações dos diversos
segmentos do sistema educacional. Considera que, desde o início da sua atuação na
instituição, o psicólogo escolar deve demonstrar como é a visão de sujeito para a psicologia,
aquela que vê o indivíduo como um sujeito relacional não como um ente separado do sistema
relacional (família, escola). O que pensa dos problemas de aprendizagem, que estes já não
podem mais ter um único modelo de explicação, mas sim por múltiplos fatores. Demonstrar o
que mais pode oferecer, além do tradicional atendimento individual na sala do psicólogo. Isto
pode ser feito em uma reunião inicial com a equipe pedagógica, a direção e os professores,
podendo se estender aos alunos e família.
37
A referida autora entende que o psicólogo escolar precisa criar um espaço para escutar
as demandas da escola e criar formas de reflexão dentro da escola, com os alunos, professores
e especialistas, para que possam ser trabalhadas as relações entre estes agentes. O psicólogo
escolar precisa ainda, ouvir os alunos, o que pensam sobre a escola, a sua turma, como os
percebem. Ouvir os professores e suas demandas, e ajudá-los a refletir sobre suas práticas
para criar novos olhares, principalmente sobre aqueles alunos considerados “problema”.
Trabalhar junto com a equipe pedagógica, criando espaço para o diálogo com os professores,
principalmente na busca de eliminar as possibilidades de estigmatizar alunos com
dificuldades. Buscar a participação da família, confrontando-a com o professor quando for
necessário, criando a possibilidade de um diálogo franco, acerca das dificuldades de todos,
não só do aluno. Enfim, para a autora, a participação do psicólogo escolar está no cotidiano da
escola, na construção do projeto pedagógico e utilizando os conhecimentos da psicologia na
busca de novas práticas na instituição escolar.
Guzzo (1996) chamando a atenção para a formação de psicólogos escolares no Brasil,
levanta a questão da deficiência da formação oferecida pelas universidades brasileiras e da
necessidade de revisão urgente e profunda desta formação. Além desta deficiência na
formação, há ainda a falta de um modelo de atuação profissional para o Brasil. E que um
modelo ideal de atuação do psicólogo escolar deve ser pensado levando-se em conta as
características das escolas, tendo em vista necessidades, problemas. Deve-se conhecer a
realidade da escola e estar juntos aos profissionais da educação conhecendo suas dificuldades.
Além de que sua formação deve estar voltada para os aspectos sociais e políticos do exercício
profissional. Ser psicólogo no Brasil, “exige do profissional que carregue com força os ideais
da construção de uma profissão moderna, comprometida com a população e de grande
impacto transformador nas práticas cotidianas na sala de aula.” (GUZZO, 1996, p.89).
A referida autora chama a atenção para os aspectos sociais e políticos na atuação do
psicólogo escolar enfatizando que este profissional deve estar atento a nossa realidade social,
comprometido e preparado para realizar aquilo que precisa ser realizado, com sentimento de
urgência.
38
Ser psicólogo escolar para o Brasil é conhecer as necessidades psicológicas
de todas as crianças, ricas e pobres, capacitadas e deficientes, abandonadas e
acolhidas por suas famílias; é defender os seus direitos ao atendimento de
suas necessidades e à promoção de seu desenvolvimento, sem discriminação
ou intolerância de qualquer tipo e grau; é estar peto do professor no seu diaa-dia, seja na creche da prefeitura ou na escola maternal particular, nas
escolas de todos os níveis, entendendo o que se passa com ele e ajudando-o a
enfrentar suas dificuldades com técnica e sabedoria... (GUZZO, 1996, p. 89)
Ser psicólogo escolar inclui defender o direito de todos os alunos, sem preconceito e
sem discriminação, buscando o atendimento às suas necessidades e promovendo seu
desenvolvimento. Estar próximo aos professores buscando entendê-los e ajudá-los, inclusive
nas suas dificuldades de interação com o aluno, buscando práticas saudáveis que resguardem
e promovam o desenvolvimento saudável do aluno. Práticas estas já enfatizadas há muito por
psicólogos e pesquisadores da área educacional, como Rogers, Paulo Freire, Libâneo e outros
citados anteriormente, que se preocupam com a necessidade de mudanças, que a cada dia se
faz mais urgente. É necessário que se construa novas relações neste espaço que leve em conta
a construção da autoestima e sua implicação para a vida das pessoas e para a sociedade em
geral.
Sendo a autoestima um fator que afeta a maneira como a pessoa se comporta consigo e
com os demais, inclusive com a aprendizagem, e a escola como formadora de pessoas, um
lugar de desenvolvimento pessoal, a autoestima se torna um fator importante com o qual a
psicologia escolar deve se preocupar. Podemos acrescentar também, que a psicologia escolar
busca contribuir para a criação de novos cenários, novas práticas educativas que possam nos
levar a novas realidades sociais, lutando para que práticas educativas negativas que
comprometem o desenvolvimento saudável sejam substituídas por novas práticas que valorize
e que favoreça o desenvolvimento integral do aluno, que ele desenvolva todas suas
potencialidades, no presente e futuro, através do desenvolvimento saudável de sua autoestima.
Devemos considerar ainda, que ao promover o desenvolvimento dos indivíduos, se está
aprimorando a própria espécie humana em sua totalidade. É através das relações consigo
mesmo e com a sociedade, da integração do plano individual com o sociocultural, que o
indivíduo busca sua própria transcedência. Para Moraes (1997), isto significa que a educação
deve se voltar para a formação integral do ser, para o desenvolvimento de sua inteligência, do
seu pensamento e da sua consciência, capacitando-o para viver numa sociedade pluralista em
permanente processo de transformação. Portanto, a escola deve oferecer condições para o
39
aluno aprender a aprender, desenvolver sua capacidade de pensar, de conviver, de formular
hipóteses, construir caminhos, tomar decisões, tanto no plano individual quanto coletivo.
Desta forma a escola promoverá de fato, as transformações sociais que são necessárias na
sociedade. Estas transformações dependem fundamentalmente do desenvolvimento humano.
40
4 CONCLUSÃO
Pode-se dizer que as condutas docentes influenciam na formação da autoestima do
aluno durante todo o tempo em que estão interagindo, pois o professor é um adulto
significativo para o aluno. O seu papel de condutor do processo educativo lhe dá este poder,
assim como a mãe ou o pai, embora em menor grau. Durante esta interação todas as atitudes
do professor vão colaborar para a formação da personalidade do aluno, inclusive da sua
autoestima.
O professor participa da formação da personalidade do aluno servindo-lhe como modelo
de comportamento e como modelo de identificação, ou seja, o aluno copiará os
comportamentos do professor que posteriormente serão internalizados fazendo parte do
autoconceito do aluno. A forma como o professor conduz sua interação com seus alunos
contribuirá para sua formação.
Portanto, não há dúvidas de que as condutas docentes podem interferir na formação da
autoestima do aluno. O professor pode favorecer o desenvolvimento de uma autoestima
positiva ou de uma autoestima negativa, sendo esta uma constante preocupação da psicologia
aplicada à educação e do psicólogo escolar.
As condutas docentes influenciam de forma positiva quando serve de modelo positivo
para o aluno, quando suas atitudes são de respeito, de otimismo, de esperança, confiança, de
empatia, de aceitação, ou seja, quando o professor trata o aluno e as demais pessoas com
respeito, o aluno respeita a si mesmo e aprende a respeitar e tratar os outros com estas
mesmas atitudes. Influenciam positivamente também, quando devolve para o aluno uma
imagem verdadeira de si mesmo.
Interferem de forma negativa na formação da autoestima do aluno, quando negam sua
participação no fracasso do aluno e o culpa única e exclusivamente por este fracasso. Quando
julga o aluno incapaz por ele ser pobre e morar na favela, o que caracteriza o preconceito.
Quando agride verbalmente o aluno, agindo de forma autoritária, com ameaças e punições,
quando não compreende que sua aula está muito desinteressante. Sabe-se que um ambiente
propício para o desenvolvimento saudável é aquele onde a autonomia, as atitudes
41
democráticas, o respeito aos sentimentos, o acolhimento e afetividade estejam presentes. Ao
contrário, um ambiente onde os sentimentos não sejam levados em conta, que as críticas
sejam negativas, onde não se participa das decisões tomadas, é um ambiente negativo que não
favorece o desenvolvimento positivo da autoestima. E sabemos que a autoestima é de vital
importância para que o indivíduo tenha uma boa saúde psíquica, capaz de buscar condições de
vida que lhe satisfaça.
Percebe-se também que a preocupação com a possibilidade de interferência das
condutas docentes na formação da autoestima dos seus alunos é antiga, há muito tempo se
discute este tema. Percebe-se isto através da bibliografia consultada, visto os escritos das
décadas de setenta até os anos atuais. Pode-se dizer que, os entraves apontados há muito
tempo, persistem nos dias atuais, apontando para a necessidade de mudanças urgentes.
Foi possível constatar ainda, ao longo do desenvolvimento deste trabalho, que a
instituição escolar está enfrentando uma crise e a relação conturbada entre professor e aluno é
apenas um dos pontos desta crise. E a solução requer mudanças profundas tanto no sistema
educacional quanto na sociedade em geral. Pois entendemos que a instituição escolar prepara
pessoas para a vida em sociedade, ao mesmo tempo em que a realidade social se reflete no
contexto escolar. Este problema não é apenas do professor, da família ou da escola, é social, e
deve ser visto dentro deste enfoque sistêmico. Os problemas da escola são reflexos da
sociedade e ao mesmo tempo produz resultados que agravam os problemas sociais.
Pode-se ressaltar aqui a necessidade do profissional psicólogo escolar atuar dentro deste
contexto. Com sua formação específica e olhar diferenciado sobre as interações sociais, este
profissional pode contribuir para que se estabeleçam novas relações, novas práticas que
possam trazer mudanças importantes no espaço escolar. É de extrema importância que esteja
junto aos professores que muitas vezes não possuem uma formação específica para lidarem
com situações conflituosas. Pode-se dizer que a escola vive a carência do profissional
psicólogo que em muito poderia contribuir para mudanças significativas neste contexto, fato
este que merece a atenção e interesse da sociedade para que se mobilize para que a inserção
deste profissional seja uma realidade e que sua contribuição seja não apenas uma
possibilidade.
42
Concluí-se que, tanto a questão que norteou esta pesquisa quanto os objetivos foram
alcançados e respondidos satisfatoriamente. E isto nos leva a acreditar ainda mais na
importância da interação professor-aluno saudável baseada no respeito, na aceitação, na
empatia, no afeto, com regras claras, coerentes e flexíveis. E o papel do psicólogo escolar é o
de atuar no contexto escolar intermediando estas questões, promovendo a reflexão dos agentes
educativos acerca da implicação dos seus atos, sua repercussão na vida do estudante e na
sociedade em geral.
43
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INTRODUÇÃO