Prefácio para o livro de Luís Alexandre Carta Winter O MODELO PRESIDENCIALISTA NO ÂMBITO DO MERCOSUL: FATOR OU NÃO DE INTEGRAÇÃO As razões que fundamentam os reiterados fracassos dos processos de integração econômica dependência na econômica; América a Latina indicam marginalidade múltiplas política; a causas: falta a de complementaridade produtiva; a predominância dos fluxos Norte/Sul em detrimento do intercâmbio regional; a percepção dogmática do princípio da soberania; a resistência das burocracias de Estado; a traição constante da ação pelo verbo; a sistemática oposição dos Estados Unidos e o divórcio entre representantes e representados, sustentam o desespero de Simon Bolívar quando ele indicava que trabalhar para a união da América Latina era “como arar no mar”. A dissertação de Mestrado do Professor Luís Alexandre Carta Winter – a primeira a ser defendida na turma especial que o Mestrado de Integração Latino-americana da Universidade Federal de Santa Maria oferece na Faculdade Internacional de Curitiba – indica outro elemento explicativo que vem agregar-se aos anteriores: o modelo de organização política predominante na região impede a consecução dos projetos integracionistas. Para o autor, há um nítido descompasso entre integração e presidencialismo. Tanto o formato de mercado comum quanto o de união aduaneira imperfeita perseguidos pelo Mercosul “são incompatíveis com a instituição do presidencialismo”. No máximo, admite o autor, poderíamos assistir ao surgimento de zonas de livre comércio na região. A experiência com êxito da União Européia tende à lhe dar razão pois a totalidade dos países envolvidos são nitidamente parlamentaristas ou, no caso da França, semi-presidencialistas. O exemplo italiano é significativo. Talvez assistamos mudanças promovidas pelo atual governo proto-fascista de Silvio Berlusconi. Todavia até o momento a crônica instabilidade política peninsular não colocou em questão a plena participação do país no processo de integração europeu. 1 Após identificar os parâmetros do presidencialismo e fazer um sobrevôo com o intuito de verificar como este aplicou-se ao longo da História nos países membros do Mercosul, o autor indica, com maestria, os limites que tal regime impõe nas difíceis negociações que abrem-se com a assinatura do Tratado de Assunção em março de 1991. A dissertação do Professor Winter coloca, entre outras, uma questão central e que pode conduzir à desesperança: o presidencialismo sendo um pecado original e um mal congênito, não haveria qualquer possibilidade de conduzir o Mercosul à uma maior aprofundamento do processo de integração sem que houvesse previamente uma mudança de seus respectivos sistemas de governo. Sem esta, os países seriam condenados à manutenção de regras coletivas frouxas, marcadas pelo caráter intergovernamental, e jamais alcançariam o estágio superior da supranacionalidade e de instituições comuns. Ao indicar de forma competente os vínculos e contradições entre integração e sistemas políticos dos países envolvidos o autor não pretende, como ocorre infelizmente em muitas publicações sobre o Mercosul, fazer eco à análises superficiais e à posições oficiais de governo. Ele está consciente, e os leitores agradecidos, que o papel da pesquisa acadêmica transcende o conjuntural e não deve colocar-se à serviço de quem quer que seja, a não ser da ciência e de sua consciência. Assim, forja-se os verdadeiros internacionalistas que tem como perspectiva o Homem, todos os homens. A crise profunda – alguns dirão mesmo, terminal – que acomete atualmente o Mercosul pode explicar-se por vários motivos. Todavia, o maior mérito da presente contribuição, é chamar a atenção para as origens profundas e escassamente enunciadas. Trata-se, portanto, de obra de leitura obrigatória para todos aqueles interessados em compreender os dilemas em que debate-se a jovem integração platina. Santa Maria, abril de 2002. Prof. Dr. Ricardo Seitenfus Mestrado em Integração Latino-americana Universidade Federal de Santa Maria 2