Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Terapia Celular Descrição do Programa do Instituto A presente proposta de criação de um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Terapia Celular (INCTC) constitui a continuidade e a ampliação das atividades do Centro de Terapia Celular (CTC-CEPID-FAPESP), um dos Centros de Excelência em Pesquisa, Inovação e Difusão criados pela FAPESP em 2001 com o objetivo de ser um novo paradigma para a organização da pesquisa no Estado de São Paulo. O CTC-CEPID, da mesma forma que deverá atuar o futuro INCTC, desenvolve atividades nos três setores que constituem o escopo do projeto: pesquisa científica na fronteira do conhecimento, difusão do conhecimento para a sociedade e inovação tecnológica em estreita colaboração com o setor produtivo. A melhor maneira de indicarmos o que seremos capazes de fazer é demonstrando o que fizemos e o que estamos fazendo no momento. O CTCFAPESP conta com oito pesquisadores principais (PI) que até 2000 apresentavam boa produção acadêmica porém com pouca interação entre si. O impacto da criação do CTC pode ser avaliado na figura 1. A produção acadêmica relacionada ao tema Terapia Celular dos oito PIS aumentou consideravelmente ano a ano atingindo, em 2007, cerca de 70 artigos. As citações dos artigos destes PIs também cresceu significativamente a partir de 2000 e ultrapassou momento, 42 600 citações em 2007. O índice h do grupo é, no o que demonstra a qualidade da produção científica. As colaborações entre os PIS, medida pelas publicações conjuntas de artigos, também aumentou demonstrando que o CTC, à medida que estabeleceu uma temática única, promoveu a convergência e a integração das linhas de pesquisa dos seus PIs. Além disso, também estimulou os pesquisadores a participarem ativamente dos processos de difusão do conhecimento científico. Prova disso foi a edição, em 2006, do livro “Células-Tronco – A Nova Fronteira da Medicina” que se tornou referência para a área no país e foi ganhador do Prêmio Jabuti em 2007. A criação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Terapia Celular (INCTC) permitirá a consolidação e a ampliação da experiência do CTC, possibilitando a mobilização e a agregação dos melhores grupos de pesquisa com células-tronco e terapia celular do país que passarão a atuar em rede, amplificando as competências específicas e permitindo que ocorra um avanço capaz de colocar o país em posição destacada no cenário internacional. Figura 1. Evolução no número de trabalhos e de citações dos oito PIs do CTC. O tema: Terapia Celular A terapia celular, por definição mínima, compreende a utilização de células com objetivos terapêuticos. Estas células podem ser usadas das mais diferentes maneiras: injetadas endovenosamente para exercerem ações sistêmicas ou atingirem órgãos e tecidos protegidos, como a medula óssea ou o SNC; usadas localmente ou injetadas diretamente no tecido ou órgão comprometido com o objetivo de promover algum efeito benéfico regenerativo ou protetor. As células usadas para fins da terapia celular também variam amplamente com relação ao seu estado de maturação e diferenciação. Podem ser utilizadas células maduras do sangue periférico como eritrócitos, leucócitos e plaquetas como acontece, por exemplo, nas transfusões sanguíneas, ou ainda linfócitos ou células dendríticas sensibilizados in vitro nas chamadas vacinas celulares; também podem ser utilizadas células-tronco ou células progenitoras com o objetivo de promover o reparo ou mesmo a total substituição de um tecido ou órgão lesado. Neste último caso temos o exemplo, consolidado por mais de 40 anos de experiência, dos transplantes de células-tronco hematopoéticas derivadas da medula óssea, do sangue periférico ou do sangue do cordão umbilical e que são capazes de reconstituir todo o sistema hematopoético. Outros exemplos de terapias celulares bem sucedidas com célulastronco, tanto embrionárias como somáticas em modelos animais e no homem, têm surgido nos últimos anos e a procura de novas terapias celulares efetivas tem ocupado, de forma relevante e explosiva, a literatura científica. O Instituto Nacional de Terapia Celular (INTC) pretende desenvolver um extenso programa de pesquisas básicas e clínicas para entender, isolar, cultivar e usar terapeuticamente, tanto em modelos animais como em humanos, as células-tronco derivadas de diversas fontes: células-tronco embrionárias, células-tronco somáticas e células-tronco pluripotenciais induzidas (IPS). Para a melhor compreensão dos mecanismos envolvidos na manutenção ou no ressurgimento da pluripotência, também serão estudadas células-tronco neoplásicas derivadas de tecidos diversos, especialmente as da medula óssea que originam as leucemias e os linfomas. De forma geral, o escopo do projeto científico pode ser visto na figura 2. O conjunto de células-tronco que serão estudadas pode ser dividido nas chamadas células-tronco pluripotenciais e nas células-tronco somáticas. Entre as primeiras incluem-se as células-tronco embrionárias e as células-tronco pluripotenciais induzidas (IPS). No segundo grupo serão estudadas célulastronco hematopoéticas (CTH), células-tronco mesenquimais (MSC), células progenitoras endoteliais Adicionalmente, serão (CPE) estudadas e células-tronco células-tronco neoplásicas pouco (CSC). caracterizadas atualmente, como as células epiteliais da placenta e as células-tronco de partes distintas do saco vitelínico. Estas células serão isoladas, caracterizadas morfológica e funcionalmente e cultivadas para se tornarem objetos de estudos que terão foco no entendimento de propriedades funcionais e na identificação de mecanismos moleculares, genéticos e epigenéticos envolvidos na indução e no controle da diferenciação celular. Um grande conjunto de ferramentas metodológicas, dominadas pelos grupos participantes, serão empregadas nestes estudos, incluindo: metodologias genômicas, proteômicas, citogenéticas, genéticas, epigenéticas, imunológicas, embriológicas, de biologia e cultivo celular e de biologia sistêmica. Estas células também serão cultivadas em larga escala para serem usadas em estudos pré-clínicos e clínicos envolvendo tanto animais como humanos. Especificamente para os estudos em animais estamos propondo a criação de um Centro de Estudos Préclínicos e de um Banco de Células-tronco com o objetivo de permitir estudos em animais de vários portes (roedores e histricomorfos, coelhos, ovinos, suínos, caninos, eqüinos, bovinos e macacos). Este Centro será formado pela participação da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de São PauloUSP, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos de Pirassununga – USP, pelo Centro Nacional de Primatas do Instituto Evandro Chagas de BelémPA e pelo laboratório de Estudos com Modelos Animais do CTC. A infraestrutura e a competência científica e tecnológica já existentes nestas Instituições permitirão a formação de uma rede de estudos pré-clínicos sem precedente no país. Especialmente os estudos com primatas (macacos do velho e novo mundo) acrescentarão um diferencial importante nos estudos pré-clínicos com células-tronco feitos no país.Em humanos, três estudos clínicos de fase I e II serão conduzidos especificamente usando células-tronco mesenquimais: em diabetes tipo I, no tratamento da doença do enxerto contra o hospedeiro aguda pós-transplante de medula óssea (DECHA). Para executar este ambicioso plano de trabalho foram reunidos especialistas e instituições com comprovada experiência científica em várias áreas: biologia celular e molecular, genética, embriologia, imunologia, hematologia, biologia de sistemas, química de proteínas, veterinária e bioinformática. A participação destes cientistas e de seus respectivos grupos será feita de forma integrada e complementar, sendo os projetos científicos propostos o resultado de uma abordagem multidisciplinar voltada para o esclarecimento de aspectos científicos específicos, mas ao mesmo tempo integradores de questões maiores e relevantes. Espera-se que esta abordagem científica multifacetada e multidisciplinar de um tema específico permita rápido progresso na área de terapia celular, consolidando e ampliando a participação do Brasil na comunidade internacional de primeira linha no que concerne a este tema. As atividades de pesquisa são descritas com detalhes no item C. Células-tronco Somáticas MSC CPE Células-tronco Pluripotenciais Câncer CTH Embrionárias SC Células Epiteliais da Placenta Induzidas (IPS) Células-Tronco do Saco Vitelínico Propriedades Funcionais e Mecanismos Genômica Proteômica B. Sistêmica Citogenética Imunologia Genética Embriologia B. Celular Epigenética Engenharia de Cultivo Indução e Controle da Diferenciação Produção de células para uso clínico Estabelecimento de Linhagens neoplásicas Estabelecimento de Linhagens embrionárias Mecanismos da Transformação neoplásica Estudos Pré-clínicos e Clínicos Modelos Animais Camundongos Histricomorfos Coelhos Ovinos Suínos Caninos Equinos Bovinos Macacos Figura 2. Escopo do projeto Humanos Diabete DECHA (1) DECHA (2) Paralelamente ao programa científico, pretende-se o desenvolvimento de intensa atividade de transferência de conhecimentos científicos para a sociedade envolvendo o público em geral, mas também e principalmente os professores do ensino fundamental e médio e os seus alunos. O INTC pretende ampliar as atividades de transferência que já são feitas pelo Centro de Terapia Celular (CTC-CEPID-FAPESP), estendendo estas atividades para os locais dos laboratórios associados (São Paulo, Pirassununga, Rio de Janeiro e Belém) e propondo novas atividades com maior abrangência. As atividades de disseminação do conhecimento sempre foram relevantes no programa do CTC. Em 2000, como parte desse programa foi montada na instituição-sede do CTC (Hemocentro de Ribeirão Preto – HCFMRPUSP) um espaço de 50 m2 denominado Casa da Ciência (Rua Tenente Catão Roxo, 2501) onde foram alojados 8 profissionais dedicados integralmente à divulgação e ao ensino de ciências. Essa equipe é liderada pela Profa. Dra. Marisa Barbieri, professora aposentada da Universidade de São Paulo e que possuí larga experiência no ensino e na formação de professores de ciências e biologia para o ensino fundamental e médio. A montagem deste espaço físico recebeu apoio, além da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto e da FAPESP, da Fundação Vitae e da própria Universidade de São Paulo por meio de bolsas-trabalho vinculados ao programa COSEAS. Dentre as atividades de destaque desenvolvidas podemos listar: os Cursos de Especialização denominados “As Células, o genoma e você, professor”, oferecidos em conjunto pela USP e pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo a mais de 200 professores das escolas de ensino fundamental e médio tanto da rede pública como privada; os cursos de extensão universitária presenciais e à distancia com duração de 30 horas; os projetos de iniciação científica júnior apoiados com bolsas pela FAPESP; os cursos de iniciação científica para alunos da rede pública denominados “Caça Talentos” e “Adote um Cientista”, sendo o primeiro um projeto de convivência semanal entre os pesquisadores do Centro e alunos e professores e o segundo o desenvolvimento de projetos de pesquisa simples, liderados por pós-graduandos da Universidade de São Paulo que se encarregam, cada um deles, de um pequeno grupo de alunos; produção de material educacional para divulgação científica como o “Jornal das Ciências” que se encontra na sua 18a. edição e é produzido pelos alunos e distribuído para as escolas da região; produção de jogos educacionais, de peças teatrais como “A agonia de uma Célula”; confecção de cartilhas como “Uma conversa sobre HIV e AIDS” que foi patrocinada pelo Ministério da Saúde e distribuída para Escolas de todo o pais e a redação de artigos científicos sobre o projeto educacional do CTC e que foram publicados no Brasil e no exterior. Em 2004, a Casa da Ciência teve suas atividades ampliadas tendo sido montado, com o apoio da Universidade de São Paulo que cedeu uma residência no Campus Universitário de Ribeirão Preto, o MULEC -Museu e Laboratório de Ensino de Ciências para abrigar a exposição permanente dos materiais educacionais produzidos nas atividades desenvolvidas na Casa da Ciência. Este novo espaçorecebe a visitação de alunos e do público em geral. Outras atividades desenvolvidas compreenderam participações na Semana Nacional de Ciências e Tecnologia (2004, 2005, 2006, 2007), em congressos científicos (SBPC), em programas da mídia eletrônica (rádio e TV) e na mídia impressa. Todas estas atividades de divulgação da ciência promovidas e apoiadas pelo CTC estão descritas com detalhes no portal da Casa da Ciência (http://www.hemocentro.fmrp.usp.br/projeto/casaciencia) e farão parte do programa educacional do INCTC. O histórico resumido das atividades de transferência de conhecimento do CTC é apresentado na figura 3. Outras atividades educacionais e de formação de recursos humanos compreendem os cursos de verão oferecidos anualmente e os cursos de formação profissional. O CTC oferece anualmente, no mês de janeiro, um curso de verão destinado a alunos matriculados em cursos de graduação da área biológica de todo o Brasil. Até o momento já foram oferecidos 8 edições com a participação de mais de 280 alunos. A temática destes cursos têm sido a genômica, a proteômica e as células-tronco. O curso, com duração de duas semanas, inclui aulas teóricas e fundamentalmente práticas laboratoriais na temática proposta. O CTC oferece também cursos de atualização profissional para médicos e não médicos na área de hemoterapia, enfermagem, assistência social e gestão de serviços de saúde. O CTC está ligado à Universidade de São Paulo por intermédio da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e de outras unidades situadas do Campus de Ribeirão Preto e os seus professores e pesquisadores participam ativamente dos cursos de graduação em medicina, farmácia, química e informática biomédica. Participam também regularmente dos cursos de pósgraduação destas unidades. 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 “As células, o genoma e você, professor” “Caça-Talentos” “Précongresso” “Site” “Jornal das Ciências” Iniciação Científica Júnior” “Curso On-Line (COL) ” “MuLEC” “Semana Nacional de Ciência e Tecnologia” “Adote um Cientista” “Roda da Ciência” “Terças da Ciência” “Mural I e II” “Sextas da “Mural III” Ciência” “Folhetins” “PIPOC” “PIPAS” “Portal para professores” “Espaço Ciência para todos” “Painel do Sangue” “Congresso de Pediatria” “Sangue Seguro” “Parceiros na divulgação de Ciências” “Agonia de uma célula”Brasília “Mostra Células-Tronco” “Sara e as relíquias do sangue” “Pré iniciação científica USP” “Ciência com jovens – fazendo o futuro” “Sala Retrô” “Eventos e Atividades” Instituições de Apoio e Financiamento:FAPESP; CNPq; Fundação Vitae; Pró-Reitoria de Cultura e Extensão – USP Figura 3 . Histórico das atividades de transferência Na presente proposta o objetivo é ampliar esta experiência do CTC, estendendo o alcance das iniciativas descritas para os laboratórios e unidades que se associam agora na proposta do INCTC. Propomos também o aumento em escala destas iniciativas por meio do oferecimento dos cursos de especialização através da internet. O público alvo serão os alunos e os professores de ciências e biologia do ensino fundamental e médio. No primeiro ano do INCTC está previsto o oferecimento de um curso de especialização com duração de 360 horas para a formação de 900 professores de ciências e biologia. Como parte integrante das atividades do curso, cada professor terá que matricular uma classe de no mínimo 40 alunos regulares do ensino público o que totalizará 36.000 alunos participantes do curso no período de 10 meses. As atividades com os professores serão predominantemente à distância usando a plataforma TIDIA. Vinte por cento das atividades serão presenciais e serão realizadas nos pólos de educação a distância situados em unidades das Universidades Estaduais Paulistas. O curso de especialização será autorizado pela USP e desenvolvido dentro do Programa Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP). A documentação para oficialização deste curso junto às instituições citadas encontra-se em tramitação com anuência preliminar do Secretário de Ensino Superior do Estado de São Paulo e do Pró-reitor de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo. A partir do segundo ano do projeto, o curso poderá ser estendido para todo o Brasil. Pretendemos ainda montar um Curso de Pós-graduação Inter-Unidades (FMRP-USP, FMV-USP, FZ-USP, ICB-USP e UFRJ) com temática na terapia celular e um curso de mestrado profissionalizante para a formação especializada de técnicos para atuação nesta área. Complementarmente a estas atividades estamos apresentando um ambicioso plano de divulgação da ciência e de formação de divulgadores científicos por meio de cursos de pós-graduação strictu e latu senso. A divulgação dos produtos científicos relavante pelos seus gerados no INCTC, identificada como participantes, será feita de diversas formas suplementares à produção de artigos científicos. O objetivo maior será atingir amplos segmentos sociais para promover o interesse em ciência e despertar para a necessidade da educação científica permanente. Estas novas ações previstas para o INCTC estão descritas com maiores detalhes no item E. Por fim, as atividades de inovação formam, em conjunto com o programa de pesquisa e de transferência, a tripla-hélice que caracteriza este projeto e deveria ser, de modo ideal, as características marcantes das Universidades e do Centros de Pesquisa do século XXI (Etzkowitz, 1996). Neste tópico também se pretende ampliar a experiência do CTC-CEPID que de forma bem sucedida implantou uma incubadora de empresas no seio da entidade sede (CRH-HCFMRP-USP). Esta incubadora denominada INBIOS – Incubadora de Empresas de Biotecnologia em Saúde foi constituída em 2002 com os objetivos de apoiar empreendedores para a criação ou continuidade de novos negócios de biotecnologia ou a criação de pequenas empresas de biotecnologia da cadeia de suprimento de médias e grandes empresas, ou ainda braços de P&D de médias e grandes empresas que tenham interesse de desenvolver um produto ou linhas de produto ou serviços na incubadora. As áreas preferenciais de ação da INBIOS foram definidas como: biotecnologia, biomedicina, equipamentos e materiais médico-odontológicos, instrumentação, tecnologia da informação, meio-ambiente, química e técnicas nucleares. Em 2006, a INBIOS, por meio de convênio, passou a integrar a SUPERA – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Ribeirão Preto com a denominação SUPERA-HEMOCENTRO (http://www.fipase.org.br/default.asp). No momento, a SUPERA apóia 09 empresas residentes, 03 empresas pré-residentes, 01 empresa associada e 20 projetos na modalidade Hotel de Projetos. A SUPERA-HEMOCENTRO está instalada em espaço de 128 m2 e oferece abrigo a cinco empresas: Rad Tech Sistemas Médicos Ltda, Capelli Fabris Desenvolvimento e Pesquisa Ltda, Lychnoflora Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Naturais Ltda, CG Brasil Consultoria e Informática Ltda e Innolution Sistemas de Informática Ltda. O projeto do INCTC incorporará esta experiência de extensão para o setor produtivo. Adicionalmente, serão desenvolvidas novas ações visando o desenvolvimento tecnológico e a sua transferência para o setor produtivo como descrito com detalhes no item F. Justificativa Em 2005, o Reino Unido promoveu um painel de especialistas com o objetivo de realizar o diagnóstico e o planejamento de atividades relacionadas às células-tronco e à terapia celular por 10 anos (2006-2015) . No documento final, UK Stem Cell Initiative – Report and Recomendations – foram apresentadas ações de curto, médio e longo prazo para colocar o RU na liderança mundial neste setor que foi considerado estratégico devido ao seu potencial inovador na cura e tratamento de doenças. No capítulo 5 do referido documento foi apresentado um fluxograma que descreve os passos críticos que governariam o desenvolvimento de produtos e processos com células-tronco e terapias celulares. Na figura 4 reproduzimos esse fluxograma. Por essa concepção, o desenvolvimento de novas terapias celulares começa por um esforço em pesquisa básica para isolar, caracterizar e compreender os mecanismos biológicos envolvidos na manutenção do estado indiferenciado das células-tronco. O segundo passo nesse fluxograma compreende o estabelecimento de linhagens de C-T bem caracterizadas e homogêneas, depositadas em banco de células-tronco criado específicamente para esse fim e encarregado da guarda, ampliação e distribuição destas linhagens para os diversos laboratórios. No RU esta sugestão levou à criação do Banco Nacional de Células-tronco (UK Stem Cell Bank). O terceiro passo consiste na produção de células-tronco bem caracterizadas em larga escala para serem usadas nos estudos pré-clínicos e clínicos. No RU, diversas iniciativas neste sentido, patrocinadas pelo governo e pela iniciativa privada, estão em andamento. Nesta etapa, a geração de patentes de produtos e processos é altamente provável o que explica o grande interesse da iniciativa privada nesta área no mundo todo. Na quarta etapa do fluxograma situam-se os estudos clínicos que demandam estruturas físicas e profissionais especializados nesta área. Na etapa final acontece o registro e a liberação do produto para uso gera. No Brasil, podemos afirmar com segurança, que a maioria dos estudos e iniciativas encontram-se na primeira fase do fluxograma descrito. A presente proposta avança neste sentido. Estamos propondo um conjunto de atividades que se distribuem pelas quatro fases descritas: pesquisa básica, estabelecimento de um banco de células-tronco, desenvolvimento de sistemas de cultivo em larga escala em condições GMP e testes pré-clínicos e clínicos. Este esforço coordenado colocará o país na fronteira do conhecimento em terapia celular. THERAPIES PRODUCED FROM STEM CELL LINES Research & Development Basic Stem Cell Research Cell Biology Imunology Stem Cell Banking Cell Therapy Production Stem Cell Bank Stem Cell Therapy Production Unit Research grade cell banking and characterisation Production process development Animal Modeling Epigenetics Clinical grade cell banking and characterisation Bioengineering 1,3,5,6,7,8,9,10, 11,12,13,14,15, 4,6,7,26, e 27* 16,17,18,19,20, 21.24 e 25 * Plot scale capacity to supply stem cell clinical trials 2 e 23* Stem Cell Clinical Marketing Approval Research Stem Cell Clinical Trials Licensed Product Manufacture Specialist Bed and Facilities Stem Cell Therapy Safety and Efficacy Commercial or Plubic Sponsor Coordination Therapy Surveilance 28, 29 e 30* Figura 4. Fluxograma das fases do desenvolvimento de terapias celulares. (Adaptado de UK Stem Cell Initiative, 2005).* número dos subprojetos descritos nesta proposta. Na última linha da figura 4, indicamos a relação das etapas indicadas com os subprojetos propostos. O grande diferencial deste projeto é que ele amplia o escopo dos estudos com células-tronco e terapias celulares que ocorrem no país. Embora existam vários estudos clínicos de fase I e II em andamento salientamos que esses estudos estão sendo feitos, na sua maioria, com células mononucleares da medula óssea minimamente manipuladas. Estes estudos foram planejados no auge da divulgação de experimentos preliminares em modelos animais que sugeriam que as células da medula óssea fossem altamente plásticas e atuavam na reconstituição de órgãos como o cérebro e o coração. Muitos grupos de pesquisa, sem nenhuma experiência prévia no estudo de célulastronco, embarcaram nestes projetos simplesmente estimulados pela facilidade de obtenção das células. Entretanto, esta fase se esgotou rapidamente e ficou demonstrado que os avanços clínicos revolucionários esperados com o uso da fração mononuclear da MO não se confirmaram, o que remeteu esse tipo de estudo para o fim da fila das prioridades em terapia celular. A terapia celular, como definimos anteriormente, tem imenso potencial terapêutico podendo mesmo revolucionar a forma de tratamento de inúmeras doenças crônico-degenerativas. Entretanto, para que este potencial se realize faz-se necessário um conjunto de atividades científicas e regulatórias que, no momento, ainda não se encontra totalmente consolidada no país. O projeto do INCTC propõe um modelo de atuação coordenada, à semelhança dos modelos que foram adotados pelos países que se tornaram líderes nesse setor, especialmente o Reino Unido. Como mostrado na figura 4, a nossa proposta é constituída por um conjunto de subprojetos que visam atender as exigências técnicas e científicas para que terapias celulares efetivas sejam disponibilizadas para amplos setores da população num universo temporal que varia de 8 a 15 anos. Neste contexto, um primeiro conjunto de subprojetos destina-se ao estudo das propriedades básicas das células-tronco (biologia celular, imunologia, epigenética, genômica, citogenômica, proteômica, bioengenharia, etc.). Neste grupo também se inclui o desenvolvimento de modelos animais e aqui ressaltamos a utilização, pela primeira vez no país, de primatas não humanos para o desenvolvimento de modelos experimentais destinados a testar terapias celulares. Outra iniciativa inédita é a montagem de um Centro de Estudos Pré-clínicos para atender a demanda que será gerada pelo projeto. Esta iniciativa deverá também beneficiar outros estudos não só de terapia celular já que o Brasil é carente de centros com esta especiaficação. Um segundo conjunto de subprojetos, que se desenvolverá concomitante ao primeiro, destina-se à derivação de linhagens homogêneas de células-tronco, tanto pluripotenciais como somáticas. O objetivo é a obtenção de linhagens celulares de CT bem caracterizadas e que possam ser amplificadas em sistemas de cultivo sem perderem as suas propriedades primordiais com a finalidade de serem disponibilizadas para os diversos laboratórios de pesquisa e para os estudos pré-clínicos e clínicos. Para alcançarmos este objetivo pretendemos estabelecer dois bancos de célulastronco: um para células-tronco animais que será coordenado pelos grupos da Profa. Maria Angélica Miglino da FMVSP-USP e pela Dra. Klena Sarges Marruaz da Silva do Centro Nacional de Primatas de Belém-PA; o segundo banco, para células-tronco humanas já existe no CTC-Hemocentro e deverá ser ampliado na sua capacidade de processamento para atender a todas as necessidades encetadas pelo projeto. A premissa maior desta fase do projeto é que os efeitos terapêuticos eventuais que serão obtidos nos modelos animais e nos estudos clínicos, para serem reprodutíveis e confiáveis, precisam ser diretamente correlacionados com populações celulares específicas e passíveis de amplificação em cultura para que os progressos nesta área sejam cientificamente consistentes. Devemos também enfatizar que a preocupação com a qualidade e caracterização das linhagens de células-tronco que serão testadas se acompanha também com a qualidade dos testes pré-clínicos. Para garantir que esta fase fundamental para o desenvolvimento das terapias celulares futuras seja executada com todo o rigor científico e metodolólgico necessário, estamos propondo a constituição de um Centro de Estudos Pré-Clínicos que será fisicamente descentralizado envolvendo a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de São Paulo – USP, a Faculdade de Zootecnia de Pirassununga – USP, o Laboratório de Estudos Animais do CTC-Hemocentro e o Centro Nacional de Primatas do Instituto Evandro Chagas de Belém- PA. Especialmente neste último centro serão executados estudos pré-clínicos com primatas não humanos o que significa uma evolução sem precedentes no Brasil e em boa parte do mundo. Um terceiro grupo de subprojetos se destina a implementar sistemas de produção de células-tronco larga escala para que as terapias células se tornem disponíveis para grande número de pacientes. A capacidade limitada de cultivo das células-tronco é, hoje, o maior obstáculo para que terapias celulares efetivas sejam disponibilizadas. À guisa de exemplo, no estudo clínico de fase I que estamos conduzindo usando células estromais mesenquimais para o tratamento da doença do enxerto contra o hospedeiro aguda (DECHA) pós-transplante de medula óssea, o tratamento de um único paciente com 70 Kg de peso corporal exige o cultivo de células em 30 frascos de cultura de 1L por 20 a 30 dias para a obtenção final de cerca de 7 x 107 células. Impossível imaginar que este tipo de tratamento possa ser estendido a todos que dele necessitem sem um sistema mais eficiente de cultivo celular. A alternativa é produção de células em biorreatores e nesta proposta este objetivo será perseguido tanto para a amplificação de células-tronco embrionárias como para células-tronco mesenquimais. O quarto grupo de subprojetos compreende os estudos clínicos. Destacam-se aqui os estudos que envolvem a utilização de células-tronco mesenquimais para o tratamento de pacientes com diabetes tipo I e o destinado ao tratamento da doença do enxerto contra o hospedeiro póstransplante de medula óssea (DECHA). O nosso grupo foi o primeiro e é, no momento, o único que está usando células mesenquimais cultivadas em condições GMP para terapia celular. No conjunto de propostas, este projeto de INCTC promove um grande avanço nos estudos envolvendo células-tronco e terapia celular no país.