UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO CÁSSIO RAUL CRUZ GINÁSTICA LABORAL REALIZADA COMO PREVENÇÃO DE LER/DORT UMA PROPOSTA PARA IMPLANTAÇÃO CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2009 CÁSSIO RAUL CRUZ GINÁSTICA LABORAL REALIZADA COMO PREVENÇÃO DE LER/DORT UMA PROPOSTA PARA IMPLANTAÇÃO Projeto de pesquisa apresentado à disciplina de Metodologia da Pesquisa, do curso de PósGraduação Lato Sensu especialização Fisiologia do Exercício solicitado pela Profª Roseli Jenoveva Neto da Universidade do Extremo Sul Catarinense. Orientadora: Profª Drª Bárbara Regina Alvarez CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2009 3 Dedico este trabalho a Deus e a minha amada família, a quem tudo devo. 4 “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; Se não houver flores, valeu a sombra das folhas; Se não houver folhas, valeu a extensão da semente.” (Henfil) 5 RESUMO O principal objetivo deste trabalho foi de realizar uma proposta para implantação de um Programa de Ginástica Laboral nas empresas em geral e verificar a importância da Ginástica laboral como indicador preventivo das LER/DORT nos ambientes de trabalho. Assim, o estudo procurou investigar, como a Ginástica Laboral pode contribuir para a promoção e a prevenção da saúde dos trabalhadores. Este estudo utilizou o método de pesquisa bibliográfica, demonstrando que à prevenção de doenças provenientes dos trabalhos com movimentos repetitivos, demanda ações conjuntas dos segmentos sociais envolvidos, pois o cumprimento e o aperfeiçoamento da legislação específica, que rege as adaptações dos ambientes laborais às características psicobiofisiológicas dos trabalhadores que executam atividades com movimentos repetitivos, só efetivar-se-á pela atuação consciente e consistente das pessoas envolvidas direta e indiretamente com estas atividades. O Ministério do Trabalho, os empregadores, os profissionais e as equipes multidisciplinares, que utilizam os Programas de Promoção e de Prevenção da Saúde dos Trabalhadores, entre eles, incluídos os profissionais de Educação Física, são os responsáveis diretos pela diminuição dos índices epidêmicos, relacionados à incidência das LER/DORT. Nos estudos analisados verificou-se que a Ginástica Laboral contribui na melhora da flexibilidade, força, coordenação, ritmo, agilidade e a resistência, promovendo uma maior mobilidade e melhor postura; promove o combate e prevenção das doenças profissionais, entre elas LER/DORT; promove o combate e prevenção do sedentarismo, estresse, depressão, ansiedade; propicia através da realização dos exercícios características preparatórias, compensatórias e relaxantes no corpo humano. Palavras-chave: Educação Física. Ginástica Laboral. Trabalhadores. 6 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT – Consolidação das Leis do Trabalho DORT – Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho GL – Ginástica Laboral GC – Ginástica Compensatória GM – Ginástica de manutenção GCT – Ginástica Corretiva no Trabalho GLC – Ginástica Laboral Compensatória GLP – Ginástica Laboral Preparatória INPS – Instituto Nacional de Previdência Social LER – Lesões por Esforços Repetitivos NR(s) – Normas Regulamentadoras NRR(s) – Normas Regulamentadoras Rurais NUSAT – Núcleo de Saúde do Trabalhador PPST – Programa de Promoção da saúde do Trabalhador PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais PCMSO – Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional SESI – Serviço Social da Indústria SESMT – Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 08 2 LER/DORT................................................................................................. 10 2.1 Histórico.................................................................................................... 12 2.2 Epidemiologia........................................................................................... 13 2.3 Aspectos Clínicos.................................................................................... 14 2.4 Fatores de Risco...................................................................................... 16 2.5 Fatores Causais....................................................................................... 20 2.6 Como evitar LER/DORT – Ações preventivas....................................... 21 3 LEGISLAÇÃO............................................................................................ 24 3.1 Responsabilidade civil............................................................................ 24 3.2 Consolidação das Leis do Trabalho - CLT............................................ 25 3.3 Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho....................... 26 3.4 Custos das LER/DORT no Brasil............................................................ 27 4 GINÁSTICA LABORAL............................................................................. 30 4.1 Ginástica Laboral e Suas Características.............................................. 30 4.2 Os profissionais que atuam com a Ginástica Laboral................................ 32 4.3 Efeitos Fisiológicos atribuídos a Ginástica Laboral..................................... 33 4.4 Benefícios da Ginástica Laboral.................................................................... 35 4.4.1 Principais benefícios da Ginástica Laboral........................................... 44 5 METODOLOGIAS E ESTRATEGIAS PARA IMPLANTAÇÃO DA GL 46 6 CONCLUSÃO 52 REFERENCIAS..................................................................................................... 53 8 1 INTRODUÇÃO Atualmente muitas empresas de médio e grande porte, estão se adequando às leis, no que diz respeito à integridade física do seu quadro funcional, por meio de uma equipe multidisciplinar composta por profissionais como: Médico do Trabalho, Técnico em Segurança do Trabalho, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Terapeuta Holístico, Professores de Educação Física e Fisioterapeutas, entre outros colaboradores, diretos e indiretos, para a implantação de Programas de Promoção da Saúde visando à prevenção da saúde física e emocional dos colaboradores da empresa. A necessidade da prática de exercícios físicos no local de trabalho remonta a Revolução Industrial (Inglaterra, século XVIII). A partir desta época, o número de colaboradores com Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbios Osteomoleculares Relacionados ao Trabalho (L.E.R./D.O.R.T.) aumentou consideravelmente. O advento de novos processos de produção trouxe em seu bojo mudanças consideráveis no ambiente de trabalho. Mais recentemente, a Era da Informática acentuou estas mudanças e catalisou suas conseqüências. Os “Tempos Modernos” impuseram uma nova rotina aos operários, que geralmente têm uma vida sedentária, passando muitas horas na mesma posição e quase sempre repetindo movimentos milhares de vezes por dia. Estatísticas atuais apontam que cerca de quatro milhões de brasileiros são submetidos a tratamento em razão de dores provocadas pela postura incorreta no trabalho e pela pressão diária de situações competitivas. Surgiu então a necessidade da criação de atividades que atuem direta e especificamente na prevenção de doenças nos sistemas muscular e nervoso dos trabalhadores. A crescente preocupação das empresas com a saúde e desempenho de seus funcionários faz da GINÁSTICA LABORAL uma ótima opção terapêutica para diminuir o número de afastamentos ao trabalho. Apresentamos então o tema de estudo: Ginástica Laboral realizada como prevenção de LER/DORT - Uma Proposta para Implantação. O problema do trabalho foi o de verificar como implantar um Programa de Ginástica Laboral em empresas dos mais variados ramos, mostrando os benefícios da Ginástica Laboral e a importância de seu papel na prevenção das LER/DORT. O objetivo geral foi o de realizar uma proposta de implantação de um programa de Ginástica Laboral nas empresas em geral e 9 verificar a importância da Ginástica Laboral como indicador preventivo das LER/DORT nos ambientes de trabalho, tendo como objetivos específicos fazer um levantamento bibliográfico da epidemiologia das LER/DORT, levantar os custos em relação à Previdência Social e analisar as relações do fenômeno LER/DORT com a Ginástica Laboral, desenvolvendo uma proposta de implantação do programa. 10 2 LER / DORT Para atingir a discussão sobre a prática que o estudo propõe, faz-se necessária à compreensão dos significados e do processo de estruturação histórica e social que vem ocorrendo a cerca do fenômeno LER/DORT. O entendimento do binômio LER e DORT passando pelo processo de construção social que envolve esta temática, bem como sua importância e repercussão para o homem que trabalha, contribuem para a reflexão sobre prevenção e iniciativas de enfrentamento. No sentido de antecipação ao que o enfoque preventivo reporta, os fundamentos entre os modelos propostos ou existentes de prevenção precisam considerar a complexidade do trabalhar, no qual o ato produtivo toma uma dimensão ampla e o contexto global em que está inserido determina as condicionantes deste processo. Portanto, a identificação da prevenção como uma abordagem sistêmica proposta pela Ergonomia e a análise dos diferentes modelos propostos de prevenção, podem fornecer elementos para o melhor entendimento e compreensão dos alcances reais dessas iniciativas. As definições, princípios e fundamentos encontrados da GL, como método proposto de prevenção de LER/DORT, são abordados para que possam ser feitas as relações com a prática a que se propõe o estudo. Neste trabalho será usada a denominação LER/DORT - Lesões por Esforços Repetitivos / Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. A sigla LER, foi utilizada durante vários anos, sendo ainda melhor identificada, frente a isso, ainda são muitos os autores que utilizam esta denominação, mesmo após a edição da atualização da Norma Técnica de 1997 do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Baseando-se no termo inglês “work-related musculoskeletal disorders”, foi proposta a sigla DORT, ficando desta forma enquadrada na categoria das doenças relacionadas ao trabalho proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para Galafassi (1998), a sigla LER já confirmaria a presença de uma alteração anatomopatológica, e por isso ser possível uma conotação errônea, explicando a preferência pelo termo DORT. Sobre o mesmo assunto Borges (2000), opta pelo uso de LER, concordando com as críticas à dicotomia entre as chamadas doenças profissionais (cujo nexo causal entre fator de ambiente de trabalho e efeito à saúde é imediatamente realizado) e as doenças relacionadas ao trabalho (cujo nexo causal, por ser mais complexo é de difícil comprovação), o que tem dificultado a identificação e prevenção deste fenômeno. 11 Segundo Ranney (2000), sobre o uso da denominação DORT, quando existem no trabalho múltiplos fatores associados à doença e até quando as exposições não ocupacionais podem produzi-la, o termo “doença relacionada ao trabalho” é o mais adequado. Por outro lado, se o resultado para a saúde apresenta um claro processo ou agente patológico, então o termo “doença” poderia ser aceito. Mas quando alguns dos resultados são de patogênese incerta, podendo consistir de sintomas sem sinais óbvios, então o termo “distúrbio” é mais preciso, concordando com o que dispõe a norma técnica. Sobre o mesmo assunto, BORGES (2000) discorre que o reconhecimento social de qualquer doença nas sociedades ocidentais passa pelo reconhecimento médico. O diagnóstico médico é utilizado como critério normativo da existência ou não das doenças e distúrbios da saúde, nos quais as normatizações expressem um campo de lutas políticas e de produção de conhecimentos. Além das circunstâncias técnicas específicas do reconhecimento como doença, estão as questões sociais e políticas envolvendo LER/DORT. Sznelwar (2001) cogita a existência de um profundo processo de “taylorização” do nosso tecido social, no qual cada ator social faria sua parte sem se importar com as conseqüências do seu ato profissional, estando tal reação intimamente relacionada com a forma como a sociedade vem tratando a questão. Segundo o mesmo autor, um exemplo da influência política no significado social de LER/DORT, está ligado aos limites dos seguros sociais. A crise existente no sistema de seguridade social seria devida, em boa parte, ao desenvolvimento de uma prevalência da ótica financeira em detrimento de uma ótica do lastro social construída através dos anos para mediar conflitos e injustiças. Fica evidente assim, que se trata de um fenômeno que transcende a abordagem médica técnica, sofrendo influências sociais e políticas. O termo LER é tradicionalmente conhecido pelos diversos atores sociais no país, principalmente melhor identificado pela classe trabalhadora. Já DORT é o que sugere a normatização brasileira atual, sendo uma terminologia que vem ganhando espaço progressivo. Por serem as denominações duplamente usadas e difundidas no Brasil, esta dissertação referese ao fenômeno como LER/DORT. A esse respeito, Bawa (1997), refere -se a LER/DORT como sendo um fenômeno social moderno. Pouco conhecidas até os anos 70, as LER/DORT tiveram rápido crescimento nos ambientes de trabalho em todo o mundo. No Brasil, na década de 80, os casos de tenossinovite entre digitadores, levaram os sindicatos de trabalhadores em processamento de dados a lutar pelo reconhecimento das lesões como doenças profissionais. Em 06 de agosto de 1987, o Ministério da Previdência, atendeu à reivindicação dos sindicatos e, com a portaria 12 4.602, incluiu a tenossinovite do digitador no rol de doenças do trabalho. A portaria, embora mencionasse outras categorias profissionais além do digitador, na prática, era entendida pela perícia do INSS como exclusiva aos digitadores. Em 1993, foi publicada uma norma técnica, que instituiu o nome lesões por esforços repetitivos (LER), ampliando o conceito e aplicando os direitos previdenciários a esse grupo de doenças relacionadas ao trabalho. Em 1998, na revisão de sua norma técnica, a Previdência Social mudou o termo LER para Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), reduzindo consideravelmente os direitos previdenciários. No campo da prevenção, fruto de mobilização sindical, há uma norma Regulamentadora (NR -17), que fixa alguns limites para as empresas em que há postos de trabalho que exigem esforços repetitivos, ritmo acelerado e posturas inadequadas, mas ainda não contempla diversos fatores responsáveis pelas lesões. 2.1 Histórico Acompanhando a história das doenças ocupacionais, facilmente se percebe que as LER/DORT são temas de pesquisa e discussão há muitos anos. Com o advento da era industrial, teve início o processo de fabricação de produtos em massa, e a crescente especialização dos operários no sentido de melhorar a qualidade, aumentar a produção e também reduzir custos. Essa especialização levou os trabalhadores a executarem funções específicas nas empresas, com a realização de movimentos repetitivos, associados ao esforço excessivo, levando muitos trabalhadores a sentir dores (NAKACHIMA, 2002). Segundo Moreira e Carvalho (2001) o professor italiano Bernardino Ramazzini, considerado pai da medicina ocupacional, forneceu a primeira contribuição histórica, em 1713, fundamentando em 54 profissões de sua época. Nesse trabalho ele não só identificou os distúrbios, mas também traçou uma causa ocupacional. Ele acreditava que as lesões encontradas em escreventes eram causadas pelo uso repetitivo das mãos, pela posição das cadeiras e pelo trabalho mental excessivo. No século seguinte, foram descritos na Europa quadros clínicos afetando o esqueleto axial (que compreende os ossos da cabeça, da coluna e da caixa torácica) e periférico (cintura escapular, membro superior, bacia e membro inferior) de trabalhadores que desempenhavam distintas tarefas laborativas. Na época esta sintomatologia foi chamada de “câimbras ocupacionais”. Entre as várias atividades ocupacionais envolvidas, salientava-se a 13 “câimbra do escrevente”, que atingiu níveis de epidemia no serviço civil britânico em 1833 (MOREIRA E CARVALHO, 2001). Em 1888, o neurologista William Gowers relatou casos de trabalhadores com sintomas de ansiedade, de insatisfação com o trabalho ou do peso de responsabilidades. Ressaltou ainda a instabilidade emocional desses indivíduos e admitiu sua grande dificuldade em distinguir uma neurose de um quadro de simulação de doença. Desde então, diversos países industrializados têm passado por epidemias de diagnósticos envolvendo tais distúrbios (MOREIRA E CARVALHO, 2001). 2.2 Epidemiologia Embora existam citações de casos desde a Antigüidade, como por exemplo, Hipócrates em sua obra Epidemia (DEMBE, 1996), foi a partir da segunda metade deste século que esses quadros passaram a adquirir relevância social, tanto pela dimensão numérica, como pelo papel social dos acometidos ou mesmo pela disseminação entre os variados ramos de atividades. Inúmeros países enfrentaram e alguns ainda enfrentam epidemias de difícil controle (MAEDA e col., 1982; NAKASEKO e col., 1982; SETTIMI e col., 1989; BAMMER e MARTIN, 1992; MILLENDER, 1992; BERNARD e col., 1994; ASSUNÇÃO, 1995; KUORINKA e FORCIER, 1995; SETTIMI e SILVESTRE, 1995; BAWA, 1997; QUILTER, 1998). Wünsch Filho, em 1997, chama a atenção para a cronicidade e irreversibilidade de grande parte dos casos e ressalta que o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) classifica as LER/DORT entre os dez mais significativos problemas de saúde ocupacional nos Estados Unidos, estimando que correspondam a cerca de metade das doenças ocupacionais notificadas. Em algumas empresas, estimou-se que a prevalência de LER atinge, cerca de 25% da população trabalhadora (FEURSTEIN 1993). Estudo de prevalência realizado naquele país, com 44.233 entrevistas a partir de amostra de base domiciliar, encontrou a auto-referência à síndrome do túnel do carpo por parte de 2,65 milhões (1,55% entre 170 milhões de adultos). Entre os 127 milhões que trabalharam nos últimos 12 meses anteriores à pesquisa, 0,53% (0,68 milhões) referiram que a síndrome foi caracterizada por profissional de saúde (TANAKA e col. 1994). Os ramos de atividades com maiores prevalências foram: produtos de alimentação, serviços de reparos de automóveis, transportes e 14 construção civil. As ocupações que registraram maior número de indivíduos com queixas de LER foram: trabalhadores dos correios, profissionais de saúde e de montagem de equipamentos em geral (TANAKA e Col. 1995). Outro estudo, também nos Estados Unidos, estimou em cerca de 400.000 a 500.000 o número de cirurgias de túnel do carpo (?) realizadas anualmente, traduzindo-se em um custo econômico da ordem de 2 bilhões de dólares por ano (PALMER e HANRAHAN 1995)". (WÜNSCH FILHO, 1997, p. 7,8). Dados do United States Bureau of Labour Statistics mostram consistente aumento no número de casos de LER/DORT entre 1981 e 1994 nos E.U.A.. Em 1981 houve registro de 22.600 casos que representaram 18% das doenças ocupacionais daquele país, ao passo que em 1994 foram 332.000, representando 65% de todas as doenças, portanto, um aumento de 14 vezes. No Brasil, o sistema nacional de informação do Sistema Único de Saúde não inclui os acidentes de trabalho em geral e nem LER/DORT, em particular, o que não permite se ter dados epidemiológicos que cubram a totalidade dos trabalhadores, independentemente de seu vínculo empregatício. Os dados disponíveis são aqueles da Previdência Social, que se referem apenas aos trabalhadores do mercado formal e com contrato trabalhista regido pela CLT, o que totaliza menos de 50% da população economicamente ativa (FUNDAÇÃO IBGE, 1991). Cabe ressaltar que esses dados são coletados com finalidades pecuniárias e não epidemiológicas. Feitas essas ressalvas, pode-se constatar que das doenças consideradas ocupacionais pelos critérios da Previdência Social, o grupo das "tenossinovites e sinovites", da Classificação Internacional de Doenças, no qual, foram codificadas LER/ DORT, e é amplamente majoritário. 2.3 Aspectos clínicos Devido à abrangência da conceituação de L.E.R., e para melhor especificar e caracterizar as estruturas acometidas do ponto de vista clínico, no Brasil, o Instituto Nacional do Seguro Social (1993), através das Normas Técnicas para Avaliação da Incapacidade relativa à L.E.R., classifica esta síndrome nas seguintes formas clínicas: • Tenossinovites: tenossinovite dos músculos extensores dos dedos e tenossinovite De Quervain;. 15 • Epicondilites; • Bursites; • Tendinites: tendinite do músculo supra-espinhoso e tendinite do músculo biciptal; • Cistos Sinoviais; • Dedo em Gatilho; • Contratura ou Moléstia de Dupuytren; • Compressão dos Nervos Periféricos: síndrome do Túnel do Carpo; síndrome do Canal de Guyon; síndrome do músculo pronador redondo; síndrome cervicobraquial; síndrome do desfiladeiro torácico; síndrome da Tensão do Pescoço. De modo similar, Guidotti (1992) lista os tipos de L.E.R. mais comumente encontrados: no pescoço refere-se à síndrome tensional do pescoço e à síndrome cervical; nos ombros cita a síndrome do desfiladeiro torácico, a tendinite biciptal, a tendinite do supraespinhoso, a capsulite adesiva e a síndrome acromio-clavicular; e no cotovelo, punho e mão cita a epicondilite, a tenossinovite de De Quervain, a síndrome do túnel do carpo e a compressão do nervo ulnar. Thompson & Phelps (1990) também agrupam a L.E.R. em: epicondilite, síndrome do túnel cubital, síndrome do túnel radial, síndrome do pronador, síndrome do interósseo anterior, síndrome de interseção, doença de De Quervain, Síndrome do túnel do carpo e dedo em gatilho. De acordo com as Normas Técnicas sobre LER – INSS (1993), estão especificados abaixo os estágios da L.E.R a partir do Grau I: Segundo Ilda. (2000), GRAU ou FASE “0” de L.E.R. – O trabalhador submetido aos fatores de risco para LER pode se queixar no final do expediente e durante picos de produção, de uma sensação de desconforto ou peso nos membros superiores, de forma localizada ou não, que imediatamente cessa com repouso ou com a diminuição do ritmo de produção. Raramente procuram o serviço médico e não há sinais no exame físico. Nesta fase a única indicação estará na necessidade de intervenção no ambiente de trabalho. GRAU I: Surge um desconforto, sensação de peso no membro afetado. A dor é espontânea e às vezes surge com pontadas durante a jornada de trabalho. Com o repouso ela desaparece e não há sinais clínicos. Quando comprimida a massa muscular comprometida à dor surge de forma leve e o prognóstico é bom. GRAU II: Durante a jornada de trabalho a dor aparece mais intensa, persistente e de forma intermitente. Nos períodos de exacerbação há uma redução de produtividade do trabalhador. A dor torna-se localizada, com redução de sensibilidade e poderá vir 16 acompanhada de calor e formigamento. Ainda poderão surgir nódulos. O prognóstico é favorável. GRAU III: A dor torna-se mais persistente, forte, intensa e apresenta-se irradiada. Mesmo com o repouso às vezes ela não desaparece e surge também, fora da jornada de trabalho, principalmente à noite. Há redução da tonicidade muscular, queda de produtividade, limitações de movimentos e dificuldade de executar tarefas domésticas. Os sinais clínicos surgem principalmente com o edema, acompanhado de transpiração. Poderá existir perda da sensibilidade. Quando apalpada a massa muscular afetada a dor é forte. Nesta fase não é aconselhável o retorno ao trabalho. O prognóstico é reservado. GRAU IV: A dor surge contínua e forte, desencadeando um intenso sofrimento. Ela acentua-se com os movimentos e irradia-se por todo o membro afetado. É comum a perda de força e controle dos movimentos. O edema persiste e poderão surgir deformações, como atrofia dos dedos pelo desuso dos mesmos. É anulada a capacidade de trabalho e a invalidez é caracterizada pela impossibilidade de exercer o trabalho regularmente. Ocorrem problemas psicossomáticos com quadros de depressão, insônia, angústia, ansiedade e medo. O prognóstico é sombrio. 2.4 Fatores de Risco O reconhecimento da complexidade deste fenômeno exige a noção de que não se trata de um mal de etiologia única. A multifatoriedade que envolve LER/DORT, supera a noção de que a repetitividade d e movimentos possa ser a causa exclusiva (APOSTOLI, 2001; LÉO, 1998; ASSUNÇÃO, 1995, 2000, 2001, 2002; BAWA, 1997; OLIVEIRA, 1991, 1998; BARREIRA, 1994; BERNARD, 2000; MIRANDA, 1998; SETTIMI, 2001; BORGES, 2000; SZNELWAR, 2001, 2000; GALAFASSI, 1998; ALEXANDRE & MORAES, 1999; BARRETO & SANTOS, 2001). A repetição de movimentos, numa abordagem um pouco mais sistêmica, passa a ser apenas mais um dos inúmeros fatores contributivos para a gênese desta problemática. Existe uma tendência atual de excluir a repetitividade como sendo fator de risco, calçada na leitura que se faz de que a seqüência extremamente repetitiva de uma linha de produção, por exemplo, seja conseqüência da forma como o trabalho é organizado e projetado, ficando o fator de risco, portanto, sendo atribuído a estes outros fatores mais complexos. 17 Por outro lado, alguns autores consideram a repetição de movimento como um e não exclusivo fator que contribui para o aparecimento de LER/DORT nos ambientes de trabalho. A exemplo, pode-se citar Assunção (2000), ao considerar que a noção de repetitividade é extremamente útil para se tentar abordar as situações de trabalho na maioria dos ambientes industriais e de escritório. Afirma, ainda, que ela deriva dos achados dos estudos da biomecânica, baseados nos conhecimentos da fisiologia muscular, acerca das lesões teciduais quando o ritmo em que a tarefa é realizada não garante a pausa necessária para que a fibra muscular retorne ao seu estado inicial de repouso, permitindo, assim, adequada circulação sangüínea. Nessa situação, podem ocorrer reações no organismo, gerando uma resposta inflamatória e/ou degenerativa das células dos tecidos moles (músculos, nervos, tendões). Na mesma linha Buckle (1997) afirma que, entre os mecanismos fisiopatológicos referenciados na gênese desses problemas, englobam-se contrações contínuas e aumento de pressão intramuscular, interrupção do aporte sangüíneo e compressões de feixes nervosos, levando ao sofrimento muscular crônico. Concordando ser, a repetição de movimentos, um dos fatores de risco. Assim também considera a repetitividade Apostoli (2001), em sua abordagem sobre o paradigma da evolução de LER/DORT. Quanto à exigência física decorrente do trabalho, Grandjean (1998) destaca a importância do esforço muscular. Em especial o trabalho estático, que além de favorecer a instalação da fadiga muscular, uma existência prolongada e excessiva. Assunção (2000) afirma que no adoecer do portador de LER/DORT deve-se considerar que o corpo é o primeiro e o mais natural instrumento do homem. Os gestos são mais do que encadeamentos musculares eficazes e operatórios, eles são atos de expressão da postura psíquica e social de um sujeito para o outro. O ser humano no trabalho movimenta-se por meio de ferramentas, mas, principalmente, através do seu corpo. Na evolução da espécie humana, quando o homem pôde manter-se de pé, ele liberou as suas mãos, que nesse momento se tornaram mais disponíveis para "assessorar" a mente. Os gestos manuais pela ação consciente permitem transformar os objetos a partir de um projeto elaborado mentalmente. Mas, sob um quadro temporal rígido, o gesto é cerceado. Considerando LER/DORT como um fenômeno multifatorial, vários são os fatores que contribuem para sua manifestação na realidade laboral. Miranda & Dias (1999) apresentam três grandes grupos como fatores causais, como sendo consensuais, apesar das diferentes abordagens existentes a cerca deste tema, entre eles destacam-se: 18 • Fatores de natureza ergonômica - força excessiva, alta repetitividade de um mesmo padrão de movimento, posturas incorretas dos membros superiores, compressão das delicadas estruturas dos membros superiores, incluindo fatores ambientais como frio, vibração, ventilação e ruídos, má adaptação do mobiliário, falta de manutenção em equipamentos e ferramentas, más concepções de postos de trabalho, exigência física desnecessária em função da disposição ou das dimensões de equipamentos e instrumental de trabalho. • Fatores de natureza organizacional e psicossociais - concentração de movimentos para um mesmo indivíduo, horas extraordinárias, dobras de turno, ritmo apertado de trabalho, ausência de pausas, jornada de trabalho exagerada, gratificação por produtividade, cobrança excessiva por produção e qualidade por parte da supervisão ou da chefia, incompatibilidade entre a formação e as exigências do trabalho, atividades monótonas, conflitos disfuncionais, problemas nas relações e interações humanas, ambientes de trabalho hostis, privação da criatividade e potencialidades individuais colocadas em segundo plano, empobrecimento e fragmentação da tarefa; • Fatores socioeconômicos e culturais, como o medo do desemprego, baixa remuneração e falta de reconhecimento social, ausência de perspectivas de desenvolvimento humano e pessoal e más condições de vida. Assim, LER/DORT seria uma manifestação da falência dos mecanismos psicológicos, individuais e coletivos, de resistência por parte dos trabalhadores, diante de práticas administrativas e gerenciais autoritárias, rígidas e opressivas existentes nas organizações. Na mesma linha, Smith (1996) afirma que são oito os fatores de risco que interferem na possibilidade de ocorrência de LER/DORT, sendo eles: a freqüência dos movimentos; a postura da articulação envolvida; a força necessária para realizar a tarefa ou a carga que exige forças; a vibração; as condições ambientais; as características da organização do trabalho; as condições psicossociológicas e os fatores de risco de ordem individual, como o sexo. As condições de vida fora do ambiente de trabalho também devem ser consideradas, podendo ter contribuição na gênese dos distúrbios. Apesar do reconhecimento dos inúmeros fatores que, combinados, podem refletir no adoecimento por parte de um trabalhador, algumas questões individuais podem facilitar ou predispor o trabalhador ao desenvolvimento de LER/DORT, embora não possam descartar a relação do fato com o trabalhar. Entre estes fatores estão algumas condições patológicas sistêmicas, como a diabetes, situações reumáticas, hipotiroidismo, colagenoses vasculares, 19 tuberculose e infecções. Com relação à condição prévia do indivíduo que desenvolve a manifestação em forma de doença, Apostoli (2001) apresenta uma interessante teoria que considera que as condições individuais e intrínsecas do trabalhador podem chegar a deixá-lo numa fase que o autor chama de pré-patológica, porém o que vai fazê-lo adoecer realmente de LER/DORT, são as más condições de trabalho, não descaracterizando, portanto, a relação ocupacional. Na mesma linha, Settimi (2001) apresenta argumentos de que é necessário reconhecer que o adoecer com LER/DORT é gerado pelo trabalho e não se deve usar de justificativas para descaracterizar as doenças daí provenientes, como não sendo relacionadas ao trabalho. Considera ainda, que os fatores externos ao trabalho não podem ser considerados para sua ocorrência e sim para seu agravamento. A complexa combinação dos fatores contributivos para a potencialização de uma determinada atividade ao risco, não são raras em muitas situações de trabalho e vão além das linhas de produção ou dos setores em que predomina a mão de obra feminina. Complexidade essa expressada por Sznelwar (2001), ao afirmar que LER/DORT poderia ser considerada, em última análise, como a síntese, o resultado de relações sociais de produção e do desenvolvimento tecnológico presentes em nossa sociedade. A Norma Regulamentadora nº 9 do Ministério do Trabalho (NR-9) torna obrigatória, a elaboração de mapas de risco ambientais nas empresas, devendo esses serem realizados pelas Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPA's), após ouvir todos os trabalhadores. Teoricamente, o conteúdo desta NR aponta para a reflexão de que ampla participação da classe trabalhadora permite a discussão coletiva das correções necessárias nos ambientes de trabalho e é fundamental para identificar fatores geradores das LER/DORT. O reconhecimento ou negação da relação existente de algum fator considerado de risco com o desenvolvimento de uma doença relacionada com o trabalho, também traz adaptações e ajustes extremamente variados, manifestando -se, na prática, ora no reconhecimento, ora na negação do nexo ou da existência real de LER/DORT. Ao considerar que certos fatores são discutidos como sendo ou não de risco, não fica difícil estabelecer que exista confusão também na aceitação da existência e no amparo social que se faria necessário em muitas situações. Evidencia-se assim, que a NR-9 faz uma abordagem específica e focada sobre os fatores de risco. 20 A NR-17 do MTb, referente à Ergonomia, dispõe sobre a necessidade da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), o que vai além da simples abordagem sobre os fatores de risco. 2.5 Fatores causais Acredita-se que a mudança estrutural do trabalho humano, advinda do avanço tecnológico possibilitou a maior fragmentação no trabalho e contribuiu para o aparecimento em maior escala da L.E.R., surgida em função dos movimentos repetitivos estereotipados e do esforço físico de estruturas delicadas do pescoço, braços e mãos. Já em 1713, Ramazzini (apud Kroemer, 1995) atribuiu as L.E.R.s aos movimentos repetitivos das mãos, às posturas corporais contraídas e ao excessivo estresse mental. Nesse sentido, Mendes (1995) cita a divisão entre concepção e execução do trabalho, resultante do desenvolvimento industrial, como princípio que trouxe graves prejuízos à saúde do trabalhador em conseqüência das prolongadas jornadas de trabalho, ritmo acelerado da produção, fadiga física, e sobretudo, automação, não participação no processo produtivo e parcelamento das tarefas. Assim, Sorock & Courtney (1996) consideram que os fatores de trabalho como: excessiva exposição a movimentos repetitivos por demanda da tarefa; posturas incorretas; emprego de força; baixa temperatura; vibração e fatores psicossociais como o estresse, estão intimamente relacionados aos distúrbios músculo-esqueléticos em grupos ocupacionais expostos a essas situações de trabalho. Em revisão mais recente, Pereira & Lech (1997), baseados nos fatores biomecânicos, organizacionais e psicossociais, listam as variáveis contributivas mais importantes na origem das LER/DORT, a saber: • Força • Repetitividade • Posturas viciosas dos membros superiores: principalmente as de contração muscular constante. • Compressão mecânica dos nervos por posturas ou mobiliário. • Vibração: pode gerar microtraumas. 21 • Frio: pela vasoconstrição que pode levar à déficit circulatório. • Sexo: maior incidência em mulheres. • Posturas estáticas do corpo durante o trabalho: durante a contração estática o suprimento sangüíneo para o músculo fica prejudicado, podendo favorecer a produção de ácido láctico que é capaz de estimular os receptores da dor, desencadeando-a, mantendo-a ou agravando-a. • Tensão no trabalho: exigências de produtividade e de ritmo de trabalho podem aumentar a tensão muscular, prejudicando a nutrição sangüínea dos músculos com possibilidade de ocorrência de dor muscular, fadiga e predisposição à LER/DORT. • Desprazer: o sentir prazer desencadeia a liberação de endorfina (analgésico interno), devido a isso, pessoas insatisfeitas no trabalho podem ter maior tendência a sentir dor do que as que trabalham prazerosamente. • Traumatismos anteriores predispõem o indivíduo à LER/DORT e são fatores importantes na sua incidência. • Atividades anteriores: pelo fato da LER/DORT ser causada por traumas cumulativos é necessária a análise da atividade exercida anteriormente. 2.6 Como evitar LER/DORT – Ações preventivas Ao iniciar uma abordagem sobre a prevenção e o fenômeno LER/DORT, faz-se necessária uma reflexão envolvendo o próprio significado da prevenção. O sentido de antecipação e acautelamento a que a prevenção remete parece ser de difícil associação com esse fenômeno, ao se considerar que independente das medidas adotadas a exposição do risco é a própria situação e condição de trabalho, continuaria existindo. A prevenção é apresentada como o principal fator com relação às abordagens referentes a LER/DORT (LIMA, ARAÚJO & LIMA, 1997; ASSUNÇÃO, 1993; RANNEY, 2000; OLIVEIRA, 1998; CODO & ALMEIDA, 1998; COUTO, 1994; MIRANDA, 1998). A necessidade de políticas preventivas efetivas, a partir dos diversos segmentos envolvidos com o trabalhador, com o trabalhar e suas múltiplas relações é reconhecidamente uma prioridade, sendo, portanto, a medida mais importante envolvendo esse fenômeno. Setores antes voltados para causas unidirecionais, como os sindicatos, o poder judiciário, os órgãos públicos e o empresariado, estão revendo a possibilidade de contribuir de forma mais 22 efetiva na prevenção de LER/DORT. Assim como, a integração dos diferentes envolvidos, cada qual com suas competências específicas, em sintonia de ações, vem sendo considerado um ideal com relação a esta problemática (SZNELWAR, 2001 e SETTIMI, 2001). É importante considerar a natureza das atividades, do treinamento do trabalhador, da disponibilidade de relações de assistência e supervisão, que podem afetar a exposição, a satisfação, a atitude e o comportamento. No aspecto organizacional, as políticas e os procedimentos das empresas podem afetar a exposição, por meio da definição de projetos e cargos, através da especificação da duração do tempo gasto no trabalho e estabelecendo o clima psicológico em relação à socialização, a carreira e a segurança no emprego. Esses fatores podem influenciar a disposição psicológica que afeta a motivação, a atitude, o comportamento e a saúde numa base holística. Seus efeitos podem influenciar a suscetibilidade para o desenvolvimento de LER/DORT (SMITH, 1996). Conforme Pagliari (2002), as principais ações preventivas que propiciam uma melhoria na qualidade de vida são: • Identificar tarefas, ferramentas ou situações que causam dolorimento; • Fazer revezamento nas tarefas; procure aprender outras, que exijam movimentos diferentes; • Fazer pausas de 10 minutos para cada 50 minutos trabalhados, evitando ultrapassar 6 horas de trabalho diário repetitivo; • Procurar identificar as posições incorretas e forçadas no trabalho, sugerindo modificações; • Informar claramente à sua chefia quando o tempo exigido para realizar uma tarefa for reduzido; • Diante do aparecimento de dor ou formigamento nos membros superiores, procurar os profissionais de saúde; • Informar-se sobre os recursos de conforto do seu posto de trabalho; • Procurar adotar posturas corretas; • Utilizar a flexibilidade postural: levante-se de tempos em tempos, ande um pouco, espreguice-se, faça alongamentos e movimentos contrários ao da tarefa; • Os digitadores devem sentar-se sempre com o quadril no fundo do assento e relaxar o corpo; tronco apoiado ao encosto e pés apoiados no chão; utilizar um suporte para documentos na frente do corpo, facilitando a leitura e evitando ficar com o pescoço 23 dobrado; aproximar a cadeira da mesa de trabalho, observando que tronco e pescoço não fiquem curvados; manter o material de trabalho disposto a facilitar seu manuseio. 24 3 LEGISLAÇÃO No intuito de normatizar direitos e deveres e proteger os empregados e empregadores, leis foram criadas, que começam pela Constituição Federativa do Brasil e vão seguindo através dos códigos Cível e Penal, Consolidação das Leis do Trabalho, Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho, Regulamento dos Benefícios da Previdência Social. Neste capitulo apresentamos os principais recortes das legislações que dizem respeito às doenças ocupacionais. (GAIGHER & MELO, 2001). 3.1 Responsabilidade Civil Nada mais lógico e equânime, no dizer de Souza, apud Campos (2000), que: “em se tratando de doença profissional, responderão pelas obrigações resultantes da lei de acidentes, todos os empregadores sob cuja dependência houver trabalhado o operário, na mesma profissão e proporcionalmente ao tempo de serviço a cada um prestado”. São independentes as ações de acidente de trabalho, de responsabilidade civil e penal. Cabe a cumulação das ações civis e acidentárias, sem qualquer compensação (Incidente de Uniformização de Jurisprudência, na Apelação Cível nº 38.705-1, de São Paulo). O Supremo Tribunal Federal, em recentíssimos pronunciamentos, confirmou a vigência da súmula nº 229, cujo enunciado diz: “A indenização acidentária não exclui a do direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador”. Por outro lado é orientação cediça que a ação de acidente de trabalho, por ser de natureza alimentar é compensatória e a de responsabilidade civil é indenizatória visando restabelecer a situação existente e anterior ao dano. Neste tópico também Campos (2000), cita que se pode olvidar que a responsabilidade civil envolve a empresa. O patrão ou seus prepostos. Efetivamente a Súmula nº 341 do Colendo Supremo Tribunal Federal edita: “É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto”. Nos artigos 159, 1.518 e 1.521 do Código Civil, é reforçada a responsabilidade penal, conforme transcrito a seguir: 25 Artigo 159 – “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligencia ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízos a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. Artigo 1.518 – “Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado e, se tiver mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação”. Artigo 1.521 – “São também responsáveis pela reparação civil, inciso III: ‘O patrão, amo ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, por ocasião dele’”. Artigo 1.522 – “A responsabilidade estabelecida no artigo antecedente, n. III abrange as pessoas jurídicas que exercem exploração industrial”. Logo o desrespeito destes dispositivos configurar-se-á no ilícito civil quando a conduta do empregador ou preposto “revela negligência e imprudência, omissão de precauções elementares, despreocupação e menosprezo pela segurança do empregado, dando causa ao acidente”. 3.2 Consolidação das Leis do Trabalho – CLT Analisando a CLT, constata-se que a responsabilidade de patrão e empregados no que diz respeito a segurança do trabalho no seu titulo II – das Normas Gerais de Tutela do trabalho. Capitulo V – Da Segurança e Medicina do Trabalho. No artigo 157 que relata as obrigações das empresas e no artigo 158 que relata as obrigações dos empregados, temos: Artigo 157 – “Cabe as empresas”: I – Cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II – Instruir os empregados, através de ordens de serviços, quanto as precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; III – Adotar as medidas que lhe sejam determinadas pelo órgão regional competente; IV – Facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente “. 26 No artigo 158 – “Cabe aos empregados”: I – Observar as Normas de Segurança e Medicina do Trabalho, inclusive as instruções de que trata o item II do artigo anterior; II – Colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste capitulo”. 3.3 Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho Segundo o Manual de Legislação - Segurança e Medicina do Trabalho que é composto de 29 Normas Regulamentadoras – NR’s – e 5 Normas Regulamentadoras Rurais – NRR’s, a lei 6.514, de 22 de dezembro de 1977 – Altera o capitulo V da CLT, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho e a Portaria 3.214, de 8 de junho de 1978, aprova as Normas Regulamentadoras – NR – do capitulo V do titulo II da CLT, relativas a Segurança e medicina do Trabalho. Contudo para este trabalho são destacadas apenas as seguintes: NR-4 - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho: Estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e privadas, que possuam empregados regidos pela CLT, de organizarem e manterem em funcionamento, Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho - SESMT, com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. A fundamentação legal, ordinária e específica, que dá embasamento jurídico à existência desta NR, é o artigo 162 da CLT. NR-5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA: Estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e privadas organizarem e manterem em funcionamento, por estabelecimento, uma comissão constituída exclusivamente por empregados com o objetivo de prevenir infortúnios laborais, por meio da apresentação de sugestões e recomendações ao empregador para que melhore as condições de trabalho, eliminando as possíveis causas de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. A fundamentação legal, ordinária e específica, que dá embasamento jurídico à existência desta NR, são os artigos 163 a 165 da CLT. NR-6 - Equipamentos de Proteção Individual - EPI: Estabelece e define os tipos de EPI's a que as empresas estão obrigadas a fornecerem aos seus empregados, sempre que as condições de trabalho assim exigirem, a fim de resguardar a saúde e a integridade física dos 27 trabalhadores. As fundamentações legais, ordinárias e específicas, que dá embasamento jurídico à existência desta NR, são os artigos 166 e 167 da CLT. NR-7 - Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional: Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO, com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores. A fundamentação legal, ordinária e específica, que dá embasamento jurídico à existência desta NR, são os artigos 168 e 169 da CLT. NR-9 - Programas de Prevenção de Riscos Ambientais: Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade física dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. A fundamentação legal, ordinária e específica, que dá embasamento jurídico à existência desta NR, são os artigos 175 a 178 da CLT. NR-17 - Ergonomia: Visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às condições psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. A fundamentação legal, ordinária e específica, que dá embasamento jurídico à existência desta NR, são os artigos 198 e 199 da CLT. (GAIGHER & MELO, 2001). 3.4 Custos das LER/DORT no Brasil O Instituto Nacional de Prevenção às LER/DORT é uma associação civil sem fins lucrativos, mantenedora do Programa Nacional de Prevenção às LER/DORT (PREVLER, 2003). Sua proposta é atuar em todo o Brasil promovendo eventos, palestras, seminários e congressos, além de implantar o Programa de Prevenção em empresas e entidades sindicais, conscientizando a sociedade a respeito das formas de prevenção às Lesões Por Esforços 28 Repetitivos (LER) ou, pela nova nomenclatura adotada pelo INSS, Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). O Programa Nacional de Prevenção as LER/DORT tem como objetivo conscientizar a sociedade brasileira para a importância de doenças como a tendinite, a tenossinovite e a bursite — as mais conhecidas, entre outras que atingem milhares de trabalhadores — e, através da realização de uma série de eventos em todo o País, levar à sociedade ao debate desse importante tema. A Lesão por Esforço Repetitivo é a segunda causa de afastamentos do trabalho no Brasil, segundo dados do INSS. A cada 100 trabalhadores na região Sudeste, por exemplo, um é portador de LER, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. As LER/DORT atingem o trabalhador no auge de sua produtividade e experiência profissional. A maior incidência ocorre na faixa etária de 30 a 40 anos. As categorias profissionais que encabeçam as estatísticas são bancários, digitadores, operadores de linha de montagem, operadores de telemarketing, secretárias, jornalistas, entre outros, sendo as mulheres as mais atingidas, pois, como regra geral, são elas que exercem as tarefas mais fragmentadas e repetitivas e são as mãos-de-obra mais baratas em todo o mundo. O custo para as empresas dos acidentes de trabalho e doenças ocupacionais é de R$ 12,5 bilhões/ano e para o Brasil é de R$ 20 bilhões/ano (aposentadoria, indenizações e tratamento médico) segundo estudo do economista José Pastore, da Universidade de São Paulo. Somente no primeiro ano de afastamento do funcionário, as empresas gastam cerca de R$ 89.000,00 (oitenta e nove mil reais), com encargos sociais e pagamento de trabalhador temporário enquanto o lesionado está em licença-médica. Quando detectadas, as lesões devem ser tratadas e o portador deve receber condições para retornar ao trabalho. Ele pode ser reaproveitado em outra função, pois, com o conhecimento que tem da empresa onde trabalha, sentir-se-á útil e economizará ao empresário o treinamento de um novo funcionário. Existem novos tratamentos na medicina clássica, a exemplo da mesoterapia, utilizada em lesionados sem múltiplas lesões, e as terapias complementares, como do-in, shiatsu e acupuntura. Em sua jornada, o lesionado acaba aprendendo a conviver com uma realidade: o tratamento das LER/DORT é multidisciplinar. A única saída que se tem é agir como nos Estados Unidos que, em 1995, promoveram uma campanha de prevenção e conscientização sobre o problema. É necessário se pensar em termos empresariais e humanos. Os empresários precisam repensar a política de 29 recursos humanos das entidades, pois, ao implantar um Programa de Prevenção, estarão proporcionando uma melhor qualidade de vida para os seus funcionários e obtendo diminuição no número de casos. A melhor arma que se dispõe para lidar com este grave problema é mesmo a prevenção. É hora de mudar-se o comportamento, é tempo de unirem-se os empresários, os trabalhadores e o governo numa ação integrada. É preciso prevenir e evitar que o trabalhador torne-se um lesionado, atingido também pelo preconceito, devido à invisibilidade das LER nos primeiros estágios. As empresas economizarão, e o trabalhador terá uma melhor qualidade de vida laborativa, além disso, o INSS não terá o número de pessoas que possui atualmente em auxílio-previdenciário. 30 4 GINÁSTICA LABORAL 4.1 Ginástica Laboral (GL) e suas características Entre as medidas de enfrentamento do problemático e complexo desenvolvimento da LER/DORT, a introdução da GL passou a ser comum nos ambientes de trabalho industrializados, passando a ocupar um grande espaço dentro das iniciativas de prevenção propostas pelos diferentes profissionais que atuam na saúde do trabalho. No entanto, não existem estudos epidemiológicos que comprovem seus resultados enquanto método de prevenção. Segundo Alves e Vale (1999), a GL surgiu na Polônia em 1925 com a denominação de ginástica de pausa, sendo aplicada em seguida por holandeses e russos por alguns anos. De acordo com Polito e Bergamaschi (2002), a GL se desenvolveu mais expressivamente em solo japonês, onde trabalhadores dos correios participam diariamente da GL desde 1928, almejando alcançar saúde e descontração. No Brasil a GL foi efetuada em estaleiros somente em 1969, trazida por empresários japoneses. Martins (2004) entende que a GL é uma pausa ativa realizada no ambiente de trabalho, cuja duração média é de cinco minutos quando efetuada na fábrica e quinze minutos quando executada no escritório, composta por atividades físicas (ex: exercícios de alongamento e massagens), recreacionais e meditativas (incluindo-se exercícios respiratórios e técnicas de visualização). A GL pode ser classificada quanto ao horário de execução, e para Mendes e Leite (2004), se no inicio do expediente de trabalho é chamada de preparatória, se no meio do expediente é chamada compensatória e, se no final do expediente, é chamada de relaxante. Lima (2003) apresenta um entendimento similar, tendo em vista que classifica a GL como de aquecimento ou preparatória, compensatória ou de pausa, de relaxamento ou final. Na visão de Martins (2004), A GL apenas classifica-se em preparatória (antes da jornada de trabalho) e compensatória (durante/após o trabalho). A GL preparatória é mais indicada para os trabalhadores cujas tarefas laborais requeiram força ou grande precisão de movimentos, enfatizando exercícios que proporcionem aquecimento músculo-articular e posteriormente, aumento da circulação sanguínea periférica. Por sua vez, a GL compensatória 31 deve basear-se no alongamento estático a fim de ativar os grupos musculares mais utilizados durante o cotidiano laboral. Conforme Couto (1995), a GL preparatória pode ser utilizada como prevenção da fadiga por tensão cognitiva, tendo em vista que pode proporcionar um número maior de estímulos cerebrais, tornando o indivíduo mais desperto e, assim, mais apto a ter respostas adequadas ou corretas. Também é recomendado que, em intervalos de dez minutos, a cada 90 minutos trabalhados, o funcionário submetido a este tipo de fadiga, igualmente deva realizar a ginástica compensatória. Entretanto, o exercício físico, quando mal aplicado/realizado, pode causar danos. No ambiente de trabalho, a qualidade deve estender-se ao PGL, e não somente aos produtos e serviços efetuados pela empresa (MARTINS, 2001). Para que a correta aplicação dos exercícios de alongamento e demais atividades da GL acarretem benefícios ao trabalhador, o individuo que deve ministrar tais aulas é o professor de educação física. Este profissional está apto a corrigir e adaptar as atividades da GL a necessidade e individualidade do trabalhador (MARTINS, 2004). Quando a GL é aplicada por multiplicadores (líder de cada grupo de trabalhadores que executa a GL), tal atividade pode ter aspecto, no mínimo nulo, conforme os estudos de Militão (2001) e Longen (2003) Militão (2001) pesquisou se existia diferença nos resultados da GL quando orientada por multiplicadores ou professores de educação física em quatro empresas do estado de Santa Catarina que aplicavam a GL há mais de um ano (duas empresas utilizavam multiplicadores e as outras duas, professores de educação física). Os resultados estatisticamente significantes, provenientes da aplicação de questionários em uma amostra de 27 trabalhadores (n = 27), sugeriram que quando a GL era ministrada pelo multiplicador, tanto a empresa quanto o próprio trabalhador perdiam ou deixavam de ganhar benefícios que poderiam ter, se tal atividade fosse ministrada pelo educador físico. Segundo Kooling (1980), a GL é também chamada de Ginástica Laboral Compensatória (GLC), devendo atuar sobre as sinergias musculares antagônicas, as que se encontram ativas durante o trabalho. Este tipo de atividade visa proporcionar a compensação e o equilíbrio funcional, assim também como atuar com a recuperação ativa, de forma a aproveitar as pausas regulares durante a jornada de trabalho para exercitar os músculos correspondentes e relaxar os grupos musculares que estão em contração durante o trabalho, com o objetivo de prevenir a fadiga. Já para Targa (1973), a GLC é a ginástica que tenta impedir que se instalem vícios posturais durante as atividades habituais, principalmente as do ambiente de trabalho. Utiliza 32 exercícios que atuam sobre musculaturas pouco solicitadas, e relaxam aquelas que trabalham em demasia. Afirma ainda, que neste tipo de ginástica obtêm-se melhores resultados iniciando-se pelo relaxamento dos segmentos periféricos e aos poucos atingindo os centrais ou ainda, alongamento muscular seguido de movimentos ativos simples executados durante pausas de 7 a 10 minutos, em cada período de 3 a 4 horas de trabalho. 4.2 Os profissionais que atuam com a Ginástica Laboral Os programas de GL desenvolvidos em inúmeras empresas do país, são de forma geral conduzidos por fisioterapeutas ou professores de educação física. Outros profissionais como psicólogos, terapeutas ocupacionais eventualmente figuram adentrando neste tipo de atividade. A discussão sobre as competências e habilidades para a promoção e acompanhamento de programas de exercícios em empresas é complexa e ampla, indo além em muitos casos, do principal fator que deveria ser foco central da preocupação de todos estes profissionais, que são os alcances reais e a delimitação e definição do papel da GL dentro de iniciativas de prevenção de doenças relacionadas ao trabalho ou por ele agravadas. Pimentel (1999), discorre que cabe a todo profissional nesta área, a intervenção crítica, ciente e aplicada dentro de sua especialidade. Segundo o autor, a intervenção dos profissionais da área de saúde no universo do trabalho, não ocorrem em condições ideais na atualidade. Segundo Alves (2000), a expressão Ginástica Laboral e o fato de serem atividades coletivas acabam sugerindo ligação com a educação física, mas exercícios físicos têm sido chamados de ginástica desde a Grécia antiga. Segundo o autor, o enfoque fisioterapêutico diz respeito, à prevenção de LER/DORT por meio de exercícios terapêuticos, porém o enfoque da educação física refere -se à promoção da saúde em pessoas hígidas. A interdisciplinaridade, tão difundida na academia e freqüente nos periódicos, livros, matérias de jornais e nas verbalizações sobre saúde do trabalho, parece relegada a um segundo plano justamente em uma área que exige, por sua própria complexidade, a ação integrada. Os programas de GL acompanhados constantemente por profissionais capacitados, sejam eles fisioterapeutas ou professores de educação física, têm melhores resultados de adesão do que programas que utilizam multiplicadores de exercícios (MILITÃO, 2001; SOARES & ASSUNÇÃO, 2002; CAÑETE, 1996). 33 Sobre este assunto, Pellegrinotti (1998), defende a grande necessidade da orientação adequada de uma prática de atividade física, que atenda aos objetivos propostos e aos anseios do público alvo em relação à saúde. Dentro da mesma perspectiva Pimentel (1999), referindose aos programas conduzidos por monitores, critica essa prática e defende o acompanhamento profissional constante, promovendo com isso, a possibilidade de formação de consciência corporal engajada com o real bem-estar do trabalhador. 4.3 Efeitos Fisiológicos Atribuídos à Ginástica Laboral Grande parte dos efeitos atribuídos à GL é relacionada aos benefícios fisiológicos proporcionados pelos exercícios. A GL compensatória é utilizada também, como uma forma de acelerar os processos fisiológicos de recuperação, neste caso de forma ativa, durante uma pausa programada no trabalho. Os tipos de recuperação físico-funcional conhecidas e utilizadas principalmente na área esportiva, dividem-se em recuperação ativa e recuperação passiva. (MCARDLE; KATCH & KATCH, 1998). Na recuperação passiva são utilizados em diversas práticas desportivas o relaxamento, os banhos térmicos quentes ou frios, as duchas escocesas, as banheiras de hidromassagem, posições corporais específicas e o próprio repouso, todos utilizados como métodos para acelerar o processo de restauração das potencialidades fisiológicas do indivíduo. Visando uma recuperação passiva, o indivíduo habitualmente deita-se na esperança de que a inatividade completa reduzirá as demandas energéticas de repouso e, dessa forma irá liberar oxigênio para o processo de recuperação. Por outro lado, ganhou força nos últimos anos, a recuperação ativa, também chamada de contra-esforço, que consiste em manter uma atividade, porém de menor intensidade que a atividade principal e duradoura. Esta atividade visa a reabsorção dos catabólitos, principalmente relacionados com a acidez dos tecidos produzida pelo ácido láctico. Segundo Mcarcle; Katch & Katch (1998), ainda não foram esclarecidas as razões para o benefício da recuperação ativa em comparação com a passiva. Cogita-se dentro dos estudos e do conhecimento da fisiologia do exercício, que a remoção facilitada do lactato com o exercício na recuperação ativa, representa provavelmente o resultado de uma maior perfusão de sangue através dos órgãos que utilizam lactato, tais como fígado e coração. O trabalho de 34 recuperação ativa vem sendo usado em alguns esportes a exemplo do futebol. Após a partida os atletas continuam desenvolvendo uma atividade menos cadenciada com o propósito de acelerar a reabsorção do ácido láctico no ciclo das fontes energéticas. Esta proposta visa uma recuperação mais rápida de lactato, pois esse tecido consegue oxidar o lactato através do metabolismo do Ciclo de Krebs, na cadeia respiratória celular. Pellegrinotti (1998) afirma que um programa de atividade física geral pode melhorar a capacidade de força dos membros superiores e inferiores, e as capacidades funcionais relacionadas com o transporte e utilização do oxigênio pelas células, além de favorecer e potencializar a função cardíaca e respiratória. Silva (1995) sobre os efeitos dos exercícios sobre o sistema locomotor, cita a ocorrência de um desenvolvimento harmonioso dos grandes grupos musculares, estabilizando corretamente a coluna vertebral e as articulações. Aborda ainda, a prevenção ao aparecimento de anormalidades articulares e rupturas tendíneas e ligamentares. Para Alves (2000), os exercícios em forma de GL ativam a circulação periarticular com aquecimento tecidual e neuromuscular, que são imprescindíveis às atividades que exigem atenção e tomadas de decisão que resultam em atos motores, promovem ganho de força pelo alongamento muscular restaurador do potencial contrátil, melhoram o retorno venoso, a capacidade ventilatória, reduzem o estresse e melhoram a postura. Um outro fator importante a ser considerado com relação à fisiologia da atividade, no caso do trabalho, refere -se ao ritmo. Existem trabalhos com ritmo estável e trabalhos com ritmo instável. O trabalho em ritmo estável pode ser considerado, para a maioria das pessoas, como sendo aquele em que ocorre uma captação de oxigênio abaixo do VO2 máximo, envolvendo pouco acúmulo de lactato. A recuperação após esse tipo de atividade implica na ressíntese dos fosfatos de alta energia, o restabelecimento do oxigênio no sangue, nos líquidos corporais e na mioglobina muscular, assim como um pequeno custo energético para manterem elevadas a circulação e a ventilação. Nessa situação, a recuperação é mais rápida com as técnicas passivas, pois o exercício serviria somente para elevar o metabbolismo total e retardar o retorno à condição inicial (MCARCLE; KATCH & KATCH, 1998). Já no trabalho em ritmo instável, quando a intensidade ultrapassa os 60 a 75% do VO2 máximo, deixa de haver um ritmo estável de metabolismo aeróbico, a formação de ácido láctico no músculo ultrapassa sua velocidade de remoção e acumula-se lactato no sangue. Como o ânion lactato causa fadiga no músculo esquelético independentemente das reduções associadas no pH, qualquer procedimento capaz de acelerar a remoção de lactato poderia 35 aprimorar o desempenho no exercício, o que indica que a recuperação ativa teria melhor indicação. Outro aspecto fundamental está relacionado com o condicionamento físico do trabalhador, seja ele, de uma linha de produção contínua, de uma caldeiraria, de um almoxarifado, e é claro de um digitador de computadores ou caixas de banco e super mercados. Segundo Toledo & Orseli (2001), para estas situações está comprovado que exercícios físicos de aquecimento, alongamento e flexões antes, durante e após a jornada de trabalho ajudam em muito a prevenção das LER/DORT, desde que orientados por especialista na área. 4.4 Benefícios da Ginástica Laboral A prática da Ginástica Laboral evoluiu nos últimos anos. Empresas passaram a adotar a sua prática, pois contribui para uma postura adequada, promovendo maior integração no ambiente de trabalho, visto que desperta a noção do trabalho em equipe. Juntamente com a ergonomia, atua fortemente na prevenção de doenças por traumas cumulativos provenientes da atividade no trabalho (DIAS, 1994). De acordo com o SESI (1996) ao se investir em uma ação dessa natureza, que prevê na sua operacionalização, pausa durante a jornada de trabalho remunerada, pretende-se alcançar resultados positivos. Além da melhoria geral no ambiente profissional, ressaltam-se outras importantes vantagens, como: • Promoção da Saúde, pois a relação da saúde com o trabalho na proposta da ginástica na empresa intensifica na medida em que o trabalhador passa a ter acesso a informações importantes acerca do próprio corpo e sobre os respectivos cuidados necessários, em conseqüência disso, percebe-se o desenvolvimento de uma consciência corporal, o estimulo à pratica esportiva fora do local de trabalho, favorecendo a diminuição de fatores de risco, como: tabagismo, alcoolismo, sedentarismo e obesidade. • Diminuição de acidente de trabalho e das doenças profissionais, pois se acredita que o maior número de acidentes ocorre nas primeiras duas horas da jornada de trabalho, nas quais a maioria dos indivíduos ainda não se encontra desperta e nas duas últimas, quando há diminuição da concentração e do reflexo em conseqüência da fadiga. A ginástica na empresa colabora para a diminuição de 36 acidentes de trabalho e das doenças profissionais, pois desperta o trabalhador, a partir da quebra de rotina; prepara a musculatura para ações habituais do trabalho; ativa a circulação sanguínea, aumentando a oxigenação do cérebro e contribuindo para a retomada da atenção e concentração no trabalho. • Incentivo à Integração, pois a prática da atividade física favorece maior integração e desperta no grupo a necessidade da aplicação de princípios como, espírito de equipe e disciplina. No que diz respeito aos aspectos individuais proporciona a quebra da timidez, propicia a elevação da auto-estima, concorre para a diminuição do absenteísmo, além de estimular a manifestação de lideranças. Segundo Alvarez (1996) Tem sido registrado que em países desenvolvidos, a principal causa de morte são as doenças cardiovasculares, as quais passaram a atingir cada vez mais pessoas da faixa etária de 34-54 anos (Paffenbarger et al, 986). Com isso, milhões de dólares são gastos com pagamentos de seguros, pensões e processos de seleção e treinamento de substitutos das pessoas, que acometidas por estas se afastam precocemente do trabalho. Os programas de exercício podem beneficiar o setor corporativo e através do melhoramento da imagem da companhia, o entrosamento dos empregados, aumentando a satisfação dos mesmos, melhorando a produtividade, a redução do absenteísmo e substituição de pessoal, uma diminuição dos custos médicos, redução de lesões e acidente e um incremento no estilo de vida em geral (Shephard, 1994, p.3). Conforme Cañete (1996) existem resultados esperados na prática da Ginástica laboral, como a redução dos acidentes de trabalho, redução das lombalgias, reduções afastamentos para a saúde; aumento da produtividade e melhora da saúde física. Como também, os resultados não esperados como a melhoria das condições de trabalho, aumento da consciência sobre a realidade; melhoria da saúde em geral: física, mental e espiritual; elevação da auto-estima; aumento da disposição para o trabalho; desenvolvimento de posturas preventivas; aumento da motivação para o trabalho e desenvolvimento da responsabilidade e comprometimento; redução do número de erros e falhas; melhoria da qualidade de vida; aumento da qualidade do trabalho; cultivo de hábitos saudáveis (familiares e comunidade); redução de faltas; melhoria da imagem da empresa; melhoria do relacionamento interpessoal; humanização do ambiente de trabalho; liberação da criatividade; aumento da integração, 37 espírito de equipe, união e cooperação; redução do estresse; alivio de tensão e relaxamento; aumento da consciência sobre cuidados consigo próprio e com a saúde. Shephard (apud Alvarez, 1996, p.2) [...] verificou que após um programa de exercícios físicos no trabalho, as pessoas se sentiam melhor, além de ocorrer uma redução de gastos médicos. O mesmo autor afirma que o melhor estado de saúde é um processo contínuo De ‘bem-estar’, com uma demanda reduzida de recursos médicos”. Conforme Alvarez (1996) Cox & Shephard (1981) pesquisaram a influência de um programa de exercícios físicos no local de trabalho sobre a aptidão física, a produtividade e o absenteísmo, e verificaram que apenas 20% dos trabalhadores, participaram efetivamente do programa, os quais mostraram ganhos significativos da aptidão física (redução da gordura corporal, aumento da capacidade aeróbica e flexibilidade). E, apesar de não ter sido observado aumento na produtividade. da empresa, o absenteísmo reduziu em 2%, o que representou uma redução dos custos totais da empresa. O aumento da produtividade deverá resultar de um aumento da capacidade física para o trabalho, e então um decréscimo da fadiga (laporte, 1996, Shephard, 1977), redução de doenças (linden, 1969; Pravosudov, 1978) e alivio do desanimo, ansiedade ou agressividade gratuita (SCOTT, 1970, p.37). Observa-se que através de um Programa de Ginástica Laboral e Ergonomia, os funcionários retornam mais animados para o trabalho, se relacionam melhor como os colegas, e acima de tudo, apresentam sensível melhora nas dores musculares e articulares (Dias, 1994). Para Keer (citado por Pagani, 1999) “Uma pesquisa sobre estresse e absenteísmo, apontou que esses sintomas podem ser reduzidos com a participação dos empregados em programas de promoção da saúde e controle do estresses dentro da própria empresa” (p.4). Dias (1994) afirma que em muitos casos, a atividade física diária pode substituir tranqüilamente o tratamento através de medicamentos, pois além de amenizar e até eliminar a dor, proporciona maior disposição ao funcionário. De acordo com Leite e Mendes (1999) pesquisas na Bélgica, Bulgária e URSS (antiga) mostraram que a reação visomotora melhora 42% a 65% das pessoas que se submetem ao Programa de ginástica de pausa. 38 A Ginástica Laboral deverá ser utilizada principalmente para pessoas que trabalhem durante parte de sua jornada em posições sedentárias e com tarefas repetitivas, pois essas pessoas provavelmente terão tensões nervosas, dores nas costas, formigamentos nas pernas, problemas com os cotovelos, coluna, etc. (Leite & Mendes, 1999). Foi baseada em diversas literaturas sobre Ginástica laboral, que a Federação de Estabelecimentos de Ensino de Novo Hamburgo _FEEVALE – e o Serviço Social da Indústria – SESI, desenvolveram trabalho pioneiro em cinco empresas industriais da região do Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul, envolvendo 292 operários e funcionários. Este projeto procurou oferecer as empresas oportunidades de desenvolver, junto ao seu pessoal ativo, atividades para o crescimento grupal e individual, bem como o equilíbrio funcional do homem e suas capacidades operacionais na empresa, através da Ginástica laboral Compensatória (Kolling, 1980, p.51). Das cinco empresas que integraram o projeto, três permaneceram desenvolvendo a Ginástica laboral Compensatória, vinculando os monitores ao seu quadro de pessoal e custeando as despesas decorrentes deste empreendimento, em conseqüência, pode-se afirmar que a atividade traduziu-se numa forma de contribuir-se, efetivamente, para a melhoria das condições de vida do ser humano, atendendo aos anseios e as necessidades de crescimento do trabalhador brasileiro (Kolling, 1980, p.3). O SESC/São Paulo, dentro de sua linha de ação na área de Educação Física e Desporto, especificamente no campo do exercício físico, desenvolve um trabalho incorporado ao projeto GINÁSTICA SESC, tratando-se do programa “Ginástica na Empresa” (Leite & Mendes, 1999). E, em 1989 foi iniciado um trabalho de Ginástica laboral na fábrica de tintas Renner, em Porto Alegre (RS). Este programa teria a duração de três meses, onde além da ginástica, seria feito uma avaliação do posto de trabalho, observação e correção postural dos funcionários. Após o termino do projeto piloto, verificou-se uma sensível diminuição da procura, pelos funcionários que participavam do programa, ao serviço médico da empresa. Após este período o trabalho prosseguiu, tendo sido expandido para os demais setores da empresa, o que teve continuidade até agosto de 1992, quando senti a necessidade de desenvolver este trabalho em outras empresas devido a escassez de profissionais nesta área, bem como a importância da qualidade de vida do trabalhador (Dias, 1994 Alguns empresários vêm os dez minutos diários de ginástica laboral como uma perda da produtividade. Na realidade o que acontece é o contrário, ou seja, funcionário com 39 dor produz menos, aumenta a procura ambulatorial; aumenta o índice de absenteísmo em conseqüência de atestados médicos; há desanimo e pouca disposição para o trabalho. Segundo Blair et al.; Department of Health and Human Services; Fieding (APUD IN ALVAREZ, 1996, p. 4) Os benefícios que os governos podem antecipar, a partir de uma sociedade que se exercita, inclui uma melhora na saúde, um aumento da produtividade, uma redução da dependência e atenção por parte de outras pessoas durante a velhice, e uma diminuição da alienação. Uma maneira eficiente de aumentar os hábitos de exercícios de uma nação é desenvolver programas de exercícios no local de trabalho “. Alvarez (1996) informa que nos programas designados para todos os empregados de uma empresa, freqüentemente os empregados de nível socioeconômico mais baixo, participam em menor quantidade do que empregados de níveis mais altos. Isto acontece mais claramente nos grupos de trabalhadores mais velhos (acima de 40 anos). Além disso, eles são menos dispostos a iniciar um programa de exercícios físicos supervisionados, durante seu tempo de lazer, estes geralmente não aderem ao programas uma vez começado. Kimiecik e Lawson (citado por Quint & Matiello Júnior, 1999) se preocupam com a considerável variabilidade entre propostas para a promoção da saúde, estratégias para mudança de comportamento frente ao exercício e sua inter-relação, num modelo chamado Human Capital Model. A ideologia implícita é a de que pessoas com estilo de vida saudável (ativo) aumentam a eficiência e a produtividade, reduzem as abstenções de maneira que se auxilia a corporação a cortar gastos e aumentar os lucros. Sem a devida regulação profissional, a saúde, os estilos de vida e as vidas de pessoas comuns serão afetadas desfavoravelmente. Sendo assim, fatos incertos são diagnosticados por profissionais. Eles sabem o que é bom, ou melhor, para todos e também parecem ter a cura ou intervenção certa para as escolhas e comportamento doentes dessas pessoas. Hess e Kecker (2003) por sua vez sugerem que programas de alongamento nas empresas podem melhorar a saúde do trabalhador e diminuir tanto a severidade quanto o custo do tratamento das lesões músculoesqueléticas, a Fenety e Walker (2002) realizaram um estudo que avaliou os efeitos de curto prazo de exercícios de alongamento estático (com duração mínima de cinco segundos cada exercício) no conforto musculoesqulético e a imobilidade postural. Longen (2003) estudou por dois anos a GL implantada com intuito de prevenir os DORT em uma empresa do ramo alimentício de Curitiba (PR). A GL (baseada em exercícios 40 de alongamento, exercícios de estimulo circulatório, correção e compensação postural, fortalecimento muscular, contrações para estimular o retorno venoso das pernas, exercícios de relaxamento e automassagens) era efetuada duas vezes em cada turno, com duração de dez minutos e, apesar de ter sido esquematizada por fisioterapeuta, era aplicada tanto por multiplicadores quanto pelo fisioterapeuta (quando o mesmo encontrava-se disponível). O estudo utilizou como fonte principal de dados os registros de casos de DORT fornecidos pelo SESMT (Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho) da empresa. Os resultados demonstraram uma redução no registro dos casos de LER/DORT, principalmente três meses após a implantação da GL, mas que voltaram a crescer progressivamente ao longo dos dois anos. Martins e Duarte (2000) verificaram alterações na flexibilidade, percentual de gordura e pressão arterial provocadas por quatro meses de um PGL direcionado para trabalhadores (n = 26) da reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina. O programa era composto por GL (compensatória, realizada três vezes por semana, com ênfase em exercícios de alongamento), palestras mensais sobre saúde e informações semanais sobre QV, Através da coleta de dados efetuada por testes físicos e questionários, constatou-se que houve melhoria significante (p<0,05) do percentual de gordura, da pressão arterial, da flexibilidade (medida pelo teste de sentar e alcançar), de aumento da amplitude da abdução do ombro, da hiperextensão do cotovelo, da flexão do punho, da extensão do quadril, da flexão do joelho e da hiperextensão do joelho. O PGL igualmente se mostrou capaz de implementar alterações saudáveis nos hábitos de seus participantes, visto que 46,2% afirmaram vivenciar os ensinamentos veiculados pelo programa e que pode ter sido capaz de reduzir significativamente o percentual de gordura e aumentar a massa corporal magra devido a alterações no estilo de vida dos trabalhadores. Tokars (2001) analisou, com o uso de questionários, a aplicação da GL proprioceptiva (que enfatiza a percepção dos segmentos corporais e detecção das falhas na postura ou movimentos corporais executados) em operadores de solda (n = 26) de uma automobilística (Curitiba, PR). Os exercícios de ginástica laboral preconizavam exercícios com mudanças de ângulos, velocidade e posição dos membros superiores e a percepção consciente da contração e relaxamento muscular. Os resultados sugeriram que a GL (implantada após a realização de uma análise ergonômica), pode ter sido capaz de despertar a percepção e a consciência corporal, além de suas inter-relações segmentares, para harmonizar os movimentos e proteger as estruturas anatômicas em questão, permitindo inclusive, a otimização do trabalho homem-máquina. 41 Alvarez (2002) avaliou a GL numa empresa de telefonia (São José, SC) e analisou, através de um questionário, o estilo de vida e hábitos de lazer dos trabalhadores que participaram de tal programa (n = 240) durante dois anos. As aulas eram baseadas em exercícios de alongamento, relaxamento e contração muscular (principalmente objetivando a realização de movimentos rápidos). Dentre seus achados, foi ressaltado que: • As maiores barreiras para a prática de exercícios físicos fora da empresa foram falta de tempo, falta de motivação e problemas financeiros; • Os trabalhadores que participam da GL apresentaram menores valores percentuais quanto aos índices de tabagismo, consumo de álcool, estresse, obesidade e consumo diário de alimentos gordurosos quando comparados com outros estudos; • Apenas a GL não era suficiente para promover a qualidade de vida dos trabalhadores, necessitando-se de uma interação direta com os fatores ergonômicos do ambiente de trabalho em questão. Reis et al. (2002) realizaram um estudo com costureiras (n = 10) da indústria têxtil de Dois Vizinhos (PR), portadoras de lombalgias, que foram submetidas à GL compensatória (com dez minutos de duração, duas vezes por turno, baseada em exercícios de alongamento) durante seis meses. Com a aplicação do teste de flexibilidade Sentar e Alcançar antes e após a GL. Sugeriu-se que pode ter havido melhoria significante da flexibilidade do quadril, diminuição de 90% nas queixas de dores lombares e redução do número de atestados médicos com afastamentos (de seis para dois). Martins et al. (2002) investigaram o impacto de um PGL, efetuado por vinte e quatro dias, por trabalhadores (n = 53) de uma emissora de televisão de Florianópolis (SC). A GL diária foi composta por exercícios respiratórios, alongamento, relaxamento, massagem e atividades lúdicas, objetivando principalmente o combate ao estresse psicológico negativo, e constatado pela emissora (fato que ocasionou a demanda do PGL). A propagação de informações sobre saúde pelo local de trabalho, além da presença diária do professor após as aulas (proporcionando um atendimento mais individualizado, demonstraram que 90,6% dos respondentes participaram das sessões (9,4% não compareceram devido à falta de tempo); 20,6% melhoraram o bem-estar diário; 18,7% retornaram mais dispostos ao trabalho; 15,4% sentiram menos dores; 12,1% melhoraram o relacionamento interpessoal; 7% exercitaram-se com maior freqüência; 5,1% realizaram exercícios de GL mesmo quando não havia sessão; 11,7% passaram a se alongar mais; 7,5% vivenciaram os ensinamentos difundidos nas dicas semanais e 100% desejaram a continuidade do programa, além de terem afirmado que a GL 42 colaborou com a QVT. Os resultados indicaram que, mesmo aplicado por um curto período de tempo, o PGL pode contribuir positivamente para a QV de trabalhadores sob intenso estresse. Santos (2003) pesquisou os efeitos de três meses de GL compensatória em trabalhadores (n = 25) de um centro de informática da cidade de Florianópolis (SC). A GL era composta por exercícios de flexibilidade, força e resistência muscular localizada, com duração de quinze minutos, ministrada três vezes por semana. Os dados foram coletados por avaliações físicas (índice de massa corporal, flexibilidade, força e avaliação postural). A seguir encontram-se algumas empresas que têm investido na GL para promover a saúde de seus trabalhadores, divulgando tal procedimento na Internet: • Intelbras (INTELBRAS, 2004; ALVAREZ, 2005) – telefonia – GL diária desde 1998, realizada na fábrica e setor administrativo, na qual igualmente é oferecido o programa Vida & Corpo (específico para o trabalhador com queixas freqüentes de dor músculo-articular), e são realizados trabalhos de alongamento, fortalecimento e relaxamento, durante uma hora, três vezes por semana, e as aulas são praticadas nas dependências da empresa; • Hospital do Câncer (HOSPITAL DO CANCER, 2004) – hospital – GL desde agosto de 2001. Realizada duas vezes por semana, com 30 minutos de duração, em que a GL faz parte de um programa de prevenção de doenças osteomusculares e de conscientização corporal; • Viação Ouro e Prata (VIAÇÃO OURO E PRATA, 2004) – transporte coletivo – GL diária desde 2001, com duração de quinze minutos, sendo que motoristas realizam a GL nas salas de descanso. • Santa (SAMA, 2004) – mineração de amianto – GL diária e de participação voluntária, contempla ações de cunho preventivo-educativo; • Clealco (CLEALCO, 2004) – açúcar e álcool – GL desde 1998 para todos os funcionários, sendo que a GL é a principal ferramenta do programa de qualidade de vida da empresa; • Epson (EPSON, 2004) – impressoras – GL realizada três vezes por semana, cujo maior objetivo é o desenvolvimento do bem-estar físico e mental do trabalhador; Segundo Pagliari (2002), A Kodak do Brasil realiza desde 1995 a GL em todos seus setores. Coordenada pelo departamento médico, esta atividade envolve ciclos de aquecimento no início dos turnos e de alongamento e relaxamento durante as micropausas e 43 ao final do trabalho. Como conseqüência, houve a melhoria da consciência corporal e auxilio na prevenção dos DORT. Com a finalidade de capitalizar o investimento na saúde de seus funcionários, a empresa brasileira Natura (ANONIMO, 2004) decidiu aliar aos benefícios da GL o incentivo da prática regular de exercício físico por intermédio da sua academia de ginástica. Em um período de dezessete meses (entre janeiro de 2002 e maio de 2003), foi pesquisada a assiduidade de 100 freqüentadores da academia. Tal amostra foi dividida em dois grupos: assíduos (acima da média de freqüência mensal, que foi obtida por meio da média aritmética ponderada de todos os participantes do período da pesquisa) e não assíduos (na média da freqüência mensal ou abaixo da mesma). Os resultados demonstraram que o grupo assíduo gastou 31,93% a menos com o plano de saúde que o grupo não assíduo, sugerindo que um trabalhador regularmente ativo pode ser mais saudável e, portanto, utilizar menos os serviços oferecidos pelo plano de saúde. Ainda, o grupo não assíduo reduziu em 12,87% seus gastos com o plano de saúde, se comparado aos trabalhadores que não utilizaram a academia de ginástica. De acordo com Montini (2001, p. 43) conforme resultado obtido em sua pesquisa, de 34 (trinta e quatro) indústrias de grande e médio porte do município de Criciúma apenas 4 (quatro) possuem Programas de Ginástica Laboral e destas apenas 3 (três) autorizaram a realização da pesquisa. Através do estudo constatou-se que a GL nas indústrias de Criciúma é realizada por professores de educação física, todos os dias. O tipo de aula é compensatória, com duração de 10 (dez) minutos para cada setor e a participação é obrigatória em 2 (duas) indústrias e apenas 1 (uma) não utiliza a música como recurso motivacional. Embora poucas indústrias no município de Criciúma ofereçam programa de Ginástica Laboral, ela já é vista como um instrumento muito eficaz para a prevenção e compensação dos danos à saúde, causadas pelas tarefas do trabalho. Na Michelin (pneus) do Rio de Janeiro (RJ) a GL foi implantada em 2003, desenvolvendo-se em três etapas distintas: implantação manutenção e controle dos resultados (CABRAL, 2003). A seguir descreve-se o os fatores inerentes a cada etapa. • Implantação - Palestras aos funcionários sobre GL; - Avaliação dos grupos e de suas atividades laborais; - Avaliação individual dos funcionários (anamnese); - Elaboração do programa específico ao grupo a ser trabalhado; 44 - Orientação Fisioterápica aos funcionários que já apresentam dores e lesões; - Entrega de material específico aos funcionários que realizaram orientação fisioterápica. • Manutenção - Realização da GL no próprio local de trabalho, com duração de quinze minutos, realizada três vezes por semana; - Aulas de alongamento, relaxamento, atividades lúdicas (dinâmicas de grupo), massagem exercícios de respiração, informações sobre postura, entre outras; - Entrega do material didático aos funcionários, contendo exercícios específicos aos que realizarem orientação fisioterápica. • Controle dos resultados - Avaliação trimestral do PGL, realizado pelos participantes; - Avaliação semestral dos funcionários (questionário) evidenciando as melhoras obtidas após esse período de implantação do trabalho; - Demonstração dos resultados às diretorias e gerências envolvidas, através de tratamento estatístico dos dados obtidos nas avaliações, de modo comparativo com as avaliações realizadas anteriormente; - Retroalimentação do trabalho através dos resultados obtidos nas avaliações. 4.4.1 Principais Benefícios da GL Segundo a revista Saúde & Movimento (02/01/2003) a) Fisiológicos • Possibilita melhor utilização das estruturas osteo-mio-articulares, como maior eficiência e menor gasto energético por movimento específico; • Promove o combate e prevenção das doenças profissionais; • Promove o combate e prevenção do sedentarismo, estresse, depressão, ansiedade...; 45 • Melhora da flexibilidade, força, coordenação, ritmo, agilidade e a resistência, promovendo uma maior mobilidade e melhor postura; • Promove a sensação de disposição e bem estar para a jornada de trabalho; • Redução da sensação de fadiga no final da jornada; • Contribui para a promoção da saúde e da qualidade de vida do trabalhador; • Propicia através da realização dos exercícios características preparatórias, compensatórias e relaxantes no corpo humano; • Bem como, os principais benefícios fisiológicos relacionados ao exercício sobre os sistemas cardíaco, respiratório, esquelético, entre outros, bem documentados nas evidências científicas. b) Psicológicos • Motivação por novas rotinas; • Melhora do equilíbrio biopsicológico; • Melhora da auto-estima e da auto-imagem; • Desenvolvimento da consciência corporal; • Combate as tensões emocionais; • Melhora da atenção e concentração as atividades desempenhadas; c) Sociais • Favorece o relacionamento social e trabalho em equipe; • Melhoria das relações interpessoais; d) Empresariais • Redução dos gastos com afastamento e substituição de pessoal; • Diminuição de queixas, afastamentos médicos, acidente e lesões; • Melhoria da imagem da instituição junto aos empregados e a sociedade; • Maior produtividade; 46 5 METODOLOGIAS E ESTRATEGIAS PARA IMPLANTAÇÃO DA GL Conforme Cañete (2001) Em primeiro lugar é importante salientar que qualquer empresa, em principio, pode e deve implantar a ginástica laboral. No entanto, fundamental que haja um real comprometimento com a idéia, após a tomada de decisão, pois é bom lembrar que uma nova proposta sempre gera expectativas e se a experiência for mal sucedida cria um clima e condições desfavoráveis para outras tentativas. Existem aquelas empresas onde os índices de doenças ocupacionais e acidentes podem não estar tão acentuados, sendo considerados até sob controle. Mesmo assim, a ginástica está indicada, pois o seu objetivo principal é agir preventivamente tanto quanto aos acidentes como no sentido de evitar o estresse, aumentar o bem estar e a disposição dos indivíduos, facilitar o relacionamento e a cooperação entre as equipes e, conseqüentemente, incrementar os resultados. Em outras empresas, poderão ser detectados índices altos e/ou em elevação quanto a acidentes, doenças como lombalgias, tendinites, etc. Nestas, é evidente que a Ginástica Laboral, assim como uma avaliação ergonômica, são urgentemente indicadas. Empresas onde o nível de estresse e esgotamento dos funcionários está sendo considerado preocupante e/ou em elevação também recebem indicação da ginástica. Nunca é demais lembrar que os problemas ligados a saúde humana na podem jamais ser analisados isoladamente e sem levar em conta a dimensão social e coletiva. Ansiedade, estresse e dores estão inter-relacionados, assim como o uso de drogas e a depressão aparecem associados ao estresse. Nestes casos, mesmo que a ginástica não seja (e provavelmente, não será) a única indicação, com toda certeza ela contribuirá enormemente, uma vez que, como já foi dito, é maior promotor, não medicamentoso, isolado de saúde. 5.1 A Implantação da Ginástica Laboral Antes de tudo, é preciso assinalar que o sucesso da implantação deste programa, além de ter como base o comprometimento da cúpula da empresa, implica necessariamente mudança ou transformação da cultura organizacional. Todos sabemos que a cultura (valores, crenças, hábitos, padrões comportamentais, etc) dos grupos funciona “naturalmente” como fator de resistência a mudança e de manutenção do “status quo”. Dissemos “naturalmente” porque quisemos nos referir ao que é intrínseco a “natureza humana” e está presente, sempre 47 em alguma medida, nas relações do individuo consigo mesmo e com os outros: resistência à mudança. Portanto, é necessário que a empresa cuja decisão de implantar seja implantar a ginástica lance mão de seus profissionais de “Recursos Humanos”, psicólogos e outros administradores para atender aos aspectos de sua cultura que possam interferir ou dificultar o processo de implantação. Neste sentido, é fundamental que atuem conjuntamente os executivos, gerentes, supervisores, o RH e os profissionais contratados. Feitas estas observações, finalizadas as negociações e firmado o contrato entre as partes, é hora de implantar. A implantação, propriamente dita, pode ser compreendida como sendo composta de cinco fases e suas respectivas etapas. FASE I – LEVANTAMENTO DE NECESSIDADES (DIAGNÓSTICO) Esta fase é fundamental e critica para a continuidade e o sucesso nos resultados, podendo ser comparada ao diagnóstico feito pelos médicos, quando exames, investigação e avaliação cuidadosa devem ser realizados a fim de evitar um erro na indicação do tratamento, já que isto seria desastroso e até em muitos casos, fatal. Etapas 1) Escolha do “Grupo Piloto”: Esta escolha deverá ser feita tendo como principal critério (não o único) a incidenciosa de problemas como: dores, lombalgias, tendinites, estresse. Frequentemente, este “Grupo Piloto”, escolhido estrategicamente para iniciar a experiência, pertence à área de montagem, no caso das industrias. Sendo bem sucedida neste grupo, tal experiência poderá ser repassada para as outras áreas da empresa com vantagens, pois além de contar com o melhor sistema de divulgação, que é o melhor “marketing boca a boca” dos funcionários já praticantes, conta-se ainda com a possibilidade de passar para o próximo grupo com os ajustes necessários feitos. 2) Definição do perfil grupo e do setor: Tendo sido identificado, como parte principal do diagnóstico, o publico alvo ou “Grupo Piloto”, os próximos passos serão na direção de um estudo detalhado, que deverá incluir pelo menos os seguintes aspectos: 48 a) Características e condições do setor e posto de trabalho, incluindo uma avaliação ergonômica; b) Funções desempenhadas pelas pessoas; c) Ritmo de trabalho; d) Turno de trabalho; e) Jornada de trabalho; f) Condições do ambiente físico (ruído, temperatura, iluminação, etc); g) Ambiente de trabalho e “clima” predominante (relacionamento interpessoal). É fundamental que o profissional contratado trabalhe desde a etapa de diagnóstico, em conjunto com os profissionais da empresa responsáveis por Recursos Humanos, Engenharia e Segurança e Saúde Ocupacional. FASE II – INFORMAÇÃO Este é o momento decisivo para a continuidade do processo, uma vez que se pretende “tocar” as pessoas, chamar a sua atenção, sensibilizá-las e, mais do que isto conscientizá-las sobre a relevância do tema para cada uma delas e para a organização. É necessário usar técnicas estratégicas que despertem o interesse e convidem todos a “participar” de fato do programa, sem manipulações, pois somente assim estaremos cultivando as sementes para um futuro compromisso ou comprometimento com o mesmo. Não manipular significa ser honesto, transparente e, portanto, integro. Etapas: 1) Conhecimento e Sensibilização: Trata-se aqui de trazer as primeiras informações sobre a Ginástica laboral (o que é, objetivos, resultados) para dentro da empresa através de palestras, vídeos, material informativo nos murais, etc. É fundamental que todos os níveis hierárquicos passem por esta etapa, ou seja: a) Cúpula: Presidentes, diretores e executivos; b) Nível gerencial e chefias/supervisores; c) Funcionários em geral. 49 Salientamos que todos, sem exceção, devem ser envolvidos. No entanto, é crucial que o primeiro escalão dê o exemplo e esteja a frente de todas as ações e iniciativas, mostrando o seu aval e legitimando o processo. 2) Conscientização: Esta etapa visa envolver os diferentes grupos e níveis hierárquicos no sentido de aprofundar os conhecimentos sobre Ginástica Laboral. O objetivo é conscientizar sobre a implantação, confirmando-a e alertando sobre as mudanças que acarretará. Isto significa que precisarão ficar mais claros os objetivos deste programa e os da empresa ao adotá-lo, bem como as responsabilidades de cada um na direção de viabilização. Baseando-se na experiência, não só brasileira, mas também internacional, podemos afirmar que a conscientização dos altos escalões e gerências significa não só acordo verbal, mas ação efetiva no sentido de praticar a ginástica diariamente, junto com os seus funcionários sendo o exemplo vivo dos valores e objetivos enunciados e perseguidos. Este é, sem dúvida, o ponto mais crítico para o sucesso do Programa de Ginástica Laboral e de tantos outros. Na verdade, o exemplo é determinante. FASE III – IMPLANTAÇÃO Alcançando um nível suficiente de conscientização de todos e, principalmente, dos altos escalões como acabamos de enfatizar, podemos começar a colocar em prática o programa. Etapas: 1) Implantação do “Grupo Piloto”: Esta etapa será coordenada pelo profissional contratado que orientará as séries de exercícios, mantendo atenta supervisão e procurando despertar à motivação e o interesse, bem como estimulando a participação. 2) Avaliação da experiência e resultados: Após três ou quatro meses de duração da experiência com o grupo piloto, é hora de realizar-se cuidadosa avaliação dos resultados alcançados, mudanças observadas e fazer os ajustes necessários, visando a continuidade do processo. Estes resultados devem ser discutidos pelos profissionais da empresa envolvidos mais diretamente no programa (RH, Saúde e Segurança, gerência 50 de área) e os profissionais da ginástica (professores). Na verdade, esta etapa pode sofrer variações sobre a ordem e a composição dos grupos de discussão e avaliação, devido as peculiaridades de cada empresa. O importante é que ocorra e que envolva as duas partes. Se possível, sugerimos contar com a participação de representantes dos funcionários. Se a experiência for positiva, bem como seus resultados facilitarão e oferecerão prognósticos para a continuidade do programa. 3) Aceitação ou Consentimento: Ocorrerá na continuidade da implantação, os participantes terão boa razão para acreditar que a idéia foi aceita e perceberão os benefícios, estando abertas e receptivas a estes, consentindo que façam parte do seu dia-a-dia. FASE IV – DESENVOLVIMENTO E CONSOLIDAÇÃO Esta é a fase em que se dá continuidade ao processo e o Programa de Ginástica Laboral já deve estar, pelo menos, sendo comentado por todos na empresa e aguardado por muitos com grande expectativa. Cada implantação em um novo setor exigirá aquele trabalho de diagnóstico do grupo e do setor, incluindo um perfil psicológico das pessoas e do grupo. Ale disso, a avaliação e o acompanhamento, bem como os ajustes necessários, deverão fazer parte da rotina diária e do processo como um todo. Sempre envolvendo todos os participantes a fim de cultivar a consciência, a responsabilidade e, obviamente, assim manter o programa e seus resultados. Etapas: 1) Seleção e Treinamento: Na medida em que o programa se realiza, os praticantes vão sendo observados e, então, chega o momento da seleção daqueles que serão os multiplicadores do processo. Inicialmente são solicitados voluntários, que em geral ocorre facilmente. Se não ocorrer, algumas pessoas são indicadas e chamadas para avaliação e possível interesse. Originalmente, a proposta da Ginástica Laboral de ser conduzida por monitores visa facilitar sua disseminação, por serem pessoas do próprio meio do trabalhador, falando a mesma linguagem, etc. Mas, além disto, em termos 51 práticos, as empresas não teriam condições de contar, em muitos casos, com um número grande de professores, para atender todos os seus grupos e horários. Assim, os monitores também viabilizam a manutenção do programa. É indicado e sugerido que as empresas ofereçam algum tipo de “destaque” ou “mérito” àqueles que se dispõem a monitorar a ginástica. Na realidade, isto tem sido pouco praticado, mas quando é feito, surte ótimos resultados. A preparação dos monitores selecionados é fundamental. Será planejada e executada pelo professor contratado, inclui teoria e prática, bem como supervisão cuidadosa. Resumidamente, o treinamento está assim organizado: seis horas de aulas teóricas, quatro horas de aulas práticas e cinco horas de estágio supervisionado, no qual irá orientar sessões de ginástica sendo acompanhado pelo professor/supervisor. Após estas quinze horas de curso, é feita uma avaliação individual da performance do monitor, que poderá ser considerado apto ou não a continuar. Aquele que for tido como “não apto” será assessorado por mais algum tempo nas suas carências e/ou necessidades até tornar-se apto. Poderá ocorrer também da pessoa desistir, o que não acarreta nenhuma conseqüência, uma vez que a função não é obrigatória. 2) Implantação em outros setores: Como já foi mencionado, esta implantação ocorrerá após a seleção e identificação do próximo setor de acordo com necessidades e características da empresa. Será feito o diagnóstico e a seguir a implantação conforme as especificidades de cada setor e grupo. Seguem-se a avaliação, ajustes e, assim por diante, continuadamente. FASE V – COMPROMETIMENTO O comprometimento só será alcançado na sua totalidade quando os diferentes níveis hierárquicos estiveram participando ativamente da ginástica, diariamente, por livre e espontânea vontade e decisão. Acreditando, percebendo e valorizando os resultados e os benefícios colhidos por todos: empresa, funcionários, clientes, fornecedores e comunidade. 52 6 CONCLUSÃO A Ginástica Laboral vem sendo adotada, visando muito mais à redução de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais do que a saúde e qualidade de vida dos trabalhadores. O objetivo em questão é reduzir os afastamentos e custos decorrentes, aumentando a produtividade e competitividade. Um exemplo disso são as atividades físicas que estão sendo oferecidas e que pretendem diminuir os efeitos das LER/DORT e das doenças psíquicas e psicossomáticas desencadeadas pelo crescente ritmo de trabalho. A adoção de estratégias de motivação nas empresas, no tocante à promoção da saúde pela prática de atividades físicas, representa uma possibilidade de sedimentar o compromisso do trabalhador com a instituição empregadora e de elevar também a qualidade de seus serviços. Na verdade, o mercado está forçando as empresas a reagirem e buscarem soluções para a própria sobrevivência. A ginástica Laboral está, pouco a pouco, se constituindo em uma importante alternativa, desde que aliada a outras iniciativas, tais como a ergonomia, rodízio de funções, etc. Embora estejam adotando novas e modernas formas de gestão, assim como equipamentos e técnicas avançadas, as empresas ainda se mantém sob a orientação de uma ética capitalista dominadora e utilitária. Predomina a concepção tradicional da administração em conformidade com o paradigma da administração cientifica, caracterizado pela alta desumanização do trabalho que se separa a mente criadora do corpo que executa. A Ginástica laboral não é uma poção mágica e nem mesmo uma fonte de todos os prazeres, mas é, com certeza, “um oásis no deserto” na medida em que a sua utilização por parte dos professores, empresas e trabalhadores for orientada por princípios éticos e por uma visão do ser humano por inteiro. A adoção de estratégias de motivação nas empresas, no tocante à promoção da saúde pela prática de atividades físicas, representa uma possibilidade de sedimentar o compromisso do trabalhador com a instituição empregadora e de elevar também a qualidade de seus serviços. Acredita-se que a vida é um constante aprendizado e precisamos ficar atentos a cada detalhe e ter-se certeza que existe muito a aprender. O caminho é longo, somente através da humildade consegue-se captar muito mais de cada situação, de cada palavra ou gesto, dito por um ser humano, não importa o que seja, pois, sempre se está em constante mutação. 53 REFERÊNCIAS ALVAREZ, B. R. Estilo de Vida e hábitos de lazer de trabalhadores, após dois anos de aplicação de um programa de ginástica laboral e saúde: caso – Intelbrás. 2002 185f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção, Área de concentração: Ergonomia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. 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