Relato de Pesquisa/Research Reports
ISSN 2176-9095
Science in Health
mai-ago 2013; 4(2): 71-9
Prevalência de lesões em praticantes de jiu-jÍtsu: comparação entre
nível iniciante e avançado
Prevalence of injuries in jiujitsu: comparison between beginner and
advanced level
James Pereira de Carvalho 1
Leandro Henrique Grecco 2
Adriano Rodrigues de Oliveira 3
R e s UMO
O jiu-jítsu é um esporte de contato com grande exigência física e técnica. Na modalidade, a intensidade de treinamento e
o grande número de competições resultam em aumento considerável no índice de lesões musculoesqueléticas. O presente
estudo objetivou apontar a prevalência de lesões musculoesqueléticas em praticantes de jiu-jítsu de nível iniciante e avançado
em academias credenciadas na Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu da Zona Sul de São Paulo, além de realizar um comparativo das incidências de lesões entre os dois grupos estudados. Trata-se de uma pesquisa transversal, realizada através de
questionário elaborado para apontar os aspectos do treinamento, causas e características das lesões sofridas nos praticantes
de jiu-jítsu e os dados foram interpretados estatisticamente após o teste de Kolmogorov-Smirnov, adotando-se o nível de
significância de 5%, usando-se o Teste t de Student. No total, foram relatadas 139 lesões, sendo a proporção de casos nos
praticantes avançados significantemente maior do que a encontrada dentro do nível iniciante de jiu-jítsu. Houve predomínio
das lesões em joelho e ombro, sendo relatadas as projeções como principal mecanismo de trauma. Dentre os diagnósticos,
há preponderância das lesões articulares, comuns entre os níveis. Como forma de tratamento, quando adotado, o repouso foi
o mais utilizado em ambos os níveis. A prevalência maior de lesão em praticantes de nível avançado pode ser decorrente do
over-use na maioria dos casos e da ausência de tratamento, favorecendo a recorrência de lesões.
Palavras-chave: Esportes • Traumatismos em atletas • Músculos • Ferimentos e lesões.
ABST R ACT
Jiujitsu is a contact sport with high physical and very technical demands. In this modality, training intensity and the large number
of competitions result in considerable increase in the rate of musculoskeletal injuries. The present study aimed to point out the
prevalence of musculoskeletal injuries in jiujitsu athletes at beginner level as well as advanced in academies accredited to the
International Brazilian Jiujitsu, localized in the South of São Paulo city, and to compare the incidence of injuries among these
two groups. It is a cross-sectional survey, conducted through a questionnaire designed to point out the aspects of training, causes
and characteristics of injuries. The data were interpreted after the Kolmogorov-Smirnov test, adopting significance level of 5%,
using the Student t test. In total, 139 injuries were reported, the proportion of cases in advanced practitioners was significantly
greater than that found on the beginner level of jiujitsu. There was a predominance of lesions in knee and shoulder, and main
mechanism of injury were projections. Among the diagnoses, there is a preponderance of joint damage common among these
two levels’ athletes. As treatment, when adopted, the rest was mostly used for both levels. The higher prevalence of injury at
advanced may be due to over-use in most cases and the absence of treatment, favoring the recurrence of injury.
Key words: Sports • Athletic injuries • Muscles • Wound and injuries.
1 Fisioterapeuta
2 Fisioterapeuta - Mestrando do Programa de Pós-graduação em farmacologia pela USP/ Lab. Especial de Dor e Sinalização - IBu
3 Fisioterapeuta - Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biofotônica Aplicada às Ciências da Saúde pela UNINOVE
71
Relato de Pesquisa/Research Reports
ISSN 2176-9095
Carvalho JP, Grecco LH, Oliveira AR • Prevalência de lesões em praticantes de jiu-jítsu: comparação entre nível iniciante e avançado • Science in Health •
mai-ago 2013; 4(2): 71-9
INTRODUÇÃO
lesão. Já os estrangulamentos apresentam um tipo
de lesão ao lutador não encontrada em nenhuma
outra manifestação desportiva. No caso do jiu-jítsu, estrangulamento pode ser feito com auxílio
do Kimono ou mesmo através da força muscular do
praticante, sendo o mecanismo de lesão mais comum o da cervical, envolvendo a hiperflexão, hiperextensão ou flexão lateral7, 8, 9, 10.
O jiu-jítsu, uma modalidade de arte marcial cujo
principal objetivo é a defesa pessoal, hoje é visto
como esporte, tendo um crescimento considerável
nos últimos 20 anos em todo o mundo1, 2. Estima-se que hoje, entre as seis filiações da Confederação
Brasileira de Jiu-Jitsu (CBJJ), a modalidade possua
por volta de 350 mil praticantes em 1.500 pontos
de treinamento3, 4.
Tendo-se em vista que o jiu-jítsu é um esporte de contato com grande exigência física e técnica
do gesto esportivo, ele pode expor seus praticantes
a lesões. O conhecimento prévio das lesões mais
frequentes e a identificação de suas prováveis causas são de extrema importância para um programa preventivo, bem como para o planejamento do
tratamento reabilitador, pois, dessa forma, minimiza-se o tempo de interrupção das competições e
treinamentos, favorecendo a performance dos praticantes da modalidade.
A intensidade de treinamento e o grande número de competições oferecem um aumento considerável no índice de lesões musculoesqueléticas, tendo como regiões mais afetadas os ombros, dedos,
joelhos e tornozelos5, 6. Porém, podemos destacar
outra lesão corriqueira, mas sem prejuízo funcional, o hematoma auricular, o qual não está associado a nenhuma técnica específica, porém é uma lesão constante no jiu-jítsu, devido ao grande contato
corporal e com o tatame6, 7.
O objetivo do presente estudo é verificar e comparar a prevalência de lesões musculoesqueléticas
em praticantes de jiu-jítsu de nível iniciante e avançado.
As lesões são dividas entre intrínsecas e extrínsecas. A primeira se origina da atividade física do
próprio atleta, sendo ocasionada normalmente devido ao “overuse” (uso excessivo), enquanto a segunda tem origem no meio externo, ocasionada por
quedas, golpes ou pancadas8.
Materiais e Métodos
Trata-se de estudo transversal desenvolvido em
academias da Zona Sul de São Paulo/SP, que possuem vínculo com a Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu (CBJJ). O estudo foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade Nove de Julho, sob o protocolo número 40328/2012.
O jiu-jítsu integra cinco técnicas permitidas em
competições, descritas como projeções, chaves,
torções, imobilizações e estrangulamentos6, 7, 8, 9. E
são técnicas favoráveis a lesões extrínsecas. Pode-se descrever as projeções como ataques que visam
desequilibrar e derrubar o adversário, projetando-o em direção ao solo. As chaves e torções constituem ataques às estruturas articulares, visando
respectivamente a hiperextensão e a amplitude de
movimento, além das suportadas pela estrutura. A
imobilização e uma técnica de defesa, a qual se dá
por meio do domínio do oponente impedindo seus
movimentos e, teoricamente, não seria um fator de
lesão. Entretanto, a resistência do oponente em se
desvencilhar do golpe pode levar a uma situação de
Foram incluídos no estudo indivíduos com idade
superior a 18 anos, praticantes de jiu-jítsu há pelo
menos 01 ano, no caso de iniciantes, e 05 anos em
caso de praticantes avançados; alunos matriculados
em academias com professor de jiu-jítsu registradas
na Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu (CBJJ); em
caso de apontamento de lesão, esta deverá ser diagnosticada por médico e o paciente estar de acordo
e assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido.
72
Relato de Pesquisa/Research Reports
ISSN 2176-9095
Carvalho JP, Grecco LH, Oliveira AR • Prevalência de lesões em praticantes de jiu-jítsu: comparação entre nível iniciante e avançado • Science in Health •
mai-ago 2013; 4(2): 71-9
RESULTADOS
Foram excluídos do estudo indivíduos apresentando complicações ortopédicas, cardiorrespiratórias ou psíquicas que impedem a execução do
esporte e os praticantes que estivessem realizando qualquer outro esporte que não seja o proposto
neste estudo.
A amostra inicial foi constituída de 80 voluntários, dos quais 21 foram excluídos. Doze foram
excluídos por não terem completado a maioridade
e nove foram excluídos por faltarem nas datas agendadas para avaliação e coleta dos dados, totalizando
59 voluntários para realização do trabalho, distribuídos em dois grupos, avançados com 31 voluntários e iniciantes com 28 voluntários (Tabela 1).
Foi aplicado um questionário baseado no trabalho desenvolvido por Carazzato et al.11, (1991), constando de dados pessoais, aspectos do treinamento,
causa das lesões e características das lesões sofridas por praticantes de jiu-jítsu em nível avançado
e iniciante, contendo perguntas fechadas e abertas
totalizando 29 questões, englobando 3 aspectos:
quanto à prática de outras modalidades desportivas
(3); quanto à prática de jiu-jítsu (8) e ao tipo de
lesão12. O entrevistado teve um tempo médio para
respondê-lo, de aproximadamente 30 minutos.
No total, foram relatadas 139 lesões, sendo a
proporção de casos no nível avançado de 86 (62%)
com média de 2,77 lesões/praticante, mostrando uma diferença estatisticamente significante
(p<0,05) em relação aos praticantes iniciantes, que
apontaram 53 casos (38%), com média de 1,89 lesões/praticante.
Em relação aos diagnósticos, nos praticantes
de nível iniciantes predominam as lesões articulares,12 (22,6%), a seguir as lesões musculares,
10 (18,8%), contusões 8 (15%) as fraturas e luxações 7 (13,2%), entorses 6 (11,3%), as tendinites
3 (5,6%). Já nos praticantes de nível avançado foi
encontrada equivalência das lesões articulares com
22 (25,5%) e fraturas com 20 (23,2%) e seguindo-se as luxações com 15 (17,4%), lesões musculares,
13 (15,1%), entorses com 8 (9,3%) e, com a menor
incidência, as contusões e tendinites com 4 (4,6%)
cada. Destacamos que a relação de fraturas em ní-
Após cálculo estatístico do tamanho da amostra, foram selecionados 80 voluntários, divididos
em proporção igual entre praticantes iniciantes (40
voluntários) e avançados (40 voluntários) para responderem o questionário avaliativo de lesões. Foi
aplicado o teste de Kolmogorov-Smirnov nas variáveis e conforme a distribuição dos dados adotou-se
o teste t de Student com nível de significância de
5% (α = 0,05). O tratamento matemático foi realizado nos programas SPSS (versão 19) e Excel (Microsoft
Office).
73
Relato de Pesquisa/Research Reports
ISSN 2176-9095
Carvalho JP, Grecco LH, Oliveira AR • Prevalência de lesões em praticantes de jiu-jítsu: comparação entre nível iniciante e avançado • Science in Health •
mai-ago 2013; 4(2): 71-9
vel avançado foi estatisticamente maior em comparação aos atletas iniciantes (p<0,05), como se pode
observar no Gráfico 1.
Abordando-se o mecanismo de trauma, analisando-se o relatado dos praticantes iniciantes, se
evidenciam, como maiores causadoras de lesões,
74
Relato de Pesquisa/Research Reports
ISSN 2176-9095
Carvalho JP, Grecco LH, Oliveira AR • Prevalência de lesões em praticantes de jiu-jítsu: comparação entre nível iniciante e avançado • Science in Health •
mai-ago 2013; 4(2): 71-9
as projeções, com 17 (32%), seguidas das torções
e chaves com 14 (26,4%) cada, estrangulamento
com 3 (7,8%) e imobilização com 5 (3,3%). No
nível avançado, observa-se semelhança na ordem
dos mecanismos que levam às lesões, porém concentram-se nas projeções com 37 (43%), com diferença estatisticamente significante para os iniciantes (p<0,05), seguida sucessivamente pelas torções
25 (29%), as chaves 14 (16,2%), estrangulamento
com 7 (8,1%) e imobilização 3 (3,4%) (Gráfico 2).
pela Escala de Severidade do Registro Internacional de Lesões, foram encontradas, nos iniciantes,
14 lesões classificadas como leves, (26,41%), leve
a moderada 13 (24,52%), moderada 6 (11,32%),
moderada a severa 7 (13,20%) e, por fim, severa
com 13 (24,52%). Já nos praticantes avançados,
as lesões classificadas como apenas leves foram 29
(32,58%), leve a moderada 22 (24,71%), moderada
8 (8,98%), moderada a severa com 6 (6,74%) e
severa 24 (26,96%).
No que diz respeito à localização topográfica
das lesões, nos praticantes de nível avançado, estas ocorreram nos membros superiores, com 37
(42,8%), membros inferiores, 33 (38,1%), outros
segmentos somados (orelha, coluna cervical, torácica e lombar) com 16 (18,5%). Já nos iniciantes,
os membros superiores 29 (54,4%), membros inferiores 18 (33,6%), outros segmentos somados, 6
(11,1%) e não se observou diferença estatisticamente significante entre os grupos.
Analisando a terapêutica empregada (Gráfico
3), nota-se nos praticantes de nível avançado a ausência de tratamento em 30,6% dos casos. Quando
se optou pelo tratamento, o repouso, com 26,1%,
foi o tratamento mais utilizado, seguido das imobilizações com 18,9% e fisioterapia com 16,2%.
As indicações cirúrgicas (8,1%) só puderam ser
efetuadas onde o tratamento conservador se mostrou insuficiente. Já nos iniciantes, os resultados
encontrados demonstram o repouso com 35,6%
como o tratamento mais utilizado, seguido da fisioterapia com 26% e, por último, a imobilização
com 17,8%. A ausência de tratamento foi relatada
em 15% e indicações cirúrgicas em 5,4%. Nota-se
diferença estatisticamente significante com relação
à ausência de tratamento, sendo essa característica
maior em praticantes de níveis avançados.
Quando analisadas as regiões anatômicas das lesões nos praticantes avançados, observamos como
a mais acometida a articulação do joelho com 15
(17,4%) e do ombro com 13 (15,1%), seguidas
pelas mãos com 10 (9,4%), cartilagem da orelha
8 (9,3%), cotovelo e tornozelo 7 cada (8,1%), os
pés 6 (6,9%), coluna 5 (5,8%), o punho 4 (4,6%),
pescoço e perna com 3 cada (3,4%) e, com menor
acometimento, região da coxa e braço 2 (2,3%).
No que se refere aos praticantes iniciantes, nota se
igualdade nas regiões anatômicas do ombro e joelhos 10 cada (18,8%), seguidos das mãos com 6
(11,3%), cotovelo 5 (9,4%), cartilagem da orelha 4
(7,5%), tornozelo e pés 3 (5,6%); com menor acometimento as regiões do punho, antebraço, quadril, coxa, coluna cervical, torácica e lombar aparecem com 1 (1,8%) cada. Observa-se que apenas o
grupamento perna apresenta diferença significante
entre avançados e iniciantes.
Discussão
Nas lutas, as lesões que acometem os praticantes podem estar relacionadas a diversos fatores, se
destacando o nível do praticante, a intensidade do
treinamento, tempo de prática da modalidade, a
biomecânica dos golpes, o condicionamento físico
e a idade do praticante11, 13, 14, 15.
Carrazato et al.11(1991), Barsottini et al.16(2006)
e Rainey17(2009), em estudos com praticantes de
judô, modalidade esportiva que em muitos aspectos se assemelha ao jiu-jítsu, demonstraram maior
incidência de lesão em praticantes com o nível de
graduação mais elevado, assemelhando-se ao pre-
Avaliando o tempo de afastamento da prática
da modalidade e seguindo a categorização sugerida
75
Relato de Pesquisa/Research Reports
ISSN 2176-9095
Carvalho JP, Grecco LH, Oliveira AR • Prevalência de lesões em praticantes de jiu-jítsu: comparação entre nível iniciante e avançado • Science in Health •
mai-ago 2013; 4(2): 71-9
sente estudo, no qual os praticantes de nível avançado aparecem com a maior prevalência de lesão.
mais recorrentes em praticantes de nível avançado,
e em outros estudos de artes marciais12, 19, 21, 22 foram relatados resultados semelhantes.
Souza et al.6 (2011), em estudo em que avaliaram 41 atletas de jiu-jítsu, encontraram que os
principais locais de lesão foram joelho e ombro
com 16,3% e 14,4% respectivamente. Esses dados
vão ao encontro dos resultados do nosso estudo,
onde se verificou que os praticantes de jiu-jítsu relataram mais frequentemente as lesões articulares,
o que é corroborado pelos resultados apresentados
em outros estudos6, 11, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, que apontam as articulações como ponto nevrálgico do praticante.
Para a prática de artes marciais é requerida dos
praticantes uma condição física superior, com uma
formação específica visando a flexibilidade força,
resistência muscular, velocidade, potência, agilidade, equilíbrio, coordenação e resistência aeróbia
para maximizar seus resultados e sua performance
nos esportes de luta. Observando a movimentação
do praticante durante a luta e a biomecânica dos
golpes, é possível levantar algumas hipóteses sobre
os achados no estudo das lesões sofridas no decorrer da prática da modalidade. Quando o indivíduo
inicia a prática no esporte de luta, ele deve concentrar-se nos conhecimentos fundamentais para a
modalidade, tais como habilidade e técnica durante
os movimentos dos golpes que necessitam de precisão para serem executados e se adaptar ao tempo
de luta; além disso, manter a atenção na defesa dos
golpes aplicados pelo seu adversário, como também
na capacidade de reação23.
Pasque e Hewett19, em estudo prospectivo, avaliando lesões em 418 lutadores de “wrestling” (luta
livre americana, que se assemelha em alguns aspectos ao jiu-jítsu, principalmente quando se vai ao
solo), descrevem as projeções como principal mecanismo de lesão. Esses dados vão ao encontro dos
resultados do nosso estudo, no qual se verificou a
prevalência da técnica de projeção como maior causadora de lesão nos praticantes de jiu-jítsu, sendo
76
Relato de Pesquisa/Research Reports
ISSN 2176-9095
Carvalho JP, Grecco LH, Oliveira AR • Prevalência de lesões em praticantes de jiu-jítsu: comparação entre nível iniciante e avançado • Science in Health •
mai-ago 2013; 4(2): 71-9
À medida que o praticante adquire experiência
e adapta-se à modalidade, ele passa a utilizar menos
a força, aplicar corretamente os golpes e a usar a
técnica a seu favor para gerar controle na luta, sendo que o melhor preparo físico e a técnica correta
parecem ser fatores preventivos de lesões. Entretanto, se por um lado o praticante de nível avançado reduz o risco de lesões com a técnica correta,
por outro, apresenta maior esforço para alcançar
melhores resultados, passando a se submeter a uma
maior carga de treinos e intensidade das lutas, proporcionando a seus tecidos um maior desgaste. Esse
fator pode ser observado no presente estudo, quando analisa a carga de treinamento semanal do praticante de nível avançado, em média 2 vezes maior
que a do iniciante, sugerindo que o tempo maior
de exposição esteja associado à maior ocorrência
de lesões, simultaneamente com recuperação inadequada, ocasionando, consequentemente, “overtraining” (síndrome do excesso de treino), sendo
este um fator que ameaça a saúde dos praticantes,
provocando decréscimos de desempenho, fadiga e,
possivelmente, outros sintomas, além de aumentar
a predisposição do indivíduo aos riscos de lesão12,
14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26
.
cedimento de reabilitação, o repouso aparece como
principal tratamento utilizado, concordando com
os resultados encontrados em estudo realizado por
Araújo et al.27 (2009).
Conclusão
Devido ao número crescente de praticantes e da
incidência de lesões, acreditamos que os resultados
obtidos neste estudo poderão contribuir amplamente com trabalhos preventivos, oferecendo esclarecimento sobre as possíveis alterações e lesões
ocasionadas pelo esporte.
Neste estudo, pode-se constatar que os praticantes de nível avançado apresentam preponderância no total de lesões no jiu-jítsu, se comparados aos
iniciantes, na região do complexo articular de ombro e joelho. Em relação ao mecanismo de trauma,
em ambos os grupos, as projeções são as maiores
causadoras de lesão. Apesar do alto apontamento
de lesões, principalmente em praticantes avançados, a ausência de tratamento se mostrou predominante neste grupo de praticantes. E quando se
optava pelo tratamento, ambos os grupos elegeram
o repouso como forma de tratamento.
A ausência de tratamento das lesões apresenta-se de maneira significantemente maior nos praticantes de nível avançado, sendo possível que tais
praticantes tenham omitido ou subestimado suas
lesões, comportamento observado em estudos anteriores que avaliavam as incidências de lesões (612)
. Considerando-se somente os praticantes de
jiu-jítsu que optaram pela realização de algum pro-
Tais achados podem justificar as recidivas de lesões de praticantes de jiu-jítsu e os dados podem ser
usados para reforçar a inclusão da fisioterapia em
academias de artes marciais, atuando em caráter
preventivo e reabilitador. Entretanto, sugerimos
outros estudos com poder amostral maior para enfatizar os achados deste trabalho.
77
Relato de Pesquisa/Research Reports
ISSN 2176-9095
Carvalho JP, Grecco LH, Oliveira AR • Prevalência de lesões em praticantes de jiu-jítsu: comparação entre nível iniciante e avançado • Science in Health •
mai-ago 2013; 4(2): 71-9
R EFE R ENCIAS
1. Ribeiro I. História do Jiu-jítsu. Rio de Janeiro:
13. B
irrer RB. Trauma epidemiology in the martial
2. A
ssis M, Carvalho M, Gomes M. Avaliação isociné-
14. Oliveira T, Pereira J. Frequência de lesões osteo-
3. C
osta L. Atlas do esporte do Brasil. Rio de Janeiro:
15. P
ieter W. Martial arts injuries. Med Sport Sci 2005
CBJJ; 2006 [Acesso em 10/02/2012]; Disponível
em: http://ivanribeirojj.com.br/?page_id=17.
arts. The results of an eighteen-year international
survey. Am J Sports Med 1996 24(6 Suppl):S72-9.
tica de quadríceps e isquiotibiais nos atletas de jiu-jítsu. Rev Bras Prom Saúde 2005 18(2):85-9.
mioarticulares em praticantes de judô. Fit Perf J
2008 7(6):375-9.
Confef; 2006 [Acesso em 18/03/2012]; Disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/
textos/75.pdf.
48(59-73.
16. Barsottini D, Guimarães AE, Morais PR. Relação
entre técnicas e lesões em praticantes de judô. Rev
Bras Med Esporte 2006 Feb;12(1):56-60.
4. Gracie R. A história do Gracie Jiu-Jítsu. São Paulo:
Saraiva; 2010.
17. Rainey CE. Determining the prevalence and as-
5. K
rauss E, Bravo E. Jiu-Jiísu sem mistérios. São Pau-
sessing the severity of injuries in mixed martial arts athletes. N Am J Sports Phys Ther 2009
Nov;4(4):190-9.
lo: Madras; 2011.
6. S ouza JMC, Faim FT, Nakashima IY, Altruda CR,
18. D
etanico D, Santos SGd. Relação entre a propor-
Medeiros WM, Silva LR. Lesões no Karate Shotokan e no Jiu-Jitsu: trauma direto versus indireto.
Rev Bras Med Esporte 2011 Apr;17(2):107-10.
cionalidade corporal do judoca e sua técnica de
preferência (Tokui-Waza). Rev bras ciênc mov 2007
15(3):15-24.
7. I de BN, Padilha DA. Possíveis lesões decorrentes da
aplicação das técnicas do jiu-jitsu desportivo. Rev
Digital - Buenos Aires [Periódico on-line].2005;
10(83). Disponível m: http://www.efdeportes.
com/efd83/jiu.htm.
19. P
asque CB, Hewett TE. A prospective study of high
8. Lillegard W, Butcher J, Rucker K. Manual de me-
dicina desportiva. 2. ed. São Paulo: Manole; 2008.
legiate wrestling. Am J Sports Med 1998 SepOct;26(5):674-80.
9. C
BJJ. Regras oficiais da confederação brasileira de
21. J ames G, Pieter W. Injury rates in adult elite ju-
school wrestling injuries. Am J Sports Med 2000 JulAug;28(4):509-15.
20. Jarret GJ, Orwin JF, Dick RW. Injuries in col-
Jiu-Jítsu. 2006 [Acesso em 10/02/2012]; Disponível em: http://www.cbjj.com.br/docs/regrasibjjf-1aedicao.pdf.
doka. Biology Sport 2003 20(1):25-31.
22. C
osta LOP, Samilski DM. Overtraining em atletas
de alto nível: uma revisão literária. Rev bras ciênc
mov 2005 13(2):123-34.
10. Starkey C, Ryan J. Avaliação de lesões ortopédicas
e esportivas. São Paulo: Manole; 2001.
23. S anders MS, Antonio J. Strength and condition-
11. C
arazzato JG, Cabrita H, Castropil W. Repercussäo
ing for submission fighting. Strength Cond J 1999
21(5):42-5.
no aparelho locomotor da prática do judô de alto
nível: estudo epidemiológico Rev bras ortop 1996
dez;31(12):957-68.
24. Garcia-Pallares J, Lopez-Gullon JM, Muriel X,
Diaz A, Izquierdo M. Physical fitness factors to
predict male Olympic wrestling performance. Eur
J Appl Physiol 2011 Aug;111(8):1747-58.
12. P
iucco T, Santos SG. Valores de impacto no cor-
po do judoca ao ser projetado pela técnica Ippon-Seoi-Nage. Motricidade 2010 6(1):71-83.
78
Relato de Pesquisa/Research Reports
ISSN 2176-9095
Carvalho JP, Grecco LH, Oliveira AR • Prevalência de lesões em praticantes de jiu-jítsu: comparação entre nível iniciante e avançado • Science in Health •
mai-ago 2013; 4(2): 71-9
27. A
raújo RA, Andrade LRQ, Prada FJA. A incidên-
25. A
rmstrong LE, VanHeest JL. The unknown mecha-
cia de lesões no joelho em atletas de judô. Rev
Digital - Buenos Aires [Periódico on-line].2009;
14(134). Disponível m: http://www.efdeportes.
com/efd134/lesoes-no-joelho-em-atletas-de-judo.htm.
nism of the overtraining syndrome: clues from depression and psychoneuroimmunology. Sports Med
2002 32(3):185-209.
26. N
ederhof E, Lemmink KA, Visscher C, Meeusen
R, Mulder T. Psychomotor speed: possibly a new
marker for overtraining syndrome. Sports Med
2006 36(10):817-28.
79
Download

Prevalência de lesões em praticantes de jiu-jÍtsu