UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS CIÊNCIAS ECONÔMICAS MBA EM GESTÃO DE NEGÓCIOS – ÊNFASE: ESTRATÉGIA E COMPETITIVIDADE JULIANA BALLIN SUZIN INOVAÇÃO TECNOLÓGICA COMO FATOR COMPETITIVO NA INDÚSTRIA CALÇADISTA São Leopoldo, julho de 2005 UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS CIÊNCIAS ECONÔMICAS MBA EM GESTÃO DE NEGÓCIOS – ÊNFASE: ESTRATÉGIA E COMPETITIVIDADE JULIANA BALLIN SUZIN INOVAÇÃO TECNOLÓGICA COMO FATOR COMPETITIVO NA INDÚSTRIA CALÇADISTA Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em administração de empresas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Orientador: Prof. Dr. Cláudio Reis Gonçalo São Leopoldo, julho de 2005 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que certa forma contribuíram para a conclusão desta pesquisa. Especialmente ao professor Cláudio Gonçalo que com toda sua sabedoria soube esclarecer minhas dúvidas e orientou todos os passos desta monografia. E a todas pessoas ligadas a Azaléia que cederam seu tempo e compartilharam suas experiências para a conclusão desta pesquisa. RESUMO O conceito de inovação tem desempenhado papel fundamental como forma de obter maior grau de competitividade nas empresas. Buscou-se neste trabalho avaliar como a inovação tecnológica está relacionada com a liderança de mercado no segmento de calçados esportivos no Brasil. Buscou-se aprofundar diferentes conceitos de inovação, possíveis estratégias que podem ser adotadas além da caracterização da dinâmica do P&D nas empresas. A pesquisa é um estudo de caso único tendo como unidade de análise a Calçados Azaléia S.A. Os dados foram coletados a partir de entrevistas realizadas com os principais executivos que são os responsáveis pela definição de estratégias e ações de inovação na empresa. A análise dos dados resultou em evidências que comprovam que a gestão da inovação relacionada à implementação de novos processos, produtos e serviços contribuem para a melhora efetiva da competitividade e também para a manutenção da liderança no segmento de calçados esportivos no Brasil. Palavras-Chave: Administração, Inovação, Tecnologia, Calçados, Competitividade. SUMÁRIO INTRODUÇÃO..................................................................................................6 1 A EVOLUÇÃO DO CALÇADO ESPORTIVO.............................................8 2 O PROCESSO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA......................................10 2.1 Os Modelos de Inovação Tecnológica........................................................12 2.2 Gestão da Inovação de Bens e Serviços .....................................................15 2.3 Ciclo de Vida de um Produto .....................................................................16 2.3.1 O ciclo de vida de produtos em empresas líder de mercado ..............18 3 INOVAÇÃO E TECNOLOGIA NAS EMPRESAS ......................................20 3.1 Estratégia de Inovação Tecnológica ...........................................................21 3.1.1 Estratégia Ofensiva ..........................................................................22 3.1.2 Estratégia Defensiva ........................................................................22 3.1.3 Estratégia Imitadora .........................................................................23 3.1.4 Estratégia Dependente......................................................................24 3.1.5 Estratégia Tradicional ......................................................................24 3.1.6 Estratégia Oportunista......................................................................24 3.2 Pesquisa e Desenvolvimento......................................................................25 4 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA ............................................................28 5 O ESTUDO DE CASO: A OLYMPIKUS ......................................................30 5.1 O Mercado de Tênis no Brasil ...................................................................30 5.2 A Olympikus .............................................................................................32 5.3 A Gestão da Inovação................................................................................35 5.4 O Desenvolvimento de Produtos................................................................37 5.5 Estratégias de Inovação Tecnológica .........................................................39 5.5.1 Ciclo de vida dos produtos ...............................................................39 5.5.2 Democratização da Tecnologia ........................................................41 5.5.3 Concorrência....................................................................................41 5.6 Conclusões ................................................................................................43 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................44 REFERÊNCIAS.................................................................................................46 ANEXO A – QUESTIONÁRIO DA ENTREVISTA ........................................48 INTRODUÇÃO Com a abertura da economia brasileira, a partir de 1990, as empresas engajaram-se num movimento rápido de conquista de padrões internacionais de competitividade. Na última década, segundo Utterback (1983), a produtividade da indústria aumentou em 44% e a implantação de métodos de Gestão da Qualidade alastrou-se pelas empresas dos vários setores da economia. O número de certificações de empresas de acordo com normas baseadas em critérios de padrões de qualidade internacionais aumentou diante da média mundial. Esses resultados foram obtidos graças à adoção, pelas empresas, de estratégias de ajuste competitivo centradas na redução de custos de produção e de administração, cujos resultados manifestamse rapidamente, embora em incrementos cada vez menores. Frente a essa situação novas estratégias competitivas tiveram de ser adotadas para sustentar o crescimento da produtividade no Brasil. Dentre elas, a inovação tecnológica passou a exercer um papel de importância sem precedentes no ambiente empresarial brasileiro. A compreensão da dinâmica da inovação tecnológica atrai cada vez mais a atenção de executivos. Muito terá de ser feito para se aprofundar a compreensão do processo de inovação e para se desenvolverem competências em gestão tecnológica. Os investimentos empresarias em pesquisa e desenvolvimento ainda são muito modestos diante do processo de integração internacional de nossa economia. A mudança tecnológica tanto poderá ser uma 7 força criativa na renovação e no crescimento das empresas – para aquelas que a dominam como poderá exercer ação destrutiva sobre aquelas menos competentes que seus concorrentes. Logo, o presente estudo tem como objetivo identificar como a inovação tecnológica levou a Calçados Azaléia a liderança de mercado no ramo de calçados esportivos no Brasil. O trabalho está estruturado em seis capítulos sendo que no primeiro será descrito e contextualizado a evolução do calçado esportivo ao longo da história enfatizando a sua trajetória e desenvolvimento. No capítulo seguinte serão apresentados conceitos sobre inovação tecnológica descrevendo seus principais modelos segundo a visão de alguns autores além de abordar a dinâmica da gestão de bens e serviços. O terceiro capítulo visa caracterizar as diferentes estratégias que podem ser adotadas pelas empresas no que tange a gestão da inovação tecnológica além de caracterizar a Pesquisa e Desenvolvimento e sua contribuição para a evolução da inovação. No quarto capítulo será apresentado os procedimentos de pesquisa utilizados no presente estudo. Visando a análise empresarial, no quinto capítulo será feito a descrição e análise da empresa a partir das entrevistas aplicadas levantando dados sobre o posicionamento da mesma em relação à inovação tecnológica e suas estratégias de pesquisa e desenvolvimento além de apresentar a conclusão sobre a pesquisa. Para finalização do trabalho o sexto capítulo terá as considerações finais sobre a pesquisa 1 A EVOLUÇÃO DO CALÇADO ESPORTIVO O calçado esportivo ao longo dos anos vem sofrendo adaptações e observa-se maior desenvolvimento de novas tecnologias neste segmento em comparação a outros segmentos de calçados. Diante deste fato, torna-se relevante o estudo da criação e evolução deste artefato desde sua criação até a atualidade. A seguir será descrita a trajetória dos calçados esportivos sintetizada pelo estudo de mercado realizado pela Gazeta Mercantil (2000). Em 1839, foi descoberta nos EUA, a fórmula de preservação da borracha. Era o processo de Vulcanização, inicialmente utilizado por Charles Goodyear para melhorar a qualidade dos pneus que sua empresa fabricava. Algumas indústrias de calçados começaram então a substituir seus solados de couro pelos de borracha. Os novos calçados rapidamente passaram a ser usado pelas classes mais abastadas dos Estados Unidos em seus jogos de críquete. O novo calçado, também conhecido como Sneaker, teve seu couro substituído por tecido. Com um preço mais acessível, o Sneaker era vendido em lojas de departamentos e logo se tornou popular. Ao mesmo tempo, passou a ser usado pelas mulheres e também nas quadras de tênis. Em 1908 foi fundada por Marquis M. Converse a primeira fábrica de tênis para esportes, desenvolvendo modelos específicos para o basquete, inclusive com o desenho de solados adequados a este esporte. Em 1917 o tênis passou a ser conhecido como “Keds”, quando a empresa de mesmo nome, nos Estados Unidos, lançou o tênis de cano alto. 9 Em 1920 tenistas americanos utilizaram este tipo de calçado e assim passou a ser conhecido como “tennis shoes” ou simplesmente, tênis. Neste ano surge também o primeiro calçado de corrida do mundo criado por Adolph Dassler. A grande aceitação do tênis ocorreu em 1969, com o movimento dos jovens. Na década de 70, o solado sofreu grandes avanços. Desenvolveram-se os solados de poliuretano e solas compostas para uso em tênis destinados a caminhadas e corridas. Nos anos 80, o tênis entrou para a era da tecnologia mais avançada, com o desenvolvimento de materiais específicos para cabedal, como laminados, telas, lonas, peças pré-moldadas em PVC, EVA e PU. Também foram desenvolvidos modernos componentes internos como palmilhas e forros flocados. O marco maior ficou para os solados, com a inclusão do amortecedor e impulsionador de movimentos. A década de 90 iniciou com o tênis no centro das atenções. O uso de ligas de carbono, alumínio, desenhos sofisticados, inovações no sistema de ajuste do calçado ao pé e solados com muitos recursos tornam o tênis um bem de consumo. O que antes era um calçado de borracha e tecido é hoje um mundo de tecnologia aos pés dos consumidores. Materiais, desenho, funções, tudo amadurece com cuidado nas pranchetas dos seus criadores. As marcas que dominam o mercado mundial de tênis hoje são a norte americana Nike, e a também norte americana, mas de origem inglesa, Reebok e as alemãs Adidas e Puma, todas com o faturamento mundial acima de US$ 1 bilhão por ano. No caso da Nike, líder mundial, seu faturamento já alcança quase US$ 15 bilhões. 2 O PROCESSO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA O principal agente de mudança no mundo atual é a inovação tecnológica. Observa-se que o progresso econômico e social dos diversos países e o êxito das empresas, principalmente industriais, dependem da eficiência e da eficácia com que o conhecimento é produzido, transferido, difundido e incorporado aos produtos e serviços. De acordo com Fernandes (2003), o processo pelo qual uma idéia, invenção, informação ou conhecimento é transportado para a economia, ou seja, o trajeto que vai desde a concepção, fazendo uso das tecnologias existentes ou buscadas para tanto, passa pela criação de um novo processo ou produto e conclui-se com a disponibilização para o consumo ou uso denomina-se inovação. O resultado do processo de inovação é a agregação de valor ao produto, ou ao processo produtivo ou de gestão. Segundo Schumpeter (1961) o conceito de inovação tecnológica contempla cinco casos: • introdução de um novo bem, que os consumidores não conhecem, ou de uma qualidade nova do bem; • introdução de um novo método de produção, ainda não testado no meio industrial em questão, que tenha sido baseado em uma nova descoberta científica e que possa constituir-se em um novo modo de manusear comercialmente um bem; 11 • abertura de um novo mercado, em que o ramo da indústria em questão não tenha penetrado, mercado este preexistente ou não; • conquista de uma nova fonte de fornecimento já existente, ou a ser criada e, • levar a cabo uma nova organização, uma indústria, tal como criar ou romper uma posição de monopólio. Alguns estudos apresentam a inovação como uma criação original, uma novidade; outros estudos a apresentam como algo tangível, possível de ser aplicado no mercado ou num processo de produção; e outros estudos ainda apresentam uma abordagem mercadológica para diferentes classes de utilizadores. Procurando incorporar estas diferentes visões, Utterback (1983) propõe que a inovação tecnológica seja entendida como um processo que envolve a criação, o desenvolvimento, o uso e a difusão de um novo produto ou idéia ou, resumidamente, a introdução e difusão de produtos e processos novos e melhorados na economia. Segundo Drucker (1998), a inovação não é invenção, nem descoberta. Ela pode requerer qualquer das duas – e com freqüência o faz. Mas o seu foco não é o conhecimento, mas o desempenho – e numa empresa isso significa desempenho econômico. A inovação é aplicável à descoberta do potencial do negócio e à criação do futuro. Mas sua primeira aplicação é como estratégia, para tornar o dia de hoje plenamente eficaz e para levar a empresa existente para mais perto do ideal. Discorrendo ainda nesta dimensão, o Manual de Oslo (OECD,1997) define que inovações tecnológicas incluem novos produtos, processos, serviços e também mudanças tecnológicas em produto, processos e serviços existentes. Uma inovação é implementada se for introduzida no mercado (inovações de produto) ou ser for usada dentro de um processo de 12 produção (inovação de processo). Inovações envolvem então uma série de atividades científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais. 2.1 Os Modelos de Inovação Tecnológica Pode-se considerar que um processo de inovação só se completa quando novos conhecimentos estiverem definitivamente incorporados em produtos, serviços, processos produtivos, técnicas de gestão e orientações estratégicas. A inovação é sempre uma atividade complexa e constituída de várias etapas, das quais participam diversos agentes com diferentes papéis. No caso das inovações tecnológicas na percepção de Barbieri et al (2003), esse processo vai desde a percepção de um problema ou oportunidade, técnica ou mercadológica, até a aceitação comercial do produto, serviço ou processo que incorpore as soluções tecnológicas encontradas. Em resposta as interações dessa diferentes variáveis foram sendo concebidos diferentes modelos de inovação, dos quais os mais importantes serão comentados seguir. Um modelo de inovação conhecido como linear proposto pela OECD (1997) engloba a inovação como o resultado de um processo de geração de conhecimentos que vai desde a pesquisa básica, que é um modo de produzir conhecimentos científicos, até a sua aplicação prática. Ou seja, a inovação é induzida pela oferta de conhecimentos, daí porque esse modelo é conhecido como modelo ofertista (ver figura 1). Pesquisa básica Pesquisa aplicada Desenvolvimento experimental Figura 1: Modelo Linear ou Modelo Ofertista Fonte: OECD, 1997 Engenharia do produto e do processo Produção e lançamento comercial 13 Outro modelo de inovação proposto é completamente diferente do primeiro, denominado modelo linear reverso, no qual a inovação é induzida pela necessidades do mercado ou problemas operacionais observados nas unidades produtivas; por isso ele é conhecido como demanda puxada (ver figura 2). Necessidades operacionais e de mercado Geração de idéias Desenvolvimento da idéia Engenharia do produto e do processo Produção e lançamento comercial Figura 2: Modelo Linear Reverso ou Demanda Puxada Fonte: OECD, 1997 Afirma Barbieri et al (2003) que oprimeiro modelo está correto desde que os fatores tempo e lugar não sejam considerados, pois as inovações sempre irão se beneficiar da acumulação de conhecimentos gerados pela pesquisas científicas onde quer que elas tenham sido feitas, desde que seus resultados tenham sido publicados. Sob a ótica da inovação o segundo modelo também está correto porque para o inovador não importa de onde vêm os conhecimentos necessários para atender suas necessidades, seja da pesquisa científica , de conhecimento empírico, conhecimento próprio ou adquirido de terceiros. Considerando que os dois modelos apresentados acima estão corretos, o autor citado acima afirma que ainda assim são insuficientes para explicar o que ocorre no âmbito das empresas das empresas no que concerne aos seus processos de inovação. Por outro lado, eles dão a idéia de que as inovações resultam de processos lineares, o que não condiz com a realidade. Para tentar explicar melhor a dinâmica da inovação, Rothwell (1992) apresenta um modelo de processo que procura incorporar estas duas concepções postas; embora denominado modelo de terceira geração, sua origem é bem anterior, podendo ser encontrado 14 outros autores. Esse modelo tem o mérito de mostrar que inovação é um processo que articula as necessidades da sociedade e do mercado com os avanços dos conhecimentos científicos e tecnológicos. A haste inferior da figura indica que as inovações se beneficiam da acumulação de conhecimento proporcionada pelas pesquisas, enquanto que a haste superior mostra que a inovação procura atender as necessidades da sociedade. Verifica-se que esse modelo combina o modelo de oferta de conhecimentos com o de demanda da sociedade: o primeiro empurra o conhecimento e o segundo puxa as atividades necessárias para realizar uma inovação tecnológica específica (ver figura 3). Nova necessidade Geração de idéias Nova tecnologia Necessidades da sociedade e do mercado P&D e Design Protótipo Manufatura Marketing e Vendas Mercado Estado da arte da tecnologia e da produção Figura 3: Modelo de Inovação de Terceira Geração Fonte: Rothwell, 1992 Kline (1978) desenvolveu um modelo semelhante, porém enfatizando as interações entre as diferentes fases do processo, como mostra a figura 4. Na base está o que o autor denomina cadeia de inovação, formada pela vinculação entre necessidades de mercado, invenção ou projeto analítico projeto detalhado e este, reprojeto e execução. Distribuição e mercado. As linhas interrompidas entre os elementos dessa cadeia mostram que as etapas não possuem limites rígidos. As setas cheias dentro da cadeia central mostram o caminho típico do modelo linear; as setas interrompidas, os feedbacks essenciais no processo de inovação. 15 Figura 4: Modelo de Kline principais conexões Fonte: Kline, 1978 Este modelo mostra que as relações entre as pesquisas científicas e tecnológicas e os processos de inovação se dão em todos os sentidos e com todos os elementos da cadeia de inovação. Esse modelo, embora mais fiel à realidade das inovações, ainda deixa a desejar, pois as atividades são apresentadas independentemente dos agentes, e nada nos informa sobre a organização interna da empresa inovadora. Em decorrência deste enfoque observa-se que todos os modelos aqui apresentados aqui se caracterizam por considerar as inovações como resultados de um esforço coletivo geral, e por isso podem ser considerados macromodelos explicativos. 2.2 Gestão da Inovação de Bens e Serviços O Manual de Oslo publicado pela OCDE (1997) define – “inovação tecnológica de produto ou processo compreende a introdução de produtos ou processos tecnologicamente novos e melhorias significativas em produtos e processos existentes”. A partir desse conceito nota-se que empresa que deseja alcançar e manter uma posição competitiva em mercados globalizados deve realizar desenvolvimento próprio. Este 16 tem o objetivo de obtenção de diferencial competitivo, portanto deve visar, primordialmente a inovação de produto ou de processo produtivo. Barbieri et al (2003) classifica os diferentes tipos de inovação: as inovações podem ser de tal ordem que originem produtos ou processos totalmente novos. As aplicações de uma tecnologia emergente, ou uma combinação original de tecnologias conhecidas que criam produtos ou processos totalmente novos são denominadas inovações radicais. Estas dão partida a novos produtos e seus respectivos ciclos de vida. Já em outros produtos ocorrem pequenas inovações que melhoram o desempenho ou introduzem novas funcionalidades no produto ou no processo, não criam um novo produto; enquadra-se no tipo de inovação tecnológica denominada incremental. 2.3 Ciclo de Vida de um Produto O lançamento do produto segundo Fernandes (2003), equivale à emissão da sua certidão de nascimento e por analogia com o mundo animal, tem início o seu ciclo de vida. Ou seja, os produtos são lançados, vivem as fases de crescimento e maturidade, entram em declínio e morrem ao serem descontinuados. Uma das responsabilidades da empresa é a gestão do ciclo de vida de cada um dos produtos de seu portfólio. Os principais gestores são as áreas comercial e tecnológica. Nesta mesma linha Utterback (1983) descreve o ciclo de vida de um produto por intermédio do volume de vendas ou fluxo de caixa ao logo do tempo, desde o seu lançamento até a sua obsolência e retirada do mercado. O modelo típico do ciclo de vida de um produto em função do volume de vendas e do fluxo pode ser observado na figura 5. 17 Volume de vendas Fluxo de caixa 1 2 3 4 FASES 1 lançamento, 2 crescimento 3 maturidade, 4 declínio Figura 5: Ciclo de Vida de um Produto Fonte: Utterback, 1983 Fase de lançamento de um produto: é o período de mais alto risco do ciclo de vida de um produto. Durante esta fase é importante observar o mercado e a reação dos clientes para poder introduzir melhorias ou modificações no produto, e, assim permitir melhor desempenho das vendas por aumento do volume de clientes. Essa fase deve ser acompanhada e analisada quanto aos seus fundamentos tecnológicos e comerciais. Fase de crescimento: A curva do volume de vendas e de fluxo de caixa têm comportamento fortemente ascendente nesta fase, pois o produto venceu a barreira de acesso ao mercado. O maior volume de vendas estimula o ingresso de outras empresas, como as redutoras de custo. Surge, em conseqüência o movimento de padronização do produto pelo mercado, e do processo produtivo. Normalmente, nesta fase, surgem inovações incrementais melhorando o desempenho do produto, introduzindo novas funcionalidades ou reduzindo os custos do processo produtivo. Cada empresa diferenciará seu produto aos olhos do mercado, ao menos no preço. É hora de começar a pensar no novo produto que irá substituir o lançado. 18 Fase de maturidade: com a oferta de produtos similares por várias empresas, as vendas ainda crescem por algum tempo, mas menos pronunciadamente que o observado até então, é a fase madura do produto. O aumento do número de competidores induz forte redução nos preços, em conseqüência, normalmente, as líderes iniciam sua retirada deste mercado. Nesta etapa as inovações são somente incrementais, visando a introdução de pequenas melhorias no produto ou a redução dos custos de produção. Nesta fase deve ser analisada a curva de investimento do produto, verificando se as vendas amortizaram ou não os investimentos realizados e se a margem de lucro projetada foi alcançada. Fase de declínio: A segmentação e o grande número de competidores do mercado induzem a estabilização do volume de vendas. Este cenário, provoca a saída do líder, pois este não tem condições de competir em mercado sensível a preço, em virtude dos custos da sua estrutura de desenvolvimento tecnológico. Por ocasião do lançamento sucedâneo, com significativas características inovadoras, tem início o declínio das vendas do produto. O destino é a morte do mesmo. Portanto conclui-se que gestão do ciclo de vida do produto é uma das funções fundamentais da empresa, caso contrário seus produtos fenecem sem que tenham outro para substituí-lo. Iniciar tardiamente as ações de inovação pode implicar em ser retardatária no novo mercado, não sendo mais possível recuperar o mercado perdido. A gestão do ciclo de vida é um processo que requer a participação das áreas comercial e tecnológica da empresa. 2.3.1 O ciclo de vida de produtos em empresas líder de mercado Observa-se que a condição de ser líder de mercado concede a vantagem temporária do monopólio a cada lançamento. Normalmente a líder cria a demanda para os produtos que lança, dando partida ao ciclo de vida do novo produto. 19 Segundo Fernandes (2003) essa posição requer grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento para ser obtida e mantida. Freqüentemente, essa posição implica em grande proximidade ao estado da arte, impondo ênfase em pesquisa aplicada e até mesmo em pesquisa básica, como ocorre em segmentos competitivos e intensivos em tecnologia. Observa-se as tecnologias relevantes de uma líder são emergentes, e normalmente suas inovações são radicais, quebrando paradigmas, torna-se difícil prever a direção das mudanças decorrentes de sua aplicação nos produtos. Este cenário de baixa estabilidade, face as rápidas mudanças tecnológicas e mercadológicas, aumenta a vulnerabilidade da empresa. Acrescenta-se isto o fato de serem muito relevantes a inovação constante e o pioneirismo. Por isso, o controle das atividades de pesquisa converte-se em tarefa difícil e , normalmente, preterida em favor da tempestividade da inovação. Assim, a gestão dos custos dos projetos de inovação contribui para aumentar a vulnerabilidade empresarial. Este cenário de grande risco técnico e comercial segundo o autor citado acima, só pode ser compensado durante o período de vigência do monopólio. A líder, também, deve dispor de massa crítica, destacada competência específica e excelente governança, que a permitam absorver os prejuízos do fracasso e, rapidamente, voltar a condição de liderança. Pode-se considerar que não são muitas as empresas que podem almejar a posição de líder, pois os volumes de investimentos necessários crescem a todo dia e é cada vez mais amplo o leque de conhecimentos e competências específicas requeridos. Neste cenário, uma forma utilizada para uma empresa obter massa crítica necessária para galgar ou manter a liderança, em um setor, tem sido a fusão, a aquisição ou a aliança todavia estes tópicos não serão aprofundados porque não são o foco do presente estudo. 3 INOVAÇÃO E TECNOLOGIA NAS EMPRESAS Em todos os processos empresariais o conhecimento e a tecnologia estão presentes. Desde os relacionados com a concepção dos produtos, passando pela produção e a gestão empresarial e distribuição. Observa-se que a inovação envolve não só conhecimentos teóricos ou práticos num plano estritamente tecnológico como também conhecimentos nas áreas de marketing e na área da gestão das organizações. Segundo Hill (1983), a inovação tecnológica envolve mudanças no universo de conhecimentos tecnológicos prévios, pelo que se considera o conceito de inovação tecnológica como: “um metaconceito de tecnologia, no sentido em que se diz respeito a alterações na base de conhecimentos tecnológicos da empresa”. Utterback (1983) afirma que os estudos sobre a inovação e a sobrevivência das organizações mostram que existe uma fase inicial de crescimento do número de empresas em determinado segmento industrial, passando por um máximo a partir do qual começa a decrescer até estabilizar-se num pequeno número de empresas. Na primeira fase, chamada de experimentação, evidencia-se a entrada de um número crescente de organizações disputando o mercado, até que uma, ou um pequeno grupo delas, consegue sobressair-se por meio de uma 21 inovação que proporciona o domínio de mercado. A partir daí, as demais empresas começam a perder mercado e a desaparecer, numa chamada fase de dominação, em que só se mantém as que conseguirem inovar. 3.1 Estratégia de Inovação Tecnológica O estudo da estratégia tecnológica da empresa é reconhecidamente relevante para o sucesso nos negócios. Na economia global extremamente competitiva dos dias de hoje, a fatia de mercado é determinada por seis variáveis críticas segundo Reis (2003): produtividade, qualidade, preço, flexibilidade, tempo apropriado e marketing. A tecnologia é a principal impulsionadora das primeiras quatro, e torna-se cada vez mais importante para o tempo apropriado e para o Marketing. Para Freeman (2000), a necessidade de a empresa desenvolver uma estratégia tecnológica eficiente é extremamente importante. Entretanto, não existem fórmulas gerais prontas para isso e, na prática, poucas empresas chegam a desenvolver tais estratégias. As estratégias das empresas, em termos de inovação, não se definem de forma isolada, dependendo fortemente dos elementos que configuram as estruturas de mercado e os padrões de concorrência, além dos fatores de alcance mais amplo, tais como os relativos ao ambiente nacional e as política públicas. Freeman (2000) tenta sistematizar estas estratégias descrevendo basicamente seis tipos distintos de estratégias, que revelam escolhas muito diferentes entre si, a partir de objetivos mais ou menos arrojados, que definem certos padrões de comportamento em relação às atividades de inovação. Algumas características dessas estratégias são apresentadas a seguir: 22 3.1.1 Estratégia Ofensiva Esta estratégia pode ser usada por um número muito pequeno de empresas onde as mesmas procuram uma posição de liderança técnica e de mercado e tem iniciativa de inovar e de disputar com as suas concorrentes e podem apresentar as seguintes características: • o departamento de P&D da empresa tem uma importância fundamental, mesmo quando recorre a outras fontes técnicas e científicas, porque as informações necessárias nunca estão plenamente disponíveis; • as empresas de pequeno porte estão entre as que mais apresentam essa característica de inovação ofensiva. É possível que essa presente marcante das pequenas empresas tenha relação com a resistência e a incapacidade das grandes empresas de adotarem estratégias ofensivas; • em um ambiente de estratégia ofensiva a empresa tem vantagens e mais facilidades para desenvolves pesquisa fundamental orientada, embora isso não apresente uma regra geral e; • a empresa tende a contratar técnicos muito bem qualificados e até mesmo cientistas e valoriza muito o sistema de patentes com a finalidade de resguardar o segredo industrial. 3.1.2 Estratégia Defensiva Este tipo de estratégia é bastante identificada em mercados que predominam oligopólios e normalmente apresentam as características citadas abaixo: • as empresas normalmente não estão relacionadas aos tipos mais originais de inovação além estratégia da empresa prender-se mais ao fato de aproveitar-se de eventuais 23 erros dos pioneiros, bem como o desejo de não ficar defasada em termos de mudanças técnicas; • essas empresas também realizam atividades de pesquisa e desenvolvimento, no entanto, diferem das de estratégia ofensiva quanto à natureza e ai ritmo da introdução de inovações; • a atividade de P&D realizadas por essas empresas fazem com que elas reúnam capacidades de resposta e de adaptação às inovações introduzidas pelas concorrentes; • as empresas procuram a diferenciação de seus produtos, incorporando avanços técnicos, porém a custos inferiores; • as empresas utilizam as patentes como meio para enfraquecer a posição e a liderança técnica dos pioneiros e; • as empresas desse tipo também contratam recursos humanos de elevada qualidade técnica e científica. 3.1.3 Estratégia Imitadora As empresas enquadradas nessa característica não disputam posições com os líderes, limitando-se a acompanha-los à distância. Em alguns casos, aspiram a converterem-se em inovadores defensivos apresentado as características abaixo: • a procura pelo mercado pode provocar mudanças substanciais no seu produto; • essas empresas adquirem patentes secundárias como subproduto de suas atividades e de modo geral possuem uma forte capacidade de engenharia e de desenho de produção; 24 • normalmente essas empresas se apóiam em custos mais baixos de produção ou em vantagens organizacionais e; • a informação consiste num item fundamental para a decisão do que imitar e das fontes de aquisição de Know How. 3.1.4 Estratégia Dependente As empresas que adotam essa estratégia são normalmente empresas subcontratadas que respondem às flutuações que afetam as empresas de maior porte além de tratar-se de empresas basicamente rotineiras e conservadoras 3.1.5 Estratégia Tradicional As estratégias adotadas pelas empresas diferenciam-se da dependência apenas pela natureza de seus produtos. Devido a este fato, nem o mercado, nem a concorrência empurram empresas para mudar o seu produto. 3.1.6 Estratégia Oportunista Enquadram-se nesse tipo as empresas que sobrevivem em espaços de mercado muito específicos e particulares, aos quais aderem completamente. 25 3.2 Pesquisa e Desenvolvimento Observa-se nas empresas que a pesquisa e desenvolvimento torna-se o maior vetor de inovação e tecnologia nas empresas. Desta forma, quanto mais intensiva em inovação as empresa se tornam maiores serão seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Ao tratar desse tema, Roussel (1991) define que o desenvolvimento de um projeto de P&D é um conjunto de atividades muito complexas que envolvem um alto grau de incertezas quanto às suas perspectivas e aos múltiplos fatores que influenciam estas incertezas. Trata-se, portanto de um processo extremamente interativo, onde as decisões sobre o seu andamento são permanentes. Para entender melhor a dinâmica da pesquisa e desenvolvimento se faz necessário compreender o ciclo de vida das tecnologias bem como os tipos existentes de P&D. De acordo com o autor acima o ciclo das tecnologias estão definidos da seguinte forma: Tecnologias emergentes: são aquelas em que os trabalhos de P&D visam uma inovação em termos de um produto inédito para o mercado e têm como atividades principais a descoberta de seus dados fundamentais, tais como características físicas e químicas, usos, bem como do seu processo de produção como, matérias primas, etapas e reações, subprodutos, rendimentos etc. Quanto ao mercado, são pesquisados os clientes em potencial, usos, produtos concorrentes, utilização de subprodutos, preços, canais de comercialização etc. Tecnologias em crescimento: são aquelas que estão procurando se fixar no mercado e aquinhoar maiores parcelas, em geral, substituindo produtos em uso ou, mais raro, atendendo uma demanda ainda não satisfeita por nenhum produto. As atividades de P&D se caracterizam pelo aperfeiçoamento dos produtos e respectivos processos de produção e utilização de subprodutos. Nesta fase, é gerado o maior número de inovações que se relacionam ao produto e ao processo, que são agregadas à tecnologia. 26 Tecnologias na maturidade: são aquelas que já conquistaram o seu mercado e que vão agregando inovações, que visam elevar sua eficiência para mantê-las competitivas. Estes desenvolvimentos visam, principalmente, o processo produtivo, com o objetivo de redução de custos, economia de energia etc, para baixar o preço do produto como forma de enfrentar a concorrência. Tecnologias em declínio: são aquelas que já esgotaram todo o seu potencial de desenvolvimento e seus produtos estão caindo em desuso. As atividades de P&D, quando empreendidas, visam buscar uma sobrevida que permita a permanência no mercado por mais algum tempo. Estas atividades buscam, principalmente, usos alternativos para os seus produtos ou a adaptação a algum mercado focalizado, em função de alguma característica de consumo. O tipo de P&D está relacionado à natureza das atividades empreendidas na empresa. Roussel (1991) classifica os tipos de P&D e estão divididos em: Fundamental: criação de novos conhecimentos para a empresa e provavelmente para o mundo, visando ampliar e aprofundar a percepção sobre uma determinada área técnica ou científica de interesse para a empresa, aplicação comercial imediata incerta. Dependendo da aplicabilidade, poderá propiciar ganhos altíssimos pelo pioneirismo. Baixos investimentos. Altíssimo risco. Radical: desenvolvimento de novos conhecimentos técnicos para a empresa, possivelmente para o mundo, tendo uma finalidade comercial específica. Os investimentos são de médio a elevados. Os riscos são elevados e as possibilidades de ganho são elevadas. Incremental: Exploração hábil do conhecimento técnico existente, com o objetivo de melhorar características de produtos e rendimentos de processos. Estratégicamente tem o 27 objetivo de manter os produtos e processos competitivos. Os investimentos em geral são elevados. Os riscos são baixos e os ganhos relativos também são baixos. Considerando-se o ciclo de vida, pode-se verificar que a pesquisa fundamental é própria das tecnologias emergentes, a pesquisa radical é própria das tecnologias em crescimento, a pesquisa incremental é própria da tecnologia de maturidade. Para as tecnologias em declínio podem ocorrer qualquer das atividades de P&D, com maiores chances de sucesso pelas radicais. Numa visão geral, quanto mais próximos da maturidade está a tecnologia, menores são as incertezas a ela relacionados e menores são os prazos para obtenção de resultados. Da mesma forma são avaliados os impactos que um projeto de P&D pode causar em uma tecnologia, quando relacionados à natureza da P&D. Fundamental: impacto muito grande, com potencial para mudar as bases para a competição tecnológica Radical: grande, incorpora produtos e processos diferenciados às empresas líderes Incremental: Pequenos, mas essenciais para a manutenção da competitividade da empresa. 4 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA Este capítulo apresenta os procedimentos de pesquisa para a investigação na organização conforme o referencial teórico proposto com vistas a apresentar as estratégias que foram desenvolvidas neste trabalho. Objetivando contextualizar a importância da inovação tecnológica na Calçados Azaléia S.A para a obtenção da liderança de mercado no segmento de calçados esportivos, a presente pesquisa terá como escopo a investigação do processo de inovação tecnológica da empresa. Aprofundando o estudo, também será observado como ocorre a gestão e o ciclo de vida do portfólio de produtos. Com base nas entrevistas aplicadas ainda será investigado a estratégia de inovação adotada pela empresa para então analisar qual é a importância da inovação de produtos para a manutenção da liderança de mercado nacional no segmento de calçados esportivos. A pesquisa será qualitativa do tipo estudo de caso realizado através da análise de um único caso. “O estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos. O estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas pelas pesquisas históricas, mas acrescenta duas fontes de evidências que usualmente não são 29 incluídas no repertório de um historiador: observação direta e série sistemática de entrevistas” (Yin, 2001 p. 27). A estratégia de pesquisa será exploratória onde os dados coletados apresentarão um conjunto de dados a serem avaliados não apresentando um conjunto simples e claro de resultados e desta maneira não poderão ser generalizados por se tratar de dados específicos desta unidade de análise. Segundo Yin (2001) quando a base de conhecimento existente é deficiente, e a literatura disponível não fornece nenhuma estrutura ou hipótese conceptual digna de nota ou mesmo quando essa base de conhecimento não se presta ao desenvolvimento de boas proposições teórica, é provável que um novo estudo empírico caracterize-se como sendo um estudo exploratório. A coleta de dados será efetuada através de consulta a documentos da empresa, pesquisas de mercado e revistas especializadas além da própria percepção do pesquisador na observação do ambiente de trabalho. Serão realizadas entrevistas em profundidade no setor de P&D da empresa com quatro principais executivos que são os responsáveis pela definição de estratégias e ações de inovação. Para obter maior compreensão das estratégias da empresa em relação à pesquisa e desenvolvimento será entrevistado também um executivo da área comercial para se ter a percepção da congruência das estratégias de marketing e inovação tecnológica. “As entrevistas constituem uma fonte essencial de evidências para os estudos de caso, já que a maioria delas trata de questões humanas. Essas questões deveriam ser registradas e interpretadas através dos olhos de entrevistadores específicos, e respondentes bem-informados podem dar interpretações importantes para uma determinada situação. Também podem apresentar atalhos para se chegar à histórias anterior da situação, ajudando-o a identificar outras fontes relevantes de evidencias” (Yin, 2001 p.114) 5 O ESTUDO DE CASO: A OLYMPIKUS 5.1 O Mercado de Tênis no Brasil O mercado de tênis se divide em três seguimentos dividido em diferentes faixas de preço: marcas premium, marcas nacionais e o dos produtos sem marca, Ibope (2004): Figura 6: O Mercado Brasileiro de Tênis Fonte: Ibope, 2004 Marcas Premium: é o segmento dos produtos vendidos com preços acima de R$100,00 representando 7% dos pares vendidos no Brasil. As marcas que dominam esta faixa de mercado são marcas internacionais como Nike, Reebok e Adidas. 31 Marcas Nacionais: este é o segmento médio do mercado brasileiro. São tênis vendidos por preços entre R$ 49,00 e R$ 99,00, que representam atualmente 38% do total de pares vendidos atualmente. Essa faixa de mercado é, predominantemente, ocupadas por marcas nacionais, como Oympikus, Rainha, Toper e Penalty, mas está também sendo disputada por marcas internacionais que ambicionam maiores fatias de mercado, com preços mais adequados ao padrão médio do mercado de consumo de tênis, como Reebok, Diadora e Mizuno, Sem marca: nas condições competitivas atuais, dificilmente empresas que buscam algum valor de marca oferecem produtos na faixa de preço baixo de R$ 50,00. Esse segmento é ocupado por produtos chineses sem marca, tênis com marca própria dos grandes varejos e outros ofertantes de produtos com materiais de segunda linha, sem condições para a prática de esportes. A seguir a figura 7 e a tabela 1 mostram a evolução do mercado brasileiro de tênis no segmento de marcas nacionais nos últimos dois anos em relação a volume de pares, valor segundo o estudo do Ibope (2004). 32329 2003 32354 2004 Figura 7: Evolução do mercado brasileiro de tênis Fonte: Ibope, 2004 1.305.027 2003 1.470.785 2004 32 Tabela 1: Situação Competitiva - Brasil ! " "% ! " &' "% & !() + , ## - $ $$ * #* Fonte: Ibope, 2004 5.2 A Olympikus A Olympikus nasceu de um problema de sazonalidade de produção de calçados femininos que a Calçados Azaléia S.A enfrentava todos os anos. Devido à troca das estações, a indústria gaúcha ficava sem pedidos nos meses de janeiro, fevereiro, junho e julho. A preocupação era em encontrar um produto que preenchesse esses vazios de produção. Como naquela época o governo militar brasileiro acabara de instituir a educação física obrigatória nos colégios, abria-se um forte mercado consumidor de tênis. O então diretor-presidente Nestor de Paula enxergou naquele fato a solução para o problema de sazonalidade da produção. Propôs às grandes escolas brasileiras que recomendassem seus tênis como parte do uniforme obrigatório; em troca, colocaria o nome da escola nos tênis. Surgia aí a linha de tênis da Calçados Azaléia S.A. O próximo passo seria a escolha de um nome que não conflitasse com a linha de sapatos femininos chamada Azaléia. De Paula acabara de retornar de uma viagem de férias com a sua família pela Europa, onde achou muito interessante o nome e o logotipo da companhia aérea Olimpic Airlines. Da inspiração do berço dos jogos Olímpicos surgia o nome da linha de produtos esportivos da empresa a Olympikus. Com a popularização do uso do tênis entre os jovens, a Olympikus começou a mudar seu posicionamento afastando-se do conceito de tênis para colégio e passando a incorporar 33 elementos de comportamento em sua comunicação. Era necessário dar aceitação social a sua marca para isso começa seu envolvimento com o mundo dos esportes e na década de 80 patrocinava os primeiros circuitos profissionais de Surfe no Brasil. No final da década de 80 o mercado é sacudido pela chegada das marcas internacionais e dos primeiros tênis importados. Foi uma revolução. De repente os consumidores não queriam apenas um tênis prático e confortável, queriam um tênis para a prática de esportes de uma marca “americana”. Ciente da impossibilidade de competir com os produtos das marcas internacionais uma vez que os produtos que chegavam eram incomparáveis em termos de tecnologia com os fabricados no país, e, respaldada pelo desempenho da divisão de calçados femininos, a marca Olympikus foi retirada do mercado. Destacou-se um grupo de profissionais para estudar este novo mercado e determinar a viabilidade de o grupo competir com aqueles novos entrantes. Durante quatro anos esse grupo de profissionais percorreu o mundo em busca de tecnologia de produção, maquinário, fornecedores de matéria-prima e design para poder relançar a marca no mercado. Ficou claro que o consumidor queria um tênis que tivesse tecnologia para a prática de esportes e falasse uma linguagem internacional e que tivesse o respaldo de atletas conhecidos por seu desempenho profissional. No início de 1994 a Azaléia relança a “nova” Olympikus para atender a estes consumidores. Com novos produtos e novo posicionamento, a Olympikus agora seria uma marca esportiva internacional com produtos voltados à prática de esportes de alto rendimento. Para isso associou seu produto à atletas internacionalmente conhecidos. Esse fator aliado à capacidade produtiva da empresa possibilitou o choque com a concorrência porque conseguia comercializar seus produtos com preços 40% mais baratos do que os das marcas internacionais. 34 Em três anos essa estratégia possibilitou à marca pular para o primeiro lugar no mercado brasileiro de tênis, superando rivais nacionais e internacionais. A combinação de imagem internacional com preço nacional torno-se imbatível. Atualmente, a estratégia de associar a marca à grandes eventos esportivos vem somente para reforçar seu conceito de tecnologia de produto e design. Em março de 2005 a Olympikus mantinha a liderança do mercado brasileiro de tênis, exportando os seus produtos para mais de vinte e cinco paises da América Latina e Europa, e, mantêm-se, há cinco anos, empatada com a Rainha e a Nike como a marca de tênis mais lembrada pelos brasileiros, segundo o instituto Datafolha. "# "$ " " # % %& &) *+& ' , () & -) '. ( '& & ' )/ " $ ! ' .0 )& % & 1 ' %)& &) Figura 8: Evolução da Olympikus no Tempo Fonte: Dados da Pesquisa O próximo passo da marca já com a consolidação da liderança no mercado brasileiro é a consolidação da marca Olympikus na América Latina trilhando o objetivo de tornar a marca, assim como as suas concorrentes mundiais, numa marca global de calçados esportivos. A estratégia é replicar a estratégia adotada no Brasil aliando à identidade da marca a tecnologia esportiva e a irreverência do design e também uma linguagem de comunicação internacional aos produtos. 35 A seguir a tabela 2 descreve a divisão do mercado brasileiro de tênis por marca, em unidades vendidas e valor, segundo o estudo do Ibope (2004) Tabela 2: Situação Competitiva - Brasil 2= . ./0& 1 23 45 . 44 6 05 ) 1, 7 8 95 ! , ! , 3 8 6 :; ) .32 8 3 : :9 9 < 2,4 ! ; ! # - - )=2 $ # $ $ - #$ $ *$ $ $ $ * $ - $ $ # # - * # $ $ * $ ! ) ; 2 , > $ * $ $-* $ $ $ $ Fonte: Ibope, 2004 5.3 A Gestão da Inovação O processo de inovação se completa quando a cultura da inovação está disseminada na empresa. Constata-se que a empresa faz inovação através da busca de conceitos e pesquisa de mercado com a implementação de idéias e projetos na produção buscando sempre os melhores resultados. Segundo o entrevistado A, a empresa é inovadora porque não existe um setor de inovação e sim porque há disseminação desta cultura na empresa: 36 “a cultura da inovação está bem difundida dentro da empresa, tem pessoas que fazem inovação no marketing, que fazem inovação no desenvolvimento, inovação tecnológica em si, inovação de serviços e inovação de processos” Já a percepção do entrevistado C é de que há um bom entendimento entre o setor industrial, comercial e de criação quantos aos objetivos e recursos disponíveis na empresa. Entendimento este, suficiente para gerar inovação entre os vários setores da empresa. Percebe-se que nos últimos anos a empresa tem procurado integrar os diversos setores da empresa com vistas a propiciar um melhor entendimento do mercado, principalmente entre o setor comercial e setor de desenvolvimento: “a necessidade do mercado fez a Olympikus se voltar para isso, quem manda hoje é o mercado, você tem que estar adaptado e ágil conforme o mercado, hoje não se tem mais uma coleção de produtos que você fica o ano inteiro, você lança, depois de três meses já tem que ter outra, o consumidor final já pede outra coisa nova”. Outro ponto muito interessante é a capacidade da empresa se reinventar e utilizar os recursos industriais disponíveis. Há uma constante pesquisa de novas técnicas para empregar recursos ociosos: “agora estamos fazendo uma nova coleção onde existe um produto que vai se utilizar as máquinas de injetar PU, que é uma matéria-prima que a empresa estava com ociosidade de produção. A gente conseguiu desenvolver uma tecnologia de injetar o PU no EVA. Quer dizer, é uma tecnologia que o consumidor final nem sabe do que é feito, mas a empresa vai vender este produto como uma tecnologia inovadora. Realmente esta inovação traz um tênis mais leve e confortável para o consumidor e no mundo não há quem já tenha desenvolvido esta tecnologia antes. Quer dizer, além de conseguir reduzir preço e se tornar mais competitivo por racionalizar os recursos industriais disponíveis ainda temos um produto inovador que agrega valor na percepção do cliente.” Todos entrevistados evidenciam que a inovação é uma vantagem competitiva dentro da empresa tanto na inovação de processos como na inovação de produtos e serviços. O constante investimento em recursos industriais, pesquisa de novos processos produtivos e materiais alternativos além do desenvolvimento de novas tecnologias empregadas no produto foram alguns exemplos citados que reforçam esta visão competitiva da empresa. 37 5.4 O Desenvolvimento de Produtos Observa-se que o desenvolvimento de produtos esportivos pode realizar-se de duas maneiras: a primeira é através da própria criação de um desenho onde o estilista tenta vender sua idéia para a parte comercial da empresa, todavia, a segunda maneira seria a mais correta sob a ótica do entrevistado. O departamento comercial constata uma necessidade do mercado e solicita ao departamento de desenvolvimento que crie um determinado produto que venha a satisfazer essas necessidades. Segundo o entrevistado, de uma maneira ou de outra é feita uma pesquisa na busca de inspiração e tendências de moda que possam se adequar a criação dos produtos aos objetivos propostos: “Tu vais ter que buscar algum recurso, alguma inspiração, tu vais ter que procurar também uma matéria-prima que se adapte para fazer o produto, que se encaixe no projeto e também por técnicas de fabricação deste produto”. A pesquisa é feita em geral, pelo estilista, ou pelo grupo de estilistas da empresa. O estilista é o responsável pelo desenvolvimento de novos projetos, novas construções e, se necessário, modificar a programação e construção do calçado. A grande fonte de informação são os bureaus de moda, que pesquisam as tendências de cores, texturas e materiais que serão utilizados. As pesquisas de moda ocorrem também através de visita a feiras, vitrines dos principais centros de moda mundiais e consultas a revistas especializadas. Nas feiras de produtos, dentre elas: feiras nacionais e internacionais buscam-se novas tecnologias e componentes que possam ser agregados aos novos produtos, bem como, observar o mercado como um todo. Outro ponto analisado na pesquisa é a identificação do público alvo, para isso, levase em conta principalmente a faixa etária, o poder aquisitivo e o comportamento das pessoas. 38 A geração da idéia constitui uma das mais importantes etapas de P&D, dado que é nela que se realiza toda a concepção do produto em si. Essa atividade envolve não apenas a pesquisa de tendências e projeto dos calçados, mas também o desenvolvimento de formas, solados, moldes, definição de materiais, escala, cores, enfeites e detalhes. Ao estilista cabe idealizar e definir todas as variantes citadas acima além de adequar a manufaturabilidade do produto, adaptando a sua concepção às condições e características do processo produtivo, recursos industriais, inclusive no que tange a custos. Com este apanhado de informações, os estilistas começam a dar forma ao produto (através de desenhos manuais ou via computador) baseando-se sempre na moda/design e também no caso dos calçados esportivos, a performance na qual será utilizado o novo produto, isso porque, de acordo com cada performance teremos conceitos e características diferentes. No pré-projeto tem-se um protótipo que servirá para avaliação do novo produto pelos profissionais de marketing da empresa. O projeto estando aprovado dá-se início a outros processos que irão permitir a colocação deste novo produto no mercado. Ao modelista técnico cabe adaptar os novos modelos e projetos para a fabricação, verificando a escalação de modelos, palmilhas, solas e outros componentes, a comprovação dos cortes escalados e a programação de navalhas. Inicia-se o ajuste dos modelos, que é feito pela Modelagem Técnica, segue-se a confecção das matrizes e navalhas, dos gabaritos, o Departamento de Compras efetua a compra das matérias-primas, faz-se o planejamento de produção, ou seja, onde produzir, capacidade de produção dia, pessoas envolvidas, layout da fábrica, a compra das matériasprimas etc. 39 Em grande parte, os atributos finais do produto (conforto, aparência, durabilidade, estilo, etc.) dependem do conhecimento e criatividade do estilista e da competência do modelista, além da forma como estes conseguem interagir com as outras etapas do processo produtivo, inclusive com o departamento de vendas e marketing. Dessa forma, embora de modo geral não receba essa denominação dentro das empresas de calçado, pode-se dizer que o design ocorre principalmente na etapa de modelagem. O processo tradicional utiliza o pantógrafo, que faz a escala e corta a cartolina para os modelos. Mais recentemente, os equipamentos CAD (Computer Aided Design) bi e tridimensionais vêm sendo utilizados para criar modelos a partir de informações estruturais. 5.5 Estratégias de Inovação Tecnológica Observa-se que a visão da necessidade de um novo produto no mercado se dá através de pesquisas e análises de vários fundamentos como a combinação de técnica, visual de produto, preço e análise dos recursos industriais disponíveis. A partir desta composição, o setor de desenvolvimento consegue equacionar e traçar estratégias para compor novos projetos. 5.5.1 Ciclo de vida dos produtos Percebe-se que a gestão do ciclo de vida dos produtos é uma importante ferramenta para a definição de estratégia de inovação de produtos. No calçado esportivo há um desenvolvimento de uma tecnologia base, como, por exemplo, um novo sistema de amortecimento, que tem um ciclo mais longo e que tende a permanecer no calçado por mais tempo. A partir desta tecnologia base, as inovações mais freqüentes se dão na parte superior do calçado (cabedal) onde se agregam mais inovações incrementais. 40 Ao lançar um novo produto primeiramente se faz uma projeção do plano produtivo. É necessário saber quantos pares devem ser vendidos para cobrir os custos do projeto. Segundo o entrevistado D, para lançar um novo produto é preciso acreditar no projeto. Este felling se dá através da experiência, do conhecimento das características do consumidor brasileiro e da reação esperada do mercado frente ao produto. É necessário fazer um acompanhamento para verificar o desempenho de vendas e identificar o momento de lançar permanecer e retirar os produtos do mercado: “uma sola de uma coleção que já vendeu seiscentos mil pares por exemplo....pode fazer qualquer cabedal em cima que, se a sola já cansou, então se deve trocar a sola e fazer um produto novo. Você percebe a curva do produto, ela começa baixa e sobe aí também é feeling, conhecimento e experiência na hora de retirar o produto do mercado” Na percepção do entrevistado esta análise de venda do produto tem o objetivo de encontrar o ponto de maturidade para evitar que o mercado fique saturado do produto também para que se encontre o ponto certo para fazer a substituição do mesmo. Desta forma evita-se que o produto se “queime” no mercado e que se perca vendas. Desta forma permite também que o novo lançamento ocupe o espaço do velho e que este novo produto retome a curva do crescimento. Outra percepção do entrevistado A é de que o ciclo de produtos está cada vez mais curto, o declínio de produtos está sendo mais veloz e a substituição por novos produtos está se tornando mais freqüente frente a situação econômica atual. A inovação tecnológica está sendo utilizada como um argumento de venda para gerar uma necessidade maior de consumo, desta forma a Olympikus abastece o mercado sempre com novos produtos para garantir a plenitude da capacidade produtiva da empresa. 41 5.5.2 Democratização da Tecnologia A percepção dos entrevistados mostra que a inovação de produtos agregada a outros fatores como preço, qualidade e volume de produção faz da Olympikus a marca líder atual no segmento de calçados esportivos. Setenta por cento do faturamento dos produtos da Olympikus se baseia na comercialização dos produtos básicos, de menor valor agregado. “O grande diferencial é o fato da Olympikus pegar o tênis caro, o tênis tecnológico, o tênis muito caro e democratizar ele. Esse é o real diferencial da Olympikus, desde um sistema de amortecimento, passando por materiais e processos para baratear esse produto.” A Olympikus foi pioneira em várias inovações tecnológicas principalmente na área industrial. O entrevistados indicam que a Olympikus foi a primeira empresa a investir em tecnologia no desenvolvimento de calçados - softwares de desenho industrial foi um exemplo citado. Isso permitiu o desenvolvimento de tecnologias que supostamente seriam caras, porém com o aprimoramento de novos processos produtivos agregado ao ganho de escala permitiram que o desenvolvimento transferisse e adaptasse os avanços tecnológicos dos produtos caros aos produtos de menor valor agregado e que ainda tornasse essa tecnologia agregada de fácil percepção ao consumidor brasileiro. 5.5.3 Concorrência A empresa tem a consciência que a manutenção da liderança de mercado é um grande desafio a ser transpassado todos os dias. “nós somos levados pela concorrência, o que deu certo ontem não te garante o sucesso de hoje e muito menos o de amanhã”. 42 Observa-se que cada vez mais os recursos tecnológicos estão disponíveis a um maior números de empresas. Sob a ótica dos entrevistados o segredo industrial e a manutenção da liderança de mercado vão perpetuar através da expressão força da marca, velocidade de novos lançamentos e a constante pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para dificultar a cópia de produtos, processos e serviços. Hoje, a tendência é de que os produtos poderão ser copiados com maior rapidez pela concorrência devido à disponibilidade de recursos e a velocidade de disseminação da informação. Para combater isso será necessário imprimir maior velocidade para garantir o pioneirismo do lançamento de produtos inovadores. Desta maneira o consumidor tem a percepção de que os demais concorrentes terão o ônus de serem copiadores e não os que serão copiados. Um ponto importante em relação à concorrência é a preocupação com o registro de patentes para manutenção do segredo industrial, todavia todos os entrevistados foram unânimes em ressaltar a lentidão dos registros de patentes no Brasil além da ineficácia dos processos para punir plágios de produtos por parte da concorrência. Outro fator citado para a proteção do segredo industrial está relacionado com as pessoas que integram o setor de desenvolvimento. A equipe do setor de desenvolvimento de produtos e novas tecnologias são formadas normalmente por pessoas antigas na empresa. “Quando é necessário contratar uma nova pessoa ela é contratada para uma função específica dentro da área. Desta maneira a empresa pode sentir e testar o que a pessoa sabe e o que ela vai trazer para a empresa. Demora um tempo até que ela tenha todos os acessos.” Para a manutenção do segredo industrial interno não se permite a entrada de fornecedores e pessoas estranhas, é proibido o uso de câmeras fotográficas, somente é permitido o acesso de pessoas autorizadas ao sistema de fórmulas e processos. 43 5.6 Conclusões Hoje no Brasil o consumidor não quer somente um tênis para praticar esporte, o calçado esportivo hoje é usado no dia a dia das pessoas, tem o status de um bem de consumo e é veículo de comunicação de estilo e comportamento. Percebendo esta movimentação do mercado consumidor, o reposicionamento da marca englobou uma série de fatores que certamente levaram a Olympikus a liderança de mercado. O investimento em inovação tecnológica certamente é o mais importante destes fatores, porém deve-se levar em consideração que somente o aprimoramento tecnológico do produto, dos processos e dos serviços não foram suficientes para o sucesso da marca. A percepção dos entrevistados indica que a especialização tecnológica por si só, permitiria a empresa comercializar seus produtos para uma faixa de consumidores muito pequena. É necessário democratizar esta tecnologia e aliar este fato ao ganho de escala produtivo, permitindo assim, que o diferencial competitivo do design tecnológico seja acessível ao maior número de consumidores possíveis. Outros pontos importantes citados que permitiram posicionar a marca na liderança da faixa de mercado em que atua hoje são: o esforço em comunicar a inovação de forma adequada e aliar à marca ao esporte e atitude. O grande desafio agora para a Olympikus é manter a sua liderança no mercado e conseguir crescer as suas vendas no mercado internacional para isso continuará investindo na criação de uma identidade de marca que seja reconhecida e valorizada pelos usuários do mundo todo, através de sua tecnologia esportiva, irreverência e brasilidade. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do tema exposto nesta pesquisa podemos considerar que diante do mercado altamente competitivo ao qual as empresas estão inseridas, estas procuram defender sua posição no mercado reforçando alguns aspectos não diretamente relacionados ao custo de produção. A principal estratégia apresentada foi a de agregar valor aos produtos e, ao mesmo tempo, racionalizar a produção para aumentar a eficiência técnica e a produtividade A busca desta estratégia envolveu vários aspectos inter-relacionados, entre eles a adoção de equipamentos mais modernos, a intensificação na pesquisa de novos materiais e novas tecnologias de fabricação para o cabedal, o solados e os saltos, aumento para a importância do marketing e da publicidade para fixação da marca, implementação de novas formas de organização da produção e racionalização das atividades. Dentro desse contexto, o design e a inovação passaram a cumprir um papel crucial em primeiro lugar pelo aumento da importância das atividades de desenvolvimento de modelagem para melhorar os atributos do produto e agregar valor. Entretanto, outro aspecto relevante a ser pesquisado é a forma como as empresas integram as atividades de design com as outras etapas do processo produtivo e de comercialização. Em decorrência desse enfoque os investimentos de P&D tornam-se uma atribuição exclusiva das empresas como forma de manter a competitividade no mercado. O financiamento de um projeto de P&D se dará pelos resultados obtidos pela empresa com a sua 45 introdução no mercado. Para que estes resultados se concretizem, as avaliações da P&D ao longo do desenvolvimento são o fator principal de decisão. Verifica-se que o sucesso destes projetos está estreitamente relacionado com a forma que a empresa administra seus negócios, seus métodos de gestão, sua estratégias, sua competência, sua experiência na avaliação dos projetos e na condução dos negócios correntes. REFERÊNCIAS BARBIERI J.C. et al. “Inovações nas organizações empresariais”. In: Organizações Inovadoras: estudos e casos brasileiros. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. 164 p. CALÇADOS AZALÉIA S.A “O Manual do Calçado”. Manuais internos da empresa DRUCKER, P.F. Administrando para obter resultados. São Paulo: Pioneira, 1998 FERNANDES, J. M. Gestão da tecnologia como parte da estratégia competitiva das empresas. Brasília: Ipde, 2003. 273 p. FREEMAN, Chris; SOETE, Luc. The economics of industrial innovation. 3. ed. Cambridge: MIT, 2000. 470 p. GAZETA MERCANTIL. O Mercado de Calçados – análise setorial.São Paulo: Gazeta Mercantil S.A. , 2000 V.I HILL, C.T. Technological innovation for a dynamic economy. Nova York, Pergamon Press, 1983. IBOPE, Pesquisa de mercado realizada para Calçados Azaléia S.A, 2004 OECD (ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT) Manual Frascatti 1993 In: www.finep.gov.br OECD (ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT) Oslo Manual 1997 In: www.finep.gov.br REIS, D. R. Gestão da inovação tecnológica. São Paulo: Manole, 2004. 204p. 47 ROTHWELL, R. Successful industrial innovation: critical factors for the 990s. R&D Management, v.22 n.3, p. 221-239, July 1992 ROUSSEL, Philip A. Pesquisa e desenvolvimento : Como integrar p & d ao plano estrategico e operacional das empresas como fator de produtividade e Competitividade 1. ed. São Paulo: Makron, 1991. 198 p. SCHUMPETER, Joseph Alois. Teoria do desenvolvimento economico : Uma pesquisa sobre lucros, capital, credito, juros e ciclo economico. 1. ed. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961. 329 p. UTTERBACK, James M. Dominando a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1983. 264 p. YIN, Robert K. Estudo de caso : planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001-2004. 205 p. ANEXO A – Questionário da Entrevista 1. A Azaléia é uma empresa inovadora? 2. Como ocorre a criação de um produto? 3. Na empresa, a inovação ou o potencial tecnológico são vistos como uma vantagem competitiva? 4. Há investimentos na contratação de profissionais especializados? 5. Como se desenvolve a pesquisa de novos produtos ou novos processos? 6. Como ocorre a troca de informações dentro da empresa para a criação de um 7. O processo de inovação se dá a partir de uma necessidade verificado no produto? mercado? Como se dá a dinâmica de interação (mercado, pesquisa e necessidade produtiva) 8. Algumas tecnologias são ou podem ser facilmente imitadas e outras coma maior dificuldade. Como a empresa se posiciona frente a isso? É feito a melhoria constante de produtos e processos? Há preocupação com registro de patentes? 9. A liderança de mercado no segmento de esportivos está ligada à inovação? Como esta liderança se relaciona em relação a custo, produtividade e qualidade? 49 10. Os produtos com maior investimento em tecnologia, hoje, são os principais responsáveis pelo faturamento do segmento de calçados esportivos? 11. A Olympikus poderia ainda assim ser competitiva se não houvesse investimento em tecnologia? 12. Qual é a capacidade de adaptação da empresa às mudanças do mercado? Há uma sintonia entre os setores de Marketing, de criação e tecnológico? 13. O movimento da concorrência é importante para a tomada de decisão em investimentos tecnológicos ou lançamento de novos produtos? 14. Com a perspectiva de cada vez mais a produção se voltar para os pólos onde a mão de obra seja mais barata, vê-se a necessidade de cada vez mais aumentar os investimentos em Design, pesquisa e aprimoramento tecnológico. Qual a posição da Olympikus referente a isto?