FATORES DE RISCO PARA INFECÇÃO POR ENTEROBACTÉRIAS RESISTENTES ÀS OXIIMINOCEFALOSPORINAS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO RIO DE JANEIRO Giovanna Ianini D`Almeida Ferraiuoli Dissertação Programa de de Mestrado apresentada Pós-Graduação em ao Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias), Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias). Orientadores: Profª. Drª. Beatriz Meurer Moreira Profª. Drª. Carmem Lúcia Pessoa da Silva Rio de Janeiro Abril de 2005 Ferraiuoli, Giovanna Ianini D’Almeida Fatores de risco para infecção por enterobactérias resistentes às oxiimino-cefalosporinas em um hospital universitário do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro / Giovanna Ianini D’Almeida Ferraiuoli. - Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2005. x, 53 f. : il. ; 31 cm. Orientadores: Beatriz Meurer Moreira e Carmem Lúcia Pessoa da Silva Dissertação (Mestrado) – UFRJ / Faculdade de Medicina / DIP, 2005. Referências Bibliográficas: f. 54-62 1. Enterobactérias. 2. Resistência microbiana a drogas. 3. Infecção hospitalar. 4. Fatores de risco. 5. Rio de Janeiro. 6. Doenças infecciosas e parasitárias – Tese. I. Moreira, Beatriz Meurer e Silva, Carmem Lúcia Pessoa. II. Universidade Federal ii FATORES DE RISCO PARA INFECÇÃO POR ENTEROBACTÉRIAS RESISTENTES ÀS OXIIMINOCEFALOSPORINAS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO RIO DE JANEIRO Giovanna Ianini D`Almeida Ferraiuoli Orientadores: Profª. Drª. Beatriz Meurer Moreira Profª. Drª. Carmem Lúcia Pessoa da Silva Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias), Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias). Aprovada por: __________________________________________ Presidente, Prof. Dr. Guilherme Santoro Lopes _________________________________________ Profª. Drª. Cristina Barroso Hofer _________________________________________ Prof. Dr. Antonio Lêdo Rio de Janeiro Abril de 2005 iii Aos meus pais, José Antônio e Graça, ao meu marido Bernardo, com todo meu amor... iv AGRADECIMENTOS Às mestras Beatriz Meurer e Carmem Lúcia Pessoa da Silva, coresponsáveis neste processo, que dividiram tarefas, dialogaram, doaram experiências, pessoas amigas, presentes e fornecedoras de inestimável suporte técnico. Ao mestre Guilherme Santoro Lopes, pela colaboração técnica, paciência, boa vontade e valiosa preocupação com a nossa formação profissional. À equipe da CCIH do HUCFF, especialmente à Márcia Pinto, Denise Marangoni e Simone Nouér pelo incentivo, apoio e por acreditar em meu trabalho. Ao Laboratório de Bacteriologia Clínica em especial à bióloga Adriana Lucia Pires, pela atenção e colaboração para realização deste trabalho. À equipe do arquivo médico do HUCFF, em especial ao Pedro, pela colaboração e boa vontade para a realização deste trabalho. À Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias HUCFF-UFRJ. Ao CNPQ, pelos recursos e bolsa concedidos. Às amigas do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras, Kátia Senna, Marisa Santos e Márcia Vasques que estiveram sempre presentes quando precisei, colaborando incessantemente para minha formação profissional, numa torcida constante. À equipe do Laboratório de Epidemiologia Molecular de Infecções Bacterianas, pela receptividade e companheirismo. À equipe da Infecto Consultoria, pela colaboração e compreensão durante a realização desse trabalho. À equipe do Projeto Praça Onze, pela compreensão e incentivo para a finalização deste trabalho. Ao Rubens, do Laboratório de Epidemiologia Molecular de Infecções Bacterianas, pela boa vontade, paciência e exemplo de espírito de coleguismo. À secretária Wilma Magalhães Alves, que me auxiliou durante toda a pósgraduação, com todo o carinho e paciência. Ao amigo Márcio Fernandes, pela paciência e ajuda incondicional em todos os momentos. Às amigas Mônica Merçon e Juliana Neto, pela ajuda nos momentos de dificuldade. À minha amiga Danusa Ferreira, sempre presente nos momentos difíceis da minha vida. Ao meu pai, pela ajuda com a língua portuguesa. Todos inesquecíveis! E no final fica aquele sentimento de um especial muito obrigado àqueles que por afeto, lealdade, amizade e muito amor relevaram as constantes ausências, os freqüentes maus humores e uma infinidade de outras tantas situações. A vocês mamãe, papai, Bernardo, Adriano e Beatriz, meu eterno agradecimento. Muito Obrigada! v RESUMO FATORES DE RISCO PARA INFECÇÃO POR ENTEROBACTÉRIAS RESISTENTES ÀS OXIIMINO-CEFALOSPORINAS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO RIO DE JANEIRO Giovanna Ianini D`Almeida Ferraiuoli Orientadores: Profª. Drª. Beatriz Meurer Moreira Profª. Drª. Carmem Lúcia Pessoa da Silva Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de PósGraduação em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias), Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias). Nos últimos 30 anos, bactérias gram-negativas multirresistentes têm emergido como importante problema terapêutico. Desde 1998, nós observamos um aumento na incidência de amostras de Enterobacteriaceaea resistentes às oxiiminocefalosporinas (EnR) no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Para melhor entendimento da epidemiologia das infecções por estes microrganismos, foi realizado um estudo do tipo caso-controle pareado, no período de março a outubro de 2001. Foram identificados 51 pacientes-caso (infecção por EnR) e 74 pacientescontrole (pacientes hospitalizados durante o período do estudo). Na análise de fatores de risco para EnR foram incluídos 44 pares de pacientes-caso e controle. A presença de cateter de Foley (razão de chances, RC:12,75; IC 95%: 1,95-83,22; p:0,008), nutrição enteral (RC: 8,58; IC 95%: 1,13-65,21; p:0.030) e o uso de quinolonas (RC: 11,49; IC 95%: 1,99-66,19; p:0.006), aminoglicosídeos (RC: 734,95; IC 95%: 6,58-82026,97; p:0.006) e carbapenêmicos (RC: 17,94; IC 95%: 1,21264,06; p:0.035) foram encontrados como fatores de risco independentes para infecção por EnR. Estes resultados sugerem que estratégias para redução de infecção por EnR devam ter como alvo a redução do uso de antimicrobianos de amplo espectro e a utilização judiciosa de dispositivos invasivos, com ênfase para o cateter de Foley e nutrição enteral. Palavras-chave: Enterobactérias; Resistência microbiana a drogas; Infecção hospitalar; Fatores de risco; Rio de Janeiro; Doenças infecciosas e parasitárias Rio de Janeiro Abril de 2005 vi ABSTRACT RISK FACTORS FOR OXIIMINO-CEFALOSPORINE RESISTANT ENTEROBACTERIA AT A UNIVERSITY HOSPITAL IN RIO DE JANEIRO Giovanna Ianini D`Almeida Ferraiuoli Orientadores: Profª. Drª. Beatriz Meurer Moreira Profª. Drª. Carmem Lúcia Pessoa da Silva Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de PósGraduação em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias), Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias). Multidrug-resistant gram-negative bacteria have emerged as an important therapeutic problem over the last 30 years. Since 1998, we observed an increased incidence of Enterobacteriaceae isolates that were resistant oxymino-cefalosporins (EnR) at Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. In the present study, our aim was to clarify important epidemiologic aspects of the occurrence of EnR at this hospital. We designed a matched case-control study, to describe the risk factors related to infection by EnR, from March to October 2001. A total of 51 case-patients (infection by EnR) and 74 control-patients (patients hospitalized during the study period) were enrolled in the study. Forty-four pairs of cases and controls were included in the analysis of risk factors for EnR . Presence of Foley catheter (odds ratio, OR, 12.75; 95% CI: 1.95-83.22; p:0.008), enteral nutrition (OR 8.58; 95% CI: 1.13-65.21; p:0.030) and use of quinolones (OR 11.49; 95% CI: 1.99-66.19; p:0.006), aminoglycosides (OR 734,95; CI 95%: 6,58-82026,97; p:0.006) and carbapenems (OR 17.94; 95% CI: 1.21-264.06; p:0.035) were found as independent risk factors for EnR. These results suggest that initiatives designed to decrease the prevalence of resistant gram-negative organisms should be focused on decreasing the use of broad-spectrum antibiotics and judicious utilization of invasives devices, specially a Foley catheter and enteral nutrition. Key-words: Enterobacteriaceae; Microbial drug resistance; Health care associated infections; Risk factors; Rio de Janeiro; Parasitic and infectious diseases Rio de Janeiro Abril de 2005 vii SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ............................................................................ IV RESUMO ................................................................................................ V ABSTRACT ........................................................................................... VI SUMÁRIO............................................................................................. VII LISTA DE FIGURAS E TABELAS ........................................................ IX 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................1 1.1 Enterobactérias resistentes às oxiimino-cefalosporinas .........................1 1.2 Evolução da resistência aos antimicrobianos beta-lactâmicos em enterobactérias ......................................................................................6 1.3 Fatores de risco para infecção por enterobactérias resistentes às oxiimino-cefalosporinas .......................................................................12 1.3.1 Seleção dos pacientes-caso ........................................................................12 1.3.2 Seleção dos pacientes-controle ..................................................................12 1.3.3 Ajuste para período de risco ........................................................................13 1.3.4 Ajuste para gravidade da doença de base...................................................14 2 OBJETIVOS ....................................................................................22 2.1 Objetivo geral .............................................................................................22 2.2 Objetivo secundário...................................................................................22 viii 3 POPULAÇÃO E MÉTODOS ...........................................................23 3.1 Ambiente do estudo...................................................................................23 3.2 Desenho do estudo....................................................................................23 3.2.1 Definições ....................................................................................................23 3.2.2 Dados coletados dos pacientes ...................................................................26 3.3 Procedimentos microbiológicos...............................................................27 4 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................28 5 RESULTADOS................................................................................30 5.1 Identificação de casos de infecção ..........................................................30 5.2 Aspectos demográficos dos pacientes-caso ..........................................31 5.3 Descrição das infecções ...........................................................................32 5.4 Análise de fatores de risco........................................................................36 5.4.1 Busca de controles.......................................................................................36 5.4.2 Comparação de variáveis entre 44 pacientes-caso e 74 pacientes controles .................................................................................................37 5.4.3 Análise multivariada .....................................................................................40 6 DISCUSSÃO ...................................................................................42 7 CONCLUSÕES ...............................................................................53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................54 ANEXOS................................................................................................63 ix LISTA DE FIGURAS E TABELAS Figura 1 Incidência de amostras bacterianas multirresistentes no HUCFF, janeiro de 1998 a junho de 2002 (CCIH, 2002).....................20 Figura 2 Incidência de amostras das principais espécies de enterobactérias com resistência às cefalosporinas de terceira geração, no HUCFF, janeiro de 1998 a junho de 2002 (CCIH, 2002). ..................................................................................................21 Tabela 1 Freqüências de ocorrência de Enterobacteriaceae em hospitais no Brasil. ...............................................................................................3 Tabela 2 Fatores de risco relacionados à aquisição de enterobactérias resistentes às oxiimino-cefalosporinas em pacientes hospitalizados. ....................................................................................18 Tabela 3 Fatores de risco relacionados à aquisição de enterobactérias resistentes às oxiimino-cefalosporinas na comunidade e em casas de apoio. ...................................................................................19 Tabela 4 Distribuição dos leitos do hospital por especialidade ..........................29 Tabela 5 Distribuição, conforme critérios de exclusão para pacientecaso, de 53 pacientes avaliados no HUCFF atendidos no período de março a outubro de 2001 ..................................................30 Tabela 6 Distribuição do diagnóstico principal entre os pacientes-caso ............31 Tabela 7 Descrição das infecções, segundo o agente etiológico e o sítio de infecção..........................................................................................33 x Tabela 8 Descrição do setor de diagnóstico de EnR (setor que o paciente tenha ficado pelo menos 72 horas hospitalizado imediatamente antes da identificação da infecção por EnR)...............34 Tabela 9 Distribuição das amostras de EnR, conforme o perfil de susceptibilidade antimicrobiana e quanto à produção de betalactamase de espectro estendido........................................................35 Tabela 10 Distribuição, conforme critérios de exclusão, de 127 pacientes avaliados no HUCFF/UFRJ atendidos no período de março a outubro/2001. ......................................................................................37 Tabela 11 Distribuição dos 118 pacientes incluídos na análise conforme o diagnóstico principal............................................................................38 Tabela 12 Análise univariada do uso de dispositivos como fator de risco para infecção por EnR.........................................................................39 Tabela 13 Análise univariada do uso de antimicrobianos como fator de risco para infecção por EnR ................................................................40 Tabela 14 Análise multivariada dos fatores de risco para infecção por EnR .....................................................................................................41 1 INTRODUÇÃO 1.1 Enterobactérias resistentes às oxiimino-cefalosporinas Enterobacteriaceae é uma grande e heterogênea família de bactérias Gram negativas, não-formadoras de esporos e freqüentemente móveis. Podem apresentarse encapsuladas ou não, são negativas para a produção da enzima citocromooxidase, fermentadoras de glicose com conseqüente formação de ácido e gás e com capacidade de redução de nitrato a nitrito. São bactérias facilmente cultiváveis em meios rotineiros de laboratório crescendo em ambiente aeróbio ou anaeróbio (Donnenberg, 2005). Tais bactérias têm como reservatórios o solo, a água, as plantas e o trato gastrointestinal (TGI) de humanos e animais (Black et al., 2004; Donnenberg, 2005). Vários gêneros dessa família são patógenos intestinais primários (Shigella, Salmonella, Yersinia) e vários podem ser encontrados na microbiota do TGI humano, tais como Escherichia, Enterobacter e Klebsiella. Estes últimos podem ser causa de infecção do trato urinário, pneumonia, sepse, meningite ou formação de abscesso de origem comunitária ou nosocomial, podendo afetar hospedeiros normais ou com doenças pré-existentes (Black et al., 2004). Indivíduos com história de abuso crônico de álcool, diabetes mellitus, cardiopatias ou hospitalização têm altas taxas de colonização orofaríngea por membros dessa família (Sveinbjornsdottir et al., 1991; Cardenosa Cendrero et al., 1999; Donnenberg, 2005). Mulheres que utilizam diafragma ou agentes espermicidas para contracepção 2 e aquelas após a menopausa apresentam aumento na taxa de colonização vaginal por Escherichia coli e outros membros desta família (Black et al., 2004). Estes nichos ampliados que amostras da família Enterobacteriaceae podem ocupar nessas circunstâncias,são importantes fatores predisponentes para a ocorrência de infecção extra–intestinal. Apresentamos a seguir alguns dados do Programa de Vigilância Antimicrobiana SENTRY, sobre a ocorrência de patógenos bacterianos e as tendências de resistência antimicrobiana nas infecções nosocomiais e comunitárias, em 6 países da América Latina, incluindo o Brasil, no período de 1997 a 2000. Em 1961 amostras obtidas de urina de pacientes hospitalizados, com infecção do trato urinário, foi observado como patógeno mais freqüente E. coli seguido por Klebisiella spp, Pseudomonas aeruginosa e Proteus mirabilis. Entre amostras de E. coli foram encontradas elevadas taxas de resistência às fluoroquinolonas (17,5%) e ao cotrimoxazol (maiores do que 45%). Entre Klebsiella spp observou-se mais de 30% de amostras produtoras de beta-lactamase de espectro estendido (ESBL), associado a 18,9% e >45% de resistência à fluoroquinolonas e ao cotrimoxazol, respectivamente (Gales et al., 2002). Neste mesmo período e locais, foram estudadas 7207 amostras de sangue de pacientes com infecção da corrente sanguínea. Nesta coleção, E. coli foi o segundo patógeno mais freqüente (17,2%) e Klebsiella pneumoniae foi o quarto (9,2%), com taxas de 6,7% e 47,3% de produção de ESBL, respectivamente (Sader et al., 2003). Finalmente, em 1789 amostras de tecido subcutâneo de pacientes com infecções de pele e tecido subcutâneo, E. coli foi o segundo patógeno mais freqüente (13,1%), sendo 10% das amostras produtoras de ESBL, e K. pneumoniae 3 o quinto (5,8%), sendo 40% produtoras de ESBL (Sader et al., 2002). Os dados de vigilância das infecções constataram que os principais problemas de resistência aos antimicrobianos na América Latina são Enterobacteriaceae produtoras de ESBL (Sader et al., 1999; Winokur et al., 2001). Como um grupo, Enterobacteriaceae foram os patógenos bacterianos mais freqüentemente recuperados de espécimes clínicos de pacientes hospitalizados e ambulatoriais atendidos em hospitais da América Latina (incluindo o Brasil) no período de 1997 a 2001 (Sader et al., 2004). Na tabela 1 estão descritos os resultados sobre a freqüência de enterobactérias em hospitais de estados brasileiros, divulgados em congressos nacionais. Tabela 1 Freqüências de ocorrência de Enterobacteriaceae em hospitais no Brasil. Setores CTI Amostras N° Enterobacteriaceae/ Total bactérias (%) 17/54 (31,2) Espécimes clínicos Estado de origem S. resp MG Ferrari et al., 2004 Referências Diversos 71/297 (24,2) Sangue RJ Rodrigues et al., 2004 Tx renal 17/88 (53,0) Urina RJ Almeida et al., 2002 Diversos 122/203 (60,1) Urina SP Silveira et al., 2002 S. resp: secreção respiratória, Tx renal: transplante renal. Na América Latina, as taxas de produção de ESBL entre as amostras de K. pneumoniae e E. coli estão entre as maiores do mundo. No mesmo estudo SENTRY descrito acima, foram avaliados os percentuais de susceptibilidade antimicrobiana entre os patógenos Gram-negativos mais freqüentes isolados de todos os espécimes clínicos, de janeiro de 1997 a dezembro de 2001, na América Latina, incluindo Brasil. Foram encontradas taxas de 42,5%, 64,2%, 70,6%, 76,3%, 81,4% 92,5%, e 94,6% de susceptibilidade à ceftriaxona entre amostras e K. pneumoniae, 4 Enterobacter spp, Citrobacter spp, Serratia spp, Proteus spp, Morganella morgannii e E. coli, respectivamente (Sader et al., 2004). Dados de vigilância de susceptibilidade antimicrobiana têm demonstrado que a resistência entre as bactérias Gramnegativas parece ser maior na América Latina, quando comparado com outras regiões do mundo, especialmente América do Norte e Europa. Por outro lado, problemas de resistência com cocos Gram-positivos, como Enterococcus spp e Streptococcus pneumoniae, são menos freqüentemente descritos na América Latina (Hoban et al., 2001). Nos hospitais de países desenvolvidos, persiste elevada prevalência de infecções por microrganismos Gram-positivos, como Staphylococcus spp e Enterococcus spp, provavelmente associada ao uso cada vez mais freqüente de dispositivos invasivos, antibióticos de amplo espectro e de agentes imunossupressores, e a uma prevalência relativamente menor de infecções por Enterobacteriaceae (Black et al., 2004). Apesar disto, a resistência antimicrobiana entre bactérias do grupo Enterobacteriaceae é um problema crescente em todo o mundo. Entretanto, em alguns países, o problema parece ser menos intenso. Por exemplo, em um estudo envolvendo dados do programa de vigilância denominado Surveillance Network, foram analisados à ocorrência de patógenos bacterianos e os seus respectivos perfis de resistência antimicrobiana em UTIs (unidades de terapia intensiva) da Europa (França, Itália e Alemanha), do Canadá e dos Estados Unidos da América, no período de 2000 a 2002. A suceptibilidade à ceftazidima em E. coli foi de 94,7%, 95,3%, 97,7%, 97,9% e 98,8% nas amostras obtidas na Itália, Estados Unidos da América, Canadá, Alemanha e França, respectivamente. Nas amostras de K. pneumoniae, a susceptibilidade a este antimicrobiano foi de: 69,8%, 88,5%, 5 90,0%, 92,5% e 97,5%, na Itália, nos Estados Unidos da América, na Alemanha, na França e no Canadá, respectivamente (Jones et al., 2004). Por outro lado, dados do Projeto Norte Americano de Epidemiologia de Resistência Antimicrobiana em Cuidados Intensivos (ICARE) e do Componente de Resistência e de Uso de Antimicrobiano do Sistema de Vigilância de Infecções Nosocomiais (NNIS) relativos aos anos de 1998 – 2002 mostram dados alarmantes. Bactérias Gram-positivas resistentes estão em terceiro lugar em freqüência, P. aeruginosa resistentes a fluoroquinolonas estão em quarto lugar e amostras de Enterobacter spp resistentes às cefalosporinas de terceira geração estão em quinto lugar em ocorrência como patógenos mais comuns em pacientes em UTI (National Nosocomial Infections Surveillance (NNIS) System Report, data summary from January 1992 to June 2002, issued August 2002, 2002). Em um estudo que avaliou a produção de ESBL entre amostras de K. pneumoniae de várias regiões do mundo no período de 1997 a 1999, como parte do projeto SENTRY, foi observado um percentual de 45% do fenótipo ESBL na América Latina, seguido por 25% na região do Pacífico Ocidental, 23% na Europa, 8% nos Estados Unidos da América e 5% no Canadá (Winokur et al., 2001). De tal forma, ficou claro que a produção de ESBL está mundialmente distribuída, mas a sua prevalência é maior em certas regiões geográficas. Outro importante problema entre as espécies de Enterobacteriaceae, como E. cloacae, C. freundii e outras espécies é a resistência mediada por uma cefalosporinase desreprimida (Knothe et al., 1983). São beta-lactamases codificadas no cromossomo, induzíveis, conhecidas como tipo AmpC, do grupo I de Bush. A maioria das espécies de Enterobacteriaceae produz uma AmpC, entretanto, algumas espécies, como C. freundii, E. cloacae, S. marcescens e Proteus mirabilis (grupo 6 “CESP”) podem produzir grandes quantidades destas enzimas se tornando assim resistentes às cefalosporinas de terceira geração, penicilinas de amplo espectro e monobactâmicos (Coudron et al., 2003; Sader et al., 2004). Além da resistência aos beta-lactâmicos, espécies da família Enterobacteriaceae têm apresentado elevadas taxas de resistência à maioria dos agentes antimicrobianos, incluindo aminoglicosídeos e fluoroquinolonas (Paterson et al., 2000; Jones et al., 2004; Sader et al., 2004). 1.2 Evolução da resistência aos antimicrobianos beta-lactâmicos em enterobactérias Os antimicrobianos de escolha para tratamento de infecções por membros da família Enterobacteriaceae são as sulfonamidas, aminopenicilinas, cefalosporinas de primeira geração e os aminoglicosídeos. Porém, atualmente, como descrito na seção anterior, os bacilos Gram-negativos são amplamente resistentes a estes antimicrobianos, em ambientes intra e extra-hospitalares (Goldstein et al., 1986; Jacoby e Archer, 1991). A resistência antimicrobiana entre bactérias causadoras de infecções humanas era pouco freqüente no início da era da antibioticoterapia (Tavares, 2002). Com a introdução dos antimicrobianos na prática clínica na década de 50, e posteriormente, a partir de 1960, com o surgimento dos novos antibióticos betalactâmicos, houve importante expansão do problema da resistência. O aumento na prevalência da resistência antimicrobiana entre Enterobacteriaceae está 7 freqüentemente relacionado ao uso excessivo ou disseminado de um antimicrobiano (Jacoby e Archer, 1991). A resistência aos antimicrobianos é um fenômeno genético, relacionado à existência de genes contidos no microrganismo que codificam diferentes mecanismos bioquímicos que impedem a ação das drogas. A resistência pode ser natural, quando faz parte do código genético original do microrganismo, ou adquirida, quando os genes de resistência são a ele incorporados (Tavares, 2002). No presente estudo, interessa-nos discutir a resistência antimicrobiana adquirida na família Enterobacteriaceae. Nesta família, os mecanismos de resistência aos antimicrobianos incluem a produção de enzimas que inativam ou modificam a droga, a diminuição da permeabilidade à droga e alterações nos sítios receptores dos antimicrobianos (Black et al., 2004). Os antimicrobianos beta-lactâmicos são amplamente utilizados na terapia de infecções por membros da família Enterobacteriaceae e eles agem bloqueando a atividade das transpeptidases presentes na membrana celular bacteriana através da ligação às proteínas que ligam penicilinas (PBP), impedindo assim o alongamento da cadeia glicopeptídica durante a síntese da parede celular (Chambers, 2005). Em bactérias Gram-negativas, a resistência a esta classe de antimicrobianos é mais freqüentemente ocasionada pela produção de beta-lactamases, que são enzimas que catalisam a hidrólise do anel beta-lactâmico, impossibilitando assim a sua atividade antimicrobiana (Livermore, 1995). Outros mecanismos de resistência aos beta-lactâmicos menos freqüentemente observados são alterações das proteínas da membrana externa, dificultando a difusão dos antimicrobianos, e a atividade de efluxo, que reduzem a quantidade do antimicrobiano no interior da bactéria. 8 Mutações nos genes que codificam PBPs também são observadas, resultando em uma afinidade reduzida para os beta-lactâmicos (Nikaido, 1989; Tavares, 2002; Livermore, 2003). As beta-lactamases podem estar localizadas em plasmídeos ou no cromossomo bacteriano. Nas bactérias Gram-negativas, essas enzimas são liberadas no espaço periplasmático, podendo alcançar maiores concentrações e agirem, assim, de modo mais eficaz sobre os beta-lactâmicos que porventura aí se encontrem (Bush et al., 1995). A capacidade ou não da beta-lactamase conferir resistência aos antimicrobianos irá depender da quantidade da enzima produzida, do seu poder de hidrólise sobre o antimicrobiano em questão e da velocidade com que o beta-lactâmico penetra através da membrana celular externa (Livermore, 1995). Com a evolução dos antimicrobianos, surgiram muitas variantes de beta-lactamases com diferentes capacidades hidrolíticas. Na classificação mais atual, as betalactamases são separadas em quatro classes moleculares: A, B, C e D, conforme a homologia entre as seqüências de nucleotídeos dos genes que as codificam (Bush et al., 1995; Medeiros, 1997). As beta-lactamases de classe A compreendem uma grande categoria, incluindo os tipos TEM e SHV, e apresentam hidrólise preferencial de penicilinas, cefalosporinas e oximino-beta-lactâmicos, sendo a maioria mediada por plasmídeos (Payne et al., 1989; Medeiros, 1997). As beta-lactamases de classe B são as metalo-beta-lactamases, que hidrolisam um amplo espectro de substratos, incluindo os carbapenêmicos (Medeiros, 1997; Rasmussen e Bush, 1997). As betalactamases da classe C incluem 32 cefalosporinases, sendo a maioria codificada no cromossomo bacteriano. Estas beta-lactamases incluem aquela determinada pelo gene cromossômico ampC da amostra E. coli K-12. Enzimas semelhantes àquela codificada por ampC foram descritas sob a denominação genérica de “beta- 9 lactamase do tipo AmpC” (Lampe et al., 1982; Livermore, 1995; Medeiros, 1997). As beta-lactamases da classe D são compostas pelas enzimas do tipo OXA que são capazes de hidrolizar a oxacilina (Medeiros, 1997). A evolução da resistência bacteriana aos antimicrobianos acompanhou as eras de surgimento dos antibióticos (Medeiros, 1997). A pressão seletiva exercida pelo uso excessivo dos beta-lactâmicos no tratamento de pacientes tem selecionado progressivamente novas variantes de beta-lactamases (Harbarth et al., 2001). Com o uso disseminado dos antimicrobianos beta-lactâmicos iniciado na década de 60, incluindo o uso da meticilina, ampicilina e cefalosporinas de primeira geração, foi identificada, em 1963, em Atenas, uma amostra de E. coli produtora de uma beta-lactamase denominada TEM-1 (Medeiros, 1997). Posteriormente, diferentes beta-lactamases mediadas por plasmídeos com diversas especificidades de substratos se disseminaram entre amostras clínicas da família Enterobacteriaceae e pseudomonas, particularmente em hospitais (Philippon et al., 1994; Black et al., 2004). Em torno do ano de 1970, bacilos Gram-negativos como K. pneumoniae, Serratia marcescens e Acinetobacter spp se tornaram importantes agentes de infecções nosocomiais (Medeiros, 1997). Em 1978, a cefoxitina foi aprovada para uso clínico nos Estados Unidos. Naquele momento, foi observado que esta droga era resistente à hidrólise por todas as beta-lactamases conhecidas mediadas por plasmídeos, entretranto, era prontamente inativada por uma betalactamase cromossômica da classe C (Sanders e Sanders, 1979; Medeiros, 1997). Posteriormente, ficaram disponíveis para uso clínico as oxiimino- cefalosporinas. Inicialmente foi disponibilizada a cefuroxima, que era mais estável frente às cefalosporinases C, e em seguida cefotaxima, ceftriaxona, ceftazidima e cefepima. Estas drogas foram mundialmente utilizadas para tratamento de infecções 10 graves por bacilos Gram-negativos desde 1980. De forma não surpreendente, a resistência a estes beta-lactâmicos por meio de beta-lactamases de espectro estendido surgiu rapidamente (Naumovski et al., 1992; Bradford, 2001). Em 1983, na Alemanha, foi descoberta em amostras clínicas de Klebsiella spp resistentes às oxiimino-cefalosporinas, uma nova variante de beta-lactamase denominada de ESBL, que surgiu a partir da evolução das beta-lactamases do tipo TEM e SHV, secundária a mutações, e com a capacidade de hidrolizar as oxiimino-cefalosporinas e os monobactâmicos (Knothe et al., 1983; Jacoby e Medeiros, 1991) Atualmente, as ESBL são observadas em todas as espécies de Enterobacteriaceae. No entanto, são mais freqüentemente encontradas em amostras de Klebsiella spp e E. coli. Até os dias atuais já foram descritas cerca de 200 diferentes ESBL (http://www.lahey.org/studies). Com a evolução dessas enzimas surgiram outros tipos de beta-lactamases de espectro estendido em várias regiões do mundo, designadas, por exemplo, de CTX-M, OXA, PER-1 (De Champs et al., 2000; Bradford, 2001; Baraniak et al., 2002; Bonnet, 2004). Bonnet e colaboradores detectaram em amostras clínicas do Rio de Janeiro um novo gene CTX-M, designado CTX-M-8, que apresentou 80 a 88% de identidade com outras variantes de CTX-M previamente identificadas. Posteriormente a variante CTX-M-16 foi identificada na mesma cidade (Bonnet et al., 2000b; Bonnet et al., 2001). Além disso, estes mesmos autores descreveram um novo grupo de ESBL, denominado BES (do inglês Brazilian Extended-Spectrum beta-lactamase), entre amostras daquela cidade (Bonnet et al., 2000a). Em 1985, surgiram para uso clínico os carbapenêmicos, e em 1984, o primeiro inibidor de beta-lactamases, o ácido clavulânico (Medeiros, 1997). 11 Porém, antes mesmo do lançamento dos carbapenêmicos para uso comercial, foram detectadas amostras de algumas espécies da família Enterobacteriaceae resistentes ao imipenem. Em Londres, em 1984, foi isolado na bile de um paciente da Califórnia, uma amostra de E. cloacae resistente ao imipenem e aminoglicosídeos, resistência esta, secundária à produção de uma enzima do tipo carbapenemase designada IMI-1. Em 1990, em Paris, foi identificado de um paciente com um abscesso subcutâneo, uma amostra de E. cloacae produtora de uma beta-lactamase de classe A com atividade hidrolítica sobre o imipenem, designada Nmc-A. Ambas, IMI-1 e NmcA são codificadas por genes cromossômicos (Nordmann e Poirel, 2002). Em 1998 emergiu no Japão uma metalobeta-lactamase codificada em plasmídeos em uma amostra clínica de S. marcescens, designada IMP-1 (Nordmann e Poirel, 2002). Estas metalo-betalactamases se disseminaram principalmente em amostras de Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter spp. Porém em 2004, um outro problema ainda surgiu: os primeiros casos de amostras de Enterobacteriaceae produtoras dessas enzimas foram detectadas no Brasil (Lincopan et al., 2005). A partir de 1988, têm sido identificados plasmídeos que carreiam genes que codificam beta-lactamases da classe C. A seqüência de nucleotídeos do gene de uma dessas enzimas, denominada MIR-1, apresentou 90% de homologia com a beta-lactamase AmpC de E. cloacae (Papanicolaou et al., 1990). Posteriormente, houve disseminação de genes plasmidiais codificando beta-lactamases da classe C para vários continentes (Philippon et al., 2002). 12 1.3 Fatores de risco para infecção por enterobactérias resistentes às oxiimino-cefalosporinas Um dos métodos mais utilizados para estudar fatores de risco para aquisição de microrganismos resistentes a antibióticos é o estudo do tipo caso-controle (Paterson, 2002). Tais estudos têm sido realizados com metodologias variadas que podem levar a estimativas tendenciosas de antibióticos como fatores de risco (Harris et al., 2001). Não são muitas as publicações sobre os padrões metodológicos para a realização de estudos caso-controle que analisem antibióticos como fatores de risco para aquisição de microrganismos resistentes (Harris et al., 2001). Porém, segundo alguns autores, na elaboração deste tipo de estudo é necessário o cumprimento de algumas etapas (Harris et al., 2001; Paterson, 2002), conforme descrito a seguir. 1.3.1 Seleção dos pacientes-caso Segundo Paterson, os pacientes-caso ideais seriam aqueles pacientes identificados como portadores de bactérias multiresistentes por meio de vigilância microbiológica prospectiva. Quando são incluídos como caso somente os pacientes com bactérias multirresistentes identificados sem coleta de culturas de vigilância para avaliar sistematicamente a presença de colonização, há o risco de que pacientes-caso sejam incluídos no grupo dos pacientes-controle. Já é descrito que para cada paciente colonizado por uma bactéria multirresistente, surgem outros dois a cinco pacientes colonizados (Paterson, 2002). 1.3.2 Seleção dos pacientes-controle Recomenda-se que os pacientes-controle sejam selecionados da mesma população fonte dos pacientes-caso. A estimativa do risco relativo, ou melhor, da 13 razão de chances em um estudo do tipo caso-controle se baseia na comparação da freqüência de exposição dos pacientes-caso e pacientes-controle a essa variável. Se os pacientes-controle são selecionados de maneira que sua freqüência de exposição não é representativa da população base, o risco relativo estimado, ou a razão de chance, podem ser errôneos. Em grande parte dos estudos publicados, os grupos controle são compostos de pacientes com infecção por microrganismos susceptíveis ao antibiótico de interesse (Harris et al., 2001). Porém, na maioria dos estudos envolvendo pacientes hospitalizados, a pergunta a ser respondida é: “Quais são os fatores de risco para aquisição de patógenos resistentes na população de pacientes hospitalizados?” Sendo assim, objetivando responder à pergunta, os pacientes com a forma susceptível do microrganismo de interesse não irão refletir a população fonte adequadamente, representando apenas uma pequena proporção desta população. Outro possível viés na seleção do paciente-controle está relacionado à chance de que seja superestimado o risco da exposição a um determinado antibiótico que é ativo contra o microrganismo susceptível, mas não o é contra o microrganismo resistente. Tal fato pode ocorrer porque o tratamento com um antibiótico ativo comumente inibe o crescimento dos microrganismos susceptíveis a este antibiótico, fazendo com que a exposição seja menos freqüente entre os pacientes com microrganismos susceptíveis do que entre os pacientes da população base (Harris et al., 2002a). Segundo Harris e colaboradores os pacientes-controle ideais para patógenos adquiridos no hospital são constituídos pela coorte de pacientes hospitalizados. 1.3.3 Ajuste para período de risco Outra importante variável de confusão nos estudos do tipo caso-controle é o 14 tempo de risco, que compreende o intervalo entre a admissão do paciente no hospital e a detecção do microrganismo resistente na cultura. Este período de risco está diretamente relacionado com a chance do paciente ser exposto a antibióticos e se tornar colonizado ou infectado pelo microrganismo resistente. 1.3.4 Ajuste para gravidade da doença de base Dependendo da condição subjacente e da presença de comorbidades, os pacientes estarão mais susceptíveis a receber antibioticoterapia durante a hospitalização. Por isso seria importante selecionar pacientes-controle com doenças de base semelhantes àquelas dos pacientes-caso (Wiener et al., 1999). Inúmeros fatores podem estar envolvidos na aquisição de microrganismos resistentes a antimicrobianos, como o uso intenso de um antimicrobiano, a contaminação ambiental e de soluções e equipamentos hospitalares com cepas epidêmicas, a transmissão cruzada das cepas através das mãos de membros da equipe de saúde, o tempo prolongado de internação hospitalar, a exposição a procedimentos invasivos e a maior gravidade da doença de base (Dorsey et al., 2000; Livermore, 2003). A aquisição de bactérias multirresistentes representa a combinação da pressão de seleção exercida pelo uso de antibióticos e da transferência horizontal de microrganismos entre pacientes, geralmente por meio das mãos dos profissionais de saúde e algumas vezes, via objetos inanimados (Paterson, 2002). Freqüentemente, nos estudos que avaliam fatores de risco para aquisição de bactérias resistentes, esses dois modos de aquisição são analisados em conjunto. Este tipo de abordagem pode levar a conclusões errôneas, porque a pressão seletiva pelo uso de um antimicrobiano pode exercer um papel menor naqueles pacientes que adquiriram o microrganismo resistente por transferência 15 horizontal. No entanto, alguns autores sugerem que o uso de um determinado antimicrobiano pode aumentar a densidade de colonização pelo microrganismo resistente e com isso contribuir para aumentar a ocorrência de transferência horizontal (Donskey et al., 2000). Na maioria das vezes, a colonização por bactérias resistentes antecede à infecção. A colonização por enterobactéria resistententes às oxiimino-cefalosporinas (EnR) tem sido identificada, em vários estudos, como um importante fator de risco para o desenvolvimento de infecção por este patógeno em pacientes hospitalizados (Pena et al., 1998; Pessoa-Silva et al., 2002). Como anteriormente descrito, os reservatórios primários de Enterobacteriaceae são a água, o solo e o TGI de humanos e animais (Donnenberg, 2005). No entanto, alguns fatores estão relacionados com o aumento da colonização orofaríngea e gastrointestinal por EnR em pacientes hospitalizados. A colonização orofaríngea por EnR é incomum em pessoas saudáveis, mas é freqüente em pacientes hospitalizados (Johanson et al., 1969; Black et al., 2004). Esta colonização está associada com a gravidade da doença de base, com a pressão seletiva exercida pelo uso de antimicrobianos, com a entubação orotraqueal e ventilação mecânica e com o suporte nutricional com dieta enteral (Bonten et al., 1995; Bonten et al., 1996b; Garrouste-Orgeas et al., 1997; Cardenosa Cendrero et al., 1999). Uma das hipóteses para esta aumentada colonização orofaríngea é a perda da fibronectina (uma glicoproteína que está presente nas células epiteliais orais e que facilitam a aderência de bactérias gram positivas), deixando sítios de ligação celular livres e com isso aumentando a taxa de colonização por bastonetes gram negativos. Uma hipótese para esta perda é que a secreção de protease salivar, que degrada a fibronectina, está aumentada em pacientes críticos (Woods et al., 1981). 16 O estômago normalmente não é colonizado. Porém, em pacientes graves, a colonização gástrica ocorre freqüentemente. A colonização gástrica está associada ao aumento do pH gástrico acima de quatro (Bonten et al., 1995; Bonten et al., 1996a). Fatores do hospedeiro têm sido associados à colonização gástrica, como idade avançada, desnutrição, acloridria, peristalse gástrica lenta e refluxo gastroduodenal, tratamento com antiácidos e bloqueadores dos receptores de histamina do tipo dois. Em um estudo que incluiu pacientes em uma UTI, recebendo nutrição enteral, 20 a 40% dos pacientes estavam com colonização gástrica quando a nutrição enteral foi iniciada, e a taxa de colonização aumentou para 80% após uma semana. A colonização orofaríngea e gástrica com bastonetes gram negativos têm sido colocada como importante fator de risco para infecção do trato respiratório inferior (Bonten et al., 1996b; Garrouste-Orgeas et al., 1997). Porém, tal hipótese tem sido bastante pesquisada, e vários estudos falharam em demonstrar um papel importante da colonização gástrica na patogênese de pneumonia associada à ventilação mecânica. A patogênese da pneumonia nosocomial envolve a aspiração de conteúdo da orofaringe ou a inoculação de material contaminado diretamente no tubo endotraqueal. Assim, a duração da ventilação mecânica e a colonização da orofaringe com enterobactérias são consideradas importantes fatores de risco para pneumonia (Garrouste-Orgeas et al., 1997; Mukhopadhyay et al., 2003). Em contraste à colonização gástrica e orofaríngea, a colonização intestinal por enterobactérias é universal em pessoas saudáveis e em pacientes hospitalizados. No entanto, a densidade de colonização aumenta com a duração da hospitalização. A colonização do TGI tem sido descrita como fonte de K. pneumoniae multiresistentes em surtos hospitalares ocorridos em UTI (Pessoa-Silva et al., 2002). 17 Outro reservatório de EnR entre pacientes hospitalizados é o trato urinário. Fatores relacionados à aquisição de infecção do trato urinário nestes pacientes estão mais freqüentemente associados com o hospedeiro e com a presença de dispositivos invasivos, sendo o cateter vesical o mais importante (Warren, 1997). Alguns estudos identificaram a presença do cateter vesical como um fator de risco independente para colonização por EnR e para infecção cruzada, via mãos dos profissionais de saúde (Pena et al., 1997) Em relação à infecção de ferida cirúrgica, o microrganismo causal varia com o tipo de cirurgia realizada. A presença de EnR em infecções cirúrgicas tem sido também associada com a contaminação extrínseca de dispositivos e soluções usados no período perioperatório (Pegues et al., 1991). As bacteremias por EnR podem ser secundárias a infecção do trato urinário, infecção do trato respiratório e infecção do TGI e associada à cateteres venosos ou arteriais. Como outra via de transmissão de EnR, vários membros da família Enterobacteriaceae têm propensão para certos ambientes e reservatórios. Como exemplo, Serratia spp e Enterobacter spp já foram encontrados contaminando água destilada, humidificadores e fluidos para infusão em ambientes hospitalares (Pegues et al., 1991; Wang et al., 1991). Vários fatores já foram descritos como de risco para a ocorrência de infecções por EnR. A descrição dos fatores mais freqüentemente encontrados está na tabela 2. Na tabela 3, estão descritos alguns fatores de risco para aquisição de EnR entre pacientes na comunidade e em casas de apoio. 18 Tabela 2 Fatores de risco relacionados à aquisição de enterobactérias resistentes ás oxiimino-cefalosporinas em pacientes hospitalizados. Tratamento estatístico Fator de risco Referência OCORRÊNCIA EM SURTO INFECÇÃO OU COLONIZAÇÃO CEF3, AMG Cirurgia abdominal de emergência CVU, CAT, tempo de hospitalização Hospitalização em CTI, cateter de drenagem biliar, CVU, cateter arterial ATB, CEF INFECÇÃO Hospitalização em CTI Tempo de hospitalização, estado nutricional, nível de dependência Colonização intestinal por KpESBL Colonização intestinal por KpESBL CVC, casa de apoio Duração da terapia com ATB AM AM AU Asensio et al. 2000 Champs et al. 1991 Lucet et al. 1996 AU Pena et al, 2001 AM Al-Rabea et al. 1998 AM AM AM AM AM Mangeney et al. 1995 Peña et al. 1998 Pessoa da Silva e cols 2002* Schiappa et al, 1996 Launtenbach et al, 2001 OCORRÊNCIA ENDÊMICA INFECÇÃO OU COLONIZAÇÃO Cirurgia recente CEF3 AU AM Arpin e cols., 2000 Kaye et al., 2001 COLONIZAÇÃO Duração CVU, VM AM Peña et al., 1997 AU AU AU AM AM AM AM Garroust-Orgeas et al., 1996 Mangeney et al., 2000 Chow et al., 1991 Kim et al., 2002 Lin et al., 2003 Paterson et al., 2004 Kim et al., 2003 AM Lee et al, 2002 INFECÇÃO Tempo de internção em CTI TIN, NET, nível de dependência CEF3 Doença de base, ATB, CEF3 TQT, CEF3 CEF IMP, CEF, VC, PIP/TAZ, tempo de hospitalização >6 dias, hospitalização em CTI CEF, número de antibióticos CEF3: Uso de cefalosporinas de 3° geração, AMG: Uso de aminoglicosídeos, AM: Análise multivariada , AU: Análise univariada, CVU: Cateterismo de vias urinárias, CAT: cateter arterial, UTI: unidade de terapia intensiva, ATB: antibiótico , CEF: Uso de cefalosporinas, KpESBL: klebsiela pneumoniae CVC: cateter venoso central, VM: Ventilação mecânica, TIN: tempo de internação, NE: nutrição enteral, TQT: traqueostomia, IMP: imipenem, VC: vancomicina, PIP/TAZ: piperacilina com tazobactam, * estudo em neonatos 19 Tabela 3 Fatores de risco relacionados à aquisição de enterobactérias resistentes a oxiimino-cefalosporinas na comunidade e em casas de apoio. Fatores de risco Referências COLONIZAÇÃO EM CASAS DE APOIO Maior nível de dependência de cuidados de enfermagem, úlceras de decúbito, uso de ciprofloxacina e cotrimoxazol, infecção prévia por K. pneumoniae Wiener et al, 1999* INFECÇÃO NA COMUNIDADE Hospitalização e uso de antibiótico nos três meses antecedendo a infecção, idade >60 anos, sexo masculino, uso prévio de cefalosporinas de terceira geração, cefalosporinas de segunda geração, quinolonas e penicilinas. Colodner et al, 2004* * estudos empregando análise multivariada, avaliando situações endêmicas. De acordo com os dados da vigilância microbiológica coletados pela equipe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no período de 1998 a 2002 houve um aumento significativo do número de infecções hospitalares por amostras de EnR em diversos setores do hospital. Na figura 1, encontra-se a representação gráfica do número de casos de EnR e de outros patógenos multirresistentes por 1.000 pacientes-dia, no HUCFF, entre os anos de 1998 e 2002. Na figura 2, são destacados os dados correspondentes às amostras das principais espécies de enterobactérias 20 consideradas multirresistentes pelos membros da equipe da CCIH do HUCFF (amostras EnR). Esses dados denotam o destaque das enterobactérias multirresistentes como importantes agentes de infecção hospitalar no HUCFF. O presente estudo foi planejado com o objetivo de se adquirir melhor entendimento de aspectos epidemiológicos da aquisição destas enterobactérias nos diversos setores do casos de MDR/1000 paciente dia HUCFF. 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 Enterobactérias I Enterobactérias II P. aeruginosa P. MMult Enterobactérias I : K. pneumoniae; E. coli; Proteus mirabilis . Enterobactérias II : Enterobacter sp; Citrobacter sp; Serratia marcescens ; PMMult: P. aeuriginosa só sensível a um antibiótico. MRSA : Staphyococcus aureus resistentes à meticilina. Acinetobacter sp MRSA 1998 1999 2001 2002 2000 Figura 1 Incidência de amostras bacterianas multirresistentes no HUCFF, janeiro de 1998 a junho de 2002 (CCIH, 2002) 21 casos novos /1000 pacientes-dia 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 0,10 2001 i di un su C .f re er iv .d C or .m M 2000 s ii ga ua P. st sc ce m S. 1999 nn rti i s en s 1998 ar ro ae E. ge ca oa bi ira m P. ne e l is li co E. cl E. K. pn eu m on ia e 0,00 2002 Figura 2 Incidência de amostras das principais espécies de enterobactérias com resistência às cefalosporinas de terceira geração, no HUCFF, janeiro de 1998 a junho de 2002 (CCIH, 2002). 22 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Avaliar potenciais fatores de risco para infecção por enterobactérias multirresistentes em pacientes hospitalizados no HUCFF no período de março a outubro de 2001. 2.2 Objetivo secundário Descrever a distribuição temporal e geográfica de casos de enterobactérias multirresistentes responsáveis por infecção nos pacientes hospitalizados no HUCFF 23 3 POPULAÇÃO E MÉTODOS 3.1 Ambiente do estudo O HUCFF é um hospital universitário terciário que conta com 511 (83,8%) leitos ativos, sendo 297 leitos de especialidades clínicas, 173 de especialidades cirúrgicas e 41 de terapia intensiva, com aproximadamente 1200 admissões por mês. Na tabela 4 está apresentada a distribuição dos leitos do hospital por especialidade. 3.2 Desenho do estudo Para a análise de fatores de risco para infecção por enterobactérias multirresistentes foi realizado um estudo do tipo caso-controle pareado, onde incluindo dois controles para cada caso. A descrição da distribuição de variáveis em casos e controles incluiu: dados demográficos, doença de base, setores de internação hospitalar, uso prévio de antimicrobianos, alimentação parenteral ou enteral, dispositivos e procedimentos invasivos. 3.2.1 Definições Período do estudo 24 De 1 de março a 31 de outubro de 2001 População em estudo Pacientes com pelo menos 72 horas de internação no HUCFF, preenchendo os critérios de inclusão como pacientes-caso ou controle. Definição de EnR Amostras de enterobactérias apresentando resistência às oxiimino- cefalosporinas detectada em teste de susceptibilidade antimicrobiano (sistema Vitek). Critérios de inclusão como pacientes-caso Foram considerados pacientes-caso aqueles que apresentaram isolamento de EnR em espécime clínico representando infecção sintomática após 72 horas de admissão hospitalar no período do estudo. Para efeito de análise de fatores de risco apenas o primeiro episódio de infecção por EnR foi considerado. Para seleção desses pacientes, foram utilizados os dados da vigilância microbiológica coletados pela equipe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do HUCFF e os dados do relatório do Sistema Vitek de identificação bacteriana do laboratório de bacteriologia do HUCFF, impresso diariamente. Critérios de inclusão como pacientes-controle Como pacientes-controle foram incluídos os pacientes internados no HUCFF durante o período do estudo, pareando com o setor de aquisição de infecção e o período de risco. Foi considerado provável setor de aquisição aquele em que o paciente–caso estava internado durante pelo menos 72 horas antes do diagnóstico 25 da infecção por EnR. Definimos como "período de risco" o espaço de tempo compreendido entre a data de admissão e a data do diagnóstico de infecção por EnR no paciente caso correspondente, conforme ilustramos no esquema abaixo: Data de admissão Caso Data de Diagnóstico da infecção |-------------------------------|--------------- Alta ou óbito Controle |-------------------------------|--------------- Alta ou óbito Período de Risco A seleção dos pacientes-controle foi feita de maneira aleatória consultando o registro informatizado de pacientes internados no HUCFF e por consulta ao livro de registro de pacientes admitidos nas unidades intensivas durante o período do estudo, selecionando cada controle por setor onde foi feito o diagnóstico da infecção por EnR do paciente-caso correspondente. Critérios de exclusão Pacientes com infecção de origem comunitária, ambulatorial ou de outro hospital Quando a identificação de EnR de qualquer espécime clínico representasse colonização ou infecção do trato urinário assintomática. Pacientes menores de 12 anos de idade. Pacientes com história prévia de infecção por EnR, mesmo que fora do período do estudo. 26 Critério de exclusão apenas dos pacientes-controle Pacientes com diagnóstico de infecção sem germe identificado durante o período de risco avaliado. 3.2.2 Dados coletados dos pacientes Os dados a seguir foram obtidos a partir dos prontuários e registrados em ficha própria (Anexo 1) Dados demográficos: sexo, idade, procedência e setor de internação hospitalar. Diagnóstico da principal doença de base Datas: internação hospitalar, coleta do espécime clínico, alta hospitalar, óbito ou transferência para outra instituição Uso de antimicrobianos durante o período de risco, incluindo datas de início e fim. Procedimentos invasivos realizados durante o período de risco, tais como cirurgia, inserção de cateter venoso central, cateter vesical, cateter arterial periférico, cateter de artéria pulmonar, cateter nasogástrico, drenos, entubação orotraqueal, traqueostomia, ostomias, balão intraaórtico, cateter urinário e ventilação mecânica, com registro de datas de início e fim. Diagnóstico de infecção associada aos cuidados de saúde de acordo com os critérios propostos por especialistas dos “Centers for Disease Control and Prevention” (Garner et al., 1988) Evolução: alta, óbito, transferência. Os dados foram armazenados em um banco de dados no programa Access 2000, construído para este estudo. 27 3.3 Procedimentos microbiológicos A identificação das amostras e a susceptibilidade aos antimicrobianos, incluindo a detecção da produção de ESBL, foram avaliadas no laboratório de microbiologia do HUCFF através do sistema Vitek (bioMérieux, EUA) utilizando-se os cartões GNI e GNS-650, respectivamente. A susceptibilidade foi avaliada para os antimicrobianos amicacina, cefepima, ciprofloxacina, cotrimoxazol e piperacilina– tazobactam. Para a classificação das amostras como EnR foi observado o resultado de susceptibildiade à ceftazidima, ceftriaxona, cefotaxima e aztreonam e a produção de ESBL. Aspectos éticos No presente estudo, as amostras de materiais clínicos foram coletados conforme rotina própria de cada setor, não havendo nenhuma interferência nas coletas e no tratamento destes pacientes. Por ser um estudo retrospectivo, solicitamos isenção do TCLE, que foi autorizado. O sigilo dos dados obtidos foi mantido, sendo divulgado apenas o conjunto dos resultados, resguardando-se a individualidade dos pacientes participantes. Este estudo foi submetido à avaliação pelo Comitê de Ética do HUCFF-UFRJ e aprovado pelo mesmo. 28 4 ANÁLISE ESTATÍSTICA Para a análise de fatores de risco, pacientes-caso e controle foram comparados em análises para dados pareados, tanto na análise univariada como na multivariada. As variáveis foram comparadas por regressão logística condicional. Todas as variáveis para as quais o valor de p obtido na análise univariada foi menor ou igual a 0,25 foram incluídas no modelo da análise multivariada. Foi realizado o procedimento “backward”, ou seja, começando o modelo com todas as variáveis, sendo mantido no modelo final apenas as variáveis com nível de significância estatística (p<0,05). As seguintes exposições durante o período de risco em pacientes-caso e controle foram avaliadas como variáveis explicativas: antibióticos utilizados por pelo menos 3 dias, exposição a cateter venoso central de curta permanência, cateter venoso central para hemodiálise, cateter arterial periférico, tubo orotraqueal, ventilação mecânica, cateter nasogástrico, cateter urinário, nutrição enteral, nutrição enteral por pelo menos 7 dias, nutrição parenteral e cirurgia. Todos os cálculos estatísticos foram feitos no programa Stata, versão 8.0. Foi considerada significância estatística um valor de p menor ou igual a 0,05. 29 Tabela 4 Distribuição dos leitos do hospital por especialidade Setor Andar Especialidade Leitos ativos N (%) 14 (2,7) 5C 5 Dermatologia 5C/D 5 Infectologia 34 (6,6) 8C 8 Cardiologia/ Cirurgia cardíaca 30 (5,8) 9A 9 Nefrologia 29 (5,6) 9B 9 Reumatologia/ Gastroenterologia 22 (4,3) 9C/ D 9 Clínica médica 67 (13,1) 10B 10 Oftalmologia/ Otorrinolaringologia/ Cirurgia 22 (4,3) plástica 10C 10 Neurocirurgia/ Cirurgia Vascular 32 (6,2) 10D 10 Ortopedia 26 (5,0) 10F 10 Hematologia 14 (2,7) 11A 11 Cirurgia torácica/ Pneumologia / Cadeiras 64 (12,5) 11B/C 11 Cirurgia geral/ Urologia/ Ginecologia/ Proctologia 89 (17,4) 11B 11 Unidade intermediária 4 (0,7) 7F- 9R 7/9 Convênios 27 (5,2) 7F- 8C - 13C 7/8/13 Unidades de terapia intensiva geral e cirúrgica, unidade coronariana, pós-operatório de cirurgia 37 (7,2) cardíaca Total 511 (100%) 30 5 RESULTADOS 5.1 Identificação de casos de infecção Foram avaliados para os critérios de caso de infecção por EnR de origem nosocomial 104 pacientes atendidos no HUCFF que apresentaram identificação de EnR em qualquer espécime clínico, durante o período do estudo. Foram incluídos 51 pacientes com infecção por EnR de origem nosocomial, e 53 pacientes apresentaram critérios de exclusão. A descrição dos critérios de exclusão está apresentada na tabela 5. Tabela 5 Distribuição, conforme critérios de exclusão para paciente-caso, de 53 pacientes avaliados no HUCFF atendidos no período de março a outubro/2001 Critérios de exclusão Paciente ambulatorial Número de pacientes (%) 09 (16,98) Infecção adquirida em outro hospital 03 (5,66) Menos de 72 horas de internação 01 (1,88) Isolamento de EnR representando colonização 20 (37,73) Infecção do trato urinário assintomática 20 (37,73) Total de exclusões 53 (100) 31 5.2 Aspectos demográficos dos pacientes-caso Quanto ao sexo, 33 (64,7%) pacientes eram do sexo masculino e 18 (35%) do sexo feminino, e a idade dos pacientes variou de 17 a 93 anos (média: 54,2 anos; desvio padrão: 18,3 anos). Quanto à procedência, 42 (85%) pacientes vieram de casa e 7 (14%) eram transferidos de outro hospital. Na tabela 6 está descrita a distribuição do diagnóstico principal dos pacientes-caso na internação. Quanto à evolução, 28 (54,9%) e 23 (45,1%) pacientes evoluíram para alta e óbito, respectivamente. A duração da hospitalização entre os pacientes-caso variou de 8 a 126 dias (mediana de 45 dias). Tabela 6 Distribuição do diagnóstico principal entre os pacientes-caso Doença de base Número de pacientes-caso Percentual Doenças Infecciosas 9 17,64 Neoplasias 9 17,64 Pneumopatias 6 11,76 Doenças Hepato-Biliares 6 11,76 Cardiopatias 5 9,80 Endocrinopatias 4 7,84 Doenças do Tubo Digestivo 3 5,88 Outras 3 5,88 Nefropatias 2 3,92 SIDA 1 1,96 Doenças Hematológicas 1 1,96 Doenças Neurológicas 1 1,96 Doenças Auto-Imunes 1 1,96 Total 51 100 32 5.3 Descrição das infecções A distribuição das 51 infecções por EnR segundo o agente etiológico e sítio de infecção está apresentada na tabela 7. Foram incluídas 51 infecções que ocorreram em 51 pacientes, distribuídas, segundo o sítio de infecção, como, óssea ou do espaço articular (2 osteomielites, 1 artrite séptica de quadril e 1 infecção de prótese de quadril), da corrente sanguínea (4 bacteremias associadas a cateter venoso central de curta permanência e 3 associadas a cateter venoso periférico), do sistema gastrointestinal (2 colangites, 1 abscesso hepático e 1 peritonite secundária), do trato respiratório (2 traqueobronquites), do pulmão (3 pneumonias asssociadas à ventilação mecânica e 4 pneumonias não associadas à ventilação mecânica), do sítio cirúrgico (3 peritonites, 2 pancreatites, 2 abscessos abdominais, 2 osteomielites, 1 infecção de prótese vascular e 1 do quadril, 1 infecção profunda de ferida torácica e 1 fasciíte necrotizante) e 13 infecções do trato urinário sintomáticas. A descrição do provável setor de aquisição de cada episódio de infecção está apresentada na tabela 8. A susceptibilidade aos antimicrobianos está descrita na tabela 9. Foram detectadas 27 (53%) cepas bacterianas produtoras de ESBL, correspondendo a 100% (12) das cepas de E. coli, 85% (11) das cepas de K. pneumoniae, 100% (3) das cepas de P. mirabilis e 33% (1) das cepas de M. morganii. 33 Tabela 7 Descrição das infecções, segundo o agente etiológico e o sítio de infecção Sítio de Infecção Microrganismo Ossos/ Articulações TOTAL(%) Corrente Sanguíne Gastrointestinal Trato respiratório Pulmão Sítio cirúrgico Trato Urinário a 3 0 1 1 1 6 13 K .pneumoniae 1 E. coli 1 1 3 0 1 4 2 12 E. cloacae 0 0 1 0 4 4 2 11 S. marcescens 1 1 0 1 1 1 2 7 M. morganii 0 1 0 0 0 1 1 3 P. mirabilis 1 0 0 0 0 2 0 3 E. aerogenes 0 1 0 0 0 0 0 1 C. freundii 0 0 0 0 0 1 0 1 TOTAL(%) 4(7,8) 7(13,7) 4(7,8) 2(3,9) 7(13,7) 14(27,4) 13(25,4) 51(100) 34 Tabela 8 Descrição do setor de diagnóstico de EnR (setor que o paciente tenha ficado pelo menos 72 horas hospitalizado imediatamente antes da identificação da infecção por EnR) Número de infecções em cada setor Microganismo 5C 5F K .pneumoniae 8C 9A 1 1 9B 9D 3 1 1 E .coli 1 E. cloacae S. marcescens 9C 1 1 Total 11B 11C 11D ECI 1 1 1 3 1 2 1 1 2 CTI UC 2 1 UCC 13 3 3 12 1 2 1 11 3 7 3 2 M. morganii Total :número (%) 1 11A 2 1 P. mirabilis C. freundii 10A 10D 3 1 3 1 2(4) 1(2) 1(2) 2(4) 2(4) 3(5,8) 5(9,8) 1(2) 6(12) 3(5,8) 4(8) 1(2) 2(4) 2(4) 10(19) 2(4) 5C: doenças infecciosas, 8C: cirurgia cardíaca, 9A: nefrologia, 9B: clínica médica, 9C: emergência, 9D: clínica médica, 10A: gastroenterologia, 10D: ortopedia, 11A: pneumologia, 11B e 11C: cirurgia geral, 11D: urologia, ECI: enfermaria de cuidados intensivos, CTI: centro de terapia intensiva clínico e cirúrgico, UC: unidade coronariana, UCC: unidade de cirurgia cardíaca. 1 4(8) 51 35 Tabela 9 Distribuição das amostras de EnR, conforme o perfil de susceptibilidade antimicrobiana e quanto à produção de beta-lactamase de espectro estendido Microrganismo M. morganii (n=3) E. cloacae (n=11) E. coli (n=12) K. pneumoniae (n= 13) Perfil de susceptibilidade ao antimicrobiano indicado Amicacina Cipro SMX-TMP CPM Pip/Taz ESBL S R R S S N S R S NT NT P S R R I S N S S S R S S S R S S S R R R R R S R R R R S R R NT R R R R NT S R R NT S S R R S NT S S R R NT R NT R NT R NT R R R R N N N N N N N N N N N S S S R S S R S S S S S R R S R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R R NT R R R R R R R R I R R NT R R R R R P P P P P P P P P P P P NT S S S S R S S S R S NT NT R R R R NT R S R R R R S R R R S R R R R R NT R R S R NT R R S R S R R R R R NT NT NT I S R R R I R I R R NT NT P P P P P N P P N P P P P 36 Microrganismo Amicacina S S S Cipro S R R SMX-TMP R S R CPM R R R Pip-taz S I S ESBL P P P R R R R R R S R R R R S S S R R R S R R R S S S S S R S R R R R R R R N N N N N N N E. aerogenes n=1 S S S S R N C. freundii (n=1) Total – testado Número(%) Susc S S S S S N 49 36(73,4) 50 11(22) 49 8(16,3) 44 16(36,3) 42 6(14,2) - P .mirabilis (n=3) S. marcescens (n=7) Cipro: ciprofloxacina, SMX-TMP: cotrimoxazol, CPM: cefepima, Pip/Taz: piperacilina/tazobactam, ESBL: beta-lactamase de espectro estendido, P: positivo, N: negativo, NT: não testado, S: susceptível, R: resistente. 5.4 Análise de fatores de risco 5.4.1 Busca de controles Foram avaliados para a inclusão como pacientes–controle 127 pacientes internados no HUCFF durante o período do estudo. Cinquenta e três pacientes apresentaram critérios de exclusão e 74 pacientes foram incluídos. Na busca de paciente-controle não identificamos pacientes com período de risco semelhante para 7 pacientes-caso correspondentes, sendo estes, portanto não incluídos na análise. A descrição da avaliação dos pacientes conforme os critérios de apresentada na tabela 10. exclusão está 37 Tabela 10 Distribuição, conforme critérios de exclusão, de 127 pacientes avaliados no HUCFF/UFRJ atendidos no período de março a outubro/2001. Critérios de exclusão Número de pacientes (%) Infecção sem agente identificado 21 (39,62) Histórico prévio de infecção por EnR 01 (1,88) Menor de 12 anos de idade 01 (1,88) Exposição hospitalar fora do setor de aquisição de EnR comparativo com o paciente – caso correspondente 06 (11,32) Período de risco menor que o paciente-caso correspondente Total de exclusões 5.4.2 24 (45,28) 53 (100) Comparação de variáveis entre 44 pacientes-caso e 74 pacientes controles No grupo dos pacientes–caso incluímos 29 (65,9%) pacientes do sexo masculino e 15 (34%) do sexo feminino e no grupo dos pacientes controle 45 (60,8%) e 29 (39,1%) pacientes do sexo masculino e feminino, respectivamente (p=0,45). A idade dos pacientes–caso variou de 22 a 86 anos (média: 53,9; desvio padrão: 17,2 anos), e dos pacientes-controle, 14 a 94 anos (média: 49,9; desvio padrão: 18,1 p=0,21). Na tabela 11 está descrita a distribuição do diagnóstico principal na internação hospitalar entre pacientes-caso e pacientes-controle. Quanto à procedência, 63 (85,1%) e 11 (14,8%) pacientes no grupo dos pacientes-controle vieram de casa e de outro hospital, respectivamente, e no grupo 38 dos pacientes–caso, 36 (85,7%) vieram de casa e 6 (14,2%) vieram transferidos de outro hospital (p=0,77). Quanto à evolução, 70 (94,5%) pacientes–controles receberam alta hospitalar e 4 (5,4%) evoluíram para óbito e no grupo dos pacientes-caso 26 (59,1%) e 18 (40,9%) evoluíram para alta e óbito, respectivamente (p< 0,001). A mediana do período de risco foi de 21 dias, variando de 2 a 70 dias. A duração da hospitalização variou de 14 a 148 dias (com mediana de 43,5 dias) nos pacientes caso e de 4 a 87 dias (mediana de 29,5 dia) nos pacientescontrole e, (p<0,001). Tabela 11 Distribuição dos 118 pacientes incluídos na análise conforme o diagnóstico principal Doença de base Nº (%) de pacientes em cada grupo Pacientes-Caso Pacientes-controle Total(%) P Neoplasias 9 (20,4) 11 (14,8) 20 (16,9) 0,53 Doença infecciosa 7 (15,9) 11 (14,8) 18 (15,2) 0,84 Cardiopatias 3 (6,8) 10 (13,5) 13 (11,0) 0,21 Pneumopatias 5 (11,3) 7 (9,4) 12 (10,1) 0,56 Doenças hepato-biliares 6 (13,6) 7 (9,4) 13 (11,2) 0,35 Outras 2 (4,5) 8 (10,8) 10 (8,4) 0,24 Doenças auto-imunes 1 (2,2) 0 (0) 2 (0,8) 1,00 Doenças tubo Digestivo 3 (6,8) 4 (5,4) 7(5,9) 0,89 Endocrinopatias Doenças osteoarticulares Doenças Neurológicas 3 (6,8) 3 (4,0) 6 (5,0) 0,57 0 (0) 6 (8,1) 6 (5,0) 1,00 1 (2,2) 3 (4,0) 4 (3,3) 0,60 Nefropatias 2 (4,5) 2 (2,7) 4 (3,3) 0,73 SIDA 1 (2,2) 2 ( 2,7) 3 (2,5) 0,84 Doenças Hematológicas 1 (2,2) 0 (0) 1 (0,8) 1,00 44 74 118 Total 39 A descrição da análise univariada das variáveis dispositivos invasivos, tipo de nutrição e cirurgia está apresentada na tabela 12. A descrição da análise univariada do uso de antimicrobianos está apresentada na tabela 13. O uso de antibiótico entre os pacientes-caso e pacientes-controle foi avaliado individualmente por cada antibiótico utilizado por um período maior ou igual a 3 dias. Foram também avaliados o número de antibióticos utilizados e a duração de uso de antibióticos em dias em cada grupo. O número de antibióticos utilizados variou de 0 a 7 (mediana de 3 antibióticos) no grupo dos pacientes caso, e de 0 a 11 (mediana de 1 antibiótico) no grupo dos pacientes-controle (p=0,001). A duração da antibioticoterapia nos pacientes-caso variaou de 3 a 82 dias (mediana de 9 dias) e no grupo dos pacientes-controle variou de 3 a 35 dias (mediana de 8 dias), (p=0,003). Tabela 12 Análise univariada do uso de dispositivos como fatores de risco para infecção por EnR Variável Caso N (%) Controle N (%) RC P Cirurgia 27 (61,36) 37 (50,00) 1,79 0,287 CVU 31 (70,45) 31 (41,89) 6,98 0,002 CVC_curta 23 (52,27) 31 (41,89) 2 0,167 CNG 15 (34,09) 26 (35,14) 0,94 0,892 Sup Respiratório 15 (34,09) 17 (22,97) 4,90 0,055 NET 13 (29,55) 14 (18,92) 2,27 0,150 CAT 10 (22,73) 10 (13,51) 2,35 0,184 NPT 5 (11,36) 6 (8,11) 1,54 0,544 CVC_hemod 2 (4,55) 0 (0) 6 0,121 NPT: nutrição parenteral, NET: nutrição enteral, CVC_curta/hemod: cateter venoso central de curta duração e de hemodiálise, CAT: cateter arterial, Sup respiratório: traqueostomia+ tubo orotraqueal+ ventilação mecânica, CVU: cateter vias urinárias, CNG: cateter nasogástrico. RC – razão de chances. 40 Tabela 13 Análise univariada do uso de antimicrobianos como fatores de risco para infecção por EnR Caso Controle N (%) N (%) Anti_anaero 27 (61,36) Quinolonas Tipo de antibiótico OR p 22 (29,73) 4,59 0,001 22 (50,00) 17 (22,97) 3,43 0,007 Metronidazol 11 (25,00) 10 (13,51) 2,12 0,136 Penicilinas 8 (18,18) 8 (10,81) 1,74 0,314 Cefalosporina 1G 5 (11,36) 9 (12,16) 0,68 0,585 Aminoglicosídeos 8 (18,18) 2 (2,70) 10,90 0,026 Cefalosporina 2 G 5 (11,36) 5 (6,76) 1,88 0,399 Glicopeptídeo 4 (9,09) 6 (8,11) 1 1,000 Amp_inib/blactamase 3 (6,82) 7 (9,46) 0,68 0,585 Cefalosporina 4 G 5 (11,36) 4 (5,41) 2,23 0,283 Pip/Taz 4 (9,09) 4 (5,41) 2,10 0,405 Carbapenêmico 5 (11,36) 2 (2,70) 7,70 0,066 Clindamicina 4 (9,09) 3 (4,05) 1,80 0,445 Cefalosporina 3 G 1 (2,27) 2 (2,70) 0,61 0,697 Macrolídeo 1 (2,27) 1 (1,35) 1,41 0,809 G: geração, Pip/Taz: piperacilina/tazobactam, Anti_anaero: clindamicina, metronidazol, ampicilina/sulbactam, piperacilina/tazobactam, carbapenêmicos. 5.4.3 Análise multivariada Inicialmente foi realizado um modelo intermediário com análise dos dados demográficos, dos dispositivos invasivos, do suporte nutricional e dos antibióticos utilizados separadamente e a partir de cada um destes modelos foram selecionadas as variáveis com valor de p menor ou igual a 0,25, e estas foram incluídas no modelo multivariado final. Na tabela 14, está descrito o resultado final da análise multivariada. 41 Tabela 14 Análise multivariada dos fatores de risco para infecção por EnR Variável RC IC P valor Aminoglicosídeos* 734,95 6,58 a 82026,97 0,006 Carbapenêmicos* 17,94 1,21 a 264,06 0,035 Cateter urinário 12,75 1,95 a 83,22 0,008 Quinolonas* 11,49 1,99 a 66,19 0,006 NE 8,58 1,13 a 65,21 0,030 Cefalosporina4G* 6,48 0,99 a 42,2 0,050 RC: razão de chances, IC: intervalo de confiança, NE: nutrição enteral, 4G: quarta geração, * uso por 3 dias ou mais. 42 6 DISCUSSÃO Nos últimos 30 anos, EnR emergiram como causas importantes de infecções relacionadas aos cuidados com a saúde (Jones et al., 2004; Sader et al., 2004). Na maioria das vezes, a aquisição destas bactérias representa o resultado da pressão seletiva exercida pelo uso de um antimicrobiano, combinado à transmissão cruzada de microrganismos resistentes, usualmente por meio das mãos de profissionais de saúde, mas algumas vezes via objetos inanimados (Wang et al., 1991; Paterson, 2002). Em conseqüência da aumentada prevalência de infecções por EnR, tornamse cada vez mais limitadas as opções terapêuticas destas infecções. Recentemente, Kollef e colaboradores demonstraram que o uso de terapia antibiótica empírica inadequada para infecções em pacientes hospitalizados em UCI foi associado com aumento na sua mortalidade. A principal causa da terapia antibiótica empírica inadequada foi a ocorrência de resistência antimicrobiana não esperada (Kollef e Ward, 1998). Sendo assim, estudos para identificar fatores de risco para infecções por bactérias multirresistentes são essenciais para traçar estratégias que objetivem a redução da seleção de microrganismos resistentes e para adequada terapia antimicrobiana empírica (Paterson, 2002). Vários estudos têm sido realizados com o objetivo de melhorar o entendimento da epidemiologia destas infecções. O desenho de estudo mais freqüentemente utilizado é o caso-controle, porém, com metodologias muito variadas. 43 Para avaliar potenciais fatores de risco para infecção por EnR, realizamos um estudo do tipo caso-controle pareado. Na elaboração deste estudo, seguimos algumas etapas sugeridas por Paterson (Paterson, 2002). Para seleção dos pacientes-caso, optamos pela inclusão apenas de pacientes com infecção por EnR definida por parâmetros clínicos, excluindo pacientes com amostras de EnR representando apenas colonização ou infecção assintomática do trato urinário. Não realizamos culturas de vigilância, sendo assim, não seria possível estudar aquisição de EnR (colonização e infecção) pois poderíamos incluir no grupo controle pacientes-caso colonizados por EnR que não foram identificados, conforme já descrito em outros estudos (Harris et al., 2001; Paterson, 2002). Como discutido por Harris e colaboradores, a seleção do grupo controle de uma amostragem apropriada da população base é fundamental para estudos que avaliam fatores de risco para aquisição de patógenos resistentes a antimicrobianos (Harris et al., 2001). A escolha de pacientes-controle com a forma susceptível do microrganismo pode levar a estimativas errôneas do risco relativo do uso do antimicrobiano em questão como fator de risco para aquisição de resistência. Em um estudo realizado com o objetivo de avaliar o grupo controle mais adequado em estudos de resistência antimicrobiana, foram utilizados dois tipos de pacientescontrole (Harris et al., 2002a). Foram estudados os fatores relacionados à resistência à vancomicina, ampicilina-sulbactam e imipenem entre amostras de Enterococcus spp, E. coli e P. aeruginosa, respectivamente. O primeiro grupo-controle foi composto de pacientes com a forma susceptível do microrganismo estudado (controle tipo 1) e o segundo foi composto por pacientes selecionados aleatoriamente da população fonte dos pacientes-caso (controle tipo 2) durante o 44 período do estudo. Na comparação dos pacientes-caso com pacientes-controle tipo 1 foram encontradas razões de chance (RC) de 27,1; 4,38 e 2,71 e no grupo controle tipo 2 foram encontradas RC de 6, 34; 2,77 e 1,68 para o uso de imipenem entre pacientes com P. aeruginosa, vancomicina entre pacientes com Enterococcus spp e ampicilina-sulbactam entre pacientes com E. coli resistentes, respectivamente. Estes resultados ilustram como a seleção dos pacientes-controle de um controle sub-ótimo (tipo 1) pode levar à identificação de fatores de risco falsos ou pode levar a uma estimativa exagerada do valor do uso de certos antibióticos como fatores de risco para aquisição de patógenos resistentes a antimicrobianos (Harris et al., 2002a). Com o objetivo de selecionar um grupo-controle mais representativo da população base, optamos no presente estudo por incluir pacientes-controle selecionados do mesmo setor dos pacientes-caso correspondente durante o período do estudo. O período de risco é outro fator importante a ser avaliado neste tipo de estudo. Segundo Paterson, o grupo controle ideal para estudar fatores de risco para aquisição de bactérias resistentes a antibióticos em pacientes hospitalizados compreenderiam os pacientes hospitalizados com o mesmo potencial de exposição dos pacientes-caso correspondentes (Paterson, 2002). Logo, idealmente, os pacientes-controle deveriam estar internados por, pelo menos, o mesmo período de tempo dos pacientes-caso até o isolamento do microrganismo resistente em questão (Harris et al., 2001; Paterson, 2002). Para tornar os grupos de pacientes-caso e controle mais comparáveis, selecionamos, no presente estudo, o grupo controle de forma pareada, além do setor, com o período de risco do seu paciente-caso correspondente. 45 Outra variável a ser considerada é a gravidade clínica entre pacientes-caso e controle (Paterson, 2002). Uma das limitações do presente estudo foi a não quantificação da gravidade da doença dos pacientes caso e controle. Porém, na análise das doenças de base entre os grupos de pacientes-caso e controle não encontramos diferença. No presente estudo, selecionamos 51 pacientes-caso. As infecções mais freqüentes foram as infecções do sítio cirúrgico e do trato urinário. As EnR identificadas com maior freqüência foram: K. pneumoniae, E. coli e E. cloacae, achado semelhante com outros centros. Os setores predominantes de aquisição das infecções por EnR foram as UCI, onde ocorreram 35,2% dos casos. Estudos recentes têm demonstrado que infecções por EnR são mais prevalentes em pacientes graves, como aqueles internados em UCI (Kim et al., 2003b). Hospitalização em UCI é descrita como fator de risco para aquisição de microrganismos resistentes a antibióticos em outros estudos (Vatopoulos et al., 1996; Harris et al., 2002b; Kim et al., 2003a). Nas UCI estão internados os pacientes críticos, expostos a um maior número de dispositivos e procedimentos invasivos, e conseqüentemente, ocorre maior manipulação pelos profissionais de saúde, acarretando maior risco de aquisição de microrganismos resistentes por meio de transferência horizontal. Além disso, a UCI é o local do hospital onde há maior utilização de antimicrobianos, contribuindo para seleção de resistência antimicrobiana. Como pareamos pacientes-caso e controle por setor de aquisição da infecção, não pudemos avaliar a hospitalização em determinado setor como fator de risco para infecção por EnR. Outra limitação do presente estudo foi a não determinação do papel da transmissão cruzada de EnR entre os pacientes estudados. 46 Nas 51 infecções por EnR identificadas observamos 14,2%, 16,3%, 22%, 36,3% e 73,4% de susceptibilidade à piperacilina/tazobactam, sulfametoxazoltrimetroprima, ciprofloxacina, cefepima, e amicacina, respectivamente. Estes resultados são compatíveis com outros centros, demonstrando elevada freqüência de resistência a outras classes de drogas antimicrobianas em bactérias com resistência aos beta-lactâmicos (Paterson et al., 2004). Na busca dos pacientes-controle foram incluídos 74 pacientes pareados com 44 pacientes-caso. Não encontramos controles com períodos de risco semelhante em 7 pacientes-caso avaliados. Para análise das variáveis de risco para infecção por EnR foram incluídos 44 pacientes-caso e 74 pacientes-controle. Na análise comparativa não detectamos diferenças quanto às variáveis demográficas e a doença de base entre casos e controles. No presente estudo encontramos evolução para óbito entre os pacientescaso (18, 40,9%) com maior freqüência do que nos pacientes-controle (4, 5,4%, p<0,001). Tal descrição corresponde à mortalidade geral dos pacientes incluídos no estudo. Não fez parte dos objetivos deste estudo calcular a mortalidade atribuída à infecção. Vários estudos encontraram uma correlação entre a ocorrência de resistência bacteriana e aumento na mortalidade, morbidade e custos em muitas situações (Chow et al., 1991; Kim et al., 2003a; Livermore, 2003). Em um estudo, Kollef e Ward encontraram aumento de duas vezes na mortalidade entre pacientes internados em UCI com pneumonia associada à ventilação mecânica quando estas eram causadas por microrganismos resistentes aos antimicrobianos utilizados empiricamente (Kollef e Ward, 1998). 47 No presente estudo, a duração da hospitalização entre os pacientes-controle variou de 4 a 87 dias (mediana de 29,5 dias) e entre os pacientes-caso variou de 14 a 148 (mediana de 43,5 dias, p<0,001). Achado semelhante foi encontrado em outros estudos (Schiappa et al., 1996; Lin et al., 2003). Em relação à epidemiologia das bactérias multirresistentes, claramente o tipo de microrganismo é um fator importante. As bactérias gram negativas possuem uma maior barreira à permeabilidade que as bactérias gram-positivas, além da maior diversidade de enzimas plasmidiais e cromossômicas, com maior potencial para se tornarem resistentes. O intestino humano e a pele são grandes reservatórios destas bactérias, e em ambiente hospitalar, também são importantes a água e alimentos, assim como artigos reutilizáveis (Wang et al., 1991; Gould, 1994). Estes fatores propiciam a transmissão cruzada de microrganismos resistentes. A exposição a antimicrobianos é um dos fatores de risco mais freqüentemente descritos para aquisição de microrganismos multiresistentes em hospitais (Barza et al., 1987; Lucet et al., 1996; Harbarth et al., 2001). Este fenômeno é particularmente observado com o uso de antimicrobianos de amplo espectro, relacionando com a ocorrência de bactérias gram negativas multirresistentes em UTI (Gould, 1994). Vários estudos demonstram que o padrão de susceptibilidade antimicrobiana varia de acordo com a intensidade do uso de um antimicrobiano (Gould, 1994; Friedrich et al., 1999). O uso de uma classe de antimicrobiano pode selecionar resistência para a mesma classe ou para classes distintas de antimicrobianos (Friedrich et al., 1999; Harbarth et al., 2001). No grupo dos pacientes-caso, foi observado um maior número de antimicrobianos utilizados, variando de 0 a 7 (mediana de 3 antibióticos) e no grupo dos pacientes-controle, esse número variou de 0 a 11 antibióticos (mediana de um 48 antibiótico, RC 1,5, p:0,001). A duração da antibioticoterapia com uso mínimo de 3 dias, variou de 3 a 82 dias (mediana de 9 dias) no grupo dos pacientes-caso e de 3 a 35 dias (mediana de 8 dias) no grupo dos pacientes-controle (RC 3,2, p:0,003). Na análise univariada, encontramos o uso de suporte respiratório (cânula de traqueostomia ou tubo orotraqueal associado à ventilação mecânica) e de cateter urinário como fatores de risco para infecção por EnR. Por definição, a intubação orotraqueal e a ventilação mecânica são pré-requisitos para o desenvolvimento de pneumonia associada à ventilação mecânica (Bonten et al., 2004). Em relação à patogênese da pneumonia associada à ventilação mecânica o principal mecanismo está relacionado com a aspiração de secreções orofaríngeas, contendo patógenos, potenciais. Sendo assim, a presença de tubo orotraqueal leva ao acúmulo de secreção subglótica, acarretando microaspirações deste conteúdo para o trato respiratório inferior (Black et al., 2004). Estudos prévios identificaram a exposição ao tubo orotraqueal e à ventilação mecânica, como fatores de risco para aquisição de EnR (Pena et al., 1997; Piroth et al., 1998; Lin et al., 2003). A presença de dispositivos invasivos, associados a manipulações inadequadas, são os principais fatores relacionados à transmissão cruzada de microrganismos resistentes (Pena et al., 1997). A assistência com suporte ventilatório está associada à maior manipulação do paciente pela equipe de saúde. O processo de colonização ou de infecção por EnR freqüentemente se inicia após o contato com membros da equipe de saúde ou com objetos inanimados (Lin et al., 2003). Procedimentos invasivos e manipulações são difíceis de quantificar. No nosso estudo, nós encontramos a presença dos dispositivos cateter urinário e suporte ventilatório como fatores de risco para infecção por EnR. Talvez tal achado 49 possa indicar uma manipulação menos cuidadosa destes dispositivos, comparado aos cateteres venosos e arteriais. Outros estudos encontraram a presença de cateter urinário como um importante fator de risco para aquisição de EnR, o que pode refletir a maior freqüência de manipulação inadequada destes dispositivos (Lucet et al., 1996; Pena et al., 2001). Na análise multivariada, identificamos cateter urinário como fator de risco independente para infecção por EnR. Isto pode ser justificado pelas questões discutidas acima ou pela maior freqüência de pacientes com infecção do trato urinário incluídos neste estudo. Outra variável encontrada neste estudo como fator de risco independente para infecção por EnR foi a nutrição enteral. A dieta enteral tem sido considerada um fator de risco para pneumonia associada à ventilação mecânica, principalmente por causa do risco aumentado de aspiração do conteúdo de secreções orofaríngeas para o trato respiratório inferior (Bonten et al., 2004). A nutrição enteral contínua tem sido relacionada com o aumento no pH gástrico, com subseqüente estímulo à colonização gástrica e possivelmente orofaríngea (Bonten et al., 1996b). A colonização orofaríngea por bastonetes gram negativos é um fator de risco para pneumonia associada à ventilação mecânica (Bonten et al., 1996a; Garrouste-Orgeas et al., 1997; Cardenosa Cendrero et al., 1999). A administração da dieta enteral está associada também a uma maior manipulação do paciente pela equipe de assistência, propiciando maior risco de aquisição de EnR por transmissão cruzada. Além dos fatores relacionados com a maior manipulação do paciente e com o risco de aquisição de EnR por transmissão cruzada, a pressão seletiva para seleção de bactérias resistentes é um dos fatores de risco para infecção por EnR 50 mais freqüentemente descritos. No presente estudo, encontramos o uso de quinolonas, aminoglicosídeos e carbapenêmicos por período igual ou superior a 3 dias como fatores de risco independentes para infecção por EnR. Os antimicrobianos mais freqüentemente relacionados à aquisição de EnR em outros estudos são as cefalosporinas de terceira geração (Asensio et al., 2000; Kaye et al., 2001; Kim et al., 2002; Lin et al., 2003). Porém o uso destes antimicrobianos não foi encontrado como fator de risco para infecção por EnR no nosso estudo, o que pode ser explicado pela política de restrição do uso de cefalosporinas de terceira geração aplicada no hospital durante o período do estudo. Outra causa possível foi o pequeno tamanho amostral, impedindo a identificação de uma diferença significante entre os grupos (apenas três pacientes incluídos no estudo utilizaram cefalosporinas de terceira geração). Identificamos ainda uma taxa elevada de resistência às quinolonas entre as amostras de EnR estudadas. Os principais mecanismos de resistência bacteriana às quinolonas são: alterações nas enzimas alvo (DNA girase e topoisomerase IV) e alterações no acúmulo intracelular da droga, ambas resultantes de mutação cromossômica (Hooper, 2000). Entretanto, recentemente, foi encontrado em amostras clínicas de K. pneumoniae no Alabama, EUA, e posteriormente na China, resistência às quinolonas mediada por plasmídeo, em amostras produtoras de ESBL (Martinez-Martinez et al., 1998; Wang et al., 2003). A associação da resistência às quinolonas e cefalosporinas de terceira geração em enterobactérias tem sido descrita em outros estudos (Paterson et al., 2000). No presente estudo, encontramos o uso de quinolonas como fator de risco independente para infecção por EnR. Este achado pode estar relacionado com o uso intenso do antibiótico e condições que favorecem a transferência de microrganismos resistentes entre pacientes. Vários 51 estudos têm demonstrado que o uso de múltiplos antibióticos pode estar associado com mudanças na susceptibilidade de bactérias a antimicrobianos de classes diferentes daquela à qual eles foram expostos (Goldstein et al., 1986; Friedrich et al., 1999). Uma outra possível explicação é que a resistência às quinolonas seja mediada pelo mesmo palsmídeo que determina a produção de ESBL pela enterobactéria. A identificação do uso de aminoglicosídeos como fator de risco para infecção por EnR pode estar associada à presença do gene responsável para essa resistência no mesmo plasmídeo que codifica a produção de ESBL, como já foi descrito em estudos prévios (Jacoby e Archer, 1991). Os plasmídeos que codificam ESBL freqüentemente carreiam determinantes de resistência a outras classes de antimicrobianos, particularmente os aminoglicosídeos (Tavares, 2002; Paterson et al., 2004). Os carbapenêmicos também foram identificados como fatores de risco para infecção por EnR no presente estudo. A associação da exposição a antimicrobianos de amplo espectro com o isolamento de EnR sugere um papel destes medicamentos na indução ou desrepressão de genes de resistência ou seleção de microrganismos (Friedrich et al., 1999). Acreditamos que uma vez que EnR já esteja estabelecida no ambiente hospitalar, o uso de qualquer antimicrobiano, especialmente os de amplo espectro, possa contribuir para sua manutenção neste ambiente. A política de uso de antimicrobianos deve ter como fundamento o uso racional de antimicrobianos de todas as classes, especialmente aquelas que incluem drogas de amplo espectro, no ambiente comunitário e hospitalar. 52 Melhores práticas de higienização das mãos, medidas de barreira e manipulação adequada de dispositivos invasivos como medidas de prevenção de transmissão cruzada de microrganismos resistentes devem ser estimuladas, assim como a retirada o mais precocemente possível dos dispositivos invasivos. 53 7 CONCLUSÕES O uso dos antimicrobianos quinolonas, aminoglicosídeos e carbapenêmicos por tempo igual ou superior a três dias e o uso de nutrição enteral, foram encontrados como fatores de risco independentes para infecção por EnR. Na distribuição por setores das infecções por EnR, encontramos uma concentração de casos em unidades de cuidados intensivos. 54 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida MMTB, Lopes GS, Halpern M, Gonçalves RT. Infecçao do Trato Urinario em Receptores de Transplante Renal: Caracteristicas Clinicas, Epidemiologicas e Microbilogicas. In: VIII Congresso Brasileiro de Controle de Infecçao e Epidemiologia Hospitalar.; 2002; Curitiba PR; 2002. Al-Rabea RR, Burwen RD, Eldeen FD, Fontaine RE, Tenover F, Jarvis WR. Klebsiella pneumoniae bloodstream infections in neonates in a hospital in the Kingdom of Saudi Arabia. Infect Control Hosp Epidemiol 1998; 19. Arpin C, Rogues AM, Kabouche S, Boulard G, Quesnel C, Gachie JP, Quentin C. Prospective survey of colonization and infection caused by SHV-4 producing Klebsiella pneumoniae in a neurosurgical intensive care unit. Epidemiology Infection 2000; 124:401-408. 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