MEDIAÇÃO DO CONFLITO DE CLASSE NA GESTÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE TRABALHO, QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA NO MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU/RJ Bruno de Oliveira Figueiredo 1 José dos Santos Souza2 Ricardo de Souza Ribeiro 3 Este trabalho é uma síntese de resultados parciais do projeto de pesquisa intitulado “Análise Qualitativa da Gestão de Recursos do FAT aplicados na Qualificação Profissional do Município de Nova Iguaçu/RJ”. Este projeto tem como objetivo verificar se os recursos aplicados em qualificação profissional são coerentes com o discurso oficial de formação de competências para a garantia de trabalho e renda e inserção no mercado de trabalho. O desenvolvimento desse trabalho teve como base a coleta e análise de informações sobre o diálogo social estabelecido no Poder Local, tendo como referência empírica, a Comissão Municipal de Emprego de Nova Iguaçu (CME). Este órgão é responsável pela gestão dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) em nível municipal. Nosso trabalho consiste em caracterizar o diálogo social estabelecido entre os participantes da CME, com o intuito de analisar a atuação desse órgão na gestão dos recursos do FAT e na formulação de Políticas Públicas de Trabalho e Renda (PPTR), em especial as políticas de qualificação profissional. Para esse fim, foram feitas coletas de dados de fontes primárias (atas de reuniões, relatórios, pareceres, etc.), revisão bibliográfica, entrevistas semi-estruturadas com os representantes da CME e com o Governo Municipal. A partir dos dados coletados foi possível descrever a estrutura e funcionamento da PPRT em Nova Iguaçu, apontar os interesses e descrever a atuação dos sujeitos participantes da gestão da CME, Aluno do Curso de Administração do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ e bolsista do PIBIC/CNPq. Membro do Grupo de Pesquisas Sobre Trabalho, Política e Sociedade (GTPS). E-mail: [email protected] 2 Doutor em Sociologia pela UNICAMP e professor adjunto do Departamento de Educação e Sociedade do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ. Líder do Grupo de Pesquisas Sobre Trabalho, Política e Sociedade (GTPS). E-mail: [email protected] 3 Aluno do Curso de Pedagogia do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ e bolsista do PIBIC/CNPq. Membro do Grupo de Pesquisas Sobre Trabalho, Política e Sociedade (GTPS). E-mail: [email protected] 1 2 descrever a dinâmica de funcionamento da CME e verificar a articulação com os objetivos e metas prescritos pelo CODEFAT. A caracterização e análise do diálogo social tem nos permitido conhecer as relações estabelecidas entre os representantes da CME e entre estes representantes e os setores financeiro, governamental e agentes executores de qualificação profissional. Crise do Capital, Reestruturação Produtiva e Novos Mecanismos de Mediação do Conflito de Classes O sistema de controle metabólico do capital possui características opostas à natureza, sendo, portanto, contrário a todos os modos de controle do metabolismo social das eras anteriores. Como uma exceção à regra, não há nenhum modo de controle do metabolismo social mais totalizante que a ordem social capitalista de produção e reprodução da vida material. Segundo Mészáros (1999, p. 86), o capital é “de longe a mais poderosa estrutura ‘totalizante’ de controle, à qual tudo o mais, inclusive os seres humanos, deve se adaptar, escolhendo entre provar sua ‘viabilidade produtiva’ ou perecer”. O dinamismo desse sistema se desenvolve por meio de seu caráter totalizador, abrangendo todos os meios de reprodução social, que retira do homem seu poder de decisão e transforma-o em engrenagem do sistema e a não obediência dessas regras exclui esse homem do sistema (ANTUNES, 2005, p. 19-28, MÉSZÁROS, 1999, p. 86-88). O modo de controle do capital ganha impulso e grandes dimensões com o desenvolvimento do regime fordista de acumulação. Esse regime de acumulação e as conseqüentes mudanças e aperfeiçoamentos no processo produtivo das organizações se desenvolvem a partir do final do século XIX. Influenciado pelos estudos de tempos e movimentos de F. W. Taylor (Os Princípios da Administração Científica), Henry Ford utiliza a fragmentação detalhada do trabalho, proposta por Taylor, em conjunto com velhas tecnologias racionalizadas para dar sentido a um regime de acumulação pautado na divisão entre a concepção e execução do trabalho e da produção. Embora essa nova configuração do sistema produtivo, com a separação hierárquica entre gerência, controle e execução, já fosse utilizada em muitas indústrias, o diferencial do modelo de Ford era a nova concepção de sociedade democrática, contexto no qual esse novo regime de acumulação encontraria sua legitimidade. Com uma produção em massa, exigindo um consumo em massa e conseqüentemente um novo tipo de trabalhador, ganha forma e sentido o regime de acumulação Taylorista-fordista bem como seu modo específico de 3 regulação social baseado nos princípios do Estado de bem-estar social (Cf.: HARVEY, 2006, p. 121-122). Para a implantação do fordismo, foi preciso a reformulação do papel do Estado, tornando-o intervencionista, responsável pela liquidez da economia, pelo mercado de trabalho e sua regulamentação. O período pós 1945 foi marcado por aumento de produtividade sem precedentes, criação de grandes empresas, expansão dessas empresas com alcance mundial. A derrota dos movimentos operários radicais gerou um sindicalismo corporativo, baseado em um sistema de compromisso mediado e assegurado pelo Estado. Os trabalhadores cooperavam com o aumento da produtividade e, em troca, recebiam benefícios de seguridade social, salário mínimo, etc. Foi com essa lógica de compromisso que os sindicatos desenvolveram o processo de negociação coletiva e ganharam poder e legitimidade. A negociação coletiva se tornou um instrumento de luta entre trabalho e capital, com a mediação do Estado (HARVEY, 2006, p. 125-126). No Brasil, o desenvolvimento do processo de negociação coletiva é iniciado com a reorganização sindical no final da década de 70 e durante toda a década de 1980 funcionou como mecanismo de obtenção de direitos trabalhistas (DIEESE, 2001, p. 193). Na conjuntura internacional, os compromissos do Estado fordista cresceram de tal forma que o final dos anos 1960 foi marcado por descontentamentos com os serviços executados pelo Estado na área da saúde, da educação, da habitação, etc.4. Surgem, então, reivindicações e questionamentos das pessoas em relação à sua qualidade. As críticas à rotinização e à estrutura burocrática desumanizada passaram a fazer parte de protestos e conflitos sociais. Essa conjuntura de descontentamentos e conflitos, em conjunto com as pressões sociais das organizações dos trabalhadores, passou a delinear os limites do regime fordista de acumulação. Esse processo culminou com a recessão de 1973, marcando o início da transição para um regime de acumulação flexível (HARVEY, 2006, p. 132-134). Com base na conjuntura de instabilidade econômica derivada da crise do capital dos anos 1970 e com o êxito do Japão na concorrência mundial, o modelo de gestão do trabalho desenvolvido na fábrica japonesa Toyota, passa a orientar o processo de 4 No Brasil, os direitos pautados no Estado Bem-Feitor não são comparáveis aos direitos alcançados nos países do centro capitalista. 4 reorganização da produção mundial nos anos 1980. A disseminação das técnicas do toyotismo, a partir dos anos 1970, para várias partes do mundo cria a necessidade de adaptação às diferentes realidades das produções industriais (ALVES, 2005, p. 29-32). Os efeitos do novo regime de acumulação no mundo do trabalho são transformações radicais como o alto desemprego estrutural e a destruição e reconstrução de habilidades nos moldes do novo regime. As relações de trabalho são profundamente alteradas com a diminuição do emprego; o crescimento do trabalho temporário ou subcontratação; o resgate e crescimento de formas artesanais de produção em pequenas quantidades, sem nenhuma seguridade social; formas familiares, paternalistas, com envolvimento de exploração (HARVEY, 2006, p. 141-148). Como justificativa ideológica, esse sistema é disseminado como a única alternativa viável, instituindo-se de forma renovada o paradigma da democracia burguesa. A economia de mercado livre passa a ter a conotação de liberdade de escolha econômica, que conduz à democracia. Essa ideologia transfere os aspectos negativos desse sistema – como o desemprego de milhões de pessoas – para a liberdade de escolha econômica (MÉSZÁROS, 1999, p. 86-88). Com o discurso Neoliberal de flexibilização da produção e das relações de trabalho necessárias à competição internacional, o empresariado brasileiro intensifica o processo de racionalização da produção, visando à diminuição dos custos fixos e variáveis. A proposta empresarial para a competição internacional investe na flexibilização dos contratos de trabalho, da jornada de trabalho, dos salários, etc. Essa proposta afeta diretamente a dinâmica da negociação coletiva, principal instrumento de conquistas trabalhistas, implementado pela organização sindical dos trabalhadores. Além disso, é desencadeada uma grande modificação nas condições de trabalho, no nível e qualidade do emprego (DIEESE, 1999, p. 1-3). As mudanças implementadas com o novo regime flexível provocaram uma onda de fusões, reestruturações e fragmentações nas organizações. Muitas das grandes organizações se especializaram, passando a não desempenhar mais as atividades iniciais, transferindo para terceirizadas e passando a controlar as atividades de várias empresas menores (HARVEY, 2006, p. 149-157). Além disto, evidencia-se maior autonomia e integração do mercado financeiro mundial, sem precedentes, tornando-o cada vez mais complexo. O desenvolvimento desse mercado complexo exigiu uma 5 intervenção estatal de novo tipo, envolvendo acordos internacionais, desregulamentação e regulamentação nos moldes ditados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial (HARVEY, 2006, p. 158-162). Por meio da evolução dos processos de negociação coletiva em torno das políticas de recomposição do poder aquisitivo dos salários e busca pela normatização dos direitos sociais, os sindicatos se institucionalizaram e formaram as centrais sindicais. Essa institucionalização ganha forma mais definida a partir da Constituição de 1988. A consolidação do processo de negociação coletiva permitiu uma grande evolução na normatização de regras envolvendo as relações de trabalho (DIEESE, 2001, p. 195-196). As reformas do Estado e a abertura econômica, a partir dos anos 1990, provocaram o agravamento do quadro de recessão e desemprego. Essas reformas foram realizadas para adequar o Estado brasileiro ao receituário neoliberal e à nova conjuntura internacional de competitividade, privatizações, reestruturação produtiva, flexibilização dos direitos trabalhistas, etc. Esse período foi caracterizado pela abertura de novos espaços de negociação entre o governo, empresários e trabalhadores. Além da negociação por categorias, abriram-se espaços de negociação em câmaras setoriais. Nas câmaras setoriais eram discutidas questões, como o nível de emprego em complexos industriais, investimentos e tributação (DIEESE, 2001, p. 197-198). Nesse contexto de adaptação do Brasil à nova etapa do capitalismo global, são implantadas as Políticas Públicas de Trabalho e Renda. Para legitimar esse processo, as políticas governamentais como o “Entendimento Nacional”, em 1991, e “Agenda Brasil”, em 1993, introduziram discussões em torno das reformas da Previdência Social, Tributária e Fiscal, Políticas Sociais, além das Políticas de Emprego. Essas políticas, de modo geral, não alcançaram os objetivos dispostos no discurso oficial. As transformações sócio-econômicas, a reestruturação industrial e a introdução de novas formas de organização da produção e novas tecnologias microeletrônicas provocaram alterações nas formas de negociação coletiva, por meio da investida contra os direitos trabalhistas conquistados na década de1980 (DIEESE, 2001, p. 197-198). Além da mudança nas estratégias de luta entre capital e trabalho, a introdução intensa de ciência e tecnologia na produção demanda um novo tipo de trabalhador. Para adaptar a força de trabalho à lógica produtiva, a educação se funda no conceito de 6 competências, exigindo do trabalhador criatividade, aptidão para resolver problemas, disposição para uma constante qualificação por exigência do mercado. Esse modelo de competências é direcionado pelo processo de reestruturação produtiva, baseado no toyotismo, com o objetivo de subordinar o trabalhador à lógica produtiva, explorando o trabalho pela racionalização multifuncional, aumentando a produtividade (BATISTA, 2003, p. 143-172). ´ No contexto da introdução das novas tecnologias, o novo tipo de trabalhador precisa possuir habilidades de raciocínio lógico, estar preparado para uma constante qualificação, ter o domínio de conhecimento geral, estar preparado para tomar decisões e resolver problemas. Essas habilidades são adquiridas na formação desenvolvida para a elite dominante da sociedade, no ensino médio e universitário, opondo-se à qualificação fragmentada que era destinada aos trabalhadores (ASSIS, 1994, p. 192-195). Para subordinar o trabalhador à lógica produtiva, a Teoria do Capital Humano serve de base ideológica para a implantação da nova educação nos moldes da produção. Essa teoria foi desenvolvida no cenário seguinte ao pós II Guerra, baseada nas teorias neoclássicas. Seu objetivo era solucionar a incógnita do excedente de produção alcançado nesse período e conseqüente desenvolvimento das economias centrais do capitalismo. Esses teóricos definem que o investimento na educação, formação e qualificação profissional e no bem-estar do trabalhador é a causa do excedente de produção, nomeado como Capital Humano (SOUZA, 2003, p. 180-183). Redefinição das Políticas Públicas de Trabalho e Renda As PPTR no Brasil são desenvolvidas paralelamente à Reformulação do Estado e à inserção do País no cenário econômico mundial. Como suporte ideológico, essas políticas são estruturadas de modo a consolidar as ideologias neoliberais, disseminando a qualificação profissional como fator de geração de emprego e renda e legitimando o distanciamento do Estado deste campo das políticas sociais. Seguindo a tendência mundial, o Estado brasileiro dissemina a Teoria do Capital Humano de forma renovada e transfere a responsabilidade do desenvolvimento profissional e da obtenção de renda para o trabalhador. São nestes termos que se implementam as PPTR, como por exemplo, o Plano Nacional de Formação Profissional (PLANFOR) (SOUZA, 2003, p. 9697). 7 Por meio da apologia ao investimento em qualificação profissional como saída para a crise econômica, o Estado obscurece a verdadeira causa da crise e transforma o trabalhador em servidor do capital em seu projeto de recompor suas bases de acumulação. É nesse contexto de disputa de hegemonia que são implantadas as Comissões Municipais de Trabalho (CMT) ou CME (SOUZA, 2003, p. 106-107). A implantação das PPTR no Brasil é impulsionada pela instituição do FAT 5 em 1990, que também financia o Programa Seguro Desemprego e Abono Salarial. O gestor dos recursos do FAT é o Conselho Deliberativo do FAT (CODEFAT) organizado de forma tripartite e paritária. Esse órgão de âmbito federal concebe e define as PPTR e as diretrizes para as Comissões/Conselhos Estaduais de Trabalho (CET) e Comissões/Conselhos Municipais de Trabalho (CMT), de forma descentralizada, para proporcionar o controle social sobre o fundo. Os recursos do FAT são aplicados no Programa Seguro-Desemprego e em programas de qualificação/requalificação profissional, programas de geração de emprego e renda, intermediação de mão-de-obra e pesquisa e análise sobre o mercado de trabalho. No discurso oficial, para solucionar os problemas do desemprego causado pelas transformações econômicas e políticas na atualidade, as PPTR foram divididas em ativas e passivas (MEHEDFF, 2001, p. 42-45). As PPTR ativas visam o aumento do emprego ou empregabilidade e modificação da Legislação Trabalhista e as políticas públicas passivas visam apoiar os desempregados ou trabalhadores com faixas salariais mais baixas. As PPTR ativas são desenvolvidas por meio dos programas de investimento que se propõe a uma expansão dos recursos para a sociedade e para a economia, como forma de manter e gerar novos empregos. Os recursos são aplicados principalmente no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que administra 40 % do total dos recursos investidos em duas formas de aplicação, FAT TJLP6 e FAT Cambial7, gerando 5 “O FAT é constituído pelos seguintes recursos: a) arrecadação do Programa de Integração Social (PIS) – 0,65% sobre a receita bruta das empresas - e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) – 1% do total das receitas correntes e de capital das empresas, fundações e autarquias do setor público; b) remuneração de empréstimos: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES (40%); c) remuneração de depósitos especiais; d) remuneração dos saldos remanescentes do pagamento seguro-desemprego e abono salarial; e) contribuição sindical (20%)” (MEHEDFF, 2001, p.44). 6 “carteira dos financiamentos tradicionais do BNDES” (MEHEDFF, 2001, p.46). 8 receita de juros para o FAT. Este fundo financia o Programa de Geração de Emprego e Renda (PROGER), por meio de depósitos especiais, que têm como principais agentes o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste e a Caixa Econômica Federal. O PROGER é voltado para o financiamento de pequenos empreendimentos de pequenos produtores rurais e setores da economia informal. Também financiado pelo FAT, o PLANFOR tem como objetivo a geração de trabalho e renda por meio de um processo de qualificação ou requalificação permanente de pelo menos 20% da População Economicamente Ativa (PEA), maior de 14 anos. Em conjunto com esses objetivos, o PLANFOR possui a diretriz de mobilizar a sociedade em prol do aumento da escolaridade mediante ações de alfabetização e ensino supletivo fundamental e médio. Para identificar as demandas de qualificação exigidas pelo mercado de trabalho, as CET, em conjunto com as Secretarias Estaduais de Trabalho (SET), fazem a analise e o diagnóstico dessas demandas, além de acompanhar e avaliar os seus resultados (MEHEDFF, 2001, p. 46-60). As PPTR passivas são implementadas a partir de 1975 com a instituição do Sistema Nacional de Emprego (SINE) em conjunto com as SET. Estas políticas desenvolveram a habilitação ao seguro-desemprego, intermediação de mão de obra, promoção e acompanhamento de projetos de geração de emprego e renda, além de geração de informações sobre o mercado de trabalho. Na atualidade, os serviços de intermediação de mão de obra, são também executados por organizações sindicais e instituições representantes da classe empresarial em convênios específicos com o FAT (MEHEDFF, 2001, p. 67-77). A partir do desenvolvimento do Plano Nacional de Qualificação (PNQ), a mudança mais significativa entre o PLANFOR e o PNQ é a introdução de repasse de recursos para municípios ou consórcios no âmbito municipal, micro e meso regional (municípios ou arranjos regionais com mais de um milhão de habitantes) (MTE, 2003, p.37 e 39). Mercado de Trabalho em Nova Iguaçu/RJ O município de Nova Iguaçu apresenta a maior extensão territorial da Baixada Fluminense, com uma área de 524,5 Km2 (IBGE, 2005). Esse município é o 2º maior da 7 “até 20% do saldo dos recursos repassados pelo FAT - estoque, em operações de financiamentos a empreendimentos e projetos destinados à produção e/ou comercialização de bens de reconhecida inserção no mercado internacional” (MEHEDFF, 2001, p.46). 9 Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Esta Região é integrada por 13 municípios respondendo por 11,1% da área territorial desta metrópole, com uma população estimada de 830.920 habitantes e uma densidade demográfica de 1612,1 hab/km2 (IBGE, 2005). Nova Iguaçu possui um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 4.124.727.840,00 e PIB per capita de R$ 5.134,10 (IBGE, 2003). Este município possui o segundo maior PIB da Baixada Fluminense, ficando atrás somente do município de Duque de Caxias que possui um PIB de R$ 14 bilhões em 2003. O município de Duque de Caxias tem como principal participação do PIB o desempenho das indústrias de petróleo. Em relação à Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu possui o quinto maior PIB entre os municípios componentes, ficando atrás somente dos municípios do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Niterói e São Gonçalo (PMNI, 2005). O município possui uma população predominantemente urbana, seu ensino fundamental e médio é eminentemente público: 41% do ensino fundamental é desenvolvido nas escolas estaduais e 39% nas escolas municipais. Há uma tendência à diminuição do ensino fundamental nas escolas estaduais e aumento nas escolas municipais, por a Constituição Federal atribuir a responsabilidade pelo ensino fundamental público ao município e o ensino médio público ao Estado. As escolas estaduais são responsáveis por 84% das 38.791 matrículas no ensino médio. Nova Iguaçu possui duas instituições particulares de ensino superior que foram responsáveis por 6.306 matrículas em 2003 (TCE-RJ, 2005). Além dessas instituições, o município possui um Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), um campus avançado da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), implantado em 2006, e instituições de educação profissional do chamado “Sistema S”8, gerido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, a Firjan (PMNI, 2005). A economia do município tem sua principal participação no setor de Aluguéis seguido pelo setor de Construção Civil, Serviços e Indústria de transformação9 (TCE- 8 Rede ligada a órgãos de representação da classe empresarial brasileira, composta pelas seguintes instituições: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI); Serviço Social da Indústria (SESI); Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC); Serviço Social do Comércio (SESC); Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR); Serviço Nacional de Aprendizagem dos Transportes (SENAT); Serviço Social dos Transportes (SEST); Serviço Brasileiro de Apoio ás Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). 9 Composição do PIB do município de Nova Iguaçu por setores em 2003: Aluguéis 30,5%; Agropecuária 0,3%; Administração Pública 1,7%, Comércio atacadista 3,2%, Comércio varejista 5,6%, Comunicação 3,2%, 10 RJ, 2005, p.76). O setor de serviços é responsável por 39,5% dos postos de trabalho formais do município, seguido do setor de comércio que responde por 31,35%. Esses dois setores juntos correspondem a 71% do PIB da cidade. Além desses setores, a indústria de transformação participa com 14% dos postos formais de trabalho e a indústria de cosméticos é a segunda em produção nacional, perdendo somente para São Paulo (PMNI, 2005). Nova Iguaçu possui uma grande concentração de renda e exclusão social, não diferenciando da realidade brasileira. Este problema é agravado com a abertura comercial dos anos 1990. A partir da introdução do processo de reestruturação produtiva desencadeou-se a eliminação de treze mil empregos formais no município, sendo 55% na indústria. Essa diminuição dos postos de trabalho na indústria do município fez diminuir a participação dos trabalhadores industriais no total de empregos formais, de modo que o percentual passou de 28,6% para 15,2%. “Os setores de serviços e comércio cresceram 4,9% e 17,3%, respectivamente, e acentuaram a característica, já verificada em 1991, de principais empregadores”. O crescimento do setor de serviços e comércio não foi proporcional ao número de postos eliminados. Em 2000 a taxa média de desempregados chegou a 26%, o número de postos de trabalho no município passou de 76.968 para 64.247, registrando uma redução de 16% (PMNI, 2005, p.31). Política Pública de Trabalho e Renda em Nível Local A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social (SEMDES) é o órgão do poder executivo do Poder Local encarregado de gerir a PPTR. Esta Secretaria congrega quatro secretarias adjuntas que atendem a demandas sociais na área de trabalho, qualificação e desenvolvimento econômico e social. São elas: a) Secretaria Adjunta de Desenvolvimento Social; b) Secretaria Adjunta de Trabalho e Emprego; c) Secretaria Ajunta de Desenvolvimento Econômico; d) Secretaria Adjunta do Idoso e do Deficiente. A Secretaria Ajunta de Desenvolvimento Social se divide em dois departamentos: o Departamento de Atenção Integral e o Departamento de Programas e Construção civil 15,4%, Indústria extrativa 0,1%, Indústria de transformação 11,0%, Instituições financeiras 2,1%, Serviços 12,6%, Serviços industriais de utilidade pública 6,6% (TCE, 2005, p.76). 11 Projetos10. A Secretaria Ajunta de Trabalho e Emprego também se divide em dois departamentos: o Departamento de Geração de Trabalho e Renda e o Departamento de Qualificação e Economia Solidária. A Secretaria Ajunta de Desenvolvimento Econômico, da mesma forma, se divide em dois departamentos: o Departamento de Inovação Tecnológica e Comércio e o Departamento de Indústria e Agricultura (NOVA IGUAÇU, 2006, P.2-3). A CME de Nova Iguaçu é homologada desde 12 de agosto de 1997, pela Comissão Estadual de Emprego do Rio de Janeiro (CEE/RJ), em função das políticas Estaduais de qualificação profissional. A CME tem caráter tripartite e paritário de deliberação, com representações do Governo Municipal, empresariado e dos trabalhadores, sendo três representantes de cada segmento. Está submetida à Comissão Estadual e tem como funções auxiliar esta Comissão na identificação das demandas de qualificação e no acompanhamento da aplicação dos recursos do FAT (SETRAB, 1997). Atualmente, a CME está estruturada em função da SEMDES. Essa Comissão foi homologada contendo inicialmente doze componentes, sendo este número ampliado para dezoito pelo Decreto Municipal n° 7.064/2005. Hoje, a CME é composta por seis representantes de cada segmento, um presidente dentre estes representantes e um secretário executivo. A presidência desta Comissão se dá por mandatos de doze meses, por sistema de rodízio acordado entre as representações governamentais, empresariais e dos trabalhadores, sendo vedada a recondução para período consecutivo. Os representantes são escolhidos pelo Poder Público Municipal, em função de critérios pouco claros. O nível de representatividade política desses sujeitos junto aos órgãos representativos de cada segmento parece ser o critério de maior relevância, conforme declaração de diversos membros da comissão, por exemplo: Quando começamos na primeira vez que integramos a Comissão, nós fomos convidados pelo Poder Público a participar, por sermos um Sindicato atuante na Cidade e é o Governo ao qual nós éramos oposição e pela nossa atuação na Cidade, nos convidaram pra participar desse Conselho (SOUZA & FIGUEIREDO, 2007a) Os representantes estão distribuídos da seguinte forma: 10 Nas visitas realizadas, observamos que os departamentos das Secretarias Adjuntas são considerados Subsecretarias pelos agentes governamentais e seus respectivos gerentes têm status de subsecretários. Desta sorte, é comum utilizarem o termo “Subsecretaria” para fazer referência aos departamentos e o termo “Subsecretário” para fazer referência aos seus respectivos gerentes. 12 a) no segmento governamental, estão representadas as seguintes secretarias: a SEMDES, com três representantes; a Secretaria Municipal de Governo (SEMUG), com um representante; a Secretaria Municipal da Cidade (SEMCID), atualmente sem representante; e o SINE, com um representante. b) no segmento empresarial, estão representados os seguintes órgãos: o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE); o Sindicato do Comércio Varejista de Nova Iguaçu (SINCOVANI); a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Nova Iguaçu (CDL-NI); a FIRJAN; o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI); e a Associação Comercial e Industrial de Nova Iguaçu (ACINI). c) no segmento dos trabalhadores, estão representados os seguintes sindicatos: o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas do Rio De Janeiro (SINDMETALRIO); o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Nova Iguaçu; o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil e Mobiliário de Nova Iguaçu; o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cervejas e Bebidas em Geral da Baixada Fluminense; o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE); o Sindicato dos Servidores da Previdência Social (SINDSPREV). A coleta de dados a partir de fontes bibliográficas primárias (atas, relatórios, pareceres etc) foi dificultada devido à forma desorganizada com que os documentos gerados pela CME são arquivados. Apesar de a CME possuir uma sede localizada na Coordenadoria dos Conselhos Municipais (CCM), onde existe uma infra-estrutura mínima para organização e gestão das informações geradas pela CME, esta sede é subutilizada ou até mesmo desconhecida por parte significativa dos membros que compõe a CME. Muitos dos documentos localizados, tais como decretos, nomeações, lista de composição da CME estavam disponíveis, de forma organizada, na CCM, o que não ocorreu com as atas das reuniões, que não estavam devidamente arquivadas lá. Ao consultarmos alguns conselheiros sobre a localização das atas e demais documentos, alguns deles não sabiam de sua localização. As atas só foram localizadas a partir de contatos com um membro da CME que havia ocupado a função de presidente e que, ainda hoje, é o Gerente de Qualificação Profissional da SEMDES. Percebemos que o livro de atas estava incompleto, uma vez que não estavam todas as reuniões realizadas ali 13 registradas. A última ata registrada datava de doze de junho de 2006. Segundo o Gerente de Qualificação Profissional, muitas das atas não estavam aprovadas e algumas não estavam prontas. O problema da falta de atas é um problema relatado pela maioria dos representantes, não sendo respeitado prazo mínimo de recebimento das atas da reunião anterior, com antecedência de sete dias úteis da próxima reunião, estabelecido no artigo 14º do Regimento Interno da CME, conforme podemos evidenciar, nesta declaração: [...] a não secretaria executiva ser permanente, ou seja, eu acho que secretaria executiva de qualquer conselho deveria ser cargo de funcionário, porque existe continuidade de trabalho, uma fragilidade é essa. Ou seja, saiu uma diretoria aí tem que passar livro ata, tem que passar... Não há continuidade, se o secretário executivo fosse sempre a mesma pessoa, ou seja, um funcionário que independeria de cargo, seria continuidade com mais precisão... (FIGUEIREDO, 2007f) Todos esses fatos demonstram uma organização precária da CME. As reuniões da CME são mensais e ocorrem todas às segundas quintas-feiras de cada mês, no prédio do Sebrae em Nova Iguaçu. A gestão atual tem como presidente o Sr. Júlio Cosme Castilhos, diretor do SINDMETALRIO, na condição de representante dos trabalhadores.11 Diálogo Social e Consentimento Ativo na Gestão das Políticas Públicas de Trabalho, Qualificação e Geração de Renda em Nova Iguaçu Ao iniciarmos o contato com os componentes da Comissão, com o intuito de acompanhar suas reuniões e, assim, obter dados para a caracterização do diálogo social estabelecido nesse Fórum, pudemos constatar, em um primeiro momento, o esvaziamento desse órgão. Do final de fevereiro de dois mil e sete ao final de março do mesmo ano, não houve reuniões da CME. Na reunião realizada em dez de maio de dois mil e sete, além dos problemas com infra-estrutura, foram levantados pela representante do SINCOVANI, problemas como a falta de empenho por parte dos conselheiros, a falta de reconhecimento do trabalho da Comissão pela Secretaria Estadual de Trabalho e Renda (SETRAB/RJ). Essa falta de reconhecimento, segundo a representante do 11 De acordo com depoimentos do Gerente de Qualificação e Economia Solidária da SEMDES, José Áureo Bastos, em 2005, ocasião em que, de acordo com a lógica do rodízio, a presidência da CME deveria ficar a cargo dos trabalhadores, estes não apresentaram um nome para assumir a presidência, de modo que, em seu lugar, assumiu a presidência um representante empresarial. Também foi informado que existe desinteresse da representação dos trabalhadores em assumir a presidência da CME e que Júlio Cosme Castilhos só a assumiu por pressão de José Áureo Bastos. 14 SINCOVANI é uma questão antiga, a SETRAB contrata as instituições executoras e não informa à Comissão, só tomando conhecimento após a execução dos cursos. Podemos constatar esse problema com a SETRAB analisando as ações do Governo Municipal em prol da busca pela legitimidade da Comissão. Desde 2005, O Governo Municipal de Nova Iguaçu tenta articular formas de receber os recursos do FAT, diretamente do Governo Federal. Em 2006, dispondo da Resolução do CODEFAT N° 466/2006, o Governo Municipal tentou obter recursos diretamente, mas não obteve êxito, tendo seu plano aprovado, mas não contemplado. Ainda em 2006, quando a CME era presidida pelo representante do governo, José Áureo Bastos, que atuava junto à Secretaria Municipal de Trabalho (em meados de 2006, esta Secretaria transformou-se em SEMDES), a CME elaborou o Plano Plurianual Municipal, contendo setenta e dois cursos de qualificação profissional. Esse Plano foi enviado à CEE/RJ e à Secretaria de Trabalho SETRAB/RJ para ser aprovado em âmbito Estadual. Inicialmente, a contrapartida estadual foi de vinte e dois cursos, caindo para três cursos pedidos pelo Município e três de demanda estadual. Por meio desses resultados percebemos o controle e o poder decisório estadual sobre as PPTR, no Município de Nova Iguaçu. Como exemplo, podemos constatar as dificuldades de diálogo entre a CME e a SETRAB/RJ, na declaração da representante do SINE: Dos vinte e dois cursos que a SETRAB mandou pro município, não vieram os vinte e dois, vieram seis, seis cursos executados do PLANTEQ de 2006, que foram três dentro da demanda da nossa Comissão e três que veio aleatoriamente, que a gente não sabe da onde saiu, que não tem nada a ver com o Município. Infelizmente é uma relação de cima pra baixo, uma relação sem comprometimento, muito difícil. (FIGUEIREDO, 2007a) Na prática, as dificuldades colocadas pelo Governo Estadual, por meio da SETRAB/RJ, criam ambientes de descrédito e desestímulo à continuidade do funcionamento da CME. Até hoje, a SETRAB/RJ não reconhece a CME como órgão legítimo. As contratações de instituições executoras de qualificação profissional são feitas diretamente pela SETRAB/RJ, por meio de editais e a divulgação dos editais não é feita à CME. Por estar atrelada à engenharia institucional do PNQ, a CME está subordinada ao CODEFAT em âmbito federal, e à SETRAB/RJ em âmbito estadual. Essa engenharia proporciona pouca mobilidade de ações e proposições, limitando a 15 Comissão às definições do receituário do PNQ. Além dessa limitação, as CME possuem outras limitações condicionadas pelo poder Estadual, em função de seus interesses. Apesar das dificuldades enfrentadas, em observações das reuniões, em entrevistas e em fontes primárias, pudemos evidenciar que o diálogo social estabelecido na CME se dá consensualmente. Em prol do objetivo comum de geração emprego e renda, os três segmentos encontram mecanismos de conciliação de interesses de naturezas conflitantes. Até o momento a CME não fez ações de acompanhamento dos recursos do FAT no Município. Nenhum dos entrevistados demonstrou o conhecimento da função de acompanhamento da aplicação dos recursos do FAT junto ao sistema financeiro no Município. Houve um período em que fizeram fiscalizações da aplicação dos cursos de qualificação, sendo encontradas irregularidades, mobilizando a CME a protestar junto à SETRAB/RJ. Hoje essa fiscalização não é feita. Entre as ações atuais da CME, está sendo organizada uma conferência municipal, cuja temática é a geração de emprego e renda. O objetivo desta conferência é criar mecanismos de articulação de qualificação profissional com a geração de emprego e renda, com a finalidade de alocação da mão-de-obra qualificada no mercado de trabalho. Em âmbito municipal, a SEMDES e alguns representantes da CME, estão empenhados em consolidar o vínculo com o MTE para o repasse dos recursos do FAT diretamente ao Município. Hoje, o segmento mais empenhado no funcionamento da CME é o governamental, pois a possibilidade de trazer recursos do FAT fortaleceu o interesse do Governo Municipal. Depois desse segmento, o mais atuante é o do empresariado, principalmente os representantes do SINCOVANI, que promovem a integração da CME de Nova Iguaçu com outras Comissões: as Comissões de Belford Roxo, Itaguaí, Niterói, Mesquita, Queimados e da capital – município do Rio de Janeiro. Por meio dessa integração, o segmento empresarial pretende articular forças políticas e trocar experiências para a consolidação política da Comissão e a sua legitimação na sociedade. Esse interesse também está relacionado com a posição de executores de qualificação profissional, pois a maior parte dos representantes recebe recursos do FAT, para esta qualificação. Segundo a representante do SINCOVANI, a CME tem grandes possibilidades de concretização de suas ações, pois a mudança política da SETRAB está favorecendo a 16 articulação e a abertura de diálogo. Para ela, a conclusão do processo de transformação da Comissão em Conselho Municipal de Emprego e a concretização de um Convênio Único com o Ministério do Trabalho trarão novos horizontes para o Município de Nova Iguaçu. Esse pensamento é partilhado pela maioria dos representantes. Além dessas ações em busca de integração entre as Comissões Municipais, o Governo Municipal tem como objetivo concluir o projeto da Casa do Trabalhador. Segundo o Gerente de Qualificação e Economia Solidária da SEMDES, essa Casa irá concentrar, em um mesmo local, os serviços executados pelo SINE (intermediação de mão-de-obra, emissão de carteira de trabalho, inscrição no seguro desemprego), que passará ao controle Municipal. Conclusão A investigação nos permitiu concluir que a CME de Nova Iguaçu é pouco representativa no cenário político local; que suas ações são limitadas, tanto pela política do PNQ, quanto pelo poder de controle decisório do Governo Estadual. A partir de 2005, notamos um claro interesse do Governo Municipal em concorrer ao recebimento de recursos direto do Governo Federal, por meio das duas Resoluções12 que mudaram o critério do recebimento de recursos, estabelecendo o número de habitantes, como critério condicionante principal. Diante da falta de resultados concretos, percebemos nas ações do poder público iniciativas de alargamentos da participação do empresariado e dos trabalhadores na gestão da PPTR. Talvez isto se deva ao fato de o poder público federal e estadual sentir necessidade de manter sua hegemonia na PPTR, por meio da construção de maior consenso em torno de suas proposições. Tudo isto combinado com o fato de o Poder Público Municipal depender financeiramente dos recursos do FAT para a implementação de ações no campo da PPTR. Para isso, abrem-se cada vez mais espaços de participação dos conselheiros representativos do empresariado e dos trabalhadores na PPTR, embora estas ações ainda não tenham surtido efeitos significativos. Podemos concluir que esse fórum tripartite e paritário é deficitário tanto no controle, quanto no acompanhamento da aplicação dos recursos do FAT no Município. 12 Resolução do CODEFAT N° 333/2003 e N° 466/2006 (PNQ). 17 Percebemos nas ações de transferência dos serviços executados pelo SINE, para o Município, a concretização das ideologias do Estado mínimo, diminuindo a responsabilidade do Estado sobre políticas sociais. Esse processo somente atende aos interesses dos empresários e do Estado Neoliberal. Por meio de fóruns tripartite e paritários, como a CME, o Estado dissemina a ideologia de participação social subsumindo as representações dos trabalhadores no projeto de recomposição das bases de acumulação. Quando a qualificação profissional é propagada como saída para a crise econômica, a ação da CME na gestão dos recursos do FAT para este fim deixa de ser um mecanismo de controle social dos recursos do FAT, para assumir o caráter de estratégia de mediação do conflito de classe, além de se tornar ineficiente na sua finalidade de geração de emprego e renda. As ideologias da empregabilidade e a desregulamentação dos direitos trabalhistas – que transferem para o trabalhador a responsabilidade da crise do sistema – passam a fazer parte do discurso dos três segmentos, como solução para o desemprego. Os sindicatos dos trabalhadores que deveriam lutar pelos direitos dos trabalhadores, passam a fazer parte do mecanismo institucional que dá suporte à conformação dos trabalhadores ao desemprego e ao trabalho precarizado. Referências: 1. ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo, 2005. p. 29-64. 2. ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2005. p.15-59. 3. ASSIS, Marisa de. A educação e a formação profissional na encruzilhada das velhas e novas tecnologias. In: FERRETTI, Celso João et alli (Org.). Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar. 2ª edição. Petrópolis (RJ): Vozes, 1994. p. 189-203. 4. BATISTA, Roberto Leme. Reestruturação produtiva, ideologia e qualificação: crítica às noções de competência e empregabilidade. In: BATISTA, Roberto Leme e ARAÚJO, Renan (Org.). Desafios do trabalho: Capital e luta de classes no século XXI. Maringá (PR): Praxis, 2003. p. 143-172. 18 5. DIEESE. A situação do trabalho no Brasil. São Paulo: DIEESE, 2001. p. 193210. 6. DIEESE. O comportamento das negociações coletivas de trabalho nos anos 90 – 1993-1996. Pesquisa DIEESE 15, São Paulo, maio 1999. 7p. 7. FIGUEIREDO, Bruno O. (Nair Rabelo Chagas, Assessora de Governo da Secretaria Municipal de Governo de Nova Iguaçu/RJ; representante do Governo na Comissão Municipal de Emprego de Nova Iguaçu/RJ). Entrevista com Representante do Governo na Comissão Municipal de Emprego de Nova Iguaçu/RJ. Nova Iguaçu (RJ): 2007f. Arquivo de MP3. 8. FIGUEIREDO, Bruno O. (Valéria da Conceição, Chefe do Sistema Nacional de Emprego – SINE – Nova Iguaçu/RJ; representante do Governo na Comissão Municipal de Emprego de Nova Iguaçu/RJ). Entrevista com Representante do Governo na Comissão Municipal de Emprego de Nova Iguaçu/RJ. Nova Iguaçu (RJ): 2007a. Arquivo de MP3. 9. HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 15ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2006. p. 121-148. 10. IBGE. IBGE Cidades@. Rio de Janeiro. 2007. Disponível em [http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default2.php], acessado em 24/06/2007. 11. MEHEDFF, Carmen Guimarães. Módulo PPTR: a construção da política pública de trabalho e renda. In: VOGEL, Arno e YANNOULAS, Silvia (Org.). Políticas públicas de trabalho e renda e controle democrático: a qualificação dos conselheiros estaduais de trabalho no Brasil. São Paulo: UNESP, 2001. p. 41-81. 12. MÉSZÁROS, ISTVÁN. A ordem do capital no metabolismo social da reprodução. Ensaios Ad Hominem – Revista de Filosofia, Política e Ciência da história. Nº 1, Tomo I, p. 83-124, 1999. 13. MTE. Plano Nacional de Qualificação – PNQ, 2003-2007. Brasília : MTE, SPPE, 2003. 14. NOVA IGUAÇU. Decreto nº 7447 de 05 de julho de 2006, aprova o regulamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social (SEMDES), cria sua estrutura básica e dá outras providências. Jornal Hora H, de 06/07/2006, p. 2-3. 19 15. PMNI. Relatório sobre a economia do município de Nova Iguaçu. Nova Iguaçu COPG, 2005. 37p. 16. SETRAB. Ata da 13º reunião extraordinária. 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Diálogo social, disputa de hegemonia e consentimento ativo na gestão local dos recursos do FAT: a experiência do município de Vitória da Conquista/BA. In: MEHEDFF, Carmen Guimarães e PRONKO, Marcela (Org.). Diálogo social, harmonização e diversidade no mundo do trabalho. Brasília: FLACSO, 2003b. p. 84-107. 20. TCE. Estudo socioeconômico 2005 Nova Iguaçu. Rio de Janeiro: CCS, 2005.