UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE PSICOLOGIA Hyani Patrícia Vicente Marisa Bremer AS CONDUTAS DOCENTES E A AUTOESTIMA DO ALUNO: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR Governador Valadares 2011 HYANI PATRÍCIA VICENTE MARISA BREMER AS CONDUTAS DOCENTES E A AUTOESTIMA DO ALUNO: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR Monografia apresentada ao curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce, como requisito para aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. Orientadora: Professora Jaqueline Bicalho Governador Valadares 2011 Mestre Adelice HYANI PATRÍCIA VICENTE MARISA BREMER AS CONDUTAS DOCENTES E A AUTOESTIMA DO ALUNO: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR Monografia apresentada ao curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce, como requisito para aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. Governador Valadares, ______ de_____________ de 2011. Banca Examinadora: ____________________________________________________________ Professora Mestre Adelice Jaqueline Bicalho - Orientadora Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE _____________________________________________________________ Professor Omar Azevedo Ferreira Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE _______________________________________________________________ Professor Roberto Jorio Filho Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE Dedicamos aos nossos professores, pela participação na nossa formação profissional e contribuição para o nosso desenvolvimento pessoal. AGRADECIMENTO Agradecemos à nossa orientadora, a professora mestre Adelice Jaqueline Bicalho, pela atenção, paciência e carinho, além das orientações, que foram indispensáveis para a realização deste trabalho. “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.” (Rubem Alves). RESUMO Esta pesquisa bibliográfica discute a interferência das condutas docentes na formação da autoestima positiva do aluno. Para tanto, inicia-se conceituando autoestima e descrevendo sua importância para a vida do indivíduo. Caracteriza a interação professor-aluno, o que inclui a importância do professor para o aluno como adulto significativo, cujas atitudes interferem na formação da autoestima positiva do aluno. Traz algumas práticas docentes favorecedoras de um clima propício ao desenvolvimento global do aluno. Por último faz uma reflexão acerca da contribuição da psicologia escolar para a temática em questão, atendendo às demandas referentes à interação professor-aluno e as formas de interações sadias que promovam o crescimento pleno do aluno. Este estudo segue uma abordagem qualitativa de revisão bibliográfica com o propósito de responder a seguinte pergunta norteadora: Em que aspectos as condutas docentes interferem na formação da autoestima positiva do aluno? Busca-se como objetivo geral analisar sob o viés da psicologia escolar, a relação existente entre as condutas docentes e a formação da autoestima do aluno. Os objetivos específicos são: conceituar autoestima; caracterizar a interação entre professor e aluno; compreender as condutas docentes negativas e aquelas favorecedoras do desenvolvimento positivo da autoestima do aluno; refletir sobre as contribuições da psicologia escolar para melhorar a interação entre professor e aluno no contexto da sala de aula. Conclui-se que as condutas docentes podem interferir na formação da autoestima do aluno, prejudicando seu desenvolvimento, e que o psicólogo escolar deve atuar na promoção de interações sociais positivas que favoreçam o bem-estar de todos envolvidos, principalmente alunos e professores. Palavras-chave: Autoestima. Interação professor-aluno. Psicologia escolar. ABSTRACT This literature discusses the interference of the conduct of teachers on student's positive selfesteem. To this end, self-esteem begins conceptualizing and describing its importance to the individual's life. Characterizes the teacher-student interaction, including the importance of teacher to student as significant adult, whose attitudes interfere with the formation of positive self-esteem of students. Bring some teaching practices favoring an environment conducive to overall development of the student. Finally some thoughts about the contribution of school psychology for the theme, given the demands concerning the teacher-student interaction and ways to promote healthy interactions in the full growth of the student. This study follows a qualitative approach to review in order to answer the following guiding question: What aspects of teaching behaviors interfere with the formation of positive self-esteem of the student? Search is aimed at analyzing the bias in school psychology, the relationship between teacher behaviors and student self-esteem training. The specific objectives are: to conceptualize self-esteem, to characterize the interaction between teacher and student, faculty understand the negative behaviors and those favoring the development of positive self-esteem of pupils; reflect on the contributions of educational psychology to improve interaction between teacher and student in the context of classroom. We conclude that the conduct teachers can influence the formation of student self-esteem, impairing their development, and that the school psychologist must act in promoting positive social interactions that favor the well-being of all involved, especially students and teachers. Keywords: Self-esteem. Teacher-student interaction. School psychology. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................................9 1 SOBRE A AUTOESTIMA........................................................................................................12 2 AÇÕES DOCENTES E A FORMAÇÃO DA AUTOESTIMA............................................19 2.1 O CONTEXTO DA SALA DE AULA.....................................................................................19 2.2 A INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNO.................................................................................23 3 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR..............................................................33 4 CONCLUSÃO............................................................................................................................40 REFERÊNCIAS............................................................................................................................43 9 INTRODUÇÃO A presente pesquisa visa compreender em que aspectos as condutas docentes interferem na formação da autoestima positiva do aluno. Serão tratadas como condutas docentes as atitudes do educador tanto no que se refere às relações interpessoais que mantém com seus alunos, quanto às práticas pedagógicas que adota na sala de aula, pois ambas podem interferir na formação positiva da autoestima do aluno em processo de aprendizagem. A escola é um lugar onde o estudante passa boa parte do seu tempo diário, se relacionando com colegas, professores, e demais funcionários da mesma. A escola é mais que um espaço de aprendizagem de conteúdos curriculares, mas também de desenvolvimento pessoal. Buscar-se-á compreender as condutas docentes e sua interferência no desenvolvimento do aluno, principalmente na sua autoestima, através das relações estabelecidas entre ambos no espaço escolar e através das interações na sala de aula, bem como pelas práticas pedagógicas ali exercidas. Os termos criança e aluno serão utilizados, no decorrer da pesquisa, sob o mesmo sentido e ótica; mas sabe-se que o aluno no geral também é adolescente e/ou adulto. A autoestima é um fator muito importante no desenvolvimento de uma pessoa, ela influenciará de forma muito significativa a maneira como o indivíduo conduzirá sua vida, como se dará suas relações interpessoais, sua relação com o trabalho, como enfrentará situações difíceis ao longo da sua vida, podemos dizer que, a autoestima colabora de forma muito importante para que uma pessoa tenha sucesso na vida, ou seja, que consiga realizar com êxito as coisas que muitos realizam, como ter um trabalho, uma família, amigos e estar bem consigo mesmo. Diferente do autoconceito que é o conceito que o indivíduo atribui a si mesmo, a forma como se descreve, como define suas características físicas, personalidade, crenças e opiniões, autoestima se refere ao valor que o indivíduo atribui a si mesmo, tem a ver com o gostar de si, valorizar-se, ter boa imagem de si, ser confiante e seguro nas suas relações consigo e com o mundo. 10 É importante para a psicologia escolar compreender como as condutas docentes interferem na formação da autoestima positiva do aluno, visto que ela se ocupa das relações que determinam de forma direta ou indireta a qualidade da aprendizagem, das relações estabelecidas entre o aluno e o objeto de conhecimento, as quais se dão principalmente na interação entre o professor e o aluno, além das relações entre alunos e seus pares e entre alunos e demais personagens da escola. Assim podemos dizer que as interações que afetam a relação entre o estudante e seu objeto de conhecimento é de interesse da psicologia escolar. A partir da compreensão do papel do professor na formação da autoestima do aluno e o modo com que ela se constrói neste espaço relacional, é possível pensar em novas formas de atuação dentro da escola que favoreça o desenvolvimento pessoal do aluno, para que este se sinta motivado e valorizado neste e em outros contextos de sua vida. Um fator motivacional para o desenvolvimento desta pesquisa se deu pela percepção de que o sistema de ensino brasileiro enfrenta graves problemas como a indisciplina, a violência, o bullying, dificuldades de aprendizagem dentre outros. E que, embora estes problemas sejam de ordem social, a escola colabora para seu agravamento, principalmente através das dificuldades de interação entre os agentes educacionais. Percebe-se que apesar de todas as mudanças sociais, as tecnologias da informação, os saberes produzidos pela ciência, inclusive a psicologia, a escola mudou muito pouco e práticas que já deviam ter sido superadas continuam a fazer parte do cotidiano escolar. Dada a importância do educador, principalmente no papel do professor, de ser um agente implicado não somente na aprendizagem de conteúdo curriculares, mas de relações humanas, e como participante e formador da personalidade, é de suma importância compreender como esta relação está acontecendo, como o educador participa da formação da auto-estima do aluno, quais condutas interferem no desenvolvimento positivo da autoestima e como deve ser sua atuação para que favoreça o desenvolvimento global do aluno. A pesquisa traz como objetivo geral analisar, sob o viés da psicologia escolar, a relação existente entre as condutas docentes e a formação da autoestima do aluno. Os objetivos específicos são: conceituar autoestima; caracterizar a interação entre professor e aluno; compreender as condutas docentes negativas e aquelas favorecedoras do desenvolvimento positivo da autoestima do aluno; refletir sobre as contribuições da psicologia escolar para 11 melhorar a interação entre professor e aluno no contexto da sala de aula e da escola como um todo. O estudo segue como método, uma abordagem qualitativa de revisão bibliográfica com o propósito de responder a seguinte questão norteadora: Em que aspectos as condutas docentes interferem na formação da autoestima positiva do aluno? Para melhor discorrer sobre o tema pesquisado, o presente trabalho foi dividido em capítulos da seguinte maneira: No primeiro capitulo será conceituado autoestima, demonstrado sua importância na vida do ser humano e a forma como esta determina a seu comportamento em relação a si mesmo e ao mundo externo. No segundo capítulo será caracterizada a relação professor-aluno, como se dá esta relação na sala de aula, sua importância para a aprendizagem tanto de conteúdos curriculares quanto para o desenvolvimento pessoal do aluno, e será analisado ainda as condutas docentes positivas e sua relação com a formação da autoestima do aluno, como o professor deve agir para criar um clima agradável na sala de aula, onde a interação entre ele e o aluno favoreça o desenvolvimento deste último. O terceiro capítulo tratará da visão da psicologia escolar sobre o tema e como o psicólogo escolar pode atuar de forma a contribuir para que as interações sociais na escola, inclusive entre professor e aluno sejam promotoras de crescimento pessoal e social para alunos e para os demais agentes implicados no processo educativo. Acredita-se que, a escola é um lugar de humanização, de construção de conhecimento, de valores, de ética, porém não tem cumprido este papel como deveria. Portanto, deve tornarse um lugar melhor, diferente do que tem sido atualmente. Sabe-se que a escola não é a única responsável pela formação da autoestima, mas possui uma grande responsabilidade neste processo. A escola é imprescindível para o desenvolvimento humano, necessita formar sujeitos mais críticos, confiantes, sadios, que possam ser promotores de novas realidades sociais. 12 1 SOBRE A AUTOESTIMA Soler (2005) destaca a autoestima como uma importante necessidade humana, indispensável para um desenvolvimento normal e saudável. A autoestima expressa a confiança na capacidade de pensar e enfrentar desafios da vida e, ainda, expressa confiança no direito de ser feliz, isto significa que a pessoa se julga merecedora e digna de expressar suas necessidades, qualidades, desejos e desfrutar do resultado de seus esforços. Coopersmith (1967) apud Gobitta e Guzzo (2002) conceitua autoestima da seguinte forma: ...a avaliação que o indivíduo faz, e habitualmente mantém, em relação a si mesmo. Expressa uma atitude de aprovação ou desaprovação e indica o grau em que o indivíduo se considera capaz, importante e valioso. Em suma, a auto-estima é o juízo de valor que se expressa mediante as atitudes que o indivíduo mantém em face de si mesmo. É uma experiência subjetiva que o indivíduo expõe aos outros por relatos verbais e expressões públicas de comportamentos”. (COPERSMITH, 1967 apud GOBITTA E GUZZO, 2002) A autoestima é então, a valorização pessoal do indivíduo, representa o quanto ele se acha competente, capaz, valioso. E isto será refletido em seu comportamento, suas ações terão a influência da sua autoestima. Para Soler (2005) a autoestima é a soma de dois aspectos, a auto-eficiência, que é a confiança no funcionamento da mente, na própria capacidade de pensar e de entender os fatos da realidade, interesses e necessidades; o outro aspecto é o auto-respeito, que significa ter certeza dos próprios valores, acreditar no seu direito de viver e ser feliz, se sentir bem ao afirmar de maneira apropriada o seu pensamento, sentimentos, necessidades, desejos, vendo a felicidade como um direito natural. Para este autor, a auto-eficiência e o auto-respeito são os dois pilares da autoestima, representam sua essência, se um deles estiver ausente, a autoestima estará comprometida. Já Coopersmith (1967) apud Berns (2002) aponta quatro fatores que compõe a autoestima: a competência, que se refere ao sucesso em cumprir as exigências de desempenho; o poder, que envolve a capacidade de controlar e influenciar as outras pessoas; a virtude, que se refere à obediência a padrões morais e éticos e por último a importância da 13 aceitação, a afeição e atenção por parte dos outros. Portanto, para se ter um alto nível de autoestima é preciso que o indivíduo perceba que cumpre as exigências de desempenho do seu grupo social, além de exercer algum poder de influência sobre estas pessoas e ainda considerar o seu comportamento moral e ético como um bom comportamento, se sentindo aceito e estimado pelos demais. Na concepção de Branden (2000) e Rosenberg (1956) apud Avanci et al (2007) a autoestima é classificada em três níveis; alto, médio e baixo. A baixa é caracterizada pelo sentimento de incompetência, inadequação à vida e incapacidade de superação de desafios. A alta é caracterizada pelo sentimento de confiança e competência, e a média caracteriza-se por uma alternância de sentimentos de adequação e inadequação, o que causa por sua vez, uma inconsistência no comportamento do indivíduo. Para Erthal (1999), uma pessoa pode estar satisfeito ou desapontado consigo mesmo. Quando ela tem uma autoestima positiva tende a catalogar todos os seus possíveis prêmios ou méritos. A autoestima é essencial para um funcionamento eficaz, ou seja, realizar feitos tão bons quanto à maioria das pessoas. A baixa autoestima, por sua vez, atrai todas as experiências catastróficas, pois quando se antecipa os julgamentos desfavoráveis dos outros, escolhe-se justamente os comportamentos que os propicie. Se a pessoa se julga não merecedora do reconhecimento dos outros, ela vai se comportar de forma que suas expectativas sejam confirmadas, vai se comportar de forma que os outros não reconheçam seus méritos. Soler (2005) considera que as pessoas com um alto nível de autoestima são mais criativas, confiam mais em suas intuições se submetendo menos ao sistema de crenças de outras pessoas, são mais auto-suficientes, valorizam mais suas percepções e sua produção mental. Assumem toda responsabilidade pela própria existência, não culpando os outros pelos seus erros e fracassos, reage bem a mudanças sem apego inadequado ao passado. Tem mais disponibilidade para admitir e corrigir seus erros quando os comete, tem forte orientação para a realidade, a verdade tem mais valor do que estar certo. Do contrário, as pessoas com um baixo nível de autoestima, não valorizam suas próprias idéias, não as considera potencialmente importantes, assim, com também não se consideram dignos de importância, tem dificuldade diante de mudanças, em lidar com o novo e, ao dominar o desconhecido, sente-se insegura. 14 Coopersmith (1967) apud Gobitta e Guzzo (2002) acrescenta ainda: Uma pessoa com auto-estima alta mantém uma imagem bastante constante das suas capacidades e da sua distinção como pessoa, e que pessoas criativas tem alto grau de auto-estima. Estas pessoas com auto-estima alta também tem maior probabilidade para assumir papéis ativos em grupos sociais e efetivamente expressam suas visões. Menos preocupados por medos e ambivalências, aparentemente se orientam mais diretamente e realisticamente às suas metas pessoais. (COPERSMITH, 1967 apud GOBITTA E GUZZO, 2002) A pessoa com uma boa imagem de si mesmo é mais criativa, busca a realização das suas metas, além de que tem mais probabilidade de assumir papéis ativos em grupos sociais, o que é muito importante para a sociedade, pois esta precisa de pessoas que possam participar ativamente nas comunidades na luta por seus direitos sociais. A autoestima exerce grande influência na forma como a pessoa percebe o mundo à sua volta, pois o valor que será atribuído aos estímulos que recebe e às suas experiências, depende do conceito que tem de si mesmo, seu comportamento se guia pelas qualidades e valores que percebe em si mesma. Desta forma, a autoestima se constitui num fator determinante nas relações interpessoais do indivíduo, já que este enxerga o mundo e os outros de acordo com a valorização que atribui a si mesmo. Conforma Sánchez e Scribano (1999), uma pessoa que atribui a si mesmo uma valorização positiva assume todas as experiências de sua vida, não ignorando ou distorcendo suas percepções. O seu eu real é bem próximo do seu eu ideal, não demonstra atitudes de defesa e mostra-se aberta a novas experiências, percebe a realidade de forma mais autêntica, aceitando com maior facilidade as outras pessoas. Já as pessoas com uma baixa autoestima são, geralmente, companheiros difíceis, estando com freqüência na defensiva e suas tensões internas dificultam seu relacionamento com outras pessoas. Assim pode-se dizer que a autoestima tem influência sobre o próprio indivíduo e sobre as pessoas que com ele se relacionam. Erthal (1999) vem esclarecer que a maneira como a pessoa encara suas capacidades e os papéis que desempenha na vida representa seu eu real, a interpretação do que ela é. O que ela gostaria de ser, suas aspirações, representa seu eu ideal, aquilo que ela deseja e pensa que deve ser. Quando a pessoa tem uma imagem muito ruim de si mesma, ou seja, uma baixa autoestima ela pode criar uma imagem idealizada para compensar esta imagem negativa. Quando esta imagem idealizada está muito longe da realidade, o indivíduo perde o sentido 15 verdadeiro da sua vida, passa a viver em busca de projetos impossíveis de ser alcançado, o que provoca ansiedade e sensação de fracasso. Segundo Rojas Marcos (2008) o que a pessoa pensa a respeito de si mesma estará sempre acompanhado de um sentimento. Quando opina a seu próprio respeito, esta opinião estará acompanhada de um tom emocional coerente com esta opinião. Se o juízo de valor for favorável, o sentimento será prazeroso, se o juízo de valor for negativo o sentimento que o acompanha será desprazeroso. Os pensamentos vinculados a uma autovalorização positiva são de competência, confiança e orgulho de si mesmo e os sentimentos são de alegria, segurança e bem-estar. Já uma autovalorização negativa traz consigo reprovações, condenação, sentimento de vergonha, de culpa, de decepção e de fracasso. Sanchez e Scribano (1999) consideram que a partir de muitas pesquisas realizadas sobre a autoestima foi deduzida a importância da mesma para um comportamento social, afetivo e intelectual adequado: Observou-se que, quando não possui um autoconceito adequado, uma pessoa não pode estar aberta a suas próprias experiências afetivas, e principalmente aos aspetos desfavoráveis do seu caráter. Por outro lado, uma pessoa com baixa auto-estima não se mostra como é frente aos outros e sim representa para eles os papéis que considera oportunos em cada momento. Aspectos como a autodeterminação ou a independência afetiva também são afetados negativamente pela carência de um autoconceito bem desenvolvido. A falta de auto-estima influi de forma notável no bem-estar espiritual, no próprio nível de satisfação e, acima de tudo, na própria saúde e capacidade psíquica. (SANCHEZ E SCRIBANO, 1999, p. 13-14) Ainda em relação a influência da auto-estima nas relações interpessoais, Soler (2005, p. 108 ) afirma que: “ Quem possui uma auto-estima elevada, tem como consequência uma aloestima¹ (amor, estima aos outros) também elevada. Ela quer o melhor para si, mas não em detrimento dos outros, ou seja que os outros também tenham o melhor.” Esta afirmação demonstra a importância da autoestima pra as interações sociais do indivíduo, para o meio em que ele vive. ______________ ¹Alo: Radical grego www.educacional.com.br. que significa outro, acesso em 20/05/2011, disponível em 16 Ter alto nível de autoestima é importante para as realizações do indivíduo, para que se sinta seguro, competente, capaz, valorizado, pertencente a seu grupo social e com relações interpessoais saudáveis. A autoestima é a base para uma boa saúde psicológica. Afinal é difícil ter uma vida satisfatória nutrindo sentimentos de incapacidade, de incompetência, isto traz frustração, mal-estar, prejudica a vida da pessoa e a impede de viver de acordo com suas reais possibilidades. A autoestima desenvolve-se desde o nascimento da criança, através da interação desta com as pessoas significativas que a cercam, principalmente os pais, e ainda, avós, tios, e outras pessoas da família. Desenvolve-se primeiramente através da linguagem não verbal, que são as atitudes que os pais têm com a criança na forma de fornecer-lhe os cuidados básicos, de atender suas necessidades e desejos, nas reações a seus atos, aplaudindo, mostrando interesse ou reprovando e até na forma como a pega no colo. E posteriormente através do que é verbalizado ao seu respeito. (MOYSÉS, 2007) Para Alencar e Virgolim (1993) apud Virgolim et. al (2008), as pessoas significativas dizem coisas sobre a criança, as qualidades, os defeitos que percebem nela, os comportamentos que os deixam tristes ou felizes, desta forma vão lhe colocando rótulos. A criança, como ainda não possui a capacidade de julgamento, aceita estes rótulos, sem questioná-los e os agrega à sua autopercepção. E quando se insere em novos contextos leva consigo estes conceitos que formou de si mesma e a ele são agregadas novas percepções. Assim, a autoestima é conseqüência das avaliações realizadas pelas pessoas que cercam a criança, que se vê refletida na imagem que estas pessoas lhe oferecem de si mesmo, como se fossem um espelho, assim o indivíduo se torna aquilo que os outros pensam que ele é. As pessoas participam da formação da autoestima precisam saber como deve ser o ambiente favorável para o desenvolvimento desta, para que sua contribuição nesta formação seja positiva. Um ambiente favorável, segundo Sanchéz e Scribano (1999), é aquele onde a criança tem autonomia para que possa acreditar que é capaz de fazer as coisas por si só, os adultos precisam oferecer-lhe possibilidades de fazer tarefas sozinha e a tratá-la como capaz de fazer estas tarefas. Atitudes de superproteção, controle excessivo, considerar a criança menos capaz do que ela é, favorece uma baixa auto-estima. Já atitudes democráticas, onde há interação verbal e explicação da conduta por parte dos adultos favorece o desenvolvimento da autoestima, a criança recebe a mensagem de que é importante, porque os adultos lhe explicam 17 as coisas, lhe dão as razões e não apenas ordens. Quando há a falta de aceitação, de afeto, acolhida, do interesse que é mostrado pela criança, será negativa a imagem que ela terá de si mesma, perderá a confiança em si e no pouco valor que acredita ter. A respeito dos elogios, Guilhardi (2002) diz que devem ser específicos, deve se dar destaque maior à criança e não ao comportamento. Deve-se dizer a criança, por exemplo, que está feliz com ela por ela ter se comportado de maneira adequada e não ao contrário, dizer que está feliz com aquele determinado comportamento dela. Os elogios, porém não devem ser feitos apenas como reforçadores pelos comportamentos adequados, devem fazer parte do cotidiano da criança. Os pais devem priorizar sempre a criança e não o seu comportamento. Desta forma a criança se sente amada de verdade, independente do seu comportamento, ela aprenderá a amar a si própria se tornando independente do amor dos adultos significativos, não precisará mais se comportar como os outros esperam para receber amor e reconhecimento, passando a reconhecer suas próprias conquistas. Podemos afirmar, então, que a autoestima se constrói e se define à medida que o indivíduo vai se desenvolvendo, através da influência das pessoas significativas, primeiro no ambiente familiar e posteriormente no ambiente escolar e social e também a partir das próprias experiências de sucesso e de fracasso nestas relações. Sanchez e scribano (1999) falam também da importância de professores e colegas na formação da autoestima: A criança passa uma grande parte do seu tempo na escola com os professores e seus colegas. O aluno se vê envolvido em múltiplas experiências e situações de êxito ou de fracasso. Recebe sistematicamente a influência de seu professor e dos colegas de turma. Nos anos de escolaridade obrigatória, o professor aparece aos olhos dos alunos como uma pessoa especialmente significativa, revestida de um prestígio que lhe dá um notável poder de influência, que se reflete na formação do autoconceito, especialmente do autoconceito acadêmico. Os colegas, por sua vez, condicionam, em grande medida, a estima que a criança desenvolve sobre si mesma. Sua aceitação ou rejeição, o valor que lhe é atribuído, incidem sobre a formação de sua avaliação. (SANCHEZ E SCRIBANO 1999, p. 19) A partir da visão destes autores, fica claro a importância da autoestima positiva para a vida de uma pessoa e também a importância das pessoas significativas na construção desta autoestima positiva. É através das manifestações e das ações das pessoas significativas que se 18 adquire a consciência de ser um indivíduo digno de apreço ou de desprezo. As influências mais importantes são dos pais, as primeiras pessoas significativas. Estas pessoas significativas dizem para a criança de forma explícita ou implícita quem ela é desta maneira vai formando sua personalidade, o qual inclui sua valorização pessoal, sua autoestima. Professores e colegas também participam deste processo a partir do momento em que a criança começa a freqüentar a escola e se inicia a interação neste contexto. Dependendo de como será este processo, ele colaborará para que o aluno construa uma alta autoestima ou uma baixa autoestima. Assim, às percepções que o aluno traz consigo, serão somadas novas percepções que vão construindo a sua auto-estima, na infância e no decorrer do seu próprio desenvolvimento. Reafirma-se que, a autoestima não é dada, inata ou herdada, ela é construída a partir das primeiras relações da criança, através das primeiras pessoas significativas que são os pais, e posteriormente pelas demais pessoas com as quais a criança se relacionará, como parentes próximos, colegas e professores. O que estas pessoas significativas dirão, as mensagens enviadas à criança terá grande valor para ela, adquirindo caráter de verdade que podem ser tanto positivas quanto negativas. Portanto, se for dito a uma criança, de forma verbal ou simbólica que ela não possui valor, ela passará a acreditar nisto. Desta forma, através das relações interpessoais da criança com as pessoas significativas para ela, a autoestima vai sendo construída. As crianças estão começando a freqüentar a escola cada vez com menos idade, passando a se relacionar em outro meio fora do contexto familiar, o que faz com que a escola tenha um importante papel já nos primeiros anos da infância, principalmente os professores, que embora não serão os únicos com quem os pequenos se relacionarão, farão parte dos adultos significativos na formação de sua personalidade. 19 2 AÇÕES DOCENTES E A FORMAÇÃO DA AUTOESTIMA Através de suas atitudes, o professor pode criar na sala de aula um clima emocional positivo, agindo de forma a apoiar o aluno, sendo cordial, afetuoso, fazendo com que o aluno se sinta seguro, condição básica para sua autoestima, ou pode criar na sala de aula, um clima emocional negativo, através das críticas, da repressão, da hostilidade, causando ansiedade, fazendo com que o aluno perca a autoconfiança, descrendo do seu próprio valor. Este capítulo objetiva discorrer sobre o fazer docente e sua interferência na vida do aluno, ambos nos seus diversos aspectos. 2.1 O CONTEXTO DA SALA DE AULA O sistema educacional brasileiro apresenta muitos problemas e com conseqüências sociais preocupantes, deixando claro que este sistema precisa de mudanças, a fim de que a sociedade avance na superação destas conseqüências. Sobre esta necessidade de mudanças, Virgolim (1994) apud Virgolim et al. (2008), diz o seguinte: A escola deve se voltar para a busca de um modo mais saudável de aprender, fortemente vinculada aos aspectos positivos do comportamento humano: ajustamento, felicidade, prazer, satisfação, alegria verdadeira. A escola deve ser atrelada, prioritariamente, ao crescimento pessoal dos indivíduos, voltado também para o relacionamento interpessoal e pessoal, desenvolvendo nos alunos as potencialidades necessárias para que eles se tornem adultos psicologicamente sadios, criativos, conscientes e integrados. Este é o desafio que as escolas devem urgentemente enfrentar. (2008, p.25). A escola deve se tornar um espaço onde professores e alunos possam se desenvolver, aprender uns com os outros. Para Koehler (2003), a escola deve contribuir para a humanização da criança enquanto ser em desenvolvimento, ajudar a reparar as mazelas da violência presente no cotidiano, e que mudanças não dependem apenas dos educadores, mas estes não podem se eximir das implicações dos seus atos seja no processo de aprendizagem, 20 nas relações humanas ou no processo de constituição da personalidade das crianças e adolescentes. Quanto às contribuições negativas da escola no desenvolvimento do aluno, Camacho (2000) apud Marriel et. al (2006) aponta o fazer negativo na prática docente como sendo ainda muito presente no cotidiano escolar, discute-as como uma espécie de violência não física, onde cabe ofensas verbais, humilhações, discriminação, segregação, desvalorização com palavras, atitudes de desmerecimento, sendo que muitas vezes, não ocorre apenas na relação professor-aluno, mas também nas demais relações dentro da escola. Há ainda outras formas de violência mais sutis e de menor visibilidade, segundo Guimarães, (1992) apud Marriel et. al., (2006) que também fazem parte do cotidiano escolar. Práticas educativas negativas que precisam ser erradicadas do fazer educativo, como a imposição de conteúdo destituído de interesse para o aluno, que não tem significado para sua vida, a pressão a partir do poder de conferir notas ao aluno, tratamento pejorativo, a ignorância quanto aos problemas do aluno, exposição do aluno ao ridículo, agressões verbais e autoritarismo. Estes não são problemas novos enfrentados pelo nosso sistema de educação, são problemas que fazem parte da história da educação e que caminham junto com a sociedade. Porém é preciso mudar a forma de ver o papel da educação e adotar novas práticas que visem não somente o desenvolvimento intelectual do aluno, mas que contemple seu desenvolvimento global. Infelizmente, o que ainda percebe na prática educacional, é aquele fazer chamado por Freire (1987), de concepção bancária de educação, onde o trabalho do professor consiste em depositar o conteúdo no aluno, que recebe este conteúdo passivamente e vai acumulando-o. Esta relação do aluno com o conhecimento mantém a sua ingenuidade e busca adaptá-lo a sua realidade social, evitando a transformação do seu meio através do pensar autêntico, da crítica, do conhecimento e busca de seus direitos e deveres. Nesta forma de educação a relação educador-educando é pautada na contradição, onde o educador é o que deposita e o educando o que recebe o conhecimento, sendo esta relação algo mecânico, estático, onde não há lugar para o diálogo. 21 A educação comprometida com a liberdade, com a humanização, segundo Freire (1987), é uma educação onde não há esta contradição educador-educando, onde ele, o educador, não educa apenas, através do diálogo, ele educa e é educado, ambos se educam, mediatizados pelo mundo. O conhecimento deixa de ser uma propriedade do professor para ser a incidência da reflexão deste e dos educandos, desta forma a educação se torna um ato reflexivo, um constante desvelamento da realidade, onde emerge a consciência de mundo, onde é possível ter uma postura crítica da realidade. Para que se dê esta verdadeira educação libertadora e humanizadora, Freire (1996, p. 25) descreve os saberes necessários à prática educativa, ou saberes que favorecem um ensino que leva o educando à autonomia, a uma compreensão de mundo construída por si mesma, onde o educador é mediador deste processo, para ele, “ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua produção ou construção”. Entre os saberes considerados pelo referido autor está a rejeição a qualquer forma de discriminação, o reconhecimento da identidade cultural, a consciência do inacabamento do ser, o respeito à autonomia do estudante, o bom senso, a humildade, a alegria, a esperança, a convicção de que a mudança é possível, a curiosidade, a generosidade, o comprometimento, a compreensão da educação como forma de intervenção no mundo, liberdade, autoridade, saber escutar, disponibilidade para o diálogo, querer bem aos estudantes. Estes saberes, verdadeiramente adotados pelo educador são, sem dúvida, muito importantes para desenvolver a autoestima dos educandos, pois são saberes que se relacionam à autonomia, ao respeito à aceitação do outro na sua diversidade cultural, ao dialogo, ao querer bem ao educando, são práticas intimamente ligadas ao desenvolvimento da autoestima. A educação deve ajudar a desenvolver o potencial de cada aluno, dentro das suas potencialidades e limitações. Precisa praticar a pedagogia da compreensão contra a pedagogia da incompreensão, da intolerância, da rigidez do pensamento único, da desvalorização dos alunos com dificuldades, sejam elas quais forem, é preciso praticar a pedagogia da inclusão. Não se deve permitir que na sala de aula, alunos sejam excluídos por professores e por colegas, que sejam ignorados, que alguns alunos sejam supervalorizados em detrimento de outros, que suas dificuldades emocionais não sejam levadas em conta. (MORAN, 2007, p.57) Para Moram (2007) questões como estas se dão na sala de aula porque a escola dá mais importância à formação intelectual e deixa de lado a parte afetiva e emocional. O professor 22 não tem uma formação afetiva e emocional e tende mais a enxergar os erros do que os acertos além de que, muitas vezes, a própria autoestima do professor é baixa, principalmente pela sua desvalorização profissional e pelas condições estressantes de trabalho. Freire (1996) fala também das dificuldades enfrentadas pelos professores, dificuldades estas que persistem no tempo, como os baixos salários, as condições de trabalho e outras, porém ele entende que, as dificuldades não eximem os professores de uma prática comprometida com a responsabilidade de que necessita de uma atuação que cumpra seu papel de formador de cidadãos. Meleiro (2007) aponta como dificuldades enfrentadas por muitos professores, principalmente no setor público, a temperatura elevada na sala de aula, principalmente nos meses mais quentes do ano, a iluminação inadequada, o barulho intenso, o numero excessivo de alunos na sala de aula, o uso de drogas entre os alunos, a falta de limite de alguns alunos que não respeitam o professor e ainda a meta do Ministério de Educação e Cultura de reduzir o índice de analfabetismo, o que acaba desgastando muito o professor que tem que fazer um grande esforço para aumentar as notas dos alunos com dificuldades na aprendizagem. As escolas não proporcionam aos professores materiais necessários para atividades criativas, inibindo as atividades que demandem estes recursos. A insatisfação e a falta de perspectivas de crescimento desestimulam os professores, que passam a encarar seu trabalho diário como um fardo pesado e sem gratificação pessoal, diminuindo sua motivação no dia-a-dia, o que gera queda no seu desempenho, frustração, alteração de humor e conseqüências físicas e mentais advindas do estresse. São muitas as dificuldades enfrentadas pelos professores e muitas as cobranças, pois recai sobre eles a grande responsabilidade de ensinar e ao mesmo tempo formar pessoas dentro deste complexo quadro que se encontra a educação. É necessário que o educador não desanime, pois a sociedade precisa que desempenhe seu papel da melhor maneira, mas é preciso também que a sociedade reconheça seu papel de formador de cidadãos e lhe propicie melhores condições de trabalho. É no contexto da sala de aula que o aluno passa a maior parte do tempo em que se encontra na escola e é neste espaço que se dá a sua interação com o professor, este deve então ser um lugar privilegiado para o crescimento do aluno. Infelizmente devido ao não preparo 23 dos educadores e das dificuldades que enfrentam no seu dia-a-dia, suas condutas podem ser prejudiciais à autoestima do aluno. 2.2 A INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNO Interação social pode ser definida como a influência mútua ou recíproca entre as pessoas, ou relação entre os indivíduos em que o comportamento de um deles é estímulo para o comportamento dos outros. (CABRAL e NICK, 2006, p. 172). A influência mútua é uma característica de toda interação humana e na interação professor-aluno não se limita à área do conhecimento. A responsabilidade maior da qualidade desta influência está no professor, pois é ele quem controla a situação e estrutura da sala de aula, além de que dispõe de maiores recursos para sua ação, como a autoridade, própria do seu papel. (MORALES, 2003, p. 164) French e Raven (1972) apud Coutinho e Moreira (2001), apresentam as bases fundamentais de poder que são utilizados por uma pessoa para influenciar outra, estas bases são: o poder legítimo, aquele instituído oficialmente, baseia-se no reconhecimento do papel institucional do líder, o que lhe confere o direito de ditar comportamentos; o poder de coerção, que é baseado na possibilidade de uma pessoa infligir castigos caso a outra não obedeça; o poder de recompensa ocorre quando uma pessoa tem a capacidade de influenciar à outra em virtude da possibilidade de recompensá-la; o poder de referência, quando um indivíduo se identifica com o outro por possuírem pontos de vista e valores semelhantes e o poder especializado, aquele que se baseia no reconhecimento da capacidade do indivíduo em uma determinada área do conhecimento. Para Coutinho e Moreira (2001), quando a relação professor-aluno é baseada no modelo de poder legitimado, é conferido ao professor o direito de determinar quais comportamentos são aceitos e quais não serão, ou seja, ele dita as regras da sala de aula, no que diz respeito à sua dinâmica, à sua disciplina, e aos conteúdos curriculares. A liderança coercitiva é percebida na sala de aula quando o professor utiliza recursos como atribuição de notas baixas, expulsão da sala de aula, reprovações como forma de punição e outros. O poder de 24 recompensa dá-se na sala de aula quando o aluno percebe que o professor poderá recompensálo por um bom comportamento, assim passa a agradá-lo cuidando bem do seu material escolar, sendo pontual às aulas, tirando boas notas. Quando o aluno toma o professor como referência busca uma relação de afetividade com o professor, o que não é ruim, mas pode levá-lo a se submeter à vontade do mesmo. O poder especializado é exercido pelo professor quando o aluno percebe a sua competência profissional, a sua segurança na condução da classe. Para as referidas autoras, os professores geralmente exercem mais de uma forma de liderança sobre seus alunos, e aquela baseada no poder especializado é superior as demais formas quando se quer chegar a uma liderança mais democrática e preocupada com o desenvolvimento do aluno. Sobre a influência que o professor exerce sobre seus alunos, Freire (1996) diz o seguinte: O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum desses passa pelos alunos sem deixar sua marca. (FREIRE 1996, p. 73) Pode-se dizer então que a relação entre professor e aluno é uma relação dinâmica, onde ambos se influenciam mutuamente, e se comportam de acordo com a percepção que um tem do outro. Para Piletti (1986), a percepção é um fator de grande importância na interação social, um depende do outro. A atuação do professor na sala de aula dependerá da sua percepção, a percepção que tem dos seus alunos influenciará na sua interação com eles. O professor se aproximará mais daqueles alunos com os quais se simpatiza mais, e o mesmo acontece com os alunos, se aproximarão mais daquele professor que lhe fazem sentir bem e mais valorizados. Este afastamento ou aproximação, simpatia ou antipatia que sentimos por outra pessoa depende da percepção que temos da mesma, sendo a percepção um fator importante na interação social. Para este autor se o professor tiver uma percepção errada de um aluno, irá tratá-lo de acordo com esta percepção errada, se achar que um aluno não é capaz e tratá-lo desta forma, o mesmo poderá vir a se comportar de forma incapaz como é esperado pelo professor, o que ele chama de profecia auto-realizadora. 25 Patto (1986) apud Morais e Souza (2000) define profecia auto-realizadora como a concretização do que se espera de uma pessoa, principalmente quando a primeira tem poder sobre a segunda. Esta postura do professor o leva a desacreditar nas possibilidades de determinados alunos, deixando-os à margem do processo em sala de aula, o que acaba por levar à confirmação da crença do professor, pois o aluno na medida em que é deixado de lado, desacreditado, se torna um aluno desmotivado, descrente de suas capacidades. Piletti (1986) considera ainda que, uma percepção errada pode ainda levar ao preconceito, o fato do aluno ser repetente, morar em uma comunidade carente, se vestir de determinada forma, pode levar o professor a julgamentos falsos, baseados em uma realidade parcial sobre o aluno, passando a tratá-lo de forma preconceituosa. Quanto a estes julgamentos preconceituosos, Piletti (1986) recomenda que o professor tome certas precauções, evitando juízos apressados sobre os alunos, procurando compreender as razões dos seus comportamentos, pode fazer isto observando constantemente o comportamento dos mesmos, ter conversas formais ou informais com estes e seus pais, pois, o preconceito não permite que se conheça a pessoa como ela realmente é, e todas as pessoas têm potencial de aprendizagem, o professor deve buscar conhecer estes potenciais e desenvolvêlos, mas se basear seu trabalho em percepções erradas e preconceituosas sobre os alunos, isto não poderá ser feito. Leite (1979) faz esta consideração sobre a importância da percepção das qualidades do aluno, ele concorda que a qualidade percebida pelo professor tende a ser acentuada. O problema reside, segundo ele, no fato de que, as escolas dão mais valor às qualidades intelectuais e de conformismo social e só são acentuadas estas duas qualidades. O que acontece então, é que, aqueles alunos que não apresentam estas qualidades buscam outras formas de serem notadas, através do exibicionismo, da indisciplina, da hostilidade, e se torna um círculo vicioso, os alunos bons ficam cada vez melhores e os alunos ruins ficam cada vez piores. E ainda há professores que tendem a valorizar o lado positivo das pessoas, enquanto outros têm a tendência de valorizar o lado negativo. Outro ponto a ser considerado na interação professor aluno, é o papel do professor enquanto modelo. Muitas vezes este não tem consciência deste seu papel, da possibilidade que seus comportamentos, crenças, valores sejam copiados. Muitas vezes, se aprende mais 26 com o que o professor faz do que o que ele diz. Por ser um exemplo, pode transmitir a eles atitudes tanto positivas quanto negativas. Para Morales (2006) muitas coisas nós aprendemos por imitação de modelos. Aquele professor que é querido e estimado será aquele com o qual os alunos mais se identificarão. Desta forma ensinará sem se dar conta, através do seu jeito de ser, dos seus comportamentos na sala de aula. As suas atitudes demonstradas na sala de aula, como sua disponibilidade, seu interesse manifestado por todos igualmente, a paciência e a preocupação em preparar aulas interessantes, influencia a atitude dos alunos em relação a quem ensina, em relação à matéria ensinada, a escola, e inclusive a respeito de si mesmos. Ou seja, ao se sentir valorizado, o aluno também se valorizará. Morales (2006) ressalta a importância da consciência docente desta forma implícita de ensinar sem intencionalidade, e se o que está ensinando é positivo e deve ser reforçado. Ressalta ainda que, a instituição escolar também deve fazer esta mesma reflexão, da mensagem que está passando para seus alunos, pois o que é importante é demonstrado através das ações. As atitudes da escola dizem para o aluno o que é importante e o que não é, isto inclui o aluno, se este tem valor ou não. Outro fator importante na interação professor-aluno, segundo Piletti (1986) é o clima psicológico na sala de aula, este pode ser favorável ou desfavorável ao crescimento pessoal dependendo do tipo de liderança que o professor exerce. Se for do tipo democrático, as chances de sucesso, de crescimento de ambos será maior, porque quando o professor ouve seus alunos, estimula sua participação, consegue melhores resultados que professores mais frios e distantes, mesmo estes sendo mais competentes no conteúdo que ensina, o que evidencia a importância da afetividade na sala de aula. A liderança democrática permite aos alunos se tornarem mais responsáveis e independentes e sabemos que a autonomia é um fator positivo para a promoção da autoestima. Por outro lado, o professor que exerce uma liderança autoritária, determinando tudo que os alunos devem fazer, que não diz aos alunos os critérios das avaliações, que acha que as notas não merecem discussão, que não participa das atividades da turma, leva os alunos à apatia e à agressividade. Neste tipo de liderança, quando o professor se ausenta, os alunos deixam as atividades de lado e começam comportamentos agressivos e destrutivos, mostrando sua insatisfação com a situação. “O professor deve sempre procurar estimular, ao invés de punir, orientar, ao invés de forçar, compreender ao invés de condenar” (PILETTI, 1986, P. 88). 27 Tricoli (2007) explica como o aluno se torna apático ou agressivos dentro da sala, para ela, quando o professor grita com um aluno, expondo-o perante a turma, mesmo que o aluno não se sinta atingido por esta atitude, outro aluno que esteja assistindo a cena pode ficar com medo de participar da aula, se tornando recluso e isolado para não chamar a atenção e correr o risco de ser exposto. Ou ainda, um aluno que queira chamar a atenção, aprenderá fazê-lo, imitando o colega, podendo se tornar um líder negativo, tendo comportamentos ainda mais inadequados para monopolizar a sala de aula. Para a referida autora: O professor agressivo, que grita para colocar ordem em classe, com certeza, após um período de convivência com esses alunos, terá em sua classe pessoas parecidas com ele, falando alto e agredindo a todos, inclusive a ele próprio, ou alunos mais calados, retraídos, com medo de receber um grito (violência verbal) diante de alguma colocação, todavia, o professor calmo e seguro conseguirá que sua turma torne-se calma e segura ao longo do ano. (TRICOLI, 2007, p. 97) Para Voli (2000) a autoestima do professor interfere na sua tarefa diária e é base de uma tarefa educativa e afetiva que dá o verdadeiro significado ao ato de educar. O professor deve estar em sintonia consigo mesmo e com seus alunos para que possa reconhecer neles e em si mesmo os recursos necessários para o desenvolvimento de suas potencialidades, para que possam se valorizar. Sobre a sintonia do professor consigo mesmo e com os alunos, Leite (1979) diz que, quando isto não acontece, o professor não interage de forma legítima com os alunos, não tem autocrítica, assim pode demonstrar preferência por determinado aluno, causando revolta nos demais, pode ignorar o fato dos alunos não gostarem da forma como dá aulas, pode ignorar a opinião dos alunos e não se dar conta desta forma de comportar. E ainda há outro ponto importante, quando o professor não se conhece, ele pode não enxergar nos alunos aquelas qualidades que não enxerga em si mesmo, ou ainda, pode supervalorizar aquela qualidade que gostaria de ter ou vir a rejeitar um aluno que tem uma característica que rejeita em si mesmo. Por isto é importante o autoconhecimento para o professor, ter consciência da forma como atua na sala de aula e compreender o porquê das suas atitudes. Para Voli (2000) quando o professor tem uma autoestima elevada, isto se refletirá no seu comportamento e no dos alunos, pois: 28 A projeção de si mesmo que envia à classe é recebida por seus alunos, que por sua vez vão se sentindo seguros, reforçados em seu próprio autoconceito, partes integrantes do grupo, motivados a aprender e conscientes da sua capacidade de fazê-lo. Sua projeção motiva seus alunos a entrar por si mesmos em uma situação de autoestima e, por tanto, de autodisciplina, auto-responsabilidade e auto-realização. (VOLI, 2000, p. 147) Quanto ao conhecimento do comportamento do aluno e da sintonia do professor com estes, Leite (1979) considera que, embora as crianças e adolescentes vivam intensamente o universo das relações interpessoais, a escola, muitas vezes, ignora completamente este fato. Chama a atenção para a importância do professor conhecer a dinâmica das relações dos seus alunos, principalmente que conheça o significado dos comportamentos de agressividade, de hostilidade, de perseguição, de liderança. Saber o sentido destes comportamentos para compreender porque seus alunos agem desta forma, assim pode colaborar para modificar este tipo de relação, evitando contribuir para estas relações negativas e também suas conseqüências. A partir do momento que o professor se conhecer, ter uma autoestima positiva, livre de medos excessivos, culpas e vergonhas, expressão de uma baixa autoestima, ele poderá ter outras atitudes com os alunos, sem levar tudo para o lado pessoal, confiará mais no seu próprio juízo pessoal. Isto será um primeiro passo para não desanimar diante da falta de retorno dos alunos, mas sim, rever suas atitudes em relação a eles, ai poderá ser empático e compreensivo, mudara sua forma de se relacionamento e os alunos perceberão seu comportamento e também mudarão. (VOLI, 2000) Segundo a referida autora, quando o professor tem autoestima elevada, cria possibilidades na sala de aula para um clima de segurança e valorização, motivando os alunos através da confiança que transmite a eles, é seguro na sua atuação e compreende os comportamentos dos alunos e consegue se colocar no lugar deles. Sobre o clima de confiança, de empatia e de liberdade na sala de aula, Rogers (1985) os considera essencial para uma verdadeira relação entre professor e aluno. Ele afirma que o educador deve criar condições que promovam a aprendizagem. E que o melhor ambiente promotor desta aprendizagem é resultado da interação humana, principalmente da interação entre o professor e o aluno. 29 Rogers (1985), fala de crescimento pessoal, a partir da liberdade de aprender, fala de atitudes docentes libertadoras, favorecedoras do desenvolvimento pessoal do aluno, o que inclui sua autoestima. A primeira destas atitudes abordadas por ele é a autenticidade, o professor comunica aos alunos o que pensa e o que sente verdadeiramente, sem precisar passar para o aluno uma imagem falsa de si mesmo, não tem necessidade de se mostrar com uma pessoa perfeita, mas sim como alguém que tem qualidades e defeitos. Desta forma o aluno aprende a comunicar de forma verdadeira o que sente, sem precisar negar uma característica que não considera boa, podendo aceitá-la sem culpa, ansiedade ou sentimentos de menos-valia. Rogers (1985) destaca ainda como fundamental as atitudes de empatia, aceitação, apreço e confiança. O professor aceita o aluno como uma pessoa única, que tem valor por si mesmo, como um organismo em desenvolvimento. Aprecia seus sentimentos, suas opiniões, sua pessoa. Tem a sensibilidade de se colocar no lugar do aluno e compreender o que se passa com ele, permitindo-o se sentir aceito incondicionalmente. O professor pode demonstrar este apreço e confiança de várias formas, como, aceitar plenamente o temor e a hesitação com que o aluno aborda um novo problema e a satisfação do aluno com sua realização. Pode aceitar a apatia ocasional do aluno bem como seus desejos de buscar novas formas de explorar o conhecimento. Pode aceitar sentimentos pessoais que perturbam ou promovam a aprendizagem, sentimentos que envolvam a vida do aluno, as suas relações interpessoais, familiares e as dificuldades da fase da adolescência. Pode apreciar o estudante como uma pessoa imperfeita com muitos sentimentos e muitas potencialidades. Axline (1980), também considera essencial um bom relacionamento entre professor e aluno, pois só assim o aluno poderá se desenvolver de forma saudável. Assim como Rogers (1985), ela acredita que o professor deve permitir que o aluno seja ele mesmo, que o compreenda, aceite, reconheça seus sentimentos de maneira a tornar claro o que ele está sentindo e pensando, com estas atitudes faz com que o aluno adquira auto-respeito. A autora deixa claro que os limites devem existir para a expressão de sentimentos e os professores podem, inclusive, proporcionar aos alunos, atividades específicas para este fim. Quando um aluno diz, por exemplo, que odeia o professor e a escola, o professor pode aceitá-lo como uma pessoa que está vivendo um momento difícil, com um problema familiar, ou um problema na própria escola. Este professor pode clarificar para o aluno o que ele está sentindo ao invés de mandá-lo calar a boca ou expulsá-lo da sala. Quando o professor age de forma a aceitar os 30 sentimentos do aluno, ele permite que este aluno perceba a forma como está se comportando, o que está sentindo e assim pode fazer novas escolhas. Para Voli (2002), outro fator muito importante para a formação da autoestima é o respeito. Respeito pelas diferenças de cada pessoa, com seus sentimentos e emoções. Ele eleva o valor e dá importância àquele que respeita e a quem é respeitado. O respeito leva a confiança: “o respeito mútuo faz com que nos dirigimos uns aos outros com uma linguagem verbal ou não-verbal positiva, e nos leva a atitudes, sentimentos e interações motivadoras de auto-estima” (VOLI, 2002, p. 144). Para Leite (1979), o professor deve deixar de valorizar apenas as qualidades intelectuais do aluno, buscar também suas outras boas qualidades, invés de acentuar a inadequação para determinadas tarefas. É preciso fazer a avaliação correta, buscar em cada aluno as suas qualidades positivas para que possam ser desenvolvidas, e também para que o aluno se autoavalie de forma correta. Moran (2007) considera que, para que um professor contribua para o desenvolvimento integral do aluno deve buscar compreender as necessidades dos mesmos, suas características individuais e seu desenvolvimento tanto físico, como emocional, intelectual e social. Deve ter consciência que o aluno é uma pessoa concreta, com preocupações, problemas, defeitos e qualidades, um ser em formação que precisa ser compreendido como tal, pelo professor e pelas demais pessoas da escola, para que possa desenvolver-se de forma harmoniosa e equilibrada. O aluno está na escola como uma pessoa completa, como sujeito de conhecimento e afeto e, segundo Almeida (1999), a escola não pode negligenciar, subestimar ou suprimir o espaço das emoções nas suas atividades. É preciso que a escola e principalmente os professores, saibam lidar adequadamente com a expressão das emoções no seu espaço. É preciso permitir que a emoção seja expressa e que seja entendida para que não se dificulte o desenvolvimento emocional da criança, pois “o desenvolvimento afetivo e intelectual são aspectos diversos de uma mesma e única realidade: o desenvolvimento pessoal do indivíduo. Eles são inseparáveis, pois o desenvolvimento de um depende do desenvolvimento do outro”. (ALMEIDA, 1999, p. 102) 31 Compreende-se aqui que, além da importância do afeto para a vida do aluno, deve-se considerar também que este se encontra em desenvolvimento da personalidade, por isto devese considerar a importância do papel do professor neste processo, pois será também um modelo de identificação. E segundo Stratton e Hayes (1994) a identificação é um processo essencial no desenvolvimento, pois é através dela que se adquire novas características. A identificação refere-se à internalização da aprendizagem imitativa, de modo a tornar-se incorporada ao autoconceito. Ou seja, o professor como adulto significativo terá seu comportamento, atitudes, características imitadas por seus alunos e isso será internalizado por eles, passando a fazer parte da personalidade deles. Assim a atenção que o professor dedica ao aluno se torna ainda mais importante, o seu comportamento poderá fazer muita diferença no desenvolvimento do aluno. Libâneo (2004) também fala das novas atitudes docentes diante das realidades do mundo contemporâneo. Descreve como prática o professor assumir o ensino como mediação, e não como transmissão de conhecimentos, principalmente diante das novas tecnologias da informação. Esta seria uma mediação do aluno com os conteúdos, considerando o conhecimento e experiências e os significados que os alunos trazem consigo, levando também em conta, o potencial cognitivo, a capacidade, os interesses, o modo de pensar do aluno. Para o autor, O professor deve ser aquele que desenvolve a competência de pensar, colocando problemas, perguntando, dialogando com os alunos, permitindo que expressem seus sentimentos, pensamentos desejos, que sua realidade vivida possa estar presente na sala de aula. Entre outras atitudes docentes importantes e necessárias à prática docente, o referido autor fala da importância da integração do exercício da docência com a dimensão afetiva: A cultura escolar inclui também a dimensão afetiva. A aprendizagem de conceitos, habilidades e valores envolve sentimentos, emoções, ligadas às relações familiares, escolares e aos outros ambientes em que os alunos vivem. Proporcionar ao aluno uma aprendizagem significativa supõe da parte do professor conhecer e compreender motivações, interesses, necessidades de alunos diferentes entre si, capacidade de comunicação com o mundo do outro, sensibilidade para situar a relação docente no contexto físico, social e cultural do aluno. (LIBÂNEO, 2004, p. 44) O professor além de ter domínio do conteúdo, deverá saber relacionar-se competentemente, transformando a sala de aula em um lugar prazeroso, participando ativamente do processo de aprendizagem. A sala de aula precisa ser um espaço de convivência, de vida, onde o aluno se sinta motivado, estimulado. O professor precisa ter conhecimento do valor da interação professor-aluno, para não agir como dono do saber e 32 poder compreender a sala de aula como um espaço de relações sociais e afetivas, humanizando o ato de aprender. (KULLOK, 2002) Encontramos também em Piletti (1986) a importância de um clima de liberdade e motivação na sala de aula, ele diz o seguinte: Num clima de liberdade, o aluno motivado pra aprender interessa-se pelo que faz, confia em sua própria capacidade, trabalha com mais dedicação, produz mais e consegue alcançar seus objetivos. O trabalho em liberdade gera alegria e satisfação para quem o faz e resulta em realização pessoal e atitudes positivas em relação aos outros. (PILETTI 1986, p. 92) Quando o aluno não compreende o conteúdo e nada é feito para ajudá-lo, ele acaba por desistir de participar do processo de aprendizagem, perdendo a confiança em si mesmo, podendo no futuro abandonar a escola e buscar outras formas de compensações para sua sensação de fracasso, como o álcool e a delinqüência. Voli (2002) nos diz que, quando o professor tem consciência da importância da autoestima do aluno, ele pode fazer toda a diferença. Dada a importância do professor na vida de um aluno, ele pode fazer a diferença, contribuir para que este desenvolva uma boa autoestima e se torne uma pessoa sadia, que saiba se relacionar consigo mesmo e com as outras pessoas, podendo participar da construção de um mundo melhor para todos, ou pode contribuir para desestimulá-la, fazê-lo acreditar que não é capaz, se tornar apático ou agressivo e ainda contribuir para que ela desista da escola, através do autoritarismo, do preconceito, da incompreensão, levando consigo experiências de fracasso e sentimentos de pouco valor. Como já foi visto, para o desenvolvimento da autoestima é necessário um ambiente de interações saudáveis, estimulador da autonomia, livre de críticas negativas, agressões verbais ou simbólicas e controle excessivo; um ambiente onde haja liberdade, alegria, motivação, afetividade, aliados ao processo de aprendizagem. É preciso que o professor se conscientize da importância do seu papel no desenvolvimento dos seus alunos para que suas atitudes sejam positivas e favoreçam o crescimento destes. 33 3 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ESCOLAR É importante para a psicologia escolar compreender como se dá a interação na sala de aula, para que possa apontar caminhos que resguardem o desenvolvimento positivo do aluno, infelizmente, o que se vê nos últimos tempos é que a educação apresenta sérios problemas e sabe-se também que o sistema educacional não é o único culpado, mas se têm um problema social que se reflete de forma muito grave dentro da escola. Busca-se compreender, através da literatura pesquisada, a forma como a escola está fazendo sua parte, como está contribuindo para o não desenvolvimento pessoal do aluno e propor formas mais adequadas de atuação que contemplem o desenvolvimento global do mesmo para que a sociedade tenha pessoas mais integradas e que possam realizar as necessárias mudanças sociais. Se constitui um desafio o modo como o psicólogo escolar deve atuar diante desta demanda, como ele pode colaborar com a escola na busca de um modo de ensinar e aprender em que sejam considerados os aspectos da formação da autoestima do aluno, levando em conta todos os autores envolvidos no processo. Acredita-se que psicologia escolar, na busca de um modo mais saudável de interação professor-aluno, deve se preocupar também com o professor, e não voltar sua atenção somente para os alunos, suas motivações e interesses. Pensando o processo educacional como uma relação dinâmica entre professor e aluno, não se pode esquecer que os dois elementos são importantes e necessários, são a base da escola, e ambos têm que ser motivo de atenção. Assim deve-se pensar também na satisfação do professor, para que a autoestima deste, associada a do aluno, seja a base para uma interação sadia entre ambos. Para Del Prette e Del Prette (1996), a atuação do psicólogo escolar se dá na e através das interações sociais no contexto da instituição escolar, com caráter essencialmente social que se articula com a atuação dos outros agentes envolvidos no cotidiano da escola, incluindo os pais e a comunidade, o que resulta em um fazer coletivo. Sua atuação deve contribuir para a criação de novos cenários e novas realidades sociais, pois transformações só podem ocorrer através de condições e relações sociais concretas. 34 Para os referidos autores, as interações no contexto escolar, entre o aluno e professor e também com os demais envolvidos com a prática escolar pode facilitar ou dificultar a relação entre o aluno e seu objeto de conhecimento, ou seja, pode facilitar ou dificultar a aprendizagem. E como se trata de interações sociais, nas quais se dão o desenvolvimento social, pessoal, não apenas de aprendizagem de conteúdo intelectual, estas podem ser facilitadoras ou dificultadoras do desenvolvimento total do aluno. Na escola, como um lugar privilegiado de interações sociais, a atuação do psicólogo escolar não podia ser diferente, ele se dará nas interações e através das interações. Sendo assim, ele atua juntamente com todos os agentes da escola, incluindo pais e até a comunidade em que a escola está inserida, o que faz com que sua atuação provoque mudanças além do contexto escolar. As mudanças provocadas na escola se refletirão em mudanças na comunidade. Pessoas integradas, com bom desenvolvimento pessoal e interpessoal, sabedoras de seus direitos e deveres como cidadãos, com certeza farão a diferença em suas comunidades. Esta atuação do psicólogo escolar a partir das interações sociais exige deste profissional capacidade analítica para a compreensão das relações e capacidade instrumental para trabalhar estas relações; como pode ser visto na seguinte citação: A atuação do psicólogo escolar, se orientada por esta perspectiva, requer capacidade analítica para apreender as múltiplas relações que caracterizam a instituição escolar e os agentes nela envolvidos e para identificar necessidades e possibilidades de aperfeiçoamento destas relações, e capacidade instrumental (técnica e interpessoal) para participar de interações construtivas com todos esses agentes. Além de ser capaz de analisar a natureza e a qualidade das relações essenciais (professor-alunoobjeto de conhecimento) e de suporte (as que ocorrem intra e entre os demais agentes – administração, família, especialistas, pessoal de serviços – e destes com os professores e alunos), o PEE deve também ser capaz de contribuir para criar condições de interação com e entre esses agentes, no sentido de definir o projeto pedagógico da escola e o papel de cada um deles na concretização desse projeto e de promover sua capacidade crítica e criativa para avaliarem e conduzirem, entre si e junto aos alunos, relações efetivamente educativas e coerentes com este projeto. (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 1996, p. 153) A partir destas duas capacidades básicas, o psicólogo escolar trabalhará as interações sociais, a partir da sua própria interação neste contexto. Trabalhará na busca de interações que favoreçam o crescimento de todos os envolvidos na instituição escolar, promovendo 35 capacidade crítica para que os próprios agentes avaliem e conduzam relações efetivamente educativas e condizentes com o projeto pedagógico da escola. Andaló (1984) acrescenta que o psicólogo escolar deve assumir o papel de agente de mudanças dentro da escola, atuando como um elemento centralizador de reflexões e conscientizador dos vários papéis desempenhados pelos demais envolvidos no processo educacional. Na sua ação diante dos problemas escolares não deve centralizar seu olhar apenas sobre os alunos, mas sim sobre as relações que se estabelecem neste contexto, levando em conta o meio social em que estão inseridos. Andaló (1984) afirma ainda que em seu trabalho como psicóloga escolar, na perspectiva de agente de mudanças, trabalha com a formação de grupos operativos com os alunos, com os professores, com a equipe técnica, na busca de suscitar a reflexão crítica sobre a instituição, incluindo o processo de ensino aprendizagem, a relação professor-aluno e as mudanças sociais que estão ocorrendo. Procura desfocar a atenção sobre o aluno como única fonte de dificuldades e crise em que a instituição escolar está enfrentando. Busca uma visão global desta crise e as possíveis alternativas de enfrentamento. Sobre a crise que a instituição escolar está enfrentando, Novaes (1996) a caracteriza como uma realidade social complexa, onde os problemas sociais como pobreza, a resistência e transgressão às normas, falta de valores éticos e morais, a busca do prazer imediato, a violência urbana, aumento no consumo de drogas, a crescente desestabilização familiar e outros fatores se refletem na escola, através das relações educativas e do processo ensinoaprendizagem. E diante desta realidade, a psicologia escolar deverá cada vez mais buscar a interdiciplinaridade, ou seja, buscar em outras áreas de conhecimento a compreensão e possíveis respostas a estas questões, além de fazer uma análise constante das implicações socioculturais do processo educativo, pois será cada vez mais cobrado na definição do seu papel na construção da realidade social. Então, cabe ao psicólogo escolar analisar o que a instituição escolar está produzindo e seus efeitos sociais e colaborar para mudanças que se façam necessárias, “deverá procurar trazer contribuições para a sociedade educativa e para a transformação social que envolve as instituições, as famílias, as escolas, assim como as comunidades.” (NOVAES, 1996, p.71). 36 Martinez (2010) também fala da atuação tradicional do psicólogo escolar e as suas novas possibilidades de atuação. Na atuação tradicional, fruto do próprio desenvolvimento da psicologia, que é baseado no modelo médico, clínico de atendimento, o psicólogo escolar trabalhava apenas com o diagnóstico, avaliação e intervenção, principalmente dos problemas de aprendizagem ou de comportamento. Acompanhando as mudanças no âmbito da psicologia, dos seus enfoques teóricos e epistemológicos, de uma nova compreensão de sujeito como parte de um sistema cultural e histórico, o psicólogo escolar pode ampliar sua atuação, fortalecer sua contribuição para otimização da educação. Entre as formas possíveis de atuação do psicólogo escolar, possibilitadas por esta concepção de sujeito constituído cultural e historicamente, citadas por Martinez (2010) está o diagnóstico, análise e intervenção em nível institucional no que diz respeito à subjetividade social da escola, com o objetivo de traçar estratégias de trabalho que favoreçam as mudanças necessárias para otimização do processo educativo. Esta forma de atuação proposta pela autora se pauta no reconhecimento de que os sujeitos se constituem e são constituidores dos contextos sociais em que estão inseridos, buscando a compreensão da forma como se dá estas relações sociais e como as pessoas se sentem e como atuam neste espaço. É o reconhecimento da dimensão psicossocial da escola. Assim o psicólogo escolar trabalhará na dimensão psicoeducativa e na dimensão psicossocial, para otimizar o processo educativo. Andrada (2005) vê como possibilidade de atuação do psicólogo escolar a aplicação de conhecimentos psicológicos na escola no que se refere ao processo ensino-aprendizagem, em análises e intervenções psicopedagógicas e também no que se refere ao desenvolvimento humano, às relações interpessoais e à integração família-comunidade, práticas para a promoção do desenvolvimento integral do ser; além da análise das relações dos diversos segmentos do sistema educacional. Considera que, desde o início da sua atuação na instituição, o psicólogo escolar deve demonstrar como é a visão de sujeito para a psicologia, aquela que vê o indivíduo como um sujeito relacional não como um ente separado do sistema relacional (família, escola). O que pensa dos problemas de aprendizagem, que estes já não podem mais ter um único modelo de explicação, mas sim por múltiplos fatores. Demonstrar o que mais pode oferecer, além do tradicional atendimento individual na sala do psicólogo. Isto pode ser feito em uma reunião inicial com a equipe pedagógica, a direção e os professores, podendo se estender aos alunos e família. 37 A referida autora entende que o psicólogo escolar precisa criar um espaço para escutar as demandas da escola e criar formas de reflexão dentro da escola, com os alunos, professores e especialistas, para que possam ser trabalhadas as relações entre estes agentes. O psicólogo escolar precisa ainda, ouvir os alunos, o que pensam sobre a escola, a sua turma, como os percebem. Ouvir os professores e suas demandas, e ajudá-los a refletir sobre suas práticas para criar novos olhares, principalmente sobre aqueles alunos considerados “problema”. Trabalhar junto com a equipe pedagógica, criando espaço para o diálogo com os professores, principalmente na busca de eliminar as possibilidades de estigmatizar alunos com dificuldades. Buscar a participação da família, confrontando-a com o professor quando for necessário, criando a possibilidade de um diálogo franco, acerca das dificuldades de todos, não só do aluno. Enfim, para a autora, a participação do psicólogo escolar está no cotidiano da escola, na construção do projeto pedagógico e utilizando os conhecimentos da psicologia na busca de novas práticas na instituição escolar. Guzzo (1996) chamando a atenção para a formação de psicólogos escolares no Brasil, levanta a questão da deficiência da formação oferecida pelas universidades brasileiras e da necessidade de revisão urgente e profunda desta formação. Além desta deficiência na formação, há ainda a falta de um modelo de atuação profissional para o Brasil. E que um modelo ideal de atuação do psicólogo escolar deve ser pensado levando-se em conta as características das escolas, tendo em vista necessidades, problemas. Deve-se conhecer a realidade da escola e estar juntos aos profissionais da educação conhecendo suas dificuldades. Além de que sua formação deve estar voltada para os aspectos sociais e políticos do exercício profissional. Ser psicólogo no Brasil, “exige do profissional que carregue com força os ideais da construção de uma profissão moderna, comprometida com a população e de grande impacto transformador nas práticas cotidianas na sala de aula.” (GUZZO, 1996, p.89). A referida autora chama a atenção para os aspectos sociais e políticos na atuação do psicólogo escolar enfatizando que este profissional deve estar atento a nossa realidade social, comprometido e preparado para realizar aquilo que precisa ser realizado, com sentimento de urgência. 38 Ser psicólogo escolar para o Brasil é conhecer as necessidades psicológicas de todas as crianças, ricas e pobres, capacitadas e deficientes, abandonadas e acolhidas por suas famílias; é defender os seus direitos ao atendimento de suas necessidades e à promoção de seu desenvolvimento, sem discriminação ou intolerância de qualquer tipo e grau; é estar peto do professor no seu diaa-dia, seja na creche da prefeitura ou na escola maternal particular, nas escolas de todos os níveis, entendendo o que se passa com ele e ajudando-o a enfrentar suas dificuldades com técnica e sabedoria... (GUZZO, 1996, p. 89) Ser psicólogo escolar inclui defender o direito de todos os alunos, sem preconceito e sem discriminação, buscando o atendimento às suas necessidades e promovendo seu desenvolvimento. Estar próximo aos professores buscando entendê-los e ajudá-los, inclusive nas suas dificuldades de interação com o aluno, buscando práticas saudáveis que resguardem e promovam o desenvolvimento saudável do aluno. Práticas estas já enfatizadas há muito por psicólogos e pesquisadores da área educacional, como Rogers, Paulo Freire, Libâneo e outros citados anteriormente, que se preocupam com a necessidade de mudanças, que a cada dia se faz mais urgente. É necessário que se construa novas relações neste espaço que leve em conta a construção da autoestima e sua implicação para a vida das pessoas e para a sociedade em geral. Sendo a autoestima um fator que afeta a maneira como a pessoa se comporta consigo e com os demais, inclusive com a aprendizagem, e a escola como formadora de pessoas, um lugar de desenvolvimento pessoal, a autoestima se torna um fator importante com o qual a psicologia escolar deve se preocupar. Podemos acrescentar também, que a psicologia escolar busca contribuir para a criação de novos cenários, novas práticas educativas que possam nos levar a novas realidades sociais, lutando para que práticas educativas negativas que comprometem o desenvolvimento saudável sejam substituídas por novas práticas que valorize e que favoreça o desenvolvimento integral do aluno, que ele desenvolva todas suas potencialidades, no presente e futuro, através do desenvolvimento saudável de sua autoestima. Devemos considerar ainda, que ao promover o desenvolvimento dos indivíduos, se está aprimorando a própria espécie humana em sua totalidade. É através das relações consigo mesmo e com a sociedade, da integração do plano individual com o sociocultural, que o indivíduo busca sua própria transcedência. Para Moraes (1997), isto significa que a educação deve se voltar para a formação integral do ser, para o desenvolvimento de sua inteligência, do seu pensamento e da sua consciência, capacitando-o para viver numa sociedade pluralista em permanente processo de transformação. Portanto, a escola deve oferecer condições para o 39 aluno aprender a aprender, desenvolver sua capacidade de pensar, de conviver, de formular hipóteses, construir caminhos, tomar decisões, tanto no plano individual quanto coletivo. Desta forma a escola promoverá de fato, as transformações sociais que são necessárias na sociedade. Estas transformações dependem fundamentalmente do desenvolvimento humano. 40 4 CONCLUSÃO Pode-se dizer que as condutas docentes influenciam na formação da autoestima do aluno durante todo o tempo em que estão interagindo, pois o professor é um adulto significativo para o aluno. O seu papel de condutor do processo educativo lhe dá este poder, assim como a mãe ou o pai, embora em menor grau. Durante esta interação todas as atitudes do professor vão colaborar para a formação da personalidade do aluno, inclusive da sua autoestima. O professor participa da formação da personalidade do aluno servindo-lhe como modelo de comportamento e como modelo de identificação, ou seja, o aluno copiará os comportamentos do professor que posteriormente serão internalizados fazendo parte do autoconceito do aluno. A forma como o professor conduz sua interação com seus alunos contribuirá para sua formação. Portanto, não há dúvidas de que as condutas docentes podem interferir na formação da autoestima do aluno. O professor pode favorecer o desenvolvimento de uma autoestima positiva ou de uma autoestima negativa, sendo esta uma constante preocupação da psicologia aplicada à educação e do psicólogo escolar. As condutas docentes influenciam de forma positiva quando serve de modelo positivo para o aluno, quando suas atitudes são de respeito, de otimismo, de esperança, confiança, de empatia, de aceitação, ou seja, quando o professor trata o aluno e as demais pessoas com respeito, o aluno respeita a si mesmo e aprende a respeitar e tratar os outros com estas mesmas atitudes. Influenciam positivamente também, quando devolve para o aluno uma imagem verdadeira de si mesmo. Interferem de forma negativa na formação da autoestima do aluno, quando negam sua participação no fracasso do aluno e o culpa única e exclusivamente por este fracasso. Quando julga o aluno incapaz por ele ser pobre e morar na favela, o que caracteriza o preconceito. Quando agride verbalmente o aluno, agindo de forma autoritária, com ameaças e punições, quando não compreende que sua aula está muito desinteressante. Sabe-se que um ambiente propício para o desenvolvimento saudável é aquele onde a autonomia, as atitudes 41 democráticas, o respeito aos sentimentos, o acolhimento e afetividade estejam presentes. Ao contrário, um ambiente onde os sentimentos não sejam levados em conta, que as críticas sejam negativas, onde não se participa das decisões tomadas, é um ambiente negativo que não favorece o desenvolvimento positivo da autoestima. E sabemos que a autoestima é de vital importância para que o indivíduo tenha uma boa saúde psíquica, capaz de buscar condições de vida que lhe satisfaça. Percebe-se também que a preocupação com a possibilidade de interferência das condutas docentes na formação da autoestima dos seus alunos é antiga, há muito tempo se discute este tema. Percebe-se isto através da bibliografia consultada, visto os escritos das décadas de setenta até os anos atuais. Pode-se dizer que, os entraves apontados há muito tempo, persistem nos dias atuais, apontando para a necessidade de mudanças urgentes. Foi possível constatar ainda, ao longo do desenvolvimento deste trabalho, que a instituição escolar está enfrentando uma crise e a relação conturbada entre professor e aluno é apenas um dos pontos desta crise. E a solução requer mudanças profundas tanto no sistema educacional quanto na sociedade em geral. Pois entendemos que a instituição escolar prepara pessoas para a vida em sociedade, ao mesmo tempo em que a realidade social se reflete no contexto escolar. Este problema não é apenas do professor, da família ou da escola, é social, e deve ser visto dentro deste enfoque sistêmico. Os problemas da escola são reflexos da sociedade e ao mesmo tempo produz resultados que agravam os problemas sociais. Pode-se ressaltar aqui a necessidade do profissional psicólogo escolar atuar dentro deste contexto. Com sua formação específica e olhar diferenciado sobre as interações sociais, este profissional pode contribuir para que se estabeleçam novas relações, novas práticas que possam trazer mudanças importantes no espaço escolar. É de extrema importância que esteja junto aos professores que muitas vezes não possuem uma formação específica para lidarem com situações conflituosas. Pode-se dizer que a escola vive a carência do profissional psicólogo que em muito poderia contribuir para mudanças significativas neste contexto, fato este que merece a atenção e interesse da sociedade para que se mobilize para que a inserção deste profissional seja uma realidade e que sua contribuição seja não apenas uma possibilidade. 42 Concluí-se que, tanto a questão que norteou esta pesquisa quanto os objetivos foram alcançados e respondidos satisfatoriamente. E isto nos leva a acreditar ainda mais na importância da interação professor-aluno saudável baseada no respeito, na aceitação, na empatia, no afeto, com regras claras, coerentes e flexíveis. E o papel do psicólogo escolar é o de atuar no contexto escolar intermediando estas questões, promovendo a reflexão dos agentes educativos acerca da implicação dos seus atos, sua repercussão na vida do estudante e na sociedade em geral. 43 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Ana Rita Silva. A emoção na Sala de Aula. Campinas, SP: Papirus, 1999. 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