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faz necessário que os professores assumam a atitude de promover a disciplina na sala de aula
e assim então conseguir uma aprendizagem significativa.
O primeiro capítulo é constituído de uma breve reflexão sobre a prática educativa bem
como a sua relevância para o funcionamento da sociedade - ‘não há sociedade sem prática
educativa, nem prática educativa sem sociedade’; ainda foram ressaltados alguns aspectos de
fundamental importância para a formação de verdadeiros cidadãos, bem como a interação e
parceria entre escola e família para eficácia do trabalho educativo. Levando em consideração
que ‘a educação não pode ser considerada um processo linear, mecânico,’ foram esclarecidos
os significados dos
termos educação, instrução e ensino, enfatizando a relação de
subordinação entre os mesmos. Como parte final, mas, não menos importante o cotidiano
escolar foi destacado como um ponto primordial para se entender questões que envolvem as
questões de (in) disciplina.
No segundo capítulo foram expostas definições e idéias à cerca do termo indisciplina,
por meio de vários pressupostos ressaltou-se ainda possíveis causas, distúrbios e disfunções
que estão diretamente ligadas aos motivos geradores da indisciplina no ambiente escolar. Na
abordagem sobre (in) disciplina escolar serão vários os aspectos analisados na tentativa de
explicar os fatores que geram tais ‘problemas indisciplinados’; e também citados motivos que
podem auxiliar os responsáveis pela educação a compreender as causas da indisciplina
escolar.
Já no terceiro capítulo foi realizada uma exploração do termo disciplina, onde foram
exemplificas os tipos de disciplinas, o desafio dos professores e a necessidade de promover a
disciplina, as atitudes dos professores para promover a disciplina, levando em consideração
que a questão da disciplina/ indisciplina é assunto muito controverso. Destacando ainda que, a
disciplina é vista como uma prática educativa, os alunos precisam que a escola (formadora do
conhecimento formal e sistematizado) lhes proporcione a vivência de limites o respeito e o
cumprimento às regras necessárias ao convívio pacífico em sociedade, mas não só a escola
tem o dever de dar limites aos alunos esta a princípio é uma tarefa que deve ser primeiro
exercida com consciência e afinco pelos pais.
E por fim o quarto capítulo trata especificamente sobre o trabalho do supervisor
escolar, frente aos problemas de disciplina e indisciplina escolar. O Supervisor possui um
10
comprometimento com a formação da cidadania dos alunos. Ele precisa estar atento ao
trabalho coletivo da escola atuando harmoniosamente com os demais profissionais da
educação, realizando um trabalho interdisciplinar. Precisa desenvolver através de um trabalho
participativo e conjunto, onde todos estão comprometidos com o processo e os resultados.
Sendo assim fica claro que o supervisor escolar ao tratar do pedagógico da escola se
encontra paralelo aos problemas enfrentados pelos professores, torna-se então sua função
tentar junto ao docente encontrar meios possíveis para promover a disciplina nas salas de aula,
pois só com limites e disciplina é que pode haver uma aprendizagem produtiva e tendo alunos
mais educados que respeitem e cumpram seus direitos e deveres será possível construir uma
sociedade mais digna, justa e ética.
Várias foram às obras analisadas para a confecção desta pesquisa científica, e muitos
são os atributos pelo comportamento (in) disciplinado dos alunos, frente às diversas alegações
quanto os motivos bem diferentes para a presença da indisciplina, por se acreditar na
importância do professor refletir "na e sobre a sua ação", porque desta forma estará
supervalorizando o "saber", o "fazer" e o "porque fazer", que são fontes do processo de
produção de conhecimento, realizar reflexão da prática, da experiência real é uma
característica de um trabalho que rompe com os modelos tradicionais, pois torna consciente a
visão do real, e articula a prática política com a prática pedagógica, podendo levar a uma
mudança de comportamento, contribuindo então, tanto para o desenvolvimento de seus alunos
quanto para o seu desenvolvimento enquanto docente. Daí, os fundamentos e a razão de não
se poder reduzir o ensino a um simples treinamento.
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1. EDUCAÇÃO E DISCIPLINA: PRÁTICA EDUCATIVA E SOCIEDADE
O trabalho docente é parte integrante do processo educativo mais global pelo qual os
membros da sociedade são preparados para participar na vida social. A educação - ou seja, a
prática educativa – é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária
à existência e ao funcionamento de toda a sociedade. Cada sociedade precisa cuidar da
formação dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimento de suas capacidades físicas e
espirituais, para prepará-los à participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida
social. Não há sociedade sem prática educativa, nem prática educativa sem sociedade. A
prática educativa não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também o processo
de prover os indivíduos aos conhecimentos e experiências que os tornam apto a atuar no meio
social e a transformá-lo em função de necessidades econômicas, sociais e políticas da
coletividade.
Sabe-se que para se viver em sociedade é necessário que haja limites. No dia-a-dia, é
impossível que as crianças tenha liberdade total, ilimitada.
Portanto, “considera-se que permitir nada ou, no extremo oposto, permitir tudo, são
hábitos igualmente nocivos do ponto de vista educacional. É fundamental que a criança saiba
o que pode e o que não pode ser feito”. (TIBA, 1996, p. 98).
É necessário considerar alguns aspectos, como afirma De La Taille (1994, p. 56):
“As crianças, por serem heterônomas, precisam de regras vindas de seus
educadores, que não podem se esquivar da tarefa de colocar os limites
necessários para que elas se desenvolvam bem e consigam se situar no
mundo. É importante não ver esses limites como algo “que não pode ser
feito”, mas serem interpretados com um sentido positivo, que situa o
indivíduo em suas relações sociais, que o auxilia na tomada de consciência
“de qual a sua posição” ocupada na família, na escola, enfim, na sociedade”.
Para a formação de pessoas conscientes de seus atos, deveres e direitos é de suma
importância à existência de princípios básicos e éticos, e em geral, as regras são acordos
elaborados pelos integrantes do grupo que beneficiam a todos, ordenando as relações.
Na prática educativa esses acordos não são rígidos, estáticos ou pré-estabelecidos, nem
privilegiam alguns em detrimento de outros. Com o passar do tempo, se for constatado que
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algumas regras não estão “dando certo”, ou quando uma das partes sente-se prejudicada, o
acordo anterior é novamente analisado, revisto e, se necessário, é reelaborado (ou combina-se
outros). Essa flexibilidade; a adequação às necessidades particulares de cada grupo; a
participação ativa dos integrantes do mesmo na sua elaboração; a regularidade; e o seu
cumprimento por parte de todos que o integram, são alguns dos princípios que regem as
regras. As regras, em qualquer situação, têm que preservar e propiciar ao sujeito o respeito
por si próprio e pelo outro. O professor precisa compreender que as regras devem auxiliar na
construção de um lugar feliz, portanto, não deve elaborar normas desnecessárias (supérfluas)
ou descabidas. Questionar-se também sobre a coerência das normas, se elas são justas e
necessárias, se podem ser negociadas, se foram elaboradas de forma democrática, se
fundamentam-se em princípios, e se respeitam as características do desenvolvimento infantil.
“Para viver em sociedade, o ser humano não necessita apenas da inteligência. Precisa
viver de acordo com a ética e valores humanos, participando ativamente das regras de
convivência”. (TIBA, 1996, p. 111)
No entanto, a escola, muitas vezes, supervaloriza os conteúdos didáticos em
detrimento dos afetivos; ensina o aluno a resolver problemas aritméticos, mas não o ensina a
resolver seus conflitos existenciais.
Será que as instituições de ensino estão tomando para si uma responsabilidade, que
deve estar a cargo da família como tarefa principal e primordial, formar cidadãos éticos e
conscientes dos valores humanos, enquanto a escola deve-se se preocupar apenas com a
formação educacional e a família com a formação humana e social?
Teoricamente, a família teria a responsabilidade pela formação do indivíduo, e a
escola, por sua informação. A escola nunca deveria tomar o lugar dos pais na educação, pois
os filhos são para sempre filhos e os alunos ficam apenas algum tempo vinculados às
instituições de ensino. Observando os fatos por este lado, a ação da escola se resume à
formação técnica e cognitiva do ser. Não se comprometendo com a formação integral, numa
visão holística do homem.
Frigotto (1999, p. 14) destaca que “[...] os processos educativos e formativos, que ao
mesmo tempo são constituídos e constituintes das relações sociais (...), passam por uma
13
ressignificação no campo das concepções e das políticas”. Neste cenário, as alterações
preconizadas pela reforma educacional no Brasil redirecionam o papel da educação e da
escola e, conseqüentemente, aliam a formação e a qualificação como elementos fundamentais
ao processo de competitividade resultando, assim, em ações político-pedagógicas no âmbito
dos currículos da educação formal e não-formal.
“Apesar das várias mudanças de mentalidade e comportamento nessas últimas décadas
é necessário que tanto os pais quanto as escolas adaptem-se a um novo sistema educativo em
busca da saúde social.”.(TIBA, 1996, p. 114)
De acordo com Aquino (1996, p. 86), “a vida em sociedade pressupõe a criação e o
comportamento de regras e preceitos capazes de nortear as relações, possibilitar o diálogo, a
cooperação e a troca entre membros deste grupo social”. A Instituição Escolar, por sua vez,
também estabelece regras e normas orientadoras do seu funcionamento e da convivência entre
os diferentes elementos que nela estão inseridos. Nessa abordagem as normas deixam de ser
vistas apenas como prescrições punitivas, e passam a ser compreendidas como condição
necessária ao convívio social. A internalização e a obediência a certas regras levam o
indivíduo a uma atitude autônoma e como conseqüência, libertadora, já que orienta suas
relações sociais.
“A Disciplina é um dos pilares do crescimento civilizacional do homem e
conseqüentemente, um valor social importante”. (TIBA, 1996, p. 112-113).
A sala de aula é um espaço de aprendizagem em que se relacionam educadores e
educandos com conhecimentos e individualidades diversificados. Este é um espaço de
interação entre ambos que irão se relacionar afetivamente e, nessa relação, construindo
aprendizagens e formas de ver o mundo. Percebe-se que a escola, por si mesma, possui uma
carga positiva de afetividade, basta olhar a entrada, o recreio, as brincadeiras em sala de aula.
Isto significa que os alunos gostam da escola, o que muitos não gostam é das aulas, da
ausência do diálogo, da falta de olhares confortantes diante do que ainda não foi conhecido,
nesse sentido é essencial que o educador conheça a si próprio para que haja envolvimento
com o outro, com o objetivo de promover o desenvolvimento afetivo e cognitivo do aluno.
Observa-se então relevância da afetividade no ambiente escolar e no desenvolvimento
14
sócio-pessoal do indivíduo.
Na escola, há uma diversidade de pessoas, possibilitando interação mútua entre os
componentes e ao mesmo tempo oferece situações e experiências essenciais para construção
do indivíduo como pessoa.
Necessitar de ajuda, ter a quem recorrer compartilhar um momento de alegria ou de
vitória é uma característica inerente do ser humano. As decepções e frustrações afetivas,
durante a infância, o medo de errar, o afastamento em situações que ponham à tona
sentimentos, podem com o passar do tempo, imprimir marcas profundas na formação da
personalidade de uma pessoa. O desenvolvimento positivo da auto-estima e do sentimento de
segurança requer experiências positivas.
Não estamos educando a emoção, nem estimulando o desenvolvimento das funções
mais importantes como contemplar o belo pensar antes de reagir, expor e não impor as idéias,
gerenciar os pensamentos ter espírito empreendedor. Estamos informando os jovens, e não
formando sua personalidade. [...] Há um mundo a ser descoberto dentro de cada criança e
cada jovem. Só não consegue descobri-lo quem está dentro do seu próprio mundo. (CURY,
2003, p. 72)
Diante disto percebe-se o quanto família é indispensável pra o desenvolvimento
afetivo social da criança. O relacionamento entre o ensinar e o aprender ocorre através de
vínculos afetivos entre as pessoas e inicia-se no contexto familiar. Desta forma, “[...] para a
criança o vínculo é essencial para que se apresente na relação pai-mãe-filho e, muitas vezes
irmãos, ocasionando assim, um ambiente saudável e prazeroso”. (CHALITA, 2001, p. 27).
O educando, como ser social, necessita do outro para se delimitar como pessoa e
construir o seu conhecimento. Na escola, as relações vão se constituindo em função do
contato diário e intenso entre educador, educando e comunidade escolar. Esse processo se dá
quando o educador possui responsabilidades e consciência em relação ao ato de ensinar.
Portanto, o educador, torna-se um agente indispensável no para o processo de ensino e
aprendizagem, devendo assim compreender o educando em sua dimensão humana,
valorizando os aspectos afetivos, emocionais e intelectuais, de acordo com as manifestações
15
do conhecimento.
E a parceria entre escola e família, mais do que nunca ocupa um papel é essencial para
a eficácia do trabalho educativo e da construção do conhecimento em busca de uma melhor
qualidade de vida e constituição da cidadania para a formação de nossas crianças.
1.1. Educação, Instrução E Ensino
Antes de prosseguirmos nossas considerações, convém esclarecer o significado dos
termos educação, instrução e ensino.
Educação é um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento
unilateral da personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas – físicas, morais,
intelectuais, estéticas – tendo em vista a orientação da atividade humana na sua relação com o
meio social, num determinado contexto de relações sociais.
Com descrito por Aquino (1996, p. 94):
“A Educação corresponde, pois, a toda modalidade de influências e interrelações que convergem para a formação de traços de personalidade social
do caráter, implicando uma concepção de mundo, ideais, valores, modo de
agir, que traduzem em convicções ideológicas, morais políticas, princípios
de ação frente a situações reais e desafios da vida prática. Nesse sentido,
educação é instituição social que se ordena no sistema educacional de um
país, num determinado momento histórico; é um produto, significando os
resultados obtidos da ação educativa conforme propósitos sociais e políticos
pretendidos; é um processo por consistir de transformações sucessivas tanto
no sentido histórico quanto no desenvolvimento da personalidade”.
A instrução se refere à formação intelectual, formação e desenvolvimento de
capacidades cognoscitivas mediante o domínio de certo nível de conhecimentos
sistematizados. O ensino corresponde a ações, aos meios e condições para a realização da
instrução, contendo, pois, a instrução.
Há uma relação de subordinação da instrução à educação, uma vez que o processo e o
resultado da instrução são orientados para o desenvolvimento das qualidades específicas da
personalidade. Portanto, a instrução, mediante o ensino, tem resultados formativos quando
16
converge para o objetivo educativo, pois é, quando os conhecimentos, habilidades e
capacidades propiciadas pelo ensino se tornam princípios reguladores da ação humana, em
convicções e atitudes reais à realidade. Há, pois, uma unidade entre educação e instrução,
embora sejam processos diferentes, pode-se instruir sem educar, educar sem instruir; conhecer
os conteúdos de uma matéria, conhecer os princípios morais e normas de conduta não levam
necessariamente a praticá-los, isto é, a transformá-los em convicções e atitudes efetivas frente
aos problemas e desafios da realidade, ou seja, o objetivo do educador é um propósito
intencional e explícito de orientar a instrução e o ensino pra objetivos educativos. Cumpre
acentuar, entretanto, que “o ensino é o principal campo da instrução e educação. Neste
sentido, quando mencionamos o termo educação escolar, referimo-nos a ensino”. (AQUINO,
1996, p.123)
A educação não pode ser considerada como um processo linear, mecânico. Pelo
contrário, é um processo complexo e sutil, marcado por profundas contradições e por
processos coletivos, contínuos e permanentes de formação de cada indivíduo, o que se dá na
relação entre os indivíduos e entre estes e a natureza.
A escola é o local privilegiado dessa formação porque realiza um trabalho sistemático
e planejado com o conhecimento, com valores, com atitudes e com a formação de hábitos. Em
muitos momentos a atuação da escola foi associada à função de formar a classe subalterna, o
cidadão dócil e o operário competente, por priorizar a dimensão técnica, ensinando álgebra,
ciências e outros conteúdos, sem os quais a força de trabalho não seria capaz, supostamente,
de desempenhar de forma satisfatória o seu papel na indústria moderna.
Uma das propostas para a amenização dos problemas encontrados no processo de
educação escolar é a qualificação docente.
Na formação de educadores faz-se necessário que este busque participar de forma
crítica e compromissada com a educação. Assim, destaca-se a importância da formação
continuada, com vistas à qualificação, reflexão da prática docente, como uma maneira de
valorizar os saberes experênciais dos professores. Pois, de acordo com a concepção de Pereira
(2000, p.49), “[...] a formação do professor não se vislumbra apenas na academia, com a
diplomação, mas sim sobre as reflexões destes quanto à prática em si, nos bancos escolares e
também para além destes”.
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Considera-se, assim, que os educadores, incluindo os pedagogos que atuam em
Supervisão Escolar, devem estar sempre em processo de formação, buscando a ressignificação
de suas práticas, conteúdos, conhecimentos e saberes que englobam toda a ação pedagógica. E
não apenas a assumam para cumprir com as exigências políticas.
Neste contexto, o crescimento profissional dos professores tem seu reflexo na prática
pedagógica, pois, é através dela que os professores percebem a importância de que o seu
papel, que não se deve limitar a um processo de transmissão de saberes.
Entretanto, integra-se o processo educativo não apenas os professores, mas também
aos profissionais da escola como um todo e, sobretudo, os alunos e todo o seu contexto sóciocultural, o que compreende a sua essência - a família.
1.2. O Cotidiano Escolar
De acordo com os estudos de Laurizete Ferragut Passos apud Aquino (1996, p. 127),
“ao tomar o cotidiano escolar como foco de análise, pode-se percorrer um trajeto teórico que
não fragmente os fenômenos, mas que releve a gênese e a natureza do processo educativo”.
Estudar a escola partindo da análise do seu cotidiano é compreender a ação dos
sujeitos que nela se movimentam, entendendo essa realidade específica nas suas articulações
com a realidade macro-social.
“Através das análises do cotidiano se pode entender melhor a natureza dos melhores
constitutivos da realidade cotidiana da escola e ao mesmo tempo, articular com estes
processos sociais mais amplos que ocorrem em determinado momento histórico”.
(EZPELATA e POCKWEELL, 1986, p. 65).
Ao analisar o cotidiano escolar é possível compreender questões que envolvem a (in)
disciplina na escola, pois é através do conhecimento sobre o que ocorre na realidade escolar
que compreendemos o porquê da (in) disciplina. É preciso analisar o dia-a-dia das escolas
porque a prática pedagógica é estruturada a partir dos quadros de referência ideológicos,
morais e sociais de todos desenvolvidos na dinâmica escolar: professores, diretores, alunos,
18
pais, funcionários, etc. “Tais quadros se entrelaçam com todo o universo simbólico cultural
dando sentido às suas atitudes e comportamentos”. (AQUINO, 1996, p. 121)
Ainda segundo Aquino (1996, p. 121-122), “o cruzamento do cotidiano com a história
é apontado como significativo do próprio processo de conhecimento social da instituição
escolar, já que ele se dá em movimentos e contextos distintos e pelo fato de focalizar os
sujeitos individualistas que incorporam momentos e contextos de vida”.
O universo do cotidiano escolar é muito rico e propicia ao pesquisador e analista
caminhos para a abordagem de cunho real e diversificado.
Na escola, chamamos a falta de educação de atitudes indisciplinadas. Se na escola há
falhas na informação e formação, é por causa da falta de educação ou indisciplina por parte
dos educandos. Quem é responsável pela educação das crianças é a família. Depois a escola.
Um problema na família repercute na escola. Em nossos dias a família está projetando suas
responsabilidades sobre a escola, temos percebido que a escola não tem tido tanto êxito na
formação coletiva. Os pais simplesmente encaminham seus filhos à escola no intuito que esta
os programe.
Percebemos que à família projeta esta responsabilidade na escola porque não tem
conseguido conciliar a busca de seu sustento com sua formação. Não é novidade falarmos que
a maioria dos pais passam o dia fora de casa lutando pela sobrevivência e que a falta de tempo
ou a falta de prioridade não tem dado tempo a formação das futuras gerações. Família e escola
precisam caminhar juntas.
Os processos diferenciados de apropriação no âmbito escolar, ou seja, os sujeitos ao se
apropriarem diferentemente das coisas, dos conhecimentos, das práticas, dos saberes e das
normas, em cada âmbito educacional marcam também formas diferenciadas de compreender
os momentos e eventos, muitas vezes aparentemente incomuns, que se encontram na realidade
do cotidiano escolar, deste modo entende-se as formas pelas quais a história se presentifica na
vida escolar.
O que interessa é lançar um olhar sobre a escola com a ajuda de um referencial teórico
com o intuito de entender a lógica reprodutiva de sua ordenação. Isto significa que o que se
19
prioriza na análise são os processos se construção da escola a partir de divisões e dicotomias
(frutos
do
controle
institucional/burocrático),
como
as
relações
professor/aluno,
professores/pais, diretores/professores, pedágogo/administrativo, disciplina/indisciplina, etc.
Assim, os processos dicotômicos que marcam a forma como as escolas estão organizados, vão construindo nas salas uma cultura disciplinar que rompe com as “as formas de
mover-se, de falar, de estar”, cultivadas no espaço cotidiano das crianças no ambiente fora do
âmbito escolar.
Conforme Aquino (1996, p. 125), “muitas vezes a escola se mostra passiva e fazer
parte dessa realidade requer renunciar à passividade: a voz é do professor, e o aluno é dela
destituído, valoriza-se o trabalho individual e a vida em grupo tão necessário ao crescimento
humano fica do lado de fora da escola”.
Exemplifica Aquino (1996, p. 126), ao dizer que:
“É do espaço das filas, de cabeça atrás de cabeça, da rotina dos horários, do
tempo limitado para cada atividade, dos conteúdos estagnados, das provas
homogêneas, que podem emergir formas de relação que ultrapassem o
controle e o poder instituído para configurar uma dinâmica de troca, de ação
e interação, de luta contra a submissão, que se expressa nas rotinas e relações
sociais que caracterizam o cotidiano escolar. Os próprios alunos vão
impondo à escola a necessidade de mudança”.
Segundo Tiba (1996, p. 129), “um país que não cuida da educação de seu povo está
condenando seu futuro”. Consideramos necessário ressaltar que às vezes o professor
ingenuamente acredita que, quando surge algum problema ou indisciplina, basta fazer regras.
Entretanto, constata-se que, freqüentemente, essas regras não dão certo. Como relatado logo o
abaixo pela professora Jaqueline, fato que ocorreu em uma classe do 4ª série do ensino
fundamental em uma escola da cidade de Cabeceira Grande, na qual realizei Estágio
Curricular Supervisionado do Curso de Letras/UNIMONTES: Nessa classe as crianças
interrompiam a aula o tempo todo para pedirem autorização ao professor para irem ao
banheiro. Combinou-se que só iriam um de cada vez e não poderiam sair durante alguma
explicação importante. Mesmo assim, quando alguém chegava do banheiro, imediatamente
outro levantava e saía, e depois mais outro, formando filas de crianças esperando sua vez para
irem ao banheiro ou tomar água.
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Diante do ocorrido nota-se que o professor precisa sempre refletir se os indícios de
indisciplina não são decorrentes de uma didática pobre e desinteressante, de uma postura
(autoritária ou permissiva) ou ainda relacionados à ausência de uma boa dinâmica na classe
(crianças muito tempo sentadas, esperando, sem fazer nada). Muitas vezes, a questão não deve
ser resolvida com uma nova regra, mas sim com uma séria e imparcial revisão do problema,
com tomada de consciência e com mudanças de postura, procedimentos ou estratégias pelo
educador.
No trabalho cotidiano em sala de aula, é possível presenciar, diariamente, cenas de
indisciplina das crianças e questionamentos às regras da escola. Algumas escolas têm como
princípio educacional o “é proibido proibir” e as crianças tornam-se verdadeiras “donas” de
suas atitudes deixando os professores com poucos recursos para impor sua autoridade.
Segundo Mielnik (1982, p. 60):
“Crianças excessivamente inquietas, agitadas, com tendências à
agressividade, se destacam no grupo pela dificuldade de aceitar e cumprir as
normas, às vezes, não conseguindo produzir o esperado para sua idade. Estas
crianças representam um desafio para suas famílias e escola, cabendo a estes
estabelecer os métodos de orientação mais condizentes a cada situação e
estabelecer os níveis de regimes necessários para obtenção da disciplina”.
“É necessário que o professor procure compreender os motivos, que seja feita uma
revisão imparcial e profunda da questão, do contrário, está-se atuando apenas em cima das
conseqüências e não na principal causa do mesmo”. (Revista Linha Direta, 2000).
A escola enfrenta hoje em dia grandes dificuldades para estabelecer normas aos seus
alunos, revelando-se uma instituição em crise gerada talvez pela negação ao diálogo e a
impossibilidade de alcançar uma integração entre sua clientela no interior da sociedade. Para
estabelecer os limites em sala de aula (ou na escola), o educador vale-se das regras, que visam
contribuir para a organização do ambiente de trabalho, promover a justiça, fomentar a
responsabilidade por aquilo que ocorre na classe e o comprometimento de todos com os
procedimentos e decisões referentes à sala de aula. DeVries e Zan (1997, p. 130), explicam
que “o objetivo geral de envolver as crianças em tomadas de decisões e estabelecimento de
regras em suas salas de aula é contribuir para uma atmosfera de respeito mútuo na qual os
professores e alunos praticam a auto-regulação e a cooperação”.
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Em geral, as regras são acordos elaborados pelos integrantes do grupo que beneficiam
a todos, ordenando as relações. Esses acordos não são rígidos, estáticos ou pré-estabelecidos,
nem privilegiam alguns em detrimento de outros. Com o passar do tempo, se for constatado
que algumas regras não estão “dando certo”, ou quando uma das partes sente-se prejudicada,
o acordo anterior é novamente analisado, revisto e, se necessário, é reelaborado (ou combinase outros). Essa flexibilidade; a adequação às necessidades particulares de cada grupo; a
participação ativa dos integrantes do mesmo na sua elaboração; a regularidade; e o seu
cumprimento por parte de todos que o integram, são alguns dos princípios que regem as
regras.
As regras, em qualquer situação, têm que preservar e propiciar ao sujeito o respeito
por si próprio e pelo outro. O professor precisa compreender que as regras devem auxiliar na
construção de um lugar feliz, portanto, não deve elaborar normas desnecessárias (supérfluas)
ou descabidas. Questionar-se também sobre a coerência das normas, se elas são justas e
necessárias, se podem ser negociadas, se foram elaboradas de forma democrática, se
fundamentam-se em princípios, e se respeitam as características do desenvolvimento infantil.
22
CAPÍTULO II - INDISCIPLINA ESCOLAR
Segundo Aquino (1996, p. 127), “a questão da indisciplina nas salas de aula é um dos
temas que atualmente mais mobilizam professores, técnicos e pais de diversas escolas
brasileiras tanto da rede pública quanto da privada e nos diversos níveis educacionais
abrangendo desde a Educação Infantil até o Ensino Médio”. Entretanto, apesar de ser objeto
de crescente preocupação, no meio educacional este assunto é debatido de modo superficial
não há clareza nem consenso a respeito da indisciplina e os estudos e pesquisas neste campo
ainda estão escassos.
Mas como os professores que tanto se interessam em desvendar e estudar o porquê da
indisciplina escolar podem questionar e entender o porquê da indisciplina?
De acordo com Rego (2007), os professores vêem a indisciplina como um “sinal dos
tempos modernos”, mostrando até mesmo saudade das práticas escolares de outros tempos. É
comum também entenderem a indisciplina na sala de aula como espelho da miséria e da
violência existentes na sociedade, e de modo geral, alimentada pelos meios de comunicação
de modo particular a televisão. Parece compartilhar a idéia de que os alunos são o retrato de
uma sociedade opressora, violenta, injusta e sem lei, e de que a escola, por decorrência, é
vítima de uma clientela inadequada.
“No contexto escolar existem diversos fatores relacionados às expressões de
indisciplina, tais como o desempenho cognitivo dos alunos, suas formas de socialização e as
condutas que exercem na escola”. (GARCIA, 1999, p. 102)
Ainda segundo Garcia (1999, p.104):
“As expressões de indisciplina tem sido relacionadas a fatores internos ou
externos à escola. Entre as razões internas estariam, por exemplo, as
condições de ensino e aprendizagem, a natureza do currículo, as
características dos alunos, aos modos de relacionamento estabelecidos entre
alunos e professores, e o próprio sentido atrelado à escolarização. Entre os
fatores externos destacam-se a violência social, a influência da mídia e o
ambiente familiar dos alunos”.
Entendemos que a indisciplina guarda relações com todo o cenário educacional, e
envolve diversos atores em sua produção social. O estudo da percepção dos professores,
23
portanto, fornece uma perspectiva sobre o processo de construção social da indisciplina, que
pode ajudar a pensar particularmente a possibilidade de sua desconstrução. A escola não
poderia libertar por inteiro nossa sociedade do medo de ensinar, seguindo escola não poderia
libertar por inteiro nossa sociedade do medo de ensinar, seguindo este pressuposto Perrenoud
(2000, p. 141), aduz que “a violência, a brutalidade, os preconceitos, as desigualdades sociais
e econômicas, as discriminações existem, e os meios de comunicação fazem questão de
mostrar essa injusta realidade todos os dias”. Não se pode pedir à escola que seja aberta à vida
e, ao mesmo tempo, fazer crer que todos os adultos aderem às virtudes cívicas e intelectuais
que ela defende. Os jovens e principalmente os adolescentes têm as condições propícias para
ironizar as palavras idealistas de seus professores e de seus pais.
A indisciplina na escola está na ordem do dia. As preocupações de professores, pais e
educadores em geral, relativos aos comportamentos escolares dos alunos, têm sido
consideráveis nos últimos anos. Tardif (2002, p. 15), com seus pressupostos nos sugere,
portanto:
“Pensar o processo de elaboração dos saberes sociais dos professores como
algo indissociáveis de suas práticas, do modo como, no cotidiano, eles são,
fazem, pensam e dizem. Em suas práticas pedagógicas os professores
mobilizam saberes muitas vezes ancorados apenas em suas crenças e valores,
segundo modos de percepção. Nos interessa, aqui, avançar nessa direção”.
Constata-se que no contexto educativo, a indisciplina contribui para a exclusão
escolar, gerando um problema social grave. Para Aquino (1996a, p. 40), “embora o fenômeno
da indisciplina seja um velho conhecido de todos, sua relevância teórica não é tão nítida”.
A origem dos comportamentos ditos indisciplinares pode estar em diversos fatores:
uns ligados a questões relacionadas ao professor, principalmente na sala de aula; outros
centrados nas famílias dos alunos; outros verificados nos alunos; outros gerados no processo
pedagógico escolar; e outros alheios ao contexto escolar.
2.1. Idéias Acerca Da Indisciplina
As idéias acerca da indisciplina estão longe de serem consensuais. Isto se deve não
somente à complexidade do assunto e à marcante ausência de pesquisas que contribuam no
refinamento do estudo deste problema, mas também à multiplicidade de interpretações que o
tema encerra.
24
O próprio conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é estático,
uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e expectativas
que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa mesma sociedade: nas
diversas classes sociais, nas diferentes instituições e até mesmo dentro de uma mesma camada
social ou organismo. Também no plano individual a palavra indisciplina pode ter diferentes
sentidos que dependerão das vivências de cada sujeito e do contexto em que foram aplicadas.
Para Aquino (1996, p. 128), “em decorrência dos fatos, os padrões de disciplina que
pautam a educação das crianças e jovens, assim como os critérios adotados para identificar
um comportamento indisciplinado, não somente se transformaram ao longo do tempo como
também se diferenciam no interior da dinâmica social”.
Ao chamar atenção para a dinâmica de formação e transformação do conceito de
indisciplina na história humana e as diversas conotações que o termo pode surgir na sociedade
atual, não estamos postulando, obviamente, a impossibilidade de admitir um núcleo
relativamente estável de aspectos e relações que designam a noção de indisciplina,
compartilhável por todas as pessoas que a utilizam.
A partir do dicionário Aurélio (2000, p.239), pode se ter alguma concepção acerca dos
termos disciplina e indisciplina:
“O termo disciplina pode ser definido como regime de ordem imposta ou
livremente consentida. Ordem que convém ao funcionamento regular de uma
organização (militar, escolar, etc.). Relações de subordinação do aluno ao
mestre ou ao instrutor. Observância de preceitos ou normas. Submissão a um
regulamento. E, disciplinar, o ato de “sujeitar ou submeter à disciplina:
disciplina de tropa”. Já o termo indisciplina refere-se ao “procedimento, ato
ou dito contrário à disciplina; desobediência; desordem, rebelião”.
Sendo assim, indisciplinado é aquele que “se insurge contra a disciplina”. (AQUINO,
1996, p. 85)
Essas definições podem ser interpretadas de diversas formas. É impossível, por
exemplo, entender que disciplinável é aquele que se deixa submeter, que se sujeita de modo
passivo, ao conjunto de prescrições normativas geralmente estabelecidas por outrem e
relacionadas a necessidades externas a este. Disciplinado é, portanto, aquele que obedece, que
25
cede, sem questionar, às regras e preceitos vigentes em determinada organização.
Disciplinador é, nesta perspectiva, submissão, à obediência e à acomodação. Já o
indisciplinado é o que se rebela que não acata e não se submete, nem, tampouco se acomoda
e, agindo assim, provoca rupturas e questionamentos.
Aquino (1996, p. 85-86), evidência ainda que:
“A disciplina parece ser vista como obediência cega a um conjunto de
prescrições, principalmente, como um pré-requisito para o bom
aproveitamento do que é oferecido na escola. Nessa visão, as regras são
imprescindíveis ao desejado ordenamento, ajustamento, controle e coerção
de cada aluno e da classe como um todo. É curioso observar que, nesta
perspectiva, qualquer manifestação de inquietação, questionamento,
discordância, conversa ou desatenção por parte dos alunos é entendida como
indisciplina, já que se busca “obter a tranqüilidade, o silêncio, a docilidade, a
passividade das crianças de tal forma que não haja nada nelas nem fora delas
que as possa distrair dos exercícios passados pelo professor, nem fazer
sombra à sua palavra”.
Uma outra tendência presente no campo da educação é associar a disciplina à tirania.
Qualquer tentativa de elaboração de parâmetros ou definição de diretrizes é vista como prática
autoritária, deformada ou restrita, que ameaça o espírito democrático e cerceia a liberdade e
espontaneidade das crianças e jovens. A disciplina assume uma conotação de opressão e
enquadramento. Portanto, todas as regras e normas existentes na escola devem ser
subvertidas, abolidas ou ignoradas. Sendo assim, “condutas indisciplinadas podem ser
entendidas como uma virtude, já que pressupõe a “coragem de ousar”, de desafiar os padrões
vigentes, de se opor à tirania muitas vezes presente no cotidiano escolar”. (AQUINO, 1996, p.
87)
Nesse sentido Perrenoud (2000, p. 154), deduz que, “talvez se tenha chegado a esse
ponto de indisciplina pelo fato de não se ter percebido que a violência está em germe na
relação pedagógica, quando se relaciona à força, e na coexistência em um local de ensino,
quando não se reconhecem a todos os mesmos direitos ou não se assegura a eles o respeito
necessário”.
Como corrobora e ainda questiona Eliete Carvalho (2008), em seu artigo, ao analisar
as causas e influências da indisciplina no contexto escolar ao redatar que:
"Disciplina é liberdade”. Já dizia o cantor e compositor Renato Russo em
26
uma de suas músicas bastante conhecida da população brasileira. Esta
afirmação revela que quando se tem disciplina a liberdade é conquistada, não
a disciplina rígida, castradora, opressora, mas aquela que seja dialética,
consciente, fruto do desejo de todos de conviverem em harmonia, onde o
respeito seja mútuo, enfim, aquela que deve ser vista como um processo de
conquista na relação aluno/professor. Mas, infelizmente, esta disciplina tão
sonhada está longe de ser compartilhada na escola, isto porque já não se tem
mais controle dos atos de vandalismo, da falta de respeito, do mau
comportamento dos alunos em relação à escola e aos professores. Assim,
todos os anos diretores, coordenadores e professores buscam encontrar
respostas para uma das questões intrigante e constrangedora: a indisciplina.
Portanto, a escola necessita estar aberta ao diálogo com os seus alunos e com
a comunidade, precisa sair do anonimato de suas ações, de seus projetos,
enfim precisa ser mais incisiva quanto a sua real função. Caso contrário,
estará exposta às críticas de que é desinteressante e desorganizada. Mais
ainda de que seus alunos e professores se sentem perdidos ou mesmo sem
ideais.
O que nos remete a idéia de como o termo indisciplina pode estar associado ao papel
formador da escola. Pois para muitos adolescentes e jovens, a escola representa, a chatice e a
monotonia na proporção que os alunos se vêem obrigados a cumprirem tarefas sem sentidos, a
ficarem sentados do primeiro ao quinto horário vendo “conteúdos” obrigatórios as cargas
curriculares, conteúdos estes isolados e pouco interessantes. São a partir dessas atitudes de
nossos alunos que podemos verificar até que ponto a escola está ou não cumprindo com o seu
papel social que é o de educar. Ou ainda se está sendo capaz de superar suas crises e seus
desencontros. Caso contrário, a própria escola poderá estar correndo o risco de se criar ou
contribuir para uma geração de revoltados ou indiferentes, pois o mundo lá fora é muito mais
atraente, interessante e estimulante.
Tiba (1996, p. 165), afirma que:
“A educação ativa formal é dada pela escola. Porém, a educação global é
feita a oito mãos: pela escola, pelo pai e pela mãe e pelo próprio adolescente.
Se a escola exige o cumprimento de regras, mas o aluno indisciplinado tem a
condescendência dos pais, acaba funcionando como um casal que não chega
a um acordo quanto à educação da criança. O filho vai tirar lucro da
discordância pais/escola”.
2.2. Causas Da Indisciplina
Considerando o termo disciplina como comportamentos regidos por um conjunto de
normas, a indisciplina pode se traduzir de duas formas:
27
- a revolta contra normas;
- ou mesmo o desconhecimento delas.
No primeiro caso, a indisciplina traduz-se por uma forma de desobediência insolente;
já no segundo caso, pelo caos dos comportamentos, pela desorganização das relações
estabelecidas.
Numa síntese conceitual, a indisciplina escolar se apresenta como o descumprimento
das normas fixadas pela escola e demais legislações aplicadas (ex. ECA -Estatuto da Criança
e do Adolescente - Ato Infracional). Ela se traduz num desrespeito, “seja do colega, seja do
professor, seja ainda da própria instituição escolar”.
Conforme Tiba (1996, p. 137), “muitos motivos podem levar um aluno à não se
comportar de forma adequada em atividades que necessitem de uma integração funcional com
outras pessoas”. Como características pessoais:
•
Deficiência Mental;
•
Distúrbios de comportamento que incomodam pouco;
•
Distúrbios de Personalidade;
•
Distúrbios Neurológicos;
•
Distúrbios Neuróticos;
•
Distúrbios Psiquiátricos;
•
Etapas de desenvolvimento: Confusão Pubertária;
•
Questão familiar.
•
Síndrome da 5ª Série;
De acordo com Rego (2007), nota-se que:
“Muitos atribuem a culpa pelo “comportamento” do aluno à educação que
ele recebeu no seio de sua família devido à dissolução que vem ocorrendo no
núcleo familiar. Outros, porém, que a manifestação da indisciplina em maior
grau está relacionada aos traços de personalidade de cada indivíduo,
definidos desde o nascimento. Um outro fator que tende a justificar a
indisciplina na escola bastante presente no meio educacional é a tentativa de
associar o comportamento indisciplinado a alguns “traços inerentes” á
adolescência, como rebeldia, passividade, intransigência, incapacidade de
cooperação, agressividade, entre outros”.
28
Os distúrbios e disfunções citadas neste sub-capítulo estão diretamente relacionadas
aos motivos geradores da indisciplina na escola. Começarei então a explicar cada um dos
distúrbios e disfunções explicitando suas principais características:
•
Distúrbios Psiquiátricos, esse tipo de comportamento provêm de uma psicose e
independem do meio. A pessoa que tem essa psicose elabora qualquer estímulo recebido
conforme sua patologia e reage de maneira inadequada esse tipo de distúrbio decorre de
alterações incontroláveis;
•
Distúrbios Neurológicos decorrem de epilepsia ou de outras doenças, como a
disfunção cerebral mínima. Seus portadores geralmente são pessoas agitadas, apressadas,
briguentas, inquietas, etc.;
•
Deficiência Mental apresentam menor capacidade de entender as regras e de
suportar frustrações, além de controlar menos as reações primitivas da agressividade e da
impulsividade. Broncas e castigos ou expectativas excessivas só servem para deixá-los tensos;
•
Distúrbios de Personalidade a chamada personalidade psicopática é a mais
grave, seu portador não respeita as outras pessoas nem as regras sociais. Para esse tipo de
pessoa o que interessa é atender suas próprias necessidades. É como se não conseguisse
estabelecer inteiramente critérios de valores;
•
Distúrbios Neuróticos resulta de traumas pessoais seu comportamento é
bastante inadequado na qualidade e na quantidade. Suas atitudes dependem muito mais do
mundo interno pessoal que da adequação social e ambiental. O neurótico projeta seu
problemático mundo exterior sobre o outro, sem que este o saiba;
•
Etapas de desenvolvimento da adolescência, assim como na infância, na
adolescência também têm várias etapas, sobretudo, ocorridas devido às modificações
hormonais e psicossocias. As etapas são cinco: confusão purbetária, onipotência purbetária,
estirão, menarca/mutação e onipotência juvenil. Nas meninas essas fases têm início entre nove
e dez anos; a menarca ocorre aos onze ou doze anos e daí sucede a onipotência juvenil. Nos
meninos, a puberdade é a mais longa e começa mais tarde, entre dez e onze anos e chegam a
29
mutação aos quinze anos dezesseis e sua onipotência juvenil pode estender-se até os dezoito
ou vinte anos. Pais e professores têm que amadurecer também com o desenvolvimento dos
adolescentes. O mínimo exigido é a mudança de relacionamento com eles;
•
Síndrome da 5ª Série, os alunos chegam a essa etapa escolar quando estão
deixando de serem crianças e entrando na adolescência então começam a surgir questões que
exigem deles o pensamento abstrato, e uma maior organização diante da multiplicação de
matérias e professores cada um com seu método peculiar. A síndrome da quinta série faz com
que os alunos fiquem mais distraídos, haja pouca concentração e dificuldades para
compreender as matérias isso no caso dos meninos, pois as meninas enfrentam problemas
mais externos como mal-estar, crises de choro, tonturas, etc.;
•
Distúrbios de Comportamento, que incomodam pouco são características
nesses alunos a timidez a vergonha o falar pouco e o professor deve estar atento a esse aluno,
pois sofrem com a solidão;
•
Questão Familiar, a família é à base de qualquer pessoa e é a família o
principal grupo capaz de interferir no caminhar de seus membros, na escola não é diferente os
pais são os principais responsáveis pelo crescimento do aluno em sua vida estudantil, pois
eles tem o dever de acompanhar de perto a vida de seus filhos, pois são os pais os primeiros e
maiores interessados na busca de ajuda para os filhos.
30
CAPÍTULO III - DISCIPLINA ESCOLAR
De acordo com Perrenoud (2000, p. 86-87), “na escola, por muito tempo, as regras
foram impostas de cima, com sanções ao final. A disciplina está no princípio da escola como
das ordens monásticas e de outras instituições regidas por uma autoridade”.
Durante muito tempo alguns pedagogos visionários, precursores da escola nova,
ousaram imaginar que era possível negociar as regras de disciplina com os alunos. Essa utopia
espalhou-se para diversas correntes a escola ativa. Quando as regras são adotadas pelo grupo
elas se impõem a todos e cada um se torna o avaliador de suas atitudes. No momento em que
os alunos se aliam para evitar as regras que lhe são impostas de maneira unilateral, tornam-se
solidários para fazer respeitar as regras que eles contribuíram para definir.
Outrora a disciplina era um conjunto de meios, mais ou menos violentos, para se
conseguir a ordem na Escola. Limitava-se a dominar a turbulência natural do aluno, privandoo das suas iniciativas, da manifestação natural das suas tendências e contrariando a sua
necessidade de movimento.
Para ESTRELA (1992, p. 78), “atualmente, quando se fala em disciplina, pensa-se
num conjunto de regras com a finalidade de estabelecer a ordem, assim como as sanções
associadas à violação das mesmas. Esta violação conduz à desordem, que define o conceito de
indisciplina”.
Para Lombardo Radice apud Loureiro, (1998, p. 82) “a disciplina é um produto de dois
fatores: do aluno, juiz de si mesmo e do mestre; do mestre, juiz de si mesmo e do discípulo”.
A questão da disciplina / indisciplina na aula é um assunto muito controverso. O que
para alguns professores é indisciplina, para outros é apenas uma manifestação da vitalidade
própria da adolescência. Além disso, não é fácil ter a certeza de um ato perturbador ser ou não
intencional.
Para Antunes (1999, p. 34), “uma classe disciplinada é toda aquela que ofereça ao
professor oportunidades adequadas para o desenvolvimento de seu processo de ajuda na
31
construção do conhecimento e no desenvolvimento de habilidades e atitudes socialmente
aceitas por parte dos alunos”.
Segundo Perrenoud (2000, p. 92), “o professor aberto a negociações não abandona
nem seu status, nem suas responsabilidades de adulto e de mestre ao levar o grupo de alunos a
definir as regras coletivas de convivência e disciplina”.
A partir deste pressuposto Antunes (1999, p. 37), afirma que:
“O professor eficiente na administração da disciplina é todo aquele que sabe
dirigir uma classe de forma organizada e eficaz, alcançando seus objetivos
de intermediar o processo de construção do conhecimento e do
desenvolvimento de habilidades e atitudes positivas por parte dos alunos,
mas também ajudando os na socialização, preparando os para sua
qualificação”.
Para Tiba (1996, p. 179), “a disciplina não depende exclusivamente de um individuo,
pressupõe a existência do disciplinador e do disciplinado em função de um objetivo, num
determinado contexto”.
Qualquer atividade que envolva os seres humanos tem-se que contar com suas
personalidades e com o relacionamento estabelecido entre eles. O contexto da disciplina está
relacionado a diversos fatores tais como horários, locais e valores culturais vigentes, por isso
uma regra pode variar.
Tiba ainda corrobora (1996, p. 182), que “algumas características psicológicas dos
relacionamentos humanos são interativas, isto é, a ação por sua vez, passa a estimular novas
reações nos seres humanos”.
Já se sabe que para haver uma aprendizagem de qualidade é necessário ordem e
disciplina dentre outros fatores, porém neste mundo de hoje onde as facilidades tecnológicas e
as inovações são as atrações do mundo o que se torna necessário fazer para que os alunos
tenham vontade de aprender o que à escola tem pra ensinar?
De acordo com Tiba (1996, p. 122), “para aprender, é preciso receber a informação e
dividi-la em pedaços compreensíveis a ser incorporados ao corpo de conhecimento já existent
32
O corpo em ação é a sabedoria e o verdadeiro saber é aquele que se instaura no
cotidiano a qualquer momento, de maneira dinâmica, aumentando a eficiência de nossas
ações.
Segundo Antunes (1999, p. 38), “a auto-estima do aluno constitui elemento crucial em
seu desempenho e, portanto, em seu interesse e em sua postura disciplinar.”.
Um elemento importante a se considerar diz respeito as diferentes inteligências que ao
ser reconhecidas e quando o esforço do aluno é valorizado, quando ele é percebido, mas por
seus progressos do que por eventuais resultados, quando o professor centraliza seus objetivos
na valorização do erro, os alunos tem a oportunidade de experimentar, em níveis diferentes,
graus de êxito e auto-realização que os levarão a melhor se aceitarem e com isso se
interessarem mais pelas aulas e pelos desafios da construção da aprenizagem.
3.1. O Desafio Dos Professores E A Necessidade De Promover A Disciplina
“A disciplina escolar é um conjunto de regras que devem ser obedecidas para o êxito
do aprendizado escolar. Portanto, ela é uma qualidade de relacionamento humano entre o
corpo docente e os alunos em uma sala de aula e, consequentemente, na escola”. (TIBA,
1996, p. 124).
Como qualquer relacionamento humano, na disciplina é preciso levar em conta as
características de cada um dos envolvidos: professor, aluno e ambiente.
O professor é essencial para a socialização comunitária. E tem basicamente quatro
funções:
1. Professor propriamente dito;
2. Coordenador do grupo de alunos;
3. Membro do corpo docente;
4. Empregado de uma instituição.
O aluno é também peça chave para a disciplina escolar e o sucesso do aprendizado.
Atualmente, a maior dificuldade que encontra para estudar é a falta de motivação. Estudar pra
quê? Para passar de ano? Para ganhar presente? Para ter sabedoria? Para os pais não “pegarem
33
no pé”? Entretanto, quando estão interessados em alguma coisa (informática, músicas,
esporte, coleções, etc.), são os mais animados, empreendedores e... disciplinados.
O ambiente também interfere na disciplina. Classes barulhentas, onde ninguém ouve,
salas em que façam calor intenso, alagadas ou sem condições de acomodar todos os
estudantes são locais pouco prováveis para se conseguir uma boa disciplina.
O trabalho do Supervisor Escolar diz respeito ao cotidiano escolar que, por sua vez,
deve estar relacionado com o movimento da sociedade local e mundial. O Supervisor possui
um comprometimento com a formação da cidadania dos alunos. Ele precisa estar atento ao
trabalho coletivo da escola atuando harmoniosamente com os demais profissionais da
educação, realizando um trabalho interdisciplinar. Precisa desenvolver através de um trabalho
participativo e conjunto, onde todos estão comprometidos com o processo e os resultados.
Esta função deve ser exercida por um pedagogo devidamente habilitado em
Supervisão Escolar, com profundo conhecimento de suas atribuições na rotina diária de uma
escola; procurando cumprir, dentro das normas legais.
A vida escolar ganha sua alma e atratividade pela ação acolhedora, conciliadora e
estimulante do Supervisor Escolar, e por isso não se pode prescindir do seu parecer e da sua
colaboração na implementação de um projeto como o que aqui proponho: uma atividade
pedagógica com o objetivo de permitir aos alunos o autoconhecimento e o bom
relacionamento interpessoal, através da participação da família no contexto escolar, visando
simplesmente a que se tornem pessoas no inteiro sentido do conceito de pessoa humana.
Não se trata de criar uma disciplina, mas de reconhecer uma atribuição particular
desenvolvida pelo Supervisor Escolar, a realização de projetos educacionais que visem a
formação do comportamento do aluno. Para essa atribuição ele deveria ser constantemente
preparado a partir de uma disciplina especial, em seu próprio currículo de formação, que seria
a pedagogia comportamental.
Porém, as dificuldades dos estudantes são radicadas, na sua maior parte, em seu
ambiente doméstico, onde a criança e o jovem estão sujeitos a toda sorte de problemas que
podem proceder da condição de pobreza, da má alimentação, do despreparo dos pais, da
34
necessidade de trabalhar ainda com pouca idade, da exploração que sofrem, da influência de
companheiros de rua, etc.
Cabe ao Supervisor Escolar, juntamente com professores e demais membro do Núcleo
Gestor, como proposto acima, as atividades e o ensino consolidados sob o conceito de
formação do comportamento, que tem por objeto a preparação do aluno para seu
autoconhecimento e autocompreensão, e o desenvolvimento de sua capacidade para o
relacionamento interpessoal.
Porém não basta apenas cobrar e castigar o jovem, é muito importante dar atenção a
um aluno que está perdido, bagunçando, transgredindo normas, mesmo que seja lhe
outorgando alguma tarefa, ou seja, algum trabalho a concluir em prazo determinado, que lhe
exija responsabilidade na execução, pois assim estaria demonstrando que se percebe sua
existência, que se preocupa com ele e que este é importante no meio ao qual pertence.
Assim, se estaria ajudando na formação de sua identidade, e estimulando sua
capacidade de tornar-se um indivíduo realizado e confiante.
Colocar limites ao comportamento do educando continua a ser muito importe para o
desenvolvimento da personalidade e para a formação da cidadania. Porém não o limite no
sentido negativo, lembrando “repressão” proibição mas sim no sentido da criação de um
espaço protegido dentro do qual o jovem poderá exercer sua espontaneidade sem receios e
rico. Faz-se necessário na escola, o estabelecimento de regras as quais serão cobradas e
cumpridas por todos, evitando que o professor responda sozinho pelo comportamento do
aluno, e que ao mesmo tempo possibilite que o aluno sinta-se seguro e orientado nas atitudes
que deverá tomar tendo consciência do comportamento desejado e por seus educadores.
O papel da família na educação dos jovens é fundamental. A criança traz para a escola
valores que já estão estabelecidos por sua família e pela sociedade a qual pertence. Portanto,
se desrespeitar os professores, brigar na escola, agredir os colegas, desvalorizar o ensino e a
educação, não representa para a família um valor, o jovem não sentirá culpa por seu
comportamento indesejável, pois sente vergonha daquilo que para ela não representa um
valor. A relação do aluno com a escola é afetada pela significação que os pais dão a ela, aos
estudos de seu filho e a relações dele com os demais.
35
3.2. Tipos De Disciplina
“Disciplina é o conjunto de regras éticas para se atingir um objetivo. A ética é
entendida, aqui como critério qualitativo do comportamento humano envolvendo e
preservando o respeito ao bem biopsicosocial”. (TIBA, 1996, p. 175)
Podendo ser:
•
Disciplina Absorvida;
•
Disciplina Adquirida;
•
Disciplina Aprendida;
•
Disciplina Treinada.
Ainda de acordo com Tiba (1996, p. 176), “a disciplina pode ser analisada através de
quatro aspectos”. Sendo eles:
•
Disciplina Absorvida, em síntese essa disciplina é adquirida dentro da família,
porque os pais exercem uma função educativa, já que as crianças nascem sem nenhum
conhecimento. Existem, portanto duas formas de absorver a disciplina: a ativa e a passiva. No
aprendizado ativo, há alguém que explica e alguém que aprende. No aprendizado passivo, há
uma pessoa agindo sem o objetivo de ensinar e outra aprendendo mediante a observação. “O
exemplo é muito importante na educação. Quem sabe fazer aprendeu fazendo”. (TIBA, 1996,
p. 177);
•
Disciplina Adquirida o que melhor exemplifica este tipo de disciplina é o
autodidatismo. “Uma experiência própria anterior serve como exemplo para ser, ou não,
repetida visando a alcançar uma meta”. Para aprender com a própria experiência é necessário
atenção e disciplina para que seja possível memorizar e repetir o ato o quanto necessário for.
O autodidata precisa ter um conhecimento prévio, para só então continuar o seu próprio
caminho. Ele também tem a capacidade de aprender através das experiências de terceiros;
•
Disciplina Aprendida é aquela que nos é ensinada, porém não existe uma
matéria escolar específica que ensine disciplina o que se ensina é a maneira como os alunos
36
devem se comportar em sociedade, em reuniões sociais, em classe em competições, no
relacionamento com o outro, etc. “Isso faz parte da educação, a arte do viver bem”;
•
Disciplina Treinada este tipo de disciplina geralmente é usada na domesticação
de animais. Por isso é necessário que seres humanos usem os padrões humanos de
comportamento, utilizando a inteligência para superar as dificuldades e resolver os problemas
conhecer os ditames da ética, respeitar o próximo e o ambiente em que se encontra.
3.3. Atitudes Do Professor Para Promover A Disciplina
O professor tem um papel essencial como fonte emissora de conhecimento que os
alunos captam com a informação. Alguns estudantes adoram ou detestam certa matéria
justamente por causa do professor.
Os requisitos para um professor ser adorado é combinar sendo de humor e
movimentação cênica (falar não só com a boca, mas com o corpo inteiro), estabelecer o limite
entre o adequado ou inadequado, saber ouvir e exigir quando necessário. Como coordenador
de grupo, ele tem uma autoridade a ser exercida, que inclusive é esperada pelos alunos. Na
falta dela, se deixar tudo por conta dos estudantes, a classe debanda.
O professor precisa provocar captar à atenção dos alunos para o que ele estão falando.
O que a gente vê não esquece, ao contrário das coisas lindas. Se no olhar surgir um
sentimento, vive-se aquela situação. E uma vivência se apaga.
Para Tiba (1996, p.179):
“Os alunos aprendem muito mais com imagens do que com símbolos. Em
suma, o professor deve empregar o bom-humor e a movimentação cênica
para tornar a aula uma experiência de vida – não a simples transferida de
conteúdo de uma pessoa para outra. Desse modo, ele deixa de ser alguém
que fala apenas com letras para se tornar um professor que fala com vida”.
Afirma Aquino (1996, p. 88), que:
“Um professor não pode definir um único tipo de postura perante as
diferentes classes, idades e níveis sócio-econômico-culturais. Se assim o
fizer, não estará levando em consideração a presença do outro no
relacionamento. É como se não tivesse interlocutor. Ele não se relaciona com
37
o outro, mas consigo mesmo. Esse professor está fragilizado e tende a piorar
se assim permanecer, à medida que perde as oportunidades de se enriquecer
a cada novo relacionamento estabelecido”.
Quando um professor usa sempre as mesmas fichas há décadas, sem ter o cuidado de
atualizar-se, é sinal de que não está levando em consideração os alunos, que estão “plugados”
às novidades, que vivem num ritmo acelerado, nesses tempos de Internet movida à adrenalina.
“Sem renovação, o professor torna-se um prisioneiro do seu próprio comportamento e acaba
prejudicando muitos alunos, que perdem o poder de participação”. (TIBA, 1996, p. 179)
Segundo Perrenoud (2000, p. 59):
“Os professores trabalham em prol de:
•
Prevenir a violência na escola e na família;
•
Lutar contra os preconceitos e discriminações sexuais, étnicos e
sociais.
•
Participar da criação de regras de vida comum referentes à disciplina
na escola e à apreciação de conduta;
•
Analisar a relação pedagógica, a autoridade e a comunicação em aula;
•
“Desenvolver o senso de responsabilidade, a solidariedade e o
sentimento de justiça”.
E trabalham não só para o futuro, mas para o presente “Criam condições de um
trabalho escolar fecundo no conjunto das disciplinas e dos ciclos de estudos”. Porém isso
significa apenas de incutir um modelo para que os alunos “o levem pela via afora”, mas de
colocar em prática “aqui e agora” tornando o assim confiável e, simultaneamente, para que
dele sejam extraídos benefícios imediatos.
Não se deve ensinar sem se pensar no aluno; é necessário conhecer o seu mundo, as
suas diversas formas de comunicação, os seus interesses. A relação professor/aluno deve ser
baseada no diálogo. E isto não é possível em turmas com um elevado número de alunos
(Sampaio, 1996, p. 98). Tudo isto vai contribuindo para o mal-estar dos alunos e,
conseqüentemente, para a criação de condições favoráveis à indisciplina.
38
CAPÍTULO - O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR NA PROMOÇÃO DA
DISCIPLINA
Tratando especificamente do trabalho do supervisor escolar, constatamos que neste
início de século o foco do trabalho desse profissional da educação vem se modificando por
conta desse cenário.
Nesse sentido e ao contrário do que acontecia no passado, fica afastado qualquer
indício de que o trabalho do supervisor deva estar centrado no controle puro e simples do
trabalho do professor.
Medina (2004, p. 32) ressalta essa questão ao afirmar que:
[...] é o trabalho do professor [...] que dá sentido ao trabalho do supervisor
no interior da escola. O trabalho do professor abre o espaço e indica o objeto
da ação/reflexão, ou de reflexão/ação para o desenvolvimento da ação
supervisora.
Dessa forma, podemos constatar que a ação do supervisor escolar está longe de uma
função mecanizada e baseada em uma rotina burocrática, como acontecia há décadas atrás,
uma vez que, na atualidade, torna-se necessário e espera-se que o mesmo desenvolva ações
baseadas na reflexão sobre o processo pedagógico, onde o professor torna-se o principal
instrumento dessa reflexão, e não mais um agente a ser controlado no interior das escolas.
Falcão Filho (1986, p. 56), aduz que temos definidas três dimensões que caracterizam
a ação do supervisor escolar:
“È a política quando elege e privilegia, juntamente com professores,
objetivos e metas que fundamentam as ações de reflexão, orientação,
coordenação, acompanhamento e articulação da escola, com as famílias e
com a comunidade escolar, para mudanças no processo ensinoaprendizagem, na escola e na sociedade. È pedagógico quando contribui para
a melhoria do processo de ensino-aprendizagem por meio das ações de
planejamento, orientação e acompanhamento, execução e avaliação,
desenvolvidas compartilhadamente entre pedagogos e docentes. È
Administrativa quando contribui para a viabilização desse processo, por
meio de coordenação e articulação das ações, dos conteúdos e disciplinas
que visam à integração entre professores, alunos e família.”
39
O Supervisor Escolar precisa entender qual a sua real função e espaço desde
especialista, compreender seu espaço é o didático-pedagógico e a função deve ser o
articulador da escola, sendo coerente com sua ação, somando forças com os professores,
conquistado-os, motivando e promovendo a reflexão sobre suas práticas em sala de
conquistando-os, motivando e promovendo a reflexão sobre suas práticas em sala de aula
dentro de uma perspectiva de que os educadores são profissionais que agem e pensam sobre
as ações.
O Supervisor Escolar ainda estará constantemente observando o rendimento dos
alunos. É importante que os fatores, sócio-econômicos-culturais, ambiente escolar e familiar
próprios; professores bem preparados e motivados; métodos de ensino e material didático
(adequados) além de, por parte do aluno, assiduidade, adaptação à escola, disciplina, bons
hábitos de estudo, condições físicas e psicológicas favoráveis e um bom relacionamento com
professores e demais funcionários, bem como com os colegas, sejam levados em conta, pois
favorecem o bom rendimento escolar. Buscando constantemente a integração do aluno à
escola e à sociedade. Pode-se dizer que, em grande parte, experiências positivas ou negativas
vivenciadas na escola irá refletir-se pela vida toda do indivíduo. Gostos, traumas, aversões por
determinadas matérias, opções profissionais, amizades e até apelidos, em geral,
freqüentemente tiveram suas origens nos bancos escolares. Portanto, a adaptação do estudante
à escola torna-se muito importante e deve ser preocupação de todos, inclusive do Supervisor
Escolar; desde o início da vida escolar, para que a escola represente um ambiente acolhedor e
afetivo.
O Supervisor Escolar estará sempre atento aos aspectos morais, cívicos e religiosos da
educação do aluno. Todas as atividades programadas pela escola visam a formação integral do
educando, isto é, uma formação que considere, de forma completa e harmônica, os diferentes
aspectos do desenvolvimento do aluno, como o intelectual, o físico, o social, o emocional, o
moral, o espiritual, o cívico, o vocacional, enfim, todos aqueles que dizem respeito ao pleno
desenvolvimento do ser humano.
A função de Supervisor escolar deve ser exercida por um Pedagogo devidamente
habilitado em Supervisão Escolar, com profundo conhecimento de suas atribuições na rotina
diária de uma escola; procurando cumprir, dentro das normas legais, as determinações do
40
Núcleo Gestor. O Supervisor Escolar precisa possuir conhecimento e cumprimento das
seguintes normas:
•
A L.D.B. – (Lei de Bases e Diretrizes da Educação - Lei Federal nº 9.394/96
artigo 64);
•
O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei Federal nº 8069/90),
artigos 17,18,53,54,55,56,57,58,59.
•
O Regimento Escolar;
•
A Proposta Político Pedagógica ou Projeto Político Pedagógico - em que tiver
exercício;
•
O Regimento Interno da Escola;
•
A participação nos Conselhos de Classe;
•
Conhecer a Escola como um todo e manter bom relacionamento com a
comunidade Escolar;
•
Trabalhar integralmente com o serviço de Orientação Educacional da escola.
Então se percebe que uma das funções do pedágogo (supervisor escolar) é a de junto
aos professores desenvolver projetos que visem solucionar os problemas que estejam
prejudicando a aprendizagem, bem como pretender interagir alunos/professores/pais e demais
comunidade escolar.
Entende-se que o supervisor escolar por ser um profissional da educação que
estabelece um contato mais direto com os docentes e capaz de fomentar discussões sobre o
processo de ensino aprendizagem e as interferências que a indisciplina causa nesse processo.
Dessa forma cabe ao supervisor escolar analisar, em ação conjunta com os professores,
as relações contraditórias existentes entre o fazer pedagógico e a proposta pedagógica escolar,
qualificando as ações didático-pedagógicas do professor em sala de aula, transformando-se e
transformando sua ação. É sua função também realizar ações voltadas para prevenção da
indisciplina escolar e colocar em prática, com o auxílio do corpo docente medidas baseadas
em mecanismos de intervenção na questão indisciplinar.
Mas para tanto como afirma Freire (1998, p. 34), é necessário que haja busca de
alternativas e ações que visem a instaurar novas relações sociais e o rompimento com
políticas educacionais que desestimulam a justiça, produzindo e sustentando a exclusão e a
ética do mercado que estimula a competição e o sucesso individual de minorias.
41
Ao abordar a questão da (in) disciplina na escola pretendo mostrar como o supervisor
pode realizar trabalhos para melhorar a condição do trabalho do professor que enfrenta o
problema de indisciplina na sala de aula e aguçar no aluno a vontade de aprender e se
autodisciplinar.
Segundo Santomé (1998, p. 49), “uma das finalidades fundamentais que toda
intervenção curricular pretende desenvolver e fomentar é a de preparar os alunos para serem
pessoas mais ativas e críticas, que saibam defender e cumprir seus direitos sendo membros
solidários e democráticos de e para uma sociedade similar”.
O desenvolvimento de projetos nas escolas é de grande importância, pois eles
abrangem um trabalho coletivo, a aprendizagem a resolução de problemas dentre outros.
Fox apud Abramovay (2004, p. 92), diz que “a qualidade de vida e a oportunidade dos
docentes e dos alunos é determinada pelo clima, um fator crítico para a saúde e para a eficácia
de uma escola”.
A construção de um bom clima escolar, por certo, está igualmente pautada no investimento em propostas compartilham o espaço da escola. (ABROMOVAY, 2004, p. 92).
Para Perrenoud (2000, p. 83), os projetos são tão diversos quanto às situações e as
ações possíveis no ofício. Sendo assim:
“Os projetos são caracterizados de dois tipos: 1. Os projetos que se
organizam em torno de uma atividade pedagógica precisa, como por
exemplo, a montagem de um espetáculo em conjunto, a organização de uma
jornada esportiva, a criação de oficinas abertas, a criação de um jornal; a
cooperação é, então, o meio para realizar um empreendimento que ninguém
tem a força ou a vontade de fazer sozinho; ela se encerra no momento em
que o projeto e concluído; 2. Os projetos cujo desafio é a própria cooperação
e que não tem prazos precisos, já que visam a instaurar uma forma de
atividade profissional interativa que se assemelha mais a um modo de vida e
de trabalho do que a um desvio para alcançar um objetivo preciso”.
Em ambos os casos, é preciso que se saiba elaborar um projeto. Na visão de
Abramovay (2004, p. 84), “os projetos ligados à área educacional surgem da necessidade de
se criarem mecanismos de superação dos problemas de aprendizagem dos alunos, detectados
42
pela escola”.
Para cada projeto, existem objetivos distintos. Para driblar a (in) disciplina na sala de
aula os projetos mais produtivos são aqueles relacionados a área de esportes com atividades
bem diversas.
Ainda segundo Abramovay (2004, p. 88):
“Nas escolas inovadoras o esporte é visto como um meio para desenvolver o
educando noções como solidariedade, disciplina, equilíbrio, concentração,
etc. As escolas acreditam que por meio dos esportes é possível resgatar e
favorecer a auto-estima dos alunos, ocupar positivamente seu tempo vago,
além de desenvolver habilidades, que poderão futuramente se transformar
em um profissão. È também pelos esportes que as escolas constroem uma
prática de cultura de paz, pois ao praticar uma atividade física o jovem
percebe a importância de se levar uma vida saudável em todos os sentidos,
evitando brigas, uso ou envolvimento com as drogas e atitudes
individualistas”.
Pois, deve se levar em conta que o espaço de “aprendizagem”, mas de lazer, cultura e
esporte, aparecendo como um espaço compartilhado e aberto.
A função educativa da escola na sociedade pós-industrial contemporânea deve centrarse em dois pontos descritos por SACRISTÁN & GÓMEZ (2000),
Organizar o desenvolvimento radical da função compensatória das
desigualdades de origem, mediante a atenção e o respeito pela diversidade.
Provocar e facilitar a reconstrução dos conhecimentos, das disposições e das
pautas de conduta que a criança assimila em sua vida paralela e anterior à
escola.
Como diria Wood (1984, p. 239), preparar os alunos para pensar criticamente e agir
democraticamente numa sociedade não-democrática.
A escola não pode anular discriminações, mas pode amenizar os seus efeitos e acabar
com a idéia de que as desigualdades sociais fazem parte do cenário e de que nada se pode
fazer. A sua contribuição é adotar um modelo flexível e plural que atenda as diferenças, ou
seja, adotar um currículo escolar com igualdade de oportunidades, onde a organização da
aula, escola e do profissional docente garantam o tratamento das diferenças com cada aluno e
sua realidade, e não a nível homogêneo.
43
Para Santomé (1998, p. 203), um projeto é “uma proposta entusiasta de ação a ser
desenvolvida em um ambiente social” e deve servir para melhorar a qualidade de vida das
pessoas. Na medida em que os alunos se sentirem comprometidos com sua aprendizagem
prestarão mais atenção, esforçar-se-ão mais com aquilo que têm de fazer e assim
desenvolverão destrezas e adquirirão conhecimentos que lhes permitirão viver melhor.
Entendemos que por ser o profissional de educação que estabelece um contato mais
direto com o trabalho docente, cabe ao supervisor escolar fomentar discussões sobre o
processo ensino-aprendizagem e a indisciplina escolar.
Dessa forma, cabe ao supervisor escolar analisar, em ação conjunta com os
professores, as contradições existentes entre o fazer pedagógico e a proposta pedagógica da
escola. Também é necessário que o mesmo demonstre, fundamentado cientificamente, que
quando se trata de indisciplina na escola as ações voltadas para a prevenção desta são mais
eficazes do que medidas baseadas em mecanismos de intervenção, ou seja, é fundamental que
se avance para uma mentalidade preventiva quando o assunto é indisciplina escolar,
encarando esse fenômeno como previsível e deixando de vê-lo apenas no nível de
intervenção.
O fazer do supervisor no processo educativo deve aglutinar e coordenar as ações
pedagógicas, possibilitando o melhor desempenho do professor que atua em sala de aula.
Desta forma, destaca-se o lugar de fundamental importância que deve ser ocupado pelo
supervisor no interior da escola tendo como desafio principal resgatar a função social da
escola, exercendo uma função pedagógica que conduza a um processo de ensinar e aprender
de qualidade e ao desenvolvimento crítico do aluno, para que ele perceba, entenda e
modifique, quando necessário, a realidade em que vive. Só está visão de aprendizagem poderá
contribui para que ele se torne um agente de transformação.
Abreu (2000, p. 19) corrobora a partir de uma pesquisa em loco realizada em uma
escola de rede Municipal:
“Um grupo de supervisores constata que o trabalho pedagógico de uma escola não
avança quando não é produto de reflexão, e que p superviso, muitas vezes, está
voltado para o ativismo de sua prática nas escolas, o qual impede o diálogo e a ação.
Reflete sobre a prática cotidiana dos professores em sala de aula e percebe-se
vinculada a uma concepção tradicional de educação, em que aparece a utilização de
uma metodologia que não favorece um envolvimento maior entre conhecimento –
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escola – aluno – comunidade. A falta de um entendimento teórico referente a
educação geral e às questões específicas da Supervisão podem ser indicadores de
que a reflexão de sua prática faz-se através de questões administrativas, em
detrimento das pedagógicas. Esta ausência de compreensão e conhecimento teórico
parece ser uma das justificativas dos supervisores para a redução das potencialidades
de suas ações e atribuições. Conforme Gadotti (1988), a função do supervisor está
desprovida de uma teoria de uma visão da realidade educacional.”
Uma das propostas para a amenização dos problemas encontrados no processo de
educação escolar é a qualificação docente. De acordo com Esteban e Zaccur (2002), apesar de
haver um avanço das pesquisas na área da educação, pouca coisa tem melhorado no interior
das escolas. Com isso, os Supervisores e professores passam a ser percebidos como alienados
e a eficácia do seu trabalho é questionada. Muitas vezes, como apontam as autoras, assimilam
bem o discurso pedagógico, mas não transferem esse discurso para a prática, voltando às
práticas consolidadas.
(...) As professoras apontadas foram historicamente construídas ao longo de um
processo de escolarização fundado antes na paráfrase, na imposição de modelos, na mera
transmissão do conhecimento já produzido. (ESTEBAN e ZACCUR, 2002, p. 13)
E nessa transmissão, esse conhecimento acaba se distorcendo. Enquanto isso, a
educação segue amarrada a uma série de princípios capitalistas; a escola se viu invadida por
planejadores e técnicos e a professora acabou desprofissionalizada.
É fundamental que o supervisor encontre uma maneira de desviar-se da burocracia e
encontrar caminhos para resolução dos problemas da escola. A burocracia da liderança da
escola, o qual promoveria a participação, elimitando à dicotomia imposta pela divisão do
trabalho entre os que planejam e os que executam.
A partir do pressuposto que a atividade do supervisor está relacionada à transformação
do professor e, se o mesmo não acreditar nessa possibilidade, seu trabalho carecerá de sentido,
Abreu deduz que (2000, p.24):
“A verdadeira relação educativa não se faz sem vinculo de mutua confiança: o
supervisor confiando nas potencialidades do professor, o professor confiando no
trabalho do supervisor, o aluno confiando na competência do professor e o professor
confiando na capacidade de aprender do aluno {...} O processo vivenciado pela
reflexão-ação-reflexão das categorias reflexão, espaço e função relacionamento,
integração, participação burocracia e planejamento revelam um supervisor que passa
a ser um articulador de oportunidades para possibilitar o desenvolvimento de
45
lideranças nas diferentes nas diferentes atividades da vida escolar, o que implica
processo de desacomodação, levando o grupo a crescer e a desenvolver seu
potencial”.
Enfim, quando as ações disciplinares estiverem alinhadas ao projeto pedagógico da
escola como resultado de uma construção coletiva baseada na reflexão por parte da
comunidade escolar, entre os quais encontram-se professores e supervisores, certamente a
prioridade recairá sobre a prevenção da indisciplina escolar, reduzindo, com isso, situações de
estresse e exaustão por parte dos professores e demais membros que compõem a equipe
pedagógica da escola. Em situações contrárias a essa, ou seja, aquelas nas quais se prioriza a
prática de mecanismos intervencionistas, certamente os problemas relacionados à indisciplina
escolar tenderão a se repetir, a se aprofundar, tornando-se, conseqüentemente crônicos.
46
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar a dimensão e sentidos da (in) disciplina escolar por meio desta pesquisa o
que se nota e que seria tão absurdo quanto injusto esperar dos professores e pedágogos
virtudes educativas infinitamente maiores do que as da sociedade que lhes confere a
incumbência de ensinar.
No desenvolver deste trabalho percebi que o problema da (in) disciplina não deve ser
encarado como alheio à família, nem à escola, já que em nossas sociedades, essas instituições
são as principais agências educativas.
È impossível negar, então, a importância e o impacto que a educação familiar tem
sobre o individuo do ponto de vista cognitivo, afetivo e moral. Entretanto, o poder educativo
da família não é absoluto e irrestrito.
Os limites disciplinares são adquiridos no contato com o adulto, mãe, pai, escola e
sociedade. Os pais estão perplexos com a educação dos filhos, isto porque a violência está
presente no dia a dia. Ela faz parte da nossa rotina nos tornando, inseguros e impotentes
diante de tanta distorção de valores.
Mesmo as crianças e adolescentes provenientes de “lares comprometidos” terão
condições de superar os obstáculos e adversidades se obtiverem a oportunidade de vivenciar
em outros contextos educativos, uma educação diferenciada.
A instituição escolar não deve ficar alheia a sua tarefa educativa no que se refere à (in)
disciplina, bem como os alunos mais do que obedecer devem respeitar e compreender as
regras estabelecidas, se forem estas regras criadas e fundamentadas nos direitos e deveres do
cidadão. Muitos dos conflitos que hoje se manifestam nas nossas escolas podem ter origem no
modelo de pedagogia coletiva, que ainda persiste, baseado no princípio de "ensinar a muitos
como se fossem um só". O professor tem dificuldade em gerir a heterogeneidade dos alunos,
respeitando as suas diferenças e praticando um ensino individualizado.
Mediante aos fatos cabe ao Supervisor Escolar, estar sempre atento às mudanças,
inovações, pois precisa constantemente ver e rever seus conceitos, tendo uma forte
47
consciência em relação aos aspectos sociais, emocionais, tanto do educando como num todo a
sua volta. Sua principal função é formar pessoas/ indivíduos competentes, criativos e críticos
de uma maneira que englobe adquirir conhecimento e conquistar a harmonia.
Dessa forma, o supervisor escolar deverá analisar, em ação conjunta com os
professores, as contradições existentes entre o fazer pedagógico e a proposta pedagógica da
escola. Também é necessário que o mesmo demonstre, fundamentado cientificamente, que
quando se trata de indisciplina na escola as ações voltadas para a prevenção desta são mais
eficazes do que medidas baseadas em mecanismos de intervenção, ou seja, é fundamental que
se avance para uma mentalidade preventiva quando o assunto é indisciplina escolar,
encarando esse fenômeno como previsível e deixando de vê-lo apenas no nível de
intervenção.
Urge "reinventar" a Escola, modernizar as suas estruturas e formas de funcionamento.
Mas o lugar central cabe à formação de professores. Formação que sugira práticas alternativas
e que ajude os professores a lidar com a heterogeneidade. Formação que proporcione
alteração dos modos de organização pedagógica que, ainda que não seja suficiente para
resolver todos os conflitos, possa contribuir “para tornar a Escola um lugar de vida e de
aprendizagem mais interessante e produtiva e fazer redescobrir o prazer de se gostar dela”
(Barroso, 1995, pg. 96). “Formação que os prepare para uma Escola com as difíceis e
desafiantes exigências culturais, sociais e educativas dos tempos que correm” (Gonçalves,
1995).
Porém, esperar que as escolas recebam alunos disciplinados em sua totalidade, mais
parece uma utopia, na escola professores e pedágogos lidam com a heterogeneidade, com a
diversidade, por esse motivo o desafio dos professores e para ensinar, mas sim disciplina, pois
não é possível que alunos aprendam e desenvolvam as habilidades necessárias a cada
conteúdo disciplinar se houver na sala professores indisciplinados tais como: brigas, barulho,
desrespeito aos professores dentre outros
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