TEXTO DE APOIO II – PERCURSO TERRA Consumir significa usar recursos naturais Parece desnecessário dizer, mas você já se deu conta de que tudo que consumimos é retirado de alguma forma do planeta e tem origem basicamente na mineração, no extrativismo, na agricultura e na pecuária? As matérias-primas passam por uma série de transformações em processos de produção, em cadeias produtivas mais simples ou mais complexas, tornam-se produtos e são transportados para nosso consumo. Nada surge na prateleira do supermercado, na barraca da feira ou na vitrine da loja – de um simples pé de alface ao mais novo lançamento de carro. Todo produto tem uma história e, nesse caminho até a sua casa, ainda consome água e energia e emite gases de efeito estufa. E, no final, voltam para o planeta na forma de resíduos que descartamos. No dia 31 de outubro de 2011, comemoramos o nascimento do sétimo bilionésimo morador deste planeta. Já somos mais de 7 bilhões de pessoas na Terra e, até 2050, seremos 9 bilhões, segundo projeções da ONU (Organização das Nações Unidas). Pois é, 9 bilhões de pessoas para alimentar, vestir, transportar, dar educação e saúde, abastecer de água e energia e ainda tratar dos resíduos gerados – esgoto e lixo. Será que o planeta dá conta? O aumento da população, em si, não é um problema. Se a população vai estabilizar, ou seja, em 2050 a taxa de nascimentos deve ser igual à de mortes, é possível garantir vida de qualidade aos 9 bilhões de habitantes que vão coexistir na Terra. Mas, para isso, há um grande desafio: o de romper com os padrões da sociedade de consumo criada no século 20. Porque o consumo cresce mais rápido que a população. Nos últimos 50 anos, a população do planeta mais que dobrou (de 3 bilhões de pessoas em 1960 para quase 7 bilhões em 2010), enquanto o consumo cresceu seis vezes (de US$ 5 trilhões em 1960 para quase US$ 30,5 trilhões em 2006, em dólares comparáveis). Isso quer dizer que cada habitante aumentou seu consumo em média três vezes durante esse período. No ritmo atual de exploração dos recursos naturais, já consumimos 50% a mais do que a Terra é capaz de renovar e absorver. Isso quer dizer que já entramos no “cheque especial” do planeta. Além de excessivo, esse consumo é concentrado. Porque 78% desses recursos retirados e transformados em bens e serviços são consumidos por apenas 16% da população mundial – basicamente os cidadãos das nações desenvolvidas. Faça as contas rapidinho e veja o que sobra de recursos e para quanta gente: apenas 22% dos recursos, que acabam disputados por 84% da população mundial. Com isso, ainda hoje quase 1 bilhão de pessoas passam fome pelo mundo. São cinco “Brasis” de famintos. Outro 1 bilhão de pessoas não têm acesso regular a redes de água adequada. Possivelmente, a maioria desses habitantes pertença aos dois conjuntos – dos famintos e dos sem água. O uso excessivo e o acesso desigual aos recursos da Terra não são, portanto, riscos futuros. São ameaças atuais para a humanidade. A situação social e ambiental cria vulnerabilidades para todos. E agora. Se aquele elevado padrão de consumo da maioria das nações desenvolvidas for adotado pelo restante da população mundial, precisaremos de mais de cinco planetas para suprir todas as vontades. Sem contar a emissão de gases de efeito estufa e o aumento do aquecimento global. Imagine, por exemplo, os níveis de retirada de recursos naturais e de emissão de CO2 se toda a humanidade fizer viagens aéreas regulares ou se todos os chineses quiserem os carrões que os americanos gostam. Mobilidade e transporte, logicamente, são direitos de todos. Precisamos é mudar o padrão desse transporte para que a retirada de recursos naturais não ultrapasse os limites planetários. E isso vale para o padrão de produção e de consumo no geral. Consumir conscientemente é consumir buscando reduzir os impactos negativos e aumentar os positivos do consumo sobre o meio ambiente e sobre a sociedade. É portanto buscar fazer escolhas, na compra, uso ou descarte de produtos ou serviços que levem a um impacto significativamente melhor do que o que ocorre nos dias de hoje. Nesse processo, não se busca consumir menos, mas sim consumir diferente: tendo no consumo um instrumento de bem-estar e não um fim em si mesmo; buscando consumir solidariamente, com impactos positivos para o bem-estar da sociedade e do meio ambiente; buscando consumir sustentavelmente, deixando o mundo melhor para homens e mulheres de hoje e das próximas gerações. Nós emprestamos o planeta dos nossos filhos e netos. E precisamos honrar o empréstimo e devolver o planeta melhor do que a presente geração o recebeu.