AVALIAÇÃO DE UM SISTEMA DE TRATAMENTO ANAERÓBIO
DE DEJETOS SUÍNOS
Jaqueline Scapinello1, Antônio Carlos Munarini2, Gilza M. de Souza Franco3 e Jacir
Dal Magro3
Resumo: A suinocultura é uma atividade produtiva presente em grande número de propriedades no
oeste catarinense, predominantemente em pequenas propriedades rurais onde está associada a mão
de obra familiar. O sistema de produção com o confinamento de suínos é caracterizado não só pela
alta produção de matéria-prima para as agroindústrias do setor como também pela elevada produção
de dejetos líquidos, que além de sua capacidade fertilizante, também geram problemas de
armazenamento, manejo e poluição ambiental quando não tratados ou manejados inadequadamente.
A utilização de biodigestores anaeróbios é uma alternativa tecnológica para o gerenciamento dos
dejetos suínos, onde diferentes tipos de microorganismos, na ausência de oxigênio molecular,
promovem a transformação de compostos orgânicos complexos em produtos mais simples como gás
metano e gás carbônico. O presente trabalho teve como objetivo a avaliação da eficiência na redução
da carga orgânica oriunda de dejetos de suínos por biodigestores através da análise dos parâmetros
físico-químicos do efluente. Desta forma, a pesquisa acompanhou a implantação de oito
biodigestores pelo Projeto Alto Uruguai na microbacia Santa Fé no município de Itapiranga – SC.
Para o pH do efluente gerado no tratamento foram registrados valores dentro da faixa de
neutralidade, e a temperatura do efluente ficou próxima a temperatura ambiente. Para DBO e DQO
foram registradas reduções médias de 52% e 94%, respectivamente, através da biodigestão. Os
nutrientes nitrito, nitrato e fósforo apresentaram redução média de 78,1%, 75,6% e 66,2%
respectivamente, no efluente tratado, e a turbidez dos dejetos suínos apresentou redução de 81,1%.
Dessa forma ficou constatado que o sistema de tratamento por biodigestor promove a remoção da
carga orgânica dos dejetos suínos, diminuindo o impacto ambiental desse efluente ao ser lançado no
solo, reduzindo o risco de contaminação de águas superficiais e subterrâneas.
Palavras-chave: Biodigestor. Dejetos suínos. Tratamento anaeróbio.
1. Introdução
A suinocultura destaca-se como uma atividade de grande importância no
âmbito econômico e social do agronegócio brasileiro. Segundo estimativas, no
Brasil, mais de 730 mil pessoas dependem diretamente da suinocultura, sendo essa
atividade responsável pela renda de mais de 2,7 milhões de pessoas (ROPPA,
2002). Segundo a ANUALPEC (2002) o Brasil possui o terceiro maior rebanho
mundial de suínos com mais de 32 milhões de cabeças, sendo superado apenas
pelos Estados Unidos e pela China.
1 Bacharel em Engenharia Química. Mestranda em Ciências Ambientais, Universidade Comunitária da Região de Chapecó. email: [email protected].
2 Acadêmico do curso de Engenharia de Alimentos, Universidade Comunitária da Região de Chapecó. e-mail:
([email protected])
3 Dra. em Ciências Ambientais, Universidade Comunitária da Região de Chapecó. e-mail: [email protected].
4 Orientador, Dr. em Química ,Universidade Comunitária da Região de Chapecó. e-mail: [email protected].
No oeste catarinense, a suinocultura é uma atividade produtiva em grande
número de propriedades, predominantemente em pequenas propriedades rurais
onde está associada à mão de obra familiar. O sistema de produção com o
confinamento de suínos é caracterizado não só pela alta produção de matéria-prima
para as agroindústrias do setor como também pela elevada produção de dejetos
líquidos, que geram problemas de armazenamento, manejo, distribuição e poluição
ambiental.
Para Konzen (2006) “dejetos suínos são dejeções (fezes e urina), águas
desperdiçadas pelos bebedouros e provenientes da higienização de instalações,
resíduos de ração, cabelos e poeira provenientes do processo criatório”. A
quantidade e qualidade dos dejetos produzidos são afetadas por diversos fatores
zootécnicos (tamanho, sexo, raça e sistema de criação), e ambientais (temperatura
e umidade). A produção de dejetos líquidos por matrizes é em média 27 litros por dia
e por leitões é de 1,4 litros por dia.
Sabe-se que a elevada carga orgânica presente nos dejetos suínos
proveniente de elevadas concentrações de DBO (Demanda Bioquímica de
Oxigênio), sólidos em suspensão e nutrientes (Nitrogênio e Fósforo), que representa
uma fonte de fertilizantes, mas também uma fonte potencial de poluição, quando não
tratado ou manejado inadequadamente pode acarretar em grandes impactos
ambientais. No solo, o excesso de matéria orgânica pode ocasionar o acumulo de
nutrientes e disseminação de patógenos, nos mananciais de água a eutrofização,
bem como o aumento dos íons de nitratos em lençóis subterrâneos (ANGONESE et
al., 2006).
A utilização de biodigestores anaeróbicos é uma alternativa tecnológica para o
gerenciamento dos dejetos de suínos, através da estabilização do mesmo pela ação
de bactérias anaeróbias, que constituem um sistema ecológico delicadamente
balanceado, onde cada microrganismo tem uma função essencial. A digestão
anaeróbia é um processo biológico no qual um consórcio de diferentes tipos de
microrganismos, na ausência de oxigênio molecular, promove a transformação de
compostos orgânicos complexos (carboidratos, proteínas e lipídeos) em produtos
mais simples como metano e gás carbônico, diminuindo também a relação C/N da
matéria orgânica, em função da mineralização do nitrogênio e da solubilização
parcial de alguns nutrientes (CAMPOS, 1999).
Segundo Chernicharo (1997), os microorganismos responsáveis pelo processo
de estabilização da matéria orgânica via digestão anaeróbia podem ser divididos em
três grupos distintos de bactérias:
As bactérias fermentativas, responsáveis pelo processo hidrolisam os complexos
orgânicos por meio de enzimas extracelulares, os produtos originados são
absorvidos pelos mesmos grupos de bactérias resultando na formação de ácidos
graxos de cadeia curta, hidrogênio e dióxido de carbono.
Já as bactérias acetogênicas utilizam os produtos provenientes das bactérias
fermentativas para produzir hidrogênio, dióxido de carbono e acetato.
Em quanto às bactérias metanogênicas são as responsáveis pela destinação final
dos produtos oriundos das bactérias acetogênicas. Os produtos resultantes da
ação das bactérias acetogênicas servem de alimento para as bactérias
metanogênicas, que ao se alimentarem destes substratos, produzem o biogás,
principalmente o metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2).
Angonese et al. (2006) ressalta que esse processo microbiológico tem como
objetivo reduzir ao mínimo o poder poluente e os riscos sanitários dos dejetos,
gerando como sub-produtos um biofertilizante com várias aplicações práticas e o
biogás que pode ou não ser aproveitado.
A realização e a eficiência da biodigestão dependem de condições de
operação, como temperatura e pH do meio, concentração de sólidos (carga
orgânica) e tempo de retenção hidráulica (TRH) da biomassa no biodigestor, dentre
outros. O TRH adotado no Brasil, por várias empresas de biodigestores, situa-se
entre 22 e 30 dias (CHERNICHARO, 1997).
Para caracterizar a eficiência do tratamento do efluente de um biodigestor, fazse necessário a determinação de vários parâmetros os quais representam as suas
características físicas, químicas e biológicas. Esses parâmetros são indicadores da
qualidade do efluente e constituem impurezas quando alcançam valores superiores
aos estabelecidos para determinado uso (PIVELI; KATO, 2006).
O nitrogênio está presente nos efluente sob a forma de nitrogênio orgânico,
amônia, nitrito, nitrato, ou gás nitrogênio. O fósforo está presente nos esgotos sob a
forma de ortofosfato, polifosfato, e fósforo orgânico. Juntamente com o nitrogênio,
em concentração elevadas de fósforo em efluentes causam eutrofização nos corpos
d’água (SILVA; OLIVEIRA, 2001).
Em condições adequadas, normalmente a DBO dos dejetos suínos fica na faixa
de 30.000 mg.L-1. Pode alcançar uma redução de até 90% na concentração após o
tratamento no biodigestor, porém, esse valor é muito superior ao valor permitido por
legislação para lançamentos desse efluente diretamente em um corpo d’água. A
DQO dos dejetos suínos fica normalmente na faixa de 65.000 mg.L-1, podendo
chegar a uma redução de 85% nessa concentração após o tratamento (KUNZ et al.,
2005).
Em saneamento, sólidos nas águas correspondem a toda matéria que
permanece como resíduo, após evaporação, secagem ou calcinação da amostra a
uma temperatura pré-estabelecida durante um tempo fixado. A calcinação e filtração
são as etapas da análise que definem as diversas frações de sólidos presentes no
efluente (sólidos totais, em suspensão, dissolvidos, fixos e voláteis) (BRANDÃO et
al., 2000).
O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência dos biodigestores localizados
em propriedades rurais na microbacia Santa Fé no município de Itapiranga-SC
através da análise dos parâmetros físico-químicos no efluente gerado.
2. Métodos
Na Tabela 1 estão descritos os parâmetros avaliados e os respectivos métodos
que seguiram orientação do Standart Methods of Water and Wastwater Examination
(APHA, 1998).
Tabela 1 – Variáveis físicas, químicas e microbiológicas analisadas e os respectivos
métodos utilizados.
Variável
pH
Turbidez
Método
Potenciomentria
Nefolometria
Oxigênio
dissolvido
Fósforo total
Nitrito
Nitrato
Potenciomentria
Espectrofotometria
Espectrofotometria
Espectrofotometria
Variável
Sólidos totais
Sólidos totais
voláteis
DBO
Método
Gravimetria
Gravimetria
Incubação/Titulometria
DQO
Temperatura
Refluxo/Titulometria
Termister
Nos oito biodigestores analisados, foram realizadas coletas na entrada e saída
de cada biodigestor (Figura 1), sendo a entrada na caixa de areia e a saída na lagoa
de decantação, as coletas foram realizadas durante o mês de fevereiro de 2010.
Figura 1 – A: biodigestor, B: lagoa de decantação.
3. Resultados e discussão
O interesse em determinar os parâmetros físico-químicos do efluente gerado
no processo de digestão anaeróbia é devido a necessidade de avaliar a eficiência do
tratamento nos dejetos suínos, em relação à entrada e saída do sistema. Na Tabela
2 estão apresentados os valores de temperatura, pH e oxigênio dissolvido
analisados no local da coleta.
Tabela 2 – Valores dos parâmetros analisados no local da coleta na entrada e saída dos
biodigestores.
Temperatura [°C]
pH
Oxigênio
Dissolvido [mg/L]
Entrada
Saída
1,52
1,53
Sistema
1
Entrada
21,4
Saída
22,0
Entrada
7,05
Saída
7,03
2
21,6
21,8
6,56
8,16
1,64
1,67
3
22,4
23,9
6,80
8,26
1,76
1,68
4
22,3
22,4
7,16
7,03
1,30
1,60
5
28,4
28,1
6,55
8,18
0,51
0,45
6
27,3
28,6
6,32
7,16
0,55
0,57
7
28,8
27,8
8,00
7,80
0,45
0,47
8
28,6
25,8
8,52
8,13
0,47
0,42
Analisando cada parâmetro da Tabela 2 podemos perceber que as
temperaturas de todos os sistemas se apresentam próximas a temperatura ambiente
do dia da coleta (20°C nos sistemas 1 a 4 e 29°C nos sistemas 5 a 8), demonstrando
que não há anomalias no sistema de tratamento referentes a esse parâmetro. Para
os valores de pH encontrados, verifica-se que todos estão dentro da faixa de
neutralidade, próximos ao pH 7, o que também é o esperado que aconteça dentro de
um sistema de tratamento biológico de efluentes (CHERNICHARO, 1997), não
sendo necessário tomar medidas de correção para esse parâmetro.
O oxigênio dissolvido é um importante parâmetro analisado nos tratamentos de
efluentes, onde o oxigênio proveniente da atmosfera se dissolve nas águas devido à
diferença de pressão parcial. Em águas naturais na temperatura de 20°C e 1 atm de
pressão,
a
concentração
de
saturação
de
oxigênio
dissolvido
é
igual
aproximadamente a 8,5 mg.L-1 (ESTEVES, 1998). Nos efluentes esse valor
dificilmente é superior a 2 mg.L-1 (KUNZ et al., 2005), devido à grande carga de
matéria orgânica presente, onde acontece elevado consumo de oxigênio para
ocorrer a degradação dessa matéria. Podemos verificar que os valores de OD
encontrados tanto na entrada como na saída dos biodigestores são baixos, a
diferença dos valores nos diferentes dias de coleta está relacionada com a
temperatura ambiente, sendo que em temperaturas menores a solubilidade do
oxigênio é maior.
Nos tratamentos de efluentes os termos DBO e DQO são importantes
parâmetros para verificar a eficiência do tratamento, quanto maior são estes valores,
maior é a carga orgânica existente no efluente. Sempre se deseja reduzir estes
parâmetros no efluente tratado, para não causar interferências no meio onde o
efluente será lançado (PIVELI; KATO, 2006). A DQO é muito útil quando utilizada
juntamente com a DBO para observar a biodegradabilidade do efluente, pois a DBO
acusa somente a fração biodegradável dos compostos orgânicos. A DQO reflete a
quantidade total de componentes oxidáveis, seja carbono ou hidrogênio de
hidrocarbonetos, nitrogênio (de proteínas, por exemplo), ou enxofre e fósforo de
detergentes. Os processos mais adequados para a remoção de matéria orgânica
dos efluentes são, sem dúvida, os de natureza biológica, como o sistema anaeróbio
empregado nos sistemas de biodigestores.
Tabela 3 – Valores dos parâmetros de DBO5,20°C e DQO na entrada e saída dos biodigestores.
Sistema
1
DBO5,20°C [mg/L]
Entrada
Saída
471,30
191,70
% Redução
59,3
Entrada
65.392,0
DQO [mg/L]
Saída
% Redução
780,80
98,8
2
637,30
140,32
78
28.304,0
1073,60
96,2
3
452,30
206,30
54,4
64.416,0
1.756,8
97,3
4
447,30
102,30
77,1
10.150,4
878,40
91,3
5
110,73
19,8
82,1
37.163,0
1.553,76
95,8
6
84,75
79,85
5,8
64.751,5
956,16
98,5
7
127,46
118,75
7,0
9.960,0
3.067,68
96,2
8
-
68,75
0,0
10.791,91
2.350,56
78,2
Média
52
Média
94
Podemos observar na Tabela 3 os valores de DBO e DQO encontrados nas
amostras de efluentes analisadas. Os valores encontrados para a DBO,
principalmente na entrada dos sistemas, são considerados baixos em relação ao
que se espera para um efluente com grande carga orgânica como os de dejetos
suínos. Uma redução média de 52% na DBO do efluente foi encontrada, sendo um
valor baixo em relação a redução esperada. Observando os valores de DQO e o
percentual de redução encontrado no sistema de tratamento anaeróbio empregado,
verifica-se uma grande redução da matéria orgânica do efluente, com índice médio
de 94%. Este comportamento indica a presença de substâncias químicas no efluente
que interferem na degradação biológica do efluente, tais como sanitizantes utilizados
no manejo da pocilga.
A determinação das frações de sólidos é recomendada para águas fortemente
poluídas, o que resulta em um quadro geral da distribuição das partículas com
relação ao tamanho – sólidos em suspensão e dissolvidos – e com relação à
natureza – sólidos fixos e voláteis. Nos tratamentos de efluentes ocorrem reduções
nas concentrações de sólidos dos dejetos que são tratados por processos
biológicos. Oliveira et. al. (2000) relatam que a utilização de dejetos suínos com alta
concentração de sólidos para adubar o solo pode provocar alteração na capacidade
de infiltração do solo, ocasionada pelo entupimento dos poros e pela formação de
crosta na superfície, que originam problemas de germinação e de crescimento das
plantas.
Tabela 4 – Valores dos parâmetros Sólidos Totais e Sólidos Totais Voláteis para entrada e saída
dos biodigestores.
Amostra
1
Sólidos Totais [g/L]
Entrada
Saída
% Redução
57,48
12,28
78,4
Sólidos Totais Voláteis [g/L]
Entrada
Saída
% Redução
41,47
1,50
96,4
2
13,38
3,68
72,5
8,80
1,35
84,6
3
53,45
4,89
90,6
42,42
2,47
94.2
4
6,482
2,66
58,9
4,27
0,97
77,3
5
39,01
3,88
90
30,40
1,48
95,1
6
64,76
3,27
95
47,48
1,33
97,2
7
7,07
4,41
37,6
3,83
2,18
43,1
8
7,87
4,70
40,2
4,47
1,95
53,4
Média
70,4
Média
78,2
Na Tabela 4 são apresentados os valores de sólidos totais e totais voláteis de
todos os sistemas, e o percentual de redução ocorrido no tratamento. Pode-se
perceber a grande quantidade de sólidos totais presente na entrada dos
biodigestores, o que é esperado quando se trata de efluentes de suinocultura. A
redução média desse parâmetro para sólidos totais foi de 70,4%, chegando a atingir
90% em alguns sistemas. Na maioria das saídas dos biodigestores o valor de
sólidos totais dos efluentes ficou em torno de 4,0 g/L. Para os sólidos totais voláteis,
a redução média foi de 78,2%, chegando a atingir mais de 90% em alguns sistemas.
Os sólidos voláteis são representados em sua maioria por matéria orgânica,
principalmente neste tipo de efluente.
Tabela 5 – Valores dos parâmetros Nitrato e Nitrito para entrada e saída dos biodigestores.
Amostra
Nitrato [mg/L]
Entrada
Saída
% Redução
Nitrito [mg/L]
Entrada
Saída
% Redução
1
236,6
30,36
87,2
5,82
0,38
93,5
2
199,88
35,65
82,2
0,52
0,19
63,5
3
527,5
41,11
92,2
17,57
0,32
98,2
4
183,74
19,61
89,3
0,89
0,33
62,9
5
322,355
51,340
84,1
0,804
0,347
56,8
6
161,918
34,238
78,8
7,809
0,331
95,8
7
83,604
34,062
59,3
1,777
0,539
69,7
8
167,348
80,959
51,6
1,449
0,513
64,6
Média
78,1
Média
75,6
O nitrogênio pode ser encontrado nas águas residuárias nas formas de
nitrogênio orgânico, amoniacal, nitrito e nitrato. Nesse caso também, quanto maior a
concentração desses nutrientes, maior a poluição do efluente. Para os sistemas
analisados, a Tabela 5 traz os valores de nitrato e nitrito encontrados na entrada e
saída dos biodigestores. A entrada dos sistemas apresentou elevados valores para
nitrato, reduzindo em média 78,1% os índices do parâmetro na saída do tratamento
biológico. Para o nitrito, os valores encontrados são inferiores aos de nitrato, e
apresentou-se uma redução média de 75,6% com o tratamento empregado. A maior
preocupação desses parâmetros é o excesso de nutrientes que são lançados no
meio através de um efluente não tratado, pois o meio se torna muito enriquecido,
causando consumo de oxigênio nas reações de necessidade desses nutrientes
pelos microrganismos. Nas águas pluviais, acontece eutrofização (crescimento
excessivo de algas), o que traz prejuízos aos usos dessas águas e causam poluição
por morte e decomposição dos seres que ali estão.
O fósforo está presente nos efluentes sob a forma de ortofosfato, polifosfato, e
fósforo orgânico, e da mesma forma que o nitrogênio, concentrações elevadas de
fósforo em efluentes também causam eutrofização nos corpos d’água, e através de
tratamentos se deseja reduzir esse parâmetro nos efluentes.
Tabela 6 – Valores dos parâmetros Fósforo Total e Turbidez para entrada e saída dos biodigestores.
Fósforo Total [mg/L]
Entrada
Saída
% Redução
237,69
28,87
87,9
Entrada
3008,10
2
137,35
55,23
59,8
498,24
112,73
77,4
3
175,19
82,15
53,1
2222,80
128,63
94,2
4
150,62
55,23
63,3
495,02
120,97
75,5
5
374,23
69,65
81,4
2560,50
303,74
88,1
6
307,88
63,50
79,4
1580,30
159,630
89,9
7
279,05
74,85
73,2
1359,20
380,19
72
8
137,35
93,69
31,8
1037,04
457,08
55,9
Amostra
1
Média
66,2
Turbidez [NTU]
Saída
% Redução
128,63
95,7
Média
81,1
Através das análises relatadas na Tabela 6 pode-se observar que o tratamento
reduziu os índices de fósforo em média 66,2%. Segundo Esteves (1998) o Fósforo é
um dos nutrientes mais importantes para os ecossistemas aquáticos, devido a sua
participação na maioria dos compostos bioquímicos essenciais à vida, sendo
considerado um dos principais fatores limitantes para a produtividade primária.
Juntamente com o nitrogênio é considerado como o principal fator limitante para a
eutrofização artificial destes ecossistemas.
A turbidez é um parâmetro que indica a qualidade estética das águas e
efluentes. Quando lançado no meio, o efluente causa aumento da turbidez da água,
provocando alterações no ecossistema aquático. A redução na turbidez do efluente
pelo tratamento anaeróbio empregado foi em média de 81,1%, como pode-se
observar na Tabela 6, sendo que em tratamentos anaeróbios o efluente gerado
possui turbidez mais elevada que no tratamento aeróbio, devido ao arraste de
sólidos provocado pelas bolhas resultantes na fermentação.
4. Considerações
O sistema de tratamento biológico empregado nos biodigestores mostrou
eficiência na redução dos parâmetros físicos e químicos analisados, com diminuição
de carga orgânica, pela análise de DBO (52,0%) e DQO (94,0%). A concentração de
sólidos totais no efluente teve redução média de 70,4% para sólidos totais e de
75,6% para sólidos totais voláteis, mostrando boa eficiência, tendo em vista que os
sólidos estão presentes em grandes quantidades nos efluentes de suinocultura.
Para os nutrientes nitrato, nitrito e fósforo, o tratamento também mostrou
capacidade de diminuir a quantidade desses parâmetros no efluente, com redução
média de 78,2% para o nitrato, 75,6% para o nitrito e 66,2% para o fósforo total. A
turbidez do efluente foi reduzida em torno de 81,1%.
A partir das análises realizadas, pode-se inferir que o efluente apresenta
condições impróprias para lançamento direto ao corpo receptor (CONAMA, Res.
357/2005), porém, pode-se afirmar que o sistema de tratamento por biodigestor
promove a remoção da carga orgânica dos dejetos suínos, diminuindo o impacto
ambiental desse efluente ao ser lançado no solo, evitando a contaminação de
nascentes e rios na bacia de drenagem.
Referências
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Examination of Water and Wastewater. 20. ed. Washington: 1998
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AVALIAÇÃO DE UM SISTEMA DE TRATAMENTO