Evento no MP mostra importância social da Justiça Terapêutica O evento “Justiça Terapêutica: é possível fazer”, aberto na noite desta quintafeira no auditório Queiroz Filho, na sede do Ministério Público, mostrou a importância social da aplicação da Justiça Terapêutica, iniciativa implantada com sucesso há cerca de 10 anos no Fórum Regional de Santana, na Capital, nos casos criminais de menor potencial ofensivo relacionados ao consumo de drogas e álcool. Promovido pela Escola Superior do MP, o evento, que prossegue nesta sexta-feira, teve palestra da assistente social Tara Kunkel, do National Center for State Courts, dos Estados Unidos, que falou sobre a experiência norte-americana. Procurador-geral Márcio Elias Rosa: compromisso com a sociedade de atuar em favor do homem O procurador-geral de Justiça, Márcio Fernando Elias Rosa, abriu o evento destacando que a Justiça Terapêutica é “alternativa válida de contenção de um drama que não é individual, mas social, e configura uma questão gravíssima de saúde pública”. Ao falar sobre os efeitos nefastos do vício do álcool e das drogas, sublinhou que “todos nós temos o grave compromisso com a sociedade de atuar em favor do homem”. A Justiça Terapêutica é uma iniciativa que envolve ações coordenadas para oferecer aos autores de infração penal e acusados envolvidos com crime de porte de entorpecente para uso próprio, embriaguez ao volante e outros delitos nos quais há evidências do abuso de álcool ou outras drogas, a possibilidade de frequentar reuniões semanais promovidas por grupos de ajuda mútua, como Alcoólicos, Narcóticos Anônimos e Amor Exigente, com monitoramento judicial, quando verificados os requisitos legais para isso. Para a secretária estadual de Justiça, Eloisa de Sousa Arruda, que também participou do evento, os resultados obtidos até agora mostram a importância da Justiça Terapêutica. Segundo ela, o grande avanço do crack por todo o Estado exemplifica a necessidade de iniciativas como a da Justiça Terapêutica. “E quem está aqui hoje, neste evento, está interessado em solucionar este problema”, observou. Na opinião do cônsul diretor de Imprensa, Educação e Cultura do Consulado dos EUA em São Paulo, Thomas Dowling, a Justiça Terapêutica “é a melhor solução para os que estão muito arraigados na questão da droga e não veem caminhos para sair”. Ele contou sua experiência como professor nos Estados Unidos, período em que viu muitos jovens abandonando a escola e se tornando viciados em droga. “Eu teria dado o meu braço direito para oferecer àqueles jovens uma oportunidade a partir da Justiça Terapêutica”, testemunhou. O diretor da Escola Superior do MP, procurador de Justiça Mário Luiz Sarrubbo, lembrou a importância do trabalho de promotores de Justiça do Fórum de Santana que há anos se empenham nessa experiência da Justiça Terapêutica. E advertiu: “Nós estamos em guerra contra o tráfico e essa guerra deve ser feita em duas frentes, uma no combate aos traficantes e outra, na aplicação da Justiça Terapêutica para erradicar o consumo”. A realização do evento também foi elogiada pelo procurador de Justiça Luiz Fernando Rodrigues Pinto Junior, diretor da Associação Paulista do Ministério Público. “Conhecer as experiências de outros países, divulgar o conceito da Justiça Terapêutica e sua aplicabilidade e falar sobre as políticas públicas sobre o consumo de álcool e drogas ilícitas, além da forma de atendimento ao dependente químico, adquire suma importância no contexto de uma sociedade que precisa cada vez mais de soluções inteligentes e objetivas para os graves problemas que a assolam”, afirmou. Tara Kunkel, da Corte Norte-americana de Justiça Terapêutica: baixa nos custos do sistema judicial criminal Principal convidada do evento, Tara Kunkel fez uma exposição sobre a evolução da Justiça Terapêutica nos Estados Unidos, a partir da experiência pioneira de Miami, em 1989. Hoje, os EUA têm 2.459 tribunais terapêuticos, somando cerca de 500 mil réus inscritos no programa, de 1989 até hoje. Nas cortes americanas, os programas de Justiça Terapêutica têm duração de 12 a 18 meses, com aplicação frequente de testes de detecção de consumo de drogas e audiências de revisão regulares com os juízes e tratamento, além do acompanhamento de profissionais que, semanalmente, participam de reunião para discutir os resultados alcançados. Além disso, é exigido que o réu esteja empregado. “Nosso foco é a mudança de comportamento para prevenir atos futuros de violência”, relatou, observando que os tribunais se concentram em conseguir que os réus abandonem o vício. “Esse trabalho já levou a uma redução significativa do uso de drogas e do comportamento criminoso”, contou. Segundo ela, as estatísticas mostram que, nos EUA, de 50% a 60% dos crimes estão relacionados às drogas ilícitas. “Com os tribunais terapêuticos, reduzimos a reincidência, baixamos os custos do sistema judicial criminal, tratamos os problemas persistentes da comunidade, aperfeiçoamos as tomas de decisões judiciais e oferecemos maior acesso ao tratamento”, relata. Professor Ronaldo Laranjeira: parcerias entre os sistemas formal e informal de tratamento O psiquiatra e professor Ronaldo Laranjeira, uma das maiores autoridades do País no assunto, mostrou que a dependência química é uma doença cerebral crônica e recidivante. “E como qualquer outra doença, pode ser gerenciada”, observou. Laranjeira afirmou, ainda, que o tratamento contra a dependência química funciona, mas deve ser personalizado. Segundo ele, “a abstinência é o melhor busca de tratamento”, mas lembrou que a recuperação é um processo longo e que necessita das redes de ajuda mútua. “Tem de haver parcerias entre os sistemas formal e informal de tratamento”, opinou. Segundo o especialista, é necessário diminuir os fatores de risco a que estão expostos crianças e adolescentes, controlar a oferta da droga para torná-la cada vez mais difícil, e combater o estabelecimento dos traficantes. “Depois de estabelecidos, os mercados ilegais são difíceis de suprimir”, afirmou, para depois criticar as propostas de “despenalizar os pequenos traficantes” porque “são os pequenos traficantes que predominam no País”.