Galeno Amorim e Francisco Felipe P. da Silva Ilustrações de Nádia Moya Ribeirinho é um menino curioso, cheio de ideias e sempre em busca de coisas novas. Ultimamente, fica tentando imaginar como será a cidade onde ele mora em 2022, ano em que se comemorará os 200 anos da Independência do Brasil. Será um lugar melhor para morar? Como vai ser o trânsito? E a vida das pessoas? Atrás de respostas a essas e outras perguntas, ele faz várias descobertas. E essa história tem um desfecho de fato surpreendente... Ao final do livro, você também, leitor, será convidado a entrar na história e escrever o seu próprio final para ela. Será que você também está preparado para viver este desafio? Iniciativa Parceiros Apoio Galeno Amorim e Francisco Felipe P. da Silva Ilustrações de Nádia Moya Copyright © 1996, 2001, 2005 e 2009 do texto: Galeno Amorim Copyright © 2009 das ilustrações: Nádia Moya Copyright © 2009 da edição: Fundação Palavra Mágica O autor cedeu os direitos autorais, na sua totalidade, ao projeto. Editora executiva: Otacília de Freitas ([email protected]) Preparação de texto: Adriana Oliveira ([email protected]) Revisão de provas: Ana Paula dos Santos ([email protected]) e Fei Xi Li ([email protected]) Ilustrações: Nádia Moyá ([email protected]) Projeto gráfico e diagramação: Daniela Máximo ([email protected]) Capa: Daniela Máximo, com ilustração de Nádia Moya Impressão: IBEP – Gráfica (www.ibepgrafica.com.br) A equipe trabalhou com os mais avançados equipamentos e programas de editoração eletrônica, usando celulares, ipods, msn e internet sem fio. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Amorim, Galeno O menino que sonhava de olhos abertos / autor Galeno Amorim ; ilustradora Nádia Moya – 4 ed. Ribeirão Preto : Fundação Palavra Mágica, 2009. ISBN 85-85997-02-8 1. Literatura infanto-juvenil I. Moya, Nádia. II. Título 95-4309 CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infantil 028.5 1. Literatura infanto-juvenil 028.5 O autor e a personagem Ribeirinho usaram a grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009. 1ª. edição: 1996 / 2ª. edição: 2001 / 3ª. edição: 2005 / 4ª. edição: 2009 Fundação Palavra Mágica Rua Américo Brasiliense, 1205 casa 2 – CEP 14015-050 – Ribeirão Preto/SP Tel.: (16) 3610-0204 – www.palavramagica.org.br – [email protected] S umario Brincar de pensar: mas que diabos e isto? 5 Um perguntador de mao cheia 10 Ja era hora de acordar? 13 Tudo o que pediu a Deus! 16 O pr ncipe precisa urgente de um banheiro 21 Minha cidade em 2022 27 Facam as suas apostas! 30 A gente chega la! 33 Carros voadores? Onde isso?!! 36 E o premio vai para... 41 B rincar de pensar: mas que diabos e isto? Ribeirinho nem bem fez dez anos e já parece um homenzinho feito, como costumam dizer lá na casa dele. Mas ele é um garoto como qualquer outro da idade dele: adora andar descalço por aí, subir em árvores e brincar até não aguentar mais. Só que, algumas vezes, faz uma cara de gente grande e diz coisas que ninguém na turma consegue entender direito. Nessas horas, parece mesmo que ele vive no mundo da lua, como a mãe diz, dando uma cutucada no filho, só pra ter certeza de que ele está mesmo acordado. 5 — Tá dormindo em cima do caderno, filhote? — Hein?! Eu?! Não. Só estava aqui pensando umas coisas... Dona Ana Maria então sorri e balança a cabeça. Ela já conhece bem aquele jeitão do caçula. — Já fez a lição? — ela pergunta, com carinho. Ribeirinho faz que sim com a cabeça. E já exibe, orgulhosamente, a capa do novo livro que acabou de pegar emprestado na biblioteca. É A Ilha Perdida, de Maria José Dupré, que já vai pela metade. A mãe sugere que ele dê um tempo e vá brincar um pouco. Ribeirinho fecha o livro, tomando o cuidado de, antes, marcar bem a página onde parou. Ele agora não tem tempo a perder: — Eeeebaa! Lá vou eu! — anuncia, enquanto coloca, depressa, o caderno, os livros e o estojo na mochila. Aquele ar compenetrado de quem estava lendo com gosto, sentindo na pele as emoções das personagens da história, sumiu de vez de seu rosto. Ele segue alegre e feliz e, rapidamente, calça os patins, que é pra poder chegar mais depressa... 6 7 Agora é hora de brincar na rua. Poucos minutos e o menino já está lá fora, em busca de alguma nova brincadeira. E olha que o Ribeirinho conhece muitas. Tem gente que não consegue entender isso muito bem, mas com o Ribeirinho é assim mesmo: ele faz uma porção de coisas ao mesmo tempo. O menino acha o maior barato estudar e aprender coisas novas, seja na escola, na biblioteca do bairro ou na internet. Também faz gato e sapato do celular que ganhou de aniversário: já descobriu tanta coisa lá dentro que, só de zoeira, costuma dizer que ele até funciona como um telefone de verdade. Também pudera: usa até pra ouvir alguma gravação nova que copiou pela internet e que ainda não tem no IPod, o tocador de música digital que ele diz que é mil vezes melhor que o antigo radinho de pilha do se avô. Cabe muito mais músicas lá dentro! Mas ele também curte adoidado ficar sozinho. É quando aproveita pra pensar em coisas e situações bem diferentes daquelas que vive todo dia em casa, na escola, no curso de espanhol ou com os amigos da rua. Se, nessas horas, alguém insiste em saber o que ele está fazendo, tem a resposta na ponta da língua: — Estou brincando de pensar... Já em outras horas, Ribeirinho quer saber mesmo é de brincar com os amigos. E ele tem muitos amigos. 8 — É porque a vida é assim mesmo, poxa! — costuma dizer, sem perder o humor. — Tem hora pra tudo. E uma hora certa pra cada coisa. E todas elas podem ser superlegais... Ele franze a testa e arregala os olhos. Depois, faz uma pequena careta e emenda, como que fazendo um reparo no que acabou de dizer: — ... mas só se a gente quiser mesmo que elas sejam. 9 U m perguntador de mao cheia Ribeirinho mora com o pai, a mãe e os dois irmãos mais velhos. A casa deles fica em Ribeirão Preto, uma das cidades mais importantes do Estado de São Paulo. É lá também que vivem seus amigos e quase todos os seus parentes. O menino se dá bem com todo mundo. No bairro onde mora, é difícil encontrar alguém que faça pipas tão legais quanto às do Ribeirinho (ah, o apelido é um diminutivo do sobrenome da família, Ribeiro, só que ele não perde a mania de dizer que seu nome foi uma homenagem a Ribeirão, a cidade onde ele nasceu e mora até hoje). Ribeirinho é mesmo um garoto esperto. Sabe de cor os nomes dos times e jogadores do campeonato de futebol. Aliás, jogar bola é uma das coisas de que ele mais gosta de fazer na vida. Outra é andar de bici10 cleta. E outra, ainda, é brincar de pega... E colecionar figurinhas. E jogar bafo no recreio na escola. E... Bem, pra falar a verdade, ainda não inventaram uma brincadeira de que ele não goste. No entanto, sem mais nem menos, Ribeirinho aparece do nada com uns papos meio complexos: — Por que o avião, tão grande e tão pesado, voa como um passarinho? — Será que existe vida inteligente fora da Terra? — Como o computador consegue guardar tanta coisa lá dentro e dar respostas tão rápidas?!? Ah, esse é um de seus assuntos prediletos. Ribeirinho chega a passar horas fuçando no computador no laboratório de informática da escola. Mesmo depois que a aula termina, muitas vezes ele ainda fica um bom tempo por lá. Fuça que fuça que fuça... De vez em quando, gosta de bater um papo virtual. Mas o que curte mesmo é descobrir coisas novas enquanto navega na internet. Virou fã de carteirinha do Google: é lá que ele descobre as coisas mais legais e, ao mesmo tempo, mais inimagináveis da sua vida. E tudo muito rapidinho, em questão de segundos.Tecla qualquer palavra e pronto. Logo aparecem sites do mundo inteiro com aquilo que ele está buscando. E até em umas línguas que Ribeirinho nunca imaginou que existissem. O tal do Google, enfim, está sempre salvando o menino na hora das tarefas da escola. 11 Quando alguém pergunta o que vai ser quando crescer, o menino não pensa duas vezes: — Vou ser construtor naval — responde, cheio de si. Diante da cara de espanto das pessoas, ele trata logo de esclarecer: — É que vou construir programas de computador pra navegar na internet... 12 J a era hora de acordar? De tanto que deseja ter, algum dia, um computador só seu, pra ficar lá horas e horas mexendo, sem ter de se preocupar com o tempo, Ribeirinho chega até a sonhar. O pai, seu Ribeiro, mecânico dos bons, até já prometeu um: — Assim que o dinheiro der, você vai ter o seu. Mas vai ter de dividir com seus irmãos, certo?! Ribeirinho repete sempre a mesma resposta: — É claro que sim! Mesmo se já tivesse um computador, nem era preciso tal recomendação. Afinal, esse é mesmo o jeitão do menino: tudo o que tem, seja o que for, compartilha. Se tivesse seu próprio computador em casa, aí sim que não daria um minuto de sossego pra turma. Seria 13 um tal de e-mail pra cá, mensagens instantâneas pra lá e bilhetes na tela do computador de todo mundo. Sempre que pode, Ribeirinho vai a uma lan house perto de casa só pra entrar na internet e ver os recados que deixaram pra ele no Orkut. Vira e mexe, ele aparece por lá: digita algum recado pros amigos, dá uma espiada no que escreveram pra ele. Mas a primeira coisa é ver se arrumou algum amigo novo pelo mundo afora. Na página dele no site, já tem gente de Portugal, Espanha, Moçambique e Angola, o que fez a turma ficar ainda maior. Já virou até um ponto de encontro dos amigos. De uns tempos pra cá, Ribeirinho anda contando nos dedos quanto tempo ainda falta pro Natal. Todo santo dia é isso. Quem sabe o pai não vai lhe aprontar alguma surpresa?! Pelo menos, é o que ele desconfia e anda esperando... Mas enquanto esse dia não chega, ele passa dias e noites sonhando com um computador novinho em folha. Nos sonhos, as telas são muito mais coloridas do que aquelas do mundo real. Letras gorduchas e outras magricelas correm em ziguezague, fazendo a maior bagunça. Às vezes, transformam-se em figuras superesquisitas, que fazem um barulho dos diabos. Em certas noites, Ribeirinho chega a ir mais cedo pra cama, só pra ver se consegue retomar o sonho inacabado da véspera. Se, de manhãzinha, acorda antes de dá-lo por encerrado, faz muxoxo: 14 — Poxa, bem agora que o sonho estava na parte mais legal... No meio da turma, Ribeirinho deita a maior falação. Daniel e Trinca são os melhores amigos do Ribeirinho. Eles não se cansam de repetir pra todo mundo que o colega de classe é o mais inteligente da escola inteira. Os dois sentem o maior orgulho disso. Mesmo que precisem, em certas ocasiões, dar um duro danado pra poder acompanhar o raciocínio rápido e as invencionices do amigo. E Ribeirinho está sempre trazendo novidades pros amigos: — Sabe, Trinca, que quase tudo o que a gente faz na vida pode ficar mais fácil e melhor se usarmos o computador?! — Precisa ver, Daniel, o jogo eletrônico novo que a minha prima comprou. É muuuito legal, cara! Você entra no jogo e pode construir uma cidade inteira, do jeito que você acha que as coisas devem ser pra funcionar direito... Esse é o Ribeirinho. 15 T udo o que pediu a Deus! Dia desses, enquanto batia o olho no quadro de avisos da escola, Ribeirinho teve uma surpresa: deu de cara com um cartaz imenso que anunciava sobre um campeonato de redação entre as escolas. Cada participante precisava escrever um texto contando como achava que seria a sua cidade em 2022, o ano em que o Brasil comemoraria 200 anos de sua independência de Portugal. — Yes, tô nessa! — Ribeirinho gritou, socando o ar. Era de fato como se tivesse acabado de marcar um gol na partida decisiva do campeonato. Anotou tudo 16 que precisava na palma da mão. Mal deu conta de ler o cartaz até o fim, tamanha era a sua excitação. Ribeirinho não cabia em si de tanta euforia. Só de imaginar que outras pessoas leriam sua redação e que tomariam conhecimento de suas ideias, o coração do menino parecia que ia saltar pela boca. Todos os amigos e parentes sabiam o quanto aquilo era importante pra ele. Por isso, todos deram a maior força. Duro mesmo foi pra turma, que teve de amargar uma semana inteirinha desfalcada do seu capitão e melhor jogador do time. Mas, enfim, não havia outro jeito. — É o futuro da cidade que está em jogo – Ribeirinho explicava, num tom que ia do bem-humorado ao quase sério. Em casa, então, era um deus nos acuda: — Léo, será que vai caber tanta gente assim na cidade em 2022? — ele perguntava ao irmão mais velho, que se prepara pra enfrentar o vestibular de arquitetura. Mas que nada de esperar pela resposta. Ribeirinho tinha pressa. Muita pressa. E lá vinha ele com outra e mais outra pergunta: — Como fazer pra arrumar casa e emprego pra todo mundo? — questionava, num respeitoso tom de seriedade, a irmã Carolina, sempre preocupada com a situação em que vivem as pessoas mais pobres da cidade. Tampouco havia tempo pra que ela pensasse numa boa resposta: 17 — Será que, nessa época, vai ter escola e posto de saúde pra todo mundo?! — já emendava o irmão mais novo, pensativo. Mal a mãe chegava da escola, começava tudo de novo. E lá vinha ele com mais interrogatório: — Se ninguém plantar mais árvores, como é que as pessoas vão poder respirar todas de uma só vez?! Dona Ana Maria, que era professora numa escola perto de casa, até que se esforçava pra atender o filho. Ela tinha toda paciência do mundo. Mas lá vinha o garoto de novo. E, dessa vez, com uma questão ainda mais difícil do que a anterior: — Manhê, será que ainda vai ter gente passando fome em 2022? Daí a pouco a conversa se dirigia pros lados do pai. Ribeirinho parecia mesmo um perguntódromo giratório, que disparava em todas as direções. Sem fazer uma pausa que fosse. Era uma pergunta após a outra — e tudo em fração de segundos. Enfim, não havia quem conseguisse escapar imune daquela sanha perguntadora do menino. Pra uns, isso não passava de um mero ataque de curiosidade infantil. — É coisa de criança... Logo, logo passa — diziam. Pra outros, porém, era outro o diagnóstico: o que Ribeirinho tinha mesmo era uma sede incontrolável de saber. Daquelas que não se consegue saciar jamais. Ele parecia ter necessidade de saber sempre mais e 18 19 mais. E, talvez, aquilo nunca tivesse cura mesmo. Ainda bem! Quando crescesse, apostavam, Ribeirinho seria cientista ou algo parecido. Eis que certa noite, após o jantar, Ribeirinho reapareceu na sala, onde a família inteira assistia à tevê. Ele estava radiante e todo prosa. Nas mãos, brandia um papel, que exibia como se fosse um verdadeiro troféu. Era, enfim, a tal redação. Seria com ela que o menino concorreria no campeonato entre as escolas. Estava prontinha, e já passada a limpo. — Posso ler, gente? Posso? — ele perguntou com seus olhos miúdos e brilhantes. Mas nem esperou que o pai, a mãe ou algum dos irmãos se desse ao luxo de responder. Respirou fundo, encheu-se de coragem e, com toda solenidade e pompa que o momento exigia, passou a ler sua obra-prima. 20 O pr ncipe precisa urgente de um banheiro Ribeirinho fez uma concha com uma das mãos e tossiu duas vezes. Fez certo suspense e tirou outro papel do bolso. As folhas estavam bem dobradas e, diante do silêncio da pequena plateia, abriu o inesperado objeto pacientemente. Então colocou o outro calhamaço de lado e pôs fim àquela encenação que já começava a inquietar seu distinto público. — Bem, antes, vou ler outra redação — comunicou o jovem escritor. Ninguém entendeu nada nem se atreveu a perguntar. O menino pigarreou outra vez. E acabou de vez com o suspense: 21 — Antes de fazer a redação, achei melhor pesquisar esse tal bicentenário da Independência do Brasil. Fui à biblioteca e peguei uns livros, depois pesquisei um pouco mais na internet. Na sala, era um tal de coçar a cabeça e levar a mão à boca aberta: todos estavam surpresos. Como é que o menino era capaz de fazer tanta coisa? Onde é que arrumava tempo pra isso? Antes que começassem a ladainha, Ribeirinho foi logo avisando: — Esperem aí... Vou ler primeiro essa outra redação sobre a Independência do Brasil. Ninguém entendeu bulhufas, e ele ordenou: — Silêncio! E sem rir, por favor... Pôs-se a ler, olhando a plateia com rabo de olho, fingindo-se bravo. — “O Brasil agora é livre!” — anunciou, com voz de locutor do Jornal Nacional, o título da redação. E seguiu: — “Nunca ninguém soube o que tinha acontecido no dia anterior. Mas a verdade era uma só: o príncipe estava mal. Mal mesmo. Uns diziam que era por causa da água que havia bebido. Outros, que era a comida forte. O certo é que aquela dor de barriga não deixava o futuro rei em paz.” A plateia se entreolhou mas não se disse uma palavra. E Ribeirinho continuou: — “O príncipe logo percebeu que não haveria nenhum banheiro por perto. Como não tinha outro 22 jeito, resolveu descer do cavalo ali mesmo e fazer suas necessidades no meio do mato, bem perto do rio. Foi ali, naquela situação esquisita, que os cavaleiros do correio imperial conseguiram, finalmente, localizar o jovem príncipe. Eles viajaram dias e dias a cavalo, do Rio de Janeiro até São Paulo, só para entregar aquelas cartas. Pareciam mesmo realmente importantes”. Pra deixar a cena mais dramática, Ribeirinho entortou a boca, balançou os ombros e engrossou a voz: — “Quem ousa me incomodar numa hora dessas?” — e não houve quem não gargalhasse diante da imitação principesca inesperada. E o menino não se intimidou com a empolgação. — “Mal abotoou as calças, Dom Pedro tomou às mãos as cartas recém-chegadas de Portugal. A cada folha lida, seu rosto ficava mais vermelho. A última pareceu deixar o jovem príncipe numa sinuca de bico: ele estava mais perdido do que cachorro caído de caminhão de mudança...” A atenção de seu Ribeiro, dona Ana Maria e dos dois filhos crescia: — “Dom Pedro estava sendo obrigado a voltar para Portugal. Seu pai, o rei Dom João VI, já havia retornado, após ter vivido alguns anos no Brasil. Ele havia transferido a sede do seu governo para cá a fim de fugir de Napoleão, que resolveu invadir Portugal. Agora, com aquela notícia, o Brasil perderia prestígio e poder. 23 E o príncipe perderia a boa vida que levava por aqui... Hum, aquilo não ia ser nada bom...” A plateia riu. — E não é que o danado escreve bem? — Leo comentou baixinho, cutucando a irmã. Com a voz empostada, o menino continuou num tom principesco: — “Meus amigos, a Corte quer nos escravizar... De hoje em diante, nossas relações estão rompidas.” Noutro gesto teatral, Ribeirinho fingiu tirar o distintivo da Coroa e jogá-lo longe. — “Por meu sangue, por minha honra e por Deus, farei do Brasil um país livre!” Todo mundo bateu palmas. Carolina botou dois dedos entre os dentes e assobiou ruidosamente. O menino cresceu. E caprichou mais: — “Brasileiros, de hoje em diante, nosso lema será Independência ou morte!” Novos aplausos. Novos assobios. Agora, Ribeirinho já assumia o tom de voz anterior e falava pausadamente: — “O futuro imperador do Brasil cavalgou cinco dias e noites feito um louco. Entrou no Rio de Janeiro e foi aplaudido como herói. Mas isso não duraria muito tempo. As coisas não foram fáceis, não. Ele teve de fazer empréstimos para pagar as dívidas que Portugal cobrava. Ele logo se desentendeu com as pessoas que o apoiaram. Muitos achavam que era melhor voltar 24 a ser uma colônia portuguesa. Houve brigas por toda parte. Tempos depois, dom Pedro teve que largar o trono e acabou virando rei, dessa vez em Portugal.” — E qual é o fim dessa história? — provocou a irmã. — Não acaba nunca? Ribeirinho não se fez de rogado. E foi pro último parágrafo do texto: — “Houve guerras e revoluções, mas o império continuou firme. Quando foi para Portugal, Dom Pedro deixou aqui os filhos pequenos. Dom Pedro II, o futuro imperador, tinha só cinco anos. Só pôde assumir o trono muito tempo depois. Antes, o Brasil foi governado por regentes e as brigas pareciam que nunca iam acabar...” — Ué, mas acaba assim a redação? — quis saber a mãe. — Não tá meio chocha, não? — Não. O final vem só agora: “Como não mudou quase nada com a independência proclamada no dia 7 de setembro de 1822, os problemas continuaram. Alguns até aumentaram. A escravidão ainda levou muito tempo pra acabar. O sonho de transformar o Brasil numa República, onde as pessoas tivessem direitos iguais, também demorou muito. As dívidas do país só acabaram de ser pagas em 2005...” Ribeirinho estava emocionado. Respirou fundo e leu a última frase do texto: — “Por isso, a Independência do Brasil ainda é uma obra inacabada. Ela só vai ficar pronta quando todo 25 mundo tiver ido à escola e souber ler e escrever. Tomara que lá em 2022 já seja assim.” Seu Ribeiro e dona Ana Maria foram os primeiros a se levantar. Deram um abraço bem apertado no filho. Léo e Carolina não escondiam o orgulho do irmão caçula. Naquela noite, a família Ribeiro riu e chorou muito. Mas a noite apenas começava. Ribeirinho pegou as folhas de papel sobre a mesa e começou — agora, sim! — a ler a redação que fizera para concorrer no campeonato. Minha cidade em 2022 era o título do texto. 26 M inha cidade em 2022 Muita gente ainda não se tocou, mas a verdade é que falta bem pouco tempo para o ano 2022 chegar. Outro dia mesmo, minha tia Isaura disse que esse vai ser um ano igualzinho aos demais: terá doze meses, ou 365 dias (já que não vai ser um ano bissexto, aquele que só acontece a cada quatro anos). Olhando por esse lado (mas só por esse lado), ela não deixa de ter razão... Essa minha tia vive repetindo que, quando se trata de mudar a vida de uma cidade ou de um país, milagres não existem. Eu concordei com ela. Só que, ultimamente, também tenho pensado noutras coisas. Uma delas é que esse tal 2022 pode mesmo ser um ano meio diferente dos outros. E digo por quê. 27 Antes, devo esclarecer uma coisa: não sou daqueles que acreditam que tudo se resolve como num passe de mágica. Mas é que, desde que comecei a pesquisar para escrever esta redação, tenho descoberto muitas coisas interessantes por aí, que nunca me passaram pela cabeça antes. A primeira delas é que tem um monte de gente por aí pensando mais ou menos igual: que em 2022 as coisas estarão bem melhores do que agora. Geralmente, quando esse tipo de coisa acontece, parece que uma mão invisível empurra tudo pra frente. E não é que as coisas acabam mesmo dando certo?! Não faço a menor ideia do motivo. Só sei que é assim... Mas o que me faz mesmo pensar que 2022 pode ser um ano diferente é uma descoberta que fiz na internet. É um troço que resolvi chamar de Bolão. O Bolão dos 200 anos, porque é meio parecido com aqueles bolões que as pessoas fazem durante a Copa do Mundo. Acho que todo mundo conhece: nos dias de jogos, cada um dá um palpite sobre o resultado. Depois, confere pra ver quem acertou. Mas esse outro bolão é um pouco diferente: as pessoas aproveitam pra dizer como elas querem que sejam as coisas em 2022. Como ainda falta um tempão pra chegar lá (eu mesmo, por exemplo, já estarei na faculdade e serei mais alto do que o meu irmão é hoje...), não dá pra sair por aí, feito besta, simplesmente chutando uns nú28 meros a torto e a direito. Por isso, as pessoas acham melhor imaginar como elas gostariam que fossem as coisas em 2022. É sobre isso que elas falam. Achei tudo muito interessante. Pelo menos, é diferente. É verdade que aparecem umas coisas meio estranhas. Tem uns que fazem umas viagens meio doidas. Já outros parecem duvidar de tudo. Uns chutam bem alto. Acho que vão errar feio. Outros, muito baixo. No final das contas, o resultado fica no meio: não é 8, mas também não é 80... Até parece minha professora fazendo a média escolar: ela soma todas as notas do ano e, então, divide pelo número de bimestres pra ver quanto deu pra cada um. A grande diferença em relação aos outros bolões feitos na Copa é que, nas partidas de futebol, só os jogadores que estão dentro do campo (é verdade que, às vezes, o juiz também...) podem alterar o resultado do jogo. Até a torcida tem de ficar na dela... Nesse outro bolão, não: todo mundo tem o direito de dizer como as coisas devem ser. E também o que cada um tem de fazer pra que tudo dê certo. Depois, todo mundo ainda assina embaixo. É um pacto do bem! No começo, confesso que eu achava meio estranho. Depois, aos poucos, fui me acostumando. Agora, ando gostando da ideia. 29 F acam as suas apostas! Vou contar um segredo: às vezes, fico horas e horas sozinho, pensando em coisas que ainda não foram inventadas. Mas sei muito bem que elas não vão aparecer do nada. Pra elas existirem, vai levar um tempo. E vai precisar de bastante gente pensando e fazendo coisas. É justamente isso que me fez pensar que esse tal bolão pode, sim, ser uma boa ideia. Já pensou se bastante gente resolve fazer alguma coisa boa de verdade? Ainda que seja só pra não errar feio na tal aposta... Lá em casa, dizem que eu tenho pensado demais nisso. Tanto e tanto que até cheguei a sonhar com esse 30 lugar. Todo mundo ia lá discutir e apostar como seria a vida naquela cidade dos sonhos em 2022. Parecia um filme de verdade: — Quantas crianças estarão fora da escola e da creche? — perguntava um. Um olhava pro outro. E tentava descobrir a resposta certa. De repente, todo mundo levantava a mão de uma vez. E gritava, quase ao mesmo tempo: — Dez... — Uma... — Ne-nhu-ma!! De cima do banquinho, outro homem gritava ainda mais alto: — Encerrem suas apostas, senhores. Encerrem suas apostas... Num outro canto, o bicho pegava feio: — Quanto os senhores acham que deve ser o salário mínimo em 2022? Última chance. Última chance... Mais adiante, o palpite era sobre o número ideal de árvores, e a quantidade de metros quadrados de área verde por morador. Como num leilão, o homem agora ameaçava bater o martelo: — Quantas árvores pra cada cidadão? Dou-lhe uma, dou-lhe duas... — Quantos empregos? — Quantos leitos nos hospitais? Quantos postos de saúde? 31 — Hei, onde tá sendo o bolão da casa própria — gritava, no meio da confusão, a mulher que conduzia os dois filhos pequenos pelas mãos. Depois de um reboliço, todo mundo era chamado. Tinha que dizer o que e como deveria ser feito. E mais: qual seria a tarefa de casa de cada um. Acho que não seria nada ruim se fosse dessa forma na vida real. 32 A gente chega la! Meu tio Humberto, marido daquela minha tia que diz que os anos são todos iguais, tem uma explicação pra isso. Ele diz que onde ele trabalha os funcionários e diretores fazem algo parecido com o bolão. Lá, eles chamam de Planejamento. E esse tal de Planejamento vale pra tudo. Antes de fazerem qualquer coisa, eles conversam a respeito daquilo que vão fazer. Em seguida, planejam como vai ser. Combinam quem vai fazer cada coisa. E quando vai fazer. Mas também quem é que vai pagar a conta... Mas tem uma coisa: é preciso ficar em cima. Ninguém pode deixar de fazer sua parte... Todo mundo tem de fazer alguma coisa. — A igreja, a associação de moradores, o governo, a prefeitura... Todo mundo tem de planejar — repete, sem parar, o tio Humberto. 33 Mas nem sempre tudo dá certo. Só que se não faz... É quase certo que vai se dar mal. Quem melhor explicou sobre isso foi o Teobaldo, nosso professor de História: — 2022 é só uma data simbólica... Todo mundo ficou se entreolhando. Ninguém conseguia entender aonde ele queria chegar. Aí, o próprio Teobaldo completou: — ... e, por isso mesmo, não deixa de ser importante. Gostei do que ele falou. Depois, a classe inteira discutiu o assunto. Acabamos concluindo que, em geral, as pessoas adoram comemorar. Festejar aniversário de tudo: nascimento, morte ou qualquer outra coisa, não importa! Muita gente aproveita essas épocas pra fazer um balanço e ver a quantas andam as coisas: a vida da gente, da cidade, do país... Seja lá o que for. E já olha pra ver se todo mundo fez a lição de casa. — Vai ser chato festejar os 200 anos de Independência do Brasil e descobrir que ainda não resolvemos problemas tão graves, não é mesmo?! Enquanto perguntava, o professor Teobaldo olhou diretamente nos olhos de cada um da turma. Era como se estivesse fazendo uma provocação. Acho que ele está certo. Resolver esses problemas todos deve dar um trabalhão danado. Mas, também, quando é que a gente vai, enfim, revolver isso tudo?! Essa era a pergunta que todos se faziam no final da aula. 34 Confesso que fiquei com a pulga atrás da orelha. Como, afinal, é possível realizar tantas coisas em tão pouco tempo em um país tão grande como o Brasil?! Foi aí que surgiu a ideia. Se cada cidade fizer a sua parte, vai ficar bem mais fácil conseguir tudo o que foi combinado até 2022. E a minha cidade, é claro, tem de começar logo a fazer a parte dela. Eu tenho pensado que muita coisa de fato precisa ser feita. Acho que em 2022 as pessoas já estarão cansadas de tantas guerras e conflitos. Assim, vai sobrar mais tempo pra fazer uma porção de coisas boas. E quem tiver mais condições vai poder, finalmente, olhar para aqueles que precisam de ajuda — seja porque têm fome, estão doentes ou não têm empregos. Talvez as pessoas se sintam mais responsáveis umas pelas outras, e descubram que assim a vida pode ser melhor pra todo mundo. Os cientistas, então, vão poder descobrir remédios pra curar doenças que ainda não têm cura. E, quem sabe, a gente não encontre respostas para um monte de coisas que ainda desconhece. Será que dá pra inventar umas células instantâneas em laboratório pra substituir aquelas que ficaram velhas ou doentes? Será que a gente vai continuar a produzir tanto lixo que nem sabe mais onde por?! Será que vai ter algum outro jeito de fazer as coisas para não poluir tanto a natureza? Pode até demorar um pouco, mas que vamos chegar lá... isso, vamos! 35 C arros voadores? Onde isso?!! Como vai ser a minha cidade em 2022? De uma coisa estou certo: ela não vai poder ficar de fora dessa de jeito nenhum. Ah, isso não! Senão, imagine o trânsito, que confusão doida! E a poluição no céu e nos rios, então?! Será que os ônibus vão ficar ainda mais lotados? Será que as pessoas ainda vão precisar se deslocar para outros lugares ou vão trabalhar mais em casa? Será que já terão inventado algum carro voador?!! E tem outra coisa que me preocupa: ainda vai ter gente andando à toa por aí, à procura de trabalho e de comida? Acho que a gente vai ter muita pergunta ainda sem resposta. Bem, pelo visto, se não for feito nada, a cidade pode mesmo ficar feia e chata. E muito ruim pra se viver. O que não dá é pra cruzar os braços e, na hora H, começar a reclamar de tudo, não é mesmo?! 36 36 Hoje em dia, já tem muito carro, caminhão e ônibus por toda parte. Se as ruas e avenidas estão ficando cada vez mais apertadas agora, imagine só em 2022! O que pode ser feito agora pra evitar isso? Quando meu pai ganha uns quilinhos a mais, minha mãe logo manda as roupas dele pra costureira dar um jeito. Mas será que com uma cidade é a mesma coisa? Ou será que a solução é ter menos veículos na cida de? Já pensou se existissem ruas só pra bicicleta?! Isso foi meu pai que me contou: em muitas cidades, essas ruas existem de verdade. Elas se chamam ciclovias... Aposto que muita gente vai preferir deixar o carro na garagem e voltar a andar de bicicleta. É muito mais gostoso e divertido. Também fiquei sabendo que há cidades em que os moradores e as autoridades se reúnem todo mês pra discutir tudo o que acontece por lá: o que deve ser feito, onde investir o dinheiro da prefeitura, quem vai ser atendido primeiro... E todo mundo aparece: o prefeito, os vereadores, os professores, os comerciantes, os empresários, os moradores, todos conversam e discutem as ideias. Depois, votam. E não é que dá certo?! Pois eu acho que na cidade dos meus sonhos também deve ser assim. Em 2022, todo mundo vai poder debater e, depois, acompanhar pra ver se o que foi combinado está mesmo sendo cumprido. Vai até poder votar e escolher o que é melhor pro seu bairro e pra cidade. E se não 37 quiser ou não puder sair de casa, vai poder fazer isso tudo pela internet. Tudo que precisar saber vai estar lá. É só digitar alguma coisa no computador e pronto. Acho que vai precisar de um banco de dados do tamanho de um dinossauro gigante. Vai ser muito legal! Quem sabe, assim, com todo mundo participando e ajudando, as coisas não estarão bem melhores em 2022?! A gente só não pode é perder mais tempo. Tem de começar logo a fazer alguma coisa! Eu quero que a minha cidade tenha muitos parques e árvores com frutas. E muita sombra, que é pra todo mundo poder descansar. Pra isso, a gente vai ter de parar um pouco de cortar e queimar tantas árvores. E, se não tiver outro jeito, tem de plantar muitas outras no lugar. Os rios da minha cidade vão ter de estar sempre limpos — até pra nadar ou beber água, se quiser. E não será nenhuma chuvinha boba que vai provocar enchentes e causar danos às pessoas mais pobres.Acho que a gente pode ajudar: se não jogar lixo e entulho onde não deve, já vai ser um bom começo. Nessa cidade, também tem de ter lugar pra todo mundo trabalhar. Aliás, vou querer que meu pai e a minha mãe trabalhem perto da minha casa. Vai ser muito bom se existirem por lá supermercado, padaria, locadora de vídeo, lojas. Todas essas coisas... Aí, sim, vai ser tudo de bom! 38 39 Todo mundo vai poder andar a pé por toda parte. E os meus pais vão ter mais tempo pra ficar em casa comigo e com meus irmãos, pra conversar, brincar e fazer uma porção de coisas juntos. E até passear a pé pelas praças e parques do bairro e no centro da cidade. Sem ter medo de violência e de nada. Tudo isso junto é o que as pessoas chamam de progresso. Acho que ele pode ser uma coisa boa. Mas o prefeito vai ter de mostrar pra todo mundo o que tem de bom na cidade. E fazer alguma coisa pra mais empresas serem criadas e continuarem por aqui, em vez de fecharem ou irem pra outros lugares. Não falo daquelas fábricas que a gente vê pela televisão com chaminés que poluem mais do que qualquer coisa. Ah, essas não... Já imaginou, então, o aeroporto cheio de aviões lotados de passageiros e de cargas? Os caminhões pra cima e pra baixo, transportando mercadorias fabricadas nas cidades da região e que vão daqui pro mundo inteiro?! De trem, de navio, de avião... Não importa como. Sabem de uma coisa? Eu já tô achando que isso tudo vai acontecer de verdade na minha cidade. É só a gente querer que vai! 40 E o premio vai para... Ribeirinho era mesmo um moleque fuçado. Todo mundo ficou de queixo caído com a redação. E mais ainda os jurados do concurso, que não tiveram dúvidas: deram o primeiro lugar pra ele. Ribeirinho não se continha de tanta alegria. Sua maior felicidade, porém, era que mais pessoas conheceriam suas ideias. Às vezes, elas até podiam parecer meio estranhas, mas não eram nada disso. É que ele conseguia perceber que coisas complexas poderiam ser conquistadas se todo mundo cooperasse. Saber que suas ideias seriam espalhadas por aí, já era um tremendo feito para ele. No fundo, no fundo, Ribeirinho vibrava mesmo era com isso. Até porque a redação 41 vencedora seria lida na Câmara de Vereadores e mostrada pro prefeito. E ele acreditava que, agora, haveria de descobrir ao menos mais uma ou outra pessoa que também acreditasse nas mesmas coisas que ele. Então, já não seria apenas mais um. Aos poucos, apareceria mais um e mais outro. E isso já seria mais do que suficiente pra que as coisas começassem a mudar. Ele mais esses outros poderiam, de fato, começar a fazer a diferença. Ainda não era Natal nem nada. Mas, na hora em que seu nome foi chamado pra receber o prêmio, Ribeirinho teve uma surpresa daquelas. Já não bastasse ter ganho em primeiro lugar, ainda por cima havia um outro presentão: o prêmio pra melhor redação era, nada mais nada menos, do que um... notebook. Igualzinho àqueles computadores estrambólicos dos seus sonhos. Tinha tudo dentro dele: caixa de som, microfone, câmera, gravador de CD e DVD e dava até para entrar na internet sem precisar ligar nenhum fio. Muito demais! Enfim, uma belezura que só vendo. Ribeirinho começou ali mesmo a fazer milhões de planos. Estava feliz da vida. Sua cabeça fervilhava: — Vou desenhar uma cidade interinha com algum desses programas que vieram junto — avisou, de cara. 42 O mais difícil, ele pensou, seria convencer outras pessoas que aquilo tudo não era tão impossível. E que boas ideias de verdade podem, sim, virar realidade. De qualquer forma, aquele já seria um bom começo. Afinal, tudo na vida tem de começar de algum jeito. E o começo de tudo é sempre uma boa ideia — não é mesmo? 43 A Cidade Francisco Felipe P. da Silva Em 2022 vou ser mais velho, vou ser um dos maiores vencedores de redação. Vou ler muitos livros, ganhar medalhas de ouro, troféu, etc. Essa história me ajudou muito porque em 2022 vou escrevâ-la como relato de vida. Vou comemorar, fazer festas, porque eu nunca vou me esquecer. Eu vou contar aos meus filhos e assim adiante, em 2022 vou à Câmara dos Deputados, vou ler esta história na frente de todas as pessoas e vou ser um dos melhores escritores. Até lá vou trabalhar e vou me lembrar desses 41 dias de brincar e explicar. 44