É tempo de agir Por Henrique Rodrigues de Melo Com a ascensão do capitalismo, o ato de consumir, que sempre permeou a nossa sociedade, adquiriu, rapidamente, um caráter compulsório. Cada vez mais distante da lógica de sobrevivência do indivíduo, ele se tornou a base de luxuosos padrões de vida, cuja máxima de “consumir por consumir” o aproximou, em muito, do ato de destruir. Contudo, após séculos de exploração e desperdício, a humanidade constata hoje as consequências desse consumo desregrado e vê a necessidade de se pensá-lo sob uma outra perspectiva: a da sustentabilidade, que impõe ao homem o desafio de consumir sem destruir. A primeira grande dificuldade desse desafio para o ser humano é a superação da própria reificação. Se a sociedade corrompe o homem, o consumismo desregrado o destrói, fazendo-o esquecer que as suas relações com a sociedade e principalmente com a natureza não devem se dar numa dinâmica de lucros e prejuízos. Desse modo, é necessário que ele tenha a ciência de que consumir é apenas uma de suas atividades, não a sua essência; e, para viver bem, ele não precisa submeter a natureza e outras pessoas ao seu consumo e tampouco manter luxuosos padrões de vida, cuja indiferença às limitações dos recursos disponíveis chega a ser assustadora. A outra dificuldade é o valor das mudanças exigidas para esse novo tipo de consumo. Ainda que o mundo capitalista tenha finalmente compreendido que consumir não é obrigatoriamente sinônimo de destruir e que o consumo sustentável é o futuro da humanidade, a implementação dessa sustentabilidade envolve gastos que, do seu ponto de vista, podem ser evitados. É assim com a matriz energética, com as matérias-primas, com as técnicas de construção – para todas essas áreas existem diversas alternativas que preservam a natureza ou causam menores impactos. No entanto, pelo fato de representarem um custo maior em relação ao que se é aplicado tradicionalmente e/ou a substituição do que já existe, não são aplicadas. Enfim, embora se tenha adquirido uma consciência maior acerca da necessidade de se estabelecer um consumo sustentável, sua aplicação ainda é um desafio. Ele envolve, em primeiro lugar, um esforço individual, para a correção da ideia de que, para consumir, o homem pode destruir a natureza e ignorar as conseqüências futuras; e, em segundo, um esforço coletivo, para a superação das barreiras existentes às inovações. É preciso ir contra a inércia do consumismo destrutivo e provar que essa característica é passível de mudanças, seja com alertas para os problemas ambientais, seja com investimentos nas alternativas sustentáveis. É tempo de agir.