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HISTÓRIA A • 12º ANO
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS
PÁGS. 59-60
1.1. A Alemanha é a grande perdedora do primeiro conflito à escala mundial, não
propriamente pelo facto de o ter iniciado mas por o ter prolongado e conduzido a Europa a
quatro anos de um conflito onde milhões de homens em idade produtiva, esmagadoramente
jovens adultos, perderam a vida. Consequentemente, é a principal visada em muitos dos
tratados de paz do pós-guerra, nomeadamente naquele que marca um marco importante e
determinante na História que se seguiu ao fim do conflito – O Tratado de Versalhes. Neste
tratado definiu-se o futuro político da Alemanha e impôs-se-lhe um verdadeiro diktat como
forma de a punir por todos os estragos causados à Europa. Entre outras sanções que o
Tratado de Versalhes vai aplicar à Alemanha, destacam-se as sanções a nível territorial.
Para além da perda das suas colónias, é de realçar a perda de territórios que, anteriormente
à guerra, eram pertença do Império Alemão (no leste, a Alemanha perde territórios para a
Polónia e, a ocidente, a Alemanha entrega a Alsácia-Lorena à França. Os territórios
perdidos a leste, comparativamente com o que se passou a ocidente, foram bastante mais
substanciais). Como se isto não fosse suficiente, a Alemanha sofre uma verdadeira
castração a nível militar (desmilitarização da margem esquerda do Reno, redução do
exército alemão, extinção do serviço militar obrigatório, perda da frota de guerra, entre
outras). Finalmente, a Alemanha sofreu a maior das humilhações: o pagamento de pesadas
indemnizações aos Aliados pelas perdas e danos sofridos. Perante isto, não é difícil duvidar
do carácter (…) deliberadamente punitivo (…) do Tratado de Versalhes. Suave é dizer-se
que: Responsabilizava de forma explícita os Alemães (…) quando, em boa verdade, os
castigava severamente pelos excessos cometidos sobre milhões de inocentes.
1.2. De facto, se estadista havia que, durante o decurso da 1.ª Grande Guerra, apelou aos
valores mais basilares da democracia, defendendo um Mundo alicerçado na paz, liberdade e
no respeito mútuo entre todas as nações, esse estadista foi o presidente norte-americano
Woodrow Wilson. A célebre mensagem do presidente Wilson ao congresso norte-americano
– Os Catorze Pontos – inseriu-se no novo quadro político internacional, previsto para o fim
que já se afigurava relativamente à 1.ª Guerra Mundial. Prevendo a vitória dos Aliados,
muito particularmente desde a entrada do seu país no conflito ao lado da Entente, Woodrow
Wilson escreve, em janeiro de 1918, os seus Catorze Pontos. É um documento que lançou
um desafio ao Mundo inteiro para uma nova política internacional baseada em valores como
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“paz”, “democracia” e “respeito pelas nacionalidades”, entre outros. Por isto mesmo, quando
o autor refere que estava (…) adquirida a validade dos princípios de autodeterminação e de
nacionalidade (…), tal é, de facto, verdade após o contributo inegável de Wilson. No fim de
contas, este homem representava um baluarte da paz já que, devido (…) às convicções de
Woodrow Wilson (…) tentou-se, por todos os meios, recorrer à diplomacia e à cooperação
mútua entre todas as nações. São estas convicções de Wilson que serão adotadas como
norma a seguir em todos os acordos de paz do pós-Primeira Grande Guerra.
2.1. A Constituição russa de 1918 surge no período ultra-conturbado saído do rescaldo da
Revolução Bolchevique de outubro de 1917: logo, era uma Constituição muito peculiar,
devido ao período que, nessa altura, a Rússia vive: o Comunismo de Guerra e a guerra civil
entre Russos Brancos e Russos Vermelhos. É precisamente por este motivo que esta é
considerada uma “Constituição de Guerra”. Leia-se o artigo que faz referência, ainda que
pouco explícita, aqueles que, durante a guerra civil, são os inimigos do bolchevismo, isto é,
(…) os funcionários e os agentes da antiga polícia, do corpo da guarda, das secções da
polícia secreta e os membros das antigas famílias reinantes; (…). Sendo a primeira
Constituição saída da Revolução Bolchevique, está imbuída do espírito marxista, bem
patente pelo facto de não considerar eleitores nem elegíveis, (…) as pessoas que
empregam assalariados com o fim de aumentar os seus lucros (…), referindo-se,
inequivocamente, ao patronato, defendendo, obviamente, os trabalhadores (o proletariado);
(…) as pessoas que vivam de um rendimento que não provenha do seu trabalho (…) e (…)
os comerciantes privados e os comissionistas (…). Ora, são igualmente estes pontos da
Constituição de 1918 que a tornam anti-liberal, porque negam a livre iniciativa e os
princípios mais básicos do liberalismo económico. Por outro lado, o facto de proibir que
determinados grupos de cidadãos russos possam exercer o seu direito de voto em virtude
de exercerem determinada atividade/profissão é bem exemplificativo do carácter anti-democrático deste texto constitucional.
2.2. A definição de Lenine relativamente à NEP não podia estar mais correta. Na verdade,
após as péssimas consequências do Comunismo de Guerra, que conduziu a Rússia a
resultados económicos catastróficos (piores do que na época czarista: (…) a produção total
não passou de 13% do que tinha sido em 1913 (…), o “pai” da Revolução Soviética
convenceu-se que algo havia falhado redondamente. A par dos resultados do Comunismo
de Guerra, juntava-se o espetáculo deplorável de uma Rússia altamente fustigada por três
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longos anos de guerra civil. Por isso, se fala de (…) colapso económico. Deste modo, é o
próprio mentor da sociedade sem classes, anti-capitalista, socialista e todos os chavões
aplicados aos princípios revolucionários de Lenine que, numa mudança sem precedentes,
opta por uma nova via económica que se aproximava bastante (e não era apenas pura
semelhança...) do capitalismo liberal da Europa ocidental que tanto afligia Lenine no auge
da Revolução – a Nova Política Económica. Assim, Lenine justificou a instauração da NEP
(Nova Política Económica) invocando o caos económico em que a Rússia havia mergulhado
durante o Comunismo de Guerra. O facto de falar num (…) passo atrás (…) tem a ver com a
deriva liberal e capitalista que, ainda que de forma tímida, vai adotar para a economia
nacional russa, reconhecendo que era necessário rever os meios para se atingir o
comunismo. Só desse modo se dariam (…) dois passos à frente. Esse deslize para
princípios capitalistas traduziu-se, por exemplo, no desenvolvimento de trocas entre a
agricultura e a indústria e o desenvolvimento da pequena indústria. A troca, em si,
significava a libertação do comércio, e aproximava o comércio russo do capitalismo. Lenine
estava, inclusive, disposto a aceitar o auxílio de especialistas estrangeiros que iriam para
território russo para contribuir para o crescimento da economia russa. Era, de facto, um
recuo na construção da tão desejada sociedade socialista mas, supostamente, sê-lo-ia
temporariamente, apenas.
3.1. Em 1919, aquando da III Internacional Socialista, que decorreu em Moscovo sob a
égide do triunfo da 1.ª Revolução Socialista, surgiu o chamado Komintern. Tal era a
concretização, na prática, da união dos desejos bolcheviques aos ideais dos partidos
proletários radicais. Quase identificando-se com os objetivos da III Internacional, o
Komintern propunha-se contribuir para a internacionalização do socialismo, ou seja,
espalhar a palavra revolucionária de Marx. Por isso, na imagem, Lenine varre, com um certo
contentamento, as “imundícies” do Mundo, representadas por umas figuras que caiem,
tropeçam e fogem ao tentar fugir da vassoura do marxismo-leninismo. Tais figuras
representam tudo o que se opõe à concretização da internacionalização dos ideais
marxistas-leninistas (monarquias, membros do clero, a burguesia….). O Komintern
incarnaria as aspirações de Lenine ao coordenar a ação dos partidos operários a nível
mundial (responsáveis pela fundação de vários partidos comunistas pelo Mundo fora e
também pela radicalização de movimentos sociais e políticos um pouco por toda a Europa
do pós-1.ª Grande Guerra).
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3.2. Ao fazer a saudação nazi, visível no cartaz do documento 5, Hitler recebe, ao mesmo
tempo, de uma mão, por detrás dele, um maço de notas proveniente de um indivíduo que,
de forma bem apropriada, não se vê na totalidade, tal é o seu tamanho. Ora, de forma algo
alegórica, a pessoa que entrega dinheiro a Adolf Hitler representa um grupo, ou seja, o dos
grandes industriais e empresários alemães que, na sua maioria, vão constituir o suporte
financeiro do partido Nazi e, mais tarde, do governo liderado pelo mesmo partido. Grandes,
poderosos, anónimos (uma boa parte deles), são estes detentores das grandes fortunas
alemãs que vão estar, em parte, por detrás da ascensão do nazismo alemão. Os receios de
uma revolução de tipo socialista e os consequentes receios de expropriações e
nacionalizações com a agravante do aumento do número de greves e o dinamismo do
movimento sindical levam a grande burguesia alemã a apoiar incondicionalmente Adolf
Hitler. A juntar ao apoio vital deste grupo social, e a dar força ao movimento nazi, juntemos a
crise económica que assola gravemente a Alemanha fruto do Crash bolsista de Nova Iorque,
perpetuando os problemas económicos da nação germânica que se arrastaram com a
República de Weimar. Por isso mesmo, a frase Milhões estão atrás de mim, refere-se aos
milhões de desempregados que votaram no partido Nazi, seduzidos pelas promessas de
emprego mas, igualmente, aos milhões de marcos que saíram dos bolsos dos grandes
empresários e industriais para financiar a ascensão de Hitler.
4.1. O desencanto e a tristeza em que a Europa mergulhou após o trauma da 1.ª Grande
Guerra provocaram nos Europeus a sensação até aí pouco conhecida/sentida de que a
efemeridade do quotidiano era uma verdade adquirida. Por isso, tudo era relativo e nada era
absoluto. O fim do positivismo oitocentista era uma realidade adquirida. Por isso, se uma
truculência de contornos tão sinistros, como o havia sido a guerra, havia destruído, para
além dos milhões de vidas, as perspetivas de vida de tantos e, para mais, apanhado
desprevenidos tantos inocentes, então agora, que o pesadelo tinha tido um términus, havia
que viver a vida ao máximo procurando, por todos os meios, uma evasão mental da
realidade negra deixada pela experiência da guerra. Esta evasão, esta busca de prazer
contínuo materializou-se, no caso do documento 6, pela vida noturna, sobretudo nas
grandes cidades europeias onde, em night clubs e cabarés, o frenesim pela vida é
perfeitamente visível pelas danças como o fox trot ou o charleston que se efetuam de forma
rápida, frenética, ao som dos instrumentos de sopro da música jazz, tocados pelos músicos
negros que inebriam e contagiam todas as personagens que aparecem na composição de
Otto Dix. A dança e a música serviram, desta forma, para esquecer!
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4.2. Os movimentos feministas, já nascidos anos antes da 1.ª Grande Guerra, têm um
incremento notável durante e após o conflito. Se, inicialmente, as mulheres reclamaram da
sua condição pouco digna enquanto seres de carácter, humanidade e utilidade vital para a
sociedade, exigindo condições de trabalho iguais ao homem, os movimentos sufragistas
darão lugar, quase como consequência indissociável do feminismo, à luta pelo direito à
igualdade política, isto é, o direito ao voto (sufrágio universal extensível às mulheres). A luta
foi longa e dura (lembremo-nos do caso britânico e da líder sufragista Emmeline Panckhurst)
e não admira, portanto que, tal como podemos observar no mapa, só a Noruega, em 1914,
possuía sufrágio universal para homens e mulheres. Ao observarmos o mapa, concluímos
que existe um sem número de exceções que implicava a existência de uma imensa
quantidade de limitações ao sufrágio universal que, após quase 150 anos da Revolução
Francesa, ainda limitavam a liberdade política de cada um (só a Europa de leste era o
retrato fiel da prática inexistente de sufrágio ou regime de tipo parlamentar).
5.1. A participação de Portugal na 1.ª Grande Guerra saldou-se por um resultado
extremamente negativo para o país, a juntar ao já negro quadro das finanças nacionais,
mesmo antes da entrada no conflito. Nos anos que se seguiram, a situação descambou para
o caos puro e simples. Na verdade, e de imediato, a subida em flecha do custo de vida
tornou o país muito mais cético relativamente aos governos da 1.ª República. Juntou-se a
isto o facto de os salários não acompanharem, de modo algum, a subida exponencial do
custo de vida. Deste modo, a inflação tornara-se uma situação de carácter endémico e, por
seu turno, o poder de compra da população diminuiu drasticamente. Para além da
participação de Portugal na 1.ª Grande Guerra e pelo protelar de um caos financeiro deixado
pela herança da monarquia, os Portugueses conheceram de perto a fome devido aos
problemas de abastecimento de trigo estrangeiro durante o conflito, o que provocou a
enorme agitação social entre os anos de 1916 e 1918 e que teve o seu ponto alto com o
golpe de Estado de Sidónio Pais. Em 1921, a crise europeia vai atingir Portugal e arrastar-se
até 1926. É um período caracterizado por uma inflação galopante (durante anos, a inflação
portuguesa foi das maiores da Europa). O desequilíbrio das finanças públicas e o défice
crónico, ainda herança da monarquia e dos empréstimos contraídos durante os primeiros
anos da República, ditaram o fim da credibilidade dos governantes republicanos. Ademais, a
constante desvalorização da moeda agravava ainda mais toda esta conjuntura. Para além
disto, a fuga de capitais que se havia verificado desde a implantação da República,
acentuou-se depois da guerra, com o aumento dos depósitos em bancos estrangeiros e, por
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outro lado, com o investimento em metais preciosos entesourados pelos particulares que
temiam (face ao que já se havia passado em anos anteriores) a desvalorização e os efeitos
de recrudescimento da agitação social e política. Em boa verdade, os surtos grevistas e as
manifestações de rua intensificaram-se e acabavam, quase sempre, em violência
generalizada. Os operários reivindicavam melhores condições de vida, influenciados
também pelo socialismo revolucionário. Logo, não é de estranhar os frequentes atentados
bombistas e os assassinatos. Ora, tínhamos aqui a conjugação ideal para o insucesso da 1.ª
República: um patronato receoso e intransigente e uma classe média empobrecida (a classe
média das cidades (…) estava saturada de constantes revoluções e arruaças (…) receando
o anarquismo e o bolchevismo (…). Para além do próprio exército, podemos referir outros
apoiantes que, cada vez mais, achavam atrativa a ideia de um só homem a governar o país
com mão de ferro, à semelhança de Mussolini (em Itália) ou de Primo de Rivera (em
Espanha). Estes apoiantes eram todo um grupo de pessoas ligado à ala mais conservadora
e mais direitista do regime, isto é, a grande burguesia, o grande patronato agrícola, a Igreja
e os monárquicos (tradicionalmente antirrepublicanos): (…) a Nação agrária, a Nação
conservadora, a Nação das mulheres, a maioria da Nação (…). O setor militar queria ordem
e uma autoridade forte. A grande burguesia e os proprietários agrícolas sentiam-se lesados
pelas medidas de carácter social da 1.ª República, como a proteção aos trabalhadores ou a
liberdade sindical e grevista; finalmente, a Igreja havia sido bastante prejudicada pelo
anticlericalismo republicano e, finalmente, os monárquicos tinham a esperança, ainda que
vã, da restauração da monarquia. Gomes da Costa, herói da 1.ª Guerra, muitíssimo
respeitado pela sociedade portuguesa e reputado estratega, vai transformar as aspirações
de todo o conjunto de pessoas que referimos anteriormente e, o golpe de 28 de maio de
1926, para além da adesão de todos os militares nacionais, contou com o entusiasmo de
todos os Portugueses que viram em Gomes da Costa o único homem capaz de salvar a
Nação. (…) um dos mais prestigiados heróis de guerra revoltou-se em Braga e iniciou uma
marcha sobre Lisboa. A maioria do exército, depois de algumas hesitações, juntou-se-lhe).
5.2. O advento do golpe militar de Gomes da Costa foi a consequência de todo um arrastar
de uma situação altamente danosa para o país que se prolongava desde o fim da
monarquia. Se esta havia deixado o país depauperado, a 1.ª República, porventura de forma
involuntária, não logrou levar o país a bom porto, muito particularmente após a participação
na Primeira Grande Guerra, de onde saiu altamente lesado, tornando os anos que se
seguiram num verdadeiro abismo em direção ao caos económico, social, e político. Inflação
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galopante, carestia do custo de vida, fome, agitação social, atentados à bomba,
assassinatos políticos, golpes de Estado tornaram o nosso país no terreno fértil onde as
sementes do fascismo facilmente se dariam bem. Tal tornou-se realidade a 28 de maio de
1926, com o golpe do general Gomes da Costa. Era o fim da tentativa falhada de consolidar
uma democracia parlamentar no nosso país. À parte todas as boas intenções da 1.ª
República, esta não passou, na sua esmagadora maioria, disso mesmo, um amontoar de
boas intenções. Indo beber os seus princípios ao fascismo italiano, a ditadura que se instala
com Gomes da Costa tem igualmente semelhanças com o contexto que, anos antes, no
espaço de três anos (1922 a 1925) conduz Benito Mussolini ao poder totalitário em Itália. Na
verdade, a situação italiana é, igualmente, filha das consequências da 1.ª Guerra. A
desilusão dos Italianos após a sua participação ao lado da Tríplice Entente, sobretudo
devido ao facto de não se sentirem devidamente compensados territorialmente e
monetariamente (com as indemnizações que a Alemanha devia pagar aos países
vencedores), foi o motor para a agitação social que se seguiu. Em situação económica muito
má, os Italianos, muito influenciados pela Revolução Soviética de 1917, rapidamente
começaram as ocupações de fábricas e terras, fazendo tremer a alta burguesia italiana que
canalizou o seu apoio para o Partido Fascista de Mussolini. A influência dos ideais
marxistas-leninistas na agitação proletária não foi tão visível em Portugal, mas o apoio
inequívoco das classes médias a uma solução autoritarista foi comum em ambos os casos.
As classes médias eram as principais afetadas pela conjuntura económica-financeira,
mostrando-se de igual forma insatisfeitas com o clima anárquico provocado pelo proletariado
e ansiando por ordem na sociedade.
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PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS
PÁGS. 138-140
1.1. Ironia do destino ou não, a Mensagem ao Congresso, em 1928, de Calvin Coolidge
(Presidente, à época, dos Estados Unidos da América) não é, de todo, desprovida de
sentido. Na verdade, os EUA viviam um eterno clima de otimismo (daí o título do
documento) desde o início do século XX e ainda mais acentuado após o final da 1.ª Grande
Guerra Mundial. A juntar à produção taylorizada e estandardizada, que se havia tornado
traço identitário da economia americana, juntava-se o facto de os EUA se terem tornado
credores da Europa e de esta ser a principal cliente da sua produção que, invariavelmente,
durante a década de 20, continuou aceleradíssima. Todavia, Coolidge e os Americanos, em
geral, viciados num frenesim de febre consumista incitado pela publicidade e pelo crédito
bancário, não previram que este estado de graça poderia vir a tornar-se num estado de
desgraça, como, na verdade, veio a acontecer no ano que se seguiu ao Crash bolsista de
Wall Street. Acresce a isto o facto de a Europa ter começado a recuperar, em meados dos
anos 20, da crise endémica na qual havia mergulhado desde a tragédia da 1.ª Guerra. Por
esse motivo, as suas necessidades relativamente ao mercado americano registaram uma
quebra sem que muitos empresários americanos se apercebessem desse facto. O mesmo
aconteceu com o mercado interno norte-americano que atingiu um ponto de saturação já à
data da Mensagem de Calvin Coolidge. Concluindo, por detrás da (…) perspectiva (...)
agradável (…), da (…) grande riqueza (…), (…) do luxo (…), da (…) crescente procura
interna (…) e de um (…) presente com satisfação (…), Coolidge estava redondamente
enganado porque os EUA, ao contrário do seu discurso de quase contornos efabulatórios, já
não corriam (…) como um rio a servir a caridade e os negócios de mundo (…). Na verdade,
o rio havia secado…
1.2. O “coração” do mundo capitalista, até 1929, havia sido, indubitavelmente, os EUA.
Quando o coração parou, devido à tragédia bolsista de Outubro de 1929, o resto do mundo
capitalista sofreu severas sequelas, consequência imediata do padecimento americano. Na
verdade, se nos lembrarmos que os EUA eram o país mais rico do mundo até então e, para
mais, o que mais consumia e comprava matérias-primas ao exterior, podemos imaginar a
dimensão que a crise americana vai tomar, mundializando-se. Antes de mais, a Europa vai
ser obrigada a repatriar todos os dólares que os EUA haviam emprestado, a juros
elevadíssimos, facto que vai mergulhar o “velho continente”, de imediato, numa profunda
crise de que, a custo, estava a conseguir desembaraçar-se. Um novo ciclo de recessão,
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com consequências graves, vai então iniciar-se na Europa. O resto do Mundo, como o caso
dos continentes pouco desenvolvidos, dependia das compras norte-americanas para manter
a sua economia a funcionar. Ora, como os EUA não puderam manter as importações que
até aí mantinham, zonas do globo como o sudeste asiático (local de origem da borracha
comprada pelos americanos), a América central e do sul (locais de origem, por exemplo, da
banana, do café e das peles compradas pelos EUA), ou a Austrália (que vendia toneladas
de carne aos EUA) entraram automaticamente numa profunda crise que arrastou igualmente
uma crise social sem precedentes. A contração do comércio mundial foi inevitável e, em
muitos casos, situações caricatas tornaram-se uma maneira de lidar com esta crise. O
documento 2 representa o modo como o Brasil tirou partido do excesso de café que se
acumulava nos armazéns sem comprador. Neste caso, e de forma inteligente, o café foi
usado como combustível nas locomotivas das ferrovias, evitando que os Brasileiros fossem
obrigados a parar a circulação dos seus transportes devido à falta de abastecimento de
combustível fóssil, como era o caso do carvão. Ideia bem mais sensata do que a dos
Argentinos ou dos Australianos que se viram obrigados a abater centenas de milhares de
cabeças de gado.
2.1. Tanto o fascismo italiano como o nazismo alemão mostraram preocupação com o
enquadramento das massas no Estado. Assim, o maior esforço foi levado a cabo nas
camadas mais jovens, começando a “lavagem cerebral” desde muito cedo, ainda na mais
inocente infância. Deste modo, obter-se-iam jovens obedientes, conformistas e de um
fanatismo para com o chefe supremo que não lhes seria, a eles próprios (esses jovens)
estranho. Assim, o enquadramento ideológico, o ultra-nacionalismo, o culto ao chefe e a
defesa da violência, sem nunca questionar nada, eram alguns dos objectivos a atingir com
este enquadramento das camadas mais novas da população. No caso da imagem A do
documento 3, que se refere ao fascismo italiano, podemos observar uma das organizações
de enquadramento de massas, neste caso os Vanguardistas ou Avanguardisti. Os
adolescentes que podemos observar envergam fardas (ou, pelo menos, um protótipo de…)
e aprendem a manusear armas enquanto a sua postura se mantém rígida, numa prova de
obediência ao instrutor que, por detrás, vai corrigindo a postura que se queria o mais
aproximada possível da militar. Para além deste militarismo, era-lhes incutido, como já foi
referido, o culto ao chefe, bem como o amor e o respeito pela nação. Antes dos
Vanguardistas, estes jovens Italianos passavam ainda por organizações de cariz
semelhante, como eram os casos dos “Filhos da Loba” e dos “Balilas” sendo que, a partir
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dos 18 anos, integrariam a Juventude Fascista. As coisas não fugiram muito à mesma linha
de orientação no caso da Alemanha, onde a Juventude Hitleriana equivalia à congénere
italiana do mesmo nome. Em Portugal, a Mocidade Portuguesa foi uma das organizações
que se encarregou de moldar a mente dos mais jovens. Os adultos não foram esquecidos e
os Estados fascistas trataram também de criar organizações ligadas ao regime.
2.2. Estaline, e tal como Lenine bem o augurara, depressa tomou conta dos destinos
soviéticos e apressou-se a calar todas as vozes discordantes, mesmo aquelas que vinham
de dentro do próprio partido e até aquelas vozes que nunca, na verdade, se haviam ouvido
contra si. A paranóia e a desconfiança totais levaram este homem a uma repressão sem
limites. Tendo eliminado companheiros políticos de longa data, Estaline era, tal como
representado na caricatura (Imagem B, Doc.3), um déspota omnipotente (observe-se o
chicote que aparece a pender da sua mão direita, representando a sua constante
prepotência na repressão dos opositores) tendo um controlo total e absoluto sobre tudo e
todos para que nada lhe escapasse (totalitarismo). Compreende-se, assim, que, na referida
imagem, Estaline apareça representado como um homem frio, distante, gélido, imutável ao
longo dos anos no que concerne à sua política repressiva. Para o auxiliar na tarefa de
perseguição contra tudo o que lhe soava possível oposição, contava com a NKVD, a sua
polícia política que, a seu cargo, tinha a intendência dos campos de trabalhos forçados (os
Gulags) para onde eram enviados os opositores e presumíveis opositores (se, antes, não
fossem assassinados) do regime estalinista. Esta polícia política foi ainda responsável pela
Grande Purga (1936-1939), que tinha como objectivo depurar o Partido Comunista e o
Exército Vermelho. Deportação, trabalhos forçados nos Gulags da longínqua Sibéria e o
assassínio foram os castigos frequentemente aplicados aos Bolcheviques destacados que
marcavam a cena política desde a Revolução de Outubro de 1917, assim como a membros
da administração soviética e do Exército Vermelho.
3.1. O New Deal (Novo Acordo) é implementado por Franklin Roosevelt, aquando da sua
vitória nas presidenciais de 1932. É vulgar distinguir entre um primeiro New Deal e um
segundo, sendo que o primeiro ocorreu imediatamente a seguir à eleição de Roosevelt para
a Casa Branca e, nos anos seguintes, seria a vez do segundo. Pela leitura do Doc. 4,
apercebemo-nos do carácter eminentemente social deste inovador programa político, senão,
vejamos: o Social Security Act instituía, basicamente, a Segurança Social nos EUA, base de
todo o Estado que se preocupa com o bem-estar geral da sua população. Daí que tenham
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surgido um seguro de velhice e um seguro de desemprego, pontos extremamente
importantes para um Estado que se quer protector dos seus cidadãos. Outras medidas que
evidenciam bem a componente social do New Deal foram (…) um salário mínimo (…) e uma
duração máxima de trabalho de 44 horas de trabalho por semana, medidas que visavam,
desta maneira, dar alguma qualidade de vida aos Americanos e aumentar o poder de
compra dos mesmos, relançando, deste modo, o consumo e a consequente recuperação da
economia americana.
O Estado devia assumir um papel de regulador da economia e dos mercados tornando-se,
deste modo, um Estado protector e atento, devendo intervir junto dos agentes económicos e
da vida social (Estado Intervencionista). Assim, o Social Security Act e o Fair Labor
Standard Act são medidas que mostram a intervenção do Estado na economia mas,
sobretudo, na vida social, de modo a recuperar a economia. Roosevelt protegeu a indústria,
a agricultura, criou empregos com o lançamento de um vasto programa de obras públicas,
tendo, deste modo, dado forma às ideias de Keynes, que passaram do papel para a prática.
Criação do sistema de Segurança Social, os seguros de velhice e de desemprego, a reforma
a partir dos 65 anos, um salário mínimo, o estabelecimento de um número máximo de horas
de trabalho, bem como o pagamento (acima das horas legais) das horas extraordinárias. O
New Deal de Roosevelt parecia ser a panaceia para inverter a situação e, na verdade, foi-o.
A política de obras públicas é apenas um dos vértices do New Deal mas, podemos dizê-lo,
um dos mais importantes, na medida em que, perante a estagnação da actividade
económica, Roosevelt implementa um vasto programa de grandes trabalhos, como
barragens, estradas, aeroportos, escolas, entre outros, que não só vão dar emprego a
muitos americanos, como também vão valorizar regiões ditas “deprimidas” (ou seja,
completamente estagnadas, atrasadas e com um baixíssimo índice de desenvolvimento)
como foi o caso do Tennessee Valley Authority (TVA). Ao dar emprego a milhões de
americanos, Roosevelt conseguia, pouco a pouco, relançar o consumo, parar o ciclo
endémico da crise e ajudar os trabalhadores.
3.2. O cartaz representado no documento 5 é a capa de uma revista – Regards – dos anos
30, em França e, como título central da mesma, podemos ler: As suas primeiras férias
pagas. Na verdade, a introdução desta novidade de carácter social em França prendeu-se
com a chegada ao poder da Frente Popular de Léon Blum. A Frente Popular em França,
cuja face mais visível foi a do estadista citado, levou a cabo medidas económicas e sociais
muito inspiradas pelo New Deal de Roosevelt, para relançar o poder de compra da
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população e evitar o agravamento das condições de vida, afastando, deste modo, o avanço
de partidos extremistas (situação que, na Europa dos anos 30, parecia estar a adquirir o
lugar de banalidade). Em suma, melhorar as condições de vida dos trabalhadores através
da receita keynesiana que havia servido de ingrediente principal à política económica e
social de Franklin Roosevelt. A juntar a isto, Blum aumentou os salários, conseguiu a
instituição de duas semanas de férias pagas (tal como evidencia o Doc. 5) e a imposição da
semana de 40 horas. Naturalmente que o sorriso de mãe e filho presentes na capa da
revista, representada no referido Doc., tem razão de ser…
4.1. O colonialismo é um dos traços mais marcantes do Salazarismo e, por inerência, a
política do Estado Novo no que respeita às colónias assumiu um papel importante. O
documento mostra-nos um dos documentos – base da política colonial – o Acto Colonial.
Vemos logo, no artigo 2.º do título I que Portugal assumia a sua conduta relativamente às
colónias como se de uma missão histórica se tratasse. Dentro desta missão, incluía-se a
missão civilizadora e a (…) influência moral (…) sobre os indígenas, tidos como incultos e
incivilizados. O título III, no artigo 15.º, basicamente corrobora esta missão, ao abordar a
proteção e defesa dos indígenas: (…) O Estado garante proteção e defesa dos indígenas
das colónias (…). Já no artigo 20.º do mesmo título, o tom paternal dos dois títulos
anteriores é ultrapassado pela verdadeira missão da política colonial, isto é, há que obrigar
os indígenas a trabalhar em obras públicas de interesse geral para a Nação: (…) Estado
somente pode compelir os indígenas ao trabalho de interesse geral da coletividade (…).
Finalmente, e no título IV, concluimos o quão é óbvio o interesse economicista do Estado
Novo sobre as colónias: (…) Pertence à metrópole (…) assegurar pelas suas decisões a
conveniente posição dos interesses que (…) devem ser considerados em conjunto nos
regimes económicos das colónias (…).
4.2. Como em todas as ditaduras que, nos anos 20/30 nasceram na Europa, o Estado Novo
não constituiu nenhuma exceção no que respeita ao seu projecto cultural e ao modo como
poderia fazer uso da propaganda, arma tão importante para a manutenção dos regimes
ditatoriais. A cultura não deveria guiar-se por interesses individuais, mas ser a síntese da
união de toda a Nação envolta em torno dos interesses e aspirações do Estado Novo. Deste
modo, o controlo intelectual rigoroso feito por parte da censura e do SPN foi a tónica
dominante. A produção cultural vai, assim, ser um veículo privilegiado de transmissão da
ideologia do Estado Novo, tal como podemos observar pelo Padrão dos Descobrimentos –
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HISTÓRIA A • 12º ANO
documento 7 – que pretende realçar um dos nossos maiores feitos da História pátria: a
expansão e descobrimentos. Nada melhor do que esta página da nossa História para exaltar
as virtudes do nosso nacionalismo, encostado que sempre esteve a uma glória passada de
homens que se aventuraram nos mares desconhecidos e transformaram Portugal num país
de grande influência na Europa, algo que, durante o Estado Novo, era apenas uma
miragem. O Estado Novo assumiu-se como o mecenas, por excelência, da construção
destas obras que glorificavam o regime.
5.1. A figura A do Doc. 8 representa uma faceta típica do regime nazi, como, aliás, de outros
semelhantes, à época, na Europa: o enquadramento das massas, neste caso, através da
propaganda camuflada num simples brinquedo que apresenta um vulgar soldadinho de
chumbo, ostentando a bandeira nazi e a farda castanha dos SA. A mensagem era clara:
chegar até aos mais pequenos para lhes ir inculcando, desde pequenos, que o nazismo era
bom e são de espírito e que todos deveriam alegrar-se e orgulhar-se do regime do Führer.
Cultura, arte e vertente lúdica colocadas par a par, numa tentativa de “lavagem cerebral”
que, no caso dos Alemães, até resultou. Por outro lado, este brinquedo, ainda que de forma
muito subtil, remete-nos para o culto da força e da violência e do militarismo da ditadura
nazi.
5.2. Não é novidade as boas relações que Francisco Franco e Adolf Hitler mantiveram ao
longo dos anos 30 e o apoio, ainda que envergonhado, que Franco, sob uma roupagem
denominada neutralidade, deu ao Eixo Roma-Berlim durante a 2.ª Grande Guerra. Durante a
guerra civil espanhola (1936-1939), quando a extrema-direita estava o rubro na Itália de
Mussolini mas, sobretudo, na Alemanha de Hitler, este conflito opôs as forças nacionalistas
pró-fascistas de Franco às forças de esquerda unidas da Espanha. Francisco Franco pôde,
à época, contar com o apoio de Benito Mussolini e Adolf Hitler que, dando continuidade a
uma política externa altamente agressiva e indiciadora (lembremo-nos dos constantes
atropelos ao Tratado de Versalhes cometidos por Hitler mas, igualmente, por Mussolini com
as suas aspirações imperialistas, de que a invasão da Etiópia é uma das melhores
provas…) enviaram homens, armas e outros recursos para ajudar as tropas inssurretas do
Generalíssimo Franco. Augurando a possibilidade de um 2.º conflito à escala mundial (a
Alemanha não continha a sua fúria expansionista e, juntamente com a Itália, havia
abandonado a Sociedade das Nações...), a Europa Ocidental ficou certa dessa possibilidade
quando, numa maldade sem limites, Hitler experimentou a sua famosa Legião Condor e
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HISTÓRIA A • 12º ANO
bombardeou, com a permissão de Franco, a cidade basca de Guernica (como está
representado na imagem B do documento 8), aprontando-se, desta forma, para a guerra que
estava pronta a começar na Europa. Alemães, como Italianos, usaram, deste modo, a
guerra civil espanhola, para preparar os seus homens e máquinas para a 2.ª Grande Guerra
Mundial.
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HISTÓRIA A • 12º ANO
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS
PÁGS. 200-201
1.1. Com a implementação do Plano Marshall, os Americanos pretendiam cumprir dois
objetivos específicos: estender a sua influência no ocidente e, por outro lado, conter
pacificamente o comunismo. De facto, os Americanos temiam que a Europa ocidental
pudesse resvalar para o comunismo, dado que vários fatores pareciam convergir nesse
sentido. As colheitas agrícolas tinham sido severamente afetadas pelo rigoroso inverno de
1947, o que acarretou o aumento das importações, que logo se repercutiu no desequilíbrio
colossal da balança comercial, provocando a subida da dívida externa. Esta conjuntura era
já bem conhecida dos Americanos que se recordavam perfeitamente da crise económico-financeira que ensombrou o “velho continente” no pós-Primeira Guerra. Este panorama era
favorável à expansão da ideologia marxista, que defendia os oprimidos pelo capitalismo,
tanto mais que os partidos comunistas ganhavam cada vez maior protagonismo na cena
política da Europa de então (os governos francês e italiano eram já integrados por
comunistas). Sabendo que a conservação de regimes democráticos, com quem
mantivessem relações marcadas pela cordialidade, se afigurava vital para os seus
interesses, os EUA perceberam que tinham que salvar a Europa do caos económico em que
estava prestes a mergulhar.
Neste sentido, os EUA puseram em marcha o Plano Marshall (o nome deve-se ao
Secretário de Estado que o apresentou – George Marshall) em junho de 1947. Com o intuito
de fomentar a recuperação económica do “velho continente” e melhorar as condições de
vida da população, os EUA disponibilizaram bens essenciais, equipamentos, matériasprimas, energia e injetaram capitais. Tal como vemos no documento 1, o açúcar, um bem
essencial para os Europeus, proveniente das Caraíbas, chegava à parte ocidental do “velho
continente” ao abrigo do Plano Marshall. Portanto, com a ajuda económico-financeira que
disponibilizavam, os EUA esperavam que a Europa, nomeadamente a parte ocidental, se
reerguesse da crise e se mantivesse ancorada à democracia, situação bastante conveniente
para a superpotência mundial.
1.2. O Plano Marshall não se confinava à Europa ocidental; era, pelo contrário, oferecido a
toda a Europa. Porém, e sem surpresas, a URSS não aceitou a ajuda da superpotência rival
e obrigou os seus países-satélite, bem como a Checoslováquia que, por ora, ainda não era
governada somente por comunistas, a adotarem o mesmo procedimento. Como argumento
para esta posição de força, a URSS argumentava que, como podemos ler no cartaz: Os
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HISTÓRIA A • 12º ANO
povos do Mundo não querem a refeição dos sofrimentos da guerra, ou seja, os povos da
parte oriental da Europa não se queriam reerguer utilizando os capitais que os EUA
acumularam durante os seis anos que durou o conflito à escala mundial. Assim, no Doc. 2 o
indivíduo de cartola representa os EUA e transporta uma caixa de ovos na mão
(representação dos bens essenciais que o Plano Marshall disponibilizava) e uma arma, na
qual está disposta a mensagem do cartaz: Os povos do Mundo não querem a refeição dos
sofrimentos da guerra. Por sua vez, o jovem, cujas roupas que enverga o pretendem
associar à classe operária, representante da URSS, barra cabalmente essa ajuda (repare-se
na sua cara de desagrado), já que a parte oriental da Europa não iria aceitar o auxílio
americano, disponibilizado graças à acumulação de capitais durante a II Guerra Mundial.
Portanto, não queria estar subjugada à superpotência ocidental, não fosse, segundo a ótica
soviética, um país de cariz imperialista e antidemocrático. Não nos esqueçamos que este
cartaz constitui um dos veículos da propaganda soviética, logo a mensagem só poderia ter
como objetivo denegrir a imagem da superpotência rival e glorificar a potência comunista
(observe-se no Doc. 2).
No sentido de fortalecer o seu domínio sobre o leste europeu, a URSS apertou o controlo
sobre os seus Estados-satélite, em outubro de 1947, com a criação do Kominform, uma
espécie de Komintern do pós-Segunda Guerra Mundial. O Secretariado de Informação
Comunista (Kominform) tinha como missão promover a troca de informações e dirigir a ação
dos partidos comunistas. No fundo, apesar de se propor coordenar a ação dos partidos
comunistas em geral (por exemplo, os partidos comunistas francês e italiano integravam o
Kominform), este organismo era mais um instrumento de controlo sobre o bloco soviético,
reforçando a hegemonia de Estaline na parte oriental do “velho continente”. Na conferência
que marcou a formação do Kominform, a URSS, pela voz de Jdanov, apresentou a divisão
do Mundo, segundo a sua perspetiva, lançando, desta forma, a contraofensiva soviética à
doutrina Truman. Na ótica soviética, no Mundo impunham-se dois campos: o imperialista e
antidemocrático, cuja principal força dirigente eram os Estados Unidos, a quem a Inglaterra
e a França estavam unidas e que contava com o apoio dos países possuidores de colónias,
assim como dos países que dependiam política e economicamente dos Estados Unidos, e o
anti-imperialista e democrático, que tinha na URSS e nos países da nova democracia a sua
força e que apoiava os combatentes dos movimentos de libertação nacional nos países
coloniais.
A resposta soviética ao Plano Marshall não tardou: em janeiro de 1949, foi apresentado o
Plano Molotov, que visava promover a recuperação económica do leste europeu sob a égide
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HISTÓRIA A • 12º ANO
da URSS. De seguida, os soviéticos integraram a Europa oriental no Conselho para a
Assistência Económica Mútua (Comecon), organização que não passou de mais um
instrumento para que Estaline pudesse exercer um controlo económico mais apertado sobre
os seus satélites.
2.1. As novas conceções de democracia, social-democracia e democracia-cristã, foram o
sustentáculo do Estado-Providência que se consolidou no Ocidente do pós-Segunda
Guerra. De facto, ambas consideravam que ao sistema democrático cabia não só assegurar
as liberdades individuais, mas também os direitos sociais, ou seja, garantir o bem-estar a
todos os cidadãos. Ora, se estas forças políticas se impuseram no poder no Ocidente, no
pós-conflito, não é de estranhar que o Estado tenha assumido responsabilidades sociais.
Aliás, já aquando da Grande Depressão, as democracias ocidentais como, por exemplo, os
EUA, a França e a Inglaterra, tinham intervido socialmente, de modo a assegurar o mínimo
de bem-estar durante o caos económico-financeiro que ensombrou o mundo capitalista
naquele período.
Como tal, eram os próprios cidadãos que reclamavam ao Estado, no pós-1945, a promoção
do bem-estar. Assim sendo, o Estado-Providência (Welfare State) ou Estado do bem-estar
era uma realidade no mundo ocidental do pós-guerra.
A Inglaterra, país em que o Estado já nos inícios do século XX demonstrava preocupações
sociais, deu passos sólidos no que respeita à consolidação do Welfare State, instituindo o
sistema nacional de saúde. O exemplo inglês rapidamente se propagou por todo o mundo
ocidental.
As populações tinham, então, ao seu alcance, por esta altura, subsídios de doença,
maternidade, velhice, acidente ou desemprego, subsídios para os mais carenciados como,
por exemplo, o abono de família. De facto, e como podemos observar no documento 3, o
Estado, neste período, atribuía às famílias, nomeadamente na Inglaterra, mas também
noutros países da Europa ocidental, o chamado abono de família, um valor em dinheiro que
visava auxiliar o pagamento das despesas decorrentes da educação dos mais pequenos.
Para além da concessão de ajudas monetárias, o Estado assumia responsabilidades
noutros campos: ensino, habitação e assistência médica. O ensino público e o sistema
nacional de saúde estavam à disposição de todos. As habitações sociais destinavam-se aos
setores da sociedade que não dispunham de uma situação económica estável que lhes
permitisse pagar a prestação de uma casa.
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HISTÓRIA A • 12º ANO
Para que este sistema de segurança social funcionasse corretamente, permitindo ao Estado
ser o pai da sociedade, era necessário intervir na economia. Assim, o Estado-Providência
não hesitou em controlar setores-chave da economia e em sobrecarregar de impostos os
rendimentos dos mais abastados, sendo essas receitas repartidas equitativamente pelos
mais carenciados, através do sistema de proteção social.
2.2. O pleno emprego, a subida contínua dos salários e a descida dos preços dos produtos,
devido ao aumento da produtividade, foram responsáveis pela sociedade de consumo que
se impôs definitivamente nos designados “Trinta Gloriosos” no Ocidente.
De facto, a sociedade consumista não foi um fenómeno exclusivo deste período. Já se havia
estruturado nos anos 20 nos EUA, em plena “era da prosperidade”, mas foi abruptamente
abalada pela Grande Depressão e pela II Guerra Mundial. Porém, no pós-1945, o
crescimento económico criou condições para que se impusesse definitivamente em todo o
Ocidente.
Estimulados pela publicidade que, constantemente, “bombardeava” os seus olhos ávidos, os
ocidentais adquiriam, incessantemente, bens supérfluos, perseguindo, deste modo, a
qualidade de vida que almejavam alcançar.
Quando os rendimentos não eram suficientes para suprir todos os desejos consumistas dos
ocidentais, apesar da subida dos salários e da descida dos preços, o que proporcionou o
aumento do poder de compra, o recurso ao crédito afigurava-se a melhor solução para não
deixar para amanhã aquilo que se ansiava adquirir hoje.
A corrida desenfreada aos produtos, aliada às constantes inovações tecnológicas, fazia com
que as últimas novidades rapidamente deixassem de o ser, desvalorizando e perdendo o
seu interesse comercial, sendo substituídas por um produto ainda mais avançado e
sofisticado. Era um ciclo vicioso, que tinha como objetivo o consumo maciço e contínuo.
Assim não é de estranhar que as casas americanas e, de seguida, as europeias ocidentais,
estivessem repletas dos mais variados produtos de ponta proporcionadores de bem-estar. O
lar equipado com os mais diversos eletrodomésticos (como podemos observar no
documento 4), onde não faltava a televisão, o automóvel (ou automóveis) na garagem, os
passeios ao fim de semana e as férias de verão, a Coca-Cola e as refeições précozinhadas, refletia o american way of life, um modo de vida tipicamente americano, que
vangloriava o consumo de bens supérfluos com o intuito de alcançar conforto e bem-estar.
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3.1. A URSS saiu do segundo conflito à escala mundial rotulada como grande vencedora e
superpotência, conjuntamente com os EUA. De facto, a guerra permitira-lhe afirmar-se no
panorama geopolítico e estender a sua influência pelo Mundo, mas também lhe infligira
pesadas perdas. A vitória do gigante comunista tinha sido alcançada sobre os cadáveres de
milhões de soviéticos (civis e militares) e sobre o caos em que o sistema produtivo se
encontrava mergulhado. De facto, proliferavam os campos agrícolas devastados e os níveis
da produtividade industrial tinham caído abruptamente.
Na URSS, Estaline não tardou a implementar novamente os planos quinquenais,
acreditando que, assim, iria recuperar rapidamente as perdas infligidas pela guerra e
consolidar a sua posição enquanto segunda maior potência industrial do Mundo. Como tal,
entre 1946 e 1950, o IV Plano Quinquenal foi posto em marcha. Com ele, o líder soviético
pretendia reerguer a economia, reconvertendo-a para o período de paz e, em paralelo,
desenvolver o país, procurando alcançar uma prosperidade superior à obtida antes da
invasão nazi em 1941. Tal como aconteceu desde 1928, a indústria pesada teve prioridade,
em detrimento dos bens de consumo, como é possível aferir pela leitura do documento 5.
De facto, na mente de Estaline, os objetivos primordiais a perseguir eram, sem dúvida, a
solidificação do poderio industrial da URSS, bem como a produção maciça de material
bélico para estar devidamente munida, em caso de afrontamento com o rival capitalista. Em
paralelo, o líder soviético empenhou esforços para que, a médio prazo, a produção de
carvão, petróleo e aço subisse consideravelmente, medida importante para a afirmação
industrial da superpotência. Em segundo plano, mais uma vez, ficava o povo Soviético que,
graças à secundarização a que estava votado a produção de bens de consumo, se debatia
com a fome decorrente da produção insuficiente e dos problemas de abastecimento: (…)
Entre nós, há fome. Não há pão, as batatas estão a 100 rublos (o quilo). (…) Não
recebemos um grama de pão ou de batatas no kolkhoze (…).
A verdade é que, não obstante as dificuldades iniciais, em 1950, Estaline pôde vangloriar-se
do êxito do seu plano, no que respeitava à indústria pesada. Contudo, os bens de consumo
continuavam a rarear e a população debatia-se com sérios problemas, como espelha o
documento 5.
Porém, o líder soviético parecia não ter mais nenhuma preocupação a não ser promover o
progresso da indústria pesada e a edificação de infraestruturas. De facto, estes objetivos
foram perseguidos no V Plano Quinquenal. Novamente, os bens de consumo foram
esquecidos, situação que impedia as populações soviéticas de melhorar as suas vidas.
Assim, a fome a que o documento 5 faz referência continuou a ser presença indesejada na
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HISTÓRIA A • 12º ANO
vida dos Soviéticos até à morte de Estaline. Em contrapartida, o poderio industrial soviético
parecia exponenciar-se.
4.1. Nikita Kruschev queria distanciar a sua linha de atuação da do seu antecessor e, por
isso, decidiu levar a cabo um processo de desestalinização, ou seja, alterar alguns dos
pressupostos indiscutíveis para Estaline. Desta forma, condenou o culto da personalidade
tão aplaudido por Estaline e os crimes que haviam sido praticados durante o longo período
em que este esteve à frente dos destinos da URSS, bem como mitigou a severidade da
censura, diminuiu o poder da polícia política, reabilitou presos políticos e encerrou alguns
campos
de trabalhos forçados. No âmbito da Guerra Fria, defendeu a “coexistência pacífica”, ou
seja,
advogava que comunismo e capitalismo poderiam conviver
pacificamente,
abandonando a ideia formada de que a coexistência destas duas ideologias antagónicas
implicava um estado de permanente tensão/conflito. No seguimento desta posição em
relação ao braço de ferro que opunha as duas superpotências desde o final do segundo
conflito à escala mundial, Kruschev chegou mesmo a visitar, em 1959, os EUA, como
representa o documento 6, demonstrando que os dois países já não estavam de costas
voltadas. Contudo, esta atitude de maior tolerância em relação ao Ocidente não impediu que
as duas superpotências se desentendessem na questão dos mísseis de Cuba, situação de
maior tensão durante todo o período da Guerra Fria, que quase desembocou no confronto
direto entre os EUA de Kennedy e a URSS de Kruschev.
Também no campo económico, Kruschev se distanciou da política seguida pelo seu
antecessor. Deste modo, decidiu tomar medidas com o intuito de solucionar os problemas
económicos estruturantes da população. Como tal, em 1959, o cumprimento de um novo
plano, desta feita com a duração de 7 anos, pretendia melhorar a produção de bens de
consumo, o desenvolvimento da agricultura e aperfeiçoar os complexos habitacionais. Um
conjunto de medidas sociais (redução do horário semanal de trabalho e da idade para obter
a reforma; concessão de reforma aos agricultores) agraciou também a massa trabalhadora.
Nas empresas, o controlo cerrado por parte do Estado atenuou, dando-se margem para que
os gestores liderassem efetivamente e se sentissem, assim, motivados para tomar medidas
tendentes ao aumento da produtividade. No mesmo sentido, os trabalhadores passaram a
ser compensados pelos níveis de produtividade alcançados, meio encontrado pelo Estado
para motivar o empenho no trabalho, que se repercutiria na subida dos níveis de produção.
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5.1. Em 1958 Mao Tsé-Tung decidiu inverter a sua política económica, desembaraçando-se
dos padrões soviéticos. Foi, então, posto em marcha o Grande Salto em Frente, plano
económico de cariz socializante, em que a agricultura se assumia enquanto impulsionadora
do crescimento, embora a indústria também fosse contemplada. Este novo projeto implicava
a remodelação da economia pela coletivização forçada, por novas nacionalizações
(especialmente na indústria) e a criação de comunas populares. Assim, centenas de milhões
de camponeses foram reorganizados em comunas, que absorveram a propriedade privada.
Sob o comando de um membro afeto ao Partido Comunista Chinês, os camponeses deviam
trabalhar na agricultura e nas indústrias locais, dividindo-se entre trabalho agrícola e
trabalho industrial. Nas comunas populares tudo era comunitário: as cozinhas, as creches,
as escolas, as lavandarias, os ateliers de costura.
Porém, as expectativas do líder chinês saíram goradas, tendo-se este projeto revelado
desastroso. A produção agrícola diminuiu drasticamente e o atraso industrial manteve-se.
Em 1960, o país havia sido assolado pela fome, situação que causou milhões de mortos. No
mesmo ano, a URSS, face à rutura com a China, decidiu ordenar o regresso dos seus
técnicos industriais que estavam a exercer funções no país, outrora, aliado, dificultando
ainda mais o progresso industrial da China.
Perante todas estas adversidades, o Grande Salto em Frente cessou em 1960, embora o
Grande Timoneiro (Mao Tsé-Tung) teimasse em não assumir o fracasso deste projeto.
Indissociável do chefe chinês, o fiasco deste plano abalou a imagem de Mao, que acabou
por ver Liu Chao Chi assumir o cargo de Presidente da República Popular da China, em
1959. Apologista de uma linha de atuação mais moderada, Chao Chi não tardou em
fomentar o desenvolvimento económico, tentando que a China trilhasse efetivamente o
caminho da modernização.
Embora não estivesse na liderança do país, Mao nunca se afastou demasiado do poder e da
sua mente nunca desapareceu a intenção de recuperar as rédeas do país. Como tal, em
1966, pôs em marcha a Revolução Cultural, mais uma das suas campanhas de
consciencialização de massas. Esta Revolução visava a recuperação do poder e,
igualmente, a depuração do Partido Comunista Chinês, eliminando todos aqueles que
fossem defensores da linha política e económica mais moderada. Desta forma, Mao Tsé-Tung materializou a ideia expressa na frase sublinhada. Assim, os Guardas Vermelhos,
estudantes que obedeciam cegamente a Mao Tsé-Tung, espalharam o terror pelas ruas
chinesas e não hesitaram em humilhar ou mesmo liquidar todos os inimigos (ou supostos
inimigos) do maoísmo. Estes jovens, para além de procederem à “limpeza” de todos os
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PREPARAR O EXAME NACIONAL
HISTÓRIA A • 12º ANO
símbolos contrários à ideologia advogada pelo Grande Timoneiro, promoveram ainda o culto
a Mao Tsé-Tung. O exército, com a anuência de Mao, acabou por pôr cobro aos excessos
dos Guardas Vermelhos, em 1968.
A Revolução Cultural, cujo término oficial data de abril de 1969, provocou nefastas
consequências: desorganização económica e purga na estrutura do Partido Comunista
Chinês e do Estado. Resultado desta campanha de massas, há a lamentar também cerca
de dois milhões de vítimas mortais e um número muitíssimo superior de indivíduos
perseguidos. Apesar do alto preço que a China pagou, a Revolução Cultural surtiu para o
seu mentor os efeitos desejados, dado que Mao Tsé-Tung retornou à presidência da
República Popular da China.
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HISTÓRIA A • 12º ANO
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS
PÁGS. 253-255
1.1. Ulisses Cortês questiona-se até onde deve ir a intervenção do Estado relativamente ao
funcionamento da economia nacional, se deve ou não intervir de forma espartana ou se, por
outro lado, deve deixar margem de manobra suficiente aos investimentos e iniciativas
privadas. No entanto, é cauto relativamente a este ponto, questionando a real capacidade
dos investimentos particulares: Porém, e desgraçadamente, não existem entre nós,
iniciativas criadoras, é escassa a poupança, diminuta ou tímida a propensão para investir, e
volta à carga: Os capitais particulares preferem a aventura aleatória dos empreendimentos
económicos à segurança ociosa dos depósitos bancários ou a cómoda estabilidade…. Deste
modo, Ulisses Cortês, apesar do tímido apoio a iniciativas mais arrojadas por parte do
Estado, duvida da real concretização das mesmas: Edificar, pois, uma obra de fomento
sobre a confiança na iniciativa privada assemelha-se muito (…) a construir sobre a areia
frágil e inconsistente das ilusões…. A economia ideal, segundo o autor, seria aquela que
mais se aproximasse dos ideais keynesianos, senão vejamos: Se entre nós existisse espírito
de empreendimento, gosto do risco, capital disponível, técnica qualificada, a obra de
fomento a realizar teria de competir à iniciativa privada. Ao Estado pertenceria apenas
orientar, estimular e criar o necessário enquadramento jurídico e económico. Por um lado,
Ulisses Cortês anseia por uma lufada de ar fresco na economia nacional que deveria vir de
iniciativas particulares inovadoras, dinâmicas e verdadeiramente viradas para o fomento
nacional (…devem aproveitar-se todas as iniciativas privadas até onde elas forem possíveis,
incentivar-se por todos os meios a ação dos particulares…). Todavia, assume que é um
risco e apela a que o Estado deva tomar para si essa tarefa hercúlea de orientar essas
iniciativas para as guiar até bom porto: Ou o Estado toma sobre si uma parte importante dos
empreendimentos a efetuar, e a obra de fomento será uma realidade, ou renuncia a intervir,
e a sua execução será diferida para um futuro que evidentemente não virá jamais. Mais à
frente, reforça esta ideia quando diz que …o Estado não pode hesitar em intervir, através de
largos investimentos públicos…. Se, então, o modelo industrial salazarista visava atingir o
ideal autárcico tão caro a Salazar (típico do nacionalismo económico), tal significava que o
Estado teria de ter em conta que não poderia esmagar a iniciativa privada e as ideias de
particulares para a intervenção na economia nacional, embora nunca esquecendo a função
que deveria assumir de Estado regulador e não castrador.
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PREPARAR O EXAME NACIONAL
HISTÓRIA A • 12º ANO
1.2. O autor, apesar de ter emitido uma opinião (diríamos quase sugestão) relativamente à
política económica nacional no ano de 1950, foi quase premonitório daquilo que seria a base
do II Plano de Fomento (1959-1964). Neste plano, o investimento estatal foi superior, tendo
sido canalizado, principalmente, para o desenvolvimento das indústrias-base (siderurgia,
refinação de petróleo, adubos, celulose, químicos) e, em menor escala, para a
reorganização de algumas indústrias (ex: vidreira). Apesar deste segundo plano refletir
ainda o condicionamento industrial (tão gravoso para o incremento das nossas indústrias),
durante a sua implementação, o Estado Novo começou a desvincular-se do nacionalismo
económico e, gradualmente, foi-se abrindo economicamente ao estrangeiro e a dar uma
maior margem de manobra à iniciativa privada. A provar esta abertura do regime a uma
maior liberalização da nossa economia e à tentativa de atrair capitais e investimentos
estrangeiros está a adesão à EFTA enquanto membro fundador. Também em 1960 o nosso
país aderiu ao FMI e ao BIRD. Dois anos depois, era a vez de aderir ao GATT. Ora, este é o
melhor exemplo que vai ao encontro das palavras de Ulisses Cortês, ou seja, revela …gosto
do risco… constituindo, ao mesmo tempo, um estímulo para os particulares.
2.1. Os anos 60 são os anos do II Plano de Fomento, do Plano Intercalar de Fomento (19651967) e do começo do III Plano, sob a batuta de Marcelo Caetano. É uma década que, em
boa verdade, marca uma aparente mudança de rumo na política económica até aí tão típica
do salazarismo, ou seja, a política de autarcia sempre a par, como já sabemos, com o
nacionalismo económico. As entradas na EFTA (documento 2), no FMI, no BIRD e no GATT
são a prova indubitável de que o “orgulhosamente sós” parecia ser apenas uma
reminiscência de tempos que já não estavam na memória de ninguém. No Plano Intercalar,
Portugal apercebeu-se que tinha que passar a lidar com as contingências de fazer parte da
economia europeia e mundial decorrentes da abertura económica que tinha começado em
1959 (com a adesão à EFTA). Todavia, o dado mais relevante deste Plano Intercalar é o
fomento à iniciativa privada, algo que desde os anos 50 era preconizado por economistas de
renome como o caso de Ulisses Cortês (documento 1). O III Plano de Fomento, em 1968,
pretendia fomentar a concentração de empresas auxiliando, deste modo, a fortificação dos
grandes grupos económico-financeiros e, desta forma, captar o investimento estrangeiro.
Não esqueçamos, porém, que, durante os anos 60 e até à agonia do regime, Portugal viveu
a negrura da guerra colonial e, tal, foi tudo menos positivo para a prossecução dos objetivos
desses planos…
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PREPARAR O EXAME NACIONAL
HISTÓRIA A • 12º ANO
3.1. Portugal, apesar de amordaçado, não ficou imune à mudança de mentalidades pela
qual o mundo ocidental passava. Apesar de pouco visível, essa mudança ia, por vezes de
forma indelével, acontecendo, embora a um ritmo muito mais lento do que o resto da
Europa. Apesar das referências de Maria Filomena Mónica se reportarem aos meados e
finais dos anos 50, elas são retrato de uma mudança que, durante a década de 60 foi
tomando forma no nosso país, tendo atingido o seu auge durante o início dos anos 70. Ora,
o palco destas mudanças foi a cidade e, os anos 50, o seu início. É nesta década que
falamos num surto urbano em Portugal, altura em que muitos habitantes do interior
acorreram, em força, em direção às cidades do litoral, muito particularmente Lisboa e Porto,
com o fito de melhorarem as suas vidas. Assim, no início da década de 70, cerca de ¾ da
população estava concentrada em distritos como Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa,
Setúbal, entre outros. Era a faixa litoral que atraía os Portugueses e provocava um sem
número de alterações negativas (por exemplo, o aparecimento dos bairros de lata e a
degradação dos subúrbios) e positivos (como o incremento do setor terciário, o aumento da
escolarização, o maior acesso à cultura, entre outros…). Deste modo, não é de estranhar
que as mentalidades também se tenham ressentido deste contacto com o mundo urbano e
com o acesso a uma informação muito mais vasta do que aquela que preenchia o
distantíssimo mundo rural. Filomena Mónica não se limita a fazer cogitações sobre a
sensualidade que as mulheres começaram a ter prazer em mostrar, sobretudo as mais
jovens (…vontade de exibir o meu corpo; Queria andar de saias curtas, blusas transparentes
e camisolas justas…) mas fala, igualmente, da influência que a música anglo-saxónica
começava a ter no nosso país (…audição de discos americanos, espacialmente o Only You,
dos Platters…). Esta tendência, como já foi referido, atingiu o seu auge no início da década
de 70, em plena “primavera marcelista”, como é possível verificar no documento 4. As
bandas rock enchiam os sonhos dos mais jovens que ansiavam não só por ouvi-las mas,
como vemos na imagem, em tê-las. A jovem em palco ousava mostrar as suas pernas, com
um vestido que era extremamente curto e causava, à época, algum rubor aos ainda muito
conservadores portugueses. Assim, para além das evidentes mudanças na condição
feminina, muito mais liberta de certas convicções moralistas da sociedade portuguesa,
também o modo como se buscava prazer nas cidades mudou, banalizando-se a música
rock, os cafés-esplanada de que fala Maria Filomena Mónica mas, igualmente, o
aparecimento das primeiras discotecas, especialmente em Lisboa e no Porto.
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HISTÓRIA A • 12º ANO
3.2. Em 1968, Salazar é substituído por Marcelo Caetano. Este parecia trazer algumas
mudanças na cena política nacional: vai permitir eleições para deputados (outubro de 1969),
em que a oposição concorreu dividida, sendo que foi possível a formação de uma Ala
Liberal (da União Nacional) no Parlamento, que passou a ser a reação visível contra o
imobilismo do governo e tendo Francisco Pinto Balsemão e Francisco Sá Carneiro como
cabeças de lista, entre outros; permitiu o regresso do exílio de algumas personalidades
como o Bispo do Porto e Mário Soares; mudou o nome da PIDE para DGS (Direcção Geral
de Segurança); acabou com a Censura, substituindo-a por Exame Prévio; procedeu a uma
reforma educativa (com Veiga Simão) e até permitiu a realização do II Congresso da
Oposição Democrática em Aveiro (sendo que, no III Congresso, como está patente na
imagem, os seus participantes foram brutalmente agredidos pela polícia de choque,
provocando o caos na cidade de Aveiro, como é bem visível pela visualização da foto). Ora,
é neste quadro de aparente mudança política que o período inicial em que Marcelo Caetano
está à frente dos destinos do país, fica conhecido por “primavera marcelista” (parecia
caminhar-se, a passos largos, para uma situação política que, no nosso país, culminaria,
finalmente, com a tão almejada democracia…). Marcelo Caetano até empreendeu uma nova
manobra, algo patética, com as chamadas Conversas em Família, na televisão, em direto,
frente a todos os portugueses, onde tentava a abordagem afetiva. No entanto, isto era pura
ilusão. As prisões políticas continuavam a abarrotar de opositores ao regime; a repressão
nas ruas (repare-se na imagem do documento 5) continuava e, afinal, Marcelo Caetano bem
tinha afirmado (e isso deveria ser claríssimo para a opinião pública) que pretendia “evoluir
na continuidade”, dando aos Portugueses a “liberdade possível”. Ora, quem não percebeu
que estas palavras significavam apenas mais do mesmo, iria percebê-lo rapidamente, não
só pelos factos já citados, mas, e acima de tudo, pela defesa da prioridade da defesa de
Angola, Moçambique e Guiné. Ou seja, a guerra colonial e a sangria de centenas de milhar
de jovens portugueses deveria continuar, assim como um orçamento de Estado sujeito aos
imperativos da defesa nacional. Onde estava uma efetiva evolução, afinal?
4.1. Ao lermos atentamente o documento 7, não podemos duvidar da influência do ideário
comunista sobre esse documento, facto que é bem percetível, por exemplo, nas seguintes
passagens: Os latifundiários e (…) os grandes capitalistas agrícolas constituíram o estrato
social dominante no campo durante o fascismo; …exploração desenfreada da massa dos
operários agrícolas e na exploração e submissão dos pequenos agricultores. (…) A
liquidação do domínio dos grandes agrários é parte integrante e essencial do processo de
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HISTÓRIA A • 12º ANO
destruição do fascismo (…); …condição fundamental no caminho da libertação e
emancipação dos operários agrícolas e dos pequenos agricultores e (…) da construção de
uma sociedade democrática ; …liquidação dos grandes agrários… e, finalmente, …forem
assinalando o controlo do processo produtivo pelas classes trabalhadoras. Ora, é fácil
perceber a terminologia comunista na sua essência mais primitiva: Oprimidos (agricultores)
e opressores (proprietários); bases sociais de apoio ao fascismo (proprietários); construção
de uma sociedade proletária (uma sociedade democrática só o seria quando os operários
agrícolas se emancipassem e os pequenos agricultores se libertassem do jugo dos
exploradores, isto é, os grandes latifundiários); a coisa soa a quase terrorista e apelo à luta
quando se fala em liquidação dos grandes agrários. Perante isto, o cartaz do documento 6
incita à Reforma Agrária que, como base de subsistência, tinha todas as ideias patentes no
documento 7 e, claro, o apoio, em massa, de toda a máquina sindical que, à época do pós25 de abril, estava no seu auge. Portanto, urgia repor o poder nas mãos do proletariado
caminhando, muito provavelmente, para uma ditadura do mesmo e proceder ao fim da
propriedade privada.
5.1. Ainda no rescaldo das últimas presidenciais, os Portugueses têm-se mostrado cada vez
mais indiferentes relativamente ao papel do Presidente da República, como o demonstrou a
última eleição onde, para além da reeleição de Cavaco Silva (documento 8), o grande
vencedor foram os quase 54% de taxa de abstenção. Todavia, é sempre bom não esquecer
que o Presidente da República é um dos órgãos de soberania mais importantes do país e,
talvez, o mais importante, de facto. Em caso de crise política grave, por exemplo, tem o
poder de demitir o Governo e de convocar extraordinariamente a Assembleia da República e
dissolvê-la (nas mesmas circunstâncias anteriores). É igualmente o Presidente da República
quem promulga as leis ou (em certos casos) pode vetá-las. Também em circunstâncias
absolutamente esporádicas, o Presidente da República pode declarar o estado de sítio ou
de emergência.
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HISTÓRIA A • 12º ANO
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS
PÁG. 274
1.1. A geração juvenil dos anos 60/70, mas muito particularmente dos anos 60, é a geração
que Jack Kerouac (um dos escritores fetiche desta década) havia descrito (alguns anos
antes) no seu livro On the Road. Era uma geração que contestava não só a sociedade em
que vivia, mas também todos os seus valores conotados como conservadores,
preconceituosos, obsoletos perante uma sociedade que parecia ainda agarrada à
prosperidade, já em começo de decadência, decorrente dos “Trinta Gloriosos”. Por isso, os
movimentos de contestação juvenil que marcam o final dos anos 60 são um fenómeno
quase contagiante ao resto do mundo ocidental. Os anos 60, todavia, não são apenas aquilo
a que chamamos anos de contestação mas também da imposição daquilo a que
denominamos uma contracultura, isto é, valores e comportamentos tidos como desviantes
face aos modelos e padrões definidos, supostamente, por aquilo a que chama moral
convencional, ou seja, aquilo que é, em geral, tido pela sociedade como sendo regra,
norma, aceitável, ético e, logo, não passível de ser contestado ou posto em causa. Ora,
essa contracultura desafiava, numa atitude sempre caracterizada pelo tom provocatório,
esses valores e essa moral convencional e é o elemento que vai presidir a todos os
movimentos de contestação da época. Foi aqui, por exemplo, que o movimento Hippie foi
buscar parte da sua génese. As faces desta cultura juvenil ou contracultura foram, como
refere o autor do documento 1, coisas tão redundantes como o lema é proibido proibir,
associado a uma expressão intelectual que teve o seu auge, porventura, com o maio de
1968, em França. As manifestações, as greves e movimentos políticos, a rebelião de massa
e o novo feminismo foram armas desta contracultura juvenil dos anos 60/70 face ao
conservadorismo bacoco da geração de 40/50. Do documento 1, apercebemo-nos de que o
politicamente incorreto deve ser a postura a tomar pela nova cultura jovem. Politicamente
incorreto pelo facto de associar, indissoluvelmente, o ser humano e os seus sentimentos à
atividade política. Logo, a política e a humanidade deveriam ser, a partir daí, indissociáveis.
1.2. No documento 1 afirma-se algo que o maio de 68 trouxe à mulher, ou seja, a expressão
de que “o pessoal é político” que, segundo o autor, (…) tornou-se num importante slogan do
novo feminismo (…) No documento 2 (uma foto, precisamente, do maio de 1968), podemos
observar alguma da materialização desse novo feminismo. As mulheres encabeçam as
manifestações de rua, empunhando slogans e palavras de ordem, mostrando como a
liberdade feminina estava ao rubro. Até aí alvo preferencial de discriminação das sociedades
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HISTÓRIA A • 12º ANO
do mundo ocidental, as mulheres estavam completamente empenhadas pela igualdade na
vida académica e laboral e, daí para a frente, bateram-se pela sua liberdade afetiva
querendo ser elas a escolher se queriam ou não contrair matrimónio ou quando desejavam
ou não ser mães.
2.1. Face ao gigante Hollywood, a Europa inicia, nos anos 60, algo que já havia, na verdade,
tentado nos anos 50, isto é, uma luta pelo lugar cimeiro nos palcos da cinematografia
mundial. Não querendo, todavia, alinhar na mesma onda da meca hollywoodesca, a Europa
envereda por um estilo cinematográfico muito mais realista e ligado às questões do banal
quotidiano do que os realizadores americanos. Na verdade, os fantasmas da 2.ª Grande
Guerra marcaram para sempre esta nova hoste de realizadores que teve o seu advento nos
anos 60, ou seja, uma geração de jovens realizadores muito mais inconformada, cética,
crítica e que veio tornar, realmente, a Europa num novo polo da produção cinematográfica.
Embora dispondo de recursos bem menores, comparativamente ao seu congénere
americano, o cinema europeu vai dar as suas cartas, impondo-se, de facto. Em França, a
corrente Nouvelle Vague adota uma marca muito própria, uma abordagem completamente
inovadora no modo como capta a realidade ou a ficção; ou seja, a filmagem passa a ser
feita, não raras vezes, em cenários reais, o que permite a estes jovens realizadores
apreender uma realidade mais genuína, algo a que os americanos não estavam habituados.
Para além da Nouvelle Vague francesa, há que fazer referência ao sueco Ingmar Bergman e
aos realizadores italianos Federico Fellini ou Roberto Rosselini que fizeram, estes dois
últimos, dos Estúdios Cinecittá a “Hollywood” de Itália.
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HISTÓRIA A • 12º ANO
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS
PÁG. 322-323
1.1. Mikail Gorbatchev e Ronald Reagan são figuras incontornáveis do final do século XX,
muito particularmente o estadista russo pelo papel fulcral desempenhado na derrocada do
Bloco de Leste. O papel que os dois chefes de Estado desempenharam para o términus da
Guerra Fria está bem patente no documento 1 – Tratado de Washington – onde, ao fim de
quase 45 anos, se deu o que parecia impossível, isto é, um passo gigantesco para o
começo de uma nova Era que enterrou, de vez, o tempo gélido da Guerra Fria. Gorbatchev
foi o primeiro a dar o passo, apercebendo-se, igualmente, da superioridade americana
devido ao seu programa Guerra das Estrelas. Fruto desta perceção, o estadista russo
decidiu, no seguimento daquilo que defendia há algum tempo, isto é, a atenuação rápida e
definitiva do clima de tensão latente com o mundo ocidental, encetar conversações com o
seu homólogo norte-americano que acabaram por conduzir ao Tratado de Washington
(documento 1). Assim, propôs a Reagan a progressiva desmilitarização de ambos os países
como é possível apercebermo-nos pela leitura do artigo 4.1 do documento 1. Tal é reiterado
no artigo seguinte: (…) nenhuma parte poderá: a) produzir ou experimentar mísseis de
alcance intermédio (…) b) produzir ou experimentar mísseis de alcance curto.
1.2. Mikail Gorbatchev abre a URSS ao mundo ocidental, promovendo toda uma estratégia
de aproximação aos que, durante décadas, haviam sido considerados os inimigos da URSS.
Este homem marca todo um fim de século (século XX) e todo o fim de uma época na história
do mundo soviético, dando origem a uma verdadeira revolução em toda a Europa.
Inicialmente, porém, em 1985, quando é eleito Secretário-Geral do PCUS, não imaginava
que tal iria suceder. O novo tom político que adotou limitava-se, e numa fase inicial, apenas
à URSS, abrindo, no entanto, os braços a um Ocidente que sempre olhou para os Soviéticos
como um povo inatingível, frio, distante e incomunicável. Agora, os ventos mudavam e o
degelo das relações este-oeste iniciava-se, finalmente. Gorbatchev consegue toda a
atenção e admiração do mundo ocidental, incluindo da muito neo-liberal primeira-ministra
britânica. Por outro lado, Gorbatchev era um verdadeiro revolucionário, já que se afirmava,
algo verdadeiramente novo num estadista russo, como europeu de facto. Eleições livres, fim
da supremacia do PCUS, separação dos poderes legislativo e executivo, independência
para os tribunais… enfim, democratização da URSS, eram as palavras-chave deste homem
que iria mudar, sem o saber, o Mundo. Revolucionário, portanto. No entanto, a sua ação
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HISTÓRIA A • 12º ANO
também iria ter um pendor algo drástico, dado a sua ação de verdadeira metamorfose de
todas as estruturas soviéticas mas, igualmente, nos Estados-satélite da Europa de leste. A 9
de novembro de 1989, a queda do Muro de Berlim deixou toda uma Europa anestesiada
pela alegria de ver cair o último dos grandes símbolos do comunismo. O velho muro da
vergonha, que separava o oriente do ocidente europeu, havia sido derrubado. Era o fim da
cortina de ferro, dos anos gelados de animosidades entre dois mundos opostos. De facto,
Gorbatchev já há muito que havia decidido consentir que os países do leste europeu
escolhessem o rumo político que desejavam trilhar. Este homem é, sem qualquer sombra de
dúvida, o responsável pela derrocada do muro da vergonha.
1.3. Ora, com a queda do último reduto do comunismo, os países de leste, verdadeiros
"apêndices" da URSS, vão sentir fortemente os efeitos da conjuntura catastrófica da mãe
Rússia. Habituados que estavam aos subsídios que, há décadas, recebiam da URSS, estes
países entram num verdadeiro caminho para a rutura económica. Extinto o COMECON,
instalada a economia de mercado, os países de leste veem substancialmente reduzidos os
seus fluxos comerciais. Os consumidores viram-se privados de todos os bens de consumo
(mesmo os mais essenciais) e, a escassez de produtores, provocou uma inflação galopante
(como acontecia na URSS), o desemprego crónico e permitiu o enriquecimento rápido e
duvidoso de um pequeno grupo de pessoas que, devido aos tráficos ilícitos, se tornaram em
verdadeiras máfias locais (mercado negro). Rapidamente, os países de leste (com raras
exceções, como a República Checa, a Hungria ou a Polónia) viram-se a braços com uma
enormíssima clivagem social: por um lado, meia dúzia de novos-ricos, vivendo de forma
ilícita, à custa do mercado negro ou da extorsão; por outro lado, uma massa de miseráveis,
vítimas de um desemprego em contínuo crescendo. É esta massa que olha para os
prósperos países da Europa ocidental como o oásis, agora que a cortina de ferro se havia
aberto, desaparecido, mostrando tudo quanto o Ocidente tinha para mostrar a esta nova
massa de indigentes que o fim do modelo soviético vai criar.
2.1. Desde os antípodas da chamada “ideia europeia” que a resistência, o ceticismo, a
intransigência no próprio seio dos seus Estados-membros têm sido a nota dominante.
Aquando da ratificação do Tratado de Maastricht, países como o Reino Unido, a Dinamarca
e a Suécia não aceitaram, de modo algum, a união monetária. Mesmo a aprovação do
Tratado, no seu todo, conheceu enormes obstáculos, especialmente no caso britânico.
Estes são países que não se incluem na chamada zona euro e, em alguns pontos, fazem
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HISTÓRIA A • 12º ANO
questão de não se identificarem com a “ideia europeia”. Mais recentemente, o Tratado de
Lisboa e a ideia quase gémea de uma Constituição Europeia têm vindo a suscitar a mesma
ou tanta polémica como Maastricht suscitou, já que países como a França (patente no
documento 2), a Holanda e a Polónia rejeitaram, numa primeira fase, o Tratado e irritaram
os “grandes” da Europa. Mais tarde, e sob pressão da Comissão Europeia, do Parlamento
europeu e dos “notáveis”, estes países acabaram por aceitar o Tratado. Todavia, o que o
Tratado de Lisboa deixa em aberto são algumas questões que têm tido, talvez por parte dos
(…) capitalistes (…) a que o cartaz do documento 2 alude, poucas respostas e de caráter
muito dúbio: onde está o referendo (realizado apenas na França, Holanda e Irlanda…) que
coloca o Tratado à reflexão e aprovação pelos Europeus? Até onde poderão ir os poderes
de Bruxelas sobre os outros Estados quando o Tratado for aplicado na sua totalidade? Qual
a amplitude da união política? O que restará da independência/autonomia política e
económica de cada Estado-membro após uma Constituição que será aplicada, de igual
forma, para todos os Estados-membros, podendo colocar em causa muita da personalidade
própria de cada país? Ora, é este conjunto de questões que tem dividido cada vez mais os
Europeus. Acresce a isto, como agravante, os sucessivos alargamentos da UE a outros
Estados (atualmente, a União conta com 27 Estados) que têm colocado cogitações
pertinentes aos Estados-membros mais antigos que preveem que estes alargamentos
possam vir a prejudicá-los, privando-os de certas regalias que, até aqui, eram tidas como
inquestionáveis (caso dos fundos financeiros europeus). Estes fatores constituem, em
conjunto, a causa comum para as reticências que, de ano para ano, se têm adensado no
panorama político da grande (?) Europa de Jean Monnet.
3.1. O capa da revista The Economist que tem como título O medo americano da China
(America’s fear of China) mostra claramente o temor que os Americanos sentem,
atualmente, relativamente ao poderio económico que a China tem consolidado neste início
de século XXI e que, desde a Era Deng, ganhou contornos de gigante mundial a quem,
neste momento, já nenhuma economia mundial pode escapar. Na capa da revista em
questão, um dos animais mais emblemáticos da China, o Panda, trepa, qual monstro, ao
topo do Empire State Building (símbolo inequívoco da prosperidade económica americana)
mostrando-se à capital da finança mundial, Nova Iorque. Na verdade, a China é, neste
momento, a principal rival dos EUA e do espaço Euro e não é de estranhar que seja
representada como nos aparece no documento 3. Desde Deng Xiaoping que a China não
mais refreou o seu ritmo de desenvolvimento económico, tendo adotado sabiamente as
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HISTÓRIA A • 12º ANO
regras da economia de mercado. O abandono das políticas protecionistas não se fez
esperar e muitas empresas estrangeiras foram, desde aí, convidadas a estabelecer-se, com
privilégios acrescidos, em áreas do litoral chinês, tendo sido as verdadeiras catalisadoras
daquilo que hoje representa a China. A hegemonia americana deve, assim, em termos
económicos, temer a nova China que tem, ultimamente, sempre uma palavra a dizer no
funcionamento da economia global.
4.1. A segunda vaga de descolonizações marcou, muito particularmente, a África
Subsaariana, ou seja, a chamada África negra. Filha da Conferência de Bandung, a
descolonização africana foi feita, no entanto, de forma algo diferente da anterior primeira
vaga que atingiu, sobretudo, a Ásia: Além disso, as estruturas de apoio ao poder colonial
(…) não eram de modo nenhum tão evoluídas como, por exemplo, na Índia (…). Deste
modo, não admira que os povos negros libertados do domínio colonial europeu tenham
ficado extremamente (…) dependentes da ajuda externa (…). Todavia, a África subsaariana
foi um campo fértil para a entrada da influência das duas superpotências, sobretudo dos
Soviéticos, que, ainda em plena Guerra Fria, viram a ignorância dos povos recém-libertados
como um campo onde poderiam ceifar a sua influência política (…questão de má
preparação e de informação pouco adequada). Na verdade, a realidade tribal e étnica da
África negra, camuflada de folclore durante anos pelo branco europeu, ressurgia novamente
com grande força e tornava esta parte de África num verdadeiro (…) continente de
nacionalistas (…) mais do que nações. Os conflitos étnicos e tribais que ainda hoje
provocam verdadeiros genocídios neste canto do continente africano são o fruto do quadro
traçado anteriormente. A instabilidade é, portanto, um dado adquirido e, a juntar a isto, a
corrupção, a falta de investimento na educação, a fome, a miséria, as doenças, a
instabilidade climática, o excesso de população, tornam a realidade da África Subsariana
muito negra.
5.1. A política externa de Barack Obama tem vindo a pautar-se, sobretudo, por uma
estratégia de aproximação àqueles que, desde sempre, foram considerados arqui-inimigos
dos EUA. Neste sentido, o Presidente norte-americano tem encetado esforços para uma
política de apaziguamento com o Médio Oriente, muito, principalmente, com os países
árabes. Por isso, na caricatura do documento 5, Obama aparece no Facebook a tentar
ganhar “amigos” do mundo árabe como se pode ver pelo olhar circunspecto do indivíduo
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HISTÓRIA A • 12º ANO
que lê, no seu computador, a mensagem de Obama. No meio de toda esta ironia, reside
algo de verdadeiro, no fim de contas.
Barack Obama conduziu, na verdade, os EUA a mudanças bruscas. Pela primeira vez na
história dos EUA, um presidente negro foi eleito pelos Americanos, num país de forte
tradição racista (onde até há bem pouco tempo a vergonhosa segregação racial fazia parte
do quotidiano de alguns dos Estados da federação). Com o seu slogan de campanha
“Change – We can!” (Mudança – Sim, nós podemos!), Barack Obama conquistou a maioria
do eleitorado americano, tendo marcado o regresso dos Democratas à Casa Branca, depois
do desastre que foram os anos de George Bush filho (especialmente no que toca à política
externa). Será, talvez, neste ponto, que Obama terá dificuldades mais acrescidas na sua
governação, fruto da herança deixada pelos republicanos Bush pai e Bush filho.
Politicamente, e sobretudo a nível de política externa, Obama optou por aquilo que, para o
seu antecessor seria o “politicamente incorreto”, tendo anunciado (e fazendo intenções de
cumprir) que as tropas americanas no Iraque, no prazo de poucos anos, deixarão o país e,
de facto, desde o início da sua presidência, o contingente americano já foi reduzido.
Todavia, Obama vê-se a braços com um novo foco de incêndio que lhe pode queimar as
mãos – o Afeganistão. A luta contra os Taliban, que tem conduzido o Afeganistão a um
permanente caos é, neste momento, o calcanhar de Aquiles do Presidente que, ao contrário
do Iraque, reforçou o contingente de tropas americanas para o terreno. Finalmente, e
também ao contrário dos seus antecessores, Barack Obama tem moderado o apoio aos
Israelitas e tem, inclusive, condenado a ostensiva política do Executivo de Jerusalém em
continuar a construção de colunatos judaicos nos territórios árabes ocupados. Por outro
lado, e tal como faz alusão a imagem, há uma outra cruzada que Barack Obama tem em
mãos e que tem a ver com o Irão e o seu programa nuclear. No entanto, a diplomacia tem
imperado e, perante a arrogância de Amadinhejad, Obama tem sabido agir com cautela e
prudência tal como, no fim de contas, a imagem do documento 5 ironiza.
5.2. Naturalmente que, numa altura em que todos os países do Mundo tentam lutar com a
disseminação de armas nucleares desde há alguns anos, a ameaça de um país que,
ostensivamente, teima (a par, por exemplo, com a Coreia do Norte ou com a Venezuela) em
prosseguir com um programa nuclear que pode esconder a elaboração de armas de
destruição maciça (ao contrário do que reclama o líder iraniano que nega cabalmente tal
facto, afirmando que está apenas a investir na produção de energia nuclear…) constitui,
seguramente, um foco de permanente tensão internacional. Para mais, num país onde os
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PREPARAR O EXAME NACIONAL
HISTÓRIA A • 12º ANO
fundamentalistas islâmicos pesam politicamente, teme-se o recrudescimento de uma praga
que, por si só, já é ameaça suficiente para o quotidiano atual, o terrorismo islâmico.
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS
PÁG. 339-340
1.1. O desejo de melhorar as suas vidas leva, todos os dias, um sem número de pessoas a
emigrar. São muitos os milhões de emigrantes que continuam a marcar o início do século
XXI por todo o Mundo. Procurar emprego, obter um salário condigno são, geralmente, as
razões que levam uma enorme massa humana a abandonar as suas raízes mas, cada vez
mais, os motivos políticos (especialmente nos casos dos emigrantes africanos e asiáticos)
são a razão primordial das migrações (fruto de guerras civis, conflitos regionais, entre
outros). Assim, como é possível observar nos documentos, são os países localizados no
hemisfério norte, nomeadamente, e neste caso, a Europa ocidental, os recetores
preferenciais, que se têm tornado verdadeiros nichos de emigração asiática e africana
(vejam-se os casos dos somalis em Itália ou dos muitos marroquinos em Espanha, casos
patentes nos Docs. apresentados). Enquanto questão transnacional, este fenómeno
migratório tem acarretado, para os países recetores, vozes de protesto que tendem a
degenerar em atitudes xenófobas e racistas e, logo, um ambiente de tensão que tem
marcado, cada vez mais, os países do mundo ocidental. Devido à crise económica e
financeira mundial, acarretando a subida do desemprego, o imigrante passou a ser visto
como uma ameaça. Casos notórios são, por exemplo, o da França de Sarkozy que, muito
recentemente, deu ordem de expulsão a centenas de ciganos búlgaros e romenos,
mostrando uma faceta que, cada vez com mais frequência, se torna um fenómeno comum
na Europa ocidental.
2.1. O artigo do documento 3 aborda uma das questões ambientais que se transformou
numa verdadeira tragédia ecológica dos tempos mais recentes – o derrame de crude da BP
no Golfo do México, afetando toda a costa do sul dos EUA (O derrame começou com uma
explosão (…) e poderá tornar-se na maior catástrofe ecológica da história dos Estados
Unidos (…). Este tipo de acidentes ambientais de grande dimensão que colocam em causa
ecossistemas marinhos e populações inteiras, provocando danos quase irreversíveis a
vários níveis, constitui uma das questões transnacionais que, a par das migrações e da
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HISTÓRIA A • 12º ANO
segurança, tem ameaçado a paz e bem-estar mundiais. Desde modo, as preocupações com
o ambiente, algo que tem sido facto corrente desde há algumas décadas a esta parte,
constituiu-se num quase movimento de caráter político que tem lutado de várias formas no
sentido de prevenir a banalização deste tipo de situações que, no caso do documento,
assume a forma de cruzada contra o grande culpado, a BP. O ambientalismo já não é uma
mania ou o fruto de meia dúzia de contestatários, mas faz parte da ordem do dia das
agendas políticas de todo o Mundo. Pela preservação do ambiente lutam, sobretudo, as
ONG’s mas, também, alguns partidos políticos como Os Verdes (em Portugal) ou os Die
Grünne, na Alemanha (neste caso, particularmente ativos). Cada dia que passa no planeta,
mais os ambientalistas têm motivos para a sua luta acérrima pela preservação do ambiente.
3.1. Os blocos de comércio supranacionais referidos no documento são o Mercado comum
Europeu, a NAFTA, o Mercosul e a ASEAN. O autor caracteriza estes blocos como aquilo
que, de facto, estes vão constituir em termos da economia mundial aquando a sua aparição
nos finais do século passado, isto é, (…) mercados livres potencialmente mais vastos do
que nunca (…). A abertura da China com a Era Deng, na década de 80, só veio contribuir
para um mercado mundial ainda mais gigantesco, mais interligado e interdependente, ou
seja, a consolidação do processo, já por si inevitável, da globalização da economia o que
pressupôs, como é inerente ao processo globalizante, total liberalização das trocas. Nos
blocos de comércio supranacionais já citados, as mercadorias circulam livremente, sem
qualquer obstáculo, obedecendo, apenas, aos ditames externos de cada país. Portanto, é
todo um mercado global que se autorregula e que funciona por si mesmo.
3.2. A livre circulação de produtos, capitais, pessoas à escala mundial, a liberalização das
trocas, os progressos nos transportes e o papel da OMC (Organização Mundial do
Comércio) são, entre outros, alguns dos mecanismos mais importantes do processo de
globalização. Centremo-nos na OMC que é, afinal de contas, talvez o responsável mais
direto pelo mundo de mercados livres potencialmente mais vastos do que nunca. De facto,
esta organização propõe-se arbitrar os diferendos comerciais entre os seus Estados-membros tendo, todavia, o cuidado de estar atenta aos perigos de uma total liberalização
das trocas. Sendo, a priori, neutral, a OMC é defensora do liberalismo e dos mercados livres
(…) vastos, tomando o papel de árbitro para que esses mercados não cometam excessos
em termos de concorrência comercial, por exemplo. Reconhecendo alguns dos
padecimentos resultantes da globalização selvagem, como a danificação do ecossistema do
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HISTÓRIA A • 12º ANO
planeta e o aumento do fosso entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, tenta
evitar o agravamento dessas situações ou até acabar com as mesmas (algo utópico), mas
nunca esquecendo o princípio que está subjacente à globalização: o do liberalismo.
3.3. A frase sublinhada refere-se ao outro lado do processo de globalização, ou seja, uma
outra faceta de contornos pouco nítidos mas que, em boa verdade, já estão à vista há
alguns anos. Os apologistas da globalização invocam, não raras vezes, o facto de ter sido
este fenómeno o responsável, qual panaceia, para a resolução da crise do anos 70 e o
acesso a bens e serviços por algumas franjas do planeta onde, até esse processo, tal era
impensável. Por seu turno, aqueles que se autoproclamam defensores da antiglobalização
(ou simples críticos) vêm apontar o dedo ao cada vez maior fosso entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento, ao facto de serem cada vez mais frequentes os casos
de pobreza e exclusão social (na verdade, desde os anos 30 do século passado, que os
Estados do chamado primeiro mundo, não viam taxas de desemprego tão elevadas como
está atualmente a acontecer), bem como os fenómenos constantes e quase sempre
sazonais das recessões e crashes que lhe estão associadas. As situações de instabilidade
que daí têm resultado levam a pensar até que ponto foi a globalização bem conduzida e
gerida pelos "Grandes" e se os efeitos mencionados acima foram ou não previstos. O
Mundo é, de facto, um todo mas, dentro desse todo, há especificidades de cada Estado,
cada povo, cada cultura, cada um de nós que, a pensarmos bem, têm sido esmagadas pela
força e contingências associadas ao processo de globalização. Serão os contornos deste
fenómeno, afinal, tão pouco nítidos como nos parece o autor do documento fazer crer?
4.1. As tecnologias de informação e comunicação têm sido um instrumento vital para a
consolidação do processo de globalização. Quando nos referimos aos grandes blocos de
comércio supranacional, a referência a estes tem sempre que se associar às TIC. Na
verdade, é graças a elas que estes blocos se têm articulado entre si, promovendo a sua
conexão em rede, a uma escala planetária. A internet é a face mais visível destas grandes
empresas do século XXI, contribuindo para uma mega ligação entre todos os intervenientes
do comércio à escala mundial. Por outro lado, as TIC promovem rapidamente as trocas, os
fluxos comerciais, a produção em grande escala, a ligação de todos os habitantes do
Planeta a uma empresa, produto, transação, com todos os perigos que a isso estão
associados (como é possível ler no documento 5 como as TIC servem, igualmente, e ao
37
PREPARAR O EXAME NACIONAL
HISTÓRIA A • 12º ANO
mesmo tempo que servem os interesses do tráfico mundial de bens, para cometer crimes de
grande escala).
5.1. Mantendo-se, infelizmente, quase sempre à margem da transformação das
mentalidades, do progresso e de valores que, em tempo algum, deixaram de estar ligados
ao Cristianismo mais primitivo, a Igreja Católica tem mantido uma postura inamovível de um
conservadorismo frio e obsoleto. A caricatura representada no Doc. 6 refere-se a um dos
episódios que, nos anos mais recentes, deixou o Vaticano numa posição embaraçosa, pelo
facto de um dos seus membros, o cardeal Richard Williamson, ter negado, em público, a
existência do holocausto nazi. Por isso mesmo, o dito cardeal aparece a ler a “bíblia”
nazi – o Mein Kampf – fazendo votos de que seja traduzida para latim, a língua vernacular
do clero. Junte-se a isto os recentes escândalos de suposta pedofilia em vários locais do
Mundo e a Igreja vê-se, cada vez mais, com maiores constrangimentos, face a um cada vez
mais reduzido número de fiéis que não se reconhece numa Igreja que, antes de qualquer
escândalo é, por si própria, uma entidade que não entende os fiéis e o cristão mais
elementar. Na verdade, a sua cruzada contra a homossexualidade, contra o sexo antes do
casamento, contra as mães solteiras, contra o fim do celibato dos padres, contra a
interrupção voluntária da gravidez, entre outros aspetos, tem vindo a torná-la, cada vez
mais, olhada de lado pelo seu próprio rebanho que, incrédulo, pergunta como é possível ter
uma Igreja que separa em vez de juntar, quando, aos olhos de Jesus Cristo, todos eram
iguais. Esta intransigência ideológica por parte da Igreja Católica é o catalisador para o facto
do poder temporal, cada vez mais, se sobrepor ao religioso. Por isso, a sua perda de
influência nos dias que correm.
38
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS
PÁG. 350-351
1.1. A 28 de março de 1977, pela mão de Mário Soares, à época primeiro-ministro, Portugal formalizou
a vontade de integrar a CEE, entregando o pedido de adesão ao organismo europeu. As negociações
foram avançando a um ritmo periclitante, até que, a 12 de junho de 1985, Mário Soares assinou o
Tratado de Adesão à CEE, que teria efeitos práticos a partir do primeiro dia do ano subsequente, data
em que também a vizinha Espanha passou a integrar o organismo europeu.
À data, em termos económicos, o nosso país distanciava-se visivelmente dos patamares
atingidos pelos congéneres integrantes da CEE. De facto, e como demonstra o documento 1, o PIB per
capita português ficava-se pelos 53,4% quando comparado com a média europeia, isto é, o PIB per
capita português era, praticamente, metade do da média europeia. Desta forma, era necessário
aumentar a produtividade e a inovação de forma a tornar o país mais competitivo além-fronteiras. Era,
ainda, imprescindível combater a inflação, que apresentava valores elevadíssimos quando comparados
com a média comunitária, reduzir as taxas de juro e travar o desemprego.
As ajudas comunitárias destinadas a auxiliar a convergência, ou seja, a equiparação da taxa de
desenvolvimento dos recém integrantes com a dos restantes Estados-membros da comunidade,
afigurou-se uma lufada de ar fresco para o nosso país. No âmbito de diversos programas, que
contemplaram as mais diversas áreas (agricultura, indústria, acessibilidades, emprego e formação
profissional, educação) sempre com o intuito de assemelhar o nosso país à restante família europeia,
Portugal recebeu avultados fundos comunitários, que aceleraram a modernização e o crescimento
económico do país.
De facto, o tecido empresarial português cresceu vigorosamente, assistindo-se à multiplicação
das pequenas e médias unidades empresariais. O nosso país beneficiou igualmente da instalação de
multinacionais como, por exemplo, da Autoeuropa, fábrica da empresa alemã Volkswagen, que iniciou
a produção, em Palmela, corria o ano de 1994. Contudo, apesar desta lufada de ar fresco, cedo se
percebeu que a indústria portuguesa ainda não tinha atingido um patamar suficientemente competitivo.
As exportações portuguesas também saíram beneficiadas com a entrada de Portugal na CEE.
De facto, a fatia europeia do comércio externo português cresceu consideravelmente. É de salientar
igualmente a importância que a Espanha assumiu enquanto destino de exportação, assistindo-se,
assim, a um aumento exponencial das exportações portuguesas para Espanha.
Este avanço comercial entre os dois países ibéricos ficou a dever-se não só à adesão à CEE,
mas também ao desenvolvimento das infraestruturas rodoviárias, como é visível no documento 1. De
facto, em 1985, o nosso país apenas dispunha de 196 km de autoestradas, um número irrisório;
contudo, passados 20 anos, Portugal contava com 1835 km de autoestradas. Assim, a rede viária de
alta velocidade multiplicou, entre 1985 e 2005, quase dez vezes, aumento exponencial só possível
graças aos fundos comunitários. Realmente, após a integração na CEE, o nosso país lançou-se na
edificação de inúmeras infraestruturas, que melhoraram a vida dos Portugueses e projetaram o país
além-fronteiras. O exemplo mais paradigmático da projeção internacional de Portugal encontra-se
representado no documento 2. De facto, a Expo 98 contribuiu para a visibilidade do nosso país alémfronteiras. Assim, o país recebeu a visita de inúmeros turistas das mais diversas nacionalidades que,
atraídos por esta mostra, se deslocaram ao nosso país, contribuindo para o aumento das receitas
provenientes do turismo.
Após a entrada na CEE, o nosso país congratulou-se também com o aumento do PIB. Nos anos
subsequentes à integração europeia, o PIB per capita foi-se aproximando, gradualmente, da média
comunitária, como é visível no documento 1. De facto, em 1985, o PIB per capita ficava-se pelos 53,4%
em relação à média europeia; todavia, vinte anos volvidos, o PIB português era já de 69,2% quando
comparado com a média comunitária, não obstante o abrandamento económico verificado no nosso
país a partir dos anos 90. Assim, a este aumento de 15,8% não são alheios os fundos comunitários
recebidos pelo nosso país.
A nível financeiro, após a integração na CEE, assistiu-se à redução da inflação, do défice
público e das taxas de juro, requisitos essenciais para a inclusão no euro. Contudo, depois desta meta
alcançada, Portugal esqueceu estes compromissos, dado que a taxa de inflação voltou a subir, bem
como o défice público, situação que se agravou ao longo dos anos e que, hoje em dia, conhece níveis
exasperantes.
A diminuição das taxas de juro, por sua vez, despoletou a corrida desenfreada ao consumo,
como é possível verificar pela análise do documento 1. De facto, a redução das taxas de juro abriu
portas ao consumo generalizado de bens que, até então, estavam intimamente relacionados com a
classe média/alta e classe alta. A partir da entrada na CEE, o acesso a esses produtos,
nomeadamente ao automóvel, vulgarizou-se. Deste modo, em 1985, as famílias com automóvel
constituíam apenas 36,3% da população portuguesa; porém, em 2005, 60% das famílias detinham já
um ou mais automóveis. De facto, a frota automóvel portuguesa quase que duplicou nestes vinte anos,
realidade que é bastante visível nas estradas portuguesas.
A par do crescimento económico-financeiro, a integração portuguesa na CEE arrastou consigo
a modernização, espelhada, por exemplo, na redistribuição da população ativa por setores de
atividade. Assistiu-se a uma terciarização acelerada da economia, fenómeno que, na maior parte dos
países do mundo ocidental, já havia ocorrido décadas antes.
De facto, os fundos comunitários não se afiguraram suficientes para dinamizar os setores
agrícola e piscícola portugueses, ou seja, estes não conseguiram ombrear com os congéneres
europeus e acabaram por ceder à concorrência que, agora, tinha entrada facilitada no nosso país.
Deste modo, assistiu-se a uma redução acentuada do número de ativos no setor primário. Em
contrapartida, o setor terciário conheceu um crescimento considerável, graças ao incremento
económico-financeiro, ao desenvolvimento tecnológico e à complexificação da sociedade, progressos
alcançados pós-1986.
A nível social, a CEE também trouxe benefícios para os cidadãos portugueses. Estes
congratularam-se com a redução da taxa de desemprego e o aumento dos salários, como é visível no
documento 1. Assim, o aumento dos salários proporcionou a exponenciação do rendimento bruto das
famílias destinadas ao consumo. De facto, em 1985, 74,6% do rendimento familiar era canalizado para
o consumo. Passados 20 anos, as famílias portuguesas destinavam 88,3% do seu rendimento bruto
para o consumo. Estes valores possibilitam-nos aferir, a par do aumento dos salários, a “febre
consumista” que afetou o nosso país nos últimos anos. Este ímpeto consumista que parece impossível
de conter deve-se, simultaneamente, ao aumento dos salários, mas também ao recurso ao crédito
muito facilitado, como já vimos anteriormente.
A integração na família europeia não despoletou apenas transformações no campo económicofinanceiro. Pelo contrário, as repercussões foram bastante mais vastas.
No que concerne à demografia, o nosso país parece seguir o exemplo da restante União
Europeia; contudo, em níveis mais preocupantes, ou seja, o número de idosos aumenta a um ritmo
mais acelerado do que nos restantes membros da UE, bem como a taxa de natalidade é inferior à
registada na maioria dos congéneres europeus. Assim, o número de idosos é superior ao número de
crianças/jovens. Estamos, desta forma, perante uma população envelhecida que, por isso,
sobrecarrega o Sistema de Segurança Social, situação que levanta questões acerca da
sustentabilidade do Estado social.
No entanto, apesar desta situação, os vinte anos de permanência na União Europeia
trouxeram-nos modificações risonhas no que diz respeito à mortalidade infantil, que passou de 17,8‰
para 5‰, ou seja, verificou-se uma diminuição drástica deste vetor, situação que pode ser explicada
pela melhoria dos serviços de obstetrícia e pediatria, progresso ao qual não foram alheios os fundos
comunitários injetados pelo organismo europeu no nosso país.
Relativamente aos fluxos migratórios, Portugal passou de um país de emigrantes para um país
de imigrantes, como é visível no documento 1. Assim, em 1985, o saldo migratório (diferença entre o
número de entradas e saídas por migração, internacional ou interna, para um determinado país ou
região, num dado período de tempo) era negativo (-27 000), já em 1985 era bastante positivo (47 000).
Esta situação deveu-se à entrada, na década de 80, da comunidade brasileira no nosso país, atraída
pela língua comum e pelo crescimento económico verificado, tendo os fundos comunitários contribuído
para esta prosperidade económica. Já na década subsequente é a vez dos imigrantes do leste europeu
construírem uma comunidade numerosa em Portugal. No início do século XXI, Portugal atrai uma
enorme comunidade chinesa que, por todo o país, abre lojas e restaurantes. A aceleração da economia
portuguesa, fenómeno verificado a partir do ingresso na família europeia, seduziu todos estes
imigrantes que, atraídos pelo nível de vida superior de Portugal, comparativamente com o seu país de
origem, esperavam alcançar um futuro mais risonho. Contudo, atualmente, graças à crise económicofinanceira que vivemos e à afirmação do Brasil enquanto potência mundial, um número considerável de
brasileiros abandona o nosso país e regressa à sua terra-natal.
Por fim, importa destacar as implicações a nível cultural que a integração na família europeia acarretou.
De facto, a sociedade atual escolarizou-se, já que o número de analfabetos decresceu de forma
acentuada comparativamente com os valores registados durante o Estado Novo. De salientar, ainda,
que um grande número de jovens opta, hoje em dia, por aceder ao ensino superior, pois a formação
parece ser cada vez mais encarada como o melhor veículo para uma vida futura estável. O documento
1 espelha, indiscutivelmente, esta situação. Assim, em 1985, Portugal contava com 106 213 alunos
matriculados no ensino superior. Passados 20 anos, os alunos que haviam ingressado no ensino
superior eram já 388 741. Desta forma, a comunidade académica do ensino superior mais que triplicou
neste período de vinte anos. Também a este aumento exponencial não são alheios os fundos
comunitários. De facto, estes proporcionando aos encarregados de educação um maior conforto
económico, situação que possibilitou o encargo dos estudos dos seus educandos. Por outro lado, o
Estado financiou, através da concessão de bolsas de estudo, o percurso escolar superior a muitos
jovens portugueses.
Para além da educação, os Portugueses hoje valorizam mais a cultura, assistindo-se a um
aumento dos hábitos de leitura. Para além disso, os Portugueses veem mais televisão, vão mais ao
teatro, ao cinema, a concertos musicais, a museus… De facto, as sessões de cinema, em 1985, eram
apenas 185 092. Ora, em 2005, contaram-se 569 889 sessões de cinema no nosso país. Portanto, o
número de sessões de cinema mais que triplicou neste período de vinte anos, situação que se explica
pelo maior interesse pela cultura, mas também pelo aumento dos salários, o que proporcionou a
canalização de uma parte do orçamento familiar para as atividades culturais, bem como pelos apoios
fornecidos pelo Estado, alguns deles só possíveis graças aos fundos comunitários.
2.1. Segundo Rui Ramos, as elites intelectuais expandiram-se, ou seja, assistiu-se a uma massificação
do número de intelectuais, desaparecendo, assim, a figura do intelectual como figura profética.
Portanto, o número de portugueses com escolaridade elevada e com sólidos conhecimentos científicoculturais aumentou substancialmente e, simultaneamente, alterou-se o seu estereótipo. De facto, a
imagem do intelectual português estava associada ao homem, de classe social alta, cujas referências
eram, essencialmente, francesas. No pós-Estado Novo, este estereótipo “caiu por terra” e assistiu-se à
expansão do ideal de intelectual português, sendo agora de ambos os sexos, de vários estratos sociais
e conjugando diversas influências.
Vários são os motivos, segundo o autor, responsáveis pela expansão das elites. Em primeiro
lugar, Rui Ramos destaca o aumento do número de alunos nas universidades portuguesas: A
população universitária subiu de 24 mil para 70 mil de 1960 a 1975, e depois para 270 mil em 1995,
sobretudo a partir da autorização de escolas privadas em 1986. Assim, no fim da década de 1990,
cerca de 30% dos jovens entre os 18 e os 24 anos tinham ingressado no ensino superior. Como
consequência da maior procura verificada no ensino superior, assistiu-se à multiplicação do número de
professores universitários que, segundo Rui Ramos, constituíam uma nova camada intelectual: O
número de professores universitários, que tinha sido de 1567 em 1960, era de 24 mil em 1994. De
facto, os professores universitários assumem-se como figuras de proa no panorama intelectual
português, sendo pioneiros na investigação nas mais diversas áreas do conhecimento. Por último,
nota-se um maior interesse da população por programas culturais. Assim, os Portugueses leem mais,
valorizam concertos musicais, exposições e feiras temáticas, o teatro, o cinema, os museus, a arte… O
Estado tem impulsionado esta situação, visto que duplicou a despesa com a cultura per capita entre
1981 e 1993, reforçando o apoio à criação no cinema, teatro, música, bailado e edição de livros.
2.2. Desde logo, o autor destaca o aumento do número de alunos matriculados no ensino superior e,
consequentemente, a amplificação dos professores universitários, por forma a colmatar as
necessidades de uma comunidade universitária cada vez mais extensa. Ainda no contexto do ensino
universitário português, Rui Ramos salienta o peso que o sexo feminino assumiu, e continua a assumir,
neste grau de ensino. Contrariando o que se passava no Estado Novo, atualmente a maioria da
população universitária é feminina: (…) as mulheres representavam então 60% da população
universitária, (…) situação que espelha a mudança drástica do papel da mulher na sociedade
portuguesa.
De seguida, o autor salienta a alteração da referência do ensino português. De facto, na década
de 80, assistiu-se à queda do monopólio francófono no nosso país e à ascensão da influência anglosaxónica: (…) a velha ligação francesa recuou perante a influência americana e inglesa (…). Assim, a
partir da década de 80, o Inglês passou a ser a primeira língua estrangeira estudada em Portugal. (…)
Com a instituição do Inglês como primeira língua estrangeira no ensino a partir da década de 198 0(…).
A partir desta altura, o Francês (bem como a cultura francesa) toma o lugar de segunda língua
estrangeira estudada em Portugal. Hoje em dia, este idioma está em declínio no ensino nacional,
havendo uma preponderância para o Espanhol enquanto segunda língua estudada.
Rui Ramos, destaca, ainda, a afirmação das ciências sociais nas universidades portuguesas,
bem como um maior rigor nesta área do conhecimento: (…) Nas ciências sociais, agora instaladas nas
universidades, o fim das “grandes teorias” coincidiu com um grande refinamento técnico, até por via
dos métodos de pesquisa e de tratamento de dados permitidos pelos meios informáticos, em direção a
um empirismo rigoroso).
Por fim, o autor refere-se à crescente internacionalização que tem atingido o ensino universitário
português nos últimos anos, ou seja, à similitude dos currículos nacionais com os europeus e às
relações que têm sido mantidas entre as universidades portuguesas e as suas congéneres europeias.
De facto, assistiu-se à (…) harmonização europeia dos cursos (Bolonha), ao intercâmbio de estudantes
de licenciatura no quadro do programa europeu Erasmus, à atribuição de bolsas para estudos de pósgraduação em universidades estrangeiras, ao convite a académicos estrangeiros para júris de provas e
comissões de avaliação e à valorização de publicações e reuniões científicas internacionais.
2.3. Nas duas frases sublinhadas, o autor refere-se ao facto de, em Portugal, os intelectuais e artistas,
para conseguirem afirmar-se no panorama nacional, terem primeiro que arrecadar o aplauso do público
e da crítica internacionais. Olhemos para os casos (…) das pintoras Maria Helena Vieira da Silva ou
Paula Rego, os escritores José Cardoso Pires, António Lobo Antunes ou José Saramago (Prémio
Nobel da Literatura em 1998), o arquiteto Álvaro Siza Vieira, o compositor Emanuel Nunes, a pianista
Maria João Pires, ou o cineasta Manoel de Oliveira que, independentemente dos seus méritos, devem
em parte a sua reputação dentro do país à impressão causada pela receção em mercados estrangeiros
de prestígio (…).è verdade que em Portugal há uma tendência generalizada para menosprezar o
produto cultural português e, em contrapartida, valorizar a produção cultural e artística internacional.
Assim, muitas vezes, tudo que é internacional é, à partida, bom. Em contrapartida, o que é nacional é,
à partida, desprezível. Contudo, se merecer uma crítica internacional positiva, o produto cultural e
artístico transforma-se imediatamente numa obra de qualidade, sendo que os Portugueses devem
gastar o seu tempo e dinheiro a contemplá-la e apreciá-la. O autor cita o caso paradigmático do filme
Amor de Perdição, da autoria de Manoel de Oliveira. O filme estreou (…) como série de televisão em
Portugal, tendo sido objeto das mais agrestes apreciações até ao momento em que constou, para
surpresa geral, que a sua versão em filme estava a ser acolhida em festa pela intelectualidade
parisiense. Imediatamente, um público perplexo resolveu esforçar-se por não ficar mal aos olhos dos
Franceses (…) ou seja, o filme passou a merecer o aplauso do público, pois, se os Franceses
gostavam do filme, quem eram os Portugueses para o depreciar, atitude que demonstra que estes
desvalorizam-se em relação aos estrangeiros.
Esta sobrevalorização do internacional denota-se também nas universidades portuguesas. Desta
forma, nos últimos anos, o ensino universitário português tomou por modelo o europeu, sendo a
estrutura dos currículos nacionais universitários, neste momento, decalcada da europeia. Portanto,
mais uma vez, os Portugueses julgam que o exemplo a seguir deve ser o estrangeiro. No mesmo
sentido, incita-se o contacto dos estudantes portugueses com o ensino estrangeiro, através do
intercâmbio (…) de estudantes de licenciatura no quadro do programa europeu Erasmus (…) e da
atribuição de (…) bolsas para estudos de pós-graduação em universidades estrangeiras, (…) o que
demonstra que, para o estudante consolidar a sua formação, é necessário ter uma experiência
académica estrangeira, sinal de superiorização, aos olhos dos Portugueses, do ensino estrangeiro em
detrimento do nacional. O autor destaca, igualmente, o facto de académicos estrangeiros serem
convidados pelas universidades portuguesas para exercerem as funções de júris nas(…) provas e
comissões de avaliação, ou seja, mais uma vez, se considera a intelligentsia internacional superior à
nacional, como se a presença de um professor universitário internacional conferisse maior seriedade
científica à referida avaliação. Rui Ramos salienta, por último,(…) a valorização de publicações e
reuniões científicas internacionais. De facto, os investigadores que publicam artigos em revistas ou
proferem comunicações em congressos de âmbito internacional são extremamente valorizados, pois a
sua valia é reconhecida além-fronteiras.
Texto convertido pelo conversor da Porto Editora, respeitando o Acordo Ortográfico de 1990.
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1.1. A Alemanha é a grande perdedora do primeiro