Estratégias de internacionalização de empresas baseadas em parcerias tecnológicas Roberto Minadeo Marconi E. E. Albuquerque Resumo O artigo apresenta situações de internacionalização de empresas baseadas em parcerias tecnológicas, tendo-se em conta o problema da crescente globalização da economia e, por conseguinte, a necessidade de as empresas com base tecnológica atuarem não mais apenas em escala local ou regional, mas global. Foi baseado em uma Linha de Pesquisa atuante há vários anos em História Empresarial. Metodologia O artigo é qualitativo e utilizou dados secundários, que, segundo Révillion (2001) são coletados para fins diversos do problema de pesquisa específico; na maioria das vezes, são informações de obtenção mais rápida, acessível e barata do que os dados primários. A pesquisa também foi histórica – suprida por uma Linha de Pesquisa ativa há vários anos em História Empresarial. Buscaram-se situações de inovação mediante alianças visando a atuação internacional – um trabalho de mineração, pois há alianças diversas bem como situações de internacionalização que não envolvem alianças. Lakatos e Marconi (1991) apontam que o método histórico pressupõe que as instituições se originam no passado, sendo importante pesquisar suas raízes, visando compreender sua natureza e função. Sauerbroon e Faria (2009) frisam a necessidade de se retornar ao uso do método histórico. Globalização A globalização não se restringe à economia ou aos grandes sistemas – como a ordem financeira. Segundo Minadeo (2001), os seguintes fatores permitiram a aceleração desse fenômeno: a) maior nível educacional; b) tecnologia; c) facilidade de comunicação; d) facilidade de transporte; e) interligação dos mercados financeiros mundiais; f) possibilidade de atingir consumidores através de mídias de alcance global; g) existência de consumidores em todo o mundo com elevada homogeneidade de estilo de vida; h) existência de necessidades mercadológicas globais; i) a globalização permite volumes de produção elevados, viabilizando investimentos em marcas e P&D; j) abertura das fronteiras nacionais; k) surgimento de diversas instituições de caráter verdadeiramente transnacional; l) causas históricas; m) criação de mini-mercados globais; n) surgimento de diversas oportunidades de investimento causadas por programas de privatização; o) aumento do investimento no exterior após a II Guerra pelas empresas norteamericanas. Globalização Grant (1995) afirma que a internacionalização é a mais importante força alterando o ambiente competitivo empresarial das últimas décadas. Nos anos 60, as empresas locais dominavam a maior parte dos mercados dos países industrializados, porém isso mudou. A habilidade de sair na frente da globalização foi um fator chave do sucesso ou fracasso de muitas empresas, como a liderança do Citigroup em serviços financeiros e a da Honda em motocicletas. Ocorreram fracassos, como o da Saatchi & Saatchi na propaganda – ilustrando que internacionalizar não é uma receita universal. Inovação A pressão competitiva sobre as empresas brasileiras cada vez mais vem de players estrangeiros – o que cria a necessidade de novas competências estratégicas para as nossas empresas. Alguns modismos foram adotados como soluções, apenas para se mostrarem efêmeras e paliativas em pouco tempo. Mais importante é a mudança da visão do próprio empresário – que pode adotar a postura colaborativa em redes, o que tem sido crescentemente adotado (FENSTERSEIFER, 2000). Entre 1992 e 2002, as remessas brasileiras ao exterior devidas a contratos de transferência de tecnologia e correlatos subiram de US$ 160,5 milhões para US$ 1,6 bilhão. Desse total, o item assistência técnica respondeu por 59% (MEDEIROS, 2007). Oliveira (2011) identificou que o número de patentes requisitadas por universidades públicas quintuplicou na última década e identificou 545 inventores acadêmicos. Resultados e Discussão O artigo apresenta 20 situações de internacionalização de empresas baseadas em parcerias tecnológicas, que são bastante variadas. Por exemplo, as três primeiras envolvem centros de P&D governamentais que realizaram pesquisas em conjunto com diversos tipos de parceiros. A inserção no exterior de tecnologias desenvolvidas pela Embrapa após a realização de alianças com renomados cientistas de inúmeros países (situação 1) se enquadra diretamente no escopo do artigo. A situação 2 envolve parceiros privados visando o mercado exterior – mediante o envolvimento de parcerias com organizações estaduais de P&D, além da Embrapa. A situação 3 envolve um importante centro público de P&D que se associou a um grupo do exterior visando exportar novos tipos de variedades de cana. Resultados e Discussão Outra situação: em 2008, o laboratório Fleury fez uma aliança de dez anos com a Healthways, a maior empresa dos EUA na gestão de doenças crônicas, ganhando acesso aos métodos da parceira, visando introduzi-las no país, junto às seguradoras e gestoras de planos de saúde. A Healthways tivera US$ 615 milhões de receitas em 2007, com 2,7 milhões de vidas cobertas, e, mediante essa aliança, passa a ter alguma presença no Brasil (CAMPASSI, 2008). É uma situação rica, pois o laboratório em questão detinha tecnologias na prestação de serviços ligados aos diversos testes ofertados, porém, ingressou – mediante a aliança internacional – em um novo nicho: a gestão de doenças crônicas. Resultados e Discussão Gertz e Batista (1988) mostram que a realização de associações é uma longa tradição na Corning. Já nos anos 1920, se associou à St. Gobain, para introduzir na Europa seus utensílios Pyrex. Nos anos 40 criou: Pittsburg Corning, Dow Corning, e Owens-Corning Fiberglass. Por volta de 1968, suas associações respondiam por 20% dos lucros, atingindo 50% em 1993. Razões de três alianças: a) ganhar acesso aos mercados que a empresa não poderia penetrar de outro modo – a Samsung-Corning proporcionou uma oportunidade de levar sua tecnologia de tubos de imagem à Ásia; b) vender suas tecnologias – a Dow Corning foi formada para combinar a expertise das duas empresas em materiais orgânicos e inorgânicos em silicone; e c) trazer novas tecnologias, como um acordo com a Mitsubishi a um mercado no qual a Corning já estava estabelecida – usando a tecnologia de recobrimento da parceira no aumento do negócio da Corning em controle de emissões. Ao longo dos anos, a Corning esteve envolvida em quase 50 alianças. Conclusões O artigo representa um esforço no sentido da busca de situações de inovações tecnológicas que visaram o mercado exterior, mediante diversos tipos de alianças. Tais situações foram trazidas de uma Linha de Pesquisa ativa em História Empresarial, e baseada em dados secundários. A posterior análise dessas diversas situações aponta uma ampla gama de soluções de abordagem ao mercado internacional, mediante alianças de base tecnológica. Como limitações ao artigo, cabe apontar a não generalização, por se tratarem de situações pontuais. Conclusões Uma eventual busca de dados primários poderia ter trazido maior profundidade em dada situação – embora com dificuldade em obter acesso a tal volume de situações, coletadas ao longo de diversos anos na Linha de Pesquisa existente, mediante dados secundários. Além disso, um Estudo de Caso também apresenta a limitação da não generalização. Estudos que abordassem uma grande massa de dados de modo primário demandariam custos elevados, além de uma equipe relativamente grande e custosa. Como sugestões de artigos correlatos, cita-se a participação das alianças de base tecnológica visando o mercado exterior mediante comparações entre setores diversos da atividade econômica. Roberto Minadeo Marconi E. E. Albuquerque [email protected] OBRIGADO!