Bacilos Gram Negativos Fermentadores - Enterobactérias Enterobactérias • As enterobactérias possuem características em comum que definem a família Enterobacteriaceae: São bacilos Gram-negativos; Fermentam a glicose com ou sem produção de gás; São aeróbios e anaeróbios facultativos; A maioria reduz nitrato a nitrito; A maioria é oxidase negativa e catalase positiva; Podem ser móveis por flagelos peritríqueos ou imóveis; Crescem bem em meios comuns de cultura, como ágar MacConkey. Importância clínica • As enterobactérias são universalmente distribuídas no solo, plantas, na água e no trato gastrointestinal de humanos e dos animais • As Enterobacteriaceae podem ser isoladas de vários sítios infecciosos e são responsáveis por: - Abscessos; - Pneumonia; - Meningites; - Septicemias; - Infecções de feridas, trato urinário e trato gastrintestinal. • Alguns também são considerados enteropatógenos por causarem preferencialmente infecções gastrintestinais, como a Salmonella typhi, outras Salmonellas, Shigella spp., Yersinia enterocolitica e vários sorotipos de Escherichia coli, embora possam também causar infecção em outros sítios. Importância clínica • As principais enterobactérias isoladas, constituindo cerca de 99% dos isolamentos de enterobactérias de importância clínica, são: • Escherichia coli; Klebsiella spp.; Enterobacter spp.; Proteus spp.; Providencia spp.; Morganella spp.; Citrobacter spp.; Salmonella spp.; Shigella spp.; Serratia spp. • • • • As enterobactérias que atualmente predominam são: Escherichia coli; Klebsiella spp.; Enterobacter spp. • • • • As isoladas com menor freqüência são: Edwardsiella spp.; Hafnia spp.; Yersinia spp. Isolamento • A amostra clínica deve ser enviada imediatamente ao laboratório clínico após a coleta. • Em casos onde não é possível o envio ao laboratório em no máximo até 2 horas, manter a amostra refrigerada. • Amostras coletadas em swab podem ser colocadas em meio de transporte tipo Cary-Blair e/ou meio de Amies. • Amostras de sangue devem ser imediatamente inoculadas em frascos apropriados para hemocultura. • As enterobactérias crescem bem em meios comuns de cultura e meios seletivos utilizados para o isolamento de bacilos Gramnegativos. • A maioria delas apresenta colônias maiores de 1 mm de diâmetro, após incubação de 18 a 24 horas a 35±2ºC, com aspecto opaco, brilhante, transparente ou mucóide. Identificação • Baseia-se principalmente na presença ou não de diferentes enzimas codificadas pelo material genético dos cromossomos bacterianos. • Estas enzimas participam do metabolismo bacteriano em diversas vias, que podem ser detectadas por meios especiais utilizados em técnicas de cultivo in vitro. Identificação • A caracterização definitiva dos membros das Enterobacteriaceae pode requerer uma bateria de provas bioquímicas. • Primeiramnete confirmar se é enterobactéria: *Fermentação da glicose; *Citocromo oxidase negativa; *Redução de nitrato a nitrito. Identificação • Os passos importantes a serem avaliados para a identificação das enterobactérias são: Exame macroscópico e microscópico da cultura • O exame macroscópico e microscópico da cultura constitui a primeira etapa da identificação das enterobactérias. • O exame macroscópico da cultura permite uma análise do tamanho, aspecto morfológico e coloração da colônia em meios simples e seletivos. • O exame microscópico se faz através da coloração de Gram • • • • • • • • • • • • • Identificação bioquímica Após o exame macroscópico e a confirmação da pureza da cultura, uma colônia pode ser identificada com a ajuda de meios presuntivos de identificação, tais como o meio de Triple Sugar Iron (TSI), EPM Mili e/ou Rugai modificado por Pessoa e Silva (Meio de IAL). No meio de IAL, nove reações bioquímicas são observadas em um único tubo: Fermentação da glicose; Produção de gás; Fermentação da sacarose; Desaminação do L-triptofano; Produção de indol; Produção de sulfeto de hidrogênio (H2S); Hidrólise da uréia; Descarboxilação da lisina (LDC); Motilidade. O exame presuntivo acompanhado de provas complementares auxilia na confirmação de um gênero ou espécie. As provas complementares geralmente necessárias são a descarboxilação da ornitina (ODC), arginina de-hidrolase (ADH), utilização do citrato (Simmons), prova da DNase e prova de Voges Proskauer (reação de VP), e, quando necessário, a fermentação de alguns açúcares. VP • A reação de VP divide as enterobactérias em dois grandes grupos: espécies VP positivas e espécies VP negativas • Em geral, entre os membros mais comuns da família, as espécies VP positivas pertencem aos gêneros Klebsiella, Enterobacter e Serratia. As espécies dos gêneros Salmonella, Shigella, Proteus, Morganella, Citrobacter, Kluyvera, Providencia e a Escherichia coli apresentam reação de VP negativa. Características para o diagnóstico presuntivo e triagem dos gêneros e espécies de enterobactérias mais comuns em material clínico. • As cepas de E.coli apresentam distintos perfis em meio presuntivo de identificação. Isto se deve à grande variabilidade bioquímica que existe entre as cepas, especialmente em relação à produção de gás a partir da fermentação da glicose, fermentação da sacarose, LDC e motilidade. • No entanto, fermentam a lactose e produzem indol, características que praticamente definem a espécie. • Cepas de Salmonella produzem pouco gás a partir da fermentação da glicose, são em geral lactose negativas, sacarose negativas e possuem como uma das principais características a produção de H2S . • As cepas com suspeita de Shigella apresentam um perfil bioquímico muito homogêneo e característico nos meios presuntivos de identificação: • Raramente produzem gás; • São LDC negativas e imóveis. • O gênero Citrobacter possui 11 espécies. Todas as espécies são LDC negativas, citrato positivas e a maioria fermenta a sacarose, a lactose e o glicerol, características que diferenciam as espécies de Citrobacter de Salmonella. As espécies de Citrobacter diferenciam-se entre si pela produção de H2S (6 das espécies são H2S positivas), produção de indol, ODC, utilização do malonato e a fermentação de vários açúcares. • Cepas de Klebsiella possuem um metabolismo muito ativo. • São VP positivas, fermentam a maioria dos carboidratos e colônias mucóides, lactose positiva, são extremamente comuns, são imóveis e a maioria das espécies é LDC positiva. A produção de urease é característica das espécies K. pneumoniae e K. oxytoca, as mais comuns em material clínico • Enterobacter é um dos gêneros que possui o maior número de espécies. • São VP positivas, a maioria das cepas de todas as espécies são móveis e extremamente variáveis bioquimicamente. • As principais características diferenciais entre E. aerogenes, espécie LDC positiva, e K. pneumoniae são a motilidade e a produção de urease. • LDC, ODC e ADH são excelentes testes para triagem inicial das espécies de Enterobacter. • Outro gênero VP positivo, as culturas de Serratia em meio presuntivo de identificação são muito semelhantes as cepas de Salmonella sem H2S. • A maioria é LDC positiva, lactose negativa e produz pouquíssimo gás a partir da fermentação da glicose. • A DNase é um teste fundamental para a identificação de Serratia, e recomenda-se a utilização rotineiramente. • As cepas de Serratia são DNase, lipase e gelatinase positivas. A ausência da fermentação da arabinose e melibiose distingue a S. marcescens, espécie mais comum, das outras espécies de Serratia • Os gêneros Proteus, Morganella e Providencia caracterizam-se pela desaminação do triptofano. Diferente dos outros dois gêneros, o gênero Proteus invade a superfície de meios sólidos (swarming), é gelatinase e H2S positiva. • A urease é positiva para os gêneros Proteus, Morganella e Providencia rettgeri. O Proteus mirabilis é indol e maltose negativo e ODC positivo, enquanto que o Proteus vulgaris é indol e maltose positivo e ODC negativo. Kits de identificação LTD LAC H2S 4 2 1 7 GLI GÁS ORN 4 2 1 7 IND LIS MOT 4 2 1 CIT RAM 2 1 7 3 Resistência • Os microbiologistas devem estar alerta à possibilidade do aparecimento de Enterobacteriaceae resistentes a múltiplos antibióticos. Os mecanismos de resistência bacterianos podem ser intrínsecos (já presentes em todas as amostras de determinada espécie) ou adquiridos (devido à presença de mutações, aquisição de plasmídeos etc). Resistência • Dentre os mecanismos de resistência adquiridos mais freqüentes entre as enterobactérias, destacam-se os associados à resistência aos βlactâmicos, pela hiperexpressão de β-lactamases cromossômicas ou presença de β-lactamases de espectro ampliado (ESBL), às fluoroquinolonas, pelas mutações nos genes gyrA e parC, presença do gene qnr, e aos aminoglicosídeos, pela produção de enzimas que modificam estes agentes. Beta-lactamases • A resistência a alguns antimicrobianos, especialmente βlactâmicos, é freqüentemente encontrada em enterobactérias de infecções em pacientes hospitalizados. Amostras clínicas de enterobactérias, especialmente K. pneumoniae e E. coli, podem produzir uma enzima mediada por plasmídeos denominada ESBL, a qual hidrolisa penicilinas, cefalosporinas e monobactans. A prevalência da produção desta enzima em enterobactérias varia de acordo com a espécie e a região geográfica estudada; entretanto, em determinados centros médicos brasileiros as taxas de ESBL em E. coli e K. pneumoniae coletadas de bacteremias de pacientes hospitalizados podem alcançar aproximadamente 7% e 50%, respectivamente Beta-lactamases • As amostras bacterianas pertencentes aos gêneros Citrobacter, Enterobacter, Serratia, Morganella e isolados de Proteus vulgaris são reconhecidamente produtores de β-lactamases AmpC. Estas enzimas são codificadas pelo gene AmpC, e sua produção pode ser induzida quando estes isolados clínicos são expostos a agentes β-lactâmicos. A hiperprodução desta enzima pode acarretar hidrólise de cefalosporinas, como ceftazidima e ceftriaxona, ocasionando falência terapêutica durante tratamento com estes agentes. As cefalosporinas de quarta geração e os carbapenens são mais estáveis à hidrólise pela AmpC. Carbapenes • Isolados clínicos de enterobactérias resistentes à carbapenens já foram identificados no Brasil. Os mecanismos de resistência associados a alguns destes fenótipos foram caracterizados por laboratórios de referência em microbiologia, incluindo: • Enterobacter spp. resistentes a ertapenem: hiperprodução de AmpC e/ou produção de ESBLs; K. pneumoniae com susceptibilidade reduzida a imipenem e meropenem: produção de ESBLs associado a perda de proteína de membrana externa (porinas); • K. pneumoniae com resistência a imipenem e meropenem: produção de enzimas que degradam os carbapenens (carbapenemases), denominadas KPC; • K. pneumoniae com resistência a imipenem e meropenem: produção de enzimas que degradam os carbapenens, denominadas metalo-β-lactamases. ESBL • • • • • Os testes fenotípicos para ESBL devem ser utilizados para: Todos os isolados de K. oxytoca, K. pneumoniae e E. coli, independente do sítio de infecção; Isolados de Proteus mirabilis provenientes de sítios estéreis de infecção, como sangue e líquor; A partir da identificação destas espécies pelo laboratório de microbiologia, o perfil de sensibilidade (antibiograma) já contempla automaticamente testes para a possível presença destas enzimas. Estes testes, realizados pelos laboratórios de rotina, dividem-se em duas fases: testes de triagem e testes confirmatórios para ESBL. O CLSI preconiza que o teste de triagem seja realizado pelos métodos de disco difusão (ágar Müeller-Hinton-MHA) ou microdiluição em caldo (Müeller-Hinton caldo cátion ajustado-CAMHB). Teste de triagem para detecção de ESBL pelo método de disco difusão: • • • • • • • • • • Suspeita-se de cepa produtora de ESBL, quando são encontradas zonas de diâmetro referentes a: Para K. pneumoniae, K. oxytoca e E. coli: Cefpodoxima ≤ 17 mm; Ceftazidima ≤ 22 mm; Aztreonam ≤ 27 mm; Cefotaxima ≤ 27 mm; Ceftriaxona ≤ 25 mm. Para P. mirabilis: Cefpodoxima ≤ 22 mm; Ceftazidima ≤ 22 mm; Cefotaxima ≤ 27 mm. • Teste confirmatório para detecção de ESBL pelo método de disco difusão: • Todas as cepas produtoras de ESBL, apresentam aumento na zona de diâmetro na presença do ácido clavulânico. Confirma-se como ESBL o microrganismo que apresentar um aumento ≥ 5 mm na zona de diâmetro para um dos dois agentes antimicrobianos testados em combinação com o ácido clavulânico versus a zona de diâmetro de quando testado sozinho. Exemplo: Ceftazidima com zona de diâmetro igual a 16 mm e ceftazidima/ácido clavulânico com zona de diâmetro igual a 21 mm. Resultado: ESBL positivo ou cefotaxima com zona de diâmetro igual a 20 mm e cefotaxima/ácido clavulânico com zona de diâmetro igual a 26 mm. Resultado: ESBL positivo. Teste confirmatório recomendado pelo CLSI Teste de adição de Ác. Clavulânico Ácido Clavulânico • Preparar 1000 l de solução estoque (1 g/l) fresca ou congelada a –70°C • Adicionar 10 l desta solução sobre os discos de CAZ e CTX uma hora antes do teste • Comparar os resultados obtidos entre cefalosporinas sozinhas e com adição de ácido clavulânico Detecção de amostras produtoras de ESBL Disco-difusão dupla ou teste de aproximação Jarlier, 1988 CPM AMX/AC CRO/ CTX CAZ ATM Distância de 20 - 30 mm