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SALVADOR SÁBADO 8/3/2014
Biblioteca Municipal de Grenoble / Divulgação
LIVRO Em Homens e Mulheres da Idade Média, historiador francês
Jacques Le Goff revela as figuras que fizeram história no período
Obra destaca a influência
e o papel da mulher na
sociedade medieval
REGINA DE SÁ
Editora
Em meados do século 9, existia
na Europa uma aristocrata de
nome Dhuoda. Esposa dedicada
e mãe de dois filhos, o primogênito Guilherme e o mais novo
de nome Bernardo, a culta
Dhuoda preocupava-se com a
educação e o futuro dos meninos. Quando o mais velho fez
16 anos, ela decidiu escrever um
manual de conduta, saberes religiosos e princípios morais, como forma de preservar e documentar a história da família e,
entre 841 e 843 da era carolíngia, Dhuoda se debruça a escrever o Manual Para Meu Filho,
um dos estudos mais interessantes sobre educação, mas que
ficou por séculos completamente desconhecido, até que sua
obra virasse tema de uma tese,
em 1962.
"Quem conhecia a aristocrata
Dhuoda no fim da Idade Média?
Ninguém. Nenhum historiador,
nenhum cronista sequer menciona a nobre carolíngia", afirma o
historiador especializado em assuntos medievais, o francês Jacques Le Goff, no livro Homens e
Mulheres da Idade Média.
No século 15, um manuscrito
da Biblioteca de Barcelona forneceria o texto integral escrito
por Dhuoda. “É o único livro de
educação escrito por uma mãe
para seu filho na alta Idade Média”, escreve Le Goff.
Gênese da valorização
Na obra, o historiador revela
que o manual escrito pela fidalga francesa veio a público
pela primeira vez em 1887,
quando foi descoberto na Biblioteca de Nimes e parcialmente publicado. Esta é uma das
mulheres do período medieval
que Le Goff resgata no livro.
Para Marcelo S. Berriel, professor adjunto do Departamento de História e Economia da
UFRRJ e integrante do Laboratório de Ensino e Pesquisa em
Medievalística (Lepem), apesar
da visão que inferiorizava a mulher, é neste período que se conhece a gênese de uma espécie
de valorização da mulher.
“Estas figuras que se destacaram mostraram que a mulher
podia também exercer um papel de relevo e influência na sociedade”, diz Berriel.
tas, religiosas, políticas, amantes, cristãs, temidas e influentes
mulheres conseguiram deixar
uma marca mais do que evidente de que o papel de uma
figura vil, que cedia ao pecado e
levava o homem a cometê-lo
também, transcendia a imagem
obscura perpetuada no tempo
ao longo de séculos.
“A Idade Média foi um longo
período criativo e dinâmico”, escreve Le Goff, na publicação. O
autor elenca 112 personagens,
em sua maioria, homens. Dentre as mulheres retratadas, a
obra traz a francesa Joana d'Arc,
a mais popular de todas, e as
santas Clara e Radegunda.
“Não é que as mulheres tenham se destacado apenas como santas, mas o modelo de
mulher mais presente nas fontes da época é o da santa, o da
castidade, das virtudes etc. É indispensável para o estudo de
uma sociedade do passado lembrarmos que a conhecemos
através dos testemunhos que
ela mesma nos legou (o que os
historiadores chamam de ‘fon-
“É na Idade Média
que conhecemos
a gênese de
uma espécie
de valorização
da mulher”
MARCELO S. BERRIEL, professor
HOMENS E MULHERES DA IDADE MÉDIA /
JACQUES LE GOFF
Estação Liberdade / 448 p.
/ R$ 115 /
estacaoliberdade.com.br
Tipos femininos
No imaginário coletivo, a Idade
Média foi um longo, assustador
e temido período de trevas. San-
tes’)”, afirma Marcelo Berriel.
Segundo o professor, o tipo
feminino ideal mais presente
nos textos medievais é, certamente, o que inspira um modelo
de santidade. “Pode-se resumir
(muito superficialmente) os
modelos femininos em dois:
Maria e Eva (dois modelos bíblicos antagônicos). A mulher
comum, considerada inferior ao
homem, era associada a Eva. E
quando se queria enaltecer uma
personagem, os textos a aproximavam de Maria. É um esquema um pouco reducionista,
mas é didático e ajuda a entender”, explica.
Ilustração de Joana D’Arc extraída de A Campeã das Damas (1442), de Martin Le Franc
Nascimento da Europa
Museu Atger / Divulgação
De acordo com o professor Berriel, da UFRRJ, a visão da Idade
Média como idade das trevas (a
dark age dos escritores de língua
inglesa) tem origem no século
16. “Foram os humanistas do
Renascimento que, renegando
seu passado mais próximo e
enaltecendo a Antiguidade clássica, classificaram o período como uma época de trevas, no
qual a cultura era dominada pela religião e o homem era desvalorizado”, afirma.
Berriel diz também que a historiografia no século 20 contribuiu para entendermos melhor
o que foi este período. “Foi um
período de guerras, de fome, de
epidemias, mas, além da ‘Idade
Média Má’, existiu a da arte, da
cultura, das invenções“.
Berriel diz que a visão de mundo da Igreja determinou a vida
das pessoas na Idade Média em
vários sentidos. “O domínio da
Igreja, sua tentativa de controle
político, imposição de normas,
ou seja, muito do que o senso
comum repete com pouco cuidado são afirmações que possuem algum sentido. Tornam-se, porém, afirmações um
pouco irresponsáveis quando
não são relativizadas com outras informações que as fontes
da época nos trazem”.
“Hoje em dia, se uma pessoa
afirmar que a Idade Média foi a
‘Idade das Trevas’, estará admitindo sua ignorância a respeito de estudos sobre história
medieval que datam de décadas
atrás”, diz Berriel.
Explorar a Idade Média, dos
séculos 4 ao 15, pode nos trazer
um milênio todo de questionamentos e descobertas. Testemunhas de seu tempo, as mulheres
no livro de Le Goff são a prova de
que as condições reais de vida e
pensamento ultrapassam o
imaginário popular.
Autor diz que culto a Santa Elizabeth da Hungria reuniu uma série de modelos da santidade feminina
MEMÓRIAS DE UM CAÇADOR / IVAN
AS DIABRURAS DE QUICK E FLUPKE –
MEMÓRIAS DO ESQUECIMENTO / FLÁVIO
TURGUÊNIEV
VOLUME 1 / HERGÉ
TAVARES
ARMÁRIO DE LETRAS
PAPILLON / HENRI CHARRIÈRE
Publicado em 1969, o clássico
chega às livrarias em nova edição. No livro, Cherrièrre conta
sua história: preso por um crime que não cometeu, foi um
dos poucos que conseguiram
fugir da Ilha do Diabo, prisão na
Guiana Francesa. Até hoje há
quem acredite que o depoimento é fruto de sua imaginação.
Editora Bertrand/ 728 pág/ R$
70/ bertrandbrasil.com.br
ENTRE AMIGOS / AMÓS OZ
O autor israelense Amós Oz recria a realidade de um kibutz
nos anos 50, a partir de oito
histórias interligadas. Em um
cotidiano de trabalho, os personagens de diferentes idades
e origens são protagonistas e
coadjuvantes que dividem com
o leitor suas desilusões e sonhos e dramas. Companhia das
Letras/ 136 pág./ R$ 34/ companhiadasletras.com.br
Ivan Turguêniev (1818-1883)
denunciou nestes contos os
desmandos dos latifundiários
russos. Ganhou do Czar prisão
domiciliar e fama literária imorredoura. Tão importante, a
obra teve papel fundamental
na emancipação dos servos. Alta literatura é isso aí. Traduzido
direto do russo. Editora 34/ 488
p./ R$ 59/ editora34.com.br
Criador do intrépido repórter
Tintim, o belga Hergé (19071983) não tinha nenhuma outra obra no Brasil. A espera acabou com este Quick e Flupke,
dois moleques travessos das
ruas de Bruxelas, inspirados na
infância do autor. Divertido e
inocente, para todas as idades.
Globo Livros/ R$ 39,90/ 184 p./
globolivros.globo.com
O jornalista e professor da UnB
Flávio Tavares desceu ao inferno da ditadura e voltou para
contar o que passou neste impressionante relato, que saiu
em 1999 e volta ampliado. Elogiado por Saramago e Ernesto
Sábato, vem em boa hora,
quando aquele golpe vergonhoso faz 50 anos. L&PM/ 272
p./ R$ 19,90/ lpm.com.br
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A Culpa É das Estrelas
John Green
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FONTE: Folhapress
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Homens e Mulheres da Idade Média