Cistermúsica 2010
XVIII Festival de Música de Alcobaça
Música e Literatura
Nota de Abertura
03
Apresentação
04
30 Maio
Quarteto Casals
05 Junho
Nuno Inácio e Stéphanie Manzo
12
06 Junho
Lusio Voce
16
11 e 12 Junho
Adriana Ferreira e Trio de Cordas
24
13 Junho
L’Angelica
28
19 Junho
Orquestra do Algarve
38
20 Junho
Trevor Wye
50
26 Junho
CeDeCe
54
27 Junho
Tubax
60
03 Julho
Cláudio Marcotulli
66
04 Julho
A Imagem da Melancolia
70
09 Julho
London Brass Tentet
78
22 Julho
Sonor Ensemble
82
23 e 24 Julho
Quinteto À-Vent-Garde
90
30 Julho
Jue Wang
96
31 Julho
Orquestra Metropolitana de Lisboa
Ciclo de Cinema
06
100
108
NOTA DE ABERTURA
Sob a temática da Música aliada à Literatura, Alcobaça tem a possibilidade de ver realizar-se
uma vez mais o Cistermúsica - Festival de Música de Alcobaça.
Com uma programação sempre cuidada ao pormenor, da responsabilidade do Director Artístico
Alexandre Delgado, este Festival vai muito para além dos concertos, colocando ao dispor de
todos os interessados actividades de cariz pedagógico e para todas as idades, o que muito
contribui também para a formação de novos públicos.
De destacar igualmente o esforço meritório na descentralização dos vários eventos que
compõem mais esta edição do Cistermúsica, aproveitando os espaços disponíveis em diversas
freguesias do concelho, das igrejas aos Mosteiros, passando pelos mais modernos espaços
culturais.
Ainda uma referência à presença de grandes músicos alcobacenses, com créditos bem firmados,
quer a nível nacional como internacional, que integram as várias vertentes da programação
deste Festival.
O cuidado na diversificação da programação e a aposta na tradição musical do concelho de
Alcobaça fazem do Cistermúsica um evento que complementa uma oferta turística e cultural,
que se quer de qualidade e acessível a todos e que, ao longo das edições tem mantido um público
fiel e interessado, neste que é já um dos festivais de música de referência no panorama nacional!
Por todos os motivos assinalados, este Executivo renova e mantém a posta na continuidade do
apoio concedido à organização deste Festival, fazendo votos de sucesso para esta XVIII Edição!
Paulo Jorge Marques Inácio
Presidente da Câmara Municipal
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APRESENTAÇÃO
Procurando ligações entre música e literatura, a 18.ª edição do Cistermúsica percorre a história
da música da Renascença aos nossos dias, abarcando os mais diversos géneros e formações no
mais longo e ambicioso certame desde a criação do festival. Dos 16 concertos na programação
principal, oito têm lugar no Mosteiro de Alcobaça, explorando espaços novos como o renovado
claustro de D. Dinis (onde se farão dois concertos ao ar livre), ao mesmo tempo que a aposta
na descentralização leva a música a um acrescido número de freguesias e de monumentos do
concelho. Com formações e instrumentos inéditos no festival, uma aposta reforçada em jovens
talentos e uma conjugação de reportórios raros e de obras de grande popularidade, incluindo
várias estreias absolutas, o festival estende-se desta vez até ao final de Julho, aproveitando as
noites agradáveis de Verão naquela que é também a edição mais internacional de sempre.
A 5.ª Sinfonia de Beethoven e o Adagietto da 5.ª Sinfonia de Mahler são os dois blockbusters
desta edição, reunidos num concerto da Orquestra do Algarve que assinala os 150 anos do
nascimento de Mahler e que inclui a estreia da lenda Santo Asinha para barítono e orquestra,
baseada em poema de Frederico Lourenço, com música do autor destas linhas (19 de Junho).
Outro concerto orquestral junta a Orquestra Metropolitana de Lisboa e o actor Luís Miguel
Cintra, conjugando também autores bem-amados do grande público (Gluck, Mendelssohn,
Debussy, Ravel) e uma obra em estreia com ligações literárias, neste caso com música de Eurico
Carrapatoso e texto de Alice Vieira.
Dois instrumentos têm destaque especial nesta edição: a flauta e a harpa, reunidos num recital
de Nuno Inácio e Stéphanie Manzo (5 de Junho). A flautista Adriana Ferreira, vencedora em
2009 do Prémio de Interpretação do Estoril, traz-nos Don Giovanni de Mozart numa versão para
flauta e trio de cordas da época do compositor (11 e 12 de Junho). Num divertido espectáculo
especialmente dedicado a famílias, o consagrado flautista Trevor Wye – que orientará em
Alcobaça o 1.º Masterclasse Internacional de Flauta Transversal – tocará nada menos que 60
flautas diferentes (20 de Junho). Quanto à harpa, além do realce que tem nos já mencionados
concertos orquestrais, está presente no espectáculo que reune dois músicos alcobacenses de
primeiro plano, o tubista Sérgio Carolino e o saxofonista Mário Marques, com cinco estreias
absolutas (27 de Junho).
Mantendo uma das imagens de marca do Cistermúsica - a descoberta e a valorização do
património musical português - temos a Serenata L’Angelica de João de Sousa Carvalho, jóia
do reportório setecentista que permaneceu enterrada 230 anos, com libreto de Metastasio
inspirado num episódio do Orlando Furioso de Ariosto, contando com um excelente grupo
de cantores e dois grupos de música antiga sob a direcção de Pedro Castro (13 de Junho).
Assinalando o centenário da República, um concerto do grupo Lusio Voce reune obras vocais e
corais dos mais diversos compositores portugueses desse período (6 de Junho).
Entre as formações e os instrumentos inéditos no festival, destaque para o London Brass Tentet,
brilhante grupo de metais que vem de Inglaterra para encher de sons o Claustro de D. Dinis. O
primeiro recital de guitarra do festival conta com um intérprete consagrado, o italiano Claudio
Marcotulli (3 de Julho). Um ensemble de flautas de bisel e uma cantora, A Imagem da Melancolia,
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faz-nos regressar ao Renascimento percorrendo a rosa dos ventos da geografia, de afectos e dos
elementos (4 de Julho). Num ano em que o nosso país vizinho tem realce na programação, o concerto inaugural cabe ao
catalão Quarteto Casals, um dos mais conceituados quartetos de cordas da actualidade, que o
Cistermúsica revelou aos portugueses em 2004 e que regressa agora para tocar Smetana, Bartók
e Britten (30 de Maio). O Sonor Ensemble, sexteto formado por membros da Orquestra Nacional
de Espanha e dirigido por Luis Aguirre, apresenta um programa ibérico vai do século XVIII à
actualidade e inclui canções de García Lorca.
O regresso da companhia de dança CeDeCe ao Cistermúsica faz-se com o espectáculo Contos
Dançados de Três Países, neste caso Croácia, Portugal e Canadá (26 de Junho). Ainda em matéria
de jovens talentos, o Quinteto À-Vent-Garde toca algumas das obras mais emblemáticas
para quinteto de sopros (23-24 de Julho) e o pianista chinês Jue Wang, vencedor em 2008 do
Concurso Internacional de Piano Santander Paloma O’Shea, assinala em recital o bicentenário
do nascimento de Chopin e de Schumann (30 de Julho).
Em paralelo com a programação principal, o Cistermúsica Júnior acrescenta diversos concertos
especialmente voltados para os mais pequenos, ao mesmo tempo que o Cistermúsica off traz
alguns happenings ao espaço público da cidade e que um ciclo de cinema oferece adaptações
célebres de obras literárias.
Ou seja, uma programação para todos os gostos. A escolha é sua.
Alexandre Delgado
Director Artístico
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Cuarteto Casals
30 de Maio (domingo) – 18h00
Sala do Capítulo – Mosteiro de Alcobaça
Concerto Inaugural
Quarteto de Cordas
1.ª Parte
CUARTETO CASALS
Vera Martinez Mehner, violino
Abel Tomàs Realp, violino
Jonathan Brown, violeta
Arnau Tomàs Realp, violoncelo
BENJAMIN BRITTEN
Quarteto n.º 2 em dó maior, op. 36
Allegro calmo senza rigore
Vivace
Chacony: sostenuto
BÉLA BARTOK
Quarteto n.º 4, Sz. 91
Allegro
Prestissimo
Non troppo lento
Allegretto
Allegro molto
2.ª Parte
BEDRICH SMETANA
Quarteto n.º 1 em mi menor,
“Da minha vida”
Allegro vivo appasionato
Allegro moderato alla Polka
Largo sostenuto
Vivace
Co-produção:
Primavera Musical - Festival Internacional de Música de
Castelo Branco
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NOTAS À MARGEM
por Alexandre Delgado
Nascido em Litomysl, na Boémia, em 1824, e falecido em Praga em 1884, Bedrich Smetana
ocupa um lugar cimeiro entre os compositores nacionalistas da segunda metade do século XIX.
“O Moldava” é o mais universalmente conhecido dos seus poemas sinfónicos e faz parte dum
grandioso conjunto intitulado “A Minha Pátria”, escrito em 1874. Mas foi sobretudo com as
suas óperas — nas quais foi pioneiro a utilizar a língua checa — que Smetana atingiu verdadeira
popularidade no seu país. Das suas sete óperas, a mais conhecida é A Noiva Vendida, de 1866.
Os dois quartetos de cordas de Smetana foram escritos depois da catástrofe beethoveniana
que se abateu sobre o compositor em 1874: um problema no ouvido interno que o conduziu à
surdez completa, aos cinquenta anos. O primeiro quarteto, escrito no Outono de 1876, é uma
confissão de alma: Smetana chamou-lhe quarteto “Da minha vida” e nele descreve quatro fases
marcantes da sua existência. É o primeiro quarteto da história da música a ter um cariz tão
assumidamente programático e concretamente autobiográfico. “O que quis fazer” — escreveu o
compositor — “foi retraçar em música o desenrolar da minha vida. Primeiro andamento: amor pela
arte na minha juventude, atmosfera romântica, nostalgia indizível.... Mas logo no prólogo há uma
advertência da desgraça futura, daquela nota mi do final: foi esse apito estridente que irrompeu nos
meus ouvidos em 1874, marcando o início da minha surdez. O segundo andamento, quasi polka, fazme regressar ao alegre turbilhão da juventude, em que eu compunha montes de danças checas
e tinha até uma reputação de dançarino infatigável. O Largo sostenuto é uma reminiscência do
meu primeiro amor por uma rapariga que se tornou mais tarde a minha querida esposa. O final evoca
a tomada de consciência da verdadeira força da música nacional, a alegria de constatar que o caminho
tomado conduz ao triunfo, até ao momento da interrupção brutal provocada pela catástrofe; início da
surdez, perspectiva de um triste futuro, uma muito ténue esperança de melhoras e, para terminar, um
sentimento profundamente doloroso.” A obra foi estreada a 29 de Março de 1879 em Weimar, por
iniciativa de Liszt, que reagiu a ela entusiasticamente.
Representante fundamental do modernismo, em paralelo com Stravinsky e Schönberg, Béla
Bartók nasceu em 1881 em Nagynszentmiklós, então na Hungria, actualmente na Roménia,
e faleceu em Nova Iorque em 1945. Foi em 1905 que começou a dedicar-se, juntamente com
Zoltan Kodály, à recolha dos cantos populares húngaros, interesse que se tornaria trave mestra
do seu estilo musical. Os seus seis quartetos são pedras miliárias do reportório do século XX
e derivam em linha recta dos quartetos de Beethoven. O 4.º quarteto, escrito em 1928, é um
dos mais arrojados, com cinco andamentos que formam uma estrutura tipo palíndromo, ou
seja, que é igual se fôr vista de trás para a frente, e que pode ser sintetizada como ABCBA: uma
estrutura simétrica que desenha um arco cujo ápice ou eixo central é o terceiro andamento.
O Allegro inicial mergulha-nos num clima veemente e cheio de tensão, em linhas cromáticas
que se estiram e arrepanham sem sossego; um desenho rítmico bem marcado pelo violoncelo
apropria-se desse desenho cromático para lhe dar uma forma ritmicamente mais incisiva,
que vai ganhar grande importância; um 2.º tema cantado pelo 2.º violino e imitado por todos
em cânone tem vestígios pentatónicos do folclore que vêm dar um aspecto mais humano ao
discurso. Com o segundo andamento, um scherzo, entramos num mundo fantasmagórico que
nos escapa entre os dedos a uma velocidade delirante, com surdina, pianíssimo, sul ponticello
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e glissandos que mostram influência da Suite Lírica de Berg, num dos mais difíceis andamentos
da literatura para quarteto de cordas. Eixo central da obra, o 3.º andamento é um momento
de revelação em que Bartók parece ir ao encontro do mundo da natureza: eis-nos perante a
textura mais simples, um acorde sustentado e diatónico sobre o qual o violoncelo disserta com
a espontaneidade de um bardo; o 1.º violino e a violeta imitam um pássaro; no fim, homem e
natureza reunem-se em paz, como quem abraça o mundo. Com o 4.º andamento começa o
percurso inverso, a imagem reflectida em espelho dos dois primeiro andamentos: o novo scherzo
é ao mesmo tempo um reflexo e uma antítese do fantasmagórico segundo andamento, em que
o cromatismo dá lugar ao diatonismo, o tempo abranda para metade e os sussurros sibilinos
dão lugar à incisividade dos pizicatos. O 5.º andamento usa como tema principal o 2.º tema do
1º andamento, agora fortíssimo e num tempo selvagem, sobre um acompanhamento que é um
colchão de pregos descendente da Sagração da Primavera. Depois dum gaiteiro 2.º tema, cheio
de requebros e trejeitos irónicos, surge no violoncelo o tema rítmico do primeiro andamento,
que acaba por invadir tudo e contaminar o resto do desenvolvimento e a reexposição desta
forma-sonata; é esse tema que tem a última palavra, com um brutalidade enfática e arrastada.
Benjamin Britten, nascido em Lowestoft em 1913 e falecido em Aldeburgh em 1976, é um
compositor do século XX cuja música entrou no cânone permanente da vida musical, com
obras como as óperas Peter Grimes e The Turn of the Screw, o War Requiem, Les illuminations ou
o célebre Young Persons’s Guide to the Orchestra, entre muitas outras. Aluno de Frank Bridge
e de John Ireland, Britten chamou a atenção do meio musical com a sua Sinfonietta em 1932 e
firmou a sua reputação cinco anos depois com as Variações sobre um tema de Frank Bridge. Entre
1939 e 1942 viveu nos Estados Unidos, onde a sua Sinfonia da Requiem foi estreada no Carnegie
Hall sob a direcção de Barbirolli. De regresso ao país natal, Britten instalou-se em Aldeburgh,
na costa do Mar do Norte, aí criando com o tenor Peter Pears (seu companheiro de toda a vida)
um festival de grande reputação. Da sua produção vastíssima e multiforme, construída com o
espírito laborioso do artesão-artista, a ópera ganharia especial destaque a partir do impacto
internacional de Peter Grimes em 1945. Britten sempre teve a preocupação de escrever para
um vasto público, sem por isso sacrificar a qualidade. A sua produção, essencialmente tonal
mas não “neoclássica”, pretende, mais do que reencontrar cânones do passado, criar uma
nova tradição a partir dessas raízes — o que, no caso do Reino Unido, foi decisivo para dar à
música do país um estatuto universal que ela perdera desde a morte de Henry Purcell em 1695.
É precisamente a esse antepassado que é dedicado o 2.º dos três quartetos de cordas de Britten,
terminado em Outubro de 1945. Os seus três andamentos têm a mesma tónica, dó: o Allegro
calmo senza rigore inicial é uma forma sonata, com três temas principais, o Vivace é um scherzo
no modo menor e o final é uma chacone, forma-variação de resonâncias barrocas e purcellianas
cujo tema é apresentado em uníssono pelos quatro instrumentos e retomado ao longo de 21
variações.
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OS INTÉRPRETES
O QUARTETO CASALS rapidamente se afirmou, desde a sua criação na Escola Rainha
Sofia de Madrid em 1997, sob orientação do Professor Antonello Farulli, como um dos mais
interessantes quartetos de cordas europeus da actualidade. Os seus mestres mais destacados
foram Walter Levin, Rainer Schmidt, György Kurtag e o Quarteto de Cordas Alban Berg. Este
agrupamento foi premiado em várias competições internacionais, incluindo primeiros prémios
no Concurso Internacional de Quartetos de Cordas de Londres (2000) e no Concurso Johannes
Brahms (2002). Em 2005 recebeu o prémio da cidade de Barcelona, em 2006 o Prémio
Nacional de Música, a mais alta distinção para os músicos em Espanha, e em 2008 recebeu
o prestigiante Borletti-Buitoni Trust Award, em Inglaterra. O Quarteto Casals apresentouse em salas tão importantes e prestigiadas como o Wigmore Hall e o Barbican Center, em
Londres, Concertgebouw de Amsterdão, Carnegie Hall e Lincoln Center de Nova Iorque,
Konzerthaus e Philharmonie de Berlim, Konzerthaus e Musikverein de Viena, Philharmonie
de Colonia, Library of Congress, de Washington, Chatelet de Paris e em digressão pela América
do Sul, Estados Unidos, Rússia e Japão, bem como nos Festivais de Salzburgo, Lucerna, Santa
Fe, Bantry, Schleswig-Holstein e Kuhmo. A sua residência no Auditori, em Barcelona, onde
apresenta anualmente um ciclo de concertos, recebeu calorosos elogios da crítica e aplausos
do público. O Quarteto Casals acompanhou os Reis de Espanha em visitas de estado oficiais
e actuou no Palácio Real de Madrid, tocando os instrumentos Stradivarius da colecção da
Família Real. O Quarteto Casals grava em exclusivo para a Harmonia Mundi. A sua gravação
dos Quartetos e do Quinteto com Piano de Johannes Brahms foi lançada em Agosto de 2008.
Trabalhou com importantes compositores europeus, tendo estreado obras de Jordi Cervelló,
David del Puerto e Jesús Rueda em Espanha, colaborado com James MacMillan na Escócia,
György Kurtág na Hungria, e gravado o quarteto Morphing, de Christian Lauba, a pedido do
compositor. Na interpretação de quintetos, colaboraram também com outros importantes
músicos, como Elizabeth Leonskaja, Oleg Maisenberg, Claudio Martinez Mehner, Christophe
Coin, Thomas Riebl e Michael Collins. São ouvidos com frequência em programas de rádio e
televisão e em transmissões ao vivo efectuadas pela Rádio Nacional Espanhola, Radio France,
Deutschland Rundfunk, WDR, NDR, SWR, RAI, NPR e BBC. O Quarteto Casals lecciona Música
de Câmara, desde 2003, na Escola Superior de Música da Catalunha.
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Nuno Inácio
Stephanie Manzo
5 de Junho (sábado) – 21h30
Celeiro – Mosteiro de Alcobaça
Recital de Flauta e Harpa
JOHANN SEBASTIAN BACH
Sonata em sol menor BWV 1020
I. Allegro
II. Adagio
III. Allegro
Nuno Inácio, flauta
Stéphanie Manzo, harpa
JOSEPH LAUBER
Danças Medievais op. 45
I. Rigaudon
II. Mascarade
III. Pavane
IV. Gaillarde
CLAUDE DEBUSSY
Syrinx para flauta solo
CLAUDE DEBUSSY
Arabesque para harpa solo
JEAN-MICHEL DAMASE
Sonata
I. Allegro moderato
II. Andante con moto
III. Adagio-Presto
GABRIEL FAURÉ
Fantaisie
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NOTAS À MARGEM
Johann Sebastian Bach (Eisenach 1685 - Leipzig 1750) é dado como autor da sonata em sol menor
para flauta e cravo BWV 1020 nalgumas fontes, embora outras indiquem como compositor
da peça o segundo filho do compositor, Carl Phillip Emanuel Bach. A obra foi excluída da
recente Neue Bach Ausgabe, o que torna mais provável a autoria desse filho de Bach nascido
em Weimar em 1714 e falecido em Hamburgo 1788, um representante da transição do barroco
para o classicismo e o mais importanto compositor da chamada corrente da Empfindsamkeit (em
alemão “sensibilidade”).
Joseph Lauber (Ruswil 1864 – Genf 1952) compositor suíço, aluno de Jules Massenet no
Convervatório de Paris, foi autor de mais de duas centenas de obras musicais, entre as quais
peças para agrupamentos de câmara, onde combina as duas correntes estilísticas que mais o
influenciaram: o romantismo tardio alemão e o impressionismo francês. A recriação em termos
musicais de uma estética neo-medieval parte em grande medida da utilização da escrita modal
na música impressionista francesa.
Claude Debussy (Saint-Germain-en-Laye 1862 – Paris 1918) foi, na sua escrita orquestral, um
dos compositores mais sensíveis às potencialidades da harpa, ainda que nunca tenha chegado
a compor uma obra especificamente para este instrumento a solo. Contudo, os dois Arabescos
para piano de 1888-1891 prestam-se especialmente à transcrição para harpa.
Jean-Michel Damase (Bordeaux 1928 -) distingui-se como um dos mais relevantes compositores
franceses do século XX para harpa, circunstância a que não terá sido alheio o facto de ser filho
da notável harpista Micheline Kahn.
Gabriel Fauré (Pamiers 1845 – Paris 1924) compôs em 1898 esta Fantaisie para flauta e piano,
estreada no mesmo ano no Conservatório de Paris.
OS INTÉRPRETES
NUNO INÁCIO (flauta), actualmente 1.º Flautista da Orquestra Metropolitana de Lisboa,
terminou a licenciatura na ESML com classificação máxima. Entre 2000 e 2002, foi discípulo
do pedagogo internacionalmente aclamado Trevor Wye, em Inglaterra. A sua intepretação
evidência uma clara influência do legado de Marcel Moyse, de quem foram alunos William
Bennett, James Galway, Trevor Wye, Michel Debost, Jean Pierre Rampal, entre outros.
Aliás, alguns destes músicos foram seus orientadores em várias masterclasses em Portugal
e no Estrangeiro. Nuno Inácio foi solista com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, Orquestra
Gulbenkian, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra da ESML, Orquestra da Escola
Profissional de Espinho. Actua regularmente em duo com o pianista Paulo Pacheco e colabora
com a OrchestrUtópica e o Ensemble Contrapunctus. Efectuou gravações para a RTP e RDP
- Antena 2. Recentemente foram realizados dois programas onde foi protagonista: “Sons da
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Música” e “Bravo”, na RTP2. Além de apresentações por todo o País, actuou em Itália, Alemanha,
França, Espanha, Inglaterra, Dinamarca, em vários formatos de recital. Entre os galardões
que recebeu destacam-se o 1.º Prémio no Concurso Internacional de Flauta “L’U.F.A.M.”, em
França; o 1.º Prémio no Concurso “Prémios Jovens Músicos” da RDP e Prémio Maestro Silva
Pereira; a 6.ª Classificação no Prestigiado Concurso “Carl Nielsen”, na Dinamarca; o 1.º Prémio
no Concurso de Improvisação na Convenção Internacional de Flauta, em Inglaterra. Orientou
Masterclasses na ESMAE, nos Cursos de Aperfeiçoamento Musical de Vila do Conde, ARTAVE,
na Escola Profissional de Mirandela e na Academia de Música de Paredes, e colaborou com o
Professor Trevor Wye nas Masterclasses orientadas em Portugal. Integrou o Júri do Concurso
“Prémio Jovens Músicos” da RDP em 2007 (Música de Câmara) e 2008 (Flauta). É Professor da
Classe de Flauta na Academia Nacional Superior de Orquestra (ANSO) e Professor de Música de
Câmara na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML). Foi descrito como “...um jovem flautista
de ampla e colorida sonoridade, de excelente controle técnico e interessante musicalidade”(in
Público, 2005).
STEPHANIE MANZO (harpa) nasceu no Sul de França e iniciou os seus estudos de harpa aos
8 anos de idade com a professora Josey Grauer, antiga aluna de Marcel Tournier. Aos 16 anos
ingressou no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris, onde estudou com Gérard
Devos em harpa e com Jean-Michel Damase em música de câmara. Três anos mais tarde obteve
o primeiro prémio “À l’unanimité” em Harpa. Em 1990 obteve a “Mention Spéciale” do
Concurso Internacional Louise Charpentier e em 1993 foi finalista do Concurso Internacional
Lily Laskine. Aperfeiçoou-se com Catherine Michel e Marielle Nordmann, continuando assim
a tradição de dois dos mais famosos harpistas do Século XX, Pierre Jamet e Lily Laskine.
Beneficiou também dos conselhos do Fabrice Pierre e Susann Macdonald. Tem-se apresentado
em salas e festivais internacionais, como Salle Pleyel (Homenagem a Lily Laskine), Auditorium
Saint-Germain, Cassis (Journée de la Harpe), Festival International du Jeune Soliste d’AntibesJuan-Les-Pins, Festival Méditerranéen, Seattle (Congresso Mundial de Harpa), NDR Hamburgo,
Crotone/Itália, Açores (Festival MusicAtlântico), Museu Gulbenkian, CCB - Festival dos 100
Dias. Actuou também a solo com as Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra Gulbenkian,
Orquestra Clássica da Madeira, Orquestra Regional Provence-Alpes-Côte d’Azur entre outras.
Tem sido convidada a tocar com reputadas orquestras, como a Orquestra da Ópera Nacional
de Lyon, a Orquestra Nacional de Lyon, a Orquestra Sinfónica de Singapura, a Orquestra
Gulbenkian e a OrchestrUtopica. Já tocou com R. Barshai, J. S. Béreau, M. Caballé, A. Dumay,
L. Foster, B. Hendricks, E. Krivine, T. Mörk, V. Mullova, M. Rostropovitch e M. Vengerov.
Acerca de Stéphanie Manzo, Marielle Nordmann escreveu: “Une des meilleures harpistes de
sa génération”. Desde de 1995 é solista da Orquestra Metropolitana de Lisboa e professora da
Academia Nacional Superior de Orquestra.
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Lusio Voce
6 de Junho (domingo) – 18h00
Celeiro – Mosteiro de Alcobaça
OS COMPOSITORES DA 1.ª REPÚBLICA:
1.ª parte
2.ª parte
MÁRIO DE SAMPAIO RIBEIRO
Moda do chapéu ao lado
Na folhinha do salgueiro
(coro misto)
JOLY BRAGA SANTOS
Hermosas Ninfas (Garcillaso de la Vega)
(coro misto)
Quatro Canciones (anónimos séc. XV-XVI)
(solistas, coro misto)
Susana Duarte, soprano
André Baleiro, barítono
ARTUR SANTOS
Alta Vai a Lua (coro misto)
Chula (voz e piano)
Manon Marques, meio-soprano
FRANCISCO DE LACERDA
Desde que os cravos e rosas
Quem me dera ser a hera (voz e piano)
Manon Marques, meio-soprano
João Moreira, tenor
CLÁUDIO CARNEIRO
Por te amar deixei a Deus
Lágrimas
Fui à fonte dos amores
Suspiros
Cores
(coro feminino)
ANTÓNIO FRAGOSO
Canção da fiandeira (António Correia de Oliveira)
(voz e piano)
Marisa Figueira, soprano
FREDERICO DE FREITAS
À barca, à barca segura (Gil Vicente)
(coro masculino)
JORGE CRONER DE VASCONCELOS
Em Belém, vila do amor (Gil Vicente) (coro misto)
Fermoso Tejo meu (Rodrigues Lobo) (coro misto)
No turbilhão (Antero de Quental) (voz e piano)
Susana Duarte, soprano
Correntes, Influências e Evolução na Música Coral e Vocal Portuguesa
DAVID DE SOUSA
Chanson d’automne (Verlaine)
(voz e piano)
Ricardo Martins, barítono
VIANA DA MOTA
Coro da Tragédia Inês de Castro (António Ferreira)
(coro feminino e piano)
Marisa Figueira, soprano
JOÃO ARROIO
Sete anos de pastor Jacob servia (Camões)
(voz e piano)
Susana Duarte, soprano
JOLY BRAGA SANTOS
Delgadas, claras águas do Mondego (Camões)
(voz e piano)
André Baleiro, barítono
LUÍS DE FREITAS BRANCO
dos “Madrigais Camoneanos”
Pois meus olhos
Alegres Campos
(5 vozes mistas)
IVO CRUZ
Mais alvas que as espumas (Afonso Lopes Vieira)
Marisa Figueira, soprano
FERNANDO LOPES-GRAÇA
das “Canções Heróicas” (solistas, coro e piano)
Ronda (João José Cochofel)
Égloga (José Gomes Ferreira)
Livre (Carlos de Oliveira)
Manon Marques, meio-soprano
João Moreira, tenor
LUÍS DE FREITAS BRANCO
das “Duas Canções ao Gosto Popular”
Só te cantamos a ti (José Gomes Ferreira)
(coro masculino e piano)
Daniel Godinho, piano
Clara Coelho, direcção
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NOTAS À MARGEM
por Clara Coelho
A República acompanha uma nova etapa no panorama musical português, onde predominou
durante décadas a ópera de influência italiana, a par de uma certa estagnação na produção de
música cantada em português. No virar do século XX foram surgindo compositores que tiveram
um papel muito importante na afirmação de uma cultura musical de identidade portuguesa,
tendência que continuou nas gerações que se lhes seguiram.
Este concerto apresenta um conjunto de obras que, numa perspectiva histórica, reune os nomes
mais importantes na composição de música coral e vocal, ao longo das primeiras décadas do
século XX.
Ao longo das décadas republicanas foi crescente o interesse dos compositores pela música de
identificação portuguesa, com maior ou menor incidência na tradição folclórica, e pela procura
e valorização de uma identidade nacional. A parte inicial deste programa é dedicada à poesia
de cariz popular, com harmonizações de melodias tradicionais e trechos baseados em poemas
populares.
A larga difusão por todo o país das harmonizações de Mário Sampaio Ribeiro (1898-1966) devese em grande parte à actividade coral de grupos amadores. Sendo peças de execução acessível,
com linguagem harmónica convencional, têm uma escrita vocal muito fluida, textura variada e
equilibrada e são muito importantes no repertório português, pelo sucesso que ainda hoje têm
e pelo papel pedagógico que cumprem na preservação do nosso património.
Artur Santos (1914-1987), compositor e pianista com uma longa carreira docente no
Conservatório Nacional, foi pioneiro da Etnomusicologia em Portugal, actividade a que dedicou
muitos anos da sua vida, tendo feito um amplo estudo, recolha e documentação de música
tradicional, interesse este que viria a influenciar muitas das suas composições.
Mais conhecido pela sua brilhante carreira internacional como chefe de orquestra, Francisco
de Lacerda (1869-1934), natural de ilha de São Jorge, dedicou alguns períodos da sua vida
ao estudo do folclore açoriano. As suas Trovas para voz e piano, num total de 36, fruto dessa
inspiração popular, são exemplo perfeito da união entre linguagem popular e erudita.
Natural do Porto, autor de um vasto repertório, Cláudio Carneiro (1895-1963) escreveu
um conjunto considerável de música para a formação de coro feminino. Foi igualmente na
inspiração das trovas populares que escreveu os Males de Amor, selecção de quadras musicadas
em género de miniatura. São peças escritas para coro feminino a três vozes, que pontualmente
se desdobram em quatro ou cinco vozes. De escrita simples, o uso de síncopas e suspensões
medidas dão-lhes uma liberdade rítmica que privilegia o balanço do texto.
António Fragoso (1897-1918) teve uma morte prematura e impressiona a produção musical que
deixou nos seus escassos 21 anos de vida. Sendo pianista, as suas composições dão ao piano um
lugar de destaque. Não chegou a entrar no domínio da música coral, mas escreveu vários ciclos
de canções sobre poesia portuguesa e francesa. Com texto de António Correia de Oliveira (18791960), a Canção da Fiandeira tem forma estrófica e pertence ao ciclo “Canções do Sol Poente”.
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Frederico de Freitas (1902-1980) foi um músico proeminente que nasceu e viveu a maior
parte da sua vida em Lisboa. A sua longa carreira centrou-se sobretudo na composição e na
direcção de orquestra, dedicando parte da sua actividade como maestro à direcção de grandes
obras corais sinfónicas cantadas pela Sociedade Coral de Lisboa, agrupamento que fundou em
1940. Com texto de Gil Vicente (1465-1536), À barca segura é uma miniatura escrita para vozes
masculinas, de escrita homofónica, harmonia cerrada e muito rica, tonal mas com recurso a
modulações sucessivas.
Jorge Croner de Vasconcelos (1910-1974), natural de Lisboa, não tem uma obra muito extensa
mas é um compositor de referência no contexto tanto da música para coro como da música
para voz e piano. Igualmente de Gil Vicente é o texto de Em Belém, vila do Amor, para coro a
quatro vozes. Fermoso Tejo meu, sobre poema de Rodrigues Lobo (1579-1621), é uma canção
essencialmente homofónica que privilegia o ritmo do texto, numa espécie de recitação a quatro
vozes. Em No turbilhão, sobre poema de Antero de Quental, a escrita virtuosística do piano serve
o carácter inquieto e atormentado do texto vocal.
Ivo Cruz (1901-1985) nasceu no Brasil e fez os seus estudos em Lisboa e na Alemanha. A
sua actividade foi muito importante em vários domínios. Foi director do Conservatório
Nacional durante várias décadas, fundou a Orquestra Filarmónica de Lisboa, o movimento
Renascimento Musical e a Sociedade Coral Duarte Lobo, estes últimos dedicados à execução,
estudo e divulgação da música antiga portuguesa. Juntamente com Mário de Sampaio Ribeiro,
foi pioneiro na redescoberta da polifonia portuguesa. Mais alvas que as espumas é uma canção
que pertence ao ciclo intitulado “Canções Sentimentais”, com texto de Afonso Lopes Vieira
(1878 – 1946), poeta de inspiração bucólica e nacionalista, autor da expressão “a paisagem, o
chão e a gente”.
Luís de Freitas Branco (1890-1955) é, sem dúvida, a figura incontornável da altura. Considerado
frequentemente o responsável pela introdução do modernismo musical em Portugal, a sua
importância deve-se tanto à sua criação musical como ao seu legado pedagógico, ao longo dos
muitos anos em que ensinou composição no Conservatório Nacional, tornando-se o grande
mentor da geração seguinte. À semelhança das Canções Heróicas de Fernando Lopes-Graça, as
Duas Canções ao Gosto Popular, escritas já na década de 50, foram concebidas como “Canções
Revolucionárias” em sinal de protesto para com o regime salazarista, possuidoras de um
carácter inflamado e teor subversivo, neste caso com poema de José Gomes Ferreira.
Muitos dos compositores aqui presentes assistiram às inovações do período Republicano,
assumiram novas orientações estéticas colocando o panorama musical português em paralelo
com as correntes modernas que circulavam no resto da Europa. Joly Braga Santos (1924-1988), o
mais recente deste grupo de compositores, escreveu dois ciclos de peças para coro a capella, em
castelhano, de estilo madrigalesco. Hermosas Ninfas, o segundo dos “Três Madrigais” sobre texto
do poeta espanhol Garcillaso de la Vega (c. 1500-1536), é uma peça de maturidade. A música
dá ênfase à expressividade do texto e são nítidas as características modernas da sua linguagem
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musical: acordes paralelos, harmonia arrojada, cromática e muito rica em dissonâncias, uso de
ritmos irregulares e métrica ao sabor do texto. As Cuatro Canciones são um ciclo de peças curtas,
encadeadas, sobre textos anónimos dos séculos XV e XVI. Nas duas primeiras destaca-se voz
solista alternada com o coro, que serve simultaneamente de pano de fundo harmónico e de
eco das frases do solo. As duas últimas canções têm uma escrita predominantemente vertical.
Destas pequenas peças destaca-se, para além da presença de harmonia dissonante, de acordes
com notas agregadas e de encadeamentos inesperados, o claro ambiente modal. Compositor
muito ligado à monumentalidade da música orquestral e das grandes formas, Joly Braga Santos
demonstra com estas peças para coro a capella o génio multifacetado que era. Foi eleito pela
UNESCO um dos dez maiores compositores da sua época.
David de Sousa (1880-1918), natural da Figueira da Foz, morreu no mesmo ano que António
Fragoso, igualmente vítima de febre pneumónica. Estudou em Lisboa e na Alemanha, foi
violoncelista e chefe de orquestra. Com poesia de Paul Verlaine, a Chanson d’automne faz parte
do seu ciclo de Canções Francesas. Era frequente entre os nossos compositores a composição
com traços de estilo francês ou sobre poesia francesa; essa presença da cultura francesa era
visível por esta altura, na sociedade portuguesa, em muitos domínios artísticos. Vários destes
compositores estudaram e trabalharam em Paris: Francisco de Lacerda, Cláudio Carneiro, Luís
de Freitas Branco, Artur Santos, Lopes-Graça e Croner de Vasconcelos.
Viana da Mota (1868-1948) foi um dos músicos mais conceituados da altura e pianista de
reconhecido mérito, tanto em Portugal como internacionalmente. Peça emblemática deste
programa, o seu Coro da Tragédia Inês de Castro tem um significado especial neste concerto:
datada de 1914, em plena infância republicana, foi estreada justamente em Alcobaça, num dos
serões musicais e literários dedicados à memória de Inês de Castro. O texto é de António Ferreira
(1528-1569), e a escrita vocal, em consonância com o espírito da tragédia grega, é em uníssono.
A última selecção de obras é dedicada à poesia camoneana: de João Arroio (1861-1930),
compositor do Porto, fundador do Orfeão Académico de Coimbra – marco importante no
início das sociedades corais em Portugal – e autor de várias óperas, o soneto Sete anos de pastor
Jacob servia, peça para voz e piano num estilo romântico, de carácter pastoral; de Joly Braga
Santos, um dos três sonetos de Camões, para mezzo ou barítono, obra que viria a ter uma versão
orquestral, mas que já na composição original para piano revela uma riqueza tímbrica e colorido
de dimensão sinfónica; por último, de Luís de Freitas Branco, dois dos Madrigais Camoneanos
para vozes mistas. Num total de 28 – divididos entre vozes mistas e vozes iguais, masculinas
e femininas – estes ciclos de canções constituem um legado precioso para a música coral do
Século XX, combinando na perfeição a prosódia e a riqueza de texturas, a linguagem modal e
cromática, o desenho melódico e o significado do texto.
Para a conclusão deste programa foram seleccionadas três das Canções Heróicas de Fernando
Lopes-Graça (1906-1994). Natural de Tomar e discípulo de Viana da Mota e de Freitas Branco,
é em muitos aspectos justamente considerado como o compositor mais representativo do
período moderno em Portugal. Grande opositor ao regime do Estado-Novo, as Canções Heróicas
têm uma intenção provocadora e inconformista, sobre textos de poetas contemporâneos,
respectivamente João José Cochofel, José Gomes Ferreira e Carlos de Oliveira.
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OS INTÉRPRETES
LUSIO VOCE
Sopranos:
Marisa Figueira*
Rosa Caldeira
Susana Duarte*
Verónica Silva
Contraltos:
Fátima Nunes
Manon Marques*
Michelle Rollin
Tenores:
Frederico Projecto
João de Barros
João Moreira*
Pedro Rodrigues
Baixos:
André Baleiro*
Nuno Fidalgo
Ricardo Martins*
*solistas
Daniel Godinho, piano
Clara Coelho, direcção
MARISA FIGUEIRA (soprano) licenciou-se em canto em 2004 pela Escola Superior de Música
de Lisboa, sob a orientação da professora Elsa Saque. O seu repertório de solista inclui, entre
outras obras, Stabat Mater de Scarlatti, Missa em Sol de Vaughan Williams, Missa em Sol, Verbum
Caro e Dixit Dominus de Carlos Seixas, Ein Deutsches Requiem de Brahms, Petite Messe Solenelle
de Rossini, Cenas do Fausto de Goethe e Das Paradies und die Peri de Schumann, Magnificat de
Bach, Gloria de Vivaldi, Gloria e Messias de Händel, Stabat Mater de Pergolesi, Missa da Coroação,
Missa em dó menor, David o penitente e Requiem de Mozart. Realizou recitais de Lieder com os
pianistas Nuno Vieira de Almeida, João Vasco e Kaoru Tashiro, nomeadamente no Ciclo de
Jovens Cantores no Teatro S. Luiz, em Lisboa, e nos concertos ao vivo da Antena 2. Realizou
concertos com a Orquestra Gulbenkian, a Filarmonia das Beiras, a Capela Real, a Orquestra
do Algarve e a Sinfonietta de Lisboa sob a direcção dos maestros Michel Corboz, John Nelson,
Fernando Eldoro, António Lourenço, Osvaldo Ferreira, Jorge Matta, Jorge Alves e Vasco Pierce
Azevedo. Participou na estreia absoluta da peça de teatro/ópera Dying for Love dirigida por
Bogdan Sziber e Karina Reich, integrada nos Encontros ACARTE e apresentada no Grande
Auditório Gulbenkian e no Teatro de Dança em Estocolmo, Suécia.
SUSANA DUARTE (soprano), natural de Torres Vedras, iniciou os seus estudos musicais na
Escola de Música “Luís António Maldonado Rodrigues”, na classe de Elsa Cortez. Licenciou-se
em Canto na Escola Superior de Música de Lisboa, onde trabalhou com Elsa Saque e também
com Nuno Vieira de Almeida, Olga Prats e Stephen Bull, entre outros, e em Ciências Musicais
na Universidade Nova de Lisboa, tendo concluido também o mestrado em Artes Musicais (Lied
e Oratória). Participou em diversos masterclasses, nomeadamente com Max Van Egmond,
Helmut Lips, Hilde Zadek, Ralph Döring, Mara Zampieri, Walter Moore, João Lourenço, Claire
Vangelisti e ateliers de ópera com Carleen Graham. Tem realizado recitais de canto e piano
com os pianistas Francisco Sassetti, Ana Jacobetty, Helder Marques e com Nuno Vieira de
Almeida (no Ciclo Novos Cantores do Teatro São Luiz). Apresenta-se frequentemente como
solista de oratória e em concertos de música antiga, integrando grupos como a Capela Lusitana,
o Concerto Campestre, o Antiquos Ensemble, e o Grupo Vocal Olisipo, entre outros. Tem
colaborado com as Voces Caelestes e é membro do Coro Gulbenkian, onde faz solos e integra
21
grupos de câmara com regularidade. Conquistou o 3.º Prémio no Concurso Nacional de Canto
Luísa Todi em Junho de 2005. Participou na banda sonora do filme O Milagre segundo Salomé, do
realizador Mário Barroso.
MANON MARQUES (meio-soprano), licenciada em Ciências Musicais pela Universidade Nova
de Lisboa, fez os estudos musicais no Instituto Gregoriano de Lisboa. Integrou o Coral Lisboa
Cantat e o Coro de Câmara da Universidade de Lisboa; é membro fundador do Coro de Câmara
Lisboa Cantat, co-fundadora de Carmin’Antiqua (medieval/renascimento), do octeto vocal
Capella Mundi (contemporânea) e do quarteto vocal Biznag (pop vocal). Integra o MediaeVox
Ensemble como contralto e sanfonista (música sacra medieval). Trabalha regularmente com
os grupos Officium – Ensemble Vocal e Voces Caelestes. Cantou em back-vocals com o grupo
pop The Gift, no álbum AM-FM. É reforço do Coro Gulbenkian desde 2005. Desde 2001
lecciona Formação Musical, tendo preparado alunos para exames de canto da Trinity School of
London, nos quais foi também acompanhadora. Foi co-fundadora da Academia Coral, escola
de música dirigida a coralistas criada em 2004, onde lecciona Formação Musical, Prática de
Leitura e Teclado. Frequentou diversos cursos: Direcção Coral, Técnica Vocal, Interpretação e
Ornamentação na Música Antiga, Balli Renascentistas, curso Kodály no Zoltán Kodály Music
Pedagogical Institute da Ferenc Lizst Academy of Music em Kecskemét (Hungria) e também
Inglês, Francês, Dança Contemporânea e Teatro Musical. Presentemente frequenta a licenciatura
em Formação Musical na Escola Superior de Música de Lisboa. Na mesma instituição, lecciona
Educação Auditiva no Curso de Música na Comunidade.
JOÃO MOREIRA (tenor) nasceu em Évora em 1980 e iniciou os seus estudos musicais aos seis
anos de idade na Academia de Música Eborense. Integrou o ensemble barroco La Nave Va,
tendo interpretado o papel de Ixion na Ópera La descente d’Orphée aux enfers de Charpentier.
Com o quarteto Tetvocal, a orquestra Sinfonietta de Lisboa e o coro Ricercare, interpretou e
gravou a obra In Paradisum de Eurico Carrapatoso. Membro do Coro Gulbenkian desde 2000,
integra frequentemente formações de câmara para a interpretação de um repertório variado,
do Renascimento português à música contemporânea. Sob a direcção de Michel Corboz, actuou
como solista no Stabat Mater a dez vozes de Domenico Scarlatti, em Portugal e em Espanha (num
concerto oferecido pelo Presidente da República ao Rei de Espanha) e ainda no Smithsonian
Museum em Washington D.C. Participou em digressões na China, Japão, Espanha, França,
Holanda, Dinamarca, Malta e Estados Unidos. Colabora regularmente em vários projectos do
Nederlands Kamerkoor, em Amesterdão.
ANDRÉ BALEIRO (baixo) nasceu em Lisboa em 1989 e iniciou os seus estudos musicais aos
dez anos de idade no Instituto Gregoriano de Lisboa. Nesta escola começou, em 2004, a sua
formação vocal com Elsa Cortez com quem ainda estuda a nível particular. Tem colaborado
com Officium - Grupo Vocal, Capella Patriarchal, Studio Contrapuncti e é membro reforço do
Coro Gulbenkian desde Janeiro de 2009. Em 2007 representou os papéis de Apollon e Titye na
ópera La descente d’Orphee aux Enfers de M.-A. Charpentier no Convento de Mafra e em 2009
estreou-se como solista em oratória com a Missa brevis K. 140 de Mozart no festival “Musicalles
de Grillon”. Neste momento frequenta a Licenciatura em Direcção Coral e Formação Musical na
Escola Superior de Música de Lisboa.
RICARDO MARTINS (baixo), nascido em 1983, estudou piano no Instituto Gregoriano de Lisboa
na classe de Manuel Fernandes. Foi admitido em 2004 no curso de Piano da Escola Superior de
Música de Lisboa, na classe de Jorge Moyano, tendo terminado com elevada classificação. Foi
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vencedor do 2º. prémio ex-aqueo do Concurso de Piano Maria Christina Lino Pimentel em 2001
e de uma Menção Honrosa na edição seguinte do mesmo concurso. Participou como pianista
acompanhador num masterclasse de Canto de Rudolf Knoll e como pianista e cantor num
curso de técnica vocal de Ana Leonor Pereira. Participou também em masterclasses de Piano e
aperfeiçoamento técnico de Galina Eguiazarova, Sequeira Costa, Miklos Spaniy e Fausto Neves.
Apresenta-se inúmeras vezes quer como pianista solista quer como pianista acompanhador.
Foi membro de vários coros e grupos de câmara, entre os quais o Coro Gregoriano de Lisboa,
o Grupo Vocal Olisipo e Coro Odyssea, tendo colaborado com grupos como o Cameratta ad
Impromptu (do qual foi membro fundador), Grupo Vocal Trítono, Coro Ricercare, Wolf Consort,
Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra do Algarve e Coro Gulbenkian (como pianista
acompanhador). Fez estreias de obras de João Antunes (cantata Maria, Mater Dei) e Bruno
Gabirro (ópera Carta do Achamento). Participou como solista e membro do Grupo Vocal Olisipo
na ópera Corpo e Alma de Christopher Bochmann. Como pianista é membro do duo Solistas
Ibéricos. É actualmente membro do Coro Gulbenkian e do Studio Contrapuncti, bem como
professor acompanhador na Escola de Música Nossa Senhora do Cabo.
DANIEL GODINHO (piano) nasceu em Lisboa e estudou piano na Escola de Música do
Conservatório Nacional, onde concluiu o curso complementar. Em 2007 licenciou-se em
Piano na Academia Nacional Superior de Orquestra, tendo sido aluno de Alexei Eremine (Piano
e Música de Câmara), Ana Tomasik e José Manuel Brandão (Acompanhamento ao Piano).
Aperfeiçoou-se em masterclasses de Música de Câmara, nomeadamente com Marta Gullyas,
e de Lied, com Rudolf Jansen, com quem tem trabalhado nos últimos anos. Entre Outubro
de 2007 e Abril de 2008 continuou a sua especialização em acompanhamento de Lied, no
Conservatório de Amesterdão, com os professores Udo Reinemann, David Selig e Rudolf
Jansen. Tem-se apresentado em recital em várias salas de concerto do país, e realizou três
gravações para a Antena 2, duas das quais inteiramente preenchidas com canções de Schubert.
Participou nos prestigiados concursos “Franz Schubert und die Musik der Moderne” em Graz,
e “Internationaler Schubert Lied-Duo” em Dortmund. É professor de Formação Musical no
Conservatório de Lisboa, e tem trabalhado como pianista acompanhador na Escola de Música
Nossa Senhora do Cabo, em Linda-a-Velha, no Instituto Piaget e na Escola Superior de Música
de Lisboa.
CLARA COELHO (direcção) nasceu em Coimbra em 1978 e iniciou os estudos musicais no
Conservatório Regional de Música da Covilhã. Nesta escola dirigiu o Coro Juvenil entre 1993 e
1995. Fez os estudos superiores na Escola Superior de Música de Lisboa em Formação Musical
(2000) e Direcção Coral (2005), onde estudou com Vasco Azevedo. Está a concluir actualmente
o Mestrado em Direcção Coral no Instituto Piaget sob a orientação do professor Paulo Lourenço.
Estudou direcção com maestros como António Lourenço, Michel Corboz, Alexander Polishuk,
Stephen Coker e Cara Tasher. É desde Janeiro de 1997 membro do Coro Gulbenkian, onde
trabalha regularmente desde os últimos dez anos na direcção de ensaios e preparação de
grande parte do seu repertório. É desde Junho de 2005 maestrina adjunta no Coro Sinfónico
Lisboa Cantat. Dirigiu e foi membro fundador do Coro de Câmara Lisboa Cantat. Desde 2007 é
assistente do coro no festival “Les Musicalles de Grillon”, que se realiza anualmente no sul de
França. Exerce funções como docentes na Academia Nacional Superior de Orquestra, desde
1998, e na Escola Superior de Música de Lisboa, desde 2000.
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Adriana Ferreira
e Trio de Cordas
11 de Junho (sexta-feira) – 21h30
Igreja Paroquial de Santo André (Cela)
Quarteto com Flauta
12 de Junho (sábado) – 21h30
Igreja Matriz de Évora de Alcobaça
1.ª Parte
WOLFGANG AMADEUS MOZART
Don Giovanni, drama jocoso em dois actos
(arr. J. Wendt, 1788)
Acto I
Ouverture
Madamina, il catalogo è questo
Fin ch’han dal vino
Riposate, vezzose ragazze
Menuetto, Contradance
Soccorriamo l’innocente!
Trema, trema, o scellerato!
Acto II
Ah taci, ingiusto core
Non mi dir, bell’idol mio
Ah signor per carità!
2.ª Parte
GORDON JACOB
Four Fancies
Prelude
Gavotte
Incantation
Folk Dance
HEITOR VILLA-LOBOS
Assobio a Jato para flauta e violoncelo
Allegro non troppo
Adagio
Vivo
WOLFGANG AMADEUS MOZART
Quarteto em Ré Maior K. 285
Allegro
Adagio
Rondo
Adriana Ferreira, flauta
Mi-sa Yang, violino
Aurélie Deschamps, violeta
Seok Woo Yoon, violoncelo
Parceria:
Concurso de Interpretação do Estoril
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NOTAS À MARGEM
A ópera Don Giovanni de Wolfgang Amadeus Mozart (Salzburgo 1756 - Viena 1791), com libreto
de Lorenzo Da Ponte, motivou várias transcrições e adaptações, além de ter fornecido temas
para conjuntos de variações de vários compositores. Uma das primeiras transcrições foi a de J.
Wendt, logo no ano seguinte à estreia da ópera em Praga (ocorrida em 1787). Wendt transcreveu
a ópera integralmente para flauta, violino, violeta e violoncelo, deixando de fora os recitativos.
Neste concerto ouvir-se-á uma selecção de alguns dos números dessa curiosa versão transcrita.
Quanto ao Quarteto em ré maior K. 285 que ouviremos no fim do programa, foi uma encomenda
do melómano holandês De Jean. A escrita é virtuosística, especialmente nos andamentos inicial
e final, este último um dos mais belos rondós de Mozart. Quanto ao comovente andamento
lento, foi talvez influenciado pela dança dos espíritos da ópera Orphée et Euridice de Gluck.
Compostas em 1976, as Four Fancies do inglês Gordon Jacob (Londres 1895 – idem 1984) dão-nos
um excelente exemplo de música contemporânea que pretende alcançar os seus efeitos por
meio de melodias atraentes, sugestivamente ritmadas, sobre uma base harmónica que concilia
o moderno com o tradicional.
A peça Assobio a Jato foi composta pelo brasileiro Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro 18871959) em Nova Iorque, em 1950. O título reporta-se ao efeito requerido ao flautista no último
andamento, que procura imitar o som de um avião a jacto rasando os céus nova-iorquinos.
OS INTÉRPRETES
ADRIANA FERREIRA (flauta) concluiu o Curso de Instrumentista na Escola Profissional
Artística do Vale do Ave - ARTAVE com a classificação de 20 valores, na classe da professora
Joaquina Mota, tendo-lhe sido atribuído um Prémio de Mérito pelo Ministério da Educação
e Prémio Dra. Manuela Carvalho. Actualmente estuda no Conservatório Nacional Superior
de Música de Paris, nas classes de Sophie Cherrier, Vincent Lucas (flauta) e Pierre Dumail
(flautim). Recentemente, aperfeiçoou-se ainda com Emily Beynon, Felix Renggli, Magali
Mosnier, Vicens Prats e James Galway. Integrou e colaborou com diversas formações, como
a Orquestra de Jovens da União Europeia, a Orquestra Gulbenkian e a Orquestra de Paris; e
apresentou-se em diversos Festivais, a solo e em Música de Câmara. Obteve o 1° Prémio em
cerca de uma dezena de concursos da especialidade, entre os quais o Concurso Internacional
de Kiev, Prémio Jovens Músicos/RDP, Concurso de Interpretação do Estoril e Concurso
Nacional do Jovem Flautista em França. Apresentou-se a solo com as orquestras Gulbenkian
e Artave, tendo estreado o Concerto para Flauta e Orquestra de Joaquim dos Santos, a si
dedicado. Actualment com 19 anos, a sua agenda inclui apresentações em diversos Festivais
e Carta Branca para Recitais em Portugal e no estrangeiro, o lançamento do seu primeiro CD,
Concertos a solo com a Orquestra do Algarve, a Orquestra Sinfónica Portuguesa e a Orquestra
Metropolitana de Lisboa, bem como colaborações com a Orquestra Nacional da Ópera de Paris e
a Orquestra Sinfónica de Limburgs, entre outras. Ao abrigo do programa Erasmus, frequentará
durante o próximo ano lectivo a Escola Superior de Música Hanns Eisler de Berlim, na classe
do professor Benoît Fromanger. Paralelamente, frequenta uma Licenciatura em Musicologia na
Universidade Paris-Sorbonne, sendo bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian desde 2008.
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MI-SA YANG (violino) frequenta actualmente o Curso Superior de Música de Câmara no
Conservatório Nacional Superior de Música de Paris, na classe de Vladimir Mendelsslohn e
Michel Strauss, após ter concluído na mesma instituição o Curso Superior de Violino na classe
de Jean-Jacques Kantorow e Olivier Charlier. Entre os varios prémios que obteve, recentemente
foi laureada em Música de Câmara com o 1.° Prémio (Trio com piano), no Concurso Internacional
Maria Canals de Barcelona. Em 2009 apresentou-se em diversos festivais na Europa, além
das suas performances com orquestra no Japão. Laureada pela Fundação Rohm Music e pela
Fundação Groupe Banque Populaire.
SEOK WOO YOON (violoncelo) nasceu em 1984 em Kwang Ju, na Coreia, e iniciou os seus
estudos musicais de piano aos seis anos de idade. Dois anos mais tarde iniciou os seus estudos
de violoncelo, na classe de Z. Tytlak em Las Palmas, Espanha. Apresentou-se a solo com
orquestra pela primeira vez aos quinze anos, interpretando a Elegie de Fauré, e o Concerto de
Lalo no ano seguinte. Em 2001 mudou-se para França, ingressando no Conservatório Nacional
de Região de Boulogne Billancourt, na classe do professor Michel Strauss, onde obteve o DEM
(Diploma de Estudos Musicais). Aperfeiçoou-se ainda com Helene Dautry, na Escola Nacional
de Música de Fresnes. Desde 2002 actua regularmente a solo com orquestra, em interpretações
que incluem as Variações “Rococó” de Tchaikovsky, o Concerto em Dó de Haydn e o Concerto
de Grimbert-Barre, composto para o Festival Envolées Musicales de Paris. O seu interesse
pela Música de Câmara levou-o a apresentar-se em diversas formações, do duo ao quinteto
com piano, em países como Espanha, França, Holanda, Alemanha e Coreia. Participou em
masterclasses de Jean Decroos, Roland Pidoux, Maurizio Kuks, Jean Moulliere, Cristophe
Pantillon e Yan Ype Nota. Obteve o 1.° Prémio no Concurso de Cordas de Epernay em 2007 e
o 1° Prémio no Concurso Vatelot-Rampal no ano seguinte. Desde 2008, Seok Woo estuda no
Conservatório Nacional Superior de Música de Lyon, na classe do professor Yvan Chiffoleau,
ao mesmo tempo que frequenta o Curso Superior de Música de Câmara (Trio com piano) no
Conservatório Nacional Superior de Música de Paris, na classe de Vladimir Mendelssohn.
AURÉLIE DESCHAMPS (violeta), nascida em 1984 iniciou a sua aprendizagem musical em violino
aos três anos de idade e começou os seus estudos de violeta em 2002. 1.º Grande Prémio de
Marselha e Prémio Tomasi, obteve os Diplomas de Violino, Violeta, Formação Musical e Música
de Câmara por unanimidade. Ao mesmo tempo, obteve o 1° Prémio de Violeta por unanimidade
do Conservatório Nacional de Região de Paris (CNR), na classe de Tasso Adamopoulos. No
Conservatório Nacional Superior de Música de Paris, Aurélie obteve o 1.° Prémio de Violeta por
unanimidade na classe de M. Xuereb, seguido de um Ciclo de Aperfeiçoamento de dois anos
para Concertistas, em Violeta, no mesmo Conservatório. Apesar da oportunidade de trabalhar
em orquestra com diversos maestros, Aurélie dedica-se principalmente à Música de Câmara,
onde encontra o equilíbrio necessário entre técnica e emoção, privacidade e expressão. Neste
sentido, obteve na secção de Música de Câmara o Prémio Léopold Bellan em Paris (2005) e o 1.°
Prémio no Concurso Internacional TIM – International Music Tournament, em Roma (2006).
Convidada para diversos festivais, como Les Musicales de Bagatelle (Paris), “Jovens Solistas”
(Vitrolles), Musique de Chambre à Giverny, Musique de Chambre en Pays de Gex, Kuhmo
Chamber Music (Finlândia), Festival de Alcobaça (Portugal), etc., Aurélie é solicitada para
inúmeras manifestações musicais em Paris. Forma com a pianista Emilie Vaute o Duo Lilith,
apresentando-se regularmente em público. Aurélie é bolseira da Fundação Meyer, além de
laureada pela Fundação Banque Populaire.
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L’Angelica
Serenata per musica
13 de Junho (domingo) – 18h00
Sacristia – Mosteiro de Alcobaça
JOÃO DE SOUSA CARVALHO (música)
PIETRO METASTASIO (texto)
Parte Prima
Parte Seconda
Abertura
[Allegro] – Andante Comodo – Allegro assai
recitativo ed aria [Tirsi]
“Il tuo pianto i tuoi sospiri”
recitativo ed aria [Angelica]
“Mentre rendo a te a vita”
recitativo ed aria [Licori]
“Non curo del fato richiezze e tesori”
recitativo ed aria [Medoro]
“Terrore m’inspira”
recitativo ed aria [Medoro]
“Bella diva all’ombre amica”
recitativo ed aria [Licori]
“Ombre amene”
recitativo ed aria [Angelica]
“Io dico all’antro addio”
recitativo ed aria [Orlando]
“Vane felice al rio”
recitativo ed aria [Orlando]
“Da me che volete infauste comete”
dueto [Angelica e Medoro]
“Ah, non dirmi”
Coro [tutti]
“Viva l’Augusta prole”
Pedro Castro, direcção artística
Joana Seara, soprano
Lídia Viñes Curtis, mezzo
Fernando Guimarães, tenor
Maria Luísa Tavares, meio-soprano
Sandra Medeiros, soprano
CONCERTO CAMPESTRE
& QUARTETO ARABESCO
Pedro Castro, Luís Marques, oboés
Pedro Coutro Soares, Osvaldo Barros, traversos
Paulo Guerreiro, Tracy Nabais, trompas
Denus Stetsenko, Raquel Cravino, violinos
Lúcio Studer, violeta
Ana Raquel Pinheiro, violoncelo
Sofia Diniz, viola da gamba
Duncan Fox, contrabaixo
Flávia Almeida Castro, cravo
Co-produção:
Primavera Musical - Festival Internacional de Música de
Castelo Branco
29
NOTAS À MARGEM
por Pedro Castro
As “serenatas” setecentistas são pequenas óperas de câmara sem encenação. São cantatas
dramáticas, normalmente celebratórias, para dois ou mais cantores com orquestra. Deve
acrescentar-se que, à ópera, elas vão buscar os textos e os temas profanos e, à oratória, a
estrutura em duas partes. Os textos são mais alegóricos, sem um verdadeiro enredo, do que
normalmente seria de esperar numa ópera. Para além disso, esse texto é muitas vezes alusivo a
um personagem ou acontecimento ao qual a obra é dedicada. Os libretistas e os compositores
destas obras eram geralmente locais, muito por questões de conveniência, já que quando era
necessário celebrar um nascimento ou uma vitória militar, o tempo de preparação era limitado.
É interessante reflectir também sobre a imagem romântica que existia no período quanto ao
significado duma serenata. Veja-se o exemplo da ópera Cosi fan tutte de Mozart, que se passa
em Nápoles do séc. XVIII e onde um dos dois jovens amantes comenta que, se ganhasse uma
certa quantia de dinheiro, iria com certeza dedicar à sua amada uma sumptuosa serenata.
A visão romântica do apaixonado que executa uma serenata à janela da sua diva, passa pelo
burguês rico que contrata músicos para o acompanhar, até chegar ao membro da família real
que encomenda uma obra a um compositor importante, da sua confiança, para ser realizada no
aniversário de um familiar, sem deixar de servir bebidas no intervalo.
Observando-se o que se conhece da obra de João de Sousa Carvalho não se pode deixar de notar
a quantidade de serenatas que compôs: ao todo estão catalogadas 10 destas obras, ao lado de
5 óperas, 7 missas e 1 oratória. As últimas investigações sobre o compositor vieram atribuir a
maior parte da sua música sacra a João de Sousa Vasconcelos, o que nos deixa a composição de
serenatas como a principal actividade deste músico, tão querido da família real e da corte da
sua época.
Composta em 1778 e baseada num libreto de Pietro Metastasio, esta foi a primeira serenata
realizada por este compositor ao serviço da corte de D. Maria, por sinal dedicada à irmã desta,
Maria Benedita, e executada no Palácio Nacional da Ajuda e no Palácio de Queluz. Conta a
história de como Angelica jurou o seu amor ao poderoso Orlando para acalmar os seus ciúmes
e, assim, poder fugir com o seu amado Medoro.
Havendo registo de mais de 80 destas obras realizadas por todo o séc. XVIII, 35 das quais, no
último quartel, torna-se evidente a importância desta tradição nacional, que não se reflecte
ainda nas salas de concerto actuais. A realidade é que nenhuma das serenatas deste compositor
e seus contemporâneos foi ainda executada, editada ou gravada nos nossos dias, fazendo deste
programa uma oportunidade singular de fruição do nosso património cultural.
João de Sousa Carvalho nasceu em Estremoz a 22 de Fevereiro de 1745. Através dos
registos da sua confissão na freguesia da Ajuda, crê-se que este compositor terá morrido
entre as quaresmas de 1799 e 1800. Foi em Vila Viçosa que iniciou os seus estudos
musicais, a 23 de Outubro de 1753 e, logo aos 15 anos, a 15 de Janeiro de 1761, ingressa
no conservatório de Santo Onofre de Capuana, em Nápoles, na qualidade de bolseiro do
Rei D. José I e na companhia dos irmãos Jerónimo Francisco e Brás Francisco de Lima.
30
Em 1766, a Ópera “La Ninetti” foi apresentada em Roma e, aparentemente, é no ano seguinte
que volta a Portugal, pois foi nesta altura que ingressou na irmandade de St.ª Cecília. Torna-se
então professor de contraponto e, mais tarde, mestre de capela do seminário da Patriarcal.
Em 1778 sucede a David Perez na qualidade de professor de música da corte. É a partir daqui que
escreve anualmente uma serenata para celebrar aniversários e outros eventos festivos da corte.
É considerado por vários musicólogos (Sampayo Ribeiro 1938, Santos Luís 1999) como um
dos compositores preferidos da corte no seu período. Não só foi aquele que partilhou de um
relacionamento mais íntimo com os membros da família real, na qualidade de tutor musical,
mas, de facto, das 10 óperas compostas por compositores portugueses no seu tempo, são-lhe
atribuídas 4, e das 36 serenatas do período de D. Maria I, são-lhe atribuídas 10.
Foi também uma das suas Serenatas - Penelope nella partenza de Sparta - que fez parte de um
conjunto de partituras que foram enviadas por esta mesma soberana a Madrid, a fim de lá serem
apresentadas. Isto faz de João de Sousa Carvalho um dos compositores preferidos da corte,
principalmente em relação aos restantes compositores nacionais.
As referências à predilecção que este compositor tinha na corte são várias, nomeadamente, na
Carta de Pinto da Silva de 7 de Abril de 1783. Comentando sobre a falta de bons cantores e da
decadência da música, em geral, no resto da Europa, este diplomata declara que “actualmente
não existe compositor como o nosso João de Sousa Carvalho, e que tanto ele como o seu discípulo
António Leal Moreira recentemente compuseram excelentes serenatas” (apud Brito 1989).
Segundo o catálogo elaborado por Santos Luís (1999), no seu legado musical contam-se 11
serenatas, 5 óperas, 3 Te Deum, 4 missas e uma oratória, além de algumas peças de tecla e
modinhas luso- -brasileiras. Mais recentemente foram encontradas evidências que explicam
o enigma da identidade dos compositores JSV (João de Sousa Vasconcelos) e JSC (João de Sousa
Carvalho) e a dúvida levantada inicialmente por Ernesto Vieira (1900), refutada por Sampayo
Ribeiro (1938) e ignorada por outros musicólogos. Santos Luís (1999) revela mais provas da
existência de um outro compositor cujas obras foram inicialmente atribuídas a JSC. Será, no
entanto, Cristina Fernandes (2005) que finalmente revela a identidade de João de Sousa como
sendo de João de Sousa Vasconcelos, músico que entrou para a Irmandade de St.ª Cecília em
1760 e faleceu em 1799. Esta autora identifica JSV como autor, exclusivamente, de música
religiosa e atribui-lhe algumas obras deste tipo anteriormente tidas como da autoria de JSC. Tal
torna necessária uma revisão pormenorizada do trabalho de Santos Luís.
A composição de música dramática e especificamente de serenatas foi, portanto, uma das
suas funções principais, o que vem ao encontro da definição do género, pois trata-se de um
compositor local, mais frequentemente contratado para este tipo de trabalho. O facto de
partilhar alguma intimidade com a família real era também significativo, já que, sendo estas
obras dedicadas por um familiar a outro, é natural que o compositor escolhido para o efeito fosse
alguém de uma certa proximidade e não um artista longínquo que enviava uma determinada
obra por encomenda.
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OS INTÉRPRETES
O CONCERTO CAMPESTRE, cujo nome é inspirado no famoso quadro de Giorgone, é um
grupo de música de câmara que se dedica à interpretação da música europeia, desde o
renascimento ao período barroco, chamada “música antiga”. É constituído por jovens
profissionais especialistas nos instrumentos da época, tais como cravo, oboé barroco, viola da
gamba e violoncelo barroco. Os seus elementos são formados nas principais escolas europeias
e trabalham em vários grupos da especialidade, tais como Ricercar Consort, Al Ayre Español,
Les Talens Liryques e Divino Sospiro. O grupo está sediado em Lisboa e tem a direcção artística
de Pedro Castro. A sua constituição é versátil, tendo sido já realizados desde projectos com
um trio de câmara a projectos com um conjunto de dez músicos e cantores na execução de
cantatas e concertos de J.S. Bach, Telemann e Seixas. Apresentou-se na Festa da Música no
CCB, nos Encontros de Música Antiga de Loulé, no átrio do Museu Gulbenkian, na “Festa no
Chiado”, nas “Festas de Lisboa” e nos Encontros de Música Antiga de Tomar, no Festival Terras
sem Sombra e nos Festivais de Outono em Aveiro. Em colaboração com o Quarteto Arabesco,
apresentou a estreia moderna da Serenata L’Angelica, de João de Sousa Carvalho, em Outubro
de 2009. Os seus compromissos recentes incluem um programa dedicado à retórica na música
instrumental, récitas da L’Angelica no Festival Cistermúsica de Alcobaça e no Festival de Música
de Castelo Branco e um programa em trio dedicado a G. Ph. Telemann.
O QUARTETO ARABESCO tem-se evidenciado como um agrupamento pioneiro em Portugal
pela sua abordagem original do mais variado repertório, sendo os seus programas sempre
resultado de uma pesquisa aprofundada. Está especializado em interpretações historicamente
informadas, em instrumentos da época, de música dos períodos Barroco e Clássico. Este
trabalho de procura de uma interpretação cada vez mais autêntica tem sido seguido e orientado
por grandes mestres como Gaetano Nasillo, Enrico Onofri, Alfredo Bernardini e Richard Gwilt.
Tem-se igualmente apresentado em instrumentos modernos, interpretando música dos
mais variados quadrantes, desde o flamenco e fado até à música contemporânea. Colabora
regularmente com solistas de renome como Pedro Castro (oboé), Rui Paiva (órgão), António
Carrilho (flauta bisel), Marcos Magalhães (cravo) e Pedro Jóia (guitarra). Tem-se igualmente
apresentado com outros agrupamentos tais como Concerto Campestre, La Nave Va, Os Músicos
do Tejo, Coro de Santa Maria de Belém, Coro Opus 21 e Grupo Vocal Olisipo. Desde a sua estreia
em 2006 já se apresentou em mais de 60 concertos com os mais variados e ousados programas.
Nestes se incluem festivais tais como o Festival Internacional da Madeira, Festival Música em
Leiria, Temporada Musica em S. Roque, Festival Internacional de Orgão de Lisboa, Semana
Santa de Óbidos, Festival Maio Barroco de Óbidos, Ciclo Órgãos Históricos de Mafra, Festival
de Órgão de Faro, Festival Terras sem Sombra e Encontros de Musica Antiga de Loulé. Já se
apresentou nas principais salas de concerto do país tais como o Teatro D. Maria II, Igreja da
Cartuxa, Mosteiro dos Jerónimos, biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, Casa da Música,
Centro Cultural de Belém, Culturgest e Fundação Calouste Gulbenkian.
LYDIA VIÑÉS CURTIS (meio-soprano), nascida em Barcelona, com ascendência em vários
países europeus, possui una ampla experiência artística graças à sua carreira completa como
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violinista, às suas intervenções no mundo do teatro e da dança e, finalmente, à sua formação
como cantora lírica com o professor Jorge Sirena. O seu caminho começou no conservatório de
Barcelona, depois no Conservatório Nacional de Toulouse e finalmente na Schola Cantorum de
Basileia. Foi membro do Coro de Câmara do Palau de la Música Catalana e em 2008 do octeto
vocal especializado em música do Renascimento espanhol Nova Lux Ensemble. Gravou parte do
Cancioneiro de Medinaceli como solista com o maestro David Guinda na etiqueta Arsis. Actuou
em Die Zauberflöte no teatro de ópera de Sabadell e com a Orquesta Sinfónica de Navarra como
meio-soprano solista. Habitualmente colabora nas montagens cénicas dirigidas por David
Mason e Richard Levitt com repertório de Purcell, Händel e Monteverdi, no âmbito do Festival
de Noches de la lírica del Palacio de Hualle (Santander). Também em Lisboa colaborou com
Pedro Castro e o quarteto Arabesco na representação e recuperação da serenata L’Angelica de
João de Sousa Carvalho. Por outro lado, a sua especialização em música antiga durante quatro
años no Conservatório de Toulouse, tocando violino barroco, permitiu-lhe colaborar em
orquestras de prestígio como o Ensemble Baroque de Limoges, a Orquestra Barroca Catalana,
Al Ayre Español, L’ Acadèmia 1750 e no seu recente grupo de câmara especializado em música
do Renascimento, Movimento Arioso.
FERNANDO GUIMARÃES (tenor), licenciado em Canto pela Escola das Artes da UCP-Porto, na
classe de António Salgado, foi galardoado com o Prémio Jovens Músicos 2007 da RDP e com o 2.º
Prémio no Concurso Nacional de Canto Luísa Todi. Como vencedor do Concurso Internacional
de Canto “L’Orfeo” em Verona, cantou o papel principal desta ópera de Monteverdi em Mantova
(no 400º aniversário da sua estreia), Berlim e Budapeste. Foi, entre muitos outros: Ferrando em
Così Fan Tutte, Don Ottavio em Don Giovanni, Almaviva em Il Barbiere di Siviglia (Rossini), Nencio
em L’Infedeltà Delusa, de Haydn (em Estrasburgo, com Le Parlement de Musique, sob direcção
de Martin Gester); Ippolito em La Spinalba de Francisco António de Almeida (no CCB, com a
orquestra “Músicos do Tejo”); Testo em Il Combattimento di Tancredi e Clorinda, de Monteverdi
(Fundação Gulbenkian). Integrou o elenco da fantasia musical Evil Machines (com música de Luís
Tinoco sobre libreto de Terry Jones), com estreia mundial em Janeiro de 2008 no Teatro S. Luiz.
Estreou-se recentemente no Teatro Nacional de S. Carlos (como Monostatos em Die Zauberflöte)
e no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian (na Paukenmesse de Haydn, sob direcção de
Erwin Ortner), bem como em ambos os auditórios da Casa da Música (Porto). Participou nas
digressões europeias da Académie Baroque Européene de Ambronay de 2008 e 2009, com
programas dedicados a Giovanni Gabrieli (sob a direcção de Jean Tubéry) e Mozart (com Martin
Gester). Cantou, com excelente recepção da crítica, as árias de tenor na Matthäuspassion de
J. S. Bach no Centro Cultural de Belém, com a orquestra barroca Divino Sospiro dirigida por
Enrico Onofri, tendo-se apresentado no mesmo papel no festival de Aldeburgh, sob a direcção
de Masaaki Suzuki e como bolseiro do Britten-Pears Young Artists Programme. Entre os seus
compromissos para esta temporada incluem-se: Vespro della Beata Vergine de Monteverdi com
L’Arpeggiata em Gent, Metz e Barcelona; Matthäuspassion com o Coro e Orquestra Gulbenkian
sob direcção de Michel Corboz; cantatas pascais de Bruhns e Eberlin com o Ensemble Diderot
na Alemanha e Inglaterra (Festival de Aldeburgh); e uma digressão com música de Vivaldi (com
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o Choeur de Chambre de Namur e Les Agréments) nos festivais da Valónia e de Ambronay.
Ainda esta temporada gravará dois discos para a etiqueta Ricercar e com o Ensemble Clematis
(Leonardo García Alarcón) dedicados respectivamente à música profana de Matheo Romero e
às cantatas de Georg Böhm.
JOANA SEARA (soprano) iniciou os seus estudos musicais e de canto na Academia de Música
de Santa Cecília e no Conservatório Nacional de Lisboa, sob a orientação de Elsa Saque. Foi
membro e solista do Coro Gulbenkian durante seis anos e participou em inúmeros concertos,
em Portugal e no estrangeiro, sob a direcção de Michel Corboz, Frans Brüggen, Fernando
Eldoro, Jorge Matta, Michael Zilm, Claudio Abbado e Richard Hickox. Joana decidiu-se pelo
canto solístico, tirando a Licenciatura, Mestrado em Performance e Curso de Ópera na Guildhall
School of Music and Drama (GSMD), em Londres, com Laura Sarti. Participou também em cursos
e masterclasses de aperfeiçoamento orientados por Thomas Hampson, Thomas Allen, Felicity
Lott, Christa Ludwig, Jill Feldman, Emma Kirkby, Graham Clark e Paul Kiesgen. Enquanto
estudante, foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, da Wingate Foundation, E M Behrens
Charitable Trust e da Worshipful Company of Barbers. Prémios incluem o Worshipful Company
of Glass Sellers Music Prize 2005 e um Sybil Tutton Award. Foi finalista na Handel Singing
Competition 2007. Joana já trabalhou como solista para companhias como English National
Opera, Glyndebourne Festival Opera, Castleward Opera, New European Opera, Bampton
Classical Opera, Independent Opera at Sadlers Wells, Opera Restor’d e British Youth Opera.
Os seus papéis incluem Galatea (Acis and Galatea), Gretel (Hänsel und Gretel), Damigella (The
Coronation of Poppea), Despina, Zerlina, Juliet (Romeo and Juliet de Benda), Margery (The Dragon
of Wantley de Lampe), Vespina (La Spinalba), Dorinda (Orlando de Handel) e Nannetta (Falstaff).
Em concertos e recitais, Joana tem-se apresentado como solista, na interpretação de grandes
obras como a Sinfonia nº 2 de Mahler, a Sea Symphony de Vaughan William e o Messias de Händel e,
mais recentemente, na Paixão Segundo São João com os King’s Consort, sob direcção de Mathew
Halls. Apresentou-se no Festival de Händel 2008 e no Festival de Lieder de Oxford 2006 com
os pianistas Bernard Robertson e Sholto Kynoch. Actua regularmente com o Ensemble Barroco
do Chiado, sob direcção de Marcos Magalhães, e com a Orquestra Barroca Divino Sospiro, sob
direcção de Enrico Onofri, com quem participou em concertos para os festivais barrocos de
Ile de France, Ambronay e Mafra. Futuras apresentações incluem Galatea em Acis and Galatea
em Londres, Paris e Nantes, Vespina na reposição da produção do CCB e Músicos do Tejo de
La Spinalba, 1ère Femme em Medée e Clotilde em Norma, na Fundação Gulbenkian, e Gretel em
Hänsel und Gretel para Opera Holland Park.
MARIA LUÍSA TAVARES (meio-soprano) iniciou os seus estudos de canto em Lisboa, com Maria
Antónia Palhares, Álvaro Malta e Filomena Amaro (Conservatório Nacional), e terminou-os no
Centre d’Etudes Musicales Supérieures de Toulouse, onde estudou com Marie-Thérèse Cahn,
Gabriel Bacquier e Jean-Christophe Benoît. Estudou interpretação do repertório barroco no
Departamento de Música Antiga do Conservatório de Toulouse, e na Academia de Música Antiga
de Lisboa, tendo trabalhado com Jill Feldman, Guillemette Laurens, Richard Gwilt, Antonio
Florio, e Hervé Nicquet, entre outros. Desde 1998 tem cantado como solista com maestros
como Brad Cohen (Estúdio de Ópera do Porto e Remix Ensemble), Jorge Matta (Orquestra
Gulbenkian), João Paulo Santos, Giovanni Andreoli, Zoltán Peskó e Donato Renzetti (Teatro
Nacional de S.Carlos/Orquestra Sinfónica Portuguesa), Richard Gwilt, Massimo Mazzeo,
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Harry Christophers e Christina Pluhar (Divino Sospiro). Participou nas óperas Venus and Adonis
(John Blow) como Venus, Dido and Aeneas (H. Purcell) como Dido, L’Amore Industrioso (João de
Sousa Carvalho) como Giulietta, Il Barbiere di Siviglia (G. Rossini) como Berta, The Turn of the
Screw (B.Britten) como Mrs.Grose, La Déscente d’Orphée aux Enfers (M. A. Charpentier) como
Proserpina e Die Zauberflöte como Segunda Dama. Em Outubro de 2003, obteve o 3.º Prémio
no Concours International de Chant Baroque de Chimay, na Bélgica. É elemento efectivo
do Coro do TNSC e colabora regularmente com agrupamentos de câmara, em Portugal e na
Holanda, tais como o Nederlands Kamerkoor, o Grupo Vocal Olisipo (dir. Armando Possante),
o Kassiopeia Quintet (com o qual gravou o IV, V e VI livros de madrigais de D.Carlo Gesualdo,
para a Globe), a Capela Joanina (dir. João Paulo Janeiro), o Ensemble Barroco La Nave Va (que
fundou juntamente com o flautista António Carrilho), e o trio Breathing of Statues (com a
soprano Orlanda Velez Isidro e o alaúdista Tiago Matias). Com estes grupos tem-se apresentado
em festivais como Música em S. Roque, Terras Sem Sombra, o Festival Internacional de Música
de Mafra, a Temporada de Cravo de Óbidos, o Festival de Música de Alcobaça, o Festival AreMore em Vigo e o Gesualdo Festival na Holanda.
PEDRO CASTRO (oboé barroco, flauta de bisel e direcção artística) nasceu em 1977 no Porto. É
diplomado pela Escola Superior de Música de Lisboa, sob a orientação de Pedro Couto Soares,
e pelo Conservatório Real de Haia, na Holanda, sob a orientação de Sebastien Marq (flauta) e de
Ku Ebbinge (oboé barroco). No âmbito do mestrado em artes musicais, na Universidade Nova de
Lisboa, realizou a tese “Serenata L’Angelica – um estudo performativo”. Foi bolseiro do Centro
Nacional de Cultura. A sua actividade profissional passa pelos seguintes agrupamentos: Al Ayre
Español, Le Talens Liryques, Divino Sospiro, Capela Real, Orquestra barroca de Sevilha, Flores
de Música, Sete Lágrimas, Quarteto Arabesco, A Imagem da Melancolia e Os Músicos do Tejo.
Tem, assim, oportunidade de trabalhar sob a direcção de Eduardo Lopez Banzo, Enrico Onofri,
Christophe Rousset, Alfredo Bernardini e Monica Hugget, entre outros importantes nomes do
meio da interpretação histórica. Como solista, além da sua actividade em música de câmara,
apresentou-se também com a Orquestra Capela Real no concerto para oboé de A. Marcello, no
duplo concerto para violino e oboé de J.S. Bach e com a Orquestra Divino Sospiro, no concerto
para oboé d’amore do mesmo compositor. No oboé clássico e com o Quarteto Arabesco
apresentou-se com o quarteto de Mozart, ícone do repertório virtuosístico do classicismo. Em
Outubro de 2009 dirigiu a estreia moderna da serenata L’Angelica de João de Sousa Carvalho
em 5 récitas por todo o país, integrado num projecto apoiado pela Direcção Geral das Artes/
Ministério da Cultura. Ensina oboé barroco, flauta de bisel e música de câmara, na Academia
de Música de Santa Cecília, na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo e na Escola
Superior de Música de Lisboa. É o director artístico do Concerto Campestre.
SANDRA MEDEIROS (soprano) nasceu em S.Miguel, Açores, e estudou no Conservatório
Regional de Ponta Delgada com Imaculada Pacheco. É licenciada em Canto pela Escola Superior
de Música de Lisboa tendo integrado a classe da professora Joana Silva. Como bolseira da
Fundação Calouste Gulbenkian e do Centro Nacional de Cultura prosseguiu estudos de pósgraduação em canto com Julie Kennard e Clara Taylor na Royal Academy of Music (RAM)
em Londres, onde se graduou com “Distinção”, obteve o Dip. RAM e o prémio Amanda von
Lob memorial Prize. Frequentou cursos de aperfeiçoamento em Portugal, Áustria, Espanha e
Inglaterra com personalidades tis como Ileana Cotrubas, Teresa Berganza, Gundula Janowitz,
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Rudolf Knoll, Marimi del Pozo, Jill Feldmann, entre outras. Foi premiada em concursos
nacionais e nos concursos Isabel Jay Singing Prize e Elena Gerhard Lieder Prize em Londres.
Foi finalista nos concursos Wigmore Award (Londres), XVII Concours International de Chant
de Marmande (França) e no 2.º Concurso Internacional de Ópera do Mediterrâno (Bari/
Itália-2009). Obteve ainda o 2.º Prémio no V Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão no
Brasil. Gravou para a RTP, RTP-Açores, RTPI e RDP (Antena 2). A sua actividade como solista
distribui-se pela música antiga, oratório, lied, melodie, canção do séc.XX e ópera, tendo
actuado sob a direcção de maestros de renome como Michael Corboz, Charles Mackerras,
Laurence Cummings, Alberto Lysy, Giancarlo De Lorenzo, Lawrence Foster, Marc Minkowski
entre muitos outros. Também actuou com as mais destacadas orquestras portuguesas e com
as orquestras Barroca da RAM, Camerata Lysy de Gstaad e Sinfonia Varsóvia. Tem colaborado
em recitais com os pianistas João Paulo Santos, Nuno Vieira de Almeida, Alexei Eremine,
Gabriela Canavilhas, Alessandro Segreto, Paulo Pacheco, Carla Seixas e Francisco Sassetti. Tem
participado nos principais festivais de música do seu país e nos de Macau, Plasencia (Espanha),
Festival Musicatlântico (Açores), London Bach Festival e Brancaster Midsummer Music Festival
(Inglaterra). Actuou ainda na Expo 98 (Lisboa), Expo An Meer 2000 (Alemanha) e na Festa
da Música 2006 (CCB- Lisboa). No domínio da ópera os seus papéis incluem Barbarina (Nozze
di Figaro, Mozart), Princese (L’énfant et les sortiléges, Ravel), Gémea Siamesa (Corvo Branco,
Philip Glass), Dragonfly (A raposinha matreira, Janacek), Frasquita (Carmen, Bizet), Serpina (La
serva padrona, Pergolesi), Carlota (As Damas Trocadas, Marcos Portugal), D. Anna (D. Giovanni,
Mozart) e Cardella (Lo frate namorato, Pergolesi). No estrangeiro Sandra Medeiros actuou em
Espanha, Luxemburgo, Alemanha, Inglaterra, Brasil e Uruguai.
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Orquestra do Algarve
19 de Junho (sábado) – 21h30
Cine-Teatro de Alcobaça
Concerto Sinfónico
1.ª Parte
ORQUESTRA DO ALGARVE
Alexandre Delgado, direcção
Luís Rodrigues, barítono
GUSTAV MAHLER
Adagietto da Sinfonia n.º 5
ALEXANDRE DELGADO
Santo Asinha, lenda para barítono e orquestra
(estreia absoluta, obra encomendada pela
Orquestra do Algarve)
I. O Renegado
II. O Monge
III. O Lenhador
IV. O Milagre
2.ª parte
LUDWIG VAN BEETHOVEN
Sinfonia n.º 5 em dó menor, op. 67
I. Allegro com brio
II. Andante con moto
III. Allegro
IV. Allegro-Presto (Finale)
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NOTAS À MARGEM
por Alexandre Delgado
Nascido em Kaliste, na Boémia, em 1860, e falecido em Viena em 1911, Gustav Mahler é
uma figura equiparável a Richard Strauss, também ele um brilhante chefe de orquestra e um
compositor que marcou a sua época. Ao contrário da natureza ensolarada do músico bávaro,
nesse austríaco de origem judaica encontramos uma concepção trágica da vida que se reflecte
nos seus ciclos de canções e nas suas nove sinfonias que são outros tantos frescos capazes de
abarcar o universo.
Nenhum compositor esteve tão dividido entre o século XIX e o século XX como Mahler: a sua
música encarna o dualismo entre o mundo romântico e o mundo moderno, sobrepondo-os a
cada momento sem os fundir. Daí vem muito do seu fascínio e da sua carga expressiva: Mahler
sintetizou um mundo que chegava ao fim e um mundo que começava a nascer. Evocação
nostálgica de um passado que não podia ser reencontrado, a não ser de forma mais ou menos
corrompida ou com o fermento de uma nova época. Pelos seus contemporâneos Mahler era
considerado insultuosamente moderno ou estranhamente fora de moda; esta última visão foi
a mais frequente a seguir à sua morte, em 1911, durante os anos de “limbo” em que a sua obra
mergulhou (apesar de alguns defensores incansáveis, como os três compositores da 2.ª escola
de Viena, que viam nele um percursor). Até que na década de 60 se deu a grande viragem:
Mahler tornou-se um dos compositores mais adorados a nível planetário. Esse trajecto tem
curiosamente algo a ver com o do estilo Arte Nova (Jugendstil na Áustria), que depois da 1.ª
guerra mundial se julgou irremediavelmente antiquado e fora de moda e que com os anos
ganhou um fascínio irresistível, fazendo com que os quadros de um Gustav Klimt estejam hoje
entre os mais cotados do planeta. Só então se viu a que ponto tal movimento estético era rico e
inovador, a que ponto sintetizava uma época e anunciava a seguinte.
A 5.ª Sinfonia, composta entre 1901 e 1902, forma uma trilogia com a 6.ª e a 7.ª, constituindo uma
nova fase que prescinde da voz e do subtexto literário presentes nas sinfonias anteriores. Sobre
o andamento mais célebre dessa sinfonia, o Adagietto, é impossível não mencionar Morte em
Veneza, o filme realizado por LucchinoVisconti em 1971, que fez mais pela conversão à música de
Mahler do que muitos milhares de concertos: o quarto andamento da 5.ª Sinfonia foi aí utilizado
como contraparte musical da nostalgia crepuscular da novela de Thomas Mann, que narra a
paixão do velho escritor Aschenbach por um efebo, a sua ânsia por uma beleza inalcançável,
no quadro de um mundo em desintegração que é Veneza contaminada pela cólera. Esse amor
impossível é também a percepção dolorosa dum universo que chegava ao fim: o século XIX tem
no Adagietto da 5.ª de Mahler a sua mais sublime despedida. Encontramos aqui a veia lírica da
plena maturidade do compositor, entregue às cordas e à harpa numa singela forma-canção
que é também uma declaração de amor a Alma Schindler. Refira-se, contudo, a interessante
constatação feita por Frederico Lourenço (no livro Novos Ensaios Helénicos e Alemães) de como
a figuração rítmica inicial deste Adagietto, bem com a sua tonalidade de fá maior, nos remetem
para a forma musical do barroco francês intitulada Tombeau, um lamento pela morte de alguém;
o que nos aproxima do conceito romântico da indissociabilidade do amor e da morte.
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Foi através do livro Itinerário Português - O Tempo e a Alma de José Hermano Saraiva que conheci
em 1987 a lenda de Santo Asinha, essa comovente história dum assassino recebeu dum monge
a graça divina e acabou por ser ele próprio assassinado e “santificado” pelo povo minhoto, que
lhe dedicou uma ermida barroca que ainda hoje pode ser visitada na Serra d’Arga. Pedi então
a minha mãe Iva Delgado que convertesse essa história em conto, com o intuito de a adaptar
em música. O impulso para compôr a obra só surgiu duas décadas depois: aproveitando uma
encomenda da Orquestra do Algarve, pedi a Frederico Lourenço que convertesse esse conto em
poema e foi a partir dele que compus, entre 2 de Janeiro e 7 de Maio de 2010, esta lenda para
barítono e orquestra, com duração aproximada de 18 minutos.
SANTO ASINHA
Poema de Frederico Lourenço (a partir dum conto de Iva Delgado)
1. O Renegado
No rigor agreste do planalto
a que os antigos chamavam deserto,
não havia mosteiro, igreja ou nicho milagroso.
A serra não dava agasalho a ninguém.
Eram os perigos todos dignos de crónica:
um renegado malfeitor, capaz de tudo,
praticava assaltos, roubos e matanças.
Quando as ventanias, em noites de temporal,
desciam os vales e açoitavam os frágeis casebres,
tremiam de medo homens e mulheres.
Nesses apertos momentosos era tal o terror
que havia notícia de mães que morriam, hirtas,
com o rosário nas mãos;
o rosto lívido, a boca de esguelha,
apertando os filhos que mamavam no gélido peito.
As freguesias das faldas oravam e queimavam velas
para que Deus as livrasse da temida criatura.
Mas o Senhor não escutava os humildes,
deixando medrar o bandido,
todo ele arrogância e ruindade.
Então se lembraram de pedir justiça a El-Rei,
que prometeu alvíssaras pela sua captura.
Mas quem teria coragem coragem para travar voz com o miserável?
Prosseguia assim o escandaloso tormento, sem freio nem medida.
A peçonha do mal era tanta, que com a serra se confundia.
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2. O Monge
Um monge que ali passava, distraído nas rezas,
agradecia a Deus o sol e o ar e as belezas do céu.
Era dos que vão descalços e atentos às pedras do caminho.
Quando menos esperava, uma voz dura e seca travou-lhe o passo:
“Alto! Aqui da Serra d’Arga!”
Admirado, rodou e voltou a rodar, mas não viu criatura alguma.
“Quem fala com tal desmando?”
Num lampejo, saiu dum rochedo
um homem de jeito feroz que bradou assim:
“Se tens amor à vida, dá-me os teus bens!”
“Se me queres roubar, perdes o teu tempo.
Se me queres matar, perdes a tua alma.”
Vendo chegada a sua hora,
o frade encetou a oração dos caminhantes.
“Graças, Senhor Deus, por me apresentares esta criatura.
Graças por este salvador que não mereço.
A ti, irmão, agradeço o favor que me fazes.
Mata-me já. Bem-aventurado sou
como nenhum cristão à face da terra.”
Ajoelhado, esperou os golpes mortais,
mas o punhal não desceu.
As feições do malandro chispavam
não ódio mas sim espanto.
“Porque dás graças a Deus por eu te matar?”
“Porque com o martírio me abres as portas do céu.
Morrendo às tuas mãos eu morro bem, enquanto tu, coitado, viverás mal.”
“Mal! Que sabes tu da minha vida?”
“Sei que são enormes as tuas fadigas,
e que o inferno te alucina; sei que vives só e sem esperança.
A serra não é tua como julgas, tu és seu prisioneiro.
Crês ser livre, mas estás acorrentado ao mal que praticas.
É esse o teu castigo, criaste-o com tuas próprias mãos.
Emenda-te e pede perdão a Deus.”
Na mente do bandido somavam-se razões.
A todos metia medo
menos àquele monge solitário,
que bendizia a morte.
Descaiu o punhal, sem ânimo para o enterrar.
Estava cansado de ser foragido, de pertencer à raça dos malditos.
No rosto do pecador passavam receios antigos,
clamores e misérias, todo o missal da desgraça humana.
Escrito em cada ruga, via-se o mapa duma vida de crimes.
“Ah! Matei gente demais!”
42
Soltas as amarras do tempo,
as aves voltaram à sinfonia.
A luz do entardecer desdobrou-se
como um dossel de pano.
O frade ergueu o arrependido:
“Por figura te vejo asceta, não criminoso.
Por espírito te vejo homem de bem, não pecador.
Tens uma dívida para com os serranos.
Ajuda os homens que por aqui passam.
Será essa a tua expiação.”
O dia ficou pendurado no crepúsculo
até que os ventos da noite assolaram as encostas
e o silêncio a tudo envolveu.
3. O Lenhador
Algum tempo passado,
subia a custo a montanha
certo astuto lenhador,
sonhando com o lucro da sua lenha,
quando no sítio onde é áspera a encosta,
se entornou o carro de bois do montanhês.
Remoendo uma praga,
amaldiçoou a hora em que se meteu por atalhos.
Surgiu então dos azinheiros um homem de lento pisar,
que lhe ofereceu em voz mansa os seus préstimos:
“Mãos à obra, meu amigo, que se faz tarde o dia!”
Ferido de dúvidas, o aldeão fez seus cálculos.
Tão certo como estar na Serra d’Arga,
aquele homem era o bandido dos vaus.
Vendo o outro entregue à tarefa
de concertar-lhe o carro,
o aldeão media-o de esguelha.
Já se via furado no peito com golpe de punhal
e quanto mais medos bulia, mais violências fabricava.
Estudava pausas, movimentos, como furtivo caçador.
Mediu a distância, como quem mede o último passo da sua vida.
Era chegada a vez, sem hesitar:
Agora! Agora! Ergueu o machado
e num golpe único desfez o coiro ao malvado.
O ruído bruto empapou os ares
e o eco chapou fundo no céu.
Viu-lhe o espanto nos olhos parados,
inundados num charco de sangue.
Já ser humano não era, mas cadáver.
43
4. O Milagre
Não acreditavam as gentes da aldeia
que o vilão da serra se deixara matar.
Queriam vê-lo pendurado pelo pescoço, a balouçar.
Logo monte acima se estreou o alcaide
com os seus homens para confirmar o óbito.
Seguia atrás o povo, à má fila,
mais curioso que convencido.
Caminhavam sisudos,
pois o caso era de monta.
Sob o sol dardejante
o arquejar dos peitos
batia ritmo certo.
Sobrepunham-se as dúvidas
ao alívio enorme
de chegarem ao fim
tantos anos de terror.
Estaria morto deveras?
Estaria feito em pedaços?
Queriam vê-lo enterrado
por suas próprias mãos.
Subitamente, no mais ébrio dos acasos,
como num acesso de esplendor,
todas as aves do mundo de amor cantaram.
Fugiam sons de ínfimos esconderijos,
rompiam melodias dos arbustos,
esgueiravam-se arpejos das pedras,
como num claustro invadido por coros.
Que sucedia, meu Deus, que acontecia?
Que coisa de espantar!
Quedaram-se mudos, piedosos, prontos para a oração.
Ali, a poucos passos, jazia, de mãos postas,
aquele que fora bandido de profissão,
rente ao canteiro de flores que em redor nasciam;
sereno, mergulhado no sossego,
sem marcas de bruteza ou corrupção carnal.
Muitos julgaram ver um anjo a dormir.
Alguém murmurou:
“Milagre, deve ser milagre.”
Juraram erguer altar no local abençoado.
Baptizaram logo o patrono de Santo Asinha,
pois num ai passou do barco dos pecadores à nave dos santos.
Pouco tempo passado se construiu ermida, rude e imaculada.
Todos os anos, no dia da festa, romeiros de estandarte
44
e músicas sobem a serra em procissão.
A alegria é madre de bons momentos
e santa é a montanha que tais maravilhas produz.
Ludwig van Beethoven (Bona 1770 - Viena 1827) começou a conceber a sua 5.ª Sinfonia
em 1803 e completou-a em 1808; a estreia deu-se a 22 de Dezembro desse ano, na mesma
academia em que se estreou a 6.ª Sinfonia, Pastoral. A obra é dedicada a dois dos seus
principais mecenas, o conde Razumovski e o príncipe Lobkowitz, e ganhou especial
notoriedade em parte graças a um artigo de E.T.A. Hoffmann publicado na Allgemeine
Musikalische Zeitung em 1810 (e posteriarmente integrado no livro Kreisleriana). Essa
crítica, uma das mais célebres da história da música, contribuiu para a definição do espírito
romântico, três anos antes da publicação do livro De l’Allemagne de Madame de Staël. Dele
traduzimos a seguir um excerto:
«O crítico tem diante de si uma das obras mais importantes do mestre cuja proeminência como
compositor instrumental decerto ninguém põe em causa; estando de tal maneira impregnado pelo
assunto desta crítica, não lhe levem a mal se exceder os limites do elogio convencional e se esforçar
por transpôr em palavras todas as sensações profundas que esta composição nele fez nascer. Quando
se fala da música como arte independente, esse termo só se pode aplicar convenientemente à música
instrumental, que desdenha qualquer ajuda, qualquer mistura de outras artes, e dá pura expressão
à sua própria e peculiar natureza artística. É a mais romântica de todas as artes – podemos quase
dizer que é a única puramente romântica. A lira de Orfeu abriu as portas do Hades. A música revela
ao homem um reino desconhecido, um mundo claramente separado do mundo exterior sensual que
o rodeia, um mundo em que ele deixa para trás todos os sentimentos delimitados pelo intelecto, e se
torna capaz de abarcar o indizível. De que modo tão obscuro foi essa peculiar natureza da música
entendida por aqueles compositores instrumentais que tentaram representar sensações ou mesmo
acontecimentos circunstanciais, tratando assim esculturalmente a arte mais oposta à escultura!
Essas sinfonias de Dittersdorf, bem como todas as mais recentes Batailles des trois empereurs etc.,
deviam ser condenadas ao total esquecimento como ridículas aberrações. No canto, onde a poesia
justaposta sugere afectos precisos através das palavras, o poder mágico da música actua como o elixir
miraculoso do filósofo, do qual bastam algumas gotas para tornar qualquer bebida maravilhosamente
deliciosa. Qualquer paixão – amor, ódio, raiva, desespero, etc. – que nos é apresentada na ópera vem
vestida pela música com o brilho púrpura do romantismo, de tal modo que até as nossas sensações
mundanas nos tranportam do dia-a-dia para o reino do infinito. O poder enfeitiçante da música é tal
que, ao crescer cada vez mais, só pode romper as cadeias de qualquer outra arte.
Decerto que não foi apenas a melhoria dos meios de expressão (perfeição dos instrumentos, maior
virtuosismo dos executantes), mas também uma noção mais profunda da natureza peculiar da
música, que permitiu a grandes compositores elevar a música instrumental ao nível de hoje. Haydn e
Mozart, os criadores da música instrumental moderna, foram os primeiros a mostrar-nos a arte em
toda a sua glória; mas aquele que a olhou com total devoção e penetrou na sua natureza mais íntima
foi Beethoven. As composições instrumentais de qualquer um dos três mestres respiram o mesmo
espírito romântico precisamente porque todos eles captam intimamente a natureza essencial da arte;
contudo o carácter das suas composições é acentuadamente diverso.
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As composições de Haydn são dominadas por um sentimento de optimismo infantil. As suas sinfonias
conduzem-nos por infindáveis caminhos verdejantes ao longo da floresta, num tropel de gente alegre
e variada. Rapazes e raparigas passam dançando em roda; crianças riem-se por trás das árvores,
escondem-se atrás das roseiras, atirando flores traquinamente umas às outras. Um mundo de
amor, de bem-aventurança, de eterna juventude, como que anterior à Queda; sem sofrimento, sem
dor; apenas um anseio doce e melancólico da amada visão flutua ao longe no clarão vermelho do
entardecer, que não se aproxima nem se afasta; e enquanto lá estiver a noite não cairá, pois a visão
é o próprio brilho do entardecer, que ilumina os montes e o caminho.
Mozart faz-nos mergulhar a fundo no reino dos espíritos. O medo está em redor, mas sustem os
seus tormentos e torna-se antes uma intimação do infinito. Ouvimos as vozes gentis do amor e da
melancolia, o mundo nocturno dos espíritos dissolve-se numa poalha púrpura, e com um anseio
inexprimível seguimos as figuras esvoaçantes que nos acenam amáveis por entre as nuvens, para nos
juntarmos à sua eterna dança das esferas (como, por exemplo, na sinfonia de Mozart em mi bemol
maior, conhecida como ‘o canto do cisne’).
De modo semelhante, a música instrumental de Beethoven desvenda-nos o reino da grandeza e
do incomensurável. Raios brilhantes de luz atravessam as trevas e apercebemo-nos de sombras
gigantes que avançam e recuam, cada vez mais próximas, destruindo em nós qualquer sentimento
que não seja a dor de um infinito anseio, no qual todos os desejos se afundam e desvanecem, brotando
em sons exultantes. Só nessa dor, em que o amor, a esperança e a alegria se consomem sem ser
destruídas, que ameaça romper os nossos corações com um grito concertado de todas as paixões, nós
vivemos como visionários extáticos.
A sensibilidade romântica é rara, e o talento romântico ainda mais raro, e provavelmente por isso
é que tão poucos são capazes de tocar a lira que abre as portas do maravilhoso reino do infinito.
Haydn apreende romanticamente a humanidade na vida humana; está mais próximo do homem
comum. Mozart escolhe como domínio o sobre-humano, a qualidade mágica que reside no íntimo ser.
A música de Beethoven põe em movimento a maquinaria do temor, do medo, do terror, do sofrimento,
e desperta aquele infinito anseio que é a essência do romantismo. Beethoven é um compositor
puramente romântico, e como tal verdadeiramente musical. Isso pode talvez explicar porque é menos
bem sucedida a sua música vocal, uma vez que não permite esse vago anseio e exprime em vez disso
os sentimentos do reino do infinito que podem ser descritos por palavras; talvez por isso a sua música
instrumental raramente cative a multidão. Mas nem a multidão desconhecedora da profundidade
de Beethoven lhe negará um alto grau de inventividade; pelo contrário, é habitual encarar os seus
trabalhos apenas como produtos de um génio que ignora a forma e o discernimento e se subjuga
ao seu fervor criativo e aos ditames flutuantes da sua imaginação. Contudo, ele está plenamente
à altura de Haydn e Mozart em matéria de reflexão, o seu controlo é independente do mundo dos
sons, que domina com absoluta autoridade. Assim como os nossos fiscais estéticos muitas vezes se
queixaram da total falta de verdadeira unidade e coerência interna em Shakespeare, quando só
uma contemplação profunda mostra como o esplêndido tronco, os rebentos e as folhas, florescem e
frutificam a partir de uma mesma semente, também só o estudo perspicaz da estrutura interna da
música de Beethoven pode revelar o seu elevado grau de reflexão, que é inseparável do verdadeiro
génio e se alimenta do estudo contínuo da arte. Beethoven transporta o romantismo da música, que
ele exprime com tal originalidade e autoridade nas suas obras, nas profundezas do seu espírito.
46
O crítico nunca sentiu isso com tanta acuidade como na presente sinfonia. Ela revela o romantismo de
Beethoven, crescendo num clímax até ao fim, mais do que em qual outra das suas obras, arrastando
irresistivelmente o ouvinte para o maravilhoso reino espiritual do infinito.»
OS INTÉRPRETES
A ORQUESTRA DO ALGARVE (OA) estreou-se no Festival Internacional de Música do
Algarve em 2002. Criada ao abrigo de um programa promovido pelo Ministério da Cultura,
tem como fundadores, além da Região de Turismo e da Universidade do Algarve, um núcleo
de autarquias algarvias: Albufeira, Faro, Lagos, Loulé, Portimão e Tavira. Os municípios de
Alcoutim, Castro Marim, Olhão, Lagoa, S. Brás de Alportel, Vila Real de S. António, Silves e
Vila do Bispo, juntamente com o Governo Civil de Faro e a Direcção Regional de Educação do
Algarve tornaram-se, entretanto, associados. A OA é composta por músicos seleccionados em
concurso público internacional, reunindo cerca de 17 nacionalidades diferentes. Destinada a
dotar a Região de uma estrutura cultural de elevado nível artístico, desenvolve uma actividade
multifacetada, com programação destinada às populações locais e turistas. Promove também
acções pedagógicas, junto de camadas escolares, e formativas, para jovens músicos. O então
Maestro Titular e Director Artístico Álvaro Cassuto teve um papel fundamental na constituição
da sua formação, mantendo a sua ligação a esta Orquestra até Julho de 2008, na posição de
Principal Maestro Convidado. No seu currículo, constam apresentações nos principais palcos
nacionais, como o Teatro S. Luiz, Sala do Senado da Assembleia da República, Teatro D.
Maria II e Culturgest. Foi convidada, em 2007, para protagonizar o concerto de celebração
da assinatura do Tratado de Lisboa. Neste último, a OA levou à capital um novo conceito que
já tinha apresentado em Albufeira, na Praia dos Pescadores: a edição dos “Sons Ardentes”,
um inovador espectáculo que combina a pirotecnia e a música clássica tocada ao vivo, tem
brindado o público algarvio anualmente, no mesmo local, com sucesso cada vez mais
reconhecido. Em 2008, com a ópera “O Elixir d’ Amor”, uma produção da Fundação INATEL/
Teatro da Trindade, percorreu as salas do Teatros da Trindade e das Figuras, Coliseu do Porto,
e dos Centros Culturais de Caldas da Rainha e Guimarães. 2009 foi o ano em que a OA estreou
mais um conceito inovador, com o apoio institucional da DREALG e da autarquia de Portimão
e o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos; o “Mega Concerto Promenade para Escolas”, com
a participação especial do cantor André Sardet, foi um grandioso espectáculo para cerca de
3.500 alunos, professores e educadores do concelho de Portimão. Em Janeiro de 2010, a OA
viajou, pela primeira vez, ao Açores, para uma grandiosa actuação em conjunto com o Coral
de São José, no Teatro Micaelense, onde estiveram em palco mais de cem músicos. A nível
internacional, a OA realizou, em 2004, a sua primeira digressão, marcando presença em Itália
e Espanha. Desde então, capitais europeias como Bruxelas (2006), Viena de Áustria (2007) e
Londres (2008) foram palco de concertos entusiasticamente aplaudidos por público e crítica.
A convite da Orquestra de Extremadura, seguiu-se uma nova digressão por Espanha (2008),
passando por Cáceres, Badajoz, Mérida e Plasência. O seu repertório discográfico é composto
de obras de Joly Braga Santos, João Domingos Bomtempo, Mozart, Juan C. Arriaga, entre outros,
para etiquetas como a Naxos (“a mais vendida no Mundo”, segundo o New York Times), a Marco
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Polo e a Numérica. Durante a sua relevante actividade cultural, a Orquestra do Algarve tem
sido dirigida por maestros de envergadura internacional, como Joji Hattori, Wolfgang Czeipek,
Thomas Kalb, Joel Levine, Nino Lepore, Alexander Polishchuk, Stuart Stratford, Nikolay
Lalov, Laurent Wagner, Jesus Amigo, Vasily Petrenko, Josep Caballé-Domenech, entre outros,
e contou já com a colaboração de vários maestros portugueses, tais como Osvaldo Ferreira,
Cesário Costa, Vasco Pearce de Azevedo, Joana Carneiro, Ferreira Lobo e Alberto Roque e ainda,
como maestros estagiários, António Sérgio Ferreira e João Tiago Santos. Destaque também para
a colaboração com solistas de renome como Ingeborg Baldaszti, Mário Laginha e Bernardo
Sassetti, Artur Pizarro, Maria Orán, Pedro Burmester, Sequeira Costa, Ana Quintans, Fernando
Guimarães, Luís Rodrigues, Mário Alves, Ana Ester Neves, Dora Rodrigues, Lara Martins,
Elisabete Matos, Patrícia Kopatchinskaja, Ute Lemper, Ruth Ziesak, entre muitos outros.
Actualmente, Osvaldo Ferreira acumula as funções de Maestro Titular e Director Artístico,
enquanto Alexandre Delgado é Compositor Associado da OA. A crítica especializada é unânime
nas apreciações quanto à qualidade artística desta Orquestra, reafirmando, cada vez mais, o seu
lugar no panorama da música clássica.
ALEXANDRE DELGADO (direcção), compositor e violetista, nasceu em Lisboa em 1965. Estudou
na Fundação Musical dos Amigos das Crianças e foi aluno em composição de Joly Braga Santos e
de Jacques Charpentier, tendo-se diplomado com o 1.º prémio de composição do Conservatório
de Nice em 1990. É autor da ópera de câmara O Doido e a Morte (1993), cuja estreia dirigiu no
Teatro Nacional de São Carlos e no Theater Am Halleschen Ufer em Berlim, do Concerto para
violeta e orquestra (2000) que estreou como solista em Portugal, Espanha e Holanda, e da ópera
A Rainha Louca (2009), cuja abertura foi estreada no Rudolfino de Praga. Assina o programa A
Propósito da Música na Antena 2 desde 1996 e é autor dos livros A Sinfonia em Portugal, A Culpa é do
Maestro (crítica musical) e Luís de Freitas Branco (Caminho 2007). Director artístico do Festival
de Música de Alcobaça desde 2002, é membro do Quarteto com Piano de Moscovo desde 2005
e free-lancer como instrumentista, conferencista e comentador de concertos.
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LUÍS RODRIGUES (barítono) estudou no Conservatório Nacional com José Carlos Xavier e na
Escola Superior de Música de Lisboa com Helena Pina Manique. Nestes estabelecimentos de
ensino trabalhou também sob a orientação de Armando Vidal, Nicholas McNair, Olga Prats
e Nuno Vieira de Almeida. Participou em cursos de aperfeiçoamento com Ileana Cotrubas,
Marimi del Pozo, Elsa Saque, Lorraine Nubar, Gérard Souzay e Dalton Baldwin. Actualmente,
trabalha repertório com João Paulo Santos. Em 1995, foi laureado com o 3º prémio ex-aequo
no concurso de solistas da Juventude Musical Portuguesa e com o 1º prémio no II Concurso de
Interpretação do Estoril. Ganhou também, com o pianista David Santos, o concurso de Música
de Câmara do Prémio Jovens Músicos da RDP. Em 1996, foi vencedor do 4º Concurso de Canto
“Luísa Todi”, e obteve o 2º Prémio no Concours-Festival de la Mélodie Française, em SaintChamond (França). Já em 1999 foi o vencedor ex-aequo do concurso PoulencPlus (Mélodies
de Poulenc), em Nova Iorque. Reconhecido intérprete de música de câmara, Luís Rodrigues
tem-se afirmado em simultâneo no domínio da ópera, em papéis como os de Schaunard
(La Bohème), Conde Robinson (Il Matrimonio Segreto), St. Ignatius (Four Saints in Three Acts) e
Harlekin (Ariadne auf Naxos) no Teatro Nacional de São Carlos, Pai (A Casinha de Chocolate) no
Teatro da Trindade, Anthony (Sweeney Todd), com o Novo Grupo, no Teatro Nacional D. Maria
II, Mr. Gedge (Albert Herring), também com o Novo Grupo, no novo Teatro Aberto, Semicúpio
(Guerras do Alecrim e Mangerona), com a Capela Real, no Acarte e no Teatro da Trindade, cuja
criação lhe valeu o Prémio Bordalo da Imprensa 2000 para Música Erudita, Marcello (La
Bohème), com o Círculo Portuense de Ópera e a Orquestra Nacional do Porto, no Coliseu daquela
cidade, Tom (The English Cat), com a Cornucópia e a ONP, no Rivoli e Teatro Nacional de São
Carlos, Giorgio Germont (La Traviata), com a Orquestra do Norte, no Coliseu do Porto, e Belcore
(L’Elisir d’Amore) e Figaro (Il barbiere di Siviglia), com a Eventos Ibéricos e a Orquestra do Norte.
Participou ainda na estreia absoluta das óperas Édipo, A Tragédia do Saber (Culturgest e Teatro
Nacional de São João) e Os Dias Levantados (Teatro Nacional de São Carlos), ambas de António
Pinho Vargas, Sol de Invierno, de David del Puerto, com o grupo Drumming (Madrid, Auditorio
Nacional de Música, e Porto, Teatro Nacional de São João), e Melodias Estranhas, de António
Chagas Rosa, com o Remix Ensemble - Casa da Música, co-produção das Capitais Europeias da
Cultura Roterdão e Porto 2001. Também como solista de oratória tem mantido uma actividade
regular, podendo-se realçar as suas apresentações no Requiem de Brahms, em Macau, na Petite
Messe Solennelle de Rossini, em São Carlos, no Oratório de Natal de Saint-Saëns, no Europarque,
e em vários programas com o Coro e Orquestra Gulbenkian, com os quais gravou, para a Aria
Music, o Requiem de Suppé, e para a Strauss-Portugalsom um Gloria de Bomtempo, ambos sob
a direcção de Michel Corboz.
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THE CARNIVAL
CONCERT
20 de Junho (domingo) – 18h00
Cine-Teatro de Alcobaça
Concerto para Famílias
1.ª Parte
Trevor Wye, flauta
Juliet Edwards, piano
JEAN-LOUIS TULOU
Fantaisie
EDWARD ELGAR
(Obra a anunciar)
GAETANO DONIZETTI
Concertino
2.ª Parte
50 variações para 60 flautas e piano
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NOTAS À MARGEM
“The Carnival Concert” é um espectáculo da autoria do flautista Trevor Wye que tem percorrido
todo o mundo nos últimos trinta e cinco anos. Este concerto conta com uma primeira parte de
recital em Flauta de Amor e, depois do intervalo, a hilariante perfomance das 50 Variações do
Carnaval de Veneza para 60 Flautas e Piano.
O Carnaval começa com uma pequena introdução seguida das Variações interpretadas com
uma colecção das mais variadas flautas, esta colecção inclui a “Flauta Mágica” original de
Mozart, uma flauta que dá luz, a “Emotive Flute”, uma tíbia humana, a flauta mais rara do
mundo – um flautim triplo, uma flauta com 750 anos, uma bomba de ar de bicicletas, várias
flautas electrónicas, flautim, flautas contralto e baixo, uma flauta barroca, uma ocarina, uma
flauta de cenoura, flautas de Pã, uma flauta que lança chamas e muito, muito mais. As Variações
incluem obras de Aldord, Bach/Gounod, Beethoven, Briccialdi, Chopin, Drouet, Genin, Greig,
Mendelsshon, Mozart, Rachmaninov, Rossini, Sousa, Saint-Saëns, Scott, Strauss, Schubert,
Spike Jones, Tchaikovski, Weber, Wye, Bloggs e um pouco mais de Mozart.
Todas as flautas electrónicas foram feitas por Trevor Wye, os arranjos de piano são da autoria de
Robert Scott.
52
OS INTÉRPRETES
TREVOR WYE (flauta) é um dos mais consagrados pedagogos e flautistas do seu tempo. É autor
de uma série de livros, cuja temática incide sobre aspectos técnicos da execução da flauta
transversal. Começou a sua actividade como estudante de flauta com catorze anos de idade e,
contrariamente ao que é esperado de um famoso músico flautista, não frequentou nenhuma
escola superior ou conservatório de música, tendo desenvolvidos estudos em privado com
os professores Geofrey Gilbert e com o célebre Marcel Moyse, de quem absorveu a forma de
tocar, de ensinar, o gosto pela escrita e criação de livros. Durante muitos anos apresentou-se
como freelancer, tanto em orquestras como em agrupamentos de música de câmara em todo o
panorama Londrino, tendo feito um grande número de gravações a solo, notavelmente na sua
especialidade da “flûte d’amour”, introduzida por si nos tempos modernos. O seu período de
formação foi vincadamente influenciado por muitos instrumentistas e cantores, de destacar,
William Bennett e Alfred Deller. No ensino desenvolveu a sua actividade como Professor
na Guildhall School of Music and Drama, em Londres e, durante 21 anos, leccionou no Royal
Northern college of Music, em Manchester. É autor dos famosos “Practice Books for the Flute”,
recebidos e aclamados com grande fervor em todo o mundo, e que já se encontram traduzidos
em onze línguas diferentes. Recentemente foi o responsável pelo lançamento da muito elogiada
biografia de Marcel Moyse, publicada em várias línguas, encontrando-se agora a trabalhar numa
enciclopédia de flauta. Durante o ano, Trevor Wye lecciona no seu estúdio, em Kent, um curso
anual para estudantes pós-graduados (licenciados), e viaja por todo o mundo, apresentandose em concertos e masterclasses, o que inclui várias aparições anuais por toda a Europa, E.U.A.
e Japão. É do seu agrado surgir, frequentemente, como jurado em importantes concursos
internacionais de flauta e como concertista em recitais, apresentando “Flutes Fantastic!”, um
hilariante espectáculo comentado, no qual toca mais de cinquenta flautas diferentes, algumas
electrónicas, cuja construção lhe pertence. Fundador da “British Flute Society”, Trevor Wye
também foi o fundador e director da “International Summer School” entre 1969 e 1988, o maior
“acampamento” de Verão de flauta realizado em todo o mundo. Em 1990 foi homenageado pelo
Royal Northern College of Music, tendo-lhe sido atribuído o título de membro honorário.
JULIET EDWARDS (piano) apresentou-se em concerto um pouco por todo o mundo ao longo da
sua carreira, tocando com inúmeros solistas e ensembles de renome incluindo Paul Archibald,
Emma Bell, William Bennett, David Campbell, Philippa Davies, Gerard McChrystal, Crispian
Steele-Perkins, Robert Tear, Trevor Wye, the Schildof Quartet e o seu próprio grupo The
Edwards Ensemble. Toca regularmente em masterclasses na Royal Academy of Music e orienta
os alunos nas classes de repertório instrumental e performance. Trabalha ainda regularmente
com a Orquestra Sinfónica de Londres como parte do projecto “LSO Discovery”. As suas
gravações mais recentes incluem o disco “Joie de Vivre” com repertório francês para trompete
e piano para a Brass Classics e a Sonata Virtuosa para Trompete do compositor e proprietário
da editora MaxOpus Sir Peter Maxwell Davies, ambos com o trompetista Paul Archibald.
Gravou ainda com o International Celebrity Trumpet Ensemble “Khaldis”, um concerto para
trompetes, piano e percussão de Alan Hovhaness para a Brass Classics CD Proclamation. Para
além da sua actividade como concertista Juliet produz gravações, incluindo projectos recentes
com a Royal Opera House e com os “London Mozart Players”.
53
CeDeCe
Contos Dançados de 3 países · Estreia Absoluta
26 de Junho (sábado) – 21h30
Cine-Teatro de Alcobaça
CeDeCe – Companhia De Dança
Contemporânea
Croácia
derrotou o invasor castelhano. Chegando a
casa cansada mas satisfeita, despertou-a um
estranho ruído: dentro do forno estavam sete
castelhanos escondidos. Brites pegou na sua
pá de padeira…
BEFORE DREAM (antes do sonho)
Coreografia: Staša Zurovac
Música original: Marjan Necak
Um conto inspirado num drama do escritor
croata Lada Kartelan acerca do tema
balcânico “The Legend of the Cow’s Bell”
(“a lenda do chocalho da vaca”)
Portugal
PÃO DE BRITES
Coreografia: Fernando Duarte
Música: Wolfgang Amadeus Mozart
(1.º Andamento da Sinfonia n.º 25 K. 183
Allegro con brio | 3.º Andamento da Serenata
para sopros K. 361, Adagio | Introitus e Dies
irae do Requiem K. 626 | Ária Dove Sono da
ópera “As Bodas de Fígaro” por Elizabeth
Schwarzkopf, soprano) e música cigana do
séc. XVIII.
Elenco:
Catarina Correia: Brites de Almeida
Joana Puntel: Padeira Velha
Patricia Silva, Vanessa Vieira, Rafaela Reis,
Luciano Fialho: Castelhanos
Canadá
THE INUIT GODS (Os Deuses Inuit)
Coreografia: Jacques St-Cyr
Música: Tradicional Inuit – Voz: Tanya Tagaq
Direcção de Cena e Desenho de Luz: António
Rodrigues
Elenco:
Patricia Silva: Sol
Joana Puntel: Mar
Rafaela Reis: Vento
Catarina Correia: Caça
Vanessa Vieira: Fertilidade
“Tenho como objectivo, neste bailado,
proporcionar ao público europeu algo da
cultura maravilhosa deste povo, pela sua
harmonia com as forças da natureza e os
deuses que a representam.” (Jacques St-Cyr)
O dia 14 de Agosto de 1385 amanheceu com os
primeiros clamores da batalha de Aljubarrota
e Brites não conseguiu resistir ao apelo da sua
natureza de mulher dura e de feições ásperas,
que enfrentava sem medo qualquer homem.
Pegou na primeira arma que achou e juntouse ao exército português que naquele dia
Estrutura financiada por
Apoios
Companhia residente em
55
OS INTÉRPRETES
A CeDeCe é uma Companhia de Reportório fundada em Abril de 1992 e dirigida artisticamente por
Maria Bessa e António Rodrigues, desde a sua fundação em Setúbal. Aposta numa flexibilidade
que permite diferentes perfis na sua linha de criação e na inter-relação da maturidade artística
com o jovem talento. Mantém em cada ano um elenco permanente de bailarinos e com eles tem
realizado espectáculos em quase todo o País e ainda em Lübeck, Hamburgo, Emden, Berlim,
Frankfurt, Londres, Bienne, Aberdeen, Edimburgo, Macau, Nápoles, Curitiba, Ponte Vedra, Tui,
Ourense, Madrid, Madeira, República da Irlanda, Rijeka e Varazdin na Croácia. Considera marco
no seu repertório, que conta com 157 obras em estreia absoluta e 55 coreógrafos, A Sibila, Dançar
Zeca Afonso e T’ai Chi Modern Dance de António Rodrigues, Um Outro Musical e Mecânica de Gagik
Ismailian, Por de trás de um acontecimento feliz de Hofesh Shechter, Cântico dos Cânticos de Staša
Zurovac, Romeu e Julieta de Graham Smith, A verdade, é que somos todos malucos de Sónia Rocha
e Swing It de Iolanda Rodrigues, entre alguns outros. Destaca EXCHANGE 2007 e 2008 pelo
diálogo intercultural e intercâmbio dos públicos; Pioneiros da Dança em Portugal, A Influência
do Bailado na Grã-Bretanha, A Influência da Dança Norte-Americana entre nós e Dança e
Politica Cultural no âmbito da Memória e Modernidade; Muito Jovens Coreógrafos/Bailarinos
assinam também, no lançamento de novos talentos; Aprender para Saber Ver ou Ver para
Aprender ou ainda tão somente programas de Dança enquanto entertainment, são os vectores
-base do seu percurso. É também serviço público reconhecido, apoiado financeiramente pelo
Ministério da Cultura e pelos Município em que tem sido residente. Tem tido o apoio pontual do
British Council e da Embaixada dos Estados Unidos, e ainda das Embaixadas dos Países Baixos,
do Chipre, do México, da Croácia e do Canadá.
FERNANDO DUARTE nasceu em Lisboa em 1979. Iniciou e completou os seus estudos de bailado
na Academia de Dança Contemporânea de Setúbal sob a orientação dos professores Maria Bessa
e António Rodrigues. Em 1995/96 foi bailarino estagiário na CeDeCe – Companhia de Dança
Contemporânea na qual dançou obras de António Rodrigues, Vasco Wellenkamp, Gagik Ismailian
e Sónia Rocha. Ingressou no Corpo de Baile da Companhia Nacional de Bailado em Setembro de
1996, sendo promovido a Corifeu em 1998, a Solista em 1999 e finalmente a Bailarino Principal
em 2003. Na CNB tem dançado na maioria dos seus espectáculos quer em território nacional,
quer em território estrangeiro. Do seu repertório fazem já parte as interpretações dos papéis
principais nos bailados Cinderela, A Bela Adormecida, Coppelia, Raymonda, O Quebra-Nozes, A
Dama das Camélias, Romeu e Julieta e Sonho duma Noite de Verão. Apolo, Agon, Serenade e Who Cares!?
de Balanchine são outros exemplos assim como bailados de W. Forsythe (In the Middle Somewhat
Elevated), Hans van Manen (5 Tangos, Kammerballet, Solo), Renato Zanella (Adagietto), Nacho
Duato (Without Words), Roberth North (Troy Game, Light Fandango, Entre Dos Aguas), Kevin O’Day
(Aract, A Cloud in Trousers), Olga Roriz, Vasco Wellenkamp, David Fielding e Rui Lopes Graça.
De Agosto de 2005 a Junho de 2007 fez parte do elenco do Nasjonalballetten da Noruega onde
se destacou, como solista, em vários bailados, tais como White Darkness de Duato, Polyphonia
de Christopher Wheeldon, Subject to Change de Lightfoot/Léon, O Quebra-Nozes (Príncipe),
Bodas de Aurora (Príncipe), Os 4 Temperamentos (Fleumático), Symphony in Three Movements (3rd
Couple) e Symphony in C (Solista, 1º Andamento) de Balanchine e no papel de Lensky em Onegin
de John Cranko. Participou na I e II Galas Internacionais de Bailado de Lisboa, assim como
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outras em Miami e Imatra, na Finlândia. Coreografou para a CeDeCe Fantasia em len(sol) maior
em 2002, para a DançArte foi co-autor do programa Abril, Águas Mil e participou nos Estúdios
Coreográficos da CNB em 1999, 2001 e 2003. Em 2009 coreografou para a CeDeCe, O Corvo e
a Raposa integrado no programa Um Encontro de Personagens das Fábulas de La Fontaine. A
convite da Direcção Artística da CNB apresentou na V Gala Internacional de Bailado de Lisboa,
em estreia absoluta, Címbalo Obbligato sobre música de Carlos Seixas.
MARJAN NECAK nasceu em 1976 em Bitolj, na Macedónia. Os seus estudos musicais foral
levados a cabo na Escola de Música dessa cidade. Graduou-se como violoncelista e cantora
solista. Desde muito novo que se interessou pela composição e neste campo, poder-se-á
dizer que é uma autodidacta. Desde 1997 que compõe, nomeadamente para teatro, tendo as
suas obras sido apresentadas nos teatros nacionais da Macedónia e da Albânia. Algumas obras
foram também especialmente encomendadas para opereta, ópera, musicais e para bailado.
Neste âmbito o seu trabalho é especialmente conhecido nos teatros nacionais de Bitolj,
Albânia, Kosovo, Macedónia… e muitos mais, tendo trabalhado com distintos Directores tais
como Blagojce Bozinovski, Dusko Naumovski, Vladimir Milcin, Kustrim Bektesi. Foramlhe atribuídos 3 prémios “Best Theatr Music” no Festival de Teatro Vojdav Cenodrinski da
República da Macedónia. É autora musical de Penélope e Cântico dos Cânticos, contribuindo
assim largamente para a unidade do espectáculo Ancient Times Today.
JACQUES ST-CYR é natural do Canadá. Da sua formação destaca George Balanchine do New York
City Ballet, Bob Fosse, Maurice Bejart, John Butler e Gene Kelly. Foi bailarino solista durante 10
anos na prestigiada companhia Les Grands Ballets Canadiens de Montreal. Com esta Companhia
realizou digressões por toda a Europa, 40 Estados dos Estados Unidos da América, México,
Cuba, Rússia, Japão, Tahiti e Guadalupe. Interpretou grandes bailados do reportório clássico e
neo-clássico, tais como: Concerto Barocco, Serenade, 4 Temperaments, Theme & Variations, Rubies,
Allegro Brillante, Nutcracker, Carmina Burana e Romeo & Juliet. A sua carreira inclui as posições de
Director Artístico dos Les Ballets Jazz du Quebec e das Produções Pro-Arts. Tem sido Maître de
Ballet convidado no Sarosota Ballet, na Companhia Rosas da Bélgica, na Companhia Norrdans
da Suécia e na CeDeCe – Companhia de Dança Contemporânea. Em 2009 coreografou um solo
para a Companhia Norrdans da Suécia e para a CeDeCe, Queen of Egipt, com ante-estreia em 5
de Junho no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.
STAŠA ZUROVAC, bailarino, coreógrafo e primeiro bailarino do Ballet CNT (Teatro Nacional
Croata) em Zagreb, formou-se na Escola Clássica de Ballet em Zagreb como aluno da professora
Tatjana Lucic-Šaric e continuou os estudos de dança em Petrograd na Academia Vaganova
como aluno de V. C. Onoschko. Em 1989 integrou-se no Ballet do Teatro Nacional Croata em
Zagreb onde trabalhou com vários coreógrafos conhecidos. Desde 1996 dedicou-se à dança e
à coreografia. As suas duas primeiras coreografias New Beginning em 1996 e Cantata em 1997
foram apresentados durante o 1º e 2º Workshops Coreográficos organizados pelos membros do
CNT Ballet em Zagreb. Entre 1996 e 1999 foi artista convidado na Companhia Portuguesa de
Bailado Contemporâneo, cujo director artístico é o coreógrafo português Vasco Wellemkamp.
Em 2000 ganhou o Croatian Acting Award para melhor criativo jovem no bailado Please, Wake
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me up! No ano 2001, em conjunto com Mark Boldin, estabeleceu o Atelier Coréographique e
criou a coreografia para o bailiado Gods are Angry (Les dieux sont fachés). Em Maio de 2001
ele foi honrado com o Primeiro Prémio e o Prémio Audiência pela coreografia de The Fiancée’s
Dream no 5º Festival de Miniaturas Coreográficas em Belgrado. Em Junho de 2003 a mesma
coreografia mereceu-lhe o Segundo Prémio no Concurso Internacional para Coreógrafos em
Hannover. No mesmo ano também criou o seu ballet completo Crikus Primitif Ballet. Em Agosto
de 2003, na 49ª Split Summer Festival, coreografou em conjunto com Be’er Butterflies e foi-lhe
atribuído o prémio Peristyl Music Award do jornal Morning Paper, para o melhor performance
musical/cénica. Em Outubro de 2003 para ISCM World Music Days na Eslovénia coreografou
dois bailados, Purgatório e Kirklos, e recebeu o prémio do Júri Internacional para o melhor
trabalho de dança. Em Novembro 2003 tornou-se director artístico do ballet do CNT “Ivan
pl. Zajc” em Rijeka, Croácia. Em Maio de 2004 criou a sua segunda obra completa, Do You Like
Brahms?, para o Ballet CNT “Ivan pl. Zajc” em Rijeka, Croácia. Em Dezembro de 2004 a sua
terceira obra completa, Who is Singing There?, para o Ballet do Teatro Nacional de Belgrado, que
ganhou o prémio da Sociedade Profissional de Artistas do Ballet da Sérvia e o Prémio da Cidade
de Belgrado. Em Fevereiro de 2005 coreografou a obra Marquezomania para o Ballet da CNT
“Ivan pl. Zajc”. Em Agosto de 2005 foi galardoado com o Peristyl Music Award do Morning
Paper. Em Março de 2006 assina The Divine Comedy para o Ballet do Teatro Nacional da Sérvia
em Novi Sad. Em Maio de 2006 renovou o seu bailado Cirkus Primitif Ballet para o CNT «Ivan
pl. Zajc» em Rijeka. Em Novembro de 2007 cria a seu 7º bailado completo para o Ballet do
Teatro Ivana pl. Zacja, Rijeka – Croácia. Staša Zurovac é autor do bailado Cântico dos Cânticos
coreografado para a CeDeCe, no âmbito da co-produção Ancient Times Today, estreado em Julho
de 2008.
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TUBAX
27 de Junho (domingo) – 18h00
Centro Cultural Gonçalves Sapinho (Benedita)
PEDRO SANTOS (Portugal)
O Sonho do Arlequim *
para saxofone tenor, tuba, harpa, piano e
quarteto de cordas
TUBAX
Sérgio Carolino, tuba e lusofone ‘Lucifer’
Mário Marques, saxofones soprano e tenor
Telmo Marques, piano
PAULO JORGE FERREIRA (Portugal)
Rítmo Set *
para saxofone soprano, tuba, acordeão e
quarteto de cordas
Quarteto de Cordas AMOROSO
Maria Kagan, Ianina Khamelik, violinos
Trevor McTait, viola
Vanessa Pires, violoncelo
MIKE FITZPATRICK (Austrália)
Chimbaroza *
para saxofone tenor, tuba, piano e quarteto
de cordas
Convidados:
Paulo Jorge Ferreira, acordeão
Ilaria Vivan, harpa
HOWIE SMITH (EUA)
Color Wheel *
suite para saxofone soprano, tuba, piano e
quarteto de cordas
JERRY GRANT (EUA)
Mountain Dances *
para saxofone soprano, tuba, piano e
quarteto de cordas
1. Spring Wild Flowers
2. Winter Blue
* obras em ESTREIA MUNDIAL
encomendadas por, escritas para e
dedicadas a Sérgio Carolino e ao projecto
TUBAX.
Parceria:
Centro Cultural Gonçalves Sapinho
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NOTAS À MARGEM
PEDRO SANTOS (1976 – Portugal): O Sonho do Arlequim (2010). Natural de Oliveira de Azeméis,
Pedro Santos iniciou os seus estudos musicais na Academia de Música de S. João da Madeira,
onde frequentou o curso de piano. É licenciado em Composição pela Escola Superior de Música
e das Artes do Espectáculo do Porto e Mestre em Composição pelo Conservatório Real de Haia,
na Holanda, onde estudou com Diderik Haakma Wagenaar e Clarence Barlow entre 2002 e
2005. Sobre esta obra, escreve o seguinte: “Arlequim é um personagem cómico da commedia
dell’arte italiana. Apresenta-se geralmente mascarado, envergando um traje feito de retalhos
multicoloridos em forma de losango e uma espada mágica. Arlequim é dotado de uma agilidade
física que utiliza para divertir o público, mas esta qualidade é contrabalançada por uma profunda
ingenuidade que o torna vítima de manipulação por parte dos seus companheiros. O Sonho
do Arlequim é uma peça musical que se inspira livremente neste personagem apresentando,
tal como ele, duas realidades distintas e contrastantes. A primeira parte da peça, lenta e
contemplativa, apresenta uma escrita harmónica e recorre ao quarteto de cordas como principal
núcleo instrumental sobre o qual os restantes instrumentos vão surgindo gradualmente. A
segunda parte é iniciada sem interrupção pela tuba com um gesto instrumental que despoleta
um andamento enérgico de carácter buffo. Este instrumento dá assim início a uma música
rápida e mais virtuosa marcada pela colagem de materiais que, apesar de diferentes, se interrelacionam pelo dinamismo rítmico.”
PAULO JORGE FERREIRA (1968 – Portugal): ver biografia nos Intérpretes.
MIKE FITZPATRICK (Austrália): Chimbaroza (2009). “Chimboraza é o nome de um vulcão
extinto no Equador, que chegou a ser considerado o ponto mais alto do mundo. Por causa do
fenómeno invulgar da curva equatorial, o cume do Chimboraza é o ponto da crosta terrestre
mais afastado do centro da Terra. O Chimboraza é ainda famoso na história do povo Inca. Foram
encontrados restos de um altar no cume, onde outrora virgens foram sacrificadas aos Deuses.
Muitos caçadores de tesouros acreditam hoje em dia que muito do ouro perdido do último rei
Inca estará depositado do fundo de um lago algures a ocidente desta outrora montanha sagrada.
A minha obra Chimboraza divide-se em três secções: rápido, lento e rápido. A secção inicial
usa como base ritmos sul-americanos e o tango. O tango evoluiu depois das suas origens na
Argentina, primeiro através da música de Astor Piazzola e depois pela introdução de ritmos
latinos com influências do jazz norte-americano. É esta última evolução da dança original
que forma a ideia rítmica principal desta secção, que estabelece a ambiguidade rítmica de três
contra dois. A secção central é bastante mais lenta e está dividida em duas partes, uma em
compasso quaternário e outra em compasso ternário. A secção final é mais uma vez fortemente
baseada na fusão de ritmos jazz e latinos, mas desta vez utilizando o conceito afro-cubano de
tempo composto versus tempo simples.” (Mike Fitzpatrick, Sydney, 9/9/2009).
JERRY GRANT (EUA): Mountain Dances (2010). “Mountain Dances foi originalmente composta
para orquestra de jazz há alguns anos atrás e os seus quatro andamentos reflectem as quatro
estações. Quando decidi adaptar Winter Blue e Spring Wildflowers para tuba e saxofone soprano
tornou-se evidente que seria necessário reescrever grande parte da obra, o que só vem
provar que não se deve voltar a pegar numa peça previamente escrita. Estes andamentos
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transformaram-se num dueto para piano com acompanhamento de cordas. Refiro-me a este
estilo como Jazz Sinfónico, não incidindo tanto na harmonia de jazz como no sabor dos ritmos e
do fraseado. Winter Blue retrata o aspecto azul acinzentado do inverno nas montanhas e esconde
algures um blues. Spring Wildflowers retrata a celebração do renascer com começos que imitam
o borbulhar de uma nascente de montanha à medida que se encaminha para o seu leito.” (Jerry
Grant, Los Angeles, 9/7/2009).
OS INTÉRPRETES
MÁRIO MARQUES (saxofone) tem cultivado o interesse por diversas áreas e estilos de expressão
musical, que fazem dele um dos mais versáteis saxofonistas portugueses da actualidade. Nos
últimos anos tem colaborado regularmente com a Orquestra Gulbenkian, a Orquestra Sinfónica
Portuguesa, a Orquestra Nacional do Porto, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, entre outras,
executando as principais obras orquestrais que incluem o saxofone como solista. Como solista
concertante apresentou obras como o Concerto for Stan Getz de R. R. Bennett, Concertino for
tenor saxophone de Bob Mintzer, Duplo Concertino op. 22 de Luís Cardoso e brevemente concertos
para saxofone alto de Mike Mower e de Anne Vitorino d´Almeida. A sua actividade musical
leva-o para múltiplas áreas de expressão artística, actuando nos principais palcos e em diversos
festivais de música. A televisão, o teatro musical, o cinema e o estúdio são áreas onde colaborou
com nomes como a Big Band do Hot Club de Portugal, Bernardo Sassetti, The Gift, Deolinda,
Xutos e Pontapés, Sérgio Godinho, Amália Hoje, Silence4, entre outros. De alguns anos a esta
parte tem estado envolvido em projectos musicais de diferentes âmbitos e linguagens tais com:
“Quarteto Saxofínia”, “The Estardalhaço Brass Band”, “The Postcard Brass Band”, “Saxteto” e
“Tubax”. Para além de saxofonista, Mário Marques é também produtor discográfico de projectos
como: “European Tuba Trio”, “Saxofínia”, “António Vitorino d´Almeida”, “The Postcard
Brass Band”, “Duo Xasonaip”, “2tubas & Friends”, “Avondano Emsemble”, “Concertos para
Bebés”, “Estardalhaço da Geringonça”, entre outros. Actualmente é professor de saxofone na
Academia de Música de Alcobaça e na Universidade de Évora, onde simultaneamente frequenta
um Doutoramento em Performance Musical.
SÉRGIO CAROLINO (tuba e lusofone ‘Lucifer’), tubista português e Artista Yamaha, é um
dos tubistas mais aclamados no panorama internacional, estando em constante actividade
quer como solista quer como professor nos mais diversos festivais de música, conservatórios
e universidades um pouco por todo o Mundo (Espanha, França, Suíça, Finlândia, Bélgica,
Holanda, Eslováquia, Alemanha, República Checa, Hungria, Inglaterra, Áustria, Austrália,
EUA, Noruega), incluindo brevemente a Tailândia, o Brasil e o Peru. O seu primeiro disco a
solo “Steel aLive!” recebeu em 2008 o ‘Roger Bobo Award Prize for Excellence in Recording’,
organizado pela International Tuba-Euphonium Association (ITEA) e entregue na Universidade
de Cincinnati, nos EUA. Recebeu também o prémio de Músico Revelação de Jazz 2004 em
Portugal, pelo crítico de jazz José Duarte, para além de ter ganho o Prémio Carlos Paredes pelo
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1.º disco do trio TGB “TubaGuitarra&Bateria”, editado pela editora portuguesa Clean Feed. O
seu vasto leque de interesses e a sua curiosidade musical leva-o por diferentes caminhos de
expressão musical, desde o típico repertório clássico ao mais puro jazz e à música improvisada.
Estabeleceu-se como virtuoso no repertório standard e contemporâneo para tuba. Desde 2002
está envolvido em novos e inovadores projectos musicais: os ‘TGB’ com Mário Delgado e Alex
Frazão, ‘2tUBAS&friends’ com Anne Jelle Visser (tuba), ‘Trio XL’ com Telmo Marques (piano) e
Jeffery Davis (vibrafone/marimba), o ensemble português de tubas ‘How Low Can You Go?’, o
‘European Tuba Trio’ com François Thuillier (tuba) e Anthony Caillet (eufónio), ‘The Postcard
Brass Band’, ‘TUBIC’ com a companhia SA Marionetas, os ‘The Low Frequency Tuba Band’ com
Marcus Rojas, Jay Rozen e Oren Marshall (tubas), ‘TUBAX’ com Mário Marques (saxofone), ‘Tu
B’Horn’ com José Bernardo Silva (trompa), ‘Tuba ‘n Saxe’s Company!’, ‘Mr SC & The Wild Bones
Gang’ e mais recentemente, o grupo de Hip-hop, Funky e Drum&Bass - ‘Funky Bones Factory’.
Actualmente é professor de tuba e música de câmara na Escola Superior de Música e das Artes
do Espectáculo (ESMAE) do Instituto Politécnico do Porto (IPP) e, desde 2002, tuba solo da
Orquestra Nacional do Porto.
TELMO MARQUES (piano) nasceu no Porto em Agosto de 1963. Frequentou o Conservatório
de Música do Porto onde estudou Piano e Composição com vários professores de entre os quais
Fernanda Wandschneider, Cândida Lima e Fernando Lapa. Fez cursos de aperfeiçoamento
com Jean Martin, Carlos Cebro, Fernando Puchol, Paul Trein, Robert Houlihan, entre outros.É
licenciado em Piano pela ESMAE, onde obteve o prémio Eugénio de Almeida com a melhor
classificação, e terminou o mestrado em Artes na Educação Musical na Universidade de
Surrey Roehampton (Grã-Bretanha). Actualmente encontra-se a frequentar um programa de
doutoramento em Música por Computador na Universidade Católica. Lecciona as disciplinas de
Piano Jazz, Análise Musical, e de Técnicas de Composição na ESMAE – Escola Superior de Música
e das Artes do Espectáculo do Instituto Politécnico do Porto. Participou em várias gravações de
artistas portugueses, como pianista, compositor e/ou produtor. Como compositor, contribuiu
para um vasto conjunto de obras de teatro musical, documentários e centenas de anúncios
publicitários.
MARIA KAGAN (violino) nasceu em Moscovo. Alternou os seus estudos musicais entre Rússia
e Alemanha, país onde mais tarde terminou o mestrado em violino na cidade de Munique.
Participou em inúmeros festivais de música de câmara. Actualmente é membro da Orquestra
Nacional do Porto.
IANINA KHMELIK (violino) nasceu em Moscovo, onde iniciou os seus estudos musicais aos 5
anos de idade. Já em Portugal, em 2005 terminou a Licenciatura em violino na Escola Superior
de Música e das Artes do Espectáculo do Porto. Actualmente é membro da Orquestra Nacional
do Porto.
TREVOR MCTAIT (violeta) nasceu em Inglaterra e iniciou os seus estudos musicais na Royal
Academy of Music de Londres, onde viria a concluir os seus estudos de violeta com um curso de
pós-graduação. Actualmente é a viola principal do Remix Ensemble assim como da Orquestra
Barroca da Casa da Música.
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VANESSA PIRES iniciou os seus estudos musicais aos 5 anos de idade na sua terra natal, Viana do
Castelo. Mais tarde terminou a Licenciatura em violoncelo na Escola Superior de Música e das
Artes do Espectáculo do Porto. Actualmente é professora de violoncelo e Directora Pedagógica
da Escola de Música Guilhermina Suggia - FMAC. É membro da Orquestra Barroca da Casa da
Música.
ILARIA VIVAN (harpa) começou o estudo da harpa aos nove anos de idade no Conservatório
da sua cidade natal,Trieste (Itália). Diplomou-se em 1994 e continuou os seus estudos
na Academia de Santa Cecilia em Roma e na Escola de Música de Fiesole em Florença.
Aperfeiçoou-se tambem com o professor Fabrice Pierre. Tocou em varias orquestras em Itália
e no estrangeiro, executando concertos tambem como solista e em agrupamentos de câmara.
Desde 2000 é membro da Orquestra Nacional do Porto como Harpa Solista. Em Portugal
colaborou e colabora com varias orquestras e com grupos dedicados à música contemporânea
(Orquestra Gulbenkian, Orquestra Sinfónica Portuguesa, Orquestra Metropolitana de Lisboa,
Remix Ensemble, Orchestrutópica). Lecciona desde 2002 lecciona na Academia de Música de
Viana do Castelo.
PAULO JORGE FERREIRA (composição e acordeão) nasceu em Lisboa em 1966. Iniciou
os estudos musicais aos cinco anos com o acordeonista José António Sousa. Participou
em concursos nacionais e internacionais, obtendo honrosas classificações, e frequentou
seminários com alguns dos mais prestigiados acordeonistas contemporâneos. Concluiu o curso
complementar de acordeão no Instituto de Música Vitorino Matono, tendo posteriormente
finalizado os seus estudos superiores na Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco.
Tem realizado recitais em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente em França, México,
Bélgica, Áustria, Itália, Macau, Espanha e Hungria, e concertos de música de câmara, actuando
com artistas como Maria João Pires e António Victorino d’Almeida. Apresentou-se como
músico convidado de orquestras sinfónicas e de câmara, tais como a Orquestra de Pequim, a
Orquestra Gulbenkian, a Orquestra Sinfónica Portuguesa, a Orquestra Nacional do Porto, a
Sinfonietta de Lisboa e o Remix Ensemble, e a solo com o Esart Ensemble e Remix Ensemble,
trabalhando com maestros como Stefan Asbury, Jürjen Hempel, Lawrence Foster, Peter
Rundel, Martin André e Emílio Pomàrico, entre outros. Constitui com Pedro Santos um duo
de acordeões (Duo Damian), com Pedro Vasconcelos um duo de acordeão e piano (Ars Duo),
com Carlos Alves um duo de acordeão e clarinete (Artclac) e um quinteto com quarteto de
cordas. Ao longo da sua carreira musical tem participado em inúmeras gravações discográficas,
em programas radiofónicos e televisivos. Simultaneamente tem desenvolvido também a sua
actividade como compositor, escrevendo obras para instrumentos solo, música de câmara e
orquestra. Recentemente foi escolhida uma peça sua (acordeão solo) como obra obrigatória
de um concurso no País Basco. É professor na Escola Superior de Artes Aplicadas em Castelo
Branco, no Conservatório Regional de Castelo Branco e na Escola de Música do Conservatório
Nacional. Alguns dos seus alunos e grupos de música de câmara têm obtido primeiros prémios
em concursos nacionais e internacionais de acordeão e de música de câmara. É convidado com
regularidade como membro de júri em concursos internacionais de acordeão. Editou em 2004
um CD a solo, “Percursos”.
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Claudio Marcotulli
3 de Julho (sábado) – 21h30
Sacristia – Mosteiro de Alcobaça
Recital de Guitarra
1.ª Parte
HEITOR VILLA-LOBOS
Douze études
Animé (mi menor)
Très animé (lá maior)
Un peu animé (ré maior)
Un peu moderé (sol maior)
Andantino (dó maior)
Un peu animé (mi menor)
Très animé (mi menor)
Moderé (dó sustenido menor)
Un peu animé (fá sustenido menor)
Animé (si menor)
Lent (mi menor)
Un peu animé (lá menor)
2.ª parte
FRANCISCO TÁRREGA
Variações sobre “Carnevale di Venezia” de
Niccolo Paganini
AGUSTÍN BARRIOS
Una limosna por el amor de Diòs
Valsa op. 8 n.°4
La Catedral
CARLO DOMENICONI
Koyunbaba op.19
Moderato, Mosso, Cantabile, Presto
Claudio Marcotulli, guitarra
Co-produção:
Festival Internacional de Guitarra de Leiria
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NOTAS À MARGEM
HEITOR VILLA-LOBOS (Rio de Janeiro 1887- id. 1959) é o maior compositor brasileiro do
século XX. Fazendo uma síntese entre as mais variadas correntes da música europeia e a música
tradicional e popular do Brasil, na confluência entre nacionalismo e modernismo, é autor duma
obra gigantesca, com de mais de mil títulos, que o tornam um dos compositores mais prolíficos
da história da música.
FRANCISCO TÁRREGA (Villareal 1852 - Barcelona 1909), guitarrista e compositor espanhol, foi
um dos responsáveis pelo renascimento da guitarra no século XX, que deu ao instrumento o
estatuto solístico. Amigo de Albéniz e Granados, fez inúmeras transcrições do grande reportório
para piano, foi professor de grandes guitarristas como Emilio Pujol e Josefina Robledo e a sua
produção inclui cerca de 78 obras para guitarra.
AGUSTÍN BARRIOS (San Bautista de las Misiones 1885 - San Salvador 1944), guitarrista e
compositor paraguaio, fez uma grande carreira internacional como virtuoso da guitarra e foi
comparado pelos críticos a Segovia e Paganini. Foi o primeiro guitarrista clássico a gravar discos
de gramofone (1910) e a tocar uma suite completa de Bach. Várias obras suas fazem actualmente
parte do reportório dos maiores guitarristas.
CARLO DOMENICONI (Cesena 1947), guitarrista e compositor italiano, diplomou-se em Pesaro
e estudou composição na Universidade de Berlim, onde leccionou durante 20 anos. Viveu e
leccionou bastante tempo em Istambul, tendo-se apaixonado pela cultura turca, um facto que
se reflecte na sua obra mais célebre, Koyunbaba para guitarra solo.
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O INTÉRPRETE
CLAUDIO MARCOTULLI é considerado um dos guitarristas mais interessantes da sua geração e
possui um curriculum de grande relevância artística que tem merecido uma especial atenção do
público e da crítica. Revelou desde cedo, sob a orientação de M. Ialenti e M. Severi, uma técnica
brilhante e grandes qualidades musicais, tendo vencido todos os concursos nacionais em que
participou. Obteve o seu diploma no Conservatório L. Cherubini de Florença com elevada
distinção, sob a orientação de Alfonso Borghese. Estudou com Alberto Ponce na “École Normale
de Musique” de Paris, onde obteve em 1983 a “Licence Supérieure d’Exécution Musicale” e no
ano seguinte o “Diplôme Supérieur de Concertiste”. Fez cursos de aperfeiçoamento com A.
Diaz, A. Lauro, J. Williams e ganhou diversos concursos em Itália e França. Ganhou o 1.º Prémio
no Concurso “F. Tárrega” em Espanha, um dos concursos de guitarra mais importantes do
mundo, e também o prémio especial de “Melhor Interpretação das Obras de F. Tárrega”. Tem
apresentado regularmente repertório a solo, de música de câmara e de guitarra com Orquestra
um pouco por toda a Europa e na China, México e Cuba. Tocou com orquestras como a Orquestra
Internacional de Itália, as Orquestras Sinfónicas de Iashi e Timisoara (Roménia) e com maestros
como Donato Renzetti, Ennio Morricone, Ignacio Yepes, Christian Mandeal, Ion Baciu, Allesio
Vlad, Carmine Carrisi e Riccardo Serenelli. Acompanhou, em várias ocasiões, Luciano Pavarotti
com a Orquestra Internacional de Itália. Em 1995 colaborou com a Orquestra de Câmara da
Europa na ópera “O Barbeiro de Sevilha” de G. Rossini e em 1999 com a Orquestra de Câmara G.
Mahler na ópera “Falstaff” de G. Verdi, em ambas as ocasiões sob a direcção de Cláudio Abbado.
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A Imagem
da Melancolia
4 de Julho (domingo) – 18h00
Convento de Cós
PENTAGRAMA
ou a longa sombra do peripatético
TERRA (outono, norte, melancólico)
ÉTER (espírito, centro, ideia)
INEFABILIDADE DO BELO* (Christopher
Marlowe)
In nomine – William Byrd
Pavan “The Image of Melancholy” – Anthony
Holborne
Galliard “Ecce quam bonum” – Anthony
Holborne
Ah, silly soul – William Byrd
Io son ferito ai Lasso – Giovanni Perluigi da
Palestrina / Bovicelli
EPITÁFIO DE UM ALQUIMISTA (Christian
Hofmann von Hofmannswaldau)
Sonata Settima – Johann Rosemüller
ÁGUA (inverno, oeste, fleumático)
CANÇÃO (Pinar)
Con que lavaré – Anónimo
Fantasia sobre Con que la lavaré – António
Carreira
Tento por D La Sol Re – António Carreira
FONTE DE DOR, RIO DE PADECIMENTO
(Christine de Pisan)
AR (primavera, este, sanguíneo)
Frais et galliard – Clemens no Papa / Bassano
DE TI ME SEPAREI NA PRIMAVERA (William
Shakespeare)
Pavana Ferrarese, Gagliarda Au joly bois, Basso
Anglese, Saltarello,
Branle Simple, Passamezzo d’italie, Saltarello –
Pierre Phalése
A la fontaine du prè – Adrian Willaert
O TÚMULO DO MEU AMOR (tradição oral
celta)
FOGO (verão, sul, colérico)
Canzona francesa chromatica – Giovanni
Trabaci
O AMOR TRANSFORMOU-ME EM FOGO
VIVO (Gaspara Stampa)
Aria di Passagaglia – Girolamo Frescobaldi
FERA SOU DESTE LUGAR SOMBRIO (Chiara
Matrani)
Passacaglio a 4 – Biagio Marini
Magna Ferreira, canto
Inês Moz Caldas, Marco Magalhães,
Paulo Gonzalez, Pedro Castro, Pedro Sousa
Silva, Susanna Borsch, flautas de bisel
* Indicam-se em MAIÚSCULAS
poemas que serão declamados.
71
NOTAS À MARGEM
Pentagrama s.m. pauta musical com cinco linhas; figura mágica simbólica, semelhante a uma estrela
de cinco pontas, formada por cinco letras ou sinais ligados por linha contínua, e a que se atribuíam
virtudes mágicas.
A nossa proposta de programa de concerto não é uma proposta convencional. Primeiro, porque
o programa apresentado não tem, ao contrário do que costuma acontecer num grupo de música
antiga, uma organização fundamentada em critérios musicológicos. Segundo porque a forma
de apresentação não é de um concerto usual, com os intérpretes num lado e o público no outro.
É o Pentagrama que estrutura este evento, que proporciona a relação entre os elementos
temáticos de cada um dos cinco blocos apresentados. Essa relação estabelece-se a vários níveis:
geográfico (música inglesa para Norte, Ibérica para Oeste, etc.) mas sobretudo estético, com a
escolha de obras que ilustrem cada um dos afectos, humores ou ambientes sugeridos em cada
bloco. É ele também que dispõe os músicos em cena, as cinco flautas formando uma estrela de
cinco pontas, com a cantora ao centro.
TEXTOS
INEFABILIDADE DO BELO
Christopher Marlowe (1563-1593)
(tradução: Luiz Cardim)
Se as penas todas que jamais serviram
mãos de poetas, houvessem haurido
os sublimes conceitos e arroubos
que o peito, a mente e a musa lhes moveram
ao descantar seus temas portentosos;
se a quinta-essência que elas destilaram
das flores imorredouras de seus versos,
onde, qual num espelho, apercebemos
as culminâncias do engenho humano –
se tudo, tudo isto, num só período
tivessem combinado, e na expressão
da magia do belo: mesmo assim,
sempre naquelas almas ansiosas
havia pelo menos de restar
um pensamento, graça ou maravilha
que nenhuma virtude, nenhum estro
logrará digerir em vis palavras.
72
AH, SILLY SOUL
(tradução: Pedro Sousa Silva)
Ah, alma ingénua, como são teus
pensamentos confundidos
por dois amores tão distantes quanto
diferentes?
O amor do prazer é cego, e por nenhuma
razão circundado.
O amor do céu é claro, e belo para além de
qualquer comparação.
Não admira pois que este amor te não
ilumine o pensamento:
enquanto olhares através do falso amor, teus
olhos serão cegos.
CANÇÃO
Pinar (séc. XV) (tradução: José Bento)
A voz da minha canção
é de uma dor que a alma toca
que os agudos leva a boca,
os graves o coração.
As palavras são as dores
que andam no pensamento,
padecendo o sofrimento
que as torna ainda maiores.
De tal som marcadas vão
que sua voz a alma toca,
que os agudos leva a boca,
os graves o coração.
CON QUÉ LA LAVARÉ
(anónimo)
Con qué la lavaré
la flor de la mi cara?
Con qué la lavaré
que vivo mal penada?
Lávanse las casadas
con agua de limones;
lávome yo cuitada,
con penas y dolores.
FONTE DE DOR, RIO DE PADECIMENTO
Christine de Pisan (1363-1431)
(tradução: Filipe Jarro)
Fonte de choro, rio de padecimento,
Flancos de dor, mar de amargura plena
Que mareias e afogais em pena
Meu coração cheio de sofrimento.
Assim me afundam e largam em tormento;
Pois corre em mim mais forte do que o Sena
Fonte de choro, rio de padecimento.
São ondas tais, de tanto elevamento
Quão mais o vento de Infortúnio acena,
Que em mim caindo, só na mais dura pena
Me salvarei do vosso abatimento,
Fonte de choro, rio de padecimento.
O AMOR TRANSFORMOU-ME
EM FOGO VIVO
Gaspara Stampa (1523-1554)
(tradução: José Henrique Bastos)
O amor transformou-me em fogo vivo
como uma nova salamandra no mundo,
tal como o animal não menos raro
que no mesmo sítio nasce e morre.
Todo o meu prazer e o deleite
é viver ardendo e não sentir dor,
sem preocupar-me com quem me impele
se tem ou não alguma piedade de mim.
Apenas o primeiro ardor estava extinto
foi outro a incendiar o Amor, ainda mais vivo
e maior do que todos os que provei.
Não me arrependo de arder de Amor,
se alguém roubar de novo o meu coração
há-de ficar com o meu ardor pleno e satisfeito.
73
ARIA DI PASSACAGLIA
(tradução: Pedro Sousa Silva)
Assim me desprezais,
Assim me burlais?
Tempo virá em que Amor
Fará do vosso coração
Aquilo que fizeste do meu;
Não mais palavras, adeus.
Dai-me então martírios,
Burlai os meus suspiros,
Negai-me mercê,
Ultrajai a minha fé,
Que depressa então vereis
Aquilo que vós me fazeis.
Beleza não sempre reina,
E se ela assim vos ensina
A desprezar a minha fé,
Acreditai antes em mim,
Que se hoje me aniquilais,
Amanhã vos arrependereis.
Não nego, é certo, que em vós
Amor tem seus favores,
Mas sei que o tempo persegue
Beleza, que foge e passa.
Se não me quereis amar,
Eu não quero penar.
A vossa loira crina,
A face purpurina
Mais velozes que Maio
Passarão fugazmente.
Apreciai-as bem agora,
Que bem rirei eu depois.
74
FERA SOU DESTE LUGAR SOMBRIO
Chiara Matrani (1514-1597)
(tradução: José Henrique Basto)
Fera sou deste lugar sombrio
E com uma flecha no ombro
fujo, triste, ao cabo da minha dor
e o cerco que lentamente me agrilhoa.
Como a ave que o fogo arde
entre as plumas, a fugir num voo
do seu ninho quente, e ao debandar
o fogo aviva com as próprias asas.
Assim eu entre a aurora estival e as sombras,
voando alto com as asas do desejo,
tento escapar do fogo que me queima.
Quanto mais eu voo entre as margens
fugindo deste mal, com um salto feroz
sobre a morte lente, procuro a vida curta.
IO SON FERITO AI LASSO
(tradução: Pedro Sousa Silva)
Eu estou ferido, ó infelicidade, e até gostaria
de acusar quem o fez, mas não tenho prova
e sem indícios não se dá fé ao mal.
Nem deita sangue a minha nova ferida;
eu espasmo e morro mas o golpe não se vê,
a minha inimiga não se encontra armada.
Que eu possa a ela regressar, que cruel decisão,
para que apenas me possa curar quem me feriu.
EPITÁFIO DE UM ALQUIMISTA
Christian Hofmann von Hofmannswaldau
(1616-1679)
(tradução: João Barrento)
Eu era um alquimista. Toda a vida cismei
Com a arte que da morte nos fosse livrar.
Aquilo que buscava, isso não encontrei,
E o que não procurei acabou por chegar.
DE TI ME SEPAREI NA PRIMAVERA
William Shakespeare (1564-1616)
(tradução: Luiz Cardim)
De ti me separei na Primavera:
quando o radioso Abril, ao sol voando,
em cor e luz, a plenas mãos, cantando,
nova alegria entorna pela esfera…
No viridente bosque até dissera
o pesado Saturno ver folgando...
Porém nem cor vistosa ou cheiro brando
lograram incender minha quimera.
A LA FONTAINE DU PRÉ
(tradução: Pedro Sousa Silva)
Na fonte do prado
Banhava-se Margot
Seu amigo passava
E a observava.
Bela que fazeis aí
Margot Marguerite
Rego a minha salsa
E a minha segurelha.
O TÚMULO DO MEU AMOR
Tradição oral celta (galês, séc. XVII)
(tradução: José Domingos Morais)
Passeava sem cuidados no cemitério
Onde repousam mais de cem corpos.
Pousei o pé na tumba do meu amor
E no peito saltou meu coração.
A brancura dos lírios, não a vi...
O vermelhão das rosas, desmaiava...
Eram fantasmas só: ao pé de ti
- o seu modelo – quanto lhes faltava!
Par’cia inverno; e eu, a viva alfombra,
só pude imaginá-la a tua sombra.
75
OS INTÉRPRETES
“Rigorosos, apaixonados e irrepreensíveis” (Diana Ferreira, in Público), A IMAGEM DA
MELANCOLIA foi fundada em Dezembro de 2002 por Pedro Sousa Silva com o objectivo de
explorar o reportório polifónico renascentista. O núcleo do ensemble é constituído por
cinco flautistas e uma cantora aos quais se agregam outros instrumentistas e cantores em
função do projecto em curso. Na construção do seu conceito interpretativo, A Imagem da
Melancolia socorre-se do estudo atento de fontes musicais, literárias e iconográficas coevas
do reportório executado. O ensemble procura explorar de uma forma laboratorial alguns
aspectos linguísticos característicos da prática interpretativa quinhentista (como a afinação,
os conceitos de frase, ou a teoria melódica) e confrontar o ouvinte moderno com experiências
sonoras distantes das convencionais nos dias de hoje. Assumindo o anacronismo dos formatos
interpretativos modernos (nomeadamente o concerto e o registo fonográfico) em relação à
música do Renascimento, pretende-se confrontar o ouvinte moderno com uma experiência
sonora distante do nosso quotidiano e restaurar uma quase perdida sacralidade inefável
característica da Música enquanto fenómeno ex tempore. A aquisição de cópias de instrumentos
do séc. XVI é uma prioridade para A Imagem da Melancolia desde o momento da sua fundação.
Presentemente o ensemble tem à sua disposição um conjunto de mais de 30 flautas construídas
pelos mais prestigiados artesões contemporâneos (Luca de Paolis, Monika Musch, Tom Prescott,
Adriana Breucking, Peter van der Poel e Adrian Brown), das quais se destacam os consorts
Rafi e HIERS construídos por Luca de Paolis e Adrian Brown, respectivamente. A Imagem da
Melancolia tem realizado concertos em inúmeros locais do país, Holanda e Galiza, convidada
por algumas principais salas de espectáculo e festivais (Casa da Música, Centro Cultural de
Belém, Faro Capital da Cultura, Encontros de Música Antiga de Loulé, Cistermúsica, Festival
Are Mo clássica).
76
London Brass Tentet
9 de Julho (sexta-feira) – 21h30
Claustro D. Dinis – Mosteiro de Alcobaça
Grupo de Metais
ANTHONY HOLBORNE
(arr. R. Harvey)
The Fairie Round
LONDON BRASS TENTET
Decateto de Metais de Londres
JOHANN SEBASTIAN BACH
(arr. C. Mowat)
Suite
ANTONIN DVORAK
(arr. D. Stewart)
Dança Eslava n.º 8
HEITOR VILLA-LOBOS
(arr. R. Harvey)
Mazurka – Choro
John Barclay, trompete
Gareth Small, trompete
Daniel Newell, trompete
Andrew Crowley, trompete
Richard Bissill, trompa
Lindsay Shilling, trombone
Richards Edwards, trombone
Byron Fulcher, trombone e eufónio
David Stewart, trombone baixo
Oren Marshal, tuba
MANUEL DE FALLA
(arr. E. Crees)
Dança do Fogo
WITOLD LUTOSLAWSKY
(arr. R. Harvey)
Variações sobre um Tema de Paganini
DUKE ELLINGTON
(arr. Richard Bissill)
Caravan
BILLY STRAYHORN
(arr. P. Smith)
Lush Life
VINCENT YOUMANS
(arr. M. Nightingale)
La Carioca
PAUL HART
Surprise Variations
Co-produção:
Festival Internacional de Música de Espinho
79
NOTAS À MARGEM
Pouco se sabe acerca da vida de ANTHONY HOLBORNE (ca. 1545 - 1602), mas acredita-se
que deverá ter sido consideravelmente respeitado entre os mais talentos compositores do seu
tempo. Chegaram até aos nossos dias mais de 150 obras suas, principalmente instrumentais,
tais como pavanas e galhardas, almains e outras pequenas árias. A típica suite inglesa não tinha
ainda desenvolvido o estilo italiano idiomático da escrita virtuosa instrumental, especialmente
para o violino. Mantém-se a possibilidade de uma abordagem flexível da orquestração. Numa
partitura de Holborne de 1599 pode ler-se no título que “violas, violinos ou instrumentos de
sopro” podem tocar a obra. O madrigal de origem italiana estava na moda naquele tempo e o
seu homólogo instrumental revelava-se aparentemente um veículo menos promissor, mas os
títulos fantasiosos que os compositores atribuíram a estes andamentos de dança sugerem que a
sua execução jamais deverá descurar a intensidade e a expressão.
De JOHANN SEBASTIAN BACH (Eisenach 1685 – Leipzig 1750), a suite para metais que ouviremos
(num arranjo de Christopher Mowat) inclui trechos dos dois grupos de Suites Inglesas e
Francesas para instrumento de tecla. Embora os andamentos aqui reunidos não correspondam
ao modelo padrão, quase cumprem as regras base de organização da suite. Três das quatro
danças “obrigatórias” estão presentes nos 2.º, 3.º e 5.º andamentos, enquanto a Gavotte é uma
das danças opcionais que Bach incluia com frequência. As tonalidades, embora não sendo as
mesmas em todos os andamentos, estão relacionadas entre si (fá maior, fá menor e dó menor).
O Prelúdio, um dos andamentos característicos do concerto grosso, está presente nas Suites
Inglesas e neste arranjo temos o contraste entre um pequeno grupo solista (dois trompetes,
trompa e trombone) e o grupo completo.
WITOLD LUTOSLAWSKY (Varsóvia 1913 – id. 1994) conseguiu, durante o período de ocupação
nazi da Polónia, manter a sua actividade musical juntamente com o compositor seu amigo
Andrzej Panufnik e, apesar das suas actuações públicas terem sido proibidas, tocavam
duetos ao piano em cafés. Ambos compuseram e fizeram arranjos, mas a única obra capaz de
sobreviver à insurreição de Varsóvia foi o arranjo de Lutoslawsky do Capricho n.º 24 de Paganini.
Muita da música original do violinista é conservada intacta, mas é reforçada pelas harmonias
cromáticas complexas e picantes de Lutoslawsky. O arranjo para metais procura preservar as
texturas detalhadas do piano e o apanágio virtuoso, que exige dos intérpretes uma articulação
meticulosamente leve e controlada. Fanfarras, glissandos na trompa, articulação dupla e
tripla nos trompetes apoiada pelo lado mais escuro e potente dos trombones contribuem para
transformar este magnífico trabalho num enorme tour de force.
DUKE ELLINGTON (Washington 1899 – Nova Iorque 1974) é o monstro sagrado do jazz, o
primeiro grande compositor desse género musical de raízes negras que surgiu no sul dos Estados
Unidos. Pianista e director da big band que actuava no Cotton Club de Nova Iorque, ganhou
celebridade mundial até ser condecorado com a Ordem da Liberdade dos Estados Unidos, a
Legião de Honra francesa e condecorações honoris causa das mais importantes universidades do
mundo. Caravan é um dos seus temas mais célebres.
80
BILLY STRAYHORN (Dayton 1915 – Nova Iorque 1967) era um jovem arranjador obcecado por
música quando conheceu Ellington através de um amigo em 1938. O resultado foi imediato
e Billy colaborou em muitas obras não editadas chegando mesmo a escrever algumas que
apareceram como sendo do próprio Ellington. Esta extraordinária melodia, soberbamente
adaptada, é-nos trazida pelo trombone de Richard Edwards.
VINCENT YOUMANS (Nova Iorque 1898 – id. 1946) foi um aclamado autor de canções, cujo
longo palmarés inclui temas célebres como Tea for Two e La Carioca, canção escrita para a dupla
Bing Crosby / Bob Hope no filme Flying down to Rio (de Thornton Freeland, com Dolores del
Rio), que recebeu o óscar da Academia para a melhor canção original em 1935.
PAUL HART é um músico talentoso e multi-facetado. Para além de ser um virtuoso violinista de
jazz e teclista (tocou com Cleo Laine e John Dankworth vários anos), compôs música para rádio,
televisão, cinema e para as grandes salas de concerto. As suas Variações Surpresa (inspiradas
na Sinfonia n.º 94 em sol maior de Haydn) são apresentadas por cada elemento do grupo,
cujas capacidades e características Paul conhece bem, pois trabalharam com ele ao longo de
vários anos, tendo gravado vários spots no seu estúdio no Soho. As dez variações mostram
praticamente tudo o que é possível fazer com um instrumento de metal, incluindo um solo
de trombone com um desentupidor como surdina e a imitação de uma flauta contralto (no
trompete) na 4.ª variação.
OS INTÉRPRETES
Os LONDON BRASS surgiram em 1986 com o propósito de promover a sonoridade e virtuosismo
da música clássica de câmara para metais. Muitos dos membros fundadores tinham já trabalhado
com o Philip Jones Brass Ensemble, experiência que se revelou fundamental para o processo
de ascensão e rápido sucesso do grupo, dando concertos e fazendo gravações pioneiras. O
grupo funciona com várias formações. É fundamentalmente conhecido em todo o mundo
como decateto, no entanto, a formação inicial de Philip Jones que deu origem a este grupo
pioneiro foi, na realidade, o quinteto. A carreira dos London Brass tornou-se cada vez mais
sólida, e ao longo das duas últimas décadas fizeram inúmeras gravações e concertos com um
vasto repertório que vai desde obras do compositor veneziano do séc. XVI Giovanni Gabrieli,
passando por Freddie Mercury até Harrison Birthwistle. Os locais onde se apresentam têm sido
igualmente variados e incluem salas de concerto como o Lincoln Center em Nova Iorque, uma
fábrica Norueguesa de fornos de metal e até mesmo a sombra de uma árvore de montanha nos
Alpes Italianos Dolomites. No Reino Unido, sua terra natal, os London Brass apresentaram-se
nos Concertos Promenade da BBC, no Bath International Music Festival e tocaram para a Rainha
com transmissão em directo para todo mundo a partir da Saint Paul’s Cathedral aquando das
cerimónias do Jubileu de Sua Alteza Real em 2002. Este ano viajam até Portugal, Holanda e
Alemanha. Em Agosto voltam ao Royal Albert Hall para os Concertos Promenade da BBC onde
irão tocar, em estreia mundial, “Wilful Chant” de Stephen Montagues, obra encomendada pela
BBC. O seu CD mais recente, Surprise, tornou-se num dos álbuns de maior sucesso do grupo.
81
Sonor Ensemble
22 de Julho (quinta-feira) – 21h30
Sala do Capítulo - Mosteiro de Alcobaça
Voz e Sexteto com Piano
LUIGI BOCCHERINI
Pequena Música Nocturna
SONOR ENSEMBLE
ROMÁN ALÍS
La Rueda del Tiempo, três canções sobre
poemas de Salvador Espríu
Gudrún Oláfsdóttir, meio-soprano
CONSUELO DÍEZ
Tentative para cinco instrumentos não
determinados
LUIS AGUIRRE, direcção musical
Kremena Gantcheva, violino
José Francisco Montón, violino
Virginia Aparicio, violeta
José María Mañero, violoncelo
Bárbara Veiga, contrabaixo
Sebastián Mariné, piano
Gudrún Oláfsdóttir, meio-soprano
JOAQUÍN TURINA
Rapsódia Sinfónica para piano e cordas
Piano: Federico Jusid
EURICO CARRAPATOSO
O Espelho da Alma
FEDERICO GARCÍA LORCA
Cinco Canções Populares Espanholas
Gudrún Oláfsdóttir, meio-soprano
MANUEL de FALLA
Duas danças de El Amor Brujo
Co-produção:
Festival do Estoril
83
NOTAS À MARGEM
por Luis Aguirre
LUIGI BOCCHERINI (Lucca 1743 – Madrid 1805). Violoncelista virtuoso e compositor, cedo
partiu da sua Toscânia natal para Viena, Milão, Paris e posteriormente para Madrid, onde teve
como mecenas o Infante D. Luís e começou a compor os seus famosos quintetos. Quando
morreu o Infante, em 1785, Boccherini procurou novos patrões nas figuras de Frederico
Guilherme da Prússia e da família Benavente-Osuna de Madrid. Ambos os mecenatos cessaram
em 1798 e finalmente passou a depender de Lucien Bonaparte, embaixador de Napoleão em
Madrid. Dos três números que hoje se interpretam da Música Nocturna de Madrid, a “Ritirata”
é o mais conhecido. Originalmente enquadrado no Quinteto com Piano n.º 6, foi objecto de
múltiplos arranjos e adaptações pelo seu colorido e imaginação salpicada de sabor espanhol.
A marcha, seguida de 11 variações simétricas, é altamente descritiva: um pelotão militar de
guarda nocturna aproxima-se a grande distância e depois de atingir a máxima proximidade e
intensidade afasta-se até se perder na noite.
ROMÁN ALÍS (Palma de Maiorca 1931 – Madrid 2006). A 29 de Outubro de 2006 faleceu um dos
nomes mais brilhantes da criação musical espanhola do século XX e figura chave para muitos
compositores de sucessivas gerações que usufruiram da sua docência sobretudo na cátedra de
Composicão do Real Conservatório Superior de Música de Madrid. Román Alís cultivou todos os
géneros, com excepção talvez da ópera, e foi um dos compositores espanhóis mais premiados e
solicitados, recebendo encomendas ininterruptamente desde 1971. O ciclo Cançons de la Roda del
Temps foi composto entre Maio e Agosto de 1982, baseado nos poemas íntimos do então recémfalecido poeta catalão Salvador Espríu, com quem Román Alís pôde contactar pessoalmente
durante o projecto da obra. O ciclo completo tem doze canções, das quais aqui se interpretam
a 3.ª, a 4.ª e a 5.ª. Román Alís conduz a voz por registos extremos, com grandes intervalos
e tensões crispadas, em páginas de grande subtileza e inegável beleza, que correspondem
fielmente ao estilo hiper-sensível do seu autor.
CONSUELO DÍEZ (Madrid 1958). A compositora madrilena de origem leonesa Consuelo Díez
fez os seus estudos de piano e composição no Real Conservatório Superior de Música da sua
cidade natal, tendo-se paralelamente licenciado em Geografia e História na Universidade
Complutense. En 1985 mudou-se para os Estados Unidos para realizar um mestrado em
Composição e Música Electroacústica na Universidade de Hartford. Ao longo da sua brilhante
carreira recebeu numerosos prémios e ocupou importantes cargos oficiais, que contribuiram
para impulsionar e favorecer a música e os músicos espanhóis. Tentative foi composta em
1986 para um grupo de cinco instrumentos não determinados. Estruturada em cinco secções,
proporciona liberdade e iniciativa aos intérpretes, que se convertem de certo modo em coautores duma obra aleatória e que por conseguinte se interpreta sempre de maneira diferente.
JOAQUÍN TURINA (Sevilha 1860 - Madrid 1949). A vocação musical de Turina, tal como a de
Falla, tomou um rumo decisivo em Paris, onde residiu entre 1904 e 1914. Federico Sopeña disse
dele: “Incapaz de sonhar com revoluções trascendentais ou com mudanças decisivas, usufruiu
em vez disso do prazer das pequenas coisas do dia a dia”. Turina surge como encarnação de
um paraíso perdido e isso reflecte-se na sua música de traços serenos, com alguns sabores
impressionistas matizados na oficina do “andaluz”. Tanto a construção rapsódica como a
escrita virtuosística para piano da Rapsódia Sinfónica se fundem com a tradição romântica. O
84
jogo de oposições entre duas ideias temáticas – Andante e Allegro - é paralelo ao próprio plano
instrumental, que não procura a integração de solista e cordas, mas sim o jogo dialético entre
os recursos de ambos os mundos sonoros.
EURICO CARRAPATOSO (Bragança 1962) licenciou-se em História pela Faculdade de Letras
da Universidade do Porto e foi aluno de composição de José Luís Borges Coelho, Fernando
Lapa, Cândido Lima e Constança Capdeville, tendo concluido em 1993 o Curso Superior de
Composição no Conservatório Nacional de Lisboa com Jorge Peixinho. Recebe regularmente
encomendas das principais instituições culturais portuguesas e a sua música tem vindo a ser
executada, editada e difundida desde 1987 na Europa e nos restantes continentes. Ganhou
as primeiras edições do Prémio de Composição Lopes Graça da Cidade de Tomar e do Prémio
Francisco de Lacerda. Em 2001 foi distinguido pela Sociedade Histórica da Independência de
Portugal com o Prémio da Identidade Nacional e a 10 de Junho de 2004 foi condecorado pelo
Presidente da República com a Comenda da Ordem do Infante Dom Henrique (ver também
concerto de 31 de Julho). Sobre Espelho da alma escreve o compositor: “Neste conjunto de
harmonizações de música popular dos vários mundos portugueses, do planalto mirandês (a
minha terra mítica!) às brumas açorianas, cada som é essencial e também testemunha dessa
portugalidade filtrada pela minha própria linfa transmontana.”
FEDERICO GARCÍA LORCA (Fuente Vaqueros 1898 – Víznar 1936). A personalidad do poeta e
dramaturgo granadino Federico García Lorca, universalmente valorizada no terreno literário,
incluía uma inclinação instintiva para a música e uma sensibilidade inegável neste campo
artístico. Lorca tocava piano, relacionou-se em Madrid com músicos como Adolfo Salazar,
Turina e tantos outros, e sobretudo manteve uma estreita relação de amizade e colaboração
com Manuel de Falla em Granada. Interessado especialmente pelas manifestações artísticas
populares, Lorca deu ouvidos ao folclore e pesquisou os cancioneiros espanhóis mais
significativos. Daí resultaram as suas Canções Espanholas Antigas, versões musicalmente
tão singelas quanto fiéis ao espírito popular andaluz que lhes deu origem. Federico Jusid,
por encomenda do “Sonor Ensemble”, adaptou as versões de García Lorca tanto para grupo
instrumental misto como para quinteto de cordas e piano.
MANUEL DE FALLA (Cádiz 1876 – Alta Gracia, Argentina 1946) compôs o seu bailado El amor
brujo entre 1914 e 1915 para a “bailaora” Pastora Imperio. Para trás ficaram os anos que viveu e
estudou em Paris e o contacto com Debussy, Ravel e outros génios da arte que foram fundamentais
para atingir o enorme refinamento e qualidade que serão características essenciais de toda a sua
produção musical. Falla converteu-se além disso no mais destacado representante espanhol
do nacionalismo musical que se prolongou para lá do romantismo. O argumento de El amor
brujo é simples e resume-se assim: una jovem cigana, Candelas, é perseguida pelo fantasma
do seu falecido amante, que lhe aparece de cada vez que ela se predispõe a beijar o seu novo
amor, Carmelo. Lucía, outra jovem cigana, consegue por fim quebrar o feitiço e a obra acaba em
alegria. Falla realizou em 1926 um arranjo para cordas e piano de dois dos números do bailado:
a Pantomima, com a sua impetuosa frase pontuada a que se segue uma melodia asperamente
bela em compasso de sete por oito, e a Dança ritual do fogo, com a sua implacável métrica, fibra
e poder de sedução.
85
TEXTOS
EL CAFÉ DE CHINITAS
En el café de Chinitas
dijo Paquiro a su hermano:
Soy más valiente que tú,
más torero y más gitano.
Sacó Paquito el reló
y dijo de esta manera:
Este toro ha de morir
antes de las cuatro y media.
Al dar las cuatro en la tarde
se salieron del café
y era Paquiro en la calle
un torero de cartel.
LOS CUATRO MULEROS
De los cuatro muleros,
mamita mía
que van al agua,
el de la mula torda
mamita mía,
es mi marío.
De los cuatro muleros….
NANA DE SEVILLA
Este galapaguito
no tiene mare,
a, a, a, a,
no tiene mare, sí,
no tiene mare, no,
no tiene mare,
a, a, a, a.
Lo parió una gitana,
lo echó en la calle,
a, a, a, a,
lo echó en la calle, sí,
lo echó en la calle, no,
a, a, a, a.
86
Este niño chiquito
no tiene cuna,
a, a, a, a,
no tiene cuna, sí,
no tiene cuna, no,
a, a, a, a.
Su padre es carpintero,
y le hará una,
a, a, a, a,
y le hará una, sí,
y le hará una, no,
a, a, a, a.
ANDA JALEO
Yo me subí a un pino verde
por ver se la divisaba,
y solo devisé el polvo
del coche que la llevaba.
Anda jaleo, jaleo,
ya se acabó el alboroto
y vamos al tiroteo.
No salgas, paloma, al campo,
mira que soy cazador,
y si te tiro y te mato
para mí será el dolor,
para mí será el quebranto
Anda jaleo, jaleo,
ya se acabó el alboroto
y vamos al tiroteo.
En la calle de los Muros
han matado a una paloma.
Yo cortaré con mis manos
las flores de su corona.
Anda jaleo, jaleo,
ya se acabó el alboroto
y vamos al tiroteo.
LAS TRES HOJAS
Debajo de la hoja
de la verbena,
tengo a mi amante malo:
¡Jesús, que pena!
Debajo, debajo de la hoja
de la verbena.
Debajo de la hoja
de la lechuga
tengo a mi amante malo
con calentura.
Debajo, debajo de la hoja
de la lechuga
Debajo de la hoja
del perejil
tengo a mi amante malo
no puedo ir.
Debajo, debajo de la hoja
del perejil.
La Roda del Temps (Salvador Espríu)
CANCIÓN DE LA MAÑANA ENCALMADA
El sol ha ido dorando
el largo sueño del agua.
Estos ojos tan cansados
De quien llega a la calma
Han mirado, han sabido,
Olvidaban.
Lejos, más allá de la mar,
se ya yendo mi barca.
De tierra adentro, un canto
con el aire la sigue:
“Te perderás por el camino
del que nunca hay regreso”.
Bajo la luz clemente
de la mañana, en la casa
de los viejos de mi viejo nombre,
hoy digo: “Aún soy”.
Me dormiré mañana
sin miedo y sin pesar.
Y el oro nuevo besará
la serenidad del mármol.
CANCIÓN DE LA MUERTE
RESPLANDECIENTE
Fortunas de mar
me llevarán consigo.
No podrás
orzar ni perder,
uno a uno, velero blanco,
todos los palos.
Por el engaño
de luz de mediodía,
eres súbito prisionero
de un viejo canto.
En qué puerto
se enroló, serviola,
este nuevo timonel
tan extraño?
Yo no sé
que caminos de mi sueño
lo han llevado al gobierno
de la nave.
Ásperas manos
nunca dejan la rueda,
y ya calmo se torna
mi tiempo.
Lejos, más allá
De palabras amargas,
Encontré una muerte
Resplandeciente.
CANCIÓN DE LA PLENITUD
DE LA MAÑANA
Luz de retorno de barca:
la soledad ganada.
En el oro caminado del día,
luz de retorno de barca.
Soy, Y en uno leve, benigno
hálito de vida de aire,
por mar y sueños llevaba
la soledad ganada.
87
OS INTÉRPRETES
O SONOR ENSEMBLE é um grupo de câmara formado essencialmente por solistas e membros da
Orquestra Nacional de Espanha. Os seus elementos são profissionais de alto nível, con grande
experiência sinfónica e de câmara, e todos eles actuaram em numerosas ocasiões como solistas,
interpretando os concertos mais representativos do reportório para o seu próprio instrumento.
Os mais diversos compositores escreveram e continuam a escrever obras para o Sonor Ensemble,
o que dá uma ideia da política de estreias que este grupo de câmara tem seguido desde a sua
fundação, sem esquecer todas as obras fundamentais acumuladas durante trezentos anos de
criação musical. O Sonor Ensemble aborda os períodos tradicionais do Barroco, do Classicismo,
do Romanticismo, etc., mas dá especial ênfase aos grandes compositores do século XX e
à criação contemporânea, para se assumir desse modo como um veículo essencial para a
expressão artística dos compositores actuais. Entre os compositores que escreveram para o
Sonor Ensemble podemos citar Zulema de la Cruz, Ángel Oliver, Manuel Angulo, Claudio Prieto,
Delfín Colomé, Javier Jacinto, Federico Jusid e Oliver Rappoport. A apresentação do grupo
teve lugar na Universidade de Alcalá a 24 de Janeiro de 2005. Desde então difundiu a música
espanhola actuando em diferentes concertos e festivais em países como Espanha, Bulgária,
Finlândia, Suécia, Suiça, China, Rússia, Coreia do Sul e Itália. O Sonor Ensemble gravou para a
Rádio Nacional de Espanha, para a Radiotelevisão Espanhola, para a etiqueta Fundación Autor
e proximamente para a etiqueta Verso com obras de compositores contemporâneos espanhois.
Por encomenda da Comunidade de Madrid, realiza um importante trabalho educativo e
pedagógico oferecendo concertos a milhares de jovens estudantes.
LUIS AGUIRRE (direcção musical) nasceu em Madrid, onde fez estudos de Economia na
Universidade Autónoma e de Piano, Composição e Direcção de Orquestra no Real Conservatório
Superior de Música. Prosseguiu os seus estudos na Guildhall School of Music and Drama de
Londres, na Hochschule für Musik und Darstellende Kunst “Mozarteum” de Salzburgo e na
Universidade de Indiana (EUA). Em 1985 acedeu por concurso ao lugar de Maestro Assistente
da Orquestra Nacional de Espanha, desempenhando esse cargo e colaborando com o então
maestro titular Jesús López Cobos, entre 1986 y 1987. Desde então actuou em diferentes países
da Europa, da América, da África e da Ásia e fez gravações para a RNE, a TV5, a RTVE e para
a etiqueta Fundación Autor. Além da Orquestra Nacional de Espanha, dirigiu entre outras a
Orquesta Sinfónica da RTVE, a Sinfónica de Madrid, a New Orchestra of Boston, a Bournemouth
Symphony Orchestra, os Solistas do Metropolitan de Nova Iorque, a Sinfónica de Santa Fé
(Argentina), a Filarmónica de Jalisco (México), a Orquestra Sinfónica Portuguesa e a maioria
das restantes formações sinfónicas espanholas. Director musical e artístico do Sonor Ensemble,
fez concertos, gravações e numerosas digressões pelo estrangeiro à frente deste grupo de
câmara. As suas actividades incluem numerosos artigos musicais, conferências e concertos
didácticos. Fez parte do Comité de Especialistas Independentes da Comissão Europeia de
Cultura e colabora como coordenador e assessor artístico do Ministério da Cultura de Espanha
na selecção de músicos espanhóis para a Orquestra Juvenil da União Europeia (EUYO) e a Gustav
Mahler Jugend Orchester.
88
KREMENA GANTCHEVA (violino) nasceu em Sófia (Bulgária) e graduou-se “cum laude” na
Academia Estatal de Música da Bulgária e na Escola Superior de Música Rainha Dona Sofia de
Madrid, onde estudou com o célebre professor Zakhar Bron. Outros mestres que influiram na
sua carrera foram Yehudi Menuhin, W. Marschner, Vl. Avramov e David Zafer, entre outros. Foi
convidada a actuar nos festivais internacionais de Schleswig-Holstein, Santander, Judenbourg,
Feldkirch e Yemdad Hami. Deu concertos em muitas das grandes salas da Europa (Espanha,
Alemanha, Itália, Áustria, Holanda, Finlândia, Bulgária, Rússia) e de outros continentes (China,
Corea, Israel). Foi concertino de várias formações de câmara e de grandes orquestas sinfónicas:
Orquestra Internacional Juvenil (Trento), Orquestra da Escola Rainha Sofía, Orquestra Sinfónica
de Chamartin, Orquestra Sinfónica do Infantado, sob as batutas de Zubin Metha, Danielle Gatti,
Enrique García Asensio. Em 2003 ganhou o lugar de violino solista da Orquestra Nacional de
Espanha. Actualmente é concertino e solista do Sonor Ensemble. Futuros projectos: concertos
na Rússia, em Portugal e na Argentina.
SEBASTIÁN MARINÉ (piano) estudou piano com R. Solís, composição com R. Alís e A. G.ª Abril
e direcção de orquestra com I. G.ª Polo e E. G.ª Asensio no Conservatório Superior de Música
de Madrid, obtendo diplomas de honra em todos os cursos e o prémio de “Fim de Curso” em
piano. Ao mesmo tempo, licenciou-se em História da Arte na Universidade Complutense de
Madrid. Actuou como solista com as orquestras da RTVE, Sinfónica de Madrid, de Sevilha, das
Baleares, da Comunidade de Madrid, de Granada, de Valladolid, das Astúrias, etc. Estreou os
concertos para piano e orquestra a si dedicados por Valentín Ruiz, Rafael Cavestany e Fernando
Aguirre. Gravou quatro CDs com música espanhola para saxofone e piano. Gravou também um
CD com as sonatas para piano solo e para piano e clarinete de Robert Stevenson. Desde 1979 é
professor do Conservatório Superior de Música de Madrid, bem como, desde a sua fundação em
1991, da Escola Superior de Música Rainha Dona Sofia, dirigida por Paloma O'Shea.
GUDRÚN ÓLAFSDÓTTIR (meio-soprano) estudou canto no Conservatório de Música de
Reykjavík, na sua Islândia natal, com a professora Ruth Magnússon. Depois de se mudar para
Londres estudou na Guildhall School of Music & Drama com Laura Sarti, obtendo um Master of
Music. Cantou os papéis de Dorabella em Cosí fan tutte (Mozart), Rosina em Il Barbiere di Siviglia
(Rossini) e Príncipe Orlowsky em Die Fledermaus (J. Strauss), entre outros. Trabalhou com a
Orquestra Sinfónica da Islândia, a Orquestra de Câmara de Reykjavík, a Orquestra Sinfónica La
Mancha e a Orquestra Schola Camerata, e deu recitais na Islândia, em Inglaterra, Escócia, Ilhas
Feroe, Espaha e Itália. No campo da oratória, o seu reportório vai da Missa em si menor de Bach à
estreia de A Child is Born de John Speight, cuja gravação com a Orquestra Sinfónica da Islândia foi
retransmitida por rádio em toda a Europa e editada em CD. Outros projectos dentro da música
contemporânea incluem Iero Oniro (Sir John Tavener) em directo para a BBC Radio 3 como parte
dos BBC Proms e Vocalise (Hjálmar H. Ragnarsson) cuja gravação foi também lançada em disco.
Foi galardoada com a Bolsa Miriam Licette (Royal Opera House Covent Garden), o Prémio de
Lieder Schubert, o Prémio Madelin Finden Memorial Trust, o Prémio para a melhor intérprete
de Lieder no Concurso Kathleen Ferrier no Wigmore Hall em Londres, e o terceiro prémio no
Concurso Vocal Internacional de Música Sacra em Roma. Tem actuado como solista com o
Sonor Ensemble em diversos concertos em Espanha e no estrangeiro.
89
Quinteto À-Vent-Garde
23 de Julho (sexta-feira) – 21h30
Igreja Matriz de São Martinho do Porto
Quinteto de Sopros
24 de Julho (sábado) – 18h00
Igreja de Nossa Sra. da Ajuda (Vestiaria)
1.ª Parte
ANTON REICHA
Quinteto n.º 2 em mi bemol maior op.88
Allegro moderato
Scherzo
Andante grazioso
Finale: Allegro molto
QUINTETO À-VENT-GARDE
Rui Borges Maia, flauta
Paulo Barros Areias, oboé
Ricardo Gama Henriques, clarinete
Hélder Vales, trompa
Ricardo André Santos, fagote
DARIUS MILHAUD
Suite La cheminée du Roi René
I. Cortège
II. Aubade
III. Jongleurs
IV. La Maousinglade
V. Joutes sur L’arc
VI. Chasse a valabre
VII. Madrigal-Nocturne
2.ª Parte
CARL NIELSEN
Quinteto de Sopros op. 43
I. Allegro ben moderato
II. Menuet
III. Preludium - Tema com variazioni
FREDERICO DE FREITAS
Modinha (do Quinteto de Sopros)
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NOTAS À MARGEM
O quinteto de sopros À-Vent-Garde apresenta algumas das obras mais emblemáticas do
reportório para flauta oboé, clarinete, trompa e fagote.
ANTON REICHA (Praga 1770 - Paris 1836), compositor checo naturalizado francês, é autor duma
obra vastíssima, que inclui duas dúzias de quintetos de sopros, entre os quais este, publicado em
1817. A sua música de câmara parece-se mais como a música do século XVIII. O estilo musical
é relativamente conservador e formal, as obras são melodiosas e bem construídas. Reicha tinha
reputação de ser um excelente professor de composição e nessa qualidade ele era respeitado
pela maioria dos músicos da sua época. Os seus tratados de composição tornaram-se das obras
mais importantes do género no século XIX.
Figura fulcral do modernismo musical na Dinamarca, CARL NIELSEN (Nørre Lyndelsee
1865 - Copenhaga 1931) é um compositor de profunda originalidade. Este quinteto, uma das
obras-primas da sua maturidade, está composto num estilo neoclássico e tem alguns toques
modernos do período final de Nielsen, embora ainda seja muito tonal e acessível a um público
amplo. Muito bem recebido desde a estreia em 1922, tornou-se um pilar do repertório para
quinteto de sopros, sendo dedicado aos membros do Quinteto de Sopros de Copenhaga, que
fez a 1.ª audição.
DARIUS MILHAUD (Aix-en Provence 1892 - Genebra 1974), um dos mais prolíficos e
multifacetados autores franceses do século XX, compôs La cheminée du Roi René na Suiça em
1939: trata-se duma suite oriunda da música do filme Cavalcade d’amour, evocadora da época
e da música dos trovadores. O filme é composto de três histórias de amor passadas na corte
francesa do século XV, do Rei René d’Anjou (1409-1480). A musica prima por uma expressão
imediata e directa, criando paisagens musicais da época: Milhaud era natural de Aix-enProvence, onde a corte e o castelo foram outrora sediados, e sempre manteve um fascínio pelo
reinado do rei René, inclusive estudando alguns dos manuscritos musicais da época.
FREDERICO DE FREITAS (Lisboa 1902 - id. 12.1.1980) é um dos compositores mais polivalentes
e representativos da música portuguesa do século XX, autor duma vasta produção que abrange
todos os géneros, com destaque para o bailado (do qual Dança da Menina Tonta, de 1940, é o
título mais conhecido). Entre a sua música de câmara destaca-se o Quinteto de Sopros, escrito
em 1950, do qual ouviremos aqui o terceiro andamento, uma deliciosa modinha.
92
OS INTÉRPRETES
RICARDO ANDRÉ SANTOS (fagote) iniciou os estudos musicais na filarmónica local e mais
tarde no Conservatório de Leiria. Aos 15 anos ingressa na Escola Profissional de Artes da Beira
Interior (EPABI), na classe de fagote do Professor João Brito. Em 2006 termina a Licenciatura em
fagote pela Escola Superior de Música de Lisboa e ruma a Madrid onde, em 2007, finaliza a Pósgraduação em música de câmara no Instituto Internacional de Música de Câmara de Madrid. Fez
parte da Orquestra Sinfónica da EPABI, com a qual realizou inúmeros concertos por todo o País
e fez digressões por Itália, Espanha e Palestina. Integrou a Orquestra da Semana Internacional
da Música do Luxemburgo, a Orquestra Portuguesa das Escolas de Música, a Orquestra de
Sopros de Jovens da União Europeia, a Orquestra Sinfónica Juvenil, a Orquestra APROARTE,
a Orquestra Nacional de Sopros dos Templários e a Orquestra de Câmara Rainha Sofia. Como
músico convidado apresentou-se com as orquestras Sinfonietta de Lisboa, Orquestra Clássica
da Madeira, Orquestra de Cascais e Oeiras, Orquestra do Algarve, Metropolitana de Lisboa e
Orquestra de Câmara Portuguesa. Tocou com prestigiados músicos, tais como: Maria João Pires,
Misha Maisky, Augustin Dumay, Miguel Borges Coelho, Bruno Pasquier e António Rosado.
Participou em masterclasses de aperfeiçoamento de fagote com Henning Trog (fagotista da
Orquestra Filarmónica de Berlim), Mathias Racz, Asger Svendsen e Afonso Venturieri.
RUI BORGES MAIA (flauta) nasceu na Maia em 1983. Começou a estudar flauta aos dez anos.
É bacharel pela Escola Superior de Música de Lisboa, na classe do Professor Olavo Barros,
licenciado pela Academia Superior de Orquestra, na classe do professor Nuno Inácio, e pós
graduado em música de câmara pelo Instituto Internacional de Música de Câmara de Madrid,
e em flauta pela Escola Superior de Música da Catalunha, na classe da professora Júlia Gállego.
Actualmente frequenta a classe de flauta do professor Jacques Zoon na Escola Superior de Música
Rainha Dona Sofia como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Albéniz.
Como formação complementar, realizou inúmeras masterclasses de Flauta e Música de Câmara,
designadamente com os professores Jaime Martín, Maurice Bourgue, Maxence Larrieu, Trevor
Wye, Michel Debost, Herbert Weissberg, Patrick Gallois, Jorge Caryevsky, Carlos Bruneel, Felix
Renggli e Christian Wetzel. Colaborou com várias orquestras, entre as quais a Orchestrutopica, a
Orquestra de Cámara Reina Sofia (Espanha), a Orquestra Gulbenkian, a Orquestra Metropolitana
de Lisboa, o Ensemble Perspektive (Alemanha), a Orquestra Sinfonietta de Lisboa e a Zoltan
Kodaly World Youth Orchestra (Hungria), que lhe deram a oportunidade de trabalhar com
vários maestros, tais como, Michael Zilm, Vladimir Ashkenazy, Joana Carneiro, Sian Edwards,
Tomas Vásary, Stephen Asbury, Ian Cober, Pablo Heras-Casado, Antoni Ros Marbá e Jesus
Lopez Cobos.
PAULO BARROS AREIAS (oboé) nasceu em Viana do Castelo em 1983. Iniciou os seus estudos de
oboé com 11 anos na Escola Profissional de Música de Viana do Castelo, efectuando concertos
com a orquestra desta mesma escola em Portugal, Espanha e Brasil. É licenciado em oboé pela
Escola Superior de Música de Lisboa, na classe do professor Andrew Swinnerton, desde 2006.
Em 2007 finalizou uma pós-graduação em música de câmara no Instituto Internacional de
Música de Cámara de Madrid, no qual teve como professor de oboé o prestigiado oboísta alemão
Hansjorg Schellenberger. Paralelamente realizou masterclasses em Portugal e Espanha com
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Stefan Schilli, Lazlo Hadady, Ernest Rambout, Pedro Ribeiro, Alex Klein, Thomas Indermuhle,
Christian Wetzel e Maurice Bourgue. Frequentou várias orquestras das quais se destacam
Orquestra Gulbenkian, Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, Orquestra Sinfonietta de Lisboa,
Orquestra Sinfónica da Póvoa de Varzim, Orquestra Bracara Augusta, Orquestra APROARTE e
Camerata do Instituto Internacional de Música de Câmara de Madrid. Em 2003 apresentou-se
como solista com a Orquestra Juvenil executando o concerto para oboé e orquestra de W. A.
Mozart, e em 2006 tocou a solo a cantata BWV 82 de J.S.Bach com a Orquestra Filarmonia das
Beiras. Em 2007 exerceu funções de 1º oboé na Kodály Zoltán World Youth Orchestra (Hungria),
com concertos na Hungria, Bélgica, Alemanha e Eslováquia. Actualmente é professor de música
de câmara e oboé na Escola Profissional de Música de Viana do Castelo.
RICARDO GAMA HENRIQUES (clarinete), natural de Torres Novas, iniciou os seus estudos
musicais na filarmónica local e mais tarde na Escola de Música da Sociedade Filarmónica
Gualdim Pais (Tomar) com os professores Francisco Ribeiro, Bruno Graça e Felipe Dias.
Terminou o ensino complementar no Conservatório Regional de Tomar na classe do professor
Felipe Dias. Em 2005 concluiu a Licenciatura em Instrumentista de Orquestra na Academia
Nacional Superior de Orquestra na classe de clarinete do professor Nuno Silva. Concluiu uma
pós-graduação em Música de Câmara com o Quinteto À-Vent-Garde no Instituto Internacional
de Música de Câmara de Madrid (Escola Rainha Sofia) em 2007, na classe dos professores
Klaus Thunemann, Radovan Vlatkovic, Hansjorg Schellenberger, Eduard Brunner e Jack Zoon.
Participou em várias masterclasses de aperfeiçoamento de clarinete com professores como
Philip Cuper, Fabrizio Meloni, Jonahtan Cohler, António Saiote, Joan Eric Lluna entre outros.
Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi premiado em vários concursos, sendo-lhe
atribuído o 2º Prémio no concurso Prémio Jovens Músicos da RDP na modalidade de clarinete
nivel médio e o 1º Prémio no Concurso Jovens Clarinetistas e tendo sido semi-finalista na 4ª
edição do Concurso Internacional Henri Tomasi (Marselha) para Quintetos de Sopros com o
quinteto À-Vent-Garde. Fez parte da Orquestra Portuguesa das Escolas de Música, daOrquestra
Nacional de Sopros dos Templários, da Orquestra Académica Metropolitana e da Orquestra
da Escola Superior de Música Rainha Sofia. Como músico convidado apresentou-se com a
Orquestra Metropolitana de Lisboa e com a Orquestra de Cascais e Oeiras, com a qual colabora
actualmente.
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HÉLDER VALES (trompa) nasceu no Porto em 1975. Iniciou os seus estudos em trompa no
Conservatório de Música de Gaia com o professor Eddy Tauber, tendo estudado também na
Escola Profissional de Música do Porto com os professores Peter Gryp e Bohdan Sebestik. É
licenciado em trompa pela Escola Superior de Música do Porto. Frequentou masterclasses em
Portugal e na República Checa com Hermann Baumann, Jindric Petras, Froydis Ree Weekre,
Adam Friederich e Javier Bonet. Foi 1.º Trompa em vários estágios com orquestras de jovens
portugueses. Obteve, em 1993, um lugar de solista na Orquestra do Norte, desempenhando
essa função até 1997, altura em que obteve a mesma posição na Orquestra Filarmonia das
Beiras. Apresentou-se como artista convidado com diversas entidades: Camarata Musical do
Porto, Orquestra Clássica do Porto, Orquestra Metropolitana de Lisboa, UMO - Jazz Orchestra
(Helsínquia), Orquestra Sinfónica Portuguesa, Remix Ensemble, Orquestra Nacional do Porto,
entre outras. Participou em festivais internacionais de música em Portugal, Espanha e França.
É membro fundador do Quinteto de Sopros Cromeleque. Do leque de personalidades com
quem trabalhou destacam-se: Jan Cober, Leo Brower, Maria Schneider, Luciano Pavarotti,
Patrick Gallois e Roger Bobo. Actuou a solo com a Orquestra do Norte, a Orquestra de Câmara de
Santiago de Compostela e a Filarmonia das Beiras. Foi por diversas vezes convidado a participar
em eventos juntamente com compositores portugueses, actuando na estreia das suas obras.
Orientou cursos de aperfeiçoamento instrumental em Espinho, Taveiro e Coimbra e leccionou
nos Conservatórios de Música de Gaia e Castelo Branco. É actualmente professor na Academia
de Música de Oliveira de Azeméis e na Escola Profissional Artística do Vale do Ave - Artave.
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Jue Wang
30 de Julho (sexta-feira) – 22h00
Claustro D. Dinis – Mosteiro de Alcobaça
Recital de Piano
1.ª Parte
Jue Wang, piano
MAURICE RAVEL
Sonatina
Moderé
Mouvement de Menuet
Animé
Miroirs
Noctuelles
Oiseaux tristes
Une barque sur l’ocean
Alborada del gracioso
La vallé des cloches
ROBERT SCHUMANN
Carnaval de Viena op. 26
Intermezzo
2.ª Parte
FRÉDÉRIC CHOPIN
Polonaise em lá bemol maior op. 53, Eroica
Balada n.º 4 em fá menor op. 52
PIOTR TCHAIKOVSKI / FRANZ LISZT
Polonaise da ópera Eugen Oneguin
Co-produção:
Festival do Estoril
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NOTAS À MARGEM
MAURICE RAVEL (Ciboure 1875 - Paris 1937), com Debussy o mestre supremo da escrita
impressionista para piano, conseguiu com a sua Sonatine de 1903 uma obra-prima de concisão
musical, em que, não obstante a presença de texturas diáfanas tipicamente impressionistas e
de sequências modais “antigas”, predomina uma concepção de base classicizante, dir-se-ia
mesmo neo-setecentista. Miroirs, uma das suas obras mais célebres e arrojadas para piano, é
uma suite de cinco peças escritas entre 1904 e 1905, cada uma das quais dedicada a um dos
pintores do grupo conhecido como Les apaches.
ROBERT SCHUMANN (Zwickau 1810 - Endenich 1856), supremo cultor da música para piano
no Romantismo alemão, compôs em 1839 Faschingsschwank aus Wien (Cenas do Carnaval
de Viena), ciclo de cinco peças construído em torno das letras musicáveis do apelido do
compositor, ASCH, tomando em parte como modelo a sonata op. 26 de Beethoven (n.º 12, em
lá bemol maior). O Intermezzo, 4.º número do ciclo, é em mi bemol menor e tem a indicação mit
grosster Energie (com máxima energia).
FRÉDÉRIC CHOPIN (Zelazowa Wola 1810 - Paris 1849) cultivou ao longo de toda a sua vida de
compositor duas formas que exprimiam a sua ligação afectiva à Polónia: a mazurka e a polaca.
As últimas duas polonaises do compositor, ambas em lá bemol maior, levam o género à sua
expressão mais rarefeita e decantada, antevendo a última (Polonaise-Fantaisie op. 61) já a estética
impressionista. A polonaise dita “heróica” é uma das obras mais virtuosísticas do repertório
pianístico, com a sua célebre coda em oitavas na mão esquerda, cuja execução requere dons
verdadeiramente heróicos.
Estreada em 1879, a ópera Eugen Oneguin de PIOTR TCHAIKOVSKY (Votkinsk 1840 - São
Petersburgo 1893) encontrou logo no ano seguinte um ouvinte entusiasta, nada menos que
FRANZ LISZT (Raiding 1811 – Bayreuth 1886), que realizou uma transcrição da brilhante
polonaise que celebrizou a ópera na Europa, em antecipação das estreias nos vários teatros
europeus.
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O INTÉRPRETE
JUE WANG (piano), natural de Xangai, tem desenvolvido uma intensa actividade concertista no
seu país de origem desde os seus 10 anos. Rapidamente se fez notar como um jovem intérprete
talentoso, tendo-se já estreado nas mais prestigiadas salas de concerto de todo o mundo. Como
vencedor do Concurso de Santander, Jue Wang recebeu um generoso prémio monetário, uma
gravação para a editora Naxos e várias tournées nas quais fez mais de 100 apresentações, quer
em concerto que em recital ao longo de quatro anos. São de destacar as suas estreias em Nova
Iorque no Zankel Hall (Carnegie Hall) e no Wigmore Hall em Londres. Tem ainda concertos
agendados no NDR Hall em Hannover, Alemanha, na Sociedade Filamónica de Bilbao, no
Auditório de Congressos de Zaragoza em Espanha, na Salle Gaveu em Paris, nos Festivais
Internacionais Santander e Penderecki em Varsóvia, bem como noutras prestigiadas salas na
Suiça, Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela, Brasil, Perú, Panamá e México. Jue Wang tem
ainda concertos programados com a Orquestra Filarmónica de Oviedo, com a Orquestra de
Câmara de Viena, com as Orquestras Sinfónicas da Rádio Televisão Espanhola, da Região de
Múrcia, Nacional da Colômbia e Nacional da República Dominicana. Obteve o Diploma de
Mestrado pelo Conservatório de Xangai em 2009. Actualmente frequenta o Artists Diploma na
classe do Dr. Marc Silverman na Manhattan School of Music.
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Orquestra
Metropolitana de Lisboa
Dia 31 de Julho (Sábado) – 21h30
Cine-Teatro de Alcobaça
Concerto Sinfónico
1.ª Parte
ORQUESTRA
METROPOLITANA DE LISBOA
João Paulo Santos, direcção
Stéphanie Manzo, harpa
Luís Miguel Cintra, narração
MENDELSSOHN
Abertura A Bela Melusina
CHRISTOPH WILLIBALD VON GLUCK
Dança das Fúrias e Bailado dos Espíritos Bemaventurados da ópera Orphée et Eurydice
RAVEL
Pavana para uma Infanta Defunta
DEBUSSY
Danse sacrée, Danse profane
para harpa e cordas
2.ª Parte
EURICO CARRAPATOSO
A Arca do Tesouro
pequeno conto musical
Texto de Alice Vieira
Obra encomendada pela Orquestra
Metropolitana de Lisboa
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NOTAS À MARGEM
FELIX MENDELSSOHN (Hamburgo 1809 - Leipzig 1847) foi o mais clássico dos românticos, um
menino prodígio que revelou a plenitude do seu génio aos 16 anos com a abertura Sonho duma
Noite de Verão. Numa curta vida de 38 anos, abrangeu todos os géneros musicais e enquanto
director do Gewandhaus de Leipzig foi um dos criadores da conceito moderno dos concertos de
“música clássica” e uma das figuras mais prestigiadas da vida musical europeia. Superiormente
culto, inspirou-se muitas vezes em obras literárias e, no caso da abertura A Bela Melusina, partiu
duma narrativa de Ludwig Tieck (1773-1853), inspirada numa velha lenda francesa sobre a
história do amor do cavaleiro Lusignan pela sereia Melusina. Composta em 1833, trata-se dum
poema sinfónico cujo aquático e ascendente tema inicial (que inspirou o motivo fluvial do Ouro
do Reno de Wagner) representa o mundo sobrenatural e feminino da sereia, por oposição ao
mundo real e masculino do príncipe, representado por um tema fortíssimo e descendente, no
modo menor; um terceiro tema mais lírico representa o amor de ambos.
CHRISTOPH WILLIBALD VON GLUCK (Erasbach 1714 - Viena 1787) é uma figura-chave da
história da ópera, responsável por uma reforma do género que influenciaria a concepção do
drama musical wagneriano. Com Orfeu e Eurídice, ópera escrita em Viena em 1762 e reformulada
em Paris em 1774, afastou-se quer da ópera italiana e da subjugação aos cantores e ao
virtuosismo, quer da ópera francesa com o seu gosto do aparato e do artifício. Às peripécias dos
enredos de Metastasio, Gluck preferiu o reencontro com a verdade dos clássicos. A concisão
dramática e a humanização dos personagens levaram-no a diluir as fronteiras entre árias e
recitativos e a conferir maior naturalidade ao fluir do drama. Atribuiu uma nova importância
à orquestra, tornando-a um elemento fulcral do drama e dando uma atenção ao timbre que
influenciou Mozart e fascinou Berlioz (cuja ópera Les Troyens, de 1863, é uma herdeira das
tragédies lyriques de Gluck). Exemplo do seu sentido orquestral são os dois mais célebres
momentos instrumentais de Orfeu e Eurídice, a Dança das Fúrias e o Bailado dos Espíritos Bemaventurados, que decorrem respectivamente no inferno e nos campos elíseos, usando neste
último a flauta com rara poesia.
MAURICE RAVEL (Ciboure 1857 - Paris 1937), filho de pai suíço e mãe basca, estudou no
Conservatório de Paris mas a sua triunfal carreira como compositor decorreu quase totalmente
à margem das instituições. A sua música evidencia, nas obras para piano, um virtuosismo
pianístico de influência lisztiana, e também um interesse pela herança musical do passado que
conduziria ao neoclassicismo das suas obras dos anos trinta. Porém, esse interesse pelo passado
manifesta-se em Ravel desde as suas obras de juventude, entre as quais se pode considerar a
Pavane pour une infante défunte, escrita originalmente para piano em 1899 e dedicada à princesa
Edmond de Polignac. A versão orquestral, de 1910, foi estreada em Londres, num concerto
Promenade, no Verão de 1911, sob a direcção de Henry Wood. De acordo com o próprio Ravel,
a escolha do título tinha apenas a ver com a sonoridade das palavras e não com a evocação de
qualquer figura histórica: “Evitem dramatizar. Esta não é a deploração fúnebre de uma infanta
que acaba de morrer, mas a evocação de uma pavana que poderia ter sido dançada por essa
pequena princesa, outrora, na corte de Espanha.”
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CLAUDE DEBUSSY (Saint-Germain-en-Laye 1862 - Paris 1918) fez os mais rigorosos estudos
académicos antes de ser tornar um “libertino” musical: aluno durante 12 anos do Conservatório
de Paris, recebeu o Prix de Rome antes de transformar a sua carreira um manifesto contra o
academismo, ou contra aquilo a que os franceses chamam “estilo pompier”. Quebrando as
regras escolásticas, o Prelúdio à Sesta de um Fauno fez em 1894 a proclamação dum novo estilo
musical que, por analogia com a pintura, ficou conhecido como estilo impressionista (embora
os seus arabescos hedonistas também tenham muito a ver com o estilo Arte Nova). A obra Danse
sacrée, Danse profane foi composta por Debussy em 1904 por incentivo da casa Pleyel de Paris,
que tentava na altura impor um novo modelo de harpa cromática (que acabou por não vingar,
pelo que as execuções actuais da peça recorrem à usual harpa de pedais). O estilo da primeira
dança tem algo do ambiente sonoro da ópera Pélleas et Mélisande: a transparência da escrita e a
linguagem modal dão-lhe uma aura lendária, perdida na mais remota antiguidade. A segunda
dança apresenta afinidades com La mer: o ritmo ternário e o recorte mais nítido dos desenhos
melódicos dão-lhe um cunho menos etéreo, com um diálogo vivo entre harpa e cordas que nos
transporta do celestial para o terreno.
EURICO CARRAPATOSO (Bragança 1962) é licenciado em História pela Faculdade de Letras da
Universidade do Porto. Iniciou os seus estudos musicais em 1985, tendo sido sucessivamente
aluno de composição de José Luís Borges Coelho, Fernando Lapa, Cândido Lima e Constança
Capdeville. Concluiu em 1993 o Curso Superior de Composição no Conservatório Nacional
de Lisboa com Jorge Peixinho. Foi assistente de História Económica e Social na Universidade
Portucalense. Leccionou na área da composição em várias instituições, nomeadamente na
Escola Superior de Música de Lisboa e na Academia Nacional Superior de Orquestra. É desde 1989
professor de Composição na Academia de Amadores de Música e no Conservatório Nacional,
sendo professor do quadro desta última instituição. Recebe regularmente encomendas das
principais instituições culturais portuguesas e a sua música tem vindo a ser executada, editada
e difundida desde 1987 não apenas na Europa bem como nos restantes continentes. Ganhou
as primeiras edições do Prémio de Composição Lopes Graça da Cidade de Tomar e do Prémio
Francisco de Lacerda. A sua música representou três vezes Portugal na Tribuna Internacional
de Compositores da UNESCO, realizadas em Paris em 1998, 1999 e 2006, com “Cinco melodias
em forma de Montemel” (para soprano, trompa e piano), “Deploração sobre a morte de Jorge
Peixinho” (para grande orquestra) e “O meu poemário infantil” (para tenor e orquestra). Em
Maio de 2001 foi distinguido pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal com o
Prémio da Identidade Nacional. Foi condecorado pelo Presidente da República com a Comenda
da Ordem do Infante Dom Henrique em 10 de Junho de 2004.
Testemunho do compositor acerca deste projecto:
“De entre as minhas obras, tenho três, das mais dilectas, para (e com) miúdos: uma ópera
(A Floresta, sobre história de Sophia e libreto de Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães), uma
cantata profana (O lobo Diogo e o mosquito Valentim, sobre alegoria de António Pires Cabral)
e uma série de pequenas psicografias zoológicas (O meu poemário infantil): horas felizes que
me deram da música mais solar por mim achada. A perspectiva, agora, de trabalhar com Alice
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Vieira é, só por si, um estímulo precioso. Acresce o facto deste projecto se ancorar no seio da
Orquestra Metropolitana de Lisboa, com a qual já tive uma daquelas experiências inesquecíveis:
O meu poemário infantil, sobre textos de Violeta Figueiredo. Esta obra para tenor e orquestra,
dedicada a um público infanto-juvenil, foi levada à plenitude da transparência interpretativa
pela OML, sob a direcção de Brian Schembri, num concerto transmitido em directo para o
mundo pela UER. Não conhecia pessoalmente Alice Vieira. Mas já nos encontrámos para um
primeiro contacto. Tivemos aquela sensação de que nos conhecíamos há muito tempo, tal a
cumplicidade e sintonia. Ficámos com vontade grande de avançar com esta nova experiência,
desta vez para narrador (Luís Miguel Cintra, segundo a nossa vontade) e orquestra. Vamos a
isto. Sim: vamos a isto.” (Eurico Carrapatoso, Junho de 2009)
ALICE VIEIRA nasceu em 1943 em Lisboa. É licenciada em Germânicas pela Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa. Em 1958 iniciou a sua colaboração no suplemento «Juvenil»
do Diário de Lisboa e a partir de 1969 dedicou-se ao jornalismo profissional. Desde 1979 tem
vindo a publicar regularmente livros tendo, editados na Caminho, mais de cinco dezenas de
títulos. Recebeu em 1979, o Prémio de Literatura Infantil Ano Internacional da Criança com
Rosa, Minha Irmã Rosa, em 1983, com Este Rei que Eu Escolhi, o Prémio Calouste Gulbenkian
de Literatura Infantil, e em 1994 o Grande Prémio Gulbenkian, pelo conjunto da sua obra. Foi
indicada, por duas vezes, como candidata portuguesa ao Prémio Hans Christian Andersen.
Trata-se do mais importante prémio internacional no campo da literatura para crianças
e jovens, atribuído a um autor vivo pelo conjunto da sua obra. Alice Vieira é uma das mais
importantes escritoras portuguesas para jovens, tendo ganho grande projecção nacional e
internacional. Foi igualmente apresentada por duas vezes, como candidata ao ALMA (Astrid
Lindgren Memorial Award).
Testemunho da escritora acerca deste projecto:
“As pessoas sensatas, antes de aceitarem qualquer nova proposta, pensam bem. Pensam
muito bem. Pensam mesmo muito, muito bem. Depois aconselham-se com a família, com
os amigos, com o santo protector. Depois pesam os prós, depois pesam os contras. Depois
avaliam. E depois decidem. Eu, para atalhar caminho, comecei logo pelo fim: quando o director
da Orquestra Metropolitana de Lisboa, Cesário Costa, me convidou para escrever uma história
que seria depois musicada – eu disse logo que sim. Acho que só no dia seguinte é que me dei
conta do que tinha acontecido: estava metida numa verdadeira aventura, ainda por cima ao
lado de um nome grande da música portuguesa, com quem eu nunca sequer sonhara um dia
vir a colaborar. (De resto, quando avançaram com o nome dele, eu perguntei duas vezes: “com
o Eurico Carrapatoso?! Palavra?”) E pronto.A partir daí fez-se o que tinha de ser feito, ou seja,
sentei-me a uma mesa com ele, conversámos, conversámos, de amigos, de infâncias, de gente
que cruzara as nossas vidas, de isto e daquilo. E de música também, claro. E eu tive a certeza
absoluta – tanto quanto as nossas certezas podem ser absolutas – de que sempre nos tínhamos
conhecido. Combinámos prazos, acertámos agulhas – e agora… Agora já não há nada a fazer.
Nada – senão o melhor.” (Alice Vieira, Julho de 2009)
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OS INTÉRPRETES
A ORQUESTRA METROPOLITANA DE LISBOA (OML) estreou-se no dia 10 de Junho de
1992. Desde então, os seus músicos asseguram uma extensa actividade que compreende os
repertórios barroco, clássico e sinfónico – integrando, neste último caso, os jovens intérpretes
da Orquestra Académica Metropolitana. Esta versatilidade, que lhe permite abranger géneros
tão diversos, como a Música de Câmara, o Jazz, o Fado, a Ópera ou a Música Contemporânea,
tem contribuído para a criação de novos públicos e consolidado o carácter inovador do projecto
da Metropolitana. Esta entidade, que tutela a orquestra, tem como principais singularidades
a interligação entre a dimensão artística e a prática pedagógica das suas escolas – a Academia
Superior de Orquestra da Metropolitana, a Escola Profissional Metropolitana e o Conservatório
Metropolitano de Música de Lisboa – e uma criteriosa actuação no domínio da responsabilidade
social, de que é exemplo a recente implementação do ensino musical integrado nas escolas
da Casa Pia de Lisboa. Cabe-lhe, ainda, a responsabilidade de assegurar uma programação
regular em várias autarquias da região centro e sul, para além de promover uma efectiva
descentralização cultural do norte ao sul do país. Desde o seu início, a OML afirmou-se como
uma referência incontornável do panorama orquestral nacional. Além-fronteiras, apresentouse em Estrasburgo e Bruxelas somente um ano após a sua criação. Desde então tem tocado em
Itália, Índia, Coreia do Sul, Macau, Tailândia e Áustria. Em Julho de 2009 deslocou-se a CaboVerde, numa ocasião histórica, em que pela primeira vez se apresentou uma orquestra clássica
no arquipélago. Mais recentemente, no final de Dezembro de 2009 e início de Janeiro de 2010,
efectuou uma digressão pela China. Ao longo dos anos foi dirigida pelos mais importantes nomes
da direcção orquestral portuguesa e por inúmeros maestros estrangeiros de elevada reputação,
onde se incluem Arild Remmereit, Nicholas Kraemer, Lucas Paff, Joana Carneiro, JeanSébastien Béreau, Álvaro Cassuto, Cesário Costa, Brian Schembri, Manuel Ivo Cruz, Michael
Zilm, Victor Yampolsky e, mais recentemente, Christopher Hogwood e Theodor Guschlbauer.
Colaborou com grandes solistas como Maria João Pires, José Cura, Monserrat Caballé, Kiri Te
Kanawa, José Carreras, Felicity Lott, Elisabete Matos, Leon Fleisher, Natalia Gutman, Augustin
Dumay, Oleg Marshev, Pascal Rogé, Artur Pizarro, Tatiana Nikolayeva, Anabela Chaves, Anne
Queffélec, Irene Lima, Paulo Gaio Lima, Eric Stern, Gerardo Ribeiro e António Rosado. Mais
recentemente, juntaram-se a este rol os nomes de António Meneses, Sol Gabetta, Michel Portal,
Marlis Peterson, Thomas Walker e Dietrich Henschel. Na presente temporada, a OML tem como
principal solista convidado o violinista Augustin Dumay. A OML já gravou dez CDs – um dos
quais disco de platina – para diferentes editoras, incluindo a EMI Classics, a Naxos e a RCA
Classics. Registam-se no seu historial várias encomendas de obras orquestrais a compositores
portugueses, destacando-se nas últimas temporadas O Violino Cigano de Pedro Faria Gomes,
Abertura Breve de António Victorino d’Almeida, Um Discurso de Thomas Bernhard de António
Pinho Vargas e Fados Sinfónicos de Álvaro Cassuto. A Orquestra Metropolitana de Lisboa tem
vindo ainda a protagonizar inúmeras estreias absolutas de obras de autores portugueses, tais
como a ópera de câmara Jerusalém de Vasco Mendonça ou, nos últimos anos, Contos Fantásticos
e Evil Machines de Luís Tinoco, O Meu Poemário Infantil de Eurico Carrapatoso, O Sonho de
Pedro Amaral, entre outras. Desde a sua constituição, a Metropolitana foi presidida por Miguel
Graça Moura, tendo esse lugar sido ocupado desde Novembro de 2003 até Novembro de 2008
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por Gabriela Canavilhas. A actual direcção é constituída por Cesário Costa (Presidente), Fátima
Angélico e Paulo Pacheco (Vogais).
LUÍS MIGUEL CINTRA (narrador) nasceu em Madrid em 1949. Iniciou a sua carreira de actor
e encenador de teatro no Grupo de Teatro da Faculdade de Letras de Lisboa. Frequentou a
Bristol Old Vic Theatre School em Inglaterra. Em 1973 fundou em Lisboa com Jorge Silva Melo
o Teatro da Cornucópia que desde então dirige, agora com Cristina Reis, e onde tem encenado
e representado textos de todo o reportório teatral. Encenou ópera para o Teatro Nacional de S.
Carlos, o Teatro da Cornucópia, a Culturgest e a Culturporto e o Teatro Aberto, quase sempre
em colaboração com o maestro João Paulo Santos: L’Enfant et les Sortilèges de Ravel, Dido e Eneias
de Purcell, As Bodas de Figaro de Mozart, Façade e O Urso de William Walton, The Strangler de
Martinu, L’isola disabitata de Haydn, The English Cat de Hans Werner Henze, Jeanne d’Arc au
Bûcher de Honegger/Claudel (que também interpretou), Medeia de Cherubini, Le Vin Herbé
de Frank Martin. Interpretou e dirigiu ainda no Teatro Nacional de S. Carlos o melodrama
Manfred de Schumann/Byron e como intérpete participou na ópera Policcino de H. W. Henze
na Culturgest. Participou com a sua companhia de teatro no Festival de Teatro da Bienal de
Veneza em l984, no Festival de Avignon de 1988, no Festival de Outono de Paris em 1989 e
em 1991 na Europália de Bruxelas e na sessão da École des Maîtres que lhe foi dedicada. Em
1997 trabalhou como actor em Paris no Théâtre de la Commune-Pandora, Aubervilliers e em
2005 encenou no Teatro de la Abadia de Madrid. Faz regularmente recitais de poesia e gravou
oito discos de literatura portuguesa. Tem participado como recitante em vários concertos.
No cinema interpretou filmes de João César Monteiro, Paulo Rocha, Luis Filipe Rocha, Solveig
Nordlund, Jorge Silva Melo, Manoel de Oliveira, Christine Laurent, José Álvaro de Morais, Pedro
Costa, Joaquim Pinto, Maria de Medeiros, Patrick Mimouni, Teresa Vilaverde, João Botelho,
Pablo Llorca, Jorge Cramez, John Malkovich, Raquel Freire, Jean Charles Fitoussi, Catarina
Ruivo, Margarida Gil, João Constâncio.
JOÃO PAULO SANTOS, nascido em Lisboa em 1959, concluiu o curso superior de Piano no
Conservatório Nacional desta cidade na classe de Adriano Jordão. Trabalhou ainda com Helena
Costa, Joana Silva, Constança Capdeville, Lola Aragón e Elizabeth Grümmer. Na qualidade
de bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian aperfeiçoou-se em Paris com Aldo Ciccolini
(1979/84). A sua carreira atravessa os últimos 34 anos da biografia do Teatro Nacional de São
Carlos onde principiou como co-repetidor (1976), função que manteve durante a permanência
em Paris. Seguiu-se o cargo de Maestro Titular do Coro (1990-2004), desempenhando
actualmente as funções de Director de Estudos Musicais e Director Musical de Cena.O seu
percurso artístico distingue-se, essencialmente, em três áreas. Estreou-se na direcção musical
em 1990 com a ópera The Bear (William Walton), encenada por Luis Miguel Cintra, para a RTP.
Desde então tem dirigido obras tão diversas quanto óperas para crianças (Menotti, Britten,
Henze, Respighi), musicais (Sondheim), concertos e óperas nas principais salas nacionais.
Estreou em Portugal, entre outras, as óperas Renard (Stravinski), Hanjo (Hosokawa), Pollicino
(Henze), Albert Herring (Britten), Neues vom Tage (Hindemith), Le Vin herbé (Martin), e The English
Cat (Henze) cuja direcção musical foi reconhecida com o Prémio «Acarte 2000». Colabora com
compositores portugueses, destacando-se a estreia absoluta de obras de António Chagas Rosa,
António Pinho Vargas, Eurico Carrapatoso e Clotilde Rosa. Na qualidade de pianista apresentase a solo, em grupos de câmara e em duo, nomeadamente, com a violoncelista Irene Lima e
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o violinista Bruno Monteiro. Concertos e recitais por todo o País com praticamente todos os
cantores portugueses preenchem regularmente o seu calendário artístico. A recuperação e
reposição do património musical nacional ocupam um lugar significativo na sua carreira de
músico sendo responsável pelas áreas de investigação, edição e interpretação de obras dos
séculos XIX e XX. São exemplos as óperas Serrana, Dona Branca, Lauriane e O Espadachim do
Outeiro que já foram levadas à cena no Teatro Nacional de São Carlos e no Centro Cultural Olga
Cadaval. Fez inúmeras gravações para a RTP (rádio e televisão) e gravou discos abrangendo
um repertório diverso desde canções do Chat Noir aos clássicos tais como Saint-Saëns e Liszt
passando por Erik Satie, Martinů, Poulenc, Luís de Freitas Branco ou Jorge Peixinho. Quer como
consultor, quer na direcção musical, é frequentemente convidado a colaborar em espectáculos
de prosa encenados por João Lourenço e Luis Miguel Cintra.
STÉPHANIE MANZO (harpa) nasceu no Sul de França e iniciou os seus estudos de harpa
aos 8 anos de idade com a professora Josey Grauer, antiga aluna de Marcel Tournier. Aos 16
anos ingressou no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris, onde estudou com
Gérard Devos em harpa e com Jean-Michel Damase em música de câmara. Três anos mais
tarde obteve o primeiro prémio «À l’unanimité» em Harpa. Em 1990 obteve a «Mention
Spéciale» do Concurso Internacional Louise Charpentier e em 1993 foi finalista do Concurso
Internacional Lily Laskine. Aperfeiçoou-se com Catherine Michel e Marielle Nordmann,
continuando assim a tradição de dois dos mais famosos harpistas do Século XX, Pierre Jamet e
Lily Laskine. Beneficiou também dos conselhos do Fabrice Pierre e Susann Macdonald. Tem-se
apresentado em salas e festivais internacionais, como Salle Pleyel (Homenagem a Lily Laskine),
Auditorium Saint-Germain, Cassis (Journée de la Harpe), Festival International du Jeune Soliste
d’Antibes-Juan-Les-Pins, Festival Méditerranéen, Seattle (Congresso Mundial de Harpa),
NDR Hamburgo, Crotone/Itália, Açores (Festival MusicAtlântico), Museu Gulbenkian, CCB Festival dos 100 Dias. Também a solo com as Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra
Gulbenkian, Orquestra Clássica da Madeira, Orquestra Regional Provence-Alpes-Côte d’Azur
entre outras. Tem sido convidada para tocar com reputadas orquestras, como a Orquestra da
Ópera Nacional de Lyon, a Orquestra Nacional de Lyon, a Orquestra Sinfónica de Singapura, a
Orquestra Gulbenkian e a OrchestrUtopica. Já tocou com R. Barshai, J. S. Béreau, M. Caballé,
A. Dumay, L. Foster, B. Hendricks, E. Krivine, T. Mörk, V. Mullova, M. Rostropovitch e M.
Vengerov. Acerca de Stéphanie Manzo, Marielle Nordmann escreveu: «Une des meilleures
harpistes de sa génération». Desde 1995 é membro associado da Orquestra Metropolitana de
Lisboa e professora de Música de Câmara na Academia Nacional Superior de Orquestra.
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Ciclo de Cinema
18, 19, 25 e 26 de Julho
Cine-Teatro de Alcobaça
O LEOPARDO
18 Julho (domingo), 21h30
O DESPREZO
19 Julho (segunda-feira), 21h30
Um dos maiores filmes do mestre italiano
Luchino Visconti, esta adaptação da obra
homónima de G. Tomasi di Lampedusa
venceu a Palma de Ouro de Cannes e contou
com interpretações de Burt Lancaster, Alain
Delon e Claudia Cardinale.
Adaptação de um dos grandes romances do
escritor italiano Alberto Moravia por JeanLuc Godard, um dos magos e mentores da
Nouvelle Vague, com a presença mítica de
Brigitte Bardot, Michel Piccoli, Jack Palance
e Fritz Lang.
Sinopse
Em 1860, enquanto Garibaldi inicia o
movimento de unificação de Itália, D.
Fabrício (Burt Lancaster) é um aristocrata a
lutar por manter o anterior modo de vida.
Ameaçado pelos ventos da mudança e a
ascensão da burguesia, combina então casar
o seu sobrinho Tancredi (Alain Delon) com
Angélica (Claudia Cardinale), filha de um rico
e influente administrador de propriedades.
Sinopse
Um olhar crítico sobre as divergências entre
o cinema comercial e a independência
artística onde o próprio realizador acabou por
personificar o conflito do filme ao deparar-se
pela primeira vez com um orçamento vasto
e uma actriz no auge da sua carreira: Brigitte
Bardot – e que toma como ponto de partida
a adaptação da “Odisseia” de Homero, em
Capri, sob a direcção de Fritz Lang.
Título original: Il Gattopardo
de Luchino Visconti
com Burt Lancaster, Alain Delon, Cláudia Cardinale, Paolo
Stoppa
ITA/FRA (1963) | 178’ | Cor | M/12 | 35mm
Título original: Le mépris
de Jean-Luc Godard
com Brigitte Bardot, Michel Piccoli, Jack Palance, Fritz Lang
FRA/ITA (1963) | 102’ | Cor | M/12 | 35mm
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WASHINGTON SQUARE
25 Julho (domingo), 21h30
MORTE EM VENEZA
26 Julho (segunda-feira), 21h30
Revisão de uma das melhores obras de Henry
James, um dos escritores norte-americanos
mais proeminentes do séc. XIX, realizado
pela cineasta polaca Agnieszka Holland e
com interpretações de Jennifer Jason Leigh e
Albert Finney.
Baseado no clássico da literatura do
escritor germânico Thomas Mann, uma das
adaptações mais apaixonadas de Luchino
Visconti, que resulta numa profunda reflexão
sobre a arte e a vida, a beleza e a morte, ao
som de Gustav Mahler.
Sinopse
Nova Iorque, final do séc. XIX. Catherine
Sloper (Jennifer Jason Leigh) é uma rapariga
rica que não herdou da mãe nenhuma das
características que o seu pai (Albert Finney)
admirava: é pouco carinhosa e o charme,
a elegância, a beleza e a inteligência não a
favorecem. Muito tímida, um dia apaixonase loucamente por Morris Townsend
(Ben Chaplin), um rapaz bonito, mas sem
dinheiro.
Sinopse
Gustav von Aschenbach (Dirk Bogarde) é um
compositor austríaco que viaja até Veneza
em busca de repouso, após um período
turbulento da sua vida. Aí desenvolve uma
paixão obsessiva por um jovem, Tadzio
(Björn Andrésen), que encontra em férias
com sua família. Enquanto uma epidemia de
cólera assola a cidade, Tadzio representa para
o artista o mais puro ideal de beleza.
Título original: Washington Square
de Agnieszka Holland
com Jennifer Jason Leigh, Albert Finney, Maggie Smith, Ben
Chaplin
EUA (1997) | 115’ | Cor | M/12 | 35mm
Título original: Morte a Venezia
de Luchino Visconti
com Dirk Bogarde, Bjorn Andresen, Silvana Mangano,
Marisa Berenson
ITA/FRA (1971) | 130’ | Cor | M/12 | 35mm
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A história das relações entre a literatura e o cinema tem sido um caso quase tão antigo quanto
a própria história das imagens em movimento, um mundo em certas ocasiões povoado de
equívocos, noutros momentos marcado por desfechos felizes. Algo que poderíamos ainda
descrever, insistindo na metáfora conjugal, por vezes como um amor à primeira vista e noutras
alturas como um casamento com resultados desastrosos: e quem nunca comparou as diferenças
entre um filme e um livro ou as suas manifestas desigualdades? Talvez por isso, porque a
palavra e o texto literário nunca deixaram de ter o poder de suscitar imagens e oferecerem-nos
narrativas, a Sétima Arte pela mão dos seus a maiores cineastas foi sempre buscar ao campo
da literatura o melhor que esta tinha para oferecer. Razão porque as adaptações literárias
continuam a constituir ainda hoje uma das maiores fontes de inspiração do próprio cinema, um
manancial de grandes histórias, enredos e personagens, à espera de serem eternizadas na sala
de cinema. Mais uma vez em colaboração com a actual edição do Cistermúsica, a rede *aurora
apresenta o ciclo “Cinema e Literatura”, uma iniciativa que responde não apenas ao lema do
festival, procurando evocar alguns dos melhores episódios de adaptações literárias no universo
do cinema ao longo das últimas décadas – onde destacamos as obras de um dos mestres que
melhor soube respeitar o espírito do texto literário original: Luchino Visconti com “Morte
em Veneza” e “O Leopardo” –, mas que representa ainda uma homenagem ao melhor que o
cruzamento entre estas duas artes nos ofereceu. Se escritores como Thomas Mann, Alberto
Moravia, Giuseppe Tomasi di Lampedusa ou Henry James deram à literatura algumas das suas
maiores obras-primas, a verdade é que Luchino Visconti, Jean-Luc Godard e Agnieszka Holland
não deixaram os seus méritos por mãos alheias.
David Mariano (programador)
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FICHA TÉCNICA
Director Artístico
Alexandre Delgado
Director Executivo
Rui Morais
Direcção de Produção
Hélio Vazão e Lídia Pereira
Produção
Isabel Martins e Rosário Ribeiro (CMA)
Ana Cristina Vieira, Ana Cristina Pestana,
Ana Teresa Norte e João Coelho
Comunicação
David Mariano
Design Gráfico
www.velcrodesign.com
Impressão
Arte Artaca
AGRADECIMENTOS
Directora do Mosteiro de Sta. Maria de Alcobaça, CeDeCe,
Centro Cultural Gonçalves Sapinho e Armazém das Artes.
Párocos de Alcobaça, Aljubarrota, Cela, Cós, Évora, São Martinho do Porto e Vestiaria.
Presidentes das Juntas de Freguesia de Alcobaça, Aljubarrota, Benedita, Cela,
Cós, Évora, São Martinho do Porto e Vestiaria.
Associação de Amigos do Mosteiro de Sta. Maria de Alcobaça.
Associação de Comércio, Serviços e Indústria de Alcobaça.
Ana Alves, Ana Paula Trindade, Dalila Vicente, Sofia Silva,
João Pedro Mendes dos Santos, Frederico Lourenço e Piñero Nagy.
O Cistermúsica agradece ainda a colaboração fundamental de todos os voluntários e
profissionais aqui não identificados.
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holsteins georg