O Mercosul é Maior que a Soma de suas Partes
Carol Proner*
Durante esta semana, Mercosul e União Européia, por intermédio de seus representantes mantém
conversações para buscar avanços rumo a um acordo de livre comércio satisfatório para ambas as partes.
Quando há um mês as negociações foram paralisadas com certa animosidade e boa dose de frustração,
dificilmente se poderia imaginar que o comissário europeu de comércio, Pascal Lamy, que criticara
duramente as propostas brasileiras, pediria que fossem reabertas as negociações.
Independentemente do resultado a ser obtido nas próximas semanas, e mesmo diante da finalização
ou não do acordo, tendo como prazo final o dia 30 de outubro de 2004, estes últimos acontecimentos
contribuem para reforçar a autonomia do Mercosul como bloco soberano e altivo em defesa dos seus
interesses.
Valorizar o papel do Mercosul como integração periférica capaz de defender seus interesses com
independência, talvez seja o melhor dos resultados a serem obtidos, ainda que para isso o livre comércio tenha
que esperar outra oportunidade, mais favorável e menos subordinada aos interesses do bloco europeu.
Dizem os analistas críticos que um acordo subordinado seria aquele que reduzisse as exportações do
bloco ao setor primário, inibindo o desenvolvimento industrial e tecnológico que deve prevalecer em qualquer
economia desenvolvida.
A história registra momentos de inquestionável autonomia das nações periféricas em busca de maior
igualdade e nas quais o Brasil desempenhou importante papel. O país vive um excelente momento nas
relações internacionais, mantendo conversações com África, Ásia, Oriente Médio, Japão e destacando-se
como liderança política e econômica na América Latina.
Esta janela histórica deve ser bem compreendida para possibilitar avanços em busca de maior
equidade nas relações de comércio mundial. Os países do Mercosul, em especial Argentina e Brasil, devem
tomar decisões cautelosas para não ameaçar uma integração valiosa e indispensável, e que representa o
interesse de 200 milhões de habitantes. O Mercosul é indiscutivelmente maior do que a soma de suas partes.
* Professora de Relações Internacionais e Direitos Humanos da UniBrasil.
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