1 Começou a Copa do Brasil e isso não é pouca coisa! Fernanda Giorgi Começou a Copa do Brasil. E isso não é pouca coisa. Afinal, como dizem por ai, o futebol é como uma religião nesse País. Mas, no meio do caminho, houve decisões políticas questionáveis, FIFA, obras inacabadas, muito dinheiro, problemas históricos como a desigualdade social, eleições. E agora? Como será a Copa? Como será nos próximos eventos sediados no Brasil? Juca Kfouri, em entrevista concedida ao Roda Viva no dia 09 de junho de 2014, afirmou que o grande legado do Mundial 2014 foi a consciência popular sobre o impacto da realização de um mega evento no País e a idéia de que, no futuro, esse tipo de oportunidade deveria ser submetida a referendo popular. Tenho minhas dúvidas sobre a repercussão dessa nova consciência. Especialmente, quando falamos sobre “religião”. A paixão nacional, a experiência com a Copa de 1950, a aposta no jeitinho brasileiro e o sonho de ser hexa em casa. Tudo isso faria com que a disputa entre o “vai ter Copa” e “não vai ter Copa” fosse, apesar do que aprendemos agora, no mínimo acirrada. Aliás, no último domingo, o jornalista Tino Marcos contou uma anedota que reforça essa idéia. Em 1970, a presidenta Dilma e outros presos políticos assistiam aos jogos da Copa e torciam pela seleção, porque todos percebiam o futebol e os jogadores brasileiros como algo distinto do governo. E para aprofundar nesse assunto de amor que não tem explicação nem limites, quero contar outro causo. Em 2010, assisti o Mundial em Lima, no Perú. Um país que participou de quatro mundiais, cujo melhor desempenho foi um 7º lugar (1970) e que não se classifica há mais de 30 anos. Essa experiência foi marcante por dois motivos. Em primeiro lugar, é incrível ver uma nação torcendo pela classificação de sua equipe e sofrendo com os riscos de não chegar ao Mundial. Aqui no Brasil isso não existe. Nós ponderamos sobre nossas chances de segurar o caneco, mas nunca passa pela nossa cabeça a possibilidade de não disputar uma Copa. Em segundo lugar, é admirável testemunhar essa paixão, em alguma medida não correspondida, pelo futebol (embora como palmeirense eu entenda um pouco disso). Eles praticam, jogam as suas peladas, acompanham os campeonatos nacionais peruano, dos países da região e da Europa, fazem bolão, compram as camisas oficiais... bem, só não suspendem o dia de trabalho durante a Copa. A pergunta que talvez esteja rondando muitas cabeças é sobre como conciliar esse amor e a consciência (recém!?) adquirida. A resposta é muito simples: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Problemas nacionais crônicos, eleições, FIFA (e demais corporações que atropelam leis, direitos e dignidade humana para garantir seus lucros) e etc.. Tudo isso merece indignação e ação. E o momento é agora. Já que não podemos pausar a vida para assistir os jogos, é melhor enfrentar os desafios. Cada um a sua maneira e dentro das suas possibilidades. Eleitores, governantes, candidatos, 1 2 organizações sindicais, ONGs, todos tem um papel a cumprir. E, de repente, a Copa é um bom palco para levantar bandeiras como a campanha lançada contra o racismo. E a outra coisa? É não menosprezar nem desperdiçar esse momento tão especial. A Copa do Mundo é literalmente nossa. Então, vamos aproveitar cada momento. Vamos colorir de verde e amarelo as ruas, as casas, os rostos. Vamos torcer pela seleção brasileira, pelo hexacampeonato, pela festa, pela confraternização, pelos gols, pelo sucesso do nosso país como anfitrião. Vai Brasil! Que o gigante tenha acordado de verdade e saiba separar o joio do trigo. 2 
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