VIII Congreso de Educación a Distancia CREAD MERCOSUR/SUL 2004
7 al 10 de septiembre 2004 - Córdoba - Argentina
Uma proposta sócio-interacionista para formação de tutores em
EAD.
Raquel Marques Villardi
UERJ- Universidade Estatal do Rio do Janeiro
[email protected] http://www2.uerj.br
Resumen
Resumo. Este artigo descreve um processo de formação de tutores para um curso de
formação continuada, na área de linguagem, à distância, via rede. Com base na teoria
sócio-interacionista, definimos que o processo de formação seria baseado em três eixos:
o dos conteúdos, o das ferramentas de interação, e o dos mecanismos de
comunicabilidade. Esse processo foi composto de nove encontros, divididos em três
etapas: a primeira tratou do domínio do referencial teórico de linguagem; a segunda, da
formação técnica; e a terceira, dos mecanismos de interação e comunicabilidade. Nesse
sistema múltiplo informatizado, garantimos os princípios de aprendizagem pela interação.
A partir de pesquisas com os concluintes do curso, foi possível validar a metodologia de
formação de tutores utilizada. Palavras-chave: Educação, Tecnologia, Tutoria,
Comunicação e Interatividade.
Abstract
Abstract. This article describes a process of tutor’s formation for a distance continuous
formation course, in the language area, through the net. Based on the socio-interacionist
theory, we defined the process of formation as supported by tree pillars: the contents
one, the interaction tools and the communicability mechanisms. This process was
composed of nine meetings, divided into three steps: the first, focused the domain of the
theoretical bases of language; the second, on the technical formation; and the third, of
the communicability and interaction mechanisms. In this multiple system in Distance
education (D.E.), we guaranteed the principles of learning through interaction. From
researches with the graded students, it was possible to validate the tutors formation
methodology used. Key Words: Education, Technology, Tutelage, Communication and
Interactivity
1. INTRODUÇÃO
A impossibilidade de formação profissional fora dos centros urbanos, foi desde sempre,
uma das grandes causas da perspectiva de exclusão social que tem estado no âmago do
processo de desenvolvimento social do nosso país.
O contexto no qual a Educação à distância com uso da tecnologia se insere, nos dias de
hoje, parece direcionar-se para a solução de atendimento a uma demanda que o sistema
escolar presencial parece não mais comportar, tanto no que tange à formação do aluno,
quanto à formação docente, seja ela inicial ou continuada. A tecnologia volta a aparecer
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como um caminho para o alargamento da oferta de educação à população, tal como o
sistema escolar presencial, como conhecemos hoje, surgiu no passado. Dessa forma, a
inserção da tecnologia no cotidiano da escola já nos parece irreversível, tanto pelo
processo inexorável de absorção dessa tecnologia, por que passa a cultura, quanto pela
desqualificação dos discursos a ela antagônicos. Nessa mesma perspectiva, sobressai a
importância de uma escola que desenvolva uma nova competência, que se fundamenta
numa das habilidades cognitivas básicas: a da seleção. Isso, contudo, requer a
disseminação, por todo o país, de um professor formado para educar não mais a partir
da transmissão de informações, mas pelo desenvolvimento das potencialidades do aluno.
Um curso de formação continuada, construído na concepção sócio-interacionista, pode
apresentar-se como uma alternativa para formar professores, numa perspectiva
compatível com o que se espera deles em sala de aula, ao contrário do que
habitualmente acontece nos cursos regulares de formação docente, onde essa formação
é incompatível com a demanda da prática.
A oferta de cursos de formação docente continuada com o uso de EAD vem surgindo
como iniciativa, seja das universidades ou dos governos regionais, com o objetivo de
oferecer uma possível resposta a essa demanda de professores. No entanto, muitas
questões ainda permeiam essas iniciativas, desde a elaboração do material didático a ser
veiculado na rede, até a importância da formação e atuação dos tutores em um curso à
distância.
A questão da tutoria é, nesse momento, uma das mais relevantes a ser estudada e
abordada, uma vez que a observação de alguns processos de formação, via EAD, vem
apontando a atuação do tutor como decisiva para o sucesso da iniciativa e permanência
do aluno até o final do curso. O que faremos, ao longo desse estudo, é relatar uma
experiência de curso com a formação e atuação de tutores, na perspectiva sóciointeracionista de aprendizagem.
2. DESENVOLVIMENTO
O curso EAD de formação docente continuada oferece referencial teórico, em linguagem,
que favoreça não apenas o trabalho do professor no desenvolvimento da linguagem de
seus alunos, mas também uma possibilidade de transformar sua prática na direção da
formação da sua cidadania e na de seus alunos.
A criação desse modelo de curso pretende contribuir para a formação do professor, na
busca de uma prática pedagógica que conduza ao desenvolvimento da linguagem de seus
alunos, para além da decodificação do código alfabético e do domínio da mecânica da
língua.
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E tal objetivo apresentado encontra base em um fundamento de Foucambert, que trata
os instrumentos de ensino da leitura como meios de produzir “cidadãos-produtores”. Ou
seja, a capacitação em professor ocorre quando se descobre os elementos que auxiliam
na formação do leitor, para entender aquilo que os especifica e os une.
A análise deste curso à distância, com uso de tecnologia, oferece a possibilidade de
estabelecer padrões mínimos de procedimentos e ações, a fim de que o mapeamento dos
erros detectados e suas possíveis soluções contribuam para o desenvolvimento de outras
propostas, onde tais problemas possam ser minimizados ou até evitados.
Uma reflexão acerca da possibilidade de a escola ser uma "tecnologia" da educação
toma-se bastante pertinente se pensarmos que as funções básicas da educação podem
ser expressas como a necessidade de transmitir informações, habilidades e técnicas
desenvolvidas durante anos, e também como a necessidade de garantir certa
continuidade e controle social mediante a transmissão de uma série de valores e atitudes
considerados socialmente convenientes, respeitáveis e valiosos.
E a escola como “ambiente de tecnologia” é uma idéia sustentada por Foucambert, que
caracteriza a educação escolar como um tipo de tecnologia - a social - no que diz
respeito tanto ao fato de limitar a tecnologia educacional a certos instrumentos; quanto,
principalmente, o fator não-técnico, isto é, o verdadeiro problema da educação atual é
uma questão social que necessita, basicamente, de reflexão.
Desse modo, como afirmava Rosemblueth, a educação pode ser concebida como uma
Tecnologia Social e um educador como um tecnólogo da educação. Assim os professores
ou os teóricos da educação que só parecem estar dispostos a utilizar e considerar as
tecnologias (artificiais, organizadas e simbólicas) que conhecem, dominam e com as que
se sentem minimamente seguros, por considerá-las não (ou menos) perniciosas, não
estão prestando atenção às produzidas e utilizadas na contemporaneidade, estão, no
mínimo, dificultando aos seus alunos a compreensão da cultura do seu tempo e o
desenvolvimento de juízo crítico sobre elas.
É necessária uma discussão da diferença entre os modelos de instrução, ensino e
educação à distância. Instrução e ensino prevêem a mera reprodução das informações a
serem assimiladas pelos alunos, a partir da disponibilização exagerada de textos e
apostilas, para depois aferir o quanto o aluno foi capaz de reter.
Fazer essa diferença supõe reconhecer a necessidade de produção de modelos de curso,
material didático e uma tutoria que seja formada para atuar nessa perspectiva, coerente
com a concepção sócio-interacionista de educação. O que, por vezes, acontece é a
concepção teórica da proposta ser sócio-interacionista e, ao longo do processo, o
material didático e a tutoria caminharem na direção contrária, ou seja, nos moldes
tradicionais de ensino, tal como acontece nos cursos presenciais.
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Na perspectiva de se fazer educação - e não ensino - à distância, a tutoria adquire um
papel importante e, sem dúvida, constitui um dos mais relevantes pontos na discussão
acerca da EAD, uma vez que ainda não há um modelo, como referencial e não como
paradigma, de formação e de atuação nessa direção. O que se vê, na prática, ainda é
uma tutoria alinhada com os modelos de treinamento e instrução programada. O papel
do tutor tem sido, basicamente, o de "tirador de dúvidas" e de "inspetor" da
aprendizagem individual dos alunos.
Faz-se necessário discutir o conceito de eficiência na tutoria, pensar que modelo de
formação pode ser criado para que o tutor atue na perspectiva da concepção de
interação
e
construção
coletiva
do
conhecimento,
tal
como
propõe
o
sócio-
interacionismo. Não no discurso, mas de fato.
Nossas investigações anteriores (Villardi, 1997; Villardi, 2000) revelaram a necessidade
de investir na formação continuada de professores, de modo a torná-los aptos a atuar no
trabalho com o desenvolvimento lingüístico de seus alunos, especificamente no que se
refere ao campo da leitura e da escrita. Como o acesso à variedade culta da língua se dá
pela
apropriação
de
estruturas
lingüísticas
complexas,
que
dependem
do
desenvolvimento da faculdade mental da linguagem (Saussure, 1969), é papel da escola
fornecer ao aluno as condições para que tal apropriação ocorra. Uma vez desenvolvidas,
o sujeito será capaz de ler qualquer tipo de texto e, conseqüentemente, ler o mundo, de
forma critica, construindo assim sua cidadania (Foucambert, 1994).
Investigando mecanismos que viabilizassem a utilização desse conhecimento diretamente
na sala de aula, buscamos adequar a perspectiva teórico-metodológica, que já vem
sendo adotada pelo grupo de pesquisa (Villardi, 1997), ao uso de novas tecnologias no
ambiente escolar. Desenvolvemos um sistema múltiplo em EAD, baseado no conceito de
rede, a partir do qual passamos a oferecer cursos de educação continuada à distância
como uma possibilidade concreta de atingir os profissionais da Educação que estão
distantes dos centros urbanos. É fundamental oferecer a esses profissionais o referencial
teórico necessário para a materialização de uma verdadeira transformação da prática
pedagógica, e, conseqüentemente, da Educação como um todo. Utilizamos um sistema
didático-metodológico-computacional
múltiplo,
viabilizando
o
desenvolvimento
das
habilidades cognitivas a partir do uso da linguagem em diferentes códigos, delineando
uma proposta interativa que valorizasse a construção do conhecimento.
Partindo do conceito de linguagem como faculdade mental (Saussure, 1969), procuramos
definir um conjunto de conceitos que estabelecessem as bases de suas interfaces sócioculturais, em especial as que interferem sobre os processos de comunicabilidade e de
interação (Iser, 1999 e Foucambert, 1994) para desenvolvimento do curso. Ampliamos
os estudos sobre abordagens sócio-interacionista para educação à distância, tomando
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como base o trabalho de Vygotsky e de Pierre Lévy, para situá-la como novo paradigma
em educação.
Calcamos a proposta no uso de diferentes códigos e no compartilhar de experiências,
delineando uma proposta interativa, que valorizasse a construção do conhecimento.
Estabelecemos como elementos norteadores do curso:
• adoção de uma perspectiva construcionista, com ênfase na produtividade do aluno, no
aproveitamento de seu conhecimento anterior e na troca de experiências como elemento
dinamizador da aprendizagem;
• interação entre as pessoas, em ambiente virtual, com conseqüente esvaziamento da
perspectiva "instrucional" que até hoje reveste o conjunto significativo de cursos à
distância;
• evidente correlação entre teoria e prática, com forte dose de aplicabilidade imediata
dos conhecimentos adquiridos / produzidos durante o curso;
• troca de experiências entre colegas que vivenciam, em lugares diversos, o mesmo tipo
de dificuldade, de modo a objetivar as propostas produzidas pelos alunos, direcionandoas para sua sala de aula;
• dúvidas tiradas no âmbito das listas de discussão, onde alunos e tutor interagirão
coletivamente.
• conteúdos e atividades equivaleriam ao trabalho que poderia ser realizado em uma
disciplina presencial de 60 horas/aula.
O curso intitulou-se "Linguagem: Dimensões da Leitura na Tecnologia” (ISBN 85903446), (VILLARD, 2002) e constou de 4 módulos: Módulo l - Olhos de ver; Módulo 2- O
que é linguagem?; Módulo 3 - Linguagem e sistemas simbólicos; Módulo 4 Consolidando conhecimentos.
A estrutura dos 3 primeiros módulos apresentava os seguintes elementos em ordens
variáveis: proposta de situação-problema; discussão sobre o cotidiano da sala de aula;
embasamento teórico; estratégia de abordagem, em sala de aula, das questões
propostas; e, finalmente, atividades e informações complementares. O quarto módulo
funcionou como um momento de culminância do que foi tratado ao longo do curso.
A avaliação do aluno contemplou a auto e a hetero-avaliação, a fim de assegurar a
valorização da interatividade como ferramenta indispensável à construção de ambientes
educativos virtuais. O sistema de avaliação implantado por nós foi fruto de ampla
discussão no seio da equipe, sempre mediada pela docente responsável pela área de
avaliação, e tomando por base a experiência relatada de outros grupos e nossa própria,
vivida durante o oferecimento do protótipo.
Buscávamos uma forma de verificar, além do conteúdo e dos aspectos atitudinais do
aluno, a forma como percebia a importância do outro no seu processo de aprendizagem.
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Esse tipo de avaliação vinha sendo pensado desde a testagem do protótipo, mas ainda
não tínhamos chegado a uma forma de implementá-lo à distância. Finalmente, decidimos
que, ao final de cada módulo, criaríamos um espaço em que o aluno poderia optar entre
se auto-avaliar e avaliar um colega.
Em qualquer das hipóteses, o aluno caía numa tela em que lhe era apresentada uma
tabela, onde ele teria de se auto-avaliar ou avaliar o colega em três aspectos:
apropriação de informações e construção do conhecimento, interação dos espaços de
troca e aplicação dos conhecimentos construídos. A avaliação dos colegas era facultativa,
o que significa que cada aluno seria alvo de pelo menos duas avaliações: a sua e a de
seu tutor, podendo este número aumentar caso fosse avaliado pelos colegas. O resultado
de seu desempenho seria, portanto, resultante de tantas avaliações quantas ele
recebesse. As avaliações, tanto a dos tutores quanto a dos colegas, era enviada para o email pessoal de cada aluno, preservando, assim, as bases éticas imprescindíveis a
processos de avaliação. No caso da avaliação do colega, o anonimato de quem havia
avaliado também era preservado. O curso foi todo realizado
à distância, sem que
houvesse encontros presenciais, entre tutores e alunos do curso.
Em função das dificuldades encontradas na realização de um curso à distância, devido a
falta de uma plataforma que atendesse aos princípios estabelecidos para este modelo de
curso, buscamos enfrentar o desafio de construir uma alternativa para o oferecimento de
cursos EAD sem o uso de uma plataforma específica, contando apenas com ferramentas
de interação que fossem de fácil utilização por parte dos alunos e tutores, em português,
e principalmente disponibilizadas gratuitamente na web, utilizando também códigos
HTML e Javascript e CD-Rs para distribuição do curso entre os alunos, as ferramentas de
interação foram escolhidas considerando tanto a simplicidade quanto a facilidade de
utilização, de modo que não se reduplicassem esforços, mas que se garantisse ao aluno a
possibilidade de construir, coletivamente, seu conhecimento, pelo uso adequado de cada
ferramenta comunicativa.
Neste contexto, tem sido difícil encontrar o lugar do tutor no processo construtivista,
onde o aluno ocupa o centro do processo, já que o tutor de hoje não é um mero tirador
de dúvidas, mas assume papel fundamental e determinante em todo o processo, ao
contrário do que ocorria quando a EAD se resumia a apostilas elaboradas para o aluno
estudar sozinho. Assim, buscamos oferecer uma capacitação de tutores que os
transformasse em efetivos mediadores do processo de aprendizagem, que foi dividida em
duas etapas.
A primeira etapa na formação do tutor constituiu o domínio de um suporte teórico que
fundamenta o processo educacional construcionista. Ele deve possuir uma concepção de
educação fundamentada na abordagem sócio interacionista (Vygotsky, 1989) que
concebe a aprendizagem como um fenômeno que se realiza na interação com o outro.
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O conceito de zona de desenvolvimento proximal remete-nos à reflexão sobre o papel do
professor e dos demais colegas - incluindo, aí, o tutor. Para Vygotsky, existem dois níveis
de conhecimento: o real e o potencial. No primeiro, o indivíduo é capaz de realizar
tarefas com independência, e caracteriza-se pelo desenvolvimento já consolidado. No
segundo, o indivíduo só é capaz de realizar tarefas com a ajuda do outro, o que denota
desenvolvimento, porque não é em qualquer etapa da vida que um indivíduo pode
resolver problemas com a ajuda de outras pessoas.
Partindo desses dois níveis, Vygotsky define a zona de desenvolvimento proximal como a
distância entre o conhecimento real e o potencial; nela estão as funções psicológicas
ainda não consolidadas.
É um domínio em constante transformação, pois aquilo que se é capaz de fazer com a
ajuda
de
alguém
hoje,
será
possível
fazer
com
autonomia
amanhã.
Como
o
desenvolvimento não acontece igualmente para todos, pois depende fundamentalmente
das experiências sociais de cada um, o tutor deve atuar como um problematizador, ou
seja, aquele que organiza as interações dos alunos com o meio, problematizando as
situações vividas por eles. Portanto, se ao tutor cabe mediar o processo de construção de
conhecimento, é preciso que sua atuação coloque os alunos, mesmo distantes no espaço
e / ou no tempo, em zonas de desenvolvimento proximal.
Assim, para além de um conhecimento teórico, cada tutor precisa ser alvo de uma
formação sócio-interacionista capaz de desconstruir um paradigma tradicional de
«ensino», de que ele foi alvo ao longo de sua vida de estudante, para implantar um
paradigma em que o lócus do professor se desloca, instaurando a figura de um mediador,
que não ensina, mas que viabiliza a aprendizagem.
Na definição do modelo de tutoria, estabelecemos três funções fundamentais do tutor:
• permitir que o aluno trilhasse seu percurso de construção de conhecimento com
segurança;
• oferecer oportunidades para o desenvolvimento da autonomia do aluno, por um lado, e
para a construção coletiva, por outro;
• perceber, com sensibilidade, os aspectos em que o aluno apresentasse maiores
dificuldades, buscando criar situações a partir das quais pudesse ultrapassá-las.
Definimos que o processo de formação do tutor foi calcado no domínio de 3 eixos:
• eixo do conteúdo, referente a formação teórica, onde o tutor foi dotado de
conhecimentos sólidos sobre os assuntos a serem estudados, a fim de que pudesse
mediar a aprendizagem do aluno com segurança; a capacitação foi realizada entre maio e
setembro de 2002, foram nove encontros: sendo três para tratar do referencial teórico
de linguagem; partindo do conceito de linguagem como faculdade mental (Saussure,
1969), procuramos definir um conjunto de conceitos que estabelecessem as bases de
suas interfaces sócio-culturais, em especial as que interferem sobre
os processos de
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comunicabilidade e de interação (Iser, 1999; e Foucambert, 1994) para desenvolvimento
do curso, e do referencial teórico sobre sócio-interacionismo; fizemos estudos sobre a
abordagens sócio-intaracionistas para educação à distância, tomando como base o
trabalho de Vygotsky e de Pierre Lévy,para situa-la como novo paradigma em educação;
quatro dos encontros foram destinados a tratar das especificidades desse modelo de
curso, e um destinado para as instruções gerais e procedimentos que foram
padronizados;
• eixo das ferramentas de interação, com capacitação específica no uso de sistemas para
EAD; foi composto por quatro, com o objetivo de familiarizar os tutores com o uso das
ferramentas de interação e o uso específico de cada uma delas (e-mail, lista de
discussão, fórum)
• eixo dos mecanismos de comunicabilidade, com capacitação específica do tutor para
expressar-se com clareza e perceber a melhor forma de se comunicar com cada aluno, a
fim de assegurar que a troca entre alunos e tutoria se desse de forma adequada.
Quinze tutores, das áreas de Letras e Pedagogia, participaram do processo de formação,
que ocorreu entre maio e setembro de 2002, e foi composto de um conjunto de 9
encontros, além do que chamamos de teste de bancada, ou seja, a testagem do material
didático no âmbito do laboratório, onde os futuros tutores desempenharam o papel de
alunos e as autoras o papel de tutoras. Embora todos os tutores já participassem da
equipe de pesquisa e, portanto, tivessem um domínio prévio básico do conteúdo teórico
que dava suporte ao curso, investimos algum tempo nessa capacitação para não termos
problemas de desempenho dos tutores nessa área.
Os 3 encontros iniciais rediscutiram os referenciais teóricos específicos de linguagem e
sócio-interacionismo. Em seguida, aconteceram 4 encontros onde os futuros tutores
experimentaram condições e situações das mais variadas de uso das ferramentas de
interação, de modo a familiarizarem-se com o uso específico de cada uma delas, tal qual
definido por ocasião do protótipo.
O teste de bancada foi o momento subseqüente. Nele, procuramos identificar, minimizar
e resolver possíveis problemas e dificuldades que pudessem ser encontradas pelos
alunos, quando o curso estivesse em funcionamento. Através desse procedimento foi
possível, da mesma forma, avaliar os níveis de compreensão obtida com o material
didático elaborado, buscando sempre a mais ampla comunicabilidade possível, o que nos
levou a reformular algumas propostas e a redimensionar outras.
Concluindo a formação de tutores, tivemos um encontro para estudo sobre a importância
da criatividade e da afetividade na tutoria, organizado pela Profª. Drª. Marsyl Mettrau; e
um último em que foram tiradas as dúvidas remanescentes, dadas instruções gerais e
estabelecidos padrões de procedimentos.
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A discussão acerca da necessidade de troca e interação entre os tutores do curso foi
disparada durante o teste de bancada. Os tutores sinalizaram que a interação entre eles,
ao longo da testagem, favoreceu a apropriação do referencial teórico, a solução de
possíveis problemas técnicos, e, principalmente, na leitura dos e-mails e das respostas
nos fóruns e nas listas. Algumas mensagens escritas, tanto pelos alunos quanto pelos
tutores, suscitavam dúvidas e, em alguns casos, levantavam mais que uma possibilidade
de leitura. Esse fato despertou especial interesse no grupo de pesquisa, uma vez que as
questões
relativas
à
linguagem
são,
também,
objeto
de
estudo.
As
múltiplas
possibilidades de leitura de um mesmo texto consistem em um problema para a
efetivação da comunicação, principalmente à distância, onde os gestos, a expressão
facial e a entonação da fala deixam de ser elementos que, no presencial, favorecem a
clareza e a comunicabilidade.
Em função do que ocorreu no teste de bancada, estabelecemos que a tutoria seria
realizada em grupos, o que se deveu, preponderantemente, a dois fatores: o primeiro,
permitir que qualquer dificuldade de determinado tutor pudesse ser sanada por outro
colega da mesma equipe, que já conheceria aquele aluno, evitando o rompimento de
vínculos afetivos tão necessários à aprendizagem; o segundo é que a equipe de tutores
teria maiores chances de troca e interação para elaboração e processamento das
informações
encaminhadas
aos
alunos,
e
para
compreensão
dos
processos
de
aprendizagem aos quais seus alunos estavam sendo submetidos.
Estabeleceu-se, ainda, um horário semanal de reunião para todos os tutores, além dos
horários em que cada grupo se encontraria, durante a semana.
Com base em um estudo sobre a aplicabilidade e funcionalidade cada uma das
ferramentas de interação, concluímos quais deveriam ser utilizadas no curso. Definimos,
então, os fóruns como espaço de construção do conhecimento, a partir da troca de
experiências, abrindo discussões sobre o tema, fundamentadas nas indagações propostas
pelo professor/autor do curso; as listas de discussão tomavam possível a comunicação
com todo o grupo. Os e-mails possibilitaram a comunicação individual, aluno-tutor, e
salas de estudo como um espaço livre de interação entre todos os participantes.
Escolhemos ferramentas de interação que facilitassem o aluno, como fóruns e e-mails em
português, acessíveis na internet gratuitamente. Os alunos que fizeram o curso off-line
usavam a rede apenas para acessar as ferramentas de interação no laboratório da
faculdade.
3. CONCLUSÃO
Acreditamos que a formação do tutor seja altamente relevante, sendo preciso que, antes
de agir como orientador da aprendizagem, ele vivencie o processo como aluno, passando
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por todos os momentos e dificuldades que os alunos do curso encontrarão, estando
assim apto para esclarecê-los ao máximo, bem como a intervir para criar espaços
diferenciados de aprendizagem. Como todo o curso foi oferecido sem que dispuséssemos
de uma plataforma de software como suporte, desenvolvemos um mecanismo de
controle administrativo para que o professor e o tutor pudessem acompanhar a situação
dos alunos, desde a inscrição até a conclusão do curso. Ainda assim, foi possível concluir
que a falta de uma plataforma, embora dificulte, não impede o desenvolvimento de
cursos EAD, numa perspectiva que privilegia a interação entre os sujeitos envolvidos.
A atuação do tutor em cursos de educação à distância é de fundamental importância, não
somente no que se refere ao domínio dos conteúdos, como também, às habilidades de
relacionamento com os alunos, utilização adequada dos meios, como estratégias e
ferramentas para interação à distância e verificação da viabilidade de construção de um
ambiente de aprendizagem. No fim do processo, os tutores apontaram a capacitação
como fundamental para o domínio das ferramentas de interação, e o domínio teórico que
o curso exigia.
Não se pode abrir mão da proposta de que os tutores sejam os primeiros alunos do
curso, participando como co-autores, vivenciando o processo de construção do protótipo
para atuar como mediadores, citando um ambiente de interação compreendida como
processo de afetação mútua, que caminha por duas vertentes: o emocional - com a
integração social e motivação -e o cognitivo, no que diz respeito aos desafios, apoio e
estratégias para o melhor desempenho no processo de ensino/aprendizagem.
Foi possível verificar, com o protótipo do curso, que o nível de acessibilidade da rede
ainda se encontra abaixo das expectativas, em função das dificuldades (técnicas, no uso
das ferramentas de interação,
e da
rede) encontradas pelos alunos do curso. Outro
dado relevante é o índice de evasão ter sido menor que o índice de concluintes, tarefa
difícil na EAD. Ainda foi possível verificar a real importância da formação de tutores para
EAD, uma vez que os tutores exerceram papel fundamental e decisivo durante todo o
processo, portanto nossa hipótese, em relação à necessidade de uma formação tutorial
teórico-prática consistente, só vem afirmar que, com nossa proposta, objetivamos a
garantia de um desempenho que foi essencial tanto no acompanhamento dos alunos,
quanto na efetivação da compreensão e da comunicabilidade ao longo do processo.
O teste de bancada permitiu ao tutor antecipar e identificar as futuras dificuldades que os
alunos possam, eventualmente, encontrar, na expectativa de minimiza-las e se possível,
soluciona-las. Neste sistema didático-metodológico-computacional múltiplo, verificamos
que é possível construir conhecimento à distância em interação com outros, com
autonomia,
independentemente
da
relação
espaço-tempo.
Assim,
garantimos
os
princípios de aprendizagem pela interação, o que nos permite concluir, que obtivemos
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sucesso no curso proposto, para os que concluíram. Tais resultados são apresentados
com base nos questionários de avaliação e de evasão, respondidos pelos alunos do curso.
À luz dos dados obtidos, podemos afirmar ser possível oferecer educação à distância,
com uso de tecnologia, que se diferencie das propostas de instrução programada de
treinamento à distância. Confirmamos a possibilidade de aprendizado à distância, em
interação com outros, com autonomia, independentemente da relação espaço-tempo. Tal
constatação nos proporciona maiores possibilidades de alcançar o corpo docente da rede
pública, no que diz respeito à formação continuada, na busca de uma ação pedagógica
eficaz, na área da linguagem, que rompa as fronteiras das limitações físicas e
metodológicas da escola.
4. BIBLIOGRAFIA:
FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994
ISER, W. O ato da Leitura: uma teoria do efeito estético, Vol 2. São Paulo:
Editora 34, 1999
SAUSURRE, F. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix 1969.
VILLARDI, Raquel Marques, CAPELLO, C. C., RODRIGUES, C. S., RÊGO, M. C. L. C.
Curso de Linguagem: perspectivas de desenvolvimento com uso de
Tecnologia. Rio de Janeiro: 2002.
VYGOTSKY, Levy S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins
Fontes, 1989.
Curriculum
Professora da Faculdade de Educação da UERJ, desenvolve suas pesquisas no Programa de
Pós-graduação em Educação, e, no momento, exerce a função de Sub-reitora de graduação
desta Universidade. Cientista do Nosso Estado, por duas vezes, pela FAPERJ, pesquisadora
do CNPq, ao longo de mais de 25 anos de magistério tem buscado cointribuir para a
transformação das práticas pedagógicas que norteiam o trabalho com a leitura e a
tecnologia, de modo a formar cidadãos-leitores capazes de enfrentar os desafios do mundo
contemporáneo
Equipo de trabajo: Marta Cardoso Lima da Costa Rego, Diana dos Santos Abreu, Fabiana Santos de Souza,
Juliana Maria Alves de Carvalho, Fabrícia Vellasquez , Vanessa de Moraes , Débora Cristina Oliveira, Cláudia de
Cássia Capello
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