Grande Porto A1 ID: 27092990 09-10-2009 Tiragem: 30000 Pág: 50 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 19,49 x 31,73 cm² Âmbito: Regional Corte: 1 de 3 DR A Em “...(An Underwater Operella)”, Juliana Snapper propõe-se cantar directamente para a água Ópera, esqueleto e gira-discos Trama ∑ Festival de Artes Performativas espalha no Porto um enxame de propostas radicais NUNO CORVACHO [email protected] O Trama – Festival de Artes Performativas toma este fim-de-semana de assalto a cidade do Porto, com um programa diversificado de eventos a ocupar desde alguns sítios mais convencionais (como o auditório de Serralves, o Teatro do Campo Alegre ou a Culturgest) até outros bem inusitados (como as piscinas do Fluvial ou o bar panorâmico do Hotel D. Henrique). É uma girândola de propostas, muitas delas em estreia, nas áreas da música, teatro, dança, performance e cinema, com uma forte propensão experimental e até vanguardista. Aos comandos da iniciativa, cuja quarta edição começou ontem, estão a Fundação de Serralves, a Brrr_Live Art e a Matéria Prima, com a colaboração de vários parceiros na cidade. VOZES DEBAIXO DE ÁGUA Um dos eventos mais espectaculares será decerto a ópera subaquática marcada para amanhã à noite, nas piscinas do Clube Fluvial Portuense. A responsável por este projecto pouco usual é a americana Juliana Snapper, que lhe deu o título “you who will emerge from the flood… (An Underwater Operella)”. Refira-se que Snapper já tem uma vasta experiência na tentativa de esticar os limites da linguagem operática e em saber até onde pode ir a voz humana, caracterizando o seu processo como “ópera radical”. “Procuro encontrar formas de fazer o meu instrumento funcionar de maneira diferente, formas de mudar a relação entre mim e o meu instrumento, e de fazer sons diferentes com ele”, explica a artista. As situações em que ela própria se coloca são, por vezes, extremas e no limiar do sofrimento físico, como foi o caso da peça “Judas Cradle” que realizou com Ron Athley, em que Snapper cantava pendurada de cabeça para baixo até a sua voz entrar em colapso. Desta vez, a “performer” propõe-se cantar directamente para a água, numa voz amplificada por microfones, enquanto aci- [Haverá] música, teatro, dança, performance e cinema, com uma forte propensão experimental e até vanguardista ma da superfície aquática vibram sons pré-gravados de bolsas de bolhas de ar oceânicas e cantos de pássaros. A esta inaudita paisagem sonora somam-se os contributos dos membros do Ensemble Vocal Pro Musica, que entrelaçam os seus registos em intervenções já escritas e outras improvisadas. Esta “Underwater Operella” é adaptável a uma multiplicidade de espaços aquáticos, seja uma banheira, um tanque, uma piscina (como será possível assis- tir no Porto) ou uma gruta de mar. QUE FAÇO EU AQUI? Da multidão de propostas do Trama, merece também destaque a peça “Spectacular”, da companhia inglesa Forced Entertainment, que será exibida hoje (21h30) e amanhã (19h00) no Auditório de Serralves. Explorando o humor absurdo e a desconstrução do ritual performativo, o espectáculo começa com a entrada em cena de um homem vestido de esqueleto, que desde logo se interroga sobre o seu papel ali dentro. Aparentemente, está tudo errado: a sua entrada foi a destempo, faltam partes do cenário, as luzes não estão bem, há actores que estão ausentes… Mas o protagonista não perde a calma. Numa linguagem descontraída, começa a guiar o público até ao íntimo de uma performance inexistente, na qual se brinca com a função do actor, a morte verdadeira e a morte fingida e a diferença entre aquilo que é dito e aquilo que se vê. A companhia Forced Enter- tainment está sediada desde há 25 anos na cidade de Sheffield e tem mantido um percurso de busca de novas linguagens teatrais. O jornal Guardian consideroua como “a mais brilhante companhia de teatro experimental britânica”. TUDO ENTRE O PRATO E A AGULHA Finalmente, com algum grau de subversão se afigura a performance do Institut für Feinmotorik, da Alemanha, marcada para logo, à meia-noite, no antigo edifício da RDP, na Rua Cândido dos Reis. Usando o chamado “octogrammoticum” (um dispositivo constituído por oito giradiscos e diversos misturadores), este colectivo de artistas põe praticamente tudo entre o gira-discos e a agulha. Tudo, excepto discos. O resultado não andará longe de algumas experiências de John Cage e o que se anuncia é um rol de “paisagens sonoras mecânicas e rítmicas, cruas e minimais”. Uma aventura para os ouvidos. Grande Porto ID: 27092990 09-10-2009 Tiragem: 30000 Pág: 49 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 23,69 x 26,58 cm² Âmbito: Regional Corte: 2 de 3 DR Arte experimental invade o Porto Uma ópera debaixo de água, um homemesqueleto perplexo em palco, gira-discos que giram tudo menos discos - são algumas propostas insólitas do Festival Trama, que toma o Porto de assalto até domingo. P 50 Grande Porto ID: 27092990 09-10-2009 Tiragem: 30000 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 14,80 x 14,52 cm² Âmbito: Regional Corte: 3 de 3 SERRALVES LEVA ÓPERA À PISCINA DO FLUVIAL O Festival Trama inclui uma ópera de Juliana Snapper, que será interpretada debaixo de água. Para acompanhar amanhã à noite. P.50