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Classificação do artigo 27 jan 2015 O Globo
ADRIANO PIRES Adriano Pires é diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE)
A hora do gás natural
Mudança aumentaria a oferta de energia elétrica e, ao mesmo tempo, levaria a uma menor dependência das
hidrelétricas e, consequentemente, da água
Acrise da Petrobras, a crise do setor elétrico e a queda do barril de petróleo no mercado internacional
abrem uma grande oportunidade para o crescimento da participação do gás natural na matriz energética
brasileira. Para sair da sua atual situação de desequilíbrio do caixa devido à elevada dívida contraída nos
últimos quatro anos, a Petrobras terá que, obrigatoriamente, acelerar o seu plano de desinvestimentos e
rever para baixo os investimentos para os próximos anos. Nem mesmo os atuais altos preços da gasolina
e do diesel serão capazes de equilibrar as contas da estatal.
ANDRÉ MELLO
No tocante ao plano de desinvestimentos, a empresa deveria vender integralmente suas participações
nas concessionarias estaduais de distribuição de gás natural. Não faz sentido algum uma empresa do
porte da Petrobras atuar num segmento regulado e com margens baixas. Isso acaba gerando conflitos,
principalmente regulatórios, através da atuação verticalizada da empresa no setor, sem falar que esse
modelo não tem alcançado o objetivo de promover um crescimento na malha de distribuição no estados.
A Petrobras também deveria vender e/ou estabelecer parcerias na rede de gasodutos de escoamento
da produção, transporte, unidades de processamento de gás natural e plantas de regaseificacao. Sem falar
de campos que hoje produzem petróleo e gás associado, que também poderão ser negociados pela estatal.
Esses desinvestimentos trariam enormes vantagens. As principais seriam recursos financeiros, que neste
momento a empresa precisa mais do que nunca, aumento da eficiência na operação desses ativos,
incentivo à entrada de novos ofertantes e uma certa blindagem contra interferências politicas que tanto a
maltrataram nesses últimos anos.
A crise do setor elétrico poderá levar o governo a mudar a regulação, permitindo participação de
térmicas a gás natural na base do sistema elétrico. Isso aumentaria a oferta de energia elétrica e, ao
mesmo tempo, levaria a uma menor dependência das hidrelétricas e, consequentemente da água. É bom
não esquecer que, a partir do momento que o governo passou a autorizar somente hidrelétricas a fio de
água, essas usinas perderam sua capacidade de regular o abastecimento por períodos mais longos, e só
usinas térmicas podem voltar a fornecer essa garantia. Nesse caso, as usinas a gás seriam a melhor
opção, principalmente pelo aspecto ambiental, em que superam as de óleo e carvão, e as nucleares, outra
boa escolha, que, por enquanto, não fazem parte do planejamento de governo. Outra vantagem da
mudança de regulação é que as empresas geradoras de eletricidade poderiam firmar contratos mais longos
com os fornecedores de gás, o que o tornaria mais barato. Alem do incentivo à construção de novas
térmicas, passa a existir uma oportunidade imperdível para aumentar o uso da cogeração a gás natural,
através da geração distribuída, que é uma forma mais moderna e mais eficiente que as térmicas
tradicionais.
Por fim, com a queda do preço do barril, o gás também terá seu preço reduzido. Esse gás mais barato
no mercado internacional poderá viabilizar a sua importação e a construção de terminais de regaseificação
para atender novas térmicas e ampliar a oferta para o mercado das distribuidoras de gás. A chance de
modernizar o setor de energia, aumentando a participação do gás natural na matriz elétrica, residências,
comercio, serviços, transporte e indústria está na mesa. Cabe ao governo saber aproveitar essa
oportunidade proporcionada por mudanças no mercado interno e no internacional.
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