AVALIAÇÃO DAS OCORRÊNCIAS DE APREENSÃO DE ANIMAIS SILVESTRES NO ENTORNO NO PARQUE NACIONAL DO CAPARAÓ, MINAS GERAIS, BRASIL Andreza Magro Moraes¹ Andréia Magro Moraes2 ; Aureo Banhos³ ¹Universidade Federal do Espı́rito Santo, Centro de Ciências Agrárias, Alegre, ES. [email protected]; 2 Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Departamento de Biociências e Biotecnologia, Campos dos Goytacazes, RJ; ³Universidade Federal do Espı́rito Santo, Centro de Ciências Agrárias, Alegre, ES. INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS O Parque Nacional do Caparaó (PNC) encontra - se numa região montanhosa que compreende parte da Serra da Mantiqueira, no maciço do Caparaó, com uma área total de 31.853,12 hectares, onde se encontra o Pico da Bandeira (ICMBIO - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2011). O PNC está dividido entre os Estados de Minas Gerais e Espı́rito Santo, com 20,6% e 79,4% da área do parque, respectivamente (ICMBIO, 2011). Entre as principais ameaças á biodiversidade do PNC estão a caça predatória (Moraes et al., 008) e o tráfico de animais silvestres (Projeto Doces Matas, 2001). Os municı́pios do entorno do PNC, em Minas Gerais, por exemplo, têm apresentado um grande número de apreensões de animais silvestres realizadas diariamente pela Policia Militar de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais. Considerando a importância da área PNC no contexto da conservação da Mata Atlântica e suas ameaças, este trabalho visa avaliar as ocorrências de apreensão de animais silvestre nos municı́pios do entorno desta Unidade de Conservação, em Minas Gerais. Foi realizado um levantamento dos boletins de ocorrência, apreensão e recolhimento (entrega espontânea) da fauna silvestre emitidos nos anos de 2004 a 2009 pelo 2o Grupamento da Polı́cia Militar de Meio Ambiente de Minas Gerais (GP MAMB/7 PEL PM MAT/12 CIA PM IND MAT), com sede no municı́pio de Manhuaçu. O 2o Grupamento da Polı́cia Militar de Meio Ambiente é responsável pelo monitoramento dos municı́pios de entorno do Parque Nacional do Caparaó, em Minas Gerais: Alto Caparaó, Alto Jequitibá, Caparaó, Espera Feliz e Manhumirim, além de outras cidades próximas como Caiana, Durandé e Martins Soares. De cada boletim foram coletados os seguintes dados: (1) data de apreensão, (2) quantidade de indivı́duos de cada espécie aprendida, (3) tipo da ocorrência, (4) municı́pio de apreensão e (5) materiais apreendidos. OBJETIVOS Quantificar o número de animais silvestres apreendidos e identificar as espécies mais visadas pelo tráfico e para criação em cativeiro, notificados nos boletins de ocorrência da Polı́cia Ambiental, nos municı́pios do entorno do PNC, pelo acesso mineiro. RESULTADOS Foram apreendidos ou recolhidos um total de 532 espécimes nos Municı́pios de Alto Caparaó, Alto Jequitibá, Caparaó, Espera Feliz, Manhumirim, Caiana, Durandé e Martins Soares, registrados em 178 boletins durante os anos de 2004 à 2009. Os anos com maiores números de apreensões foram 2009, 2008 e 2007, com 22%, 27% e 20% do total de registros, respectivamente. Dos animais apreendidos ou recolhidos, 98% foram aves e o restante se divide entre répteis (seis Chelonia e um X Congresso de Ecologia do Brasil, 16 a 22 de Setembro de 2011, São Lourenço - MG 1 Larcetilia) e mamı́feros (um Primata). Em 9% dos registros nos boletins as espécies não foram identificadas. Foram apreendidas 25 espécies, sendo 21 de aves. As espécies mais apreendidas foram Saltator similis (trinca - ferro), Sporophila caerulescens (coleiro) e Sicalis flaveola (canário da terra), com 52%, 15% e 5% dos registros, respectivamente. Dentre os registros houve quatro tipos de ocorrência: tráfico, manter animal silvestre em cativeiro como sendo de estimação, recolhimento por entrega espontânea do animal e outras atividades ilı́citas. Das ocorrências, 26% foram por tráfico, 67% por manter animais silvestres em cativeiro, 3% por recolhimentos e 4% por outras atividades. Um total de 283 animais foi classificado como sendo para fins de tráfico e 220 como animais de estimação. Trinca - ferros e coleiros foram os mais traficados, com 154 e 39 indivı́duos registrados, respectivamente. Eles também foram muito procurados como animais de estimação, sendo que foram registrados 106 trinca - ferros e 42 coleiros para esse fim. Borges et al., (2006), em um estudo realizado para o Municı́pio de Juiz de Fora MG, também observaram que trinca - ferros e coleiros eram uns dos animais mais apreendidos. O grande número de apreensões de trinca - ferros, coleiros e canários da terra podem estar relacionados ao uso destes em torneios, como animais de estimação e a grande procura para criação, devido à beleza desses pássaros e de suas fortes vocalizações. Esses pássaros, especialmente o trinca - ferro, são considerados caros e cada vez mais cobiçados no comércio ilegal. Foi apreendido um total de 97 apetrechos usados na caça ou para manter os animais em cativeiro, sendo que os principais foram: alçapões, redes de aves, armadilhas, gaiolas, amansadores de trinca - terro e anilhas. O Municı́pio de Espera Feliz teve o maior número de ocorrências (39%) durante os seis anos. Por conseqüência, Espera Feliz também teve o maior número de animais apreendidos, um total 211 espécimes. O municı́pio com o menor percentual de registros foi Manhumirim (7%). O que pode explicar o fato do Municı́pio de Espera Feliz ter o maior número de ocorrências e animais apreendidos é sua proximidade com a BR 482 que tem acesso aos Estados do Espı́rito Santo e Rio de Janeiro, para onde muitas vezes são destinados os animais traficados, conforme relatados pelo Grupamento da Polı́cia Militar de Meio Ambiente. Outro motivo pode ser que os esforços da fiscalização são maiores em Espera Feliz, e sua relativa proximidade com PNC. CONCLUSÃO O elevado número de animais retirados da natureza de forma ilı́cita na região de entorno da PNC é alarmante. Os resultados apontam que as aves são as mais envolvidas nas ocorrências, sendo que os trinca - ferros e coleiros foram as mais procuradas para o tráfico e criação como animais de estimação. As informações levantadas poderão contribuir para elaboração de estratégias de proteção e conservação da vida silvestre do PNC. AGRADECIMENTOS: Ao Grupamento da Polı́cia Militar de Meio Ambiente, de Alto Caparaó/MG nas pessoas do Sargento Paulo Nilson Verly, Cabo Marcone Freitas da Silva e Soldado Emerson Amaral da Silva. REFERÊNCIAS Borges, R.C., Oliveira, A., Bernardo, N., Costa, R.M.M.C. Diagnóstico da fauna silvestre apreendida e recolhida pela Polı́cia Militar de Meio Ambiente de Juiz de Fora, MG (1998 e 1999). Rev. bras. Zoociências, 8: 23 - 33, 2006. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBIO. Parque Nacional do Caparaó. Dados Geográficos. Disponı́vel em: http://www4.icmbio.gov.br/parna caparao. Acesso em: 11 mai. 2011. Moraes, A.M., Melo, F.R., Brinati, A., Moraes, A.M., Oliveira, V.S. Avaliação do status de Conservação de Remanescentes Florestais no entorno do Parque nacional do Caparaó, Minas Gerais, Brasil. In: Congresso Mineiro sobre Biodiversidade, 2., 2008, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte, 2008. Projeto Doces Matas. O trabalho com comunidades rurais no entorno de unidades de conservação. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 2001, 64 p. X Congresso de Ecologia do Brasil, 16 a 22 de Setembro de 2011, São Lourenço - MG 2