MARCELO SILVA OLIVEIRA AERONAVE DE TREINAMENTO PRIMÁRIO/BÁSICO: Análise do Sistema de Instrução de Voo, dos Fatores de Engenharia e sua Implicação nos Requisitos de Projeto de uma nova Aeronave Tese apresentada ao programa de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos básicos para a obtenção do Título de Doutor em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Professor Rafael Antonio Cunha Perrone São Paulo 2010 MARCELO SILVA OLIVEIRA AERONAVE DE TREINAMENTO PRIMÁRIO/BÁSICO: Análise do Sistema de Instrução de voo, dos Fatores de Engenharia e sua Implicação nos Requisitos de Projeto de uma nova Aeronave Tese apresentada ao programa de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos básicos para a obtenção do Título de Doutor em Arquitetura e Urbanismo, sob orientação do Professor Doutor Rafael Antonio Cunha Perrone. São Paulo 2010 2 Oliveira, Marcelo Silva. AERONAVE DE TREINAMENTO PRIMÁRIO/BÁSICO: Análise do sistema de instrução de voo, dos fatores de engenharia e sua implicação nos requisitos de projeto de uma nova aeronave. – 2010.225p.; 30 cm. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010. Bibliografia: f. 194-196. 1. Projeto de aeronaves. 2. Princípio da Solução Mínima. 3.Instrução de voo. 4. Requisitos aeronauticos I.Título. 3 MARCELO SILVA OLIVEIRA AERONAVE DE TREINAMENTO PRIMÁRIO/BÁSICO: Análise do sistema de instrução de voo, dos fatores de engenharia e sua implicação nos requisitos de projeto de uma nova aeronave Tese apresentada ao programa de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos básicos para a obtenção do Título de Doutor em Arquitetura e Urbanismo. Aprovado em 25 de Agosto de 2010 BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Rafael Antonio Cunha Perrone Universidade Presbiteriana Mackenzie Prof. Dr. Charles de Castro Vincent Universidade Presbiteriana Mackenzie Prof. Dr. Donizeti de Andrade ITA – Instituto tecnológico de Aeronáutica Prof. Dr. Carlos Alberto Inácio Alexandre Universidade de São Paulo __________________________________________________________________ Prof. Dr. Renato Carrieri Universidade Presbiteriana Mackenzie 4 À minha esposa, meus filhos, meus pais e irmã, por representarem tudo o que de mais precioso tenho nesta vida e ao seu incondicional apoio. 5 AGRADECIMENTOS Ao nosso Criador que recheia nossa vida com pessoas e momentos especiais e que nem sempre temos a perspicácia e sensibilidade para reconhecer. Ao Engenheiro Joseph Kovács, que sem o seu apoio e paciência, jamais seria capaz de escrever este trabalho, pessoa de amáveis características pessoais, conhecimento técnico infindável e sensibilidade para o projeto, como poucos na história de nossa aviação, por não falar mundial. Ao amigo e Professor Donizeti de Andrade, figura de valores inestimáveis que me provou ser a engenharia aeronáutica um assunto gostoso e me deu o farol guia neste pouso, após uma navegação pouco convencional. À Professora Dra. Nara Martins Marcondes, coordenadora do Design na UPM, amiga fiel e grande incentivadora para o início desta jornada, dando apoio moral e suporte profissional. À minha colega de turma Professora Mestre Alessandra Estefani, que me ajudou a suprir meus parcos conhecimentos em arquitetura contemporânea e a pensar no assunto: TESE. Amiga sempre pronta a encarar um trabalho, quaisquer fossem as dificuldades. Ao amigo José Inácio Pereira, por ser a primeira pessoa a me emprestar uma literatura na área de projeto aeronáutico, além de mostrar que o caminho de qualquer projeto, passa pelas mãos e habilidades de um profissional chamado: Projetista. Ao amigo Robinson Araújo, que sempre foi um incentivador, exaltando minhas poucas características boas e esquecendo as inúmeras falhas de projeto e construção aeronáutica caseira. Ao saudoso Professor Rigoberto Soler Gisbert, pelo seu brilhantismo em conceber e demonstrar a facilidade, mesmo quando lidávamos com assuntos 6 complexos. Por me fazer ver que todo projeto nasce na concepção e que uma lapiseira, papel, matemática e física básicas são suficientes para se iniciar um bom esboço inicial de projeto. Ao Professor Otávio de Mattos Silvares, meu Reitor e do Centro Universitário Mauá, que me deu a oportunidade de criar um curso, dirigi-lo e me integrar em minha segunda casa, que é este instituto. Aos oficiais do Grupo de Ensaios em Vôo do Centro Técnico Aeroespacial em São José dos Campos. Ao Brigadeiro do Ar Marco Antonio Carballo Perez, Comandante da Academia da Força Aérea. Ao Tenente Aviador Leonardo Sekef, oficial de relações públicas da Academia da Força Aérea e aos demais instrutores de voo e especialistas que colaboraram de maneira ímpar, respondendo aos questionários da pesquisa do autor, respostas estas importantes para as conclusões do trabalho. Ao meu pai de quem herdei a paixão e a habilidade para o voo. Ao meu orientador Rafael Antonio Perrone, que sempre foi claro na definição do que é uma tese de doutorado e por ter tido confiança neste orientando. A Tatiana Ori Kovács por corrigir em tempo recorde o Abstract deste trabalho. Ao amigo Luis Eduardo Aragon, que me ajudou no auto-conhecimento, crucial para a conclusão de vários assuntos em minha vida, incluindo este. A todos os que não acreditaram em minhas ideias e teorias, a quem dedico este trabalho. 7 RESUMO O presente trabalho é o amadurecimento da pesquisa de requisitos para o projeto de uma aeronave de treinamento primário/básico, para substituir os atuais treinadores de fabricação nacional Neiva T-25C Universal. Estas aeronaves estão no término de suas vidas operacionais e, até o presente momento, não há ainda uma aeronave escolhida para dar continuidade à tarefa de instrução dos cadetes na Academia da Força Aérea Brasileira (AFA). Na busca por requisitos e normas para a definição das características do novo treinador, o autor acabou por utilizar uma metodologia de análise, emprestada da Engenharia de Sistemas, onde, sob uma ótica mais holística e macro, destacou três principais aspectos do sistema de instrução: Homem, Máquina e Método. O trabalho inicia-se com a definição das interfaces entre: engenharia, design e arquitetura, seguindo a uma exposição dos objetivos do trabalho e uma revisão do processo de pilotagem civil e militar neste país, procurando enfatizar os problemas, para a construção das hipóteses e da tese. Foi discutida, após análise e comparação do sistema brasileiro com o processo de instrução da USAF (Força Aérea dos Estados Unidos), a mudança no programa de instrução brasileiro, que passaria a contar com uma fase inicial de instrução utilizando-se aeronaves leves, que além de contribuir para a diminuição do número de atrito (desligamentos dos cadetes não adaptados para a tarefa do voo), economizaria aos cofres públicos uma centena de milhares de reais por ano. Foi realizada uma pesquisa com os instrutores da AFA, visando saber das restrições, problemas e características ideais para o cumprimento da tarefa de instrução na força aérea brasileira. Há ainda uma revisão do processo de engenharia de sistemas e seu emprego na indústria aeronáutica. Na parte final do volume, pode ser encontrada um estudo comparativo entre aeronaves de instrução disponíveis comercialmente no mercado. A comparação se faz com o objetivo de estabelecer um cenário para a mudança no sistema de treinamento e a inclusão do novo vetor de instrução. Foram gerados requisitos gerais com relação à configuração, características e desempenho em voo, que podem servir para embasar o processo de seleção ou projeto de uma nova aeronave de instrução. 8 ABSTRACT The present work is the matureness of the research for new primary/basic trainer aircraft requirements to substitute the current Brazilian made “Universal” Neiva T25C. These aircrafts are at the end of their service life with the Brazilian Air Force and, at the moment, there are no substitutes to act as a replacement trainer to the Braziliam Air Force Academy (AFA) cadets. In the search for requirements and standards to define the characteristics of the new trainer, the author took advantage of a Systems Engineering analysis methodology with which, under a more holistic and macro point - of - view, he highlighted three main aspects of the instruction system: man, machine and method. The work begins with the definition of the interfaces among engineering, design and architecture; after that there is an exposition of the objectives and a national private (civilian) and military flight training programs review, in order to emphasize the problems and build up the hypotheses and the thesis. After the analysis and comparison of the Brazilian system with the USAF (United States Air Force) program, a change in the Brazilian flight training program was discussed, which would start with an initial flight instruction phase using light aircraft. This new revised program would contribute for the reduction of the attrition number (elimination of cadets not suited to flying in the training process) and would save hundreds of thousands of reais per year of the tax payers’ money. A research was done with the Brazilian Air Force Academy instructors, aiming to reveal the real facts, problems and characteristics for a hypothetic brand new trainer aircraft. There is still an analysis of the systems engineering process and its role in the aeronautical industry. In the final part of this work, a comparative study of commercially available trainer aircraft can be found. The trade study aims to establish a scenario for the changes in the present training system and the adoption of the light aircraft as an initial trainer. The requirements extracted from the reports review and the instructor survey can help future works concerning aircraft selection or the design of a new trainer aircraft. 9 LISTA DE ABREVIATURAS AETC Air Education Training Command AFA Academia da Força Aérea AFA Air Force Academy AFMAN Air Force Manual AFROTC Air Force Reserve Officer Training Course ANAC Agência Nacional de Aviação Civil ATC Air training Command AVGAS Aviation gasoline CAD Computer Aided Design CAE Computer Aided Engineering CAM Computer Aided Manufacturing CFOAV Curso de Formação de Oficiais Aviadores CUAV Combat Unmanned Air Vehicle CTA Centro Técnico Aeroespacial DAC Departamento de Aviação Civil EIA Esquadrão de Instrução Aérea EFS Enhanced Flight Screening FEA Finite Element Analysis FSP Flight Screening Program FIP Flight Indoctrination Program GAE Grupo Aéreo de Entrenamiento GMP Grupo Moto Propulsor ISD Instructional System Development IFT Introductory Flight Training IFR Instrument Flight Rules ITA Instituto Tecnológico de Aeronáutica LCD Liquid Crystal Display MAC Manobras acrobáticas OTS Officers Training School PFP Powered Flight Program PIP Pilot Indoctrination Program PC Piloto Comercial PP Piloto Privado PSCS Pilot Selection and Classification System QI Quality Improvement SUPT Specialized Undergraduate Pilot Training USAF United States Air Force UPT Undergraduate Pilot Training VANT Veículo Aereo não Tripulado 10 GLOSSÁRIO Aceleração G - Múltiplos da aceleração gravitacional a que se está sujeito no voo, em virtude de mudanças de velocidade e direção. Acrobacia - Técnica de voo, que realiza manobras não convencionais (Loopings e Touneaux), a palavra grega akrobete, significa “andar com os pés para o alto ao extremo e balançar”. Aeronave leve - Aeronave cujo peso de decolagem esteja abaixo de 600 kgf. Aspirante – Posto a que é promovido o graduado na Academia da Força Aérea, que aspira ao posto de 2º Tenente. Atrito – Ou Razão de Atrito é chamado o porcentual de alunos que são desligados do programa de instrução de voo. Aviônicos – Instrumentos de voo com princípios de funcionamento de interface eletrônica. Asa Baixa – Posição da asa, próximo ao piso da aeronave. Asas Rotativas – Termo que designa os helicópteros e demais aeronaves que tem sustentação a partir do giro das pás de um rotor. Bordo de Ataque – Região frontal da asa dos aviões ou das pás dos rotores de helicópteros, região que corresponde à curva frontal do aerofólio. Bordo de fuga – Região traseira afilada da asa. Briefing – Em Design é o enunciado de um projeto, corresponde aos requisitos necessários para um projeto. Em aeronáutica é o nome dado para a reunião dos pilotos antes de um voo, para discutir procedimentos. CTA – Centro Técnico Aeroespacial – Unidade da F. A. B, responsável por toda a pesquisa e fomento industrial na área aeroespacial, hoje DCTA- Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial. Célula – Conjunto de fuselagem, asas e empenagem de uma aeronave, excluindo-se o(s) motor (res). Desempenho – Características de funcionamento de uma aeronave, geralmente expressa em valores. Ergonomia – Ciência que estuda a relação do homem com a atividade de trabalho e aprendizado. Fuselagem – Parte central da aeronave onde geralmente estão fixadas as asas e a empenagem. Habilitações – Termo utilizado neste trabalho para designar as diversas aviações de nossa força aérea como: Caça, Transporte, Patrulha e Asas Rotativas. Hélice de passo ajustável – Hélice em que se tem comando sobre o ângulo de ataque das pás. Homologação – Processo de ensaios e testes, que uma aeronave deve passar para obter o certificado de autorização de voo. ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica – Instituto responsável pela formação do capital humano nas áreas engenharia do Comando da Aeronáutica. Longarina – Elemento estrutural principal da asa dos aviões. Materiais Compósitos – Materiais geralmente compostos por duas fases imiscíveis, como PRFV (Plástico Reforçado com Fibra de Vidro) Pane – Falha ou qualquer tipo de mal funcionamento na aeronave. 11 Reator – Ou motor a reação é chamado o motor que funciona com o deslocamento do fluido de trabalho na direção oposta aquela em que a aeronave é propelida. Voo Invertido – Voo realizado de cabeça para baixo. Voo Solo – Voo em que o aluno vai sozinho na aeronave, sem o instrutor. 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO: Design, Arquitetura e Engenharia aeronáutica, qual elo os une?............................................................................................16 2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA............................................................20 2.1 Proposta do Trabalho....................................................................................20 3 A INSTRUÇÃO DE VOO..............................................................................23 3.1 Panorama Geral da Atividade.......................................................................23 3.2 A História da Instrução Civil de Voo no Brasil a partir de1940 e a Atual Situação........................................................................................................27 3.3 História da Instrução na Academia da Força Aérea Brasileira.....................34 3.4 Treinamento Militar – A experiência norte americana com a implantação dos programas de introdução e monitoramento em voo.................................................................................39 3.4.1 EFS – Enhanced Flight Screening................................................................55 3.4.2 Introductory Flight Screening........................................................................62 3.4.3 Academy Flight Screeening..........................................................................65 3.4.4 Ajustando o IFT- Introductory Flight Screening e a criação do IFS- Initial Flight Screening............................................................................................66 3.5 ISD – A Doutrina Oficial de Treinamento da Força Aérea norte-americana (USAF)....................................................................69 3.6 Pesquisa com Instrutores e Especialistas em Manutenção da Academia da Força Aérea brasileira (AFA).............................................74 3.6.1 Resultados dos questionários do 2º EIA.......................................................76 3.6.2 Resultados dos questionários do 1º EIA.......................................................84 3.6.3 Resultados do questionário respondido pelo comandante do 2º EIA...........90 3.6.4 Resultados dos questionários dos sargentos especialistas..........................93 3.7 Panorama das Aeronaves de Instrução utilizadas nas principais Forças Aéreas Latino-americanas................................................95 3.8 Desafios Futuros no Treinamento de Pilotos, a realidade norte-americana e rebatimentos no Brasil....................................................97 3.9 Conclusão do Capítulo................................................................................101 13 3.9.1 A proposta do novo sistema de instrução de voo para a Academia da Força Aérea Brasileira...........................................................................................104 4 PROJETOAERONÁUTICO........................................................................106 4.1 Aspectos Históricos da EngenhariaAeronáutica.........................................106 4.2 Design Aeronáutico: uma disciplina à parte................................................108 4.3 Revisão do Processo de Design Aeronáutico.............................................110 4.3.1 Projeto conceitual........................................................................................111 4.3.2 Projeto preliminar........................................................................................112 4.3.3 Detalhamento..............................................................................................115 4.4 O Princípio da Solução Mínima...................................................................116 4.4.1 Histórico da filosofia da solução mínima.....................................................116 4.4.2 Heinkel HE-162 – Volksjäger – “O caça do povo”.......................................121 4.4.3 Horas de manutenção e valor de venda dos aviões, nas décadas de 1940 e 1950......................................................................125 4.4.4 Folland Gnat e a filosofia da solução mínima..............................................127 4.4.5 A filosofia da solução mínima atravessa o Oceano Atlântico......................131 4.4.6 O conceito e sua contemporização.............................................................. 135 4.4.7 Joseph Kovács e a aplicação da filosofia da solução mínima nos projetos de aeronaves brasileiros............................................ 141 4.4.8 Neiva 561 – A filosofia do projeto do “Universal” T-25................................143 4.5 Engenharia de Sistemas............................................................................. 147 4.6 Engenharia Simultânea...............................................................................155 4.6.1 Integrated Product and Process Development (IPPD)................................155 5 REQUISITOS DE PROJETO......................................................................157 5.1 Introdução à regulamentação aeronáutica.................................................157 5.2 Requisitos Operacionais e de Manutenção apontados na pesquisa com o Pessoal da Academia................................................... 161 14 6 ANÁLISE DE AERONAVES DE TREINAMENTO COMPATÍVEIS COM OS REQUISITOS E DISPONÍVEIS HOJE NO MERCADO...............163 6.1 Enaer T-35 Pillan......................................................................................... 163 6.2 Lasta 95....................................................................................................... 167 6.3 AIEP Air Bette.............................................................................................. 170 6.4 Novaer Craft PX-C – Peregrino...................................................................173 6.5 Diamond Aircraft DA-20............................................................................... 177 6.6 Aeromot – AMT-600 Guri.............................................................................180 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 182 7.1 Gráfico da análise sistêmica do processo de instrução de voo da AFA (Academia da Força Aerea Brasileira).........................................................189 7.2 Sugestão para trabalhos futuros............................................................................193 REFERÊNCIAS.............................................................................................................194 APÊNDICES.......................................................................................................... 197 15 1 INTRODUÇÃO: Design, Arquitetura e Engenharia aeronáutica, qual elo os une? Uma tese sobre aeronaves, apresentada a um programa de Doutorado em Arquitetura – a princípio parece um contra senso, todavia é na verdade o caminho de um trabalho multidisciplinar. O projeto de aeronaves é o projeto de um produto, podendo ser facilmente “encaixado”, por assim dizer na metodologia de desenvolvimento do Design Industrial e da Arquitetura. Na área náutica, por exemplo, chamam o processo de Design de barcos de Arquitetura naval, para alguns autores de aviação inclusive, a formação do projetista aeronáutico, não precisa ser na área de engenharia aeronáutica, estas opiniões serão relatadas no decorrer do texto. Talvez os nomes de algumas atividades sejam diferentes nessas três profissões que tem como ponto em comum o projeto, mas a atividade em si é a mesma. O que a Arquitetura chama de programa, o Desenho Industrial chama de briefing e a engenharia aeronáutica de requisitos – requirements – e que, na verdade, não são mais do que o enunciado do problema de projeto, que no caso do arquiteto e do designer são menos definidos do que os requisitos da engenharia, em função do momento do projeto em que acontecem (fase de concepção). A atividade de projeto acontece em vários níveis e obedecem a uma hierarquia. Entre as atividades e os eventos, existe interação, contudo isto depende da natureza da tarefa específica e da metodologia adotada. Para o projeto de aeronaves – que é um sistema complexo, estes níveis são cinco, segundo Vincenti (1990): 1 Definição do projeto – tradução dos requisitos genéricos em dados concretos para a fase 2; 2 Design Geral – Leiaute das proporções e configuração formal do avião, de encontro as especificações ou requisitos; 3 Design de componentes; 4 Subdivisão do Design de componentes – Exemplo: Projeto aerodinâmico da asa, projeto estrutural da asa, projeta de sistemas mecânicos da asa; 16 5 Divisão de problemas mais específicos como, Refinamento do desenho do perfil da asa, dispositivos hipersustentadores, etc. Nota-se que essa divisão é diferente da divisão considerada por Raymer (1992), que divide o processo em: Projeto Conceitual, Preliminar e Detalhado – mas além da correspondência lógica entre as diversas fases, a abordagem de Vincent é epistemológica enquanto a de Raymer é mais pragmática. Para Vincenti (1990), esta divisão resolve (divide) o problema do avião em pequenos problemas, mais fáceis de serem gerenciados. A definição do problema colocada no texto acima é relativa ao momento do projeto, o processo completo de projeto ocorre com interações para cima e para baixo, para os lados (horizontalmente) nesta hierarquia. Os problemas mais altos nesta escala são, geralmente, de ordem conceitual e são pouco estruturados, o que explica o envolvimento dos Designers e Arquitetos nessa fase do projeto, pois são profissionais que geram a configuração da forma inicial dos produtos. Nos níveis mais baixos da escala, onde os esforços de engenharia estão mais voltados, os problemas são mais definidos e a atividade tende a ser mais estruturada. Hoje em dia, os projetos são feitos com uma equipe de profissionais de várias áreas que se agrupam em times de desenvolvimento e, desde as etapas iniciais do projeto, reúnem esforços para o “nascimento” do novo produto. Este tipo de trabalho é batizado com diferentes nomes, entre eles: engenharia simultânea, engenharia de sistemas, desenvolvimento integrado de produtos entre outros; no entanto, em essência, todos os nomes querem representar o estágio atual de desenvolvimento onde a cooperação funcional cruzada ajuda desde os primeiros instantes do projeto, pensar-se em todas as implicações de uma decisão para que não sejam criados defeitos que venham a manifestar-se em situações futuras, onde muitos recursos e tempo foram gastos no desenvolvimento do produto. 17 Um produto concebido nos moldes de IPD (Integrated Product Development) deve agrupar pessoas da área de design, engenharia, produção, marketing, vendas além dos consumidores, que participam ativamente de todo o processo de desenvolvimento (SELLGREN, 1995). Ainda tratando da multidisciplinaridade deste trabalho, é notório o fato de que, na contemporaneidade, os meios de informática estão revolucionando a interação entre áreas, que até tempos atrás não tinham um eixo de comunicação muito claro estabelecido, como por exemplo, pode-se citar a engenharia civil e a própria arquitetura, ou o design Industrial e a engenharia mecânica. Jeff Sloan (2007) na carta do editor da revista do qual é o responsável (Composites Technologies) cita esta aproximação propiciada pela era do computador pessoal, neste mesmo artigo intitulado: Quando Design e Engenharia se encontram – (When Design and Engineering Meet), Jeff coloca que, no mundo perfeito do designer, o desafio da manufatura não existe, nem mesmo a fadiga, a massa do pássaro que colide com um para-brisa ou o ciclo de máquina e o empenamento de peças. Os materiais têm ótima resistência ao sol e às intempéries e continua que, no mundo do designer, o único obstáculo é a imaginação. Já no mundo do engenheiro, não há estética, cores, ângulos indesejados, e adianta: neste mundo, o que mais conta é o desempenho, durabilidade, resistência, etc. Forças dinâmicas e a fadiga são importantíssimas para ele. A análise, segundo o enfoque de Sloan, é de que a coexistência destas duas profissões é necessária e, nestes tempos passados, era necessário um vai e vem enorme entre as áreas para que pudessem ser mudadas as especificações do produto, para atender aos dois lados, entretanto hoje, com o uso de programas específicos, principalmente, CAE1 , esta interação acontece mais fácil e suave. 1 CAE – Abreviação do termo em inglês: Computer Aided Engineering, relativo a programas de computador, que auxiliam as atividades dos engenheiros, tais como: cálculos estruturais, túneis de vento eletrônicos entre outros. 18 Uns exemplos são os programas de Elementos Finitos (FEA2), estão tendo um grande papel na área do design de produtos feitos em materiais compósitos. Estes programas que eram típicos da área de engenharia, hoje, em função de pacotes que são oferecidos junto a programas conhecidos de CAD3, chegam para uso dos designers que podem mitigar problemas de processamento e desempenho de peças concebidas. Engenheiros e designers podem estar se confrontando nas oficinas, porém seu esforço em um processo mais colaborativo está resultando em melhores produtos. Na Arquitetura, projetos colaborativos vêm acontecendo também, auxiliados pela informática. Grandes empreendimentos de fama mundial têm equipes multidisciplinares trabalhando sobre requisitos estabelecidos, em que a promessa para a satisfação do cliente é o foco central. Estas mudanças foram obtidas em função da tecnologia da informação disponível hoje. As revoluções tecnológicas sempre estiveram ligadas às evoluções sociais (KALAY, 2005). Toda vez que uma sociedade inventou novas ferramentas métodos ou técnicas para a manufatura ou distribuição de um produto necessário para a sobrevivência e o crescimento, estas invenções impactaram na sociedade economicamente, culturalmente, politicamente, e de outras formas. Tipicamente, estas invenções eram aprimoramentos de tecnologias e estruturas sociais antigas, mas algumas delas tiveram impacto revolucionário, causando maiores mudanças econômicas, políticas e sociais. A tecnologia da informação é uma dessas forças revolucionárias. 2 FEA – Finite Element Analisy (analise por elementos finitos), se trata de uma técnica de cálculo estrutural, aplicada em programas CAE, que utiliza-se de uma malha com nós, que é projetada sobre a superfície do elemento à ser ensaiado/ calculado, com vistas a estabelecer as tensões e deformações envolvidas na peça. 3 CAD – Abreviação de Computer Aided Design, que são programas de computador que auxiliam a confecção de desenhos técnicos para o desenvolvimento de um produto. Uma indústria hoje, faz o uso de três tipos de programas: CAD, CAE estes últimos (CAM) são os programas que realizam a interface entre os desenhos e as máquinas operatrizes. 19 2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA 2.1 Proposta do Trabalho A impressão que se tem é de que a comunidade aeronáutica deixa em segundo plano o projeto e desenvolvimento de aeronaves de treinamento primário. Isto ocorre talvez em função de sua pequena aplicação fora do escopo de missão para o qual foram projetados: treinamento, ou pela pouca flexibilidade para assumir outros papeis operacionais. Esses tipos de aeronave não interessam do ponto de vista econômico uma vez que fora das forças aéreas dos países mais desenvolvidos e, eminentemente, belicistas, não há tanta necessidade de enormes quantidades de treinadores, em comparação com aeronaves de caça, interceptação ou mesmo transporte, desta forma, inviabilizando seu desenvolvimento em função do baixo número necessário. Este trabalho utilizou o conhecimento da metodologia de criação adotada pelos Designers Industriais, o ventre da Faculdade de Arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie para sua gestação e versa sobre a forma, a função e o uso, ou porque não dizer: utilitas, venustas e firmitas (utilidade, beleza e solidez) de um tipo de aparelho utilizado para o treinamento dos pilotos. O estudo começou com a pretensão de fazer uma análise de parâmetros, que auxiliassem na escolha de um futuro treinador para os mercados civil e militar, a princípio do país. Porém, com o avanço da pesquisa, constatou-se que a raiz do problema estava na própria especificação do que seria este avião treinador e mais ainda, focado em três elementos: o homem, a máquina e o método. A definição do que se utilizar está mais ligado à própria atividade do que o envelope de voo 4, claro que estes aspectos são importantes, mas há assuntos a serem resolvidos de ordem estratégica muito antes de pensar em velocidades e pesos. 4 O termo envelope de voo refere-se ao conjunto de dados operacionais que expressam as características de desempenho de um determinado avião. 20 Optou-se por fazer uma pesquisa com o corpo de instrutores da força aérea, para saber dessa comunidade, quais os anseios, os gargalos e as possíveis soluções para a melhoria da instrução e utilização de um ou mais novos vetores de treinamento, com as características apontadas nos relatos. Os objetivos deste trabalho incluem: O entendimento e a exposição da atual fragilidade dos meios aéreos de treinamento do país e a indução de novas perspectivas quanto a mudanças na estrutura curricular, quantidade de horas de voo e introdução de uma ou mais aeronaves para a missão de treinamento; Estudar a possibilidade de se ter um currículo de treinamento primário padronizado nos ambientes civis e militares e porque não o compartilhamento da mesma aeronave, de preferência nacional; Fazer a exposição e indicação dentre os possíveis candidatos à substituição das aeronaves Neiva T-25 da F.A.B, que melhor se encaixe nos requisitos direcionados pelos estudos. Justificando a necessidade desta tese, cita-se o fato de que a vida útil dos NEIVA T-25C está chegando ao fim e não há muitas alternativas para substituí-lo. O CTA (Centro Técnico Aeroespacial), localizado em São José dos Campos, está estudando a extensão da vida dos T-255 até o ano de 2020, não obstante são apenas estudos de resistência estrutural, conduzidos em duas células operacionais dessa aeronave (ALMEIDA, 2003a). Torna-se perigoso o investimento de uma grande quantia de verba pública para a compra de seu substituto, não se esquecendo de que alguns estudos já estão enfocando a importância da especificação dos treinadores, para suprir a demanda de profissionais que operarão os novos aviões de caça, transporte e outras aeronaves operacionais, que trazem novos tipos de tecnologia, tais como instrumentos de voo digitais e integrados (RAND CORPORATION, 2005). 5 Neiva T-25C “Universal” – Aeronave de treinamento de fabricação nacional projetada por Joseph Kovács e montado pela indústria Neiva com sede em Botucatu, estão de São Paulo. 21 Aeronaves de treinamento de motor a pistão de dois lugares pequenos e leves podem ser utilizadas como um meio econômico para determinar se o aluno tem aptidão necessária para ser piloto (BRAYBROOK, 1998). Além do mais, a necessidade não é restrita ao BRASIL, vários países da América latina utilizam para a instrução básica aeronaves projetadas na década de 1950, que não são mais produzidas. Algumas dessas aeronaves já passaram por programas de modernização, mas também estão do final de suas vidas operacionais. Segundo as informações do item 3.7 deste trabalho, pode-se ter a idéia da atual situação nos casos de países mais importantes ou mesmo potencialmente futuros consumidores. A importância estratégica do Brasil, na área de tecnologia aeronáutica, é enorme e, potencialmente, inexplorada nessa fatia do mercado. A credibilidade dos produtos aeronáuticos somados a capacidade produtiva brasileira poderia ser um diferencial, consolidando o fechamento de pedidos regionais deste novo projeto, com isso, seria justificado o investimento em um novo avião de treinamento. 22 3 A INSTRUÇÃO DE VOO 3.1 Panorama Geral da Atividade Toda a atividade do ser humano necessita de prática. Até se conseguir andar, passar por várias fases, onde se descobririam os movimentos, o equilíbrio estático e, por fim, a aventura da dinâmica das massas e os momentos decorrentes. O mesmo acontece com a atividade de condução de um veículo, seja ele de qualquer natureza, é preciso que se tome ciência da interface desse objeto, suas características e reações quando em movimento, ou seja, o efeito oriundo da aplicação de um comando qualquer e sua intensidade, vinculada aos efeitos resultantes. Na aviação não é diferente, o aluno deve tomar contato com a máquina, tendo estudado sua física teórica aplicada e fazer um voo inicial, para checar se suas características vão ao encontro da atividade pretendida e, neste caso, os veículos aéreos e navais são os mais complicados, pois não estão, como no caso dos terrestres, impossibilitados de se movimentar em relação ao eixo vertical. Esta liberdade, nos três eixos, traz muitos problemas de ordem fisiológica nos seres humanos como enjoos, desconforto e fobias. Sua operação é complexa, pois nos mares e no ar não há uma delimitação física de espaço, mas sim uma delimitação espacial virtual, geralmente baseada em coordenadas e altitudes, e pontos de referência. É notório que essas primeiras horas de voo, para a familiarização devem ser realizadas em veículos com características especiais, tendo em vista a pouca ou nenhuma experiência do aluno. A própria cabine de comando deve ter características especiais, que ajudem na interação entre Instrutor e aluno. Essas máquinas devem ter reações previsíveis e conhecidas aos comandos, tolerância aos erros dos alunos e baixo custo de manutenção e operação, devem ser plataformas estáveis de pilotagem, permitindo que o instrutor exercite todas as 23 manobras necessárias para que o aluno adquira um mínimo de conhecimento de voo, para transitar para estágios mais avançados, onde a proficiência dos estágios anteriores é condição básica. Assim, essa aeronave de características descritas acima é chamada de aeronave de treinamento. A instrução civil é dividida em fases, à medida que a dificuldade dos voos vai aumentando, há etapas claramente definidas – não é praxe que um aluno faça as 45 horas do curso de piloto privado e vá pilotar aviões comerciais de transporte de passageiros, um longo percurso é, então, percorrido, passando para o curso de piloto comercial (150 horas totais de voo), onde o aluno fará navegação por instrumentos (IFR), além do curso de multimotores. Muitos pilotos que se brevetam no PC, continuam sua formação como instrutores em aeroclubes, voando para empresas pequenas e táxis aéreos ou fazendo transporte de malotes, claro que esta não é uma sequência obrigatória, apenas um exemplo de um caminho muito comum. Esse caminho ajuda ao acúmulo de horas suficientes e, mesmo assim, terá um período de treinamento teórico, e para voarem em companhias aéreas pratico para adaptar-se à nova aeronave. Na aviação militar, as fases e os cursos mudam de nome e, para este trabalho, utilizar-se-á essa divisão por ser mais estanque e delimitada, também em função de maior bibliografia encontrada. Na vida militar, têm-se quatro (4) fases definidas de treinamento: (1) Primário, (2) Básico, (3) Avançado e (4) Operacional – aquele que acontecerá na unidade final ou esquadrão. Kovács faz uma análise nos programas de treinamento de vários países e cita que: Mesmo no currículo (syllabus) geral, nota-se uma acentuada discordância e não uniformidade de tempos e tipos de avião de instrução, confirmando mais uma vez a subjetividade do assunto. Como média conveniente, achamos a divisão de tempos de voo – 40 horas iniciais de instrução primária, mais três vezes 120 horas, sendo instrução básica, avançada e de esquadrão respectivamente, sendo, portanto, 280 horas de voo propriamente para a formação uniforme dos pilotos e total de 400 horas para o piloto de combate ficar apto para a missão real (KOVÁCS, 1996, p. 3). Segundo o mesmo autor, o programa deve ser feito utilizando-se três tipos de aviões de treinamento, no entanto, em virtude da proximidade de características 24 entre as missões da instrução primária e básica, e aspectos relativos aos custos de aquisição, operação e manutenção, opta-se por uma só aeronave para desempenhar essas duas funções. Nos aeroclubes civis do Brasil, há a utilização de várias aeronaves diferentes. Geralmente para a fase inicial (piloto privado – Primeiras 40 horas), os alunos utilizam aeronaves mais simples como é o caso do NEIVA P-56C Paulistinha, pois seu custo de hora de voo é mais baixo, além de ter poucos instrumentos e recursos, o aluno pode focar-se nas aptidões do voo, sem ter que gerenciar muitos instrumentos e parâmetros. Figura 1 – Cessna 152. Fonte: www.airliners.net. Uma alternativa que está sendo utilizada pelos aeroclubes hoje, como é o caso de JUNDIAÍ, no interior Paulista, é o de importar aeronaves norte-americanas usadas, reformá-las e colocá-las para a instrução. Esse aeroclube, hoje, conta com uma frota de nove Cessnas 152 (Fig.1), que também são utilizados para a instrução primária e básica, mesmo tendo um custo maior por hora de voo, cerca de R$ 245,00 (comparados aos R$ 230,00 do Paulistinha P-56C), têm melhor desempenho que os P-56, são mais fáceis de operar, têm mais instrumentos, conforto e ergonomia na cabine, permitindo ainda seu uso para a etapa de PC. Segundo Fernando de Almeida em seu artigo intitulado: Treinador por Excelência, o Cessninha (referindo-se carinhosamente ao avião) é o melhor substituto para os Aero Boero, que vinham desde abril de 2003, quando da data desta matéria na revista Aero Magazine, sofrendo vários problemas relacionados à falta de peças e acidentes. 25 Almeida deixa claro ainda, que: O Cessna 150 é um treinador com pedigree, didático o suficiente para ensinar muito bem todas as fases de treinamento primário, inclusive o parafuso – manobra que foi banida, infelizmente do currículo de formação para piloto privado. Seu custo operacional é bem inferior aos do Tupi, do Cessna 172 ou mesmo dos Cherokee-140 (ALMEIDA, 2003b, p. 19). Para as fases subsequentes de Piloto Comercial, escolhem-se aeronaves com melhor desempenho e mais recursos em equipamentos. Para esta função, pode-se citar o Embraer/Neiva 712 – TUPI (Fig. 2). Este – em alguns aeroclubes – é equipado para o voo por instrumentos (IFR), rádios e transponder6, possibilitando, assim, fazer navegações de maior distância e para aeroportos controlados. Figura 2 – Embraer/ Neiva EMB-712 – Tupi. Fonte: Fonte: www.airliners.net. No estágio de multimotores, a escolha mais encontrada é o Embraer/Neiva-820 Sêneca, este bimotor, fabricado sob licença da PIPER norte-americana, equipa boa parte dos aeroclubes brasileiros. Nota-se, então, que diversos equipamentos são usados para a atividade de instrução, cada qual objetivando uma adaptação melhor ao currículo de manobras e conhecimentos a serem transmitidos, além do fator custo benefício. 6 Transponder – Equipamento eletrônico utilizado nas aeronaves, que dispõe de um painel com quatro dígitos, que acionados e ajustados a um número específico cedido pelo órgão de controle de tráfego aéreo, possibilitam a identificação da aeronave na tela do radar. 26 3.2 A História da Instrução Civil de Voo no Brasil a partir de 1940 e a Atual Situação Os aeroclubes são órgãos instalados nas principais cidades brasileiras, cuja missão é a de difundir a aviação desportiva e formar os pilotos para a carreira comercial e executiva, além de pilotos desportivos é claro. No início da década de 1940, com a carência de escolas de aviação e pilotos brevetados, o Ministro da Aeronáutica, Sr. Salgado Filho, nomeado pelo então Presidente da República, Sr. Getúlio Vargas (Entusiasta da fabricação de aviões no Brasil), lançou a campanha nacional de aviação. Sem recursos do governo federal para fabricar aviões, resolveu com o apoio publicitário do poderoso grupo Diários Associados, dirigido por Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, obter através de publicidade, as doações para o projeto. O slogan criado era o famoso: Dê asas ao Brasil, que resultou na venda de muitos dos Paulistinhas (aeronave escolhida como avião de treinamento), antes de sequer estarem prontos na linha de montagem. Em Julho de 1946, das 963 aeronaves de recreio e treinamento registradas em nosso país, 800 tinham sido doadas pela campanha. Cerca de 5.000 pilotos havia se brevetado com essas aeronaves, sendo o total de pilotos da época 5.753. Foram 300 aeroclubes criados e mais de 570 aeronaves doadas, além de bolsas de estudo, o programa terminou em 1949. O Paulistinha CAP-4 (Fig. 3), fabricado pela Companhia Aeronáutica Paulista de propriedade de Francisco Pignatari (Baby Pignatari), foi um projeto desenvolvido graças a um núcleo de engenheiros do IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, centro que dominava, nessa época, a tecnologia de madeiras para uso aeronáutico. O IPT, criado em 1899, como gabinete de resistência de materiais, transformou-se, em 1926, em laboratório de ensaio de materiais, que deu origem a uma seção de madeiras, em 1938 o profundo conhecedor de madeiras aeronáuticas Engenheiro Frederico Abranches Brotero, criou a seção de aeronáutica, subordinada a seção de madeiras. Em 1939, Brotero conseguiu a importação pelo governo de São Paulo de uma máquina para a produção de compensados, utilizando Freijó e Pinho, sendo este o começo de uma série de 27 aeronaves (planadores e aviões), um desses desenvolvimentos foi o monomotor EAY 201 Ypiranga (Fig. 4), cujos direitos de fabricação foram comprados, pela recém criada, CAP de Baby Pignatari (PEREIRA, 1997). Figura 3 – Aeronave Paulistinha CAP-4. Em 1950, José Carlos Neiva, proprietário da Sociedade Aeronáutica Neiva, transferiu-se para a cidade de Botucatu, no interior de São Paulo, para relançar o Paulistinha, após a negociação com o Ministério da Aeronáutica para a licença de fabricação, sugeriu uma série de modificações, com vistas a melhorar seu desempenho em voo e facilitar sua fabricação. O avião atualizado seria batizado de P-56, mantido o nome Paulistinha. Foram fabricadas 260 unidades, também distribuídas aos aeroclubes na época, boa parte deles (cerca de 50%) ainda voa até hoje (Fig. 5). Figura 4 – Protótipo do EAY-201 Ypiranga. Fonte: Pereira (1997). 28 Em 1986, preocupado com a carência dos aeroclubes brasileiros, o então DAC – Departamento de Aviação Civil resolveu pensar na substituição dos já cansados Paulistinha. Infelizmente, não havia no mercado nenhuma aeronave de treinamento disponível para compra em grande quantidade e, com um custo razoável. Por esse fato, tentou-se inclusive relançar o Paulistinha, porém não houve interesse na fabricação. No mercado norte-americano, a Cessna havia deixado de fabricar as linhas de aviões leves e a Piper tentava se reerguer após um processo de falência, no Brasil, a Embraer estava se dedicando apenas à construção de aeronaves comerciais e militares e estava em desativação de sua linha de aviões de pequeno porte. Figura 5 - Neiva P-56-C Paulistinha. Fonte: www.spotter.com.br A única solução viável pareceu ao ministério recorrer a duas empresas da Argentina, a Aero Boero e a Chincul, que tinham condições de fabricar aeronaves de treinamento. A Aero Boero ofereceu voltar a fabricar seu modelo AB-95/115 (Fig. 6), cuja última unidade tinha sido fabricada há dez anos, a Chincul fabricava, sob licença, os PA-18 da Piper. A única proposta apresentada foi a da Aero Boero. Eles poderiam produzir 400 aeronaves em um período de cinco ou seis anos a um preço inicial de US$ 74.000, para cada avião. A jogada comercial parecia interessante para o Presidente da República José Sarney e para o Presidente Argentino Raúl Alfonsín, pois esta parceria estreitaria a relação comercial entre as duas nações e seria o embrião do 29 MERCOSUL. O DAC enviou seis (6) instrutores civis, com larga experiência, e dois oficiais da Força Aérea Brasileira, para avaliar uma aeronave colocada à disposição pelo presidente da empresa Sr. Hector Boero. Os inspetores brasileiros fizeram algumas críticas à Ergonomia da cabine e a baixa potência do AVCO Lycoming O-235 de 115hp, porém, finalmente, avaliaram positivamente o avião. Algumas unidades do modelo AB-180, avião de turismo ou agrícola foram encomendados para reboque de planadores e continuavam em produção pela Aero Boero, desde 1967. Figura 6 Aero Boero AB-115. Fonte: (http://aero.brasilflog.com.br). Os primeiros cinco aparelhos foram entregues, em 1988, para o aeroclube do Rio Grande do Sul, em Belém Novo/RS. Na Ocasião, o DAC tinha a ideia de fazer cinco centros de formação de pilotos em substituição às centenas de aeroclubes deficitários espalhados pelo país (LIASCH Filho, 2006). Com a entrega dos 400 aparelhos encomendados, o DAC doou as antigas aeronaves aos aeroclubes, e muitas dessas ainda estão em uso, hoje. Os Aero Boero não trouxeram grande vantagem na instrução, apenas a partida elétrica, o rádio e o intercomunicador foram novidades, no entanto, a capacidade de manobras dos AB-115 é inferior à do Paulistinha, obrigando o DAC a reformular o programa de instrução, retirando algumas manobras do mesmo, tal como o 30 parafuso comandado. Esta informação, todavia, é controversa uma vez que os instrutores, quando em visita a fábrica, realizaram várias manobras, inclusive com o Sr. Hector a bordo e dizem que a aeronave só não foi homologada para acrobacia, pois o CTA pediu três protótipos para a homologação e o fabricante negou. A atual situação de carência dos aeroclubes brasileiros no que tange a ausência de aeronaves treinadoras é notória. Após estes 18 anos, os AB-115 estão com falta de peças, na maioria hélice e montante de asa, e a realidade é que os aeroclubes não têm aeronaves de treinamento e estão importando aviões usados norte-americanos, reformando e incorporando à sua frota. Algumas dessas aeronaves chegam em péssimo estado de conservação e precisam de vários cuidados, antes de serem colocados em operação. A falta de um avião padrão também atrapalha o processo. A empresa AEROMOT, com sede em Porto Alegre-RS foi selecionada para fornecer o novo avião para o governo ceder aos aeroclubes do Brasil, para que os utilizassem na instrução. Este avião é o AMT-600 (Fig. 7) Guri, oriundo da modificação do motoplanador Ximango AMT-100. (Fig. 8). A substituição está em ritmo lento e o equipamento utiliza o mesmo motor do Aero Boero AB-115, porém com 200 kg de peso a mais, desta forma underpowered como se diz na aviação. Outro problema levantado, em um ensaio, em uma revista especializada é o comando do trem de pouso do nariz, porém esta análise será tratada mais adiante, pois o Guri é um dos modelos que serão examinados neste trabalho. Figura 7 - Aeronave Aeromot AMT-600 Guri. Fonte: www.aeroclubedobrasil.com.br 31 A conclusão após este panorama é a de que se precisa estudar a situação atual dos aeroclubes, as necessidades quanto à instrução tanto civil, quanto militar, e tentar ver a possibilidade de utilizar um só vetor para a finalidade de instrução primária e básica. Se possível, além disso, um país como o nosso com um parque industrial tão rico e com várias Faculdades na área da engenharia aeronáutica, não pode importar um avião de treinamento, muito menos aceitar qualquer aparelho de fabricação nacional que não seja o ideal para a tarefa. Figura 8 - Motoplanador Ximango, fabricado pela indústria Aeromot. Fonte: http://www.usafa.af.mil. Quanto ao uso combinado civil e militar, esta pode ser uma solução para se obter aviões com valor de aquisição mais baixo e uma doutrina comum pelo menos em nível de treinamento primário de voo igual, garantindo a fusão dos conhecimentos e experiências e o consenso das necessidades entre instrutores dos aeroclubes e da Academia da Força Aérea, para a criação de uma metodologia padrão, atualizada, revisada e de maior eficiência. Aí está a base e a situação potencial de se educar e corrigir erros futuros, que começam em ausência de didática, e deficiência de material de apoio ao aprendizado, nas quais o avião de treinamento desempenha papel fundamental. Sendo a aviação desportiva o berço da aviação geral e comercial, deve ser tratado com a mesma importância com que um governo trata o ensino fundamental de um país. 32 Não se deve descartar a vocação brasileira na arte de projetar e construir aviões. Citando nomes como o de Alberto Santos-Dumont, Francisco Pignatari e José Carlos Neiva, tem-se a real dimensão do envolvimento com o assunto. Indo ainda mais longe, poderia se projetar um novo avião, resultante de uma especificação que atenda aos mercados civil e militar. Trabalho que poderia tomar corpo dentro do ITA, como um projeto envolvendo alunos da graduação e pós-graduação, além de convênios com outras instituições renomadas na área como a USP de São Carlos e a Federal de Minas Gerais, cujo departamento de mecânica é um dos mais atuantes no país, na construção de aeronaves leves. Figura 9 - Monomotor STOL Panelinha, construído no ITA, em 1962. Fonte: Pereira (1997). Um exemplo de projeto, semelhante às aeronaves tratadas neste estudo, pelo porte do avião, foi o do monomotor Panelinha (projetado em 1957), desenvolvida por alunos, sobre a supervisão do Professor René Maria Vandaele. Eles utilizaram peças e componentes fornecidos pelo Parque de Material Aeronáutico de São Paulo e os esforços de sucessivas turmas. O primeiro voo aconteceu em 1962, o avião após o programa de ensaios foi utilizado como plataforma de estudos para pousos e decolagens curtas, além de reboque para planadores (Fig. 9). Este projeto, com certeza, mostrou ser uma integração salutar entre o meio acadêmico e a situação real de projeto de aeronaves. 33 3.3 História da Instrução na Academia da Força Aérea Brasileira. A Força Aérea Brasileira só foi criada durante a segunda guerra mundial, em 20 de janeiro de 1941, através do decreto no 2.961, antes disso, a aviação militar se dividia entre a Marinha e o Exército. Na primeira guerra mundial, a necessidade de se criar uma força aérea fez com que o governo, através do decreto 12.167, de 23 de agosto de 1916, criasse a Escola de Aviação Naval, as primeiras aeronaves foram adquiridas dos Estados Unidos. O exercito só iniciou sua aviação após o término da guerra em 15 de janeiro de 1919, foram disponibilizados dois mil contos de Reis para a infraestrutura e organização da Escola de Aviação Militar do exército. As primeiras aeronaves eram de origem francesa Nieuport e Spad 84 Hebermont. A necessidade da criação de uma força independente já fazia parte da convicção de vários idealistas, mas prematuramente estas idéias ainda não encontravam eco nas fileiras das armas já estabelecidas assim como no governo da época. Foi então que, no começo de 1941, se criou o Ministério da Aeronáutica, que herdou a princípio dois centros de formação, que por necessidade tiveram de ser fechados: a escola de aviação naval e a escola de aviação militar (exército) foram extintas e em seu lugar foi aberta a Escola de Aeronáutica no Campo dos Afonsos para formar os oficiais aviadores e a Escola de Especialistas de Aeronáutica na Ponta do Galeão, com vistas a formar o pessoal de manutenção nas instalações da antiga Escola de Aviação Naval. Em 1942, em plena atividade no Campo dos Afonsos, a Escola de Aeronáutica não reunia condições topográficas, meteorológicas e nem de infraestrutura no caso de acidentes. Não haviam campos de pouso de emergência além do tráfego, que era muito grande em função do Rio de Janeiro ser na época, capital federal. 34 Em 23 de janeiro de 1942, foi designada uma comissão para procurar lugares alternativos para a construção da nova Escola de Aeronáutica, várias localidades do interior paulista foram cogitadas entre as cidades está Ribeirão Preto, Campinas, Rio Claro e a própria Pirassununga, que foi a escolhida por se tratar de local plano de ótimas características de relevo. Ainda durante a segunda guerra mundial, começaram a ser construídos os primeiros hangares. Em 1949, o Ministério da Aeronáutica designou uma comissão para apresentar um projeto para a nova escola, que recebeu a tarefa de submeter à aprovação do Ministro, providenciar e fiscalizar a construção da nova escola. Em 17 de outubro de 1960, é inaugurado o destacamento precursor de aeronáutica, as instalações contavam apenas com dois hangares, os alojamentos, cassino dos oficiais e as instalações de infraestrutura estavam ainda no antigo prédio da Divisão de Apoio. As pistas do aeródromo eram menores do que as atuais e eram de grama. O curso naquela época tinha um total de três anos, os dois primeiros eram realizados no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro, onde os cadetes voavam com as aeronaves Focker T-21 e T-22 (Fig.10) em instrução básica e avançada. No começo houve muita resistência por parte dos cadetes, porque Pirassununga não oferecia a mesma comodidade e conforto do Rio de Janeiro, as provas eram confeccionadas no Rio, até os professores e os monitores de educação física eram trazidos da capital, Guanabara. Figura 10 - Aeronaves Fokker T-21 e T-22. Fonte: <http://www.fs98fabmil.hpg.ig.com.br/projeto2/t-21-22/t21.html> e <http://www.museutec.org.br/resgatememoria2002/old/enciclop/cap002/026.html>. 35 Em 1968, chegam à Academia as aeronaves Cessna T-37C (Fig.11), que marcaram uma nova era com o treinamento à jato, em 10 de julho de 1969, a escola de aeronáutica passou a denominar-se Academia da Força Aérea. Em 1971, a Academia é transferida em definitivo do Campo dos Afonsos para Pirassununga, sendo seu primeiro comandante o Brigadeiro do Ar, Geraldo Labarthe Lebre. Figura 11 - Aeronave Cessna T-37 Tweet Bird Fonte: <http://www.natnep.com.br/turmamaracuja/nossosavioes.html>. A primeira turma se formou em dezembro de 1972 e Pirassununga foi batizada de Campo Fontenelle a partir dessa data. Os T-37C foram desativados em 1979 e, em substituição, foram colocados em seu lugar os Neiva T-25 Universal (Fig. 12) como treinador avançado, ficando a cargo dos Aerotec T-23 Uirapuru (Zarapa) a instrução primária e básica. 36 Figura 12 - Aeronave Neiva T-25 Universal. Fonte: <http://freepages.military.rootsweb.ancestry.com/~otranto/fab/universal_t25.htm>. No ano de 1984, os T-23 (Fig. 13) se aposentam depois de 14 anos de operação e no ano seguinte entram em serviço os Embraer T-27 Tucano para a instrução avançada (Fig. 14). Figura 13 - Aeronave Aerotec T-23 Uirapuru. Fonte: http://www.natnep.com.br/turmamaracuja/nossosavioes.html. A academia da força aérea não forma apenas oficiais aviadores, mas ainda oficiais intendentes que são destinados às atividades administrativas e burocráticas de suporte à força aérea. Em 1982, iniciou-se a formação também de oficiais de Infantaria da Aeronáutica, completando, assim, em seu programa, a formação de três quadros de oficiais, tendo a duração dos cursos de quatro anos cada. 37 Figura 14 - Aeronave Embraer 312/T-27 Tucano. Fonte: http://freepages.military.rootsweb.ancestry.com/~otranto/fab/tucano_t27.htm. Participam ainda dos cursos de formação de oficiais aviadores militares de países amigos que são matriculados através de acordo diplomático. Em 1996, entra a primeira turma de mulheres para o curso de oficial intendente e, em 2003, ingressam as pioneiras do curso de oficial aviador, que são declaradas aspirantes em 2006. Em 2004, a Academia dá início à Faculdade de Administração da Aeronáutica e, a partir de 2007, os cadetes recebem dois diplomas: um específico de cada especialidade e outro de administração de empresas. Desde a sua criação em 1941, a Academia da Força Aérea formou 8.078 oficiais sendo destes 158 de outros países. Foram utilizadas, desde sua criação, as seguintes aeronaves para a instrução: Focker T-21; Focker T-22; North American T-6 “Texan”(Temeia); Aerotec T-23 Uirapuru; Neiva T-25 Universal; Embraer 312 T-27 Tucano. 38 3.4 Treinamento Militar – A Experiência Geral da USAF (Força Aérea Norte Americana) com Foco na Implantação dos Programas de Introdução e Monitoramento em Voo No início das pesquisas para este trabalho, pensou-se que a máquina seria o objeto de estudo único e isolado, entretanto, o que se descobriu, é que o problema com a instrução de voo, tem três ordens, segundo Hays (2002): A – Homem7; B – Máquina; C – Método. Neste texto, procurou-se enfocar os três componentes, com o objetivo de se chegar a uma ideia mais clara do processo, e do que se pode esperar de um novo treinador, ou talvez a sugestão de modificação do sistema de treinamento adotado aqui neste país. Nos Estados Unidos da América do Norte, a Força Aérea adotou, desde o final dos anos 1950, um sistema de introdução ao voo (Light Plane Screening), que apresentava ao candidato a piloto, antes de seu treinamento básico, uma série de vôos, onde eram demonstradas as principais manobras e era dada a oportunidade para o aluno conhecer suas aptidões ou restrições para a nova atividade escolhida. A função principal e a de separar aqueles candidatos que não possuem perfil para serem oficiais aviadores. Desta maneira, o sistema corta do grupo potenciais fracassos que de alguma forma gastariam as verbas do governo sem proveito algum. O Atrito8 (Attrition Rate), sempre foi uma preocupação dos Estados Unidos, em função da quantidade de pilotos ativos em seu quadro e as demandas por aumento de efetivos operacionais, para emprego nos conflitos em que se envolveram nos 7 O termo homem refere-se ao gênero e serve tanto para designar pessoas do sexo masculino e feminino. Chama-se de ATRITO ao percentual de alunos que são desligados do voo por diversos motivos, entre eles: falta de aptidão para o voo, medo de voar, falta de motivação na carreira militar e problemas físicos. 8 39 séculos XX e XXI. (I e II Guerras Mundiais, guerra da Coréia, Guerra do Vietnã, guerra do Iraque, Bósnia e, mais recentemente, Afeganistão). Todos esses conflitos contribuíram para o aumento do número de oficiais aviadores na linha de frente, e é claro que, após o término das guerras, novamente, o sistema contava com cortes de orçamento e, então, a estrutura voltava aos números regulares ou números em tempo de paz. Em virtude da característica belicista da nação em questão (EUA), vários estudos foram e continuam a ser encomendados pelo governo norte-americano para rever os processos de instrução, assegurando a maior eficiência e o menor dispêndio de capital público para sua realização, sobretudo em função da flutuação dos números, decorrentes das ações, em tempos de guerra. Uma crítica inclusive dos autores pesquisados, é a de que o governo quando pratica corte de recursos, geralmente o faz na área de instrução, o que segundo Hays (2002), acarreta sérios problemas que só serão percebidos em longo prazo, ou após a entrada em serviço desses alunos. A USAF (Força Aérea dos Estados Unidos da América) iniciou o processo de treinamento, em 1909, e era constituído de um único avião e um instrutor. Por quase um século, desde este simples começo, eles têm formado aviadores altamente competentes. O sistema responsável por essas ações de sucesso que teve ampliações e reduções, passou por duas guerras mundiais e outros conflitos regionais, adaptouse tecnológica e doutrinariamente. Análises históricas indicam que esses sistemas empregados pela USAF – que na época se chamava serviço aéreo do exército – tiveram uma grande continuidade em sua filosofia e metodologia (HAYS, 2002). As alterações nos programas de instrução visavam a sua adequação a várias situações, entre elas, a falta de aeronaves específicas de treinamento ou os exponenciais aumentos na demanda devidos a necessidades emergentes, os chamados planos de expansão. 40 O treinamento de voo na USAF pode ser dividido em dois tipos, utilizados em diferentes épocas: Generalizado – Aquele em que os candidatos voam o mesmo avião e currículo disciplinar até o começo de sua vida operacional, independente do tipo de especialização pretendida; Especializado – Programa que conta com habilitações diferentes para os candidatos, estes são separados para diferentes trilhas que utilizam currículos e aeronaves diferentes, segundo a habilitação da unidade fim. O sistema generalizado foi utilizado desde o começo da instrução de voo (1909), porém em virtude da Primeira Guerra Mundial com a necessidade de especialização e o curto tempo para a formação do oficial aviador apto para o combate, foi abandonado em detrimento de um programa mais especializado, que dividia o contingente de candidatos em trilhas ou habilitações: Perseguição (caça); Ataque; Bombardeio; Observação. Na época, havia alguns defensores do programa generalizado, o principal deles era chefe de treinamento e divisão de operações, Carl Spaatz. Ele acreditava que a separação e a afiliação prematura com um tipo de aviação (habilitação ou especialização) comprometiam a coesão estrutural da força. Esta afirmação não era errada, pois a divisão no treinamento já separava os alunos em comunidades, que, em virtude de características gerais do grupo ou finalidade, estabeleciam rivalidades entre os seus componentes (HAYS, 2002). O sistema generalizado é empregado na Força Aérea Brasileira até hoje. Na USAF, o sistema especializado foi usado desde a primeira guerra mundial até o final da década de 1950, quando foi substituído pelo generalizado (todo feito em aeronaves à reação), implantado por diversos fatores, discutidos mais a frente neste texto. 41 Atualmente, além de especializado (Fig. 15), conta com a inclusão de cadetes também da marinha, tornando-se conjunto (JSUPT – Joint specialized undergraduate pilot training, sistema conjunto especializado de treinamento de voo). MONITORAMENTO PRIMÁRIA AVANÇADA OPERACIONAL Transporte e Tanque Aeronave T-1 (104 h) IFT 50 horas T-37 89h T-34 92h T-6 89h Caça e Bombardeio Aeronave T-38 (119 h) Unidades de treinamento formal Multimotor – Turbohélice Aeronave Beech T-44 (111 h) Helicóptero UH-1 (112 h) Figura 15 – Organograma do Treinamento JSUPT – Joint Specialized Undergraduate Pilot Training 9 – USAF – 2004 . Fonte: Adaptado pelo autor de AUSINK et al. (2005). Desde o princípio, a necessidade de um programa de pré voo ou doutrina de voo na instrução era sentida, pois, os números de atrito nas fases iniciais eram muito altos por volta de 50%, isto quer dizer que dos 15.000 alunos que entraram no treinamento em 1918, apenas 8.689 receberam suas asas no ano de 1918. (HUSSEY, 2004). Historicamente, os fatores que foram responsáveis pela mudança no tipo de treinamento podem ser reduzidos a três causas: A necessidade de tarefas operacionais; Demanda em tempos de conflitos (guerras); 9 O gráfico acima foi adaptado de AUSINK et al. 2005 e não está atualizado quanto aos programas de monitoramento que passaram a novas denominações e currículos em 2006. 42 Disponibilidade de aeronaves de treinamento. O programa de introdução ao voo (flight indoctrination), começou realmente em 18 de fevereiro de 1943, com a inauguração do College training program (programa de treinamento militar de voo em Faculdades), neste programa os candidatos que se classificassem no último mês de estudos, receberiam treinamento civil de voo. O programa foi uma manobra do comando de aviação do exército, pois havia 93.000 cadetes voluntários ociosos enquanto aguardavam a entrada na instrução primária e básica (que estavam lotados), como na época se precisava de muitos oficiais aviadores para a entrada de serviço na guerra, não era intenção deixá-los parados. Foi criado, então, o College Training Program, para mantê-los ocupados e motivados, além de conceder treinamento acadêmico nas áreas de física e matemática, oferecia doze sortidas, totalizando dez horas de introdução ao voo (flight indoctrination). Um programa de Introdução ao voo não é o mesmo de monitoramento em voo, no primeiro caso, garante ao aluno apenas uma familiarização com a atividade, sendo um currículo mais leve com poucas manobras (10 horas em 12 aulas, sem voo solo). Não havia desligamentos nesta etapa, apenas por problemas de enjoo ou pedido pessoal do candidato. Já, no segundo caso, o aluno é submetido a um currículo mais avançado e criterioso. O programa foi cancelado em janeiro de 1944 em função de terem conseguido resolver o problema do contingente de cadetes a espera de trabalho e também em função do alto comando achar que era gasto desnecessário de dinheiro. Ao término o pessoal dos centros de treinamento concluiu que o programa conseguira baixar o número de atrito na instrução primária, porém quando os cadetes atingiam a fase básica do programa de instrução de voo, todos, mesmo aqueles que não haviam recebido as dez horas de introdução ao voo, apresentavam o mesmo nível de proficiência. Também havia falha na padronização devido ao grande número de escolas civis contratadas e falta de 43 disciplina, além da enorme diferença do tipo de aeronaves utilizadas e as aeronaves reais da força aérea. (HUSSEY, 2004). Após o encerramento do programa nas faculdades em início de 1944, não se utilizou um programa de monitoramento ou introdução ao voo em aeronaves leves até 1951, apesar de o atrito ter voltado a subir no ano de 1945. Com o início das hostilidades com a Coréia do Norte no início da década de 1950, contando com os orçamentos apertados o que ia de encontro ao aumento da quantidade de pilotos formados, surge novamente a necessidade de se eliminar candidatos antes que esses houvessem consumido tempo e dinheiro. Deve-se notar que com o aumento da demanda é que o atrito cresce, isto é importante, quando se considera o estabelecimento de um programa de monitoramento em voo em forças aéreas menores ou com poucos alunos em suas turmas, onde parece ser mais fácil o controle ou até a pré-seleção do candidato. Embora a afirmação acima possa ser relevante e correta, é curioso que a taxa de atrito na força aérea brasileira seja, em 2009, da ordem de 30% na fase inicial da instrução (segundo a pesquisa com o comandante do 2º esquadrão de instrução da academia da força aérea), quando são apenas 40 cadetes e seria, teoricamente, mais fácil o controle e administração da instrução. O atrito na época da década de 1950 era muito alto; por volta de 53%, com base nestes números, foi realizada uma pesquisa em que se revelou que apenas 43% dos candidatos haviam sido eliminados por deficiência no voo. Os outros desligamentos foram em função de fatores diversos, dentre eles: Medo de voar; Desgosto pela atividade; Deficiências acadêmicas ou militares; Deficiências físicas; Falta de motivação (27%). 44 Sendo o último item responsável por 27% dos desligamentos. Achando os números muito grandes em relação à falta de motivação, investigou-se durante seis meses e chegou-se à conclusão que boa parte da desmotivação vinha do uso dos North American T-6 (Fig. 16), que eram aeronaves muito complexas para iniciantes. Esta constatação tem correspondência com o que fala Kovács (1986) em seu relatório, se referindo ao mesmo avião como: o “péssimo” T-6. Kovács fala dos treinadores com vida operacional longa, sem ao certo saber qual o motivo para a ocorrência do fato, se por qualidades técnicas quantificáveis ou circunstâncias diversas como: guerra, política ou financeira. No caso dos T-6, foram incorporados a nossa força aérea por fatores econômicos, e em virtude da abundante quantidade produzida durante a 2º Guerra Mundial. Figura 16– North American T-6 Texan. Fonte: www.airliners.net O monitoramento em voo utilizando-se aeronaves leves foi considerado na época como barato na implantação e operação. Aproveitando o término dos protótipos construídos por duas empresas para um possível substituto para os T-6, fez-se em 1951/1952 uma experiência chamada de fase 1, envolvendo 30 alunos sem qualquer experiência em voo. Seis alunos foram treinados nos Beechcraft YT-34 (Fig.18a), nove alunos treinados nos Temco YT-35 (Fig.18b) e 15 serviram de grupo de controle e voaram os T-6. Ao término do experimento, constatou-se que os alunos que foram treinados nos 45 dois protótipos de aeronaves mais leves foram ao término iguais ou, superiormente, proficientes. Como resultado desse estudo, foi proposto, em 1952, um programa chamado de Revitalized Pilot Training Program, que propunha uma divisão do treinamento em quatro fases (Fig.17): Pré voo; Primário; Básico; Avançado. Monomotor T-28 Pré voo Primário Monitoramento com aeronaves leves 25 horas + 120 horas de T-6 Avançado T-33 Básico Bimotor TB-25 Avançado Figura 17 – Organograma do treinamento de voo revitalizado USAF – 1952/1953. Fonte: Adaptado pelo autor de HUSSEY (2004). Como aeronave interina de monitoramento em voo, foi escolhida a Piper PA-18 (Fig. 19), pois não se tinha previsão da disponibilidade de aeronaves mais leves substitutas para os T-6. Mais à frente, quando liberados para a construção pelo governo, os T-34 substituíram os PA-18, que em função de sua baixa velocidade e restrições quanto a manobras acrobáticas, não representavam uma aeronave própria para a função. Os Beechcraft T-34 Mentor começaram seu serviço no ano de 1954 e, com eles, um novo currículo proposto. Os alunos voariam 40 horas nessas aeronaves e depois passariam para os T-28 (Fig.20). O currículo de monitoramento agora incluía manobras acrobáticas o que fornecia um voo mais similar aos voos militares 46 operacionais, garantindo mais eficácia ao programa. As 40 horas eram divididas em 12 horas de pré-solo, 22h de proficiência e 6 horas de acrobacia. Figuras 18a e 18b - Aeronaves Beechcraft YT-34 e Temco YT-35. Fonte: http://www.castleairmuseum.org e http://aerofiles.com Os resultados do programa de voo revitalizado foram notórios. As taxas de atrito após sua implantação tiveram significativa queda, como pode ser conferido na Tabela 1. Figura 19 – Piper PA-18 Super Cub Fonte: http://www.jordancoffey.com/mainpage_photos/PA-18.jpg 47 Tabela 1 – Número de atrito (1952-1954) no treinamento de pilotos da USAF. Números de atrito pré e pós. Programa revitalizado de treinamento em voo (USAF) Ano jan. a jun. 1952 jul. a dez. 1952 jan. a jun. 1953 jul. a dez. 1953 jan. a jun. 1954 jul. a dez 1954 Atrito no pré Atrito no Atrito no básico Atrito no básico voo Primário monomotor bimotor -- 27.0% 13.5% 5.0% -- 27.5% 9.5% 2.2% 12.7% 24.4% 11.4% 3.5% 14.1% 22.5% 13.8% 7.5% 13.1% 20.0% 14.3% 11.2% 10.4% 17.5% 9.2% 6.8% Fonte: Adaptado pelo autor de HUSSEY (2004). Nota-se que o atrito na fase primária caiu de 27.5% para 20% na última metade de 1954, demonstrando que o pré voo teve influência benéfica nos desligamentos dos candidatos; porém, o atrito na porção básica do treinamento no mesmo período foi de 9.5% para 14.5% para os candidatos que tinham instrução em monomotores; e subiu de 2.2% para os incríveis 11.2% nos cursos de bimotores. Depois de analisado o fato, descobriu-se que os desligamentos por vontade própria haviam excedido os decorrentes pela falta de motivação e eram provenientes da crença de que os cadetes com curso superior eram muito qualificados e poderiam obter empregos mais rentáveis na iniciativa privada e, desta forma, arrependiam-se, desistiam e voltavam à vida civil. Em 1954, foi instituído um outro programa, agora não no currículo formal da força aérea, todavia destinado aos cadetes da reserva (AFROTC), oferecido aos alunos 48 voluntários de Faculdades e Universidades, este curso era batizado de FIP – Flight Indoctrination Program – com duração de quatro semanas. Além de identificar possíveis fracassos, um outro objetivo era o de diminuir a distância dos cursos fornecidos nas Universidades com aquele disponibilizado na própria força aérea, tanto na parte acadêmica quanto treinamento em voo. O interesse nos programas das Faculdades e Universidades é que para a USAF o curso de oficiais da reserva, garantia e, ainda hoje, garante mão de obra qualificada e que em tempos de necessidade engrossam as fileiras dos homens prontos para o combate. Para os cadetes, continua sendo a garantia do suporte financeiro para cursar as instituições particulares com bolsa paga pelo governo. No ano de 1954, também foi criada pelo congresso americano a academia da força aérea em Colorado Springs – Colorado. O comando aéreo de treinamento (ATC) começou a oferecer um programa baseado no FIP, chamado de PIP – Pilot indoctrination program10, que constituía basicamente no mesmo currículo do FIP (5 horas de voo nos T-34 e 5 horas de voo nos T-28), só que feito de maneira centralizada na base da força aérea de Lowry, também no Colorado (as instalações da academia ainda não estavam completas e não havia uma pista de pouso e nem hangares). Figura 20 – North American T-28 Trojan Fonte: www.airliners.net 10 É necessário fazer uma distinção entre os programas de flight screening e flight indoctrination. Os primeiros monitoram os cadetes e realmente realizam instrução, já os programas de pré voo, indoctrination ou flight introduction, apenas apresentam o voo, são mais uma forma de agente motivador do que um tipo de instrução. 49 O programa de introdução ao voo é um bom incentivo à descoberta da oportunidade de voar, mexe com a moral e instiga o descobrimento passo a passo das ações e reações da mecânica do voo. O caráter motivacional dessas primeiras horas de instrução é decisivo na escolha ou não da profissão. O pessoal do comando aéreo de treinamento chegou à conclusão de que o FIP era uma maneira barata de identificar aqueles que não eram qualificados para o treinamento de voo. A diferença do atrito na fase primária de treinamento de voo dos candidatos que passaram pelo programa era quatro vezes menor, ficando em torno de 6.3% para os cadetes do curso de oficiais da reserva que passaram pelo FIP, contra 24.7% de atrito para cadetes que não fizeram o programa (dados das turmas 59C até 59G do ano de 1959 – HUSSEY, 2004). Nos primeiros dez anos de programa FIP, tomaram parte da instrução 14.000 candidatos. Com o final do conflito da Coréia, novamente veio uma redução na necessidade por pilotos, todavia o governo não fez cortes tão grandes como no término da segunda guerra. A intenção agora era reduzir a quantidade, no entanto, melhorar a qualidade dos egressos. Em 1959, uma mudança significativa ocorre impulsionada pela crescente onda das aeronaves movidas à reação e em função da escassez de aeronaves de treinamento bimotores, a USAF optou por mudar novamente para um treinamento generalizado, descontinuando a instrução nos T-34 (utilizado desde 1954) e colocando um treinador movido a jato puro. Acreditava-se que as 30 ou 40 horas de monomotores a pistão induziam a vícios e erros que levavam de 15 a 20 horas para serem corrigidos no voo com jatos, isto também foi um fator que motivou a mudança. Reduzir-se-ia a quantidade de aeronaves de treinamento no inventário da USAF. A concorrência de fornecimento do avião foi ganha pela CESSNA sediada em Wichita no Estado do Kansas (meio oeste americano). Fabricante de várias 50 aeronaves a pistão para o mercado civil e também militar, esta empresa ofertou um avião de treinamento bi-reator, metálico, com assentos dispostos lado a lado e ótimas características de pilotagem. Para o pessoal do alto comando da USAF, o treinamento seria todo feito, ao menos as etapas primária e básica, no T-37 Tweet (Fig. 21) e, após o término, seguiriam para o Lockheed T-33 e, posteriormente, os Northrop T-38 Talon (substitutos dos T-33, comprados em 1961). Achava-se que a base da instrução seria a linha mestra da caça, doutrina mais rígida e que compreendia manobras acrobáticas e voos de alto desempenho, desta forma, era um treinamento mais intenso e difícil que poderia formar pilotos para as outras habilitações (transporte, bombardeio etc. mais flexíveis e competentes). Figura 21 - Aeronave Cessna T-37 Tweet Bird Fonte: http://www.au.af.mil/au/awc/systems/dvic261.jpg Entretanto, com certeza, esse piloto deveria passar por uma outra introdução ao voo especifico de cada área, quando efetivamente fosse para a unidade fim (operacional). É difícil acreditar que a instrução fosse suficiente, mas assim o foi durante três décadas. Esse sistema chamado de ALL JET – todo feito a jato – ia de encontro ao sistema tão comprovadamente eficiente até então por ser generalizado, além de conflitar com alguns dos princípios do ISD – documento regimental doutrinário de instrução – da USAF. 51 O sistema todo baseado em jato vigorou por trinta anos, sendo substituído em 1991 pelo atual SUPT – Specialized Undergraduate Flight Training Program (Programa de Treinamento de Voo Especializado). Contudo, mesmo com a instrução toda feita em aeronaves à reação e à falta de aeronaves leves para o pessoal da academia, os cadetes da reserva (ROTC) continuavam a receber as horas de voo no programa FIP. É preciso destacar que são três as fontes de recrutamento de pilotos na USAF: Academia da força aérea americana; OTS – Escola de formação de oficiais; ROTC – Curso de oficiais da reserva. Estes estabelecimentos têm apenas o papel acadêmico. A instrução de voo nos programas UPT ou, atualmente, JSUPT, são de responsabilidade do comando aéreo de Ensino e treinamento AETC11. Os programas de introdução ao voo, surgiram nessas escolas com o intuito de selecionar e motivar o candidato até a conclusão dos cursos e fazê-los a continuar na carreira. Por esta razão, fica confuso referenciar um programa oferecido pelo comando aéreo de treinamento ATC, similar a aqueles também oferecidos por essas escolas aos candidatos (cursos de introdução ao voo), porém, com currículos mais extensos, chamados de programas de monitoramento em voo ou flight screening. Os programas de introdução têm por volta de 10 a 15 horas de voo, enquanto uns programas de monitoramento não possuem menos do que 30 horas em média. Com a queda na necessidade do número de pilotos, o comando aéreo de treinamento procurou uma maneira de juntar as porções primária e básica do treinamento de voo em um mesmo lugar e, assim, em março de 1960 foi aprovado pelo secretário da força aérea um novo programa: Consolidated Pilot Training, que entraria em vigor em 1961, havia também a intenção de substituir os instrutores civis por militares e acabar com as escolas primárias privadas terceirizadas. 11 O Comando Aéreo de Treinamento da USAF (ATC – Air Training Command) passou a denominar-se Comando Aéreo de Ensino e Treinamento (AETC – Air Education and Training Command) em 1º de julho de 1993. (HUSSEY, 2004). 52 Em 13 de março de 1961, começa então o UPT – Undergraduate Pilot Training, acabava então, o monitoramento em aeronaves leves fornecido pelo comando aéreo de treinamento (Fig. 22). PRIMÁRIO BÁSICO FASE 1 132 horas de voo no T-37 FASE 2 133 horas de voo no T-33 Figura 22 – Sistema de Instrução UPT em duas fases (All Jet), implantado em 1961. Fonte: Adaptado pelo autor de HUSSEY (2004). Na década de 1960, deixou-se de se utilizar os aviões leves no programa UPT, em virtude do uso do programa All jet citado anteriormente. Um programa de monitoramento similar só foi retomado cinco anos depois com a entrada em serviço dos Cessna T-41 (Fig. 23), em um programa conhecido como: Light Plane Screening, onde os candidatos sem experiência de voo voariam 30 horas nessas aeronaves. Os alunos provenientes das três fontes de recrutamento com experiência de voo ou detentores de carteira de piloto privado, voariam apenas 18 horas. Este programa tinha vistas à redução de atrito frente ao novo aumento da demanda pela entrada dos EUA na Guerra do Vietnã. Percebe-se, então, que o atrito sobe e com ele a necessidade de programas de monitoramento em voo em todas as guerras, sendo assim notório na Segunda Guerra Mundial e na Guerra da Coréia e Vietnã. 53 Figura 23 – Aeronave Cessna T-41 Mescalero Fonte: http://www.fas.org/programs/ssp/man/uswpns/air/trainer/t41ac.html. Em 1970, o atrito continuava alto, muito embora, continuasse a existir programas de monitoramento em voo. Com a crise do petróleo, foram pensados vários meios alternativos de monitoramento, inclusive seleção e uso de métodos baseados em solo, como é o caso de testes escritos de qualificação, simuladores e testes psicomotores. Tentou-se por parte do comando aéreo de treinamento ATC, descontinuar o voo nos T-41, substituindo-os pelos testes baseados em terra, alegando que esta ação economizaria US$ 773,000, no ano de 1977, e chegaria a US$ 1.5 milhão quando o atrito chegasse à meta de 10%, previamente estabelecida. O alto comando da USAF se negou a substituir o voo nos aviões leves pelos chamados GBS (Ground Based Tests – testes feitos em terra) em função das três fontes de recrutamento possuirem monitoramento em aeronaves e se o ATC adotasse outra forma, seriam dois sistemas diferentes o que a seu ver não seria nada prático. Na década de 1980, houve mudanças no FIP que era ministrado para os cadetes do ROTC, passou a chamar-se FSP – Flight Screening Program. 54 O atrito chegou em 36,5% em 1983 e várias mudanças foram colocadas em curso, além da redução de horas no programa FIP de 25 para 14 horas, impulsionadas pela redução nos gastos. Uma mudança significativa tomou corpo em 1989, com a transição planejada para o sistema especializado de instrução, que começaria em 1991. O mote agora, analisando os sistemas anteriores, era fazer melhorias no programa para criar um programa definitivo todo desenhado com base nas experiências anteriores. 3.4.1 EFS – Enhanced Flight Screening Em 1990, iniciou-se uma pesquisa com vistas a melhorar o processo de instrução e escolher uma nova aeronave para instrução com melhores características de voo e desempenho, comparativamente aos Cessna T-41. Foi instituída uma comissão BAR (Broad Area Review) que realizava reuniões com outras instituições de treinamento americanas, inclusive da marinha americana com a intenção de melhorara qualidade de todo o processo de monitoramento em voo. O consenso destas reuniões, era de que o monitoramento em voo não era um meio eficaz para o candidato e à força poderem avaliar seguramente qual aviação ou habilitação seguir. Na verdade, visto nesse estudo do processo americano de instrução desde seu começo, houve algumas situações onde se cogitou que o voo com aviões leves não refletem a realidade do voo operacional e não contribuem muito para motivar ou esclarecer ao candidato o que é a atividade operacional (ou ao que ele estará ou estaria submetido no futuro). Somado a isto, está a falta de instrutores militares com experiência em combate ou operacional, que também tem influência na qualidade da instrução, problema apontado por Michael Hays (2002, p. 38). Como resultado, surgiu a proposta de um novo sistema de monitoramento chamado EFS – Enhanced Flight Screening (sistema de monitoramento em voo 55 melhorado), que deveria contar com uma aeronave de melhor desempenho em relação aos Cessna T-41 Mescalero, utilizados nos programas de monitoramento até então. . O objetivo principal do EFS, era de baixar o atrito no SUPT, para 15 a 20%, meta considerada boa se conflitada à media dos últimos dez anos que era de 27.5%. O valor levantado pela comissão do custo para os cofres da união de cada ponto percentual de atrito na instrução da USAF era da ordem de U$ 1 milhão. O plano é que o EFS seria ministrado na academia e na base aérea de Hondo no Estado do Texas para os candidatos das três fontes de recrutamento e incluiriam acrobacia, voo invertido e exposição a médios valores de aceleração G, o que seria impossível com os Cessna T-41 (mencionados acima). Para testar a viabilidade do programa de EFS com os métodos de seleção de pilotos, resolveu-se fazer um teste com o programa recém criado paralelamente ao então FSP - Flight Screening Program regularmente oferecido com os T-41. Assim, a empresa DOSS Aviation, que já era responsável por ministrar o programa de FSP – Flight Screening Program para os cadetes da OTS e oficiais de forças aéreas estrangeiras, foi escolhida para encabeçar uma pesquisa, usando aeronaves de melhor desempenho. A empresa, então, arrendou sete aeronaves italianas de treinamento avançado Siai Marchetti SF-260 (Fig. 24) totalmente acrobáticas. Em 15 de junho de 1990, ativou-se o 1º Esquadrão de monitoramento em voo (1st Flight Screening Squadron). 56 Figura 24 - Aeronave Siai Marchetti SF-260-E. Fonte: http://www.geocities.com/sf260abcd/AirForce1.jpg Alunos de quatro fontes de recrutamento participaram do projeto: Oficiais do serviço ativo (inclusive sete navegadores); Candidatos do AFROTC; Oficiais da OTS; Cadetes da Academia da Força Aérea. Nenhum dos participantes possuía brevê de piloto privado. Dos 57 alunos que entraram no treinamento, 47 completaram satisfatoriamente o curso, um atrito de 17.5%, consideravelmente mais baixo do que os 25% previstos. Os SF-260 são aeronaves acrobáticas de alto desempenho, com assentos lado a lado e asa baixa, construídos integralmente em alumínio. O teste foi ótimo para validar o novo currículo do EFS - Enhanced flight screening, além de ajudar a definir os requisitos para a aeronave substituta dos Cessna T-41 e também para determinar a coerência do EFS com o PSCS – Pilot Selection and Classification System. 57 Da análise feita pelos instrutores com os Siai Marchetti, foram extraídas algumas das características vistas como necessárias para a aeronave substituta do programa de monitoramento em voo: Trem de pouso retrátil; Ar condicionado; Compensador elétrico; Sistema de combustível com alarme de nível baixo (bruxa); Capacidade de voar IFR (voo por instrumentos), pois, às vezes, nuvens baixas na área de treinamento fazem com que acabem os voos de instrução em função da obstrução da visibilidade. Enquanto o treinamento ainda acontecia com os SF-260, o Comando aéreo de treinamento e a Academia da Força Aérea promoveram um encontro de conformidade operacional, onde as empresas interessadas em fornecer a nova aeronave do programa de monitoramento em voo, reuniram-se para conhecer detalhes como o ambiente de operação e detalhes dos programas de treinamento, este evento aconteceu de 22 de julho a 10 de agosto de 1990. Ao todo, participaram 10 empresas americanas e estrangeiras: Aeroespatiale (França); Mooney (EUA); FFA (Suíça); Siai Marchetti (Itália); SAAB (Suécia); Slingsby (Reino Unido); Glassair (EUA); Piper (EUA); American General (EUA); Taylorcraft (EUA). 58 A USAF aproveitou a oportunidade para conhecer o que havia de aeronaves no mercado e coletar as informações para redigir o documento de requisição de propostas (Request for Proposals). Em 17 de janeiro de 1991, o ATC – Air Training Command (Comando Aéreo de Treinamento) publicou o documento chamado de Requisitos Operacionais de Sistemas para o programa de monitoramento em voo melhorado (EFS). Inicialmente, requisitando 125 aeronaves. Em 29 de abril de 1992, a Divisão de Sistemas Aeronáuticos sediada na base da força aérea de Wright Patterson – OHIO, anunciou o vencedor da concorrência – A empresa do Reino Unido Slingsby Aviation, que era parceira da empresa Northrop sediada em Oklahoma – EUA. A aeronave a ser produzida era uma versão do Slingsby Firefly, modificado e repotencializado designado pela USAF T-3A (Fig. 25). As características não eram muito parecidas com a descrição dos instrutores após o teste com os SF-260, mas o avião era comercialmente disponível e certificado pelo FAA na categoria acrobático. O T-3A era um monomotor à explosão com asa baixa, assentos dispostos lado a lado com comandos duplicados e feito em materiais compósitos, sua velocidade de cruzeiro era de 178 milhas por hora, o equivalente a 287 quilômetros por hora. Mais problemas ainda estavam por vir, inicialmente relacionados ao contrato, que a pedido dos concorrentes perdedores foi submetido a uma investigação do congresso americano. Em setembro de 1992, o Tribunal de Contas (General Accounting Office) liberou o ATC (Comando Aéreo de Treinamento) a continuar com o programa de EFS, contudo, os problemas não pararam por aí. A 12º Ala de treinamento aéreo da USAF (sediada na base da força aérea de Randolph), recebeu o primeiro T-3A em 4 de fevereiro de 1994; um instrutor da fábrica treinou e checou seis instrutores do 3º Esquadrão de treinamento e mais alguns pilotos da 9º Força Aérea e do Centro de Avaliação e Ensaios em Voo da USAF. Estes pilotos, por sua vez, ficaram responsáveis pela formação dos outros 59 instrutores, inclusive os instrutores civis da DOSS Aviation, responsáveis pela instrução dos alunos da AFROTC e da OTS. Figura 25 - Aeronave: Slingsby Firefly T-3A. Fonte: http://www.airliners.net Em março de 1994, os primeiros cinco alunos começaram o monitoramento de voo nos T-3A. E, então, uma onda de acidentes aconteceu com os T-3A, que comercialmente dispunham de motores que variavam de 160 a 200hp e era a primeira vez que se instalava um motor de 260hp naquela célula12. De 18 de fevereiro a 20 de julho de 1994, houve 12 panes relacionadas à operação com o motor, em diversas ocasiões, em que o motor estava em marcha lenta ou baixa PRM (Rotações por minuto do motor). Preocupado com as panes sem explicação, o Comando aéreo de treinamento resolveu interditar a frota dos 16 Firefly. Após meses de suspensão do voo com os T-3A, o Comando aéreo de treinamento retirou a proibição de voo, disponibilizando os aviões com um novo sistema de alimentação. Entretanto, os problemas com os T-3A não acabaram ali. Em fevereiro de 1995, um T-3A voando em missão de rotina na Academia da Força 12 Célula - é o nome dado a estrutura básica de uma aeronave (fuselagem, asas e empenagem), não se levando em conta o grupo motopropulsor. 60 Aérea, caiu matando ambos, instrutor e aluno. Em decorrência deste acidente, foi incorporado o uso de paraquedas para os voos no T-3A. Até novembro de 1995, foram contabilizadas 34 paradas de motor em sua maioria acontecendo na academia da força aérea norte-americana durante o verão, sendo 32 em marcha lenta no solo e duas em voo. Embora tenham ocorridos os acidentes fatais, a aeronave provara ser útil na redução do atrito (Tabela 2) nos anos de 1994 e 1995, conseguindo baixar o índice 8.6 pontos percentuais em comparação ao Cessna T-41 na academia da força aérea (Air Force Academy – AFA). Tabela 2 – Número de atrito na USAF por unidade de comissionamento. Atrito nas forças de comissionamento USAF 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 AFA 19.0% 17.8% 16.6% 15.8% 12.6% 7.3% 14.2% OTS 24.2% 21.5% 4.3% 0% 12.5% 14.3% 0% ROTC 26.7% 23.3% 18.7% 18.0% 16.2% 13.0% 22.0% Fonte: Adaptado pelo autor de HUSSEY, 2004. Em setembro de 1996, um segundo T-3 caiu, quando o motor apagou em voo e sem condições de recuperação pelo instrutor matou os dois tripulantes. Em maio de 1997, o General Lloyd W. Newton (Comandante do AETC), reportou ao General Ronal A. Fogelman (Chefe do gabinete da Força Aérea), que havia sido feito progresso na solução da pane com os motores dos T3; mas em 26 de junho de 1997, a academia experimentou um terceiro acidente fatal com aluno e instrutor após a parada de motor. O Comando aéreo de ensino e treinamento parou toda a frota de T-3A em 25 de julho de 1997 e pediu nova junta para análise de todo o processo de monitoramento em voo. 61 Antes do término desta análise pelo Comando aéreo de ensino e treinamento, a inspetoria geral da força aérea foi convocada pelo secretário da força aérea o Sr. F. Whitten Peters para fazer um BAR – Broad area review13, sobrepujando a iniciativa do comando. Em 17 de março de 1998, o Inspetor Geral publicou seu relatório que fazia 48 recomendações de mudança no programa, inclusive complementar os ensaios em voo na base da força aérea em Edwards no Estado da Califórnia. Algumas das recomendações foram: Terminar as modificações no sistema de combustível dos T-3, fazer a publicação de vários manuais de procedimentos; Realização da conversão dos instrutores militares da academia em civis contratados; pilotos do FAA e da empresa SAIC10, limitaram a operação dos T-3 a sortidas de uma hora em função do problema com o baixo nível de combustível remanescente nos tanques, mas esta atividade iria complicar a vida de instrutores e alunos, pois o voo típico de instrução era de 1.4 horas. Os T-3A foram tirados da ativa em 8 de outubro de 1999, após os três acidentes fatais, como também se encerrou o EFS - Enhanced Flight Screening. 3.4.2 Introductory Flight Training O Comando aéreo de ensino e treinamento estava sem um programa de monitoramento em voo (Flight Screening) e o atrito voltava a subir na fase de instrução primária do agora chamado de Joint Specialized Undergraduate Pilot Training (Treinamento conjunto especializado de piloto), que, em 1999, atingiu 15.6% para os alunos sem experiência em voo. 13 BAR – Broad area review – É uma investigação conduzida por uma equipe de profissionais que são indicados para analisar um problema e redigir um relatório com o intuito de fazer recomendações para mudanças nas praticas , procedimentos e operações melhorando o desempenho operacional e resolvendo o problema em questão. SAIC – Scientific Applications International – Empresa contratada pela USAF para solucionar os problemas decorrentes das panes dos motores dos T-3A Firefly. 62 Procurando um programa interino, o comando da aeronáutica sugeriu o uso de um programa similar ao FIP da AFROTC, operado por empresas civis contratadas e, assim, começou a implantação do então recém batizado IFT – Introductory Flight Training (Treinamento de introdução ao voo). O modelo era inspirado no treinamento do ROTC, que utilizava escolas de voo particulares contratadas, e as aeronaves utilizadas eram em sua grande maioria Cessnas 150 ou o modelo 172, com instrutores certificados pelo FAA (Agência Civil de Aeronáutica), e ministrando a instrução de 40 horas similar ao curso de Piloto Privado. O custo da hora de voo era de US$ 100, o que era considerado bem razoável. A decisão sinalizou a mudança de um programa de monitoramento para um programa de treinamento de voo, que agora concederia um brevê de Piloto Privado ao seu término. A Academia da Força Aérea Norte Americana (Air Force Academy), começou a operar com o IFT em outubro de 1998, seguido pelo AFROTC (Curso de oficiais da reserva) em meados de novembro, em um ano de operação, o IFT atendeu a 846 candidatos da ROTC e formou 495 destes, contra 663 cadetes da Academia que cumpriram o programa e apenas 470 se formaram. Curiosamente, o atrito nas 22 turmas que participaram do programa entre outubro de 1998 e setembro de 1999, foi de apenas 8.8% que eram favoráveis se comparados aos 7.8% do atrito dos alunos que voaram os T-3 e 11.3%, dos alunos que voaram o Cessna T-41. O atrito de alunos que não tinham experiência de voo previa, era de 15.6% (Tabela 3). 63 Tabela 3 – Número de atrito comparativo entre os programas IFT, EFS e FSP. Números de atrito para o programa IFT – Introductory Flight Training Participantes do IFT 8.8% EFS com aeronaves T-3A 7.8% Participantes do FSP 11.3% Alunos sem experiência prévia de voo 15.6% Fonte: Adaptado pelo autor de HUSSEY, 2004. Contente com os resultados do IFT, o Comando aéreo de ensino e treinamento (AETC) ainda não tinha respostas para o que fazer com os T-3. O Diretor de operações do AETC, General William Welser III, recomendou a expansão do IFT de 40 para 50 horas de voo e fazer a carteira de piloto privado item obrigatório no programa. Se um aluno não realizasse voo solo nas 25 horas previstas e nem fosse fazer o voo de cheque com 50 horas, então, ele ou ela seriam desligados do programa. Uma vez que a média para uma pessoa normal conseguir o brevê de Piloto Privado é de 70 a 80 horas, as 50 horas serviriam então de termômetro para se julgar o potencial do candidato em ter sucesso no SUPT. Sendo o voo de cheque a cargo do FAA, de certa maneira conferia uma padronização no treinamento, que não era presente no currículo das 40 horas. Em 3 de janeiro de 2000, esta recomendação entrou em funcionamento e, assim, a licença de Piloto Privado era requisito para a entrada no programa JSUPT – Joint Specialized Undergraduate Pilot Training. 64 3.4.3 Academy Flight Screening Oficiais da academia criaram um outro programa chamado de AFS (Academy Flight Screening – Monitoramento em voo da academia), que empregava o currículo já aprovado pelo Comando aéreo de ensino e treinamento para o IFT, no entanto, com um menor número de horas de voo, desta forma mais enxuto e barato e que atenderia a todos os cadetes da academia. O AFS tinha 25 horas de voo, incluindo um voo de pré solo, voo de repasse para o cheque e voo de cheque final. Embora o programa não formasse os alunos em Pilotos Privados, estes acreditavam que as 50 horas como estava arranjado o currículo do IFT, não faziam do programa mais eficiente e nem economicamente viável, pois havia a sobrecarga da escala de voo e a saturação do espaço aéreo local (da academia). A aeronave escolhida para o treinamento pela Embry Riddle University (Empresa contratada para ministrar o IFT na academia da força aérea) foi o Diamond DA20C1, um treinador especialmente modificado para atender aos requisitos do FAA (Fig. 26). A economia desse sistema seria da ordem de US$ 1.2 milhões. Figura 26 - Aeronave: Diamond D-20 Fonte: http://www.diamondaircraft.com A intenção do IFT para o AFROTC era o de treinar seus pilotos para uma padronização com vistas à obtenção do brevê de Piloto Privado e, logicamente, 65 passar no cheque do FAA, a padronização dava condições de reprodutibilidade do processo país afora. O FIP não tinha condições de oferecer esta possibilidade, sem contar na falta de padrão de uma escola para outra. O IFT era um sistema padrão que foi implantado com o objetivo de ser provisório após a paralisação da frota dos T-3. O programa não estava falido, porém os membros do comando pensavam se não haveria uma maneira melhor de monitorar e preparar os candidatos para ingressarem no SUPT. Com essa análise, a proposta do AFS (Academy Flight Screening) começou a ganhar notoriedade e popularidade junto ao pessoal do Quartel General da USAF, levando a sua aplicação nas três fontes de recrutamento. 3.4.4 Ajustando o IFT - Introductory Flight Training e a criação do IFS - Initial Flight Screening Em 4 de dezembro de 2002, não havia passado muito da data do pedido da academia da força aérea para a aprovação da implantação do AFS, quando o General Stephen T. Sargent, Diretor de planos e programas, formou uma equipe multifuncional para analisar o processo do IFT, e determinar se seria possível adaptá-la à linha de pensamento do AFS, de forma que todos os candidatos pudessem receber a mesma instrução em ambientes similares. Em 12 de maio de 2003, o AETC – Comando Aéreo de Ensino e Treinamento colocou no sítio da rede mundial de informática do Federal Business Opportunities, um anúncio para que as empresas com interesse em fornecer o treinamento, pudessem se cadastrar e mandar seus orçamentos baseados nos três cenários divisados pela equipe. As três opções teriam 25 horas de voo de monitoramento, dimensionado para atender 1.000 alunos por ano. Muitas empresas responderam ao anúncio, indicando a preferência por apenas um local de treinamento para facilitar a padronização da instrução para todos os candidatos a piloto nos moldes do SUPT (menos os monitorados na Academia da Força Aérea). 66 As ideias dos membros da equipe e das empresas interessadas no fornecimento da instrução eram convergentes, tendo como justificativa que um programa de treinamento em um único local poderia oferecer condições rigorosas e equitativas para a preparação do aluno/candidato para o ambiente do SUPT. O novo programa iria reduzir as horas, antecipando o voo solo por volta das 15 horas e o ponto do cheque final acontecendo quando o aluno tivesse em torno de 23 a 25 horas, estas poucas horas significavam que o aluno poderia completar o curso em semanas ao invés de meses, além de tudo, um único local para a instrução permitiria a USAF supervisionar o treinamento mais próximo e os instrutores seriam militares e não civis, ficando ao seu cargo a instrução e os voos de cheque. Atualmente, a empresa Doss Aviation tem um contrato com a USAF para ministrar o programa de IFS - Inicial flight screening, que foi uma adaptação do antigo IFT. O contrato com a empresa foi assinado em 1º de outubro de 2006 e a aeronave utilizada é o confiável Diamond DA-20, na base da Doss Aviation na cidade de Pueblo – Colorado. O programa do IFS é de 14 sortidas, totalizando 18 horas de voo, durante as quatro semanas e meia de instrução. O currículo inclui: Controle básico da aeronave; Procedimentos normais e de pouso; Reconhecimento do estol e recuperação; Navegação básica. Com o começo do IFS em Pueblo, terminou o programa de monitoramento em voo da academia, uma vez que não se necessitava mais deste. Os cadetes ao entrar no agora UFT – Undergraduate flight training são deslocados para Pueblo para fazer o IFS. Um buraco foi deixado na academia com o término do seu programa 67 de monitoramento. A academia conta com três programas para os cadetes que são: Voo à vela; Para-quedismo; Voo motorizado (representado pelo programa de monitoramento). Com a falta de um programa próprio de monitoramento em voo, os instrutores da academia propuseram um programa que não seria um monitoramento, mas um retorno àqueles currículos antigos de introdução ou apresentação da técnica do voo, chamado de PFP - Powered Flight Program. O novo PFP vem sendo implantado em três fases: 1 De janeiro a setembro de 2008, que incluiu uma pequena quantidade de cadetes, utilizando uma combinação de aviões da USAF e dos aeroclubes para a instrução, porém sob o comando do grupo aéreo de treinamento 306 da 19ª Força Aérea, baseado na academia; 2 Nesta segunda etapa, que está acontecendo agora, há um contrato com a empresa Doss Aviation, que cuida da manutenção e instrução em voo e que emprega uma frota de 20 Diamond DA40, modelo originado dos DA20 com mais motor e dois lugares extras para passageiros; 3 Esta fase começará em 2012/2013 com a aquisição de aeronaves próprias da força aérea. O plano é o aumento do número de alunos que atenderão ao programa. 68 3.5 ISD – Instructional System Development: A Doutrina Oficial de Treinamento da Força Aérea Norte-americana (USAF) Em uso, desde 1965, pela USAF, este documento passou por diversas versões e continua em evolução. Está baseada em princípios da engenharia de sistemas, psicologia cognitiva e tecnologia utilizada na instrução. É política da Força Aérea Norte Americana (USAF), utilizar o processo do ISD para o desenvolvimento de qualquer tipo de instrução, através do documento AFPD 3622 e publicado no manual AFMAN 36-2234, que fornece informações sobre os conceitos, princípios e procedimentos do ISD, com desdobramentos para casos específicos em vários volumes do manual AFH 36-2235, cada qual enfocando ferramentas ou treinamentos dirigidos, por exemplo, para pessoal de terra ou pilotos. O manual 36-224, define o ISD como: “Um processo intencional e ordenado, porém flexível para o planejamento, implantação e gerenciamento do sistema de instrução”. O objetivo do ISD é aumentar a efetividade do treinamento e dos custos baseando o treinamento no desempenho das tarefas, eliminando habilidades e lições irrelevantes do processo, além de garantir que os alunos absorvam as habilidades necessárias, o conhecimento e desenvolva as atitudes pertinentes ao trabalho fim. O ISD enfatiza, ainda, o desenvolvimento dos meios de treinamento, o que garante a capacidade de transferência do processo. Este sistema é baseado nos princípios da gerência industrial datados dos anos 1950. Inicialmente, no sistema original da Força Aérea, era descrito por cinco fases, como na Figura 27 a seguir. 69 CONDICIONANTES Análise dos requisitos do sistema. Definição dos requisitos de instrução/treinamento Desenvolvimento de objetivos e avaliações. Retorno e interações Planejamento desenvolvimento e validação da instrução. Condução e avaliação da instrução CONDICIONANTES Figura 27 – Fluxograma do ISD – Instrucional System Development. Fonte: Adaptado pelo autor de HAYS, 2002. (1) Análise dos requisitos do sistema – Nesta etapa, faz-se uma análise passo a passo do comportamento humano necessário para cumprir uma determinada tarefa. Estes requisitos são estabelecidos para satisfazer as necessidades dos usuários finais ou consumidores. No contexto de treinamento de pilotos, os clientes são os comandos operacionais que receberão os pilotos formados. O produto desta tarefa é uma lista detalhada de tarefas exigidas ou necessárias. (2) Definição das exigências para o treinamento e instrução – Este passo determina quem será treinado e qual o treinamento é necessário para que o aluno desempenhe as tarefas descritas na lista do passo número 1 (item anterior). (3) Desenvolvimento de objetivos e avaliações – Desenvolvimento de quais tarefas o aluno deve fazer e estabelecer um padrão de desempenho esperado. Os alunos devem ser avaliados segundo um critério 70 específico ao invés de fazer comparação do desempenho dos alunos coletivamente. (4) Planejamento, desenvolvimento e validação da instrução – Este passo determina a sequência ideal de instrução, os melhores meios e métodos para ajudar no aprendizado. O processo de validação é geralmente realizado, utilizando-se um pequeno grupo de alunos (grupo de controle), para se determinar se o programa consegue fazê-los alcançar determinado objetivo. (5) Condução e avaliação da instrução – Este último passo fornece um gabarito necessário com um intuito de analisar, manter e melhorar a eficácia do programa de treinamento. Isto torna o sistema mais flexível a mudanças de acordo com as necessidades do usuário final. A USAF foi uma das primeiras instituições a colocar o conceito do ISD em prática. No auge da guerra fria, estes princípios foram utilizados para treinar operadores dos mísseis balísticos. Coincidentemente, com o aparecimento da doutrina do ISD, a força aérea estava implantando o programa ALL JET, que utilizava um programa generalizado de instrução baseado no jato de treinamento fabricado pela Cessna (T-37 Tweet), que ficou mais de três décadas em operação, mas que colidia com alguns princípios do ISD. A tensão era devida ao fato de que todos os alunos, independente da habilitação escolhida, teriam o mesmo treinamento, utilizando a mesma plataforma. Esta conduta contraria o princípio de que o treinamento deveria ser ajustado com o tipo de tarefas a serem executadas e os conhecimentos desnecessários seriam eliminados. Alguns tipos de voo como é o acrobático e voo em formação de quatro aeronaves de pouco servirão para os alunos destacados para a aviação de transporte ou reabastecimento. 71 Os princípios do ISD são congruentes com os princípios da qualidade total. Atualmente, o processo do ISD é a adaptação dos princípios da engenharia de sistemas para o desenvolvimento, implantação e avaliação da instrução. O ISD resulta em uma solução alternativa para os problemas de instrução que podem ser mais ou menos eficientes em termos de custo, dependendo das necessidades da instrução e das condicionantes do ambiente de instrução. A visão da engenharia de sistemas, que envolve a escolha entre soluções alternativas é o que produz o melhor resultado efetivo. O modelo atual do ISD possui três partes distintas e relacionadas: funções do sistema; fases do ISD; e melhoria da qualidade. A Fig. 28, a seguir, mostra as funções básicas em um nível superior do sistema, do qual fazem parte a gerência do sistema de treinamento, o apoio, a administração, a execução e a avaliação, que é mostrada como central por ser um processo constante. Gerência Execução AVALIAÇÃO Apoio Administração Figura 28 – Funções do Sistema do Modelo do ISD. Fonte: Adaptado pelo autor de HAYS, 2002. 72 1- As funções do sistema são definidas como: Gerência – Dirigir e controlar o sistema de instrução e as operações; Apoio – A função é a de manter todas as partes do sistema; Administração – Processar o dia a dia e arquivar as informações; Execução – Levar a instrução até os alunos; Avaliação – Coletar informações de retorno de avaliações. 2- As fases do ISD são: Analisar e Determinar – qual a instrução necessária; Criar e Conceber – os treinamentos para suprir as necessidades; Desenvolver – materiais didáticos para dar apoio aos requisitos; Implementar – o sistema de ensino. NOTA: A avaliação é tarefa central e constante no processo. 3- Modelo total do sistema com a integração da melhoria da qualidade, é o terceiro componente. A melhoria da qualidade é a contínua e organizada criação de mudanças benéficas no sistema de ensino. O objetivo da melhoria da qualidade QI (Quality Improvement) é o de adotar melhorias contínuas tanto no processo do IDS quanto ao produto do processo. (Fig. 29). 73 Gerência QUALIDADE APERFEIÇOAMENTO AVALIAÇÃO Projeto Execução Implantação Análise Apoio Desenvolvimento Administração Figura 29 – Funções do Sistema do Modelo do ISD, com inclusão da melhoria da qualidade. Fonte: Adaptado pelo autor de HAYS, 2002. 3.6 Pesquisa com Instrutores e Especialistas em Manutenção da Academia da Força Aérea (AFA) Uma das grandes dificuldades encontradas durante esta pesquisa foi a falta de bibliografia na área de aeronaves de treinamento, sistemas e suas metodologias no âmbito nacional, sempre que o autor lia e encontrava uma solução adotada por alguma força aérea, pairava a dúvida em relação à relativa compatibilidade com nosso sistema e as opiniões dos profissionais envolvidos com a tarefa no dia a dia. Levando-se este fato em conta, foi realizado e efetivado um contato com o comando da Academia da Força Aérea, localizada na cidade de Pirassununga interior do Estado de São Paulo, distante 250 km da capital, que após apresentação formal do objetivo da pesquisa, autorizou a visita do autor, colocando à sua disposição o quadro de instrutores, para que respondessem a um questionário. O objetivo da pesquisa foi o de constatar entre a comunidade de instrução militar da força aérea de nosso país, suas impressões sobre a atual situação e futuras proposições apontadas no estudo até então. 74 Foi importante averiguar o conhecimento sobre outras escolas de treinamento, principalmente, a norte-americana, além de vocabulários e problemas decorrentes do uso das atuais aeronaves T-25C. Foram preparados quatro tipos de questionários: Questionário P1 – Foco principal do estudo, a ser aplicado aos instrutores do 2o esquadrão de instrução, operadores do Neiva T-25; Questionário P2 – um único P2 a ser respondido pelo comandante do 2o esquadrão; Questionário P3 – para os instrutores do 1o esquadrão (treinamento avançado operadores dos Embraer 312- T-27 Tucano); Questionário P4 – para os sargentos responsáveis pela manutenção. Cada tipo de questionário tinha objetivos específicos: P1 - Conhecer o perfil do instrutor do 2o esquadrão, seu conhecimento de outros sistemas de treinamento, sua opinião sobre a unificação dos currículos civil e militar, suas impressões sobre o T-25 (pontos positivos e negativos), ponderação sobre algumas características de uma aeronave de treinamento e, finalmente, a sua avaliação sobre o uso de uma aeronave mais leve e do sistema de monitoramento em voo, como forma de redução de custos e diminuição do número de atrito. P2 - Além das questões contidas no P1, saber qual o número de atrito e problemas relativos à instrução e as causas mais comuns dos desligamentos. P3 - Foi usado a mesma base do P1, porém algumas perguntas modificadas tinham como objetivo descobrir os gargalos da transição do T-25 para o T-27 e a eventual possibilidade de se fazer o curso básico e avançado, utilizando um só vetor, no caso o T-27. 75 P4 - Formulário totalmente específico, criado para apurar os tipos de panes mais comuns nos T-25 e implicações na adoção de uma aeronave de construção mista compósito/metálico. Os resultados foram muito esclarecedores e serão tratados separadamente por tipo de questionário, pois, desta forma, os problemas e apontamentos ficarão atrelados à experiência de um esquadrão ou grupo, o que facilita ao olhar do autor e sua interpretação. Figura 30 – Instrutores do 1º e 2º Esquadrão de Instrução, respondendo aos questionários. Fonte: arquivo do autor. 3.6.1 Resultados dos questionários do 2o EIA No 2o EIA (esquadrão de instrução aérea), foram respondidos 10 questionários, dos 10 pilotos, sendo cinco deles da aviação de transporte, dois da aviação de asas rotativas, dois da aviação de patrulha e um aviador naval. Os nove eram primeiros Tenentes e um Capitão Tenente Aviador pertencente à Marinha do Brasil. A média de horas totais de voo do grupo é de 1561horas, sendo a média de hora de instrução por indivíduo de 584 horas. Do total apenas um aviador (Capitão Tenente – Marinha do Brasil) não obteve instrução em T-25 (básica) e T-27 (avançada), tendo voado 30 horas em Cessna 172 (instrução primária), 140 horas em instrução básica nos Beechcraft T-34C – Turbo Mentor e 60 horas de instrução avançada em Aeronaves Xavante MC-32. Este oficial também recebeu instrução em aparelhos de asa rotativa (helicópteros), 76 sendo 60 horas em Esquilo monoturbina (UH-12); 20 horas em Esquilo biturbina UH-13; e 20 horas em TH6B – Bell Jetranger III. Como pontos positivos da aeronave T-25 Universal, foram ressaltados robustez e facilidade de pilotagem com três ocorrências cada e confiabilidade, bom desempenho, assentos lado a lado e aeronave considerada boa para voo básico, com uma ocorrência apenas. Nos aspectos negativos, cinco pilotos consideraram o T-25 uma aeronave velha, outras ocorrências foram aeronave muito pesada, pouca razão de subida, restrição de equipamentos para voos IFR, ergonomia insatisfatória, frequência de inspeções, aviônica antiga e baixo teto operacional, todos estes com apenas uma citação para cada. Nos aspectos positivos do T-27 Tucano, foram observadas três ocorrências para desempenho, duas ocorrências para recursos IFR e confiabilidade e uma ocorrência para manobrabilidade, rapidez e presença de assentos ejetáveis. Nos aspectos negativos foram observadas duas ocorrências para instrumentos antigos (aviônica), complexidade de sistemas e uma ocorrência para nacele apertada e idade da aeronave. Nove dos instrutores haviam pilotado o T-25 como piloto em comando em instrução, um o T-27, um o AB-180 Aeroboero e um instrutor pilotou o T-23 Uirapuru. Nove dos dez instrutores acreditam que o vetor de instrução tem influência na qualidade e nível do piloto formado. Com relação aos conhecimentos de sistemas de instrução estrangeiros, oito dos entrevistados não possuíam nenhum, um deixou a resposta em branco e apenas o Capitão Tenente da Marinha por ter sido formado na Argentina, conhecia seu sistema. Nove dos instrutores desconhecem o sistema de instrução norte-americano JSUPT e apenas um entrevistado ouviu falar no sistema de Flight Screening, Monitoramento em Voo. 77 Com relação a uma possível unificação dos currículos de instrução civil e militar, oito dos entrevistados não acreditam na possibilidade, três alegaram como justificativa, que na instrução civil, voos em formação são desnecessários, dois instrutores concordaram que manobras acrobáticas também não são necessárias no currículo civil e houve uma justificativa para a necessidade do cadete militar solar com 14 horas, uma para pressão no voo militar e uma para a doutrina militar no voo. Um dos dois entrevistados que concordaram com a unificação alegou a necessidade de mudança na política organizacional e o outro concordava com a unificação desde que fosse à fase primário/básica do voo. Dos dez entrevistados, oito acham que o T-25 não é uma aeronave adequada para instrução para os próximos dez anos em função das mudanças na aviônica ocorrida na década passada. Dos dois entrevistados que consideram que o T-25 é uma aeronave adequada, um respondeu que a instrução básica é focada no voo visual e o outro que desconsiderando a aviônica e considerando a aeronave em si, ele acredita que seja uma aeronave adequada. Quando perguntados sobre mudanças para atualizar o T-25, seis ocorrências sinalizaram a substituição dos instrumentos de navegação por outros mais confiáveis, quatro indivíduos escreveram que reduziriam o peso da aeronave, dois só acreditam na total substituição do T-25, um colocaria um motor mais potente, um modernizaria o interior e um colocaria para-quedas balístico. Dos dez entrevistados, quatro não pilotaram aeronaves mais leves do que o T-25, quatro tinham experiência com planadores ou motoplanadores (Ximango), três tinham alguma experiência em aeronaves leves (Cessna 172, Aeroboero e Aerotec T-23 Uirapuru), sendo uma ocorrência para cada aeronave. Um dos instrutores tinha experiência em aeronave agrícola (Ipanema) que na AFA é utilizado para reboque de planadores. Uma ocorrência para aeronaves de asa rotativa, considerando o Helibrás / Eurocopter Esquilo UH-50 como aeronave leve. Quando arguidos sobre dificuldades encontradas pelos cadetes com relação à aeronave (T-25), seis ocorrências sinalizaram para o desempenho, uma ocorrência para os seguintes pontos (Tabela 4): 78 Tabela 4 – Dificuldades encontradas entre os cadetes em relação ao T-25. Dados apontados na pesquisa com os instrutores do 2º EIA Dificuldades encontradas entre os cadetes com relação ao T-25 (2º EIA) Carga de trabalho muito grande para o aluno Desempenho Envelope de voo Equipamentos antigos Ergonomia da cabine de comando Falta de simuladores do T-25 Tempo para chegar à área de instrução Tempo de instrução restrito devido a pouca velocidade a aeronave Ocorrências 1 6 1 1 1 1 1 1 Na sua totalidade, os instrutores foram favoráveis a uma possível aeronave leve e de baixo consumo, com capacidade acrobática total para ser utilizada como aeronave para as fases de instrução, primário/básica (programa de introdução ou monitoramento em voo). Nove dos entrevistados já conheciam o projeto nacional da empresa Novaer Craft de São José dos Campos, batizada de TX-C Peregrino. A questão de número 16 traz ao conhecimento dos entrevistados uma suposta divisão do sistema de instrução em: Homem, Máquina e Método e pedia para que os instrutores citassem até três destes problemas por elemento da divisão. Os problemas em relação ao Homem citados estão, a seguir, na Tabela 5. 79 Tabela 5 – Problemas em relação ao Homem. Dados apontados na pesquisa com os instrutores do 2º EIA. Problemas com relação ao Homem (2º EIA) Cansaço Comunicação Conhecimento da máquina Capacidade de transmissão do conhecimento pelo instrutor Desgaste Diferentes técnicas de voo Dificuldade de aprendizado Esgotamento físico e mental Falta de empatia com a atividade Falta de reconhecimento do trabalho de instrução Fatores externos: falta de apoio familiar Habilidade psicomotora Parcialidade na avaliação Personalidade Poucos homens e muito trabalho Preparação teórica para o voo Resistência a mudanças Ocorrências 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Para a parte da Máquina foram listados os problemas, na Tabela 6 abaixo: 80 Tabela 6 – Problemas em relação à Máquina. Dados apontados na pesquisa com os instrutores do 2º EIA. Problemas com relação máquina (2º EIA) Complexidade Complexidade de manutenção Consumo Custo de manutenção Desempenho Dificuldade de uso Ergonomia Idade do equipamento Instrumentos muito básicos Limitações aerodinâmicas Limitação estrutural Limitações de GMP (Grupo Moto Propulsor) Obsolescência Rigidez da aeronave Tempo de vida Vida útil reduzida Ocorrências 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 Para o Método foram atribuídos os seguintes problemas, conforme Tabela 7: 81 Tabela 7 – Problemas com relação ao Método, dados apontados na pesquisa com os instrutores do 2º EIA. Problemas com relação ao método (2º EIA) Falta de padronização Falta de comunicação Limitações impostas ao método pela aeronave Necessidade de melhor seleção dos candidatos Necessidade de mudança da doutrina de instrução O programa deveria ser revisto Poucas alterações no decorrer do tempo Poucas horas para o aluno Rápida evolução Seletivo Sistema semelhante para alunos diferentes Sistema ultrapassado Superficial por vezes Ocorrências 1 1 1 1 1 1 2 1 2 1 1 1 1 Na questão de número 17, foi pedido aos instrutores que atribuíssem notas de 1 a 5 ,sendo 1 de pouca importância e 5 para máxima importância em alguns quesitos selecionados. O máximo de pontos para cada item seria de 50 pontos, caso se considere dez indivíduos desta forma, estão listados abaixo (Tabela 8) por ordem de importância segundo as análises dos instrutores, os itens: 82 Tabela 8 – Itens considerados importantes para uma aeronave de treinamento. Dados apontados na pesquisa com os instrutores do 2º EIA. Itens considerados importantes para uma aeronave de treinamento – total de 50 pontos. (2º EIA) Pontos Capacidade de voo por instrumento (IFR) Ar condicionado Coluna de comando tipo bastão Para-quedas balístico Aeronave de asa baixa Disposição dos assentos lado a lado Configuração de motor/ hélice tratora Trem de pouso retrátil Hélice de passo ajustável Aeronave de estrutura metálica Configuração de motor/ hélice Pusher Disposição de assentos em Tandem Coluna de comando tipo: Yoke (direção) 48 44 42 41 41 41 36 34 32 27 16 15 14 Dos dez entrevistados, sete deixaram a questão relativa à adoção do sistema de Flight Screening em branco, um respondeu negativamente alegando a quantidade de candidatos a serem selecionados e um respondeu positivamente à adoção justificando a melhoria no rendimento da instrução. Apenas após o término da pesquisa é que em um bate papo informal os instrutores foram apresentados ao conceito de monitoramento em voo; desta forma, este deve ter sido o fator de tantas respostas em branco, a falta de conhecimento, talvez não da abordagem, mas sim da expressão. Quando solicitados para opinar sobre um possível substituto para os T-25: quatro instrutores indicaram o Grob 180; quatro deixaram a questão em branco; dois sugeriram o TX-C Peregrino; e um o K-51 projeto do Sr. Kovács. 83 Por último, perguntou-se aos entrevistados quais as ações que poderiam ser feitas para diminuir o número de atrito nas fases iniciais do voo, as respostas poderiam ter uma ou mais soluções. As ações sugeridas estão elencadas na Tabela 9 abaixo. Tabela 9 – Ações para diminuição do Atrito nas fases iniciais do voo. Dados apontados na pesquisa com os instrutores do 2º EIA. Ações para diminuição do Atrito nas fases iniciais do voo (2º EIA) Diminuição do número de alunos Maior tempo de instrução teórica e prática Maior preparo cultural e psicomotor Melhor seleção dos alunos TAPMIL Teste de aptidão de pilotagem Uso de simuladores Ocorrências 1 1 1 2 3 2 1 Todos os entrevistados preferiram não colocar alguma espécie de observação ou comentário em espaço reservado para esta finalidade no final dos questionários. 3.6.2 Resultados dos questionários do 1o EIA No primeiro esquadrão, foram respondidos doze questionários, do total de pilotos instrutores, seis eram da aviação de transporte, quatro eram da aviação de caça e um era da aviação de patrulha. Um dos aviadores pertencia a ambas (transporte e patrulha). Todos eram primeiros tenentes aviadores. No total, o grupo somava 17.450 horas de voo, tendo média de 1.600 horas por piloto. O grupo possuía um total de 9.060 horas de instrução, resultando em média de 824 horas por piloto. Na questão sobre pontos positivos do T-25, os instrutores do 1o EIA responderam com cinco ocorrências para a posição dos assentos lado a lado, três ocorrências 84 para facilidade de pilotagem, robustez e manobrabilidade, e uma ocorrência para baixa velocidade, capacidade acrobática, baixa velocidade de estol e simplicidade. Como pontos negativos foram destacados com cinco ocorrências aviônicos e instrumentos de voo obsoletos, e uma ocorrência para baixo desempenho, pequena razão de subida, baixa relação de peso/potência, projeto antigo e pouca confiabilidade em voo por instrumentos (IFR). Quando perguntados sobre pontos positivos do T-27 Tucano, houve três ocorrências para facilidade de pilotagem, duas para desempenho e uma ocorrência para manobrabilidade, bons recursos de navegação, capacidade acrobática, versatilidade e simplicidade. No quesito aspectos negativos, oito dos onze instrutores apontaram a aviônica obsoleta como principal aspecto negativo e um entrevistado respondeu o alto custo de manutenção. Quando os respondentes foram abordados sobre quais aeronaves de treinamento primário/básico haviam voado como piloto em comando, curiosamente sete deles responderam além dos T-25 o T-27 – que não é uma aeronave primário/básica e sim avançada, além de outras aeronaves citadas como planadores e até o ALX Embraer AT-29 e o Xavante AT-26, aeronaves utilizadas como treinadores avançados e de conversão para a vida operacional nos esquadrões de caça. Foi citado também o Aeroboero AB-180 e os planadores Blanik, Super Blanik e Duo Discos. Todos os instrutores do segundo esquadrão acreditam que o vetor de treinamento tem influência na qualidade de instrução e no nível do profissional formado. Similarmente ao 1o Esquadrão, nenhum dos instrutores tinha conhecimento sobre o sistema de instrução dos Estados Unidos e apenas um dos entrevistados conhecia o termo Flight Screening (monitoramento em voo). Na questão número nove, diferente do questionário P1, foi perguntado das dificuldades com relação à transição do T-25 para o T-27 e as respostas foram as seguintes: cinco ocorrências para a diferença na velocidade das duas aeronaves, três ocorrências para a dificuldade no voo por instrumentos e duas, para a 85 dificuldade no gerenciamento dos recursos da aeronave. Os resultados estão na Tabela 10, a seguir: Tabela 10 – Dificuldades na transição do T-25 para o T-27. Dados apontados na pesquisa com os instrutores do 1º EIA. Dificuldades na transição do T-25 para o T-27 (1º EIA) Diferença na velocidade das duas aeronaves 5 1 Dificuldade na coordenação do tráfego Dificuldade na tomada de decisão em função da velocidade Dificuldade no gerenciamento dos recursos da aeronave 1 2 3 Dificuldade no voo por instrumentos Falta de voo no terceiro ano da academia Ocorrências 14 Fraseologia no voo em rota Lentidão na execução de procedimentos para o pouso em função da maior velocidade Maior complexidade das missões no T-27 Uso de máscara de oxigênio 1 1 1 1 1 Observa-se que muitos dos fatores apontados estão ligados à diferença de velocidade e à carga de trabalho por ser o T-27 uma aeronave com uma quantidade maior de sistemas a serem gerenciados. Quando perguntados sobre dificuldades no treinamento operacional nas aviações de transporte e patrulha, relacionadas ao porte da aeronave de instrução, sete dos entrevistados responderam que não, três desconheciam o fato em virtude de pertencerem a outras habilitações e um piloto de caça respondeu que na caça ou na aviação de transporte a diferença não é do porte, mas sim de novas tecnologias embarcadas, muito embora este não tenha sido o foco da questão, resolveu-se citar a resposta por ser significativa. 14 Na Academia daForça Aérea Brasileira, os cadetes voam em duas ocasiões: A fase da instrução primária/básica quando cursando o 2º ano e na fase avançada no 4º ano, portanto, os cadetes ficam ser desempenhar atividades de voo por todo o 3º ano. 86 Sete dos entrevistados não acreditam que o treinamento possa ser realizado todo, utilizando o T-27 em função de alguns fatores (Tabela 11): Tabela 11 – Fatores que impossibilitariam a execução da instrução de voo totalmente feita, utilizando-se os T-27. Dados apontados na pesquisa com os instrutores do 1º EIA. Fatores que impossibilitariam a execução da instrução de voo totalmente feita utilizando-se os T-27 (1º EIA) Ocorrências 2 Pequena quantidade de aeronaves disponíveis O T-27 é uma aeronave mais rápida e o pré-solo poderia ser feito em uma aeronave mais lenta 2 1 O T-25 é uma aeronave mais robusta 1 O T-25 permite mais erros por parte do aluno A resposta sinalizando a possibilidade de o treinamento ser todo realizado no T-27, justifica-se pelos seguintes fatores: - O aluno realiza as mesmas fases nas duas aeronaves (uma ocorrência); - Apesar de avançado o T-27, possui boas características de voo (duas ocorrências); - Já se fez um teste no passado e as dificuldades observadas foram mínimas, no entanto, a disposição lado a lado dos assentos facilita muito a instrução (uma ocorrência). Analogamente, à questão número 16 do questionário P1, a questão 12 do questionário P3 trazia ao conhecimento dos entrevistados uma suposta divisão do sistema de instrução em: Homem, Máquina e Método e pedia para que os instrutores citassem até três destes problemas por elemento da divisão. Os problemas com relação ao Homem citados foram: 87 Tabela 12 – Problemas em relação ao Homem . Dados apontados na pesquisa com os instrutores do 1º EIA. Problemas com relação ao Homem (1º EIA) Adaptação à atividade aérea Cansaço e tensão devido a jornada de trabalho Desmotivação por falta de reconhecimento e gratificação Erros humanos e falta de padronização Fatores psicológicos Os instrutores serem obrigados a retornar para a AFA para dar instrução Pequena quantidade de instrutores Problemas familiares Pressão do voo familiar Subjetividade (falta de objetividade do homem) Ocorrências 1 5 2 1 1 1 1 1 1 1 Para a parte da Máquina foram listados os problemas: Tabela 13 – Problemas em relação á Máquina. Dados apontados na pesquisa com os instrutores do 1º EIA. Problemas com relação à máquina (1º EIA) Custo operacional Desempenho Idade das aeronaves : dificuldades na manutenção, aviônica ultrapassada e dificuldade de logística Pequena quantidade de aeronaves Peças de reposição Segurança Ocorrências 1 1 10 1 1 1 88 Para o Método foram atribuídos os seguintes problemas: Tabela 14 – Problemas em relação ao Método. Dados apontados na pesquisa com os instrutores do 1º EIA. Problemas com relação ao método (1º EIA) Curso pouco específico para a aviação de destino Exclusão de matérias técnicas em detrimento de matérias de caráter administrativo Grande quantidade de voos mecaniza o método Método pouco eficiente Planejamentos deficientes Pouca atenção no treinamento em simuladores Poucas horas para a fase de navegação Poucas modificações em décadas de treinamento Ocorrências 1 1 1 1 1 1 1 2 Com relação ao T-25 ser uma aeronave ideal para a instrução primário/básica da academia, sete instrutores opinaram desfavoravelmente, alegando vários motivos, entre eles: Tabela 15 – Opiniões desfavoráveis para a afirmação de o T-25 ser uma aeronave ideal para a instrução. Dados apontados na pesquisa com os instrutores do 1º EIA. Opiniões desfavoráveis para a afirmação de o T-25 ser uma aeronave ideal para a instrução (1º EIA) Custo operacional Desperdício de dinheiro, o Tucano seria capaz de executar a mesma missão bastando rever o plano de missões Em função da aviônica antiga e logística Motor de baixo rendimento. Trem fixo seria ideal para a instrução Ocorrências 1 1 2 1 Dos quatro instrutores que foram favoráveis à afirmação do T-25 ser uma aeronave ideal para o treinamento primário/básico, um alegou que o seu desempenho é bom 89 para a missão, outro que a aeronave é boa, mas o custo de manutenção é alto e dois instrutores restantes não justificaram o por quê. 3.6.3 Resultados do questionário respondido pelo comandante do 2o EIA O comandante do 2º esquadrão de instrução é um major aviador com 4.800 horas de voo, sendo 2.800 em instrução, é oriundo da aviação de caça. Utilizou-se dos mesmos vetores (T-25 e T-27) em sua formação como oficial aviador. Entre aspectos positivos do T-25, citou os assentos lado a lado e como aspecto negativo o baixo rendimento devido ao peso; para o T-27, evidenciou o desempenho como positivo e a grande quantidade de panes de comunicação como negativo. Sob seu comando, estão vinte e dois instrutores que, no ano de 2010, passarão a ser em número de vinte e nove componentes. As maiores queixas dos instrutores com relação à aeronave de treinamento vem do seu baixo rendimento e comunicações (T-25), e com relação aos cadetes da falta de preparo, mesmo não sendo muito comum. A média de atrito é de 30% nos últimos dois anos 2008/2009, estes desligamentos ocorrem por diversos motivos entre eles: - Baixa capacidade psicomotora; - Capacidade de realização de múltiplas tarefas; - Capacidade de observação e retenção de informações visuais. Quando indagado sobre acreditar na influência do vetor de treinamento na qualidade da instrução e no nível do piloto formado o major se mostrou totalmente crente na afirmação. O major citou conhecimento do método de instrução da Força Aérea Portuguesa, porém não estava familiarizado com o sistema norte-americano e não conhecia o termo Flight Screening. O comandante do 2o esquadrão acredita que a melhoria na 90 seleção inicial dos cadetes poderia ser uma forma da diminuição do atrito dos candidatos a piloto. Ainda sobre o T-25, acredita que não é mais uma aeronave adequada para a instrução para os próximos dez anos por ter aviônica ultrapassada e o baixo rendimento em função da pobre aerodinâmica e alto peso. Fatores que o comandante dos instrutores modificaria no T-25 para torná-lo adequado seria a substituição da aviônica, troca da hélice para uma hélice tripá de melhor rendimento e diminuição do peso. O major citou experiência de voo em aeronaves leves, tendo voado o Paulistinha, e acredita que uma aeronave leve e totalmente acrobática poderia ser utilizada para o treinamento primário/básico dos cadetes. Possui conhecimento da aeronave TXC Peregrino e acredita ser um possível avião candidato a substituto, por ter bom desempenho, aviônica atualizada, capacidade de gravação de dados em gravador interno para detalhar a missão, além da compatibilidade com simulador tridimensional. Dos problemas do Homem, Máquina e Método, estas foram suas respostas: Tabela 16 – Problemas relacionados ao homem. Dados apontados na pesquisa com o comandante do 2º EIA. Problemas relacionados ao homem apontados pelo comandante do 2º EIA Atenção difusa e baixa retenção de informações visuais Baixa capacidade psicomotora Dificuldade de realizar múltiplas tarefas (raciocínio e processamento de informações) Ocorrências - 91 Tabela 17 – Problemas relacionados à Máquina. Dados apontados na pesquisa com o comandante do 2º EIA. Problemas relacionados à máquina apontados pelo comandante do 2º EIA Ocorrências Apesar de excelente motorização o peso e aerodinâmica são inadequados - Aviônica obsoleta – comunicação e navegação deficientes - Sistema de alimentação de combustível é suscetível a erros e esquecimentos - Obs.: Não houve sugestão de problemas para o Método. Considerou-se as notas de um a cinco para os itens de A a M, desta maneira distribuídos. Não houve resposta na questão 22, em que perguntava se o Major acreditava em um programa de flight screening para nossa força aérea, possivelmente pela falta de reconhecimento do termo estrangeiro. 92 Tabela 18 – Itens considerados importantes para uma aeronave de treinamento. Dados apontados na entrevista com o comandante do 2º EIA. Itens considerados importantes para uma aeronave de treinamento – de 1 a 5, sendo 5 maior importância. ( Comandante do 2º EIA) Capacidade de voo por instrumento (IFR) Ar condicionado Coluna de comando tipo bastão Para-quedas balístico Aeronave de asa baixa Disposição dos assentos lado a lado Configuração de motor/ hélice tratora Trem de pouso retrátil Hélice de passo ajustável Aeronave de estrutura metálica Configuração de motor/ hélice Pusher Disposição de assentos em Tandem Coluna de comando tipo: Yoke (direção) Pontos 5 5 5 2 5 5 5 5 5 3 3 5 1 Na questão subsequente 23, a resposta para uma aeronave nacional ou estrangeira passível de ser o substituto para os T-25, a resposta foi o PX-C Peregrino, devido às boas características de desempenho e aviônica atualizada, inclusive com capacidade de gravação de dados de voo para a alimentação de um banco de dados, para análise no debriefing e a compatibilidade com o simulador de voo. 3.6.4 Resultados dos questionários dos Sargentos Especialistas No total foram entrevistadas quatorze pessoas, sendo treze sargentos e um cabo, todos especialistas em manutenção de aeronaves. Desses quatorze, dez são mecânicos de aeronaves, três são especialistas em elétrica e instrumentos e um especialista em estrutura e pintura. 93 Todos trabalham na manutenção dos Neiva T-25 e conhecem bem a aeronave. Do total, onze conhecem estruturas aeronáuticas feitas em materiais compósitos, dois desconhecem e uma resposta em branco. Quando indagados sobre os problemas mais encontrados na manutenção dos T25, as respostas foram as seguintes: Tabela 19 – Problemas encontrados na manutenção dos T-25. .Dados apontados na entrevista com os Sargentos especialistas em manutenção da AFA. Problemas encontrados na manutenção dos T-25 (Sargentos especialistas em manutenção) Fadiga do material Falta de assentos ergonômicos para a tarefa de manutenção Falta de ferramentas Falta de peças e suprimentos Falta de pessoal e realização de tarefas de outras especialidades Freio (cilindro mestre e pastilhas) Motor Idade das aeronaves Problemas com encaixe das carenagens Poucas modificações em décadas de treinamento Vazamento hidráulico Ocorrências 1 3 1 8 4 2 1 3 2 2 1 A maior parte desses problemas ocorre diariamente, segundo oito dos entrevistados, com uma média de frequência de 3.5 ocorrências diárias. Dos quatorze especialistas, seis estão familiarizados com as técnicas de reparo de materiais compósitos e oito não. Na questão de número 6, quando perguntados sobre possíveis implicações negativas na adoção de uma aeronave de construção em materiais compósitos para a instrução, treze dos quatorze respondentes acharam que não há nenhuma implicação negativa e apenas um respondeu que há a dificuldade na realização de cursos de aperfeiçoamento (especialista em elétrica e instrumentos). 94 Na última questão, os sargentos elencaram características ideais na área de manutenção que a nova aeronave em substituição aos Neiva T-25 deveria possuir, e assim foram colocadas: Tabela 20 – Características ideais para a nova aeronave de instrução da academia Dados apontados na entrevista com os Sargentos especialistas em manutenção da AFA. Características ideais para a nova aeronave de instrução da academia (Sargentos especialistas em manutenção) Adoção do mesmo sistema hidráulico do T-25 Aquisição de máquinas e ferramentas mais adequadas Esquema elétrico de mais fácil acesso Ocorrências 1 1 1 Facilidade de instalação e remoção de componentes/ facilidade de acesso 8 Falta de pessoal e realização de tarefas de outras especialidades 6 Instrumentos mais resistentes Maior tempo entre inspeções Manuais de Ordem Técnica (T.O), mais claros Melhoria no sistema de ventilação da cabine Trem de pouso fixo 1 3 1 1 1 Para dois dos entrevistados, não há características ideais. 3.7 Panorama das Aeronaves de Instrução, utilizado nas principais Forças Aéreas Latino-americanas Não é surpresa e tão pouco novidade a situação das forças aéreas latinoamericanas. A presença de crises econômicas e políticas afetam sobremaneira o re-armamento de cada uma das armas dos diversos países. A Argentina, por exemplo, no atual governo de Cristina Kirchner, está dando continuidade aos planos de trabalho da gestão anterior, onde o plano não 95 contempla o reequipamento das forças armadas apenas a manutenção e a recuperação dos materiais fora de serviço, por falta de peças. O panorama pode ser ainda mais árido em países mais pobres como é o caso da Bolívia que embora tenha experimentado resultados positivos nos anos de 2007 e 2008, decorrentes de um superávit causado pela recuperação do preço dos hidrocarbonetos, continua com sérios problemas econômicos. Suas aeronaves de treinamento primário foram inclusive doadas pelo governo brasileiro (seis Neiva T25C), em função da extrema necessidade e estão alocadas no Grupo aéreo de treinamento 21 (GAE-21). Embora não sejam todas as forças aéreas, boa parte das principais forças conta com a economia do uso de aeronaves leves para a instrução primária, é o caso da Colômbia (FAC), Equador, Paraguai (aviação naval), Peru, Venezuela, e até Cuba que utiliza os renomados Zlin 326 de fabricação Tcheca. Nessas forças aéreas, a predominância é de aeronaves fabricadas pela Cessna, sendo o principal modelo o C-172 Skyhawk e o 150/152 Aerobat. São também utilizados os Zlin, alguns Maule MT-7-7-235 no caso do Equador e Honduras. O México utiliza também o Zlin Z-242 L Moravan. A ideia de dissertar sobre a frota de aeronaves treinadoras é a de se ter condição de analisar que, boa parte das outras aeronaves empregadas na sequência do treinamento básico, em alguns países está chegando ao final de suas vidas operacionais e pode-se enxergar a oportunidade de mercado para o caso de um desenvolvimento nacional deste porte de aeronave. Como exemplo, tem-se a grande frota de Beechcraft T-34 modelos A e B que estão em operação. Estes aviões são mais complexos, mais caros com motorização, mais potente e, portanto, menos econômicos, que poderiam ser substituídos por aeronaves mais leves, ao menos na porção primário/básica da instrução. 96 O otimismo para a substituição não pode ser muito exagerado, pois boa parte das forças aéreas desses países analisados nas tabelas subsequentes utiliza, no máximo, uma dúzia de treinadores leves na média, tendo extremos de algumas unidades muito pequenas, como, a aviação naval do Paraguai que emprega apenas um único Cessna C-150 na missão de instrução, aliás, toda a força aeronaval paraguaia tem nove aeronaves, entre aviões e helicópteros. Para mais detalhes da frota dos principais países Latino-americanos, veja no Apêndice C, uma tabela com dados atualizados dos tipos de aeronaves empregados para a instrução: Primária. Básica e avançada (p. 227). 3.8 Desafios Futuros no Treinamento de Pilotos, a Realidade norte-americana e Rebatimentos no Brasil. Os Estados Unidos estão muito preocupados com os desafios que virão nas próximas décadas, em virtude da entrada em serviço dos novos F/A-22 Raptor e do F-35 (AUSINK et al., 2005). O cenário que seus futuros pilotos enfrentarão conta com os seguintes elementos: Operações conduzidas em todo o tempo do dia e com todas as condições climáticas e geográficas existentes; As operações irão requerer ataques rápidos ao inimigo; Incorporação de armamentos de precisão, aumentando a eficiência da missão e minimizando a exposição das aeronaves tripuladas ao fogo inimigo; Missões de deslocamento e transporte executadas muito próximo ao inimigo; Integração de uma quantidade grande de informações vindas de muitas fontes (terra, ar, bases) e em tempo real; Perfis de voo envolvendo grandes desgastes fisiológicos. Missões complicadas e aeronaves com melhores capacidades requerem pilotos mais hábeis para pilotá-los. 97 O relatório da empresa de pesquisas RAND Corporation, feito em 2005 para a USAF, traz uma pesquisa com duzentos e trinta (230) pilotos de várias habilitações (caça, transporte, bombardeiros e operações especiais ou asas rotativas), envolvidos em algum dos estágios do sistema de treinamento e com experiências em diversas aeronaves, para ouvir suas opiniões a respeito do atual sistema de treinamento e as suas quanto às habilidades necessárias no futuro. Suas impressões foram as seguintes: O agrupamento, síntese e priorização das informações no cockpit serão muito grandes nas futuras operações, se olharmos para o ano de 2025; Voar o avião será tarefa secundária no futuro, assim como já é hoje, prevalecendo, no ambiente operacional, as tarefas de gerenciamento de informações; Os pilotos continuarão a ter mais responsabilidades na cabine, centralizadas no gerenciamento de informações, sensores e armamentos; Mesmo com as mudanças na tecnologia e o impacto de tais mudanças no ambiente operacional de voo, o SUPT deve continuar focando no ensino dos fundamentos do voo aos novos pilotos; Pilotos deverão ser mais proficientes no uso de soluções tecnológicas dentro das cabines, isto é, saber quando ou não fazer o uso de uma dada tecnologia. Além desse panorama para o futuro da aviação militar, há alguns assuntos que podem aumentar ou diminuir a demanda por aeronaves de treinamento, e mesmo alguns desses assuntos deles – uma realidade muito distante para nosso país, acreditou-se ser relevantes em termos de conhecimento e discussão com aplicações em longo prazo. O estudo da RAND Corporation destaca que estrategicamente a demanda por pilotos militares pode diminuir em função do aumento das aeronaves não tripuladas (VANT – Veículo Aéreo Não Tripulado ou CUAV – Combat Unmanned Air Vehicle) utilizados pela USAF ou outras decisões superiores, se menos aeronaves convencionais deverão existir também um menor número de seus 98 pilotos deverá ser treinado. O treinamento deverá também contemplar o piloto dos VANT, cujo treinamento deverá ser específico, utilizando para isto novas fórmulas de conteúdo, meios e equipamentos baseados em terra, como simuladores e CBT – Computer Based training. Do ponto de vista da política, a necessidade de uma maior flexibilidade de emprego do piloto para que atue ou possa mudar de arma de aviação durante sua vida profissional e o aumento da quantidade de operações conjuntas com outras forças armadas, pode afetar a quantidade de treinamento e instrução necessária. Cada vez mais simuladores e outros meios de treinamentos baseados em terra podem e farão interferência na quantidade de horas necessárias. Por último, um melhor entendimento da economia do envelhecimento de aeronaves, poderá afetar a decisão de se mudar as aeronaves de treinamento, uma vez que a extensão do ciclo de vida de uma aeronave pode implicar em disparidade da plataforma com as atuais necessidades, e o estudo e modificações por vezes são muito custosos e demorados, implicando na alternativa de realmente se fazer a substituição da aeronave. O Brasil, preocupado com o desalinhamento tecnológico com as forças aéreas mundiais e com o envelhecimento de sua frota, tem feito programas de atualização em muitas de suas aeronaves, podendo ser destacado os programas do F-5, que passaram por modernização e foram renomeados F-5M e os Embraer AMX A-1 que estão passando pelo programa similar, Aeronaves adquiridas mais recentemente como os ALX (Super Tucanos – A-29 A/B), os CASA C-105 Amazonas e até helicópteros como o gigante Russo MI-35 já incorporam características avançadas na parte de sensores e aviônica. Com este aumento em capacidade e na suíte tecnológica dos vetores de ponta, necessariamente as aeronaves de treinamento deverão incorporar tecnologias mais recentes de aviônica, para que a defasagem seja mínima em termos de oferecimento e gerenciamento de informações no painel. A única aeronave de treinamento primário/básico que está sendo ofertada à Forca Aérea Brasileira, no momento, é o TXC (Pilgrim – Peregrino), um projeto 99 desenvolvido pela empresa nacional Novaer Craft situada em São José dos Campos pólo tecnológico do mercado aeroespacial da América Latina, uma parceria entre a Geômetra BTE (Bureau de Tecnologia e Engenharia Ltda.), especializada no projeto e certificação de estruturas e componentes aeronáuticos, a Winstall, que abraça o desenvolvimento e fabricação de componentes para o setor aeroespacial e a Flight Technologies – empresa pioneira no desenvolvimento de sistemas de informação e controle de voo para aeronaves tripuladas e não tripuladas. A aeronave (Fig. 31) é um exemplo de simplicidade de projeto e sofisticação em termos de eletrônica embarcada, o que facilitaria esta sequência na cadeia de aeronaves de treinamento e operacionais, muito embora o peregrino esteja pensado para ficar entre um treinador avançado (hoje o Embraer 312 / T-27 Tucano) e o treinador operacional. Cogita-se na imprensa especializada na substituição dos Tucanos pelo Super Tucano no futuro. Figura 31 – Desenho em três vistas da proposta de aeronave de treinamento primário/básico da empresa Novaer Craft. o Fonte: Revista Força Aérea, Action editora, ano 14, n 59, agosto/setembro 2009. 100 3.9 Conclusão do capítulo O sistema de treinamento norte-americano, que é um dos mais antigos e por razões indiscutíveis um dos melhores do mundo, passou por vários momentos, com relação a programas de expansão no período de guerras, sofrendo cortes orçamentários que influíram na disponibilidade de meios adequados de instrução. Um fato que não pode ser negado e pode ser corroborado pelas descrições pormenorizadas do item 3.3 deste trabalho é que muita importância foi dada à questão da instrução na USAF. Não faltaram estudos alternativos para tentar mitigar as falhas e contratempos no decorrer dos 60 anos de existência daquela força aérea. No começo do século XX, ainda incipiente, lutava com a falta de aeronaves específicas para a instrução. Com a chegada do primeiro conflito mundial, os problemas se consolidaram na necessidade do aumento do número de pilotos, na falta de vetores e na indisponibilidade de treinamento operacional em solo americano, fazendo com que parte do treinamento e instrução fosse ministrada além mar no velho mundo palco dos combates. Este conflito também marcou como sendo o berço de uma filosofia de instrução, porém ainda se fazia necessária uma doutrina de instrução, que somente se consolidou quarenta anos depois materializada nos manuais do ISD – Instructional System Development. A Segunda Guerra Mundial marcou a evolução dos requisitos de voo pelo lado da engenharia e o treinamento especializado, pois estes eram disponíveis em função do crescimento exponencial da indústria de guerra na América do Norte em meados da década de 1930. Algumas dessas máquinas, como afirmam Kovács (1996) e Hussey (2002), eram ferros de engomar – grandes pesados e desajeitados, e geralmente, tinham deficiências nas características de voo, que assustava os alunos ou os desmotivava. 101 Por várias décadas foram observados os aumentos no número de atrito em relação ao treinamento primário ou na etapa subsequente (básico) e a solução adotada pela Força Aérea ianque foi a de estabelecer programas de seleção inicial dos candidatos (Flight Screening ou Monitoramento em voo), onde a arte do voo era apresentada em máquinas pouco eficientes, porém adequadas para o monitoramento das reações dos candidatos a piloto. Conseguindo separar ou interromper candidatos que não possuíam aptidão e, portanto, quanto mais avançassem nas etapas dos cursos consumiriam o capital do governo sendo que o seu desligamento seria certo. Tentou-se, na década de 1950, passar todo o treinamento para os jatos em um programa generalizado baseado em apenas uma aeronave, contudo, novamente o atrito subiu e o monitoramento em voo ressurgiu como alternativa para reduzir a taxa de alunos desligados. O Brasil sempre ficou a mercê de programas de ajuda de países centrais que desovavam, por assim, dizer aeronaves obsoletas e ultrapassadas, que introduziam vícios de pilotagem e que atrapalharam o desenvolvimento brasileiro nesta área. Como é o caso do voo invertido que não era (até a entrada em serviço dos T-25) praticado na Academia da Força Aérea, em virtude dos aviões treinadores importados dos Estados Unidos e Europa não terem sistemas de alimentação e lubrificação que operassem em voo de dorso. Segundo Kovács (1985), o avião de treinamento ou a formação de pilotos merece maior atenção deste país. Acredita-se que o Neiva T-25, atual treinador primário/básico nacional em uso, já tenha sido uma grande evolução se comparada há tempos remotos, mesmo em relação a tamanho, custos operacionais e capacidade efetiva de treinamento, mas é preciso pensar no futuro. Uma aeronave de treinamento para os próximos 30 ou 40 anos será parecida com a que se tem nas academias militares ou escolas civis brasileiras? 102 Será que um programa de monitoramento em voo na força aérea brasileira, além da unificação do currículo básico civil e militar, não seria uma solução para se ter maior eficiência e redução de custos? No entender deste autor, o ponto é exatamente este, dever-se-ia utilizar um programa de monitoramento ou introdução ao voo com aeronaves leves nas primeiras 30 ou 40 horas de voo, separando do grupo inicial aqueles candidatos ao fracasso. A economia com o começo na instrução destas horas iniciais amortizaria parte dos gastos com a compra das aeronaves leves e as horas do treinamento básico seriam reduzidas. O atual programa de instrução na USAF é especializado (SUPT) e conta na fase avançada com basicamente três aeronaves principais, e estas mudanças se deram em função da economia do uso de um jato executivo em substituição ao caça/treinador T-38, que era muito qualificado para treinar os pilotos destinados à aviação de transporte e reabastecimento. Antigamente, no programa ainda generalizado (UPT), todos os candidatos passavam pelo T-38, porém após estudos de redução de gastos e a aproximação do fim do ciclo de vida dos T-38, resolveu-se passar para um sistema onde cada habilitação (aviação) teria uma aeronave avançada específica para seu treinamento. A economia com a substituição dos T-38 pelos Beechcraft / Rayteon T-1A Jayhawk, foi da ordem de US$ 200.000 por aluno. É claro de que a economia brasileira não chegará a estes valores em função dos T-38 serem aeronaves de alto desempenho (supersônicos), mas ainda assim os ganhos serão notórios. 103 3.9.1 A proposta do novo sistema de instrução de voo para a Academia da Força Aérea Brasileira Considerando-se as primeiras 60 horas de voo, que correspondem aos três estágios básicos do programa atual de instrução de nossa força aérea têm-se: 1. Pré Solo; 2. Manobras acrobáticas (MAC); 3. Voo de formatura. O programa sugerido, neste trabalho (Fig. 32), poderia ser dividido em: 20 horas de pré solo, mais 20 horas de acrobacia em aeronave leve, totalizando 40 horas de monitoramento, quando, então, o aluno faria a transição para o sucessor do T-25, realizando os voos de formatura e a navegação final (20 horas de voo). Ter-se-ia as mesmas 60 horas anteriores, nos três estágios, só que economizando muito combustível e, logicamente, com aeronaves leves de melhor desempenho, com um índice de disponibilidade maior, sem mencionar ergonomia, novos sistemas de comunicação e instrumentos. Instrução Primário/Básica 60 horas de voo no T25 SISTEMA ATUAL DA AFA Fase Avançada T-27 TUCANO PROPOSTA DO TRABALHO Introdução ao voo Ou Monitoramento em voo: 20 ou 40 horas com instrução em Aeronaves leves Instrução Primário/Básica 20 ou 40 horas no Substituto do T-25 Figura 32 - Fluxograma do novo sistema de instrução de voo, proposto para a AFA Fonte: elaborado pelo autor 104 O consumo do T-25 é de aproximadamente 48.4 litros de gasolina aeronáutica por hora; no sistema atual, a fase primária e básica de instrução (60 horas) gasta no total: R$ 10.309,20 por hora/aluno. Se fosse utilizada uma aeronave mais leve e, por consequência, mais econômica, o valor total dessas três etapas (considerando 40 horas de monitoramento e 20 com aeronave substituta dos T-25), seria de: R$ 6.276,40 por hora/aluno, considerando um consumo na faixa de 20 litros/hora. A economia seria da ordem de R$ 4.032,80 por aluno. No final de um período de instrução, se computados em relação às 40 vagas oferecidas no CFOAV – Curso de formação de oficiais aviadores, ter-se-ia o valor de R$ 161.312,00, o que corresponde a mais de 70% do valor de uma aeronave por ano de instrução. Foi considerado o valor de US 111.500,00 (R$ 205.717,50 – Dólar comercial R$ 1,845 em 9 de Junho de 2010 16h30m), valor este de uma das aeronaves leves mais modernas no mercado, fabricada pela empresa norte-americana Cessna (Cessna 162 – Skycatcher). Para esse cálculo, foi utilizado um valor do litro da AVGAS de R$ 3,55 (valor na data de 09 de Junho de 2010 – BR Aviation) e não estão computados os valores de peças e consumíveis das aeronaves. Um currículo padronizado para a etapa de monitoramento em voo também seria uma boa saída, envolvendo as entidades civis também, atividade esta que poderia incrementar a instrução civil e atacar problemas relacionados à padronização de procedimentos relativos ao controle do espaço aéreo. Há inúmeras evidências de que um programa de monitoramento melhora a qualidade do piloto formado e economiza dinheiro, basta poder colocar um pequeno grupo de alunos nesse regime para se poder compará-lo ao sistema tradicional. Cabe à Força Aérea Brasileira investigar novas soluções, para enfrentar os desafios impostos pelo corte de verbas e as novas aeronaves operacionais que adentram ao inventário da FAB. 105 4 PROJETO AERONÁUTICO 4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA ENGENHARIA AERONÁUTICA Acredita-se que, desde os tempos da pré-história, o homem nutria o sonho de voar, inspirando-se no voo dos pássaros, atribuindo esta capacidade aos Deuses. Os estudos começaram com o entendimento do que era esta substância gasosa e invisível que cobria a “morada terrestre”. Muitas foram as pessoas que contribuíram para entender o que era o ar, entre elas Aristóteles que concebeu que o ar tinha peso, Archimedes com a lei do empuxo, Galileu, Roger Bacon e Pascal que provaram ser o ar um gás incompressível e que sua pressão diminui conforme o aumento de altitude. Apenas no século XVI, no período conhecido como iluminismo, é que estudiosos como Leonardo da Vinci, estudaram aspectos do voo dos pássaros, chegando a esboços preliminares de para-quedas e a uma espécie de helicóptero. A era dos mais leves do que o ar inaugurou a conquista do ar pelos homens, sendo o ano deste evento 1783, quando os irmãos franceses Montgolfier construíram um balão e conseguiram seu feito. Os conhecimentos sobre as forças básicas que atuam nas asas, o ângulo de ataque e a importância do ângulo diedro como elemento de melhoria na estabilidade foram contribuição de Sir George Cayley (1773 a 1875), considerado o pai da aerodinâmica moderna. Otho Lilienthal foi quem provou que o mais pesado poderia voar, construindo planadores e fazendo mais de 2.000 voos bem sucedidos (DE ANDRADE, 1999). Para os brasileiros, Santos-Dumont foi quem inventou o avião, todavia é importante entender-se que muitos pesquisadores isolados tentavam o sucesso baseados em características formais muito próximas. Os próprios irmãos Wright, tiveram sucesso em 1903, mesmo catapultados por assim dizer, e se este era o pecado deles o do herói Dumont foi o de não ter quase controle lateral o que 106 também não caracterizaria voo (controle nos três eixos), mas esta discussão ficará para outro trabalho. O importante é que a contribuição deles todos resultou no atual estágio da aviação. Pedra sobre pedra a comunidade aeronáutica construiu em pouco mais de cem anos avanços gigantescos se comparados com a indústria automobilística de praticamente mesma idade. A influência dos dois conflitos mundiais, também foi notória no desenvolvimento da aviação, quando, na I Guerra Mundial, o homem percebeu que o domínio dos céus levaria a supremacia das nações, foram adotados aeroplanos em praticamente todos os serviços militares. No entanto, foi na Segunda Guerra Mundial que os avanços na área da engenharia e na própria manufatura começaram a apontar para o estágio atual de desenvolvimento, as máquinas passaram a ser mais velozes e ter maior poder de fogo, levando o homem a constituir o elo mais fraco desta dupla Homem/Máquina (OLIVEIRA, 1998). Tanto as asas enflechadas (Alemanha) quanto o motor à reação (Inglaterra), foram desenvolvimentos deste período e mudaram os rumos da aviação. Avanços também na área dos materiais foram importantíssimos, como as novas ligas de alumínio, magnésio Titânio, que fizeram possíveis a estruturação das fuselagens semi-monocasco (semimonocoque) e das asas engastadas (cantilevers). O berço, então, da engenharia aeronáutica está nos voos de balões, planadores e dos dirigíveis, entretanto, foi após o voo do mais pesado do que o ar que se deu um grande impulso à atividade. A Engenharia Aeronáutica é um dos pilares da engenharia aeroespacial e lida com tecnologias aplicadas à aerodinâmica, propulsão, estruturas, estabilidade e controle. Por fim, a aviação se beneficiou muito com a conquista do espaço na década de 1960 e dos avanços decorrentes desses programas. Hoje, parte desse sucesso se deve aos meios de informática, que englobam desde ferramentas de projeto, 107 ensaio e manufatura, como também compõe a interface entre piloto e aeronave nas cabines de comando, através do uso dos computadores de voo e monitores digitais e dos comandos de voo tipo Fly By Wire. Neste tipo de comando, não há mais ligação mecânica física entre controle e superfícies de comando. O movimento mecânico vira estímulo elétrico que é convertido em sinais digitais e enviado eletronicamente às superfícies de controle. O computador pode até analisar comandos exagerados e impróprios e gerenciar a quantidade de movimentos para que não extrapole o envelope de voo da aeronave. Também, nesses avanços, estão os materiais compósitos, que hoje revolucionam a indústria aeroespacial, com sua enorme vantagem sobre os materiais como o alumínio, a madeira e o aço. Essas possibilidades propiciaram e ainda farão no futuro a criação de aeronaves mais leves e mais eficientes no consumo de combustíveis. (HOLLMANN, 1983). Sua tremenda capacidade de resistência, rigidez e baixa densidade além da possibilidade plástica em sua construção, asseguram a obtenção de formas inusitadas e inconcebíveis para outros tipos de materiais disponíveis há três ou quatro décadas. 4.2 Design Aeronáutico uma disciplina à parte O projeto aeronáutico começa com o esboço de uma aeronave que satisfaça o perfil de missão de um cliente e que atenda a requisitos de certificação específicos, este processo inicial é seguido por várias etapas até que um protótipo seja construído e ensaiado, todavia muito se segue até a entrada em serviço deste avião. São duas e igualmente importantes tarefas no Design de aeronaves: a parte de leiaute e a da análise do design, segundo Raymer (1992) estas atividades atraem diferentes perfis de pessoas. Algumas delas adoram mexer com números, enquanto as outras não podem deixar de fazer rabiscos em uma folha de papel encontrada sobre uma mesa. 108 O desenvolvimento de projetos de aeronaves não é uma tarefa trivial de desenho baseados nos resultados de uma análise, porém é o elemento chave do projeto integrado e determina o desempenho, o peso e o custo dos aviões. A habilidade de pensar (conceber) e desenhar uma nova aeronave que tenha uma ótima forma aerodinâmica, um leiaute interno mais funcional e que ainda vá ao encontro de especificações e condicionantes de projeto é uma capacidade rara que demora anos de trabalho árduo para ser desenvolvida. Os bons designers nascem e não são feitos segundo Raymer, é claro que as técnicas de desenho de configurações podem ser ensinadas, contudo, não são garantia de um design bem feito. O Design de aeronaves é uma atividade vista sempre com muito glamour e mistério, transmitindo a imagem de um ofício cercado de cálculos matemáticos, desafios tecnológicos e poucos aspectos conceituais. A arte de projetar aviões surgiu, separada da engenharia, movida por curiosidade, prazer e o desafio de conquistar o meio mais etéreo desta nossa morada terrestre. No passado, já foi também, como em outras áreas, realizada isoladamente, como hoje também adota um desenvolvimento integrado. Segundo Raymer (1992), a atividade de design aeronáutico, é uma matéria à parte da engenharia aeronáutica, diferente das disciplinas analíticas como: aerodinâmica, estruturas, controles e propulsão. Um designer aeronáutico deve ser versado nestes e em outros assuntos correlatos, porém, fora do ambiente de pequenas empresas, onde há o acúmulo de funções, ou um quadro reduzido, este não desempenhará apenas cálculos matemáticos, mas, empenhará o seu tempo na execução de DESIGN, ou seja, definição da forma física de um produto, que melhor supra as necessidades de um consumidor ou usuário (ULRICH; EPPINGER, 2008). Raymer continua colocando em seu texto, que para os leigos, design se confunde com desenho auxiliado por computador (CAD), porém desenho é apenas o seu produto final, sendo o trabalho mental, a maior parte de sua ocupação. 109 Kovács (1986) apresenta a conceituação da filosofia de projeto como um assunto pouco ventilado e ligado ao projeto de aeronaves, que faz parte da personalidade do projetista e do envolvimento deste no progresso da aviação, insiste também na importância da aviação desportiva como o alicerce e propagador de um mercado aeronáutico futuro. Parece estranho desvincular a atividade de projeto preliminar ou conceitual do engenheiro aeronáutico, entretanto, mesmo não sendo comum nas grandes empresas, faz parte do universo da aviação desportiva e experimental. No Brasil, a EMBRAER - Empresa Brasileira de Aeronáutica – uma das maiores fabricantes de aeronaves do globo, mantém um departamento de pré-projeto, composto por projetistas e engenheiros, que executa a atividade de gerador de propostas conceituais dos novos aviões, utiliza a plataforma de CAD, com o programa de informática CATIA. Historicamente nas diversas empresas que compõe a indústria de aeronaves leves e experimental, a maior parte dos projetistas não tem formação específica na área aeronáutica. Concluindo, neste universo do produto, o projeto é a linguagem universal da concepção e da criação pura, congrega conhecimentos técnicos, habilidade para cálculo e criatividade para gerenciar a solução dos problemas corriqueiros ou das soluções chamadas: Radical Design (Design Radical - aqueles que não têm casos similares resolvidos), onde há a necessidade da inventividade e conhecimentos técnicos para a resolução (VINCENT, 1990). 4.3 Revisão do Processo de Design Aeronáutico O processo de Design começa na ideia (pensamento) do Designer (projetista), embora esta concordância não seja unânime entre os especialistas. Um especialista em dimensionamento sabe que não se começa nada no projeto de uma aeronave antes de ter-se uma estimativa de peso. Para o cliente Civil ou Militar, fica a sensação de que o Design começa com os requisitos. Ambos estão 110 certos, na verdade Design começa em um esforço conjunto como mostrado na Figura 33. Requisitos são estabelecidos por estudos de projetos anteriores. Concepções são desenvolvidas para se adequar aos requisitos. Análise de projeto (Design), geralmente aponta para novas configurações e tecnologias, que podem gerar um desenho totalmente novo, segundo Raymer (1992) todas essas atividades têm o mesmo peso na concepção de uma nova aeronave. Dimensionamento e Estudos paramétricos Analise do projeto Requisitos Conceito do Projeto Figura 33 – Diagrama do Processo de Projeto Aeronáutico Fonte: Raymer 1992. O Processo de Design Aeronáutico pode ser dividido em três projetos: Design Conceitual, Design Preliminar e Detalhamento. 4.3.1 Projeto Conceitual Nesta etapa, os problemas ainda são de ordem geral, as ideias são colocadas sem detalhes ainda de uma maneira mais expressiva do que raciocinada. A configuração, o tamanho, o peso e o desempenho são questões a serem respondidas, por inúmeros possíveis caminhos. A primeira questão é: Pode uma aeronave construída com base nos requisitos caber no orçamento? Caso contrário, o cliente deverá ser mais compreensivo em relação aos requisitos. 111 4.3.2 Projeto Preliminar Esta fase começa onde terminam as mudanças, ao menos as maiores mudanças. Começam a ser estudadas as partes específicas da nova aeronave, os especialistas em estruturas, trem de pouso e sistemas de controle, começam a desenhar suas propostas (os chamados Subconjuntos) e fazer análises. O modelamento matemático da forma geométrica da aeronave também é iniciado na fase de Design Preliminar e se chama Lofting. Com este trabalho, que consiste no desenho detalhado das superfícies, procura-se chegar a uma união de todos os componentes de maneira a formarem um conjunto harmonioso em termos de forma e aerodinâmica, permitindo também que os componentes possam ser fabricados em diferentes lugares com precisão. Esta porção do projeto é a que sinaliza para a empresa que esta será capaz de desenvolver o projeto nos tempos e custos esperados e contratualmente firmados, dá ainda a palavra afirmativa de prosseguir para a etapa de detalhamento, que também é conhecida por Desenvolvimento em escala real (Full Scale Development). Segundo Kovács (1986), estas fases iniciais que aqui no Brasil se chamam de Anteprojeto e Projeto Preliminar, respondem por 30% do tempo total do projeto, todavia com um baixo volume (7,5%) do total de trabalhos de todo o projeto. Este grande tempo com atividades de pequeno volume que englobam apenas uma equipe reduzida, é importantíssimo para o êxito do projeto, mas geralmente estas fases são suprimidas ou reduzidas e as consequências nas palavras do próprio Kovács “São Trágicas!” (Figura 34). 112 TEMPO PARA O 1º VOO % 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Porcentagem da carga de trabalho 100 90 80 70 60 33.3% 50 40 32.5% 30 26.7% 20 7,5% 10 Figura 34 – Carga de trabalho versus porcentagem de tempo para o primeiro voo da aeronave. Fonte: Adaptado pelo autor de Kovács, 1986, p.134. O preço pela omissão de horas nas fases iniciais vai desde o acréscimo de volume posterior para correção de problemas, custo de modificações executadas por soluções iniciais pouco pensadas, discutidas ou racionalizadas até peso e consequente comprometimento do sucesso da aeronave. Existe uma relação entre o custo relativo e o andamento do projeto, que foi tratado por Baxter (1998) e que coloca a importância nas fases iniciais do projeto em função do baixo volume de recursos alocados nessas etapas, a pesquisa das fases de planejamento, Projeto Conceitual, configuração do projeto e projeto detalhado (correspondentes à nomenclatura de Raymer, 1992), foram executadas envolvendo pequena parcela da equipe de projeto e utilizou-se apenas papel e modelos baratos. Contudo, qualquer alteração em fases posteriores como, por exemplo, na fase de engenharia de produção, pode implicar em refazer matrizes de elevadíssimos custos. Podem-se acompanhar também, na Fig. 35, as curvas para a possibilidade de redução de custo e de introdução de mudanças. 113 O custo orçado apresenta uma curva ascendente inversa ao custo de desenvolvimento, pois, estes custos significam decisões para gastos futuros, por exemplo. A decisão de se produzir uma aeronave de treinamento primário ou básico ou um caça interceptador de alta geração é uma decisão que exige um alto compromisso financeiro, quando se chega ao projeto detalhado. Este gasto, embora ainda não consumado, deve estar orçamentado, pois é uma decisão estratégica inicial da empresa, dessa maneira, a possibilidade de redução de custos está nos estágios iniciais do desenvolvimento quando esses recursos ainda não foram efetivamente gastos. (Fig. 35). Este trabalho reunindo informações para a composição de um estudo na formulação de requisitos para o novo treinador, contribui com a fase de Planejamento do produto, pois levanta dados que auxiliarão um possível desenvolvimento antes do começo da etapa conceitual. Figura 35 – Custos e benefícios nos diversos estágios do processo de desenvolvimento. Fonte: BAXTER, 1998 - p. 23. 114 4.3.3 Detalhamento Depois de entrar na fase do Desenvolvimento em escala real as peças a serem fabricadas começam a ser desenhadas. Como ilustra a figura x abaixo, a estrutura da asa nos primeiros estágios do projeto é desenhada como um todo, que só na etapa do detalhamento é que passa a ser considerada como uma somatória de elementos como revestimento, nervuras e longarina. Cada fase, as perguntas e atividades inerentes a ela, está representada na Figura 36,37. Isso funcionará? Como vai ser sua aparência? Quais requisitos guiam o projeto? Quais as ponderações serão consideradas? Quanto irá pesar e custar? Design Conceitu alal Congelar a configuração; Desenvolvimento de superfície; Desenvolver base analítica e de testes; Desenhar principais itens; Desenvolver uma estimativa de custo. Design Preliminar Desenhar as peças a serem fabricadas; Desenhar os gabaritos e ferramentais e os processos de fabricação; Detalhamento Testar os itens principais – Estrutura, trem de pouso etc.; Finalizar estimativas de pesos e desempenho. Quanto irá pesar e custar? Figura 36 – Fases do Processo de Design. Raymer (1992). 115 Projeto Conceitual Projeto Preliminar Detalhamento Figura 37 – Fases do Processo de Design. Fonte: Raymer (2002). 4.4 O princípio da Solução Mínima 4.4.1 Histórico da filosofia da solução mínima O salto tecnológico da indústria aeronáutica se deu em um curto espaço de tempo. Dos aviões caça da primeira guerra mundial (1918), que voavam a 200 km/h, para os aviões de combate da Segunda Grande Guerra, passaram-se pouco mais de 20 anos. O homem quadruplicou à velocidade dos caças em menos de meio século. Nesse começo da aviação, os veículos eram muito simples, feito em estrutura tubular soldada, madeira e revestidos com lona engomada (Fig. 38), além do motor e das duas metralhadoras, possuíam apenas instrumentos básicos. A estrutura dos aviões, em termos gerais, não se alterou, apenas os materiais e processos evoluíram, longarinas, nervuras, tensores e travessas continuam presentes nos dias atuais, porém com novos materiais e desenhos. O combate ganhou uma ferramenta que se tornaria indispensável nos conflitos subseqüentes, o avião. A guerra havia tomado um rumo totalmente diferente, talvez uma revolução comparada à da pólvora. Os inimigos não poderiam mais se 116 esconder, sobre a eminência de um reconhecimento aéreo capaz de localizá-los, a camuflagem seria item de primeira necessidade. Porém a necessidade de melhora nas operações, bem como a segurança, fez com que outros equipamentos fossem anexados nos modelos posteriores, incorrendo em uma corrida frenética no desenvolvimento de máquinas mais capazes, potentes e menos vulneráveis, mas este aumento de necessidades gerou uma inflação nas características físicas dos aviões, que passaram a ser monstros com asas. Figura 38 - Estrutura do caça Inglês da 1ª Grande Guerra – Sopwith Camel -1917. Fonte: Cutler (1984). A raiz da teoria da solução mínima tem sua origem nos escritos de Kesselring em 1942, estudioso alemão que publicou os princípios de um método por aproximações sucessivas e convergentes. O procedimento foi condensado nos seus aspectos cruciais em duas publicações alemãs da época e, posteriormente, na diretriz VDI 2225, uma norma (Verein Deutscher Engenieure). A essência do procedimento é a validação de variantes da configuração elaboradas com base em critérios de avaliação, técnicos e econômicos. Na sua 117 teoria da configuração ele indica cinco princípios de configuração super ordenadores (PAHL et al, 2005). Princípios dos custos mínimos de produção (construção enxuta); Princípio da necessidade mínima de espaço; Princípio do peso mínimo (construção leve); Princípio do desperdício mínimo; Princípio da manipulação mais adequada. Com certeza, esta foi a geratriz da metodologia empregada na Alemanha na segunda guerra mundial e que depois passou à Inglaterra e, posteriormente, aos Estados Unidos. “A atividade de operação aeronáutica é diretamente influenciada pelas características e desempenho dos aviões existentes e disponíveis” (KOVÁCS, 1986) Por isso, a preparação dos requisitos é uma atividade importante, tendo em vista que estes deverão ser os ditames determinantes do novo avião. Mesmo que os requisitos de projeto sejam conduzidos pelas necessidades operacionais, as especificações são escritas por órgãos sem a sensibilidade e percepção técnica necessária, não fazendo o trabalho de maneira coerente, por muitas vezes inflexíveis em sua pretensa autoridade estatal, assim, prejudicando na formulação do briefing, para as empresas. Os projetistas têm, portanto, de utilizar de muita criatividade, para atender as características exigidas e ainda surpreender os contratantes com soluções inovadoras ou inimagináveis. Este conflito é o maior responsável por aviões sem inovações. Ao longo da história após a década de 1940, alguns projetos em que a equipe se afastou razoavelmente dos requisitos, via de regra, escritos pelo governo resultaram em máquinas muito melhores, lembradas até hoje, como é o caso do famoso avião de transporte Douglas DC-3/C-47 (Fig. 39), um projeto da década de 118 1930, utilizado até os dias atuais, que equipou boa parte de todas as companhias de transporte aéreo do globo, sem mencionar as forças aéreas. Figura 39 - Douglas DC-3. Fonte: (www.boeing.com). Na época de seu desenvolvimento, dois aviões foram projetados sob o mesmo requisito, o da empresa Lockheed, chamado Loadstar e o da empresa concorrente Douglas, mais tarde se chamaria DC-2/DC-3, todavia a equipe da Lockheed seguiu à risca os requisitos, enquanto os da Douglas desviaram-se responsavelmente deles, assumindo riscos, e o resultado foi materializado neste ícone da transformação da aviação comercial ocidental. Este conflito que Kovács (1986) chama de tecno-científico, tem dois momentos um dentro da própria empresa e outro com os requisitos governamentais. Os conflitos internos são decorrentes da resistência na busca por melhorias e alterações nos paradigmas de projeto. Já a externa é fruto da falta de sensibilidade e rigidez exagerada dos contratantes, que requerem características incompatíveis ou soluções que acarretarão em máquinas monstruosas. Lidar com estes desarranjos internos foi mais fácil segundo Kovács (1986), no período entre guerras, pois os projetistas aficionados (todos os pilotos) acabaram 119 tornando-se os donos das fábricas, por exemplo: Messerschmitt, Dornier, Junkers, Heinkel, De Havilland, Douglas, Boeing, Bloch-Dassault, Yakolev, Curtiss, Fokker, Focke, Sikorrsky, Breguet, Handley-Page, Tupolev, Cessna, Piper, Beech e outros. Historicamente, pode-se levantar que houve um aumento notório no peso dos caças do início dos anos 30 até 1950. A Figura 40 ilustra o aumento no peso dos projetos militares apenas da indústria Douglas nas décadas de 30,40 e 50, nota-se que em 1932 um avião de ataque A-17 tinha o peso de 5.000 kg e seu sucessor projetado em 1945, teve um acréscimo de 20.000 kg, passando a totalizar quase 30.000 kg de peso máximo de decolagem, o que demonstra o aumento indiscriminado de peso, oriundo de equipamentos e falta de otimização de recursos. Figura 40 - Distribuição do peso dos projetos de aeronaves de ataque ao solo da empresa Douglas de 1933 a 1955. No eixo horizontal, as datas do projeto e, no eixo vertical, o peso em libras – sistema Inglês. Fonte:Revista INTERAVIA ( v. 10, nº 3, 1955). Outro fator, que acompanhou a busca por um novo olhar na filosofia de projeto dos aviões, foi o crescente aumento do custo dos caças a partir do segundo grande conflito mundial, cada vez mais, os governos estavam cortando os gastos militares e, desta forma, uma busca por soluções mais simples e baratas deveria ser 120 realizada se os países quisessem manter a soberania do espaço aéreo e a atualização dos sistemas de armas. Na década de 1940, na geração de caças da 2ª Guerra Mundial, 67% do valor dos caças eram devidos à estrutura e ao motor, enquanto que já, na década subsequente, o valor dos equipamentos correspondiam a 70% do custo geral, enquanto a estrutura e o motor responderiam por apenas 30% do valor do avião. 4.4.2 Heinkel HE 162 - Volksjäger “O Caça do Povo” A materialização precursora da solução mínima foi fruto de um esforço de guerra alemã, os engenheiros alemães estavam acostumados a uma metodologia de projeto baseada em customização, nesta metodologia iam acrescentando equipamentos, para que os protótipos de um novo modelo fossem exaustivamente modificados, expandindo, assim, cada vez mais o seu espectro de missão, os técnicos procuravam atribuir a maior flexibilidade possível para certo tipo de avião, de forma que este pudesse suprir a maior quantidade de missões diferentes. Por exemplo, o bombardeio de mergulho Junkers JU 88, recebia circuitos elétricos adicionais e cabides sob as asas, para que pudesse também lançar bombas de fragmentação em ataques a baixa altura, este excesso em equipamentos contribuía não só para o empobrecimento do desempenho da máquina, como ainda para o aumento de custo em uma época de dificuldade de recursos. Muitas vezes, equipamentos de última geração em excesso, subutilizados, poderiam ser substituídos por versões mais simples e antigas, acarretando em economia e total atendimento aos requisitos de missão. Como resultado desse mar de desperdícios um programa de pós-ajuste foi instalado na Alemanha, este programa era ligado a uma padronização simultânea de todos os componentes. Em virtude de um cenário tenebroso de final de guerra para seu país, uma mania de economia e pós-ajuste tomou conta dos técnicos germânicos e várias propostas, diversas delas rejeitada pelo alto comando alemão, eram desenhos de um chamado: “Avião Descartável”, ou seja, um produto resultante do uso de produtos simples, chegando à beira do primitivismo. Porém 121 estas aeronaves eram muito econômicas, comparáveis talvez aos carros populares de 1.000 cilindradas dos dias de hoje. Figura 41 - Aeronave Arado Ar-234 Blitz. Fonte: (http://movies.skutai.com) No entanto, infelizmente para a Alemanha e o contrário para o mundo, junto com o programa de pós-ajuste, vieram os desenvolvimentos dos motores à reação, que poderiam ter representado a supremacia da força aérea alemã no conflito, contudo, seu ministério do ar não acreditou no êxito das pesquisas ou talvez na promissora tecnologia e só abriu os olhos quando no verão de 1944, preocupado com os altos custos de produção dos aviões de caça a jato Arado Ar-234 (Fig. 41) e Messerschmitt Me 262 (Fig. 42), expediu-se uma especificação para que cinco empresas submetessem especificações e projetos para um caça simples de alto desempenho. Este avião deveria ser construído com componentes simples, utilizando um mínimo de matéria-prima e além de tudo ser fácil de voar. Como ainda não era tudo, seis meses era o prazo para torná-lo um produto de fabricação em massa. 122 Figura 42 - Aeronave Messerschmitt Me-262. Fonte: (http://www.militaryaircraft.de). Aguçado pelo desafio e ávido por provar ao ministério do ar alemão, pelo qual foi prejudicado por duas situações, o Dr. Ernest Heinkel (Fig. 43), proprietário da indústria aeronáutica de mesmo sobrenome, resolveu submeter seu projeto segundo as prerrogativas técnicas expedidas às autoridades, deste modo, ciente de que só com uma resolução muito simples e econômica em questões de tempo e material, seria possível cumprir o prazo dado pelo governo para a consolidação do programa do batizado: “CAÇA do POVO ou Volksjäger”. O exemplo deste embrião do pensamento da solução mínima foi a ideia de não colocar o motor dentro da fuselagem do mesmo, garantindo, assim, a redução de tempo em ensaios de entradas e saídas de ar, normais em projetos de aviões à reação. A localização final foi sobre a fuselagem, depois de descartada o posicionamento na barriga, onde o motor poderia ser atingido em um pouso sem os trens de aterrissagem. 123 Figura 43 – Dr. Ernest Heinkel – Engenheiro aeronáutico e proprietário da empresa Heinkel, autor do projeto do caça miniatura He-162. Fonte: (http://www.airpages.ru). Mesmo sendo um avião simples, a segurança do Heinkel 162 vinha em primeiro lugar, sendo instalado um assento ejetável (Fig. 44) para o piloto. Os primeiros aviões a terem assentos desse tipo foram os modelos projetados por Heinkel, como o He-280, que utilizava ar comprimido para lançar o piloto fora do avião em caso de pane, salvando sua vida, como ocorreu com o piloto de testes (Helmut Schenk), daquela empresa em 1942 , quando necessitou fazer o uso do equipamento e foi salvo pelo mesmo, tornando-se o primeiro piloto a ter sua vida salva por assentos ejetáveis. Figura 44 - Assento ejetável utilizado no He-62 Volksjäger Fonte: (http://www.ejectionsite.com). 124 O governo alemão chamou o avião de caça miniatura monoposto e monomotor. Foi batizado por Heinkel de He-162 (Fig. 45) e apelidado de Volksjäger. Figura 45 - Heinkel He-162. Fonte: (http://www.world-war-2-planes.com/he-162.html). Este avião foi o primeiro intento no caminho mais racional para um caça, mas a geração dos próximos desenvolvimentos, sobretudo nos Estados Unidos da América, não seguiam esta filosofia, e mesmo com os cortes de verbas por parte do congresso americano e o fim do conflito na Europa, o que se via era o surgimento de enormes caças de geração mais avançada, contudo, que cresciam em complexidade, peso e horas de manutenção por horas voadas. 4.4.3 Horas de manutenção e valor de venda dos aviões, nas décadas de 1940 e 1950 Um dos questionamentos levantados, nesta época do pós-guerra, foi a própria definição dos objetivos militares, que deveriam dar condições para se analisar cada projeto, com uma atenção específica. A vida média de um caça, na época, era de 80 horas de voo somente. Caças bombardeiros 40 a 50 horas de voo e bombardeiros de porte médio de 200 a 300 horas, o que era muito pouco. Não se entendia porque as empresas continuavam a projetar aviões para dezenas de milhares de hora de voo, quando, na realidade, se deveriam desenhar caças capazes de resistir a dois meses de operação intensiva. A maneira de se projetar 125 poderia ser diferente, as soluções estruturais e de arquitetura de sistemas poderiam e deveriam ser mais simples em função da diminuição da vida útil, ter-seia o que se chamava de caça descartável. (HEINKEL, 1952). No que diz respeito às horas necessárias de manutenção, chama-se a atenção de que, na Segunda Guerra, caças e bombardeiros médios consumiam 20 a 25 horas de manutenção, para cada hora de voo dos aviões, no caso de reparos mais pesados e manutenção completa os chamados OVERHAUL, careciam de 200 horas de manutenção por hora de voo. Na década de 1950, um caça com uma vida operacional de 100 horas, requeria nada menos do que 100.000 horas de manutenção, ou seja, cada hora de voo disponível necessitava de 1.000 horas de trabalho de manutenção, distribuídas pelas horas totais de vida. Uma figura mais ilustrativa e chocante, e que, realmente, impressiona, também escrita pelo Tenente Coronel Pierre M. Gallois, para a revista Interavia em 1952, fazendo conjecturas a respeito do custo de defesa para os países, é a de que para cada 30 segundos de tempo de disparo, requer-se 1.000 horas do pessoal de terra. A manutenção desempenha papel preponderante na escolha de um novo equipamento para guarnecer uma força aérea, porém não é o único item, veem-se, neste histórico, o peso, as horas de manutenção e, agora, focar-se-á no preço dos aviões, comparativamente com os anos 1950. Na 2º GM um caça de primeira linha custava US$ 60.000 (North American P-51 Mustang - Fig. 46), em 1952, um caça a jato como o North American F-86 Sabre (Fig. 47), custava em sua versão mais simples US$ 450.000, isto em um espaço de tempo de oito anos. Dizia-se que o custo dos aviões, após a guerra, era proporcional ao seu peso em prata, e em função da desigualdade de pesos de alguns equipamentos, havia alguns que tinham seu valor em peso de ouro ou platina. Naquela época (1940), 80 a 90% do valor dos aviões advinham do valor da célula (estrutura básica: fuselagem, asas e estabilizadores) e do motor, como ainda uma 126 década e meia depois, 50 a 60% dos absurdos e inflacionados valores eram gastos com equipamentos de miras automáticas para tiro, equipamentos sem fio, radares e tantas outras coisas. O mundo, então, buscava soluções mais razoáveis para a crise dos orçamentos militares. Figura 46 – North American P-51 Mustang. Fonte: (www.airliners.net). 4.4.4 Folland Gnat e a filosofia do caça de bolso Foi neste momento que alguns projetistas começaram a busca pela forma simples e pela receita do que se chamou de Pocket Fighter ou caça de bolso. Na Inglaterra, o pioneiro foi o engenheiro William Edward Willoughby Petter, diretor da indústria aeronáutica Folland. Apostando na redução de custos e melhor aproveitamento operacional dos caças leves, Petter um veterano projetista, autor de inúmeros projetos de sucesso, começou a desenvolver o que seria o caça britânico mais controverso da história. Seu conceito que nasceu como um interceptador se baseou na teoria de que cada libra de peso em equipamentos adicionais causa um aumento de 10 libras no peso total do avião, então, o projetista resolveu simplificar sua máquina ao extremo, reduzindo suas dimensões e diminuindo acessórios, muitas vezes requeridos em excesso pelos contratantes, conforme discutido acima (HEINEMANN, 1955). 127 Figura 47 - North American F-86 Sabre. Fonte: (www.airliners.net). O caça proposto por Petter foi o GNAT, fruto de estudos para um novo caça leve para a Inglaterra, foi desenhado a partir de um motor à reação fabricado pela empresa Bristol para ser utilizado em um míssil chamado Martin B-61 “matador”, este motor a jato (Bristol BE-22 Saturn), foi interrompido em seu desenvolvimento, assim, como o míssil que iria utilizá-lo. Desta forma, o Gnat ficou sem possibilidade de execução, pois o motor proposto para ele não seria fabricado em série. O projetista da Folland então resolveu por conta própria (recursos), desenvolvê-lo. Após os fatos ocorridos a Bristol retomou os estudos para um novo motor turbojato leve e também por seu próprio risco fabricou o Orpheus, um motor muito mais potente capaz de gerar 4.850lbs (2.197 kg) de empuxo, contra as 3.750lbs (1.699 kg) de empuxo do BE-22, tinha a vantagem também de ser desenvolvido para uma longa vida operacional. Esse motor foi crucial para o desenvolvimento do Folland Gnat (Fig. 48), em função de suas pequenas dimensões: diâmetro de 812,8 mm, Comprimento de 2463,8 mm e peso drenado de 385,05 kg. O motor era instalado na fuselagem atrás do piloto e, para a manutenção, o acesso era via a retirada do cone de cauda, como o avião tinha dimensões reduzidas não necessitava de andaimes e nem estantes, um banquinho era suficiente para o elemento que faria a manutenção (HEINEMANN, 1955). 128 Figura 48 - Folland Gnat trainer. Fonte: (www.warbirdalley.com). O mais surpreendente é que o projeto do Gnat foi rejeitado como um caça pelos britânicos, eles apenas fabricaram na Inglaterra o modelo de treinamento, chamado Gnat Trainer, que mais tarde iria integrar a esquadrilha de demonstração daquele país, os RED ARROWS (Flechas Vermelhas). Algumas unidades foram vendidas à força aérea da Finlândia e a empresa HAL – Hidustan Aircraft Limited da Índia, fabricou 175, além de 40 aviões entregues em vários estágios de montagem. Ao todo foram 215 Gnats, que operaram na IAF – Força Aérea da Índia de 1958 até 1991 renomeados Ajeet, que quer dizer Invencível, estes aviões foram utilizados em combate, durante a guerra entre a Índia e Paquistão em 1965 e em função do seu grande desempenho frente aos North American F-86F Sabre paquistaneses, receberam o apelido de “Fatiadores de Sabres”. O valor de cada Gnat era ainda um convite a países de orçamento militar baixo. Com o valor de um F-86, poderiam ser construídos quatro Gnats, ou seja, segundo a Figura 49 abaixo, com 16.8 milhões de dólares americanos poderiam ser feitos 215 caças convencionais ou 900 Gnats. 129 O avião foi escolhido pelo governo Indiano por ser um avião que tinha uma estrutura muito simples, que não requeria um parque industrial muito moderno e nem muitos gabaritos para a produção. Figura 49 – Custo de produção versus número de aviões construídos, para os caças leves e os de filosofia normal de concepção. Fonte: (AMERICAN AVIATION, 15 de março de 1954). O Folland Gnat era feito todo em alumínio e ao contrário de outros aviões desenhados para os mesmos propósitos, ele tinha uma simplicidade de sistemas e célula sem precedentes, uma única peça era feita pelo processo de Forjamento. Esta peça em questão, acumulava várias funções: Ancoragem das asas, trem de pouso e canhões, por isso devia ser feita por este processo, garantindo sua maior resistência mecânica, sendo o restante de construção padrão aeronáutica metálica, com superfície tensionada (construção monocoque – rebites, tensores, longarinas e travessas, com revestimento atuante). Um desenho em duas vistas (Fig. 50) mostra as silhuetas comparativas do F-86 e do Folland Gnat. 130 Figura 50 - Silhuetas comparativas do NAF-86 e Folland Gnat. Fonte: (AVIATION WEEK, 5 de abril de 1954). Fácil perceber na figura acima colocada a redução de tamanho e por consequência materiais e, finalmente, custo final do avião. Mais interessante é que o pequenino notável cumpriu sua função de maneira exemplar na Força Aérea da Índia, o que muitos ingleses achavam duvidoso, para o uso desse avião em seu país. 4.4.5 A filosofia da solução mínima atravessa o Oceano Atlântico Na Europa a motivação em escolher um avião mais barato, poderia ser justificada pela brutal diferença de PIB em relação à América do Norte, mas mesmo assim o governo Norte Americano após o conflito no teatro Europeu, começou a reduzir os valores destinados às forças armadas, marcando assim o começo da busca por soluções mais baratas também na América. A renda per capta no período do pós-guerra na Europa era um quarto ou um quinto da renda média nos Estados Unidos (HEINKEL, 1952). Este fato sinaliza a diferença de riquezas entre os países aliados e o gigante norte-americano e é claro que sobre estas condições, a busca por soluções mínimas se iniciara no velho mundo. Porém mesmo em condições mais fartas, o Sr. Edward Henry Heinemann, projetista da Douglas Company, que era engenheiro chefe desta empresa, resolveu se aventurar pelos mesmos caminhos, tendo como bandeira um conceito 131 formulado por ele, chamado “Fator de Crescimento”, muito próximo à noção do Sr. Petter da Folland. Este fator sugere quanto o aumento de uma quantidade de equipamentos iria influenciar no aumento do peso total da aeronave, mantendo-se constante a resistência e o desempenho. Cada tipo de avião possuía um fator de crescimento de peso, cuja média utilizável sem prejuízos pode ser o número 10, ou seja, se aumentar em 1 kg de equipamentos em um projeto, não basta somar este quilo excedente no peso total do avião, mas multiplicá-lo por 10, ou seja, colocando-se um equipamento de 10% do peso do avião, ter-se-ia o dobro do peso final do avião ou 200% (Figura 51). 1- Se um avião pesa este tanto 2- E este acréscimo de peso em estrutura, equipamento ou armamento é adicionado. 10 1 10 3- A área da asa, potência do motor e estrutura devem ser aumentados, resultando neste aumento de peso extra. 4- Resultando em uma aeronave com este peso máximo. 20 Figura 51 - Exemplo do aumento de 10% no peso de um jato com “fator de crescimento de 10”. Fonte: adaptado pelo autor deHeinemann (1955). A materialização americana do novo conceito foi um avião de ataque ao solo, desenvolvido para a marinha norte-americana, que deveria ser utilizado embarcado em porta-aviões e pesar em torno dos 15.000 kg, todavia a redução em dimensional e de sistemas foi tanta que o avião acabou pesando menos da metade do número inicialmente proposto. A empresa Douglas sempre teve certa habilidade com relação à redução de peso, havia sido assim nos últimos seis projetos em 1955, cujo peso ficara 1/3 do peso dos concorrentes, porém mesmo assim o espantoso sucesso veio com a criação do A-4 Skyhawk, este avião tinha dimensões reduzidas, uma asa em formato delta, resultando na diminuição de sua envergadura, e a consequente eliminação das 132 dobradiças nas pontas das asas, para que o avião coubesse nos elevadores e convés dos porta-aviões (Fig. 52). Figura 52 - Foto do Skyhawk A4D-2, produzido pela empresa Douglas. Fonte: (US NAVY – Foto oficial). Seu sistema de rádio foi todo re-compactado, para caber em um espaço mínimo à frente do piloto, o assento ejetável também era mais leve e de dimensões reduzidas, sua cabine foi desenhada em torno do ocupante (piloto), baseando-se nos mais avançados estudos de Ergonomia da época (psicológicos e fisiológicos). Esta cabine foi testada utilizando-se modelos em escala real, para que os pilotos avaliassem. As asas funcionavam como um gigantesco tanque de combustível, a fuselagem era leve e bipartida para o acesso ao motor. (Fig. 53). 133 . Figura 53 – O peso dos equipamentos de rádio no A-4D, antes da compactação no desenho inferior, totalizando 71,8 kg, e após o refinamento com 49,8 kg, na parte superior do diagrama. Fonte: (HEINEMANN, 1955). A grande ideia para fazer viável a redução de peso foi a eliminação do póscombustor, que é utilizado para se obter o voo supersônico. Nos aviões de ataque com longa autonomia, este recurso pode ser eliminado sendo o grande trunfo no A-4. O projeto foi a consolidação de uma nova filosofia, era possível se fazer um avião de combate, com tecnologia de navegação de ponta, armamentos e com capacidade para grande carregamento de armamentos, inclusive nuclear (importante no momento do início da guerra fria). Com a economia de peso, poder-se-ia construir 2.4 vezes mais A-4 do que se o peso fosse mantido sobre os requisitos, para cada mil aviões construídos a economia seria de US$ 400.000.000 (HEINEMANN, 1955). Esse avião foi produzido por vinte e um anos e foram duas mil, novecentas e sessenta unidades construídas, com mais de dezessete variantes. Foi o avião militar norte-americano de mais longo tempo de produção. Foi utilizado pelas forças aéreas de Argentina, Austrália, Indonésia, Israel, Kuwait, Malásia, Nova Zelândia e Singapura. Viu-se ação em conflitos como a Guerra do Vietnã, oriente médio e Ilhas Malvinas. Atualmente, o Brasil (Fig. 54) utiliza 23 destes aviões, comprados por essa nação do Kuait no final da década de 1990 (www.shanaberger.com). 134 Figura 54 - Batizados de AF-1 os Douglas Skyhawks brasileiros foram comprados do Kuait em 1998 e operam a bordo do Navio aeródromo A-12/ São Paulo. Fonte: (http://blog.naval.com.br). 4.4.6 - O conceito e sua contemporização Talvez o leitor já tenha com os diversos exemplos citados, percebido o que é a filosofia que permeia este trabalho, mas ainda há o que discutir para atualizar este conceito com quase setenta anos de existência. A Solução Mínima se baseia em quatro pilares básicos (KOVÁCS, 1986): a- Assegurar baixo peso (almejar pequeno tamanho e simplicidade); b- Restringir os equipamentos, para o nível da necessidade operacional; c- Combinar – quando e onde possível, mais de uma função (de preferência alternando), para o maior número possível de componentes do avião; d- Adotar uma “turbina” (motor à reação), de dimensões reduzidas, de peso e consumo específico baixo. 135 Kovács (1986) afirma que estes são os fundamentos de validade eterna e que podem ser utilizados até para o maior avião do mundo, porém de solução mínima. Assegurar baixo peso, nos dias de hoje, parece um tanto mais fácil, pois os materiais compósitos, (que são, por exemplo, os tecidos de fibra de Carbono, unidos por meio de uma matriz de resina polimérica epóxi), tem uma relação de peso muito inferior aos materiais metálicos, e com maior resistência mecânica do que algumas ligas que por anos foram utilizadas na construção aeronáutica. Dessa maneira, neste ponto, os projetos atuais têm tendência de migração e uso cada vez maior desta matéria-prima, indo ao encontro do princípio da solução mínima. As vantagens do uso dos materiais compósitos podem ser observadas na Tabela 21, onde há uma comparação entre duas fuselagens de um mesmo helicóptero, sendo uma feita em material compósito e outra em alumínio. Tabela 21 – Comparação entre duas fuselagens de um mesmo helicóptero, uma se utilizando de material compósito e outra de projeto tradicional em Alumínio. ITEM Tipo de estrutura Alumínio Compósito Número de componentes 11.000 1.530 Número de elementos de fixação 86.000 7.000 Peso em kg 2.126 1.488 Fonte: (DUPONT – catálogo do Kevlar®). Pode-se notar na tabela acima que a redução de peso é da ordem de 637 kg, somente na fuselagem, ou seja, cerca de 30% do peso total da fuselagem; além disso, o número de elementos de fixação cai de 86.000 para 7.000 e os elementos estruturais passaram de 11.000 no Alumínio para 1.530 na estrutura desenhada e construída em material compósito. O aspecto dimensional também é facilitado por esta redução de peso, tendo em vista que menor peso significa menor área de asa, para a geração de sustentação, e sabe-se que as asas ocupam boa parte da dimensão dos aviões. A própria ergonomia da cabine pode ser otimizada, fazendo com que o piloto seja envolvido 136 pela nacele; neste caso; os comandos sem fios e os modernos equipamentos também contribuem. Já no item b, a análise tem de ser feita, considerando-se a mudança na tecnologia da eletrônica embarcada, da década de 50 até os dias de hoje, e a era da informática, que trouxeram a condição de termos equipamentos com múltiplas funções, integração de comunicação e navegação, gerenciamento de atividades da cabine, sendo isto tudo somado a um baixíssimo peso e a um grau de confiabilidade quase total. Estas são algumas diferenças com a época de ouro dos caças a jato até a terceira geração 1960-1970 e os modernos vetores de combate (KATSANOS, 2008). Inclusive a aviação geral (civil e desportiva) já está utilizando destes recursos, onde antes, somente, a aviação militar tinha acesso, todavia todo desenvolvimento de tecnologia de ponta é caro e esta tecnologia deve ser adaptada, para outras aplicações quando, então, é difundida e justifica-se em termos de demanda, reduzindo seu custo em função da economia de escala. Pode-se hoje encontrar aviões monomotores que já saem de fábrica com instrumentos digitais, telas de cristal líquido, monitores multifuncionais, que integram a navegação à comunicação e aos instrumentos de motor, o que antes significava um número maior de instrumentos, menos sutis e leves. Um destes aviões monomotores é o CIRRUS, um sucesso de vendas em todo o mundo. Sua cabine nada fica a dever em relação a jatos executivos ou mesmo os aviões comerciais mais modernos (Fig. 55). Figura 55 - Aeronave monomotor de quatro lugares Cirrus geração 3. Fonte: (www.cirrusdesign.com.br). 137 Figura 56 - Vista interna da cabine de comando do Cirrus G3. Fonte: (www.cirrusdesign.com.br). Nota-se que a cabine possui dois displays de LCD (Fig. 56), que substituem os antigos instrumentos analógicos, apenas três deles funcionam como back up, no caso de pane da parte elétrica da aeronave. Por esta situação, acredita-se que este segundo item da filosofia assume uma menor importância, pois a redução de peso, dimensional e custos foram contornados pelo avanço da informática, eletrônica, barateamento e aprimoramento dos processos de produção. Lembre-se de que os telefones celulares há pouco mais de dez anos eram vendidos aos milhares de Reais e hoje são distribuídos pelas diversas operadoras a um custo simbólico para o consumidor, que pagará uma taxa de uso mensal para utilizá-lo, e não é preciso dizer na tecnologia e número de funções que estes acumulam. O acúmulo de funções é um interessante item, porque ele congrega a tecnologia e a criatividade a serviço do projeto. Quando se concebe um projeto, pode-se ainda de maneira esquemática, pensar em componentes que possam desempenhar mais de uma função, isto é redução de peso na certa. O caso do Folland Gnat é o maior exemplo, a peça central da fuselagem (citada anteriormente na p. 133 deste trabalho), é a única peça feita por um processo mais caro e complicado e assume várias funções estruturais, de suporte do canhão a fixação das asas e trem de pouso. Alguns aviões experimentais também se utilizam deste recurso, sendo um dos exemplos o avião chamado de CRI-CRI MC-15 (grilo, em francês), desenhado 138 por Michel Colomban, na década de 60. Este avião é menor bimotor do mundo, medindo 3,90 m de comprimento, 4,90 m de envergadura, utiliza dois motores de 15 cavalos cada (Fig. 57). Figura 57 - Aeronave MC-15 Cri-Cri. Na cabine do Cri-Cri, encontra-se um assento simples, que utiliza o tanque de combustível como sua continuação para o apoio das pernas do piloto (Fig. 58). 139 Figura 58 - Painel do CRI-CRI, projetado por Michel Colomban, nota-se o apoio das pernas promovido pelo tanque de combustível. O último dos requisitos da solução mínima é o que tem o maior impacto no aspecto ambiental, que é a escolha de um motor com baixo consumo de combustível e, neste caso, talvez este conceito também deva ser reformulado para a busca por novas fontes de energia para se mover o avião, como motores elétricos, ou híbridos. O consumo dos motores a pistão é da ordem de 250 g/cavalo/hora de funcionamento e isto nos motores não muda muito, segundo entrevista do Sr. Kovács ao autor, no entanto, no caso dos motores à reação, pode-se fazer milagres, e é isto que as empresas buscam desenvolver: um motor com baixo consumo específico. 140 4.4.7 Joseph Kovács: Um projetista e sua filosofia Kovács Jözsef Gábor, nascido em Mezötur, na Hungria em 19 de março de 1926, seu pai, um herói da I Guerra Mundial, não gostava de aviação e não incentivou os filhos neste sentido. Kovács foi sempre um apaixonado por aviões, desenvolveu em sua carreira de projetista, cerca de cinqüenta e seis (56) aviões e planadores, entre eles os treinadores Neiva Universal T-25 e o Embraer 312 / AT-27 Tucano, atuou também no desenvolvimento do Embraer cento e dez Bandeirantes. Desde criança, subia em um paiol para de lá ver os aviões de perto, mexia com aeromodelismo e aos 15 anos começou a voar planadores. Estes planadores eram lançados de uma colina em Budapeste, utilizando uma espécie de estilingue de borracha; entretanto, após a Segunda Guerra Mundial, o regime comunista proibiu qualquer tipo de voo na Hungria, no entanto, a sua paixão ia além das imposições do regime político e, por diversas vezes, ele e os companheiros iam às colinas nas noites não muito claras e voavam no breu, acendendo um isqueiro para sinalizar ao planador, após escutarem o zumbido próximo causado por suas asas. Foi, por isso, que resolveu com mais três colegas, deixarem seu país de origem, segundo ele: “Era uma situação absurda e humilhante, parecia que estávamos fazendo algo clandestino”. Figura 59 - Foto do autor com o Sr. Joseph Kovács, em 29 de maio de 2008, em São José dos Campos. Fonte: arquivo do autor 141 Saiu da Hungria em 1948, e ficou na Áustria por algum tempo. Ele e um dos amigos haviam pensado em ir para a Etiópia, antiga Abissínia, pois lá havia um húngaro que possuía uma escola de pilotagem, mas não havia condições de moradia e sustento, por isso tentou se alistar na Legião Estrangeira, porém não contente com as difíceis perspectivas legionárias, resolveu fazer corpo mole nos exames e ficou mesmo pela Áustria, até que surgiu uma oportunidade de trabalhar no Brasil, chegando por aqui em dezembro de 1948. Seus primeiros trabalhos com aviação foram no IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas, e na Real-Transportes Aéreos. Associou-se ao Clube Politécnico de Planadores em 1949. Em 1952, foi trabalhar no CTA – Centro Técnico Aeroespacial, um lugar cheio de ideias inovadoras. Sua formação não é Engenharia Aeronáutica, mas sim engenharia industrial. Diplomado na Escola Técnica de Budapeste, diz que não havia campo para aeronáutica em seu país, não havia luxo. Foi sempre um autodidata, aprendeu em livros, alguns húngaros e outros alemães, os quais lia com amigos e os praticava. O primeiro projeto que desenvolveu foi o de um planador aos quinze anos de idade, um desses planadores leves de 30 ou 40 kg. O segundo projeto foi um avião com motor BMW de 25 Cavalos de potência, entretanto, com certeza, o projeto mais importante para ele, em sua carreira, foi o Universal T-25 (Fig. 60), a atual aeronave de treinamento, utilizada pela força aérea brasileira. Figura 60 - Foto do avião de treinamento Neiva T-25C Universal, projetado pelo engenheiro Kovács. Fonte: (www.airliners.net) O que realmente fez a diferença foram cinquenta anos de dedicação, estudo, exercício e trabalho. Sendo esta a melhor escola de todas. Para quem gosta de aviação, não importa o diploma, o projetista aeronáutico não pode ser chamado de 142 cientista, ele é um artista que sabe combinar melhor as soluções. Sendo que a arte de projetar avião mais se assemelha à arte culinária do que qualquer outra coisa. O importante é saber juntar os elementos corretos para ter um bom resultado. (AEROMAGAZINE, fev.-1998). Figura 61 - Outras aeronaves projetadas pelo engenheiro Kovács. 4.4.8 Neiva 561 – A filosofia do projeto do Universal T-25 O projeto N.621 como foi batizado internamente o Universal, começou nas pranchetas de Kovács, em 1962, (projeto preliminar) para atender as especificações do Ministério da Aeronáutica, para substituir os Fokker S.11 (T-21) e S.12 (T-22) que eram as aeronaves em uso na época. A proposta da equipe de projeto era a de fazer uma aeronave totalmente nova em conceito, capaz de fazer voo invertido, uma característica que segundo o engenheiro Kovács (1986), há muito havia sido retirada dos aviões de treinamento, em função da força aérea brasileira estar acostumada a receber as sobras obsoletas do excedente norte-americano. 143 A ausência do voo invertido acabou por tornar-se um vício, passível até de repressão por parte dos instrutores na academia. Os pilotos brasileiros ficaram ainda viciados a conduzir máquinas robustas, insensíveis e ineficientes que aguentavam toda espécie de maus tratos, por parte dos cadetes. Havia inclusive um estigma de que respeitar os limites operacionais das aeronaves era assunto dos “Fracos”. A ideia que ecoava na cabeça de Kovács, não amparada contratualmente, era a de se fazer um avião de transição, que não fosse tão sensível para a operação normal e nem tão robusto, caro e difícil de manter. As qualidades de voo almejadas pela equipe era a de um treinador semelhante aos europeus, capazes de voos acrobáticos e com comando leves e de rápida resposta. A filosofia era circunstancial e do tipo indireta, com otimizações criteriosas, no entanto, sem soluções revolucionárias. O Ministério da Aeronáutica aprovou a proposta de desenvolvimento, chamando o projeto de IPD-6201 (Fig. 62), autorizou a construção de um protótipo para ensaios, que recebeu a matrícula civil: PT-ZTW e realizou seu primeiro voo em 29 de abril de 1966 (PEREIRA, 1997), seguido, em 1967, pelo segundo protótipo, na versão militar. O primeiro T-25A foi entregue em abril de 1971, tendo sido produzidos ao todo 178 unidades até o ano de 1979. Embora o projeto tenha sido atrapalhado por diversos fatores, de problemas de ordem financeira e administrativa, e a inexperiência da equipe na época, o avião cumpriu e ainda hoje cumpre a finalidade da qual se propôs. 144 Figura 62 – Desenho da aeronave T-25 (IPD- 6201), conforme constava na descrição preliminar do contrato. Fonte: KOVÁCS, 1996. O fator aumentador de peso se fez presente a uma razão de 1:6, impulsionado por imposições contratuais rígidas, que exigiam muitos equipamentos, o que desviou o projeto da idéia inicial de otimização do desempenho. Os equipamentos que deveriam ser utilizados na montagem dos T-25 seriam oriundos dos estoques dos Parques de Aeronáutica e eram antigos obsoletos e, sobretudo, pesados (KOVÁCS. 1996). Kovács cita o fato de que o T-25 teve um papel de demonstrar a capacidade de projeto e execução do pessoal brasileiro, abrindo caminho para a ideia de uma indústria nacional de maior porte (EMBRAER). O projeto 621 era visto com muita desconfiança, foram aplicados poucos recursos na sua execução. O primeiro protótipo era o mais leve, o que tinha melhor desempenho e possuía a função de fazer os voos de demonstração para o público, o que ajudava a aumentar a credibilidade. Foram contratados inicialmente pela força aérea 140 desses aviões. Dez unidades foram exportadas para o Chile no ano de 1978, e após anos em serviço com o exército daquele país, foram revendidos para a Força Aérea Paraguaia. 145 Várias tentativas foram feitas, para a extensão da vida do projeto, que recebeu versões com motores turbo-hélice e até variantes armadas, como foi o caso do Carajá (Fig. 63), cuja função era a de um treinador avançado e aeronave leve de ataque, sob a mesma plataforma básica do T-25. Figura 63 – Desenho da aeronave Carajá (N. 721B). Fonte: PEREIRA, 1997. Até a proposta de uma versão de ataque bimotor (Fig. 64), foi avaliada pela indústria Neiva, em função do aproveitamento dos gabaritos de construção, utilizados para o T-25. Considerações válidas para projetos com comunicação de itens. Figura 64 – Desenho da aeronave Bi-Universal - Ataque. Fonte: PEREIRA, 1997. O próprio projetista defendeu, no ano de 1996, a revitalização do projeto do T-25. Esta poderia ser feita com custos moderados e sem a paralisação da frota, 146 aplicando-se a redução de peso pelo emprego de equipamentos modernos e minimizados, a limpeza aerodinâmica pela mudança da capota (canopy) transparente por uma versão mais fluída e leve, a instalação de uma hélice tripa de até 2.1 metros (82 polegadas) de diâmetro e até a restrição do combustível, tendo em vista a enorme capacidade de 340 litros. Todavia, Kovács (1996, p.92) alerta: “A filosofia de projeto, naturalmente, seria completamente diferente do que em 1961, particularmente pela existência do T-27 Tucano, ou seja, um treinador tipicamente primário de porte, complexidade e custos menores”. 4.5 Engenharia de Sistemas Não se pode falar em Engenharia de sistemas sem analisar atividade de projeto na área da engenharia, para isso, começamos com a missão do projetista, que é a de encontrar soluções para problemas técnicos, baseando suas propostas no conhecimento das ciências naturais e da engenharia, e leva em conta os condicionantes materiais, tecnológicas, econômicas e ainda preocupações de ordem legal e ambiental. Após o conhecimento do que é o problema a ser resolvido são criadas subtarefas concretas, que farão parte do desenvolvimento do produto. Isto ocorre tanto em termos individuais quanto em desenvolvimento interdisciplinar de produtos. As características técnicas, econômicas e ecológicas serão fruto de suas ideias, conhecimento e talento. Do ponto de vista metodológico, projetar é processo de otimização, que possuem objetivos e condicionantes ou restrições impostas por vários fatores. Os requisitos variam em função do tempo, por este motivo uma solução só pode ser otimizada sob as condicionantes existentes na época do projeto. Sob a ótica organizacional o projeto participa do ciclo de vida do produto, ciclo este que se inicia com uma demanda ou pela própria vontade do ser humano. A primeira atividade é o planejamento do produto e a última o descarte do mesmo. (PAHL et al., 2005). 147 A organização de um processo de projeto é orientada pela própria organização geral da empresa. Há varias formas de organização, dentre elas as empresas organizadas por produto, aquelas orientadas por problemas e ainda outras que se dividem de acordo com a etapa de projeto a ser executada ou a especialidade deste. Hoje em dia, algumas modificações foram feitas nas sistemáticas de projeto em função da crescente consciência ecológica, que exigem uma nova concepção de produtos e de processos, onde várias soluções padronizadas devem ser repensadas. Estas soluções vêm, às vezes, de trabalhos em conjunto com especialistas de outras áreas e detentores de conhecimentos em outras disciplinas. Uma tendência nesta área de atuação do Engenheiro, Projetista ou Designer, como já citado na introdução deste trabalho, é o uso das diversas plataformas CAF (Computer Aided Design – Design Auxiliado por Computador) que modifica os métodos de projeto e agrega novos personagens na cena do projeto como: Gerentes de Sistema e Assistentes de CAD. No entanto, apesar do auxílio do computador, os projetos demandam ainda muita criatividade, conhecimentos e experiência do “Projetista” (englobando Engenheiros, Designers, etc.). O desenvolvimento de sistemas baseados no conhecimento (Sistemas inteligentes), bem como os catálogos eletrônicos de fornecedores, aumentaram a quantidade de informações de produtos, soluções já empregadas e também em áreas de otimização, cálculo e combinação de soluções, facilitando a interação entre a equipe de projeto na análise de soluções propostas. Nas empresas, está crescente também a tendência de efetuar projetos no contexto de sua competência central e fazer o complemento de projeto, como também, a execução com componentes terceirizados (Outsourcing), a busca pode ainda acontecer em nível de parceria firmada entre detentores de vários tipos de conhecimentos e competências. A própria EMBRAER, adota um sistema de parcerias em diversas áreas do projeto de suas aeronaves, empresas européias e até chinesas participam desses trabalhos. Um dos últimos acordos foi anunciado 148 em junho de 2009, onde um investimento de mais de 200 Milhões de euros será feito pela EMBRAER na região de Évora em Portugal, transformando em um pólo aeronáutico (http://www.portugaldigital.com.br/noticia.kmf?cod=553413&índice=0& canal=159). Um outro exemplo é a nova aeronave de transporte militar e reabastecimento em voo da EMBRAER, batizado de KC-390, que está sendo projetado em conjunto com várias empresas, dentre elas, a empresa norte-americana Hitco Carbon Composites que fará o cone de cauda do gigante alado e a sul-africana Denel Saab Structures, encarregada da empenagem (RODRIGUES, 2009). O termo Engenharia de Sistemas não é tão atual quanto se pensa e tem sua origem nos laboratórios da empresa fabricante de telefones Bell nos Estados Unidos, na década de 1940. Havia a necessidade de se identificar e manipular as propriedades de um sistema como um todo, principalmente em projetos complexos, nos quais a soma das partes não correspondia ao todo, então começaram a se desenvolver técnicas de observação mais holísticas e que ajudavam a entender os problemas que se tornavam mais complexos. Ainda hoje novas técnicas são desenvolvidas, pois a Engenharia de Sistemas está em contínuo desenvolvimento. Muitas instituições em virtude do tipo de natureza dos seus projetos começaram a utilizar-se das técnicas, entre elas, o Departamento de Defesa Norte-Americano a NASA e várias empresas. Engenharia de Sistemas é, então, a evolução das metodologias de projeto. A grande importância do desenvolvimento de um produto reside na aceitação por parte do mercado que deverá absorvê-lo, deste modo, torna-se necessário um procedimento para o desenvolvimento de soluções que seja flexível, otimizável e verificável, possibilitando limitar os erros e potencializar os acertos nas decisões de projeto. Segundo Pahl et al. (2005), uma metodologia de projeto deverá: 149 Possibilitar um desenvolvimento orientado por problemas, ou seja, ser aplicada em princípio em qualquer atividade de projeto, independente da especialidade; Incentivar invenções e conhecimentos, ou seja, facilitar a busca de soluções ótimas; Ser compatível com conceitos, métodos e conhecimentos de outras disciplinas; Não gerar soluções somente por acaso; Permitir uma fácil transferência das soluções de tarefas semelhantes; Ser apropriada para ser utilizada no computador; Ser possível de ser ensinada e aprendida; Estar em conformidade com conhecimentos de psicologia cognitiva e da ergonomia, ou seja, facilitar o trabalho em equipe num processo integrado e multidisciplinar de geração de um produto; Ser orientação e diretriz para os gerentes de projeto de equipes de desenvolvimento. Os métodos de engenharia de sistemas têm adquirido crescente relevância em processos técnicos sócio-econômicos. No mínimo de forma implícita, ela é fundamental para o procedimento metódico. Como ciência interdisciplinar, a engenharia de sistemas disponibiliza métodos, processos e ferramentas para análise, planejamento, seleção e configuração otimizada de sistemas complexos (PAHL et al. 2005, p.9). Para Raymer (2002), a Engenharia de Sistemas é um processo multidisciplinar com meios que permitem o entendimento de sistemas, focado na definição das necessidades do cliente (usuário). É ainda a síntese do projeto considerando o problema por completo: Operações; Desempenho; 150 Ensaios; Produção; Custo e Cronogramas; Treinamento e assistência; Descarte. Raymer (2002) faz ainda uma distinção entre Engenharia de Sistema e Engenharia de Sistemas, em que a primeira é, por exemplo, hidráulica que é um dos sistemas das aeronaves, e ainda propõe algumas definições, colocadas a seguir: Sistema – Qualquer conjunto de equipamentos, habilidades e capacidades orientadas ao cumprimento de algum objetivo operacional. Processo sistemático – A consideração de interações dos diferentes componentes de um sistema, face ao cumprimento de objetivos gerais do sistema. Engenharia de Sistemas – O projeto de ambos, componentes dos sistemas e a arquitetura da interação entre estes componentes, com vistas a aperfeiçoar o desempenho dos objetivos do sistema, em concordância com os requisitos e os condicionantes restritivos. Criações técnicas, como o projeto de um veículo ou máquinas, representam um sistema. Aeronaves, então, são sistemas artificiais, dinâmicos, constituídos por elementos ordenados, interligados por relações com base em suas características. Um sistema caracteriza-se por estar alinhado por seu ambiente, onde as ligações para mesmo ambiente são cortadas pelos limites do sistema. As linhas de transmissão determinam o comportamento do sistema para fora, isto torna possível a definição de uma função que faz relação entre as grandezas de 151 entrada e saída, indicando, assim, a variação das características das grandezas do sistema. (Fig. 65). Figura 65 – Estrutura de um sistema. Fonte: PAHL et al. (2005). O procedimento da Engenharia de Sistemas baseia-se na percepção geral de que problemas complexos são resolvidos em fases determinadas do trabalho, estas fases devem ser orientadas pelas mesmas fases de qualquer atividade de desenvolvimento, pela análise e pela síntese. Embora seja um termo cunhado recentemente, na indústria aeronáutica em virtude da complexidade dos aviões, foi utilizado por alguns projetistas de renome como Kelly Johnson, engenheiro aeronáutico, que trabalhou cinquenta anos na empresa Northrop, foi o responsável por projetos inovadores como o do avião espião Blackbird, o caça interceptador F-104, o Lockheed C-130 Hércules entre outros. Raymer (2002) destaca que esses projetistas que já trabalhavam com Engenharia de Sistemas exibiam alguns pensamentos similares: Trabalhavam como os clientes para definir e aperfeiçoar os requisitos; Consideravam o veículo aéreo apenas como parte de todo o processo; Insistiam em inúmeros estudos e propostas alternativas; Realizavam numerosos estudos comparativos. 152 O processo de Engenharia de Sistemas (Fig. 66) começa com a coleta de informações sobre o sistema, também chamado de estudo de sistemas, este pode ser resultante de análises de mercado, pesquisas de tendências ou da formulação de problemas concretos. Algumas metodologias chamam esta fase de análise do problema. Figura 66 – Fases da Engenharia de Sistemas. PAHL et al. (2005). . O objetivo desta fase é o de estabelecer claramente as fronteiras do problema e as subtarefas a serem solucionadas, e que se tornarão o ponto de partida para o projeto. Já, na segunda fase, são elaboradas com base nesta formulação clara do problema, metas que constituem o programa alvo e que é a base importante para a posterior avaliação das variantes de solução, durante a busca por uma solução ótima. 153 A síntese do sistema corresponde à terceira fase, quando são propostas as variantes da solução, com base nos dados colhidos nas fases anteriores. Este processamento de informações deve fornecer o maior número de propostas de solução e de configuração para o sistema planejado. Para a escolha da solução mais otimizada, as variáveis de solução são comparadas ao programa alvo elaborado na segunda fase, ou seja, deve-se ter certeza de qual a solução satisfaz, da melhor maneira, os requisitos. Pré-condição é, assim, o conhecimento das características das variantes da solução. Por este fato, é que estas características são apuradas em primeiro lugar, para que a avaliação possa ser executada. A fase da Avaliação (4ª fase), então, assegura o encontro de uma solução relativamente otimizada e constitui a base para a decisão sobre o sistema. A comunicação da informação ocorre na fase de planejamento da execução do sistema e, na Fig. 67, mostra que só um processo interativo é que garante soluções adequadas, as fases de decisão intercaladas facilitam o processo à otimização e representam uma conversão de informações. Figura 67 – Modelo de Procedimento de Engenharia de Sistemas para diferentes ciclos de vida (fases de concretização).Fonte: PAHL et al. (2005). 154 Em 1990, foi fundado, nos Estados Unidos, o Conselho Nacional em Engenharia de Sistemas (NCOSE – National Council on Systems Engeneering), com representantes de muitas corporações e instituições. O conselho foi criado com vistas a melhorar as práticas e o ensino das técnicas da Engenharia de Sistemas. O crescimento do envolvimento mundial ficou tão grande com relação à Engenharia de Sistemas que, em 1995, se resolveu mudar o nome para Conselho Internacional (INCOSE). Várias escolas, mundo a fora, oferecem programas de Engenharia de Sistemas, além de educação continuada para pessoas de outras áreas. 4.6 Engenharia Simultânea 4.6.1 – Desenvolvimento integrado de produto (IPD – Integrated Product Development) É a Engenharia de Sistemas aplicada a projetos aeronáuticos, ou seja, uma filosofia que emprega sistematicamente equipes de diferentes disciplinas para integrar e aplicar todos os processos necessários para resultar em um produto eficiente que satisfaça a necessidade do consumidor. Nas indústrias aeronáuticas, o projeto aeronáutico é feito pelas equipes integradas de produto (IPT – Integrated Product Teams). O IPD – Integratred Product Development – é uma mudança cultural na abordagem de problemas, mudando o foco para alguns requisitos em ordem de importância: Cliente; Produto; Processo; Restrições; Estrutura organizacional. 155 A filosofia do IPD é a tomada de decisões baseada em análises multidisciplinares ao invés de decisões hierárquicas tradicionais, reúne pessoas da área de projeto, engenharia, produção, operação e representantes dos clientes para que definam e desenvolvam novos produtos. Esse processo é muito utilizado hoje nas indústrias desse setor, porém como adverte Leão (s.d.) que embora seja formada uma equipe com pessoas de várias áreas do conhecimento referente à engenharia ou engenharias, envolvidas no projeto aeronáutico, deve ser do projetista mais experiente a sinalização de que a configuração deve ser adotada, mesmo com as competências dos outros membros da equipe, como ainda, os requisitos e objetivos acordados com o cliente, a gerência e com os outros membros do IPT. A engenharia simultânea é uma parte importante do desenvolvimento integrado de produto, pois em épocas remotas, na indústria aeronáutica, o desenvolvimento de produtos seguia uma trilha linear e seriada, onde o pessoal concebia a aeronave e o design preliminar e, então, passava tudo o que havia sido desenvolvido para a equipe de detalhamento, que, por sua vez, não havia participado da concepção e, assim, a confusão começava: ”como vamos construir esta coisa?” Em projetos complexos como navios, submarinos e aeronaves, a engenharia simultânea presta imensa e valorosa contribuição, eliminando problemas que custariam muito para serem resolvidos ou inviabilizariam o processo todo. Segundo Leão (s.d.) há um aumento nos custos iniciais, contudo, estes são mínimos se comparados aos benefícios. 156 5 REQUISITOS DE PROJETO 5.1 Introdução à Regulamentação Aeronáutica Segundo Rosa (2006, p.201), “os regulamentos aeronáuticos RA, são documentos oficiais que regulamentam e normalizam o setor da aeronáutica civil, são desenvolvidos pelas agencias governamentais específicas em conjunto com associações e comissões próprias”. São impostos aos fabricantes e operadores para garantir a segurança de qualquer cidadão que deles faça uso. Essas regras são extremamente importantes e cobrem desde o projeto da estrutura, sistemas e até na qualidade de voo e desempenho (DE ANDRADE, 2000). As regras variam de país para país e é importante para o projetista que almeja o mercado internacional, conhecer e escolher a regulamentação compatível. Esses regulamentos são padronizados internacionalmente em relação à divisão de partes e no parágrafo do texto de cada parte ou subparte. Os requisitos em vigor nos dias de hoje, segundo De Andrade (2000) e Da Rosa (2006), são: Federal Aviation Regulations (FAR), emitido pela Federal Aviation Administration (FAA), um órgão do Departamento de Transportes dos Estados Unidos da América. Joint Aviation Requirements (JAR), emitido pelo Joint Aviation Authorities (JAA), autoridade de aeronavegabilidade colegiada dos estados europeus; 157 Canadian Aviation Regulation (CAR), emitido pelo Canadian Aviation Regulation Aviation Council (CARAC); Civil Aviation Safety Regulations (CASR), emitido pelo Aviation Safety Authority Australia (CASA). No Brasil, estas normas são de responsabilidade da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), seguem também a mesma divisão internacional, no entanto, são batizadas de RBHA (Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica). Abaixo na Tabela 22, encontra-se a correspondência entre os regulamentos atuais. Tabela 22 - Principais Partes dos Regulamentos Aeronáuticos. CONTEÚDO CAR CASA FAA JAA RBHA Definições - Dictionary Part 1 JAR-1 RBHA 01 Procedimentos para elaboração dos regulamentos - Part 11 Part 11 JAR-11 RBHA 11 Homologação de produtos e peças Chapter 521 Part 21 Part 21 JAR-21 RBHA 21 Planadores e motoplanadores Chapter 522 Part 22 - JAR-22 RBHA 22 Aviões categorias normal, utilitários e acrobáticos Chapter 523 Part 23 Part 23 JAR-23 RBHA 23 Aviões de transporte (grande porte) Chapter 525 Part 25 Part 25 JAR-25 RBHA 25 Aviões de categoria primária ou intermediários - Part 26 - - RBHA 26 Aeronaves normais de asa rotativa (pequenas) - Part 27 Part 27 JAR-27 RBHA 27 Aeronave de transporte de asas rotativas (grandes) - Part 29 Part 29 JAR-29 RBHA 27 Chapter 531 Part 31 Part 31 - RBHA 31 - Part 32 - - - Motores aeronáuticos Chapter 533 Part 33 Part 33 JAR-E RBHA 33 Hélices Chapter 535 Part 35 Part 35 JAR-P RBHA 35 Normas de Ruído/ emissões Chapter 516 - Part 36 JAR-36 RBHA 36 Manutenção, reconstrução e alteração Chapter 571 Part 43 Part 43 JAR-147 RBHA 43 Registro de aeronaves Part II Part 47 Part 47 - RBHA 47 Aeronaves muito leves Chapter 523 Part 26 Part 103 JAR-VLA RBHA 26 Part 137 Part 137 - RBHA 137 Balões livres tripulados Motores aeronáuticos para aviões muito leves Aviação agrícola Fonte: Adaptado pelo autor de (DA ROSA, 2006). Nota: Existem também normas militares que no Brasil são batizadas de AER e nos Estados Unidos são chamadas normas MIL (Military Standards), as normas nacionais são baseadas e adaptadas em normas estrangeiras MIL ou equivalentes de outros países como França e Inglaterra, que têm vasta e longa cultura da engenharia e indústria aeronáutica. 158 Aeronaves categorias normais, utilitárias e acrobáticas com peso máximo de decolagem de 12.500 libras (5.700 kg), são regulamentadas pela FAR 23 (US Federal Aviation Regulations) e as aeronaves de treinamento são regidas por esta parte, que aqui, no Brasil, tem sua correspondência no RBHA 23 (Registro brasileiro de homologação aeronáutica), conforme tabela acima. Neste trabalho, será apresentada apenas a divisão das subpartes da RBHA 23, sem se ater ao conteúdo. A parte apresentada a seguir trata de critérios de projeto, construção de testes de aeronaves, chamados de requisitos de aeronavegabilidade (Airworthiness Standards) e são o maior interesse no foco deste trabalho. Para este tipo, a parte é subdividida em subpartes: PART 23 – Requisitos de Aeronavegabilidade Subparte A – Geral Subparte B – Voo 1. Geral; 2. Desempenho; 3. Caracteírsticas de voo; 4. Controle e manobrabilidade; 5. Ajuste; 6. Estabilidade; 7. Estóis; 8. Parafusos; 9. Características de manejo no solo e na água; 10. Miscelânea de requisitos de voo. 159 Subparte C – Estrutura 1. Geral; 2. Cargas em voo; 3. Superfícies de controle e carga nos sistemas; 4. Estabilidade horizontal e superfícies de equilíbrio; 5. Superfícies verticais; 6. Cargas em solo; 7. Cargas em água; 8. Condições de pouso de emergência; 9. Avaliação da fadiga. Subparte D – Projeto e Construção 1. Asas; 2. Superfícies de controle; 3. Sistemas de controle; 4. Trem de pouso; 5. Flutuadores e cascos; 6. Acomodação de cargas e pessoas; 7. Pressurização; 8. Proteção contra incêndio; 9. Comportamento elétrico e proteção contra raios; 10. Miscelânea. Subparte E – Grupo motopropulsor Subparte F – Equipamento Subparte G – Limitações de Operação e informação Apêndices 160 5.2 Requisitos Operacionais e de Manutenção Apontados na Pesquisa com o Pessoal da Academia da Força Aérea Brasileira Os regulamentos guiam as ideias dos projetistas aeronáuticos para adotar soluções que possam resultar em sistemas que forneçam características que se enquadrem e demandem valores dentro das tolerâncias especificadas em seu conteúdo, porém, eles não definem formas, configurações como nem quais tipos de motores sistemas e soluções utilizam. Este trabalho extraiu alguns requisitos, que foram apontados na pesquisa com os instrutores e pessoal de manutenção da academia da Força Aérea Brasileira, e que podem ser utilizados como guia para a escolha de uma nova aeronave de treinamento, ou na composição de possíveis soluções de projeto em um estudo preliminar para a um novo avião. Pelas próprias características do voo militar é ideal que as aeronaves destinadas à instrução militar sejam robustas. Quase uma unanimidade na pesquisa feita, apontou para a adoção de uma aviônica atualizada e confiável, com capacidade de voo por instrumentos. A aeronave em questão seria uma aeronave leve de asa baixa com configuração de motor: tratora, de baixo consumo com capacidade total acrobática com velocidade de estol baixa, facilidade de pilotagem e manobrável, podendo ser de construção metálica ou feita com materiais compósitos ou até a união das duas formas. A velocidade e razão de subida deveriam ser superiores às do T-25 (1.050 pés/minuto), o que segundo a pesquisa, melhoraria a operação, uma vez que diminuiria o tempo para se efetuar o deslocamento até a área de instrução. A disposição dos assentos considerada como melhor é a lado a lado para a instrução primária é básica, a cabine possuiria ar condicionado para aliviar a temperatura para instrutor e aluno, que além do macacão de voo (feito em uma 161 fibra polimérica chamada Nomex®), utilizam o capacete de voo que pesa mais de um kilograma e também esquenta a cabeça. Em função de problemas que os cadetes enfrentam na transição para a aeronave de instrução avançada, seria interessante ter o uso de punhos de manche (joysticks) similares contendo o maior número de funções ao alcance dos dedos (HOTAS – Hands on Throttle and Stick). A presença de manuais técnicos de fácil leitura e interpretação também foi destaque nos apontamentos, assim como esquemas elétricos e imagens da montagem de conjuntos e subconjuntos. Trem de pouso retrátil e hélice de passo comandável foram também sinalizados como itens importantes. 162 6 ANÁLISE DE AERONAVES DE TREINAMENTO DISPONÍVEIS NO MERCADO E COMPATÍVEIS COM OS REQUISITOS Há inúmeras aeronaves de treinamento disponíveis no mercado mundial nos dias de hoje, inclusive soluções derivadas de aviões experimentais. Projetos famosos na comunidade amadora, que foram transformados em treinadores. Este é o caso do canadense CH-600 fabricado pela empresa Zenair e projetado por Chris Reinz, e o sucesso de vendas da norte-americana Vans, modelo RV-9, que atualmente são utilizados pelas forças aéreas da Jordânia e Nigéria, respectivamente como suas aeronaves leves de instrução. Em um primeiro momento, o autor reuniu vários possíveis substitutos para os T-25, que ao menos em primeira e superficial análise poderiam se encaixar no perfil de nosso avião. No decorrer deste capítulo, ir-se-á elucidar mais os porquês das escolhas e exclusões dessas máquinas. 6.1 Enaer T-35 Pillan (Chile) A primeira dessas aeronaves foi o Enaer T-35 Pillan, de fabricação chilena, fez seu voo inaugural em 06-03-1981, esta aeronave está em uso em seis países latinoamericanos e na Espanha. Entre os países estão: El Salvador, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai e República dominicana. As utilizações principais são como avião de treinamento primário/ básico. Os motivos da escolha dessa aeronave como candidato, foram a simplicidade de projeto e as características de robustez de seu design, além da simplicidade de projeto, em função do aproveitamento de componentes de aeronaves já consagradas. O aspecto visual é o de um “caçinha“, assentos em configuração tandem, fuselagem proporcional e um conjunto capô e spinner de hélice harmônico e 163 arrojado, muito semelhante às aeronaves da Piper que emprestaram seu DNA, para que a empresa chilena obtivesse esse “puro sangue”. O T-35 Pillan foi desenvolvido pela Enaer em conjunto com a Piper (empresa norte-americana), sob o código de PA. 28R-300-XBT e utilizava componentes dos modelos de série, modificados. A estrutura principal é feita em ligas de alumínio e aço, com revestimento rebitado, exceto o capô, pontas de asa e deriva, que são feitas em fibra de vidro. A longarina principal da asa à prova de falhas (fail safe), foi feita utilizando-se o bordo de ataque do PA-28-236 Dakota e o bordo de fuga do PA-32R-301 Saratoga, modificado em função da menor envergadura; o plano vertical da deriva é virtualmente idêntico ao Piper Dakota, o plano horizontal usa componentes de linha do PA-31 Navajo/Cheyenne; o cone de cauda usa componentes do Piper Cherokee, ligeiramente modificado na largura mais estreita. A hélice Hartzell tripá de passo variável é impulsionada por um motor a explosão de seis cilindros Lycoming IO-540-K1K5, que produz 300hp de potência (GAINES, 1988). Entre os motivos para a escolha do T-35 Pillan, tratados no parágrafo acima, talvez o que mais tenha chamado a atenção do autor é que a indústria Neiva, hoje de propriedade da Embraer, que se localiza em Botucatu (interior do Estado de São Paulo), poderia a exemplo da colega chilena, desenvolver uma aeronave baseada no T-35 Pillan, entretanto, utilizando os requisitos apontados pelo estudo aqui apresentado, com maior profundidade. A Neiva fabricava algumas aeronaves da linha Piper na década de 1980 e, portanto, detém o conhecimento dessas plataformas. Talvez possa ter ficado confuso, ter-se escolhido uma aeronave como substituto, contudo, sugerir o projeto de outra, baseado em seu conceito. A verdade é que esse trabalho visa como um de seus objetivos, nortear a substituição do T-25. Esta substituição poderá ser feita por uma aeronave que governo brasileiro comprará ou ao olhar mais empolgado, por uma aeronave desenvolvida aqui no Brasil, para esta força aérea. E é por isso que se escolheu o T-35 Pillan como uma experiência 164 chilena bem sucedida que poderia ser uma alternativa barata e viável ao problema deste país. Não haveria muita vantagem no desempenho e consumo (vide Tabela 23, p. 169), fatores que foram evidenciados nesta pesquisa com os profissionais da aeronáutica militar brasileira. Conclui-se, então, que o T-35 não é um candidato para a substituição, mas, um exemplo que poderá ser explorado. Agora segundo as pesquisas sobre o método de instrução, uma conclusão a que se chegou, foi o uso de uma aeronave leve para a instrução inicial, que se chamou de Monitoramento em voo. Desta forma, o T-35 tem peso, consumo e dimensões muito próximas ao T-25, o que, sem dúvida, é um voto contrário à sua utilização. Figura 68 – Desenho em três vistas do avião de treinamento Enaer T-35 Pillan. Fonte:Gaines (1998) 165 Tabela 23 – Dados das aeronaves Neiva T-25C Universal e Enaer T-35 Pillan. Aeronave Motor Hélice Peso vazio Peso máximo de decolagem Envergadura Comprimento Altura Superfície alar Capacidade de combustível Carga alar Carga de potência Velocidade máxima Velocidade de Cruzeiro (55%) Velocidade de Cruzeiro (75% de Neiva T-25-C Universal Enaer T-35 Pillan Lycoming IO-540 K1D5 de 300hp Lycoming IO-540 K1K5 de 300hp Hartzell bipá (vel.constante) Hartzell tripa (vel.constante) 1.200 kg 930 kg 1.700 kg 1.338 kg 11 m 8.8 m 8.6 m 8m 3m 2.7 m 17.2 m2 13.7 m2 342 l 292 l 100 kg/m2 98 kg/m2 5.7 kg/hp 4.5 kg/hp 311 km/h 300 km/h 241 km/h - 285 km/h 259.3 km/h 111 km/h/ com 60o flape 114.8 km/h / liso 1050 pés/minuto - MSL 1500 pés/minuto 5.000 m 5.840 m 1.500 km 1.361 km 650 m - 760 m 509 m potência) Velocidade de Estol Razão de subida Teto de serviço Alcance máximo Distância de decolagem (15m) Distância de pouso (15m) Fonte: Adaptado pelo autor de Gaines (1998) e Almeida (2003). 166 6.2 Lasta 95 (Servia e Montenegro) Este avião é fruto da necessidade por vetores de treinamento na força aérea da antiga Iugoslávia, nos anos 1980. O primeiro Lasta fez seu voo inaugural em 1985. Embargos, problemas políticos e até o bombardeio da fabrica Utva Aicraft Industry, fizeram com que o projeto fosse descontinuado. O primeiro protótipo foi perdido em um acidente e a produção de um lote piloto de seis aeronaves ficou totalmente destruída em um bombardeio da NATO à antiga Iugoslávia (FLIGHT INTERNATIONAL, 13-19 abril de 2004). O projeto foi retomado no início dos anos 2000, sendo rebatizado de Lasta 3, que fez seu primeiro voo como Lasta 3 em 5 de fevereiro de 2009, na base aérea de Batajnica. A Servia tem a intenção de comprar quinze (15) aeronaves. O Iraque já encomendou vinte (20) exemplares na versão armada com a opção de mais quinze (15). A versão armada pode transportar armamentos leves como, casulo de foguetes e metralhadora de 12.7 mm. A escolha desse modelo pelo autor tem semelhança nas características apontadas no exemplar analisado no item 6.1 neste trabalho. As linhas aerodinâmicas limpas e o desenho agressivo, somado a uma estrutura semi-monocasco de construção leve e simples (ligas de alumínio), são fatores positivos. Porém a dimensão o peso e a motorização são próximas ao candidato anterior (Enaer T-35), assim sendo, o consumo e a configuração de cabine estão fora dos requisitos apontados por esta pesquisa. O peso Máximo é um pouco menor do que o dos T-25 (1.700 kg), todavia, superior ao peso do T-35 (1.340 kg), ficando na casa dos 1.630 kg. Além das fotos do primeiro voo e das três vistas, não há muitos dados divulgados (Tabela 24), para se poder comparar o envelope de voo com o T-25, no entanto, o Lasta 95 não é tão leve se comparado a aeronaves utilizadas para o monitoramento em voo na 167 USAF e, em outras forças aéreas, o que somado ao consumo inviabilizaria sua aquisição. Figura 69 – Desenho em três vistas do avião de treinamento Lasta 95. 168 Tabela 24 – Dados das aeronaves Neiva T-25C Universal e Utva Lasta 95. Aeronave Motor Hélice Peso vazio Peso máximo de decolagem Envergadura Comprimento Altura Superfície alar Capacidade de combustível Carga alar Carga de potência Velocidade máxima Velocidade de Cruzeiro (55%) Velocidade de Cruzeiro (75% de Neiva T-25-C Universal Utva Lasta 95 Lycoming IO-540 K1D5 de 300hp Lycoming IO-540 z1B5D de 300hp Hartzell bipá (vel.constante) Hofman tripa HO-V-123-K-V 1.200 kg 1.060 kg 1.700 kg 1.630 kg 11 m 9.7 m 8.6 m 7.9 m 3m 3.2 m 17.2 m2 12.9 m2 342 l - 100 kg/m2 126 kg/m2 5.7 kg/hp 5.4 kg/hp 311 km/h 345 km/h 241 km/h 333.4 km/h 285 km/h - 111 km/h/ com 60o flape 114.8 km/h / liso 1.050 pés/minuto – MSL 1.770 pés/minuto 5.000 m 5.200 m 1.500 km - 650 m - 760 m - potência) Velocidade de Estol Razão de subida Teto de serviço Alcance máximo Distância de decolagem (15m) Distância de pouso (15m) 169 6.3 AIEP Air Bettle (Vans RV-6A - USA). A empresa nigeriana AIEP-Aeronautical Industrial Engineering and Project Mangement Company Ltd, foi criada em 1979 e teve parceria técnica com a empresa alemã Dornier Luftfahrt no programa do Air Bettle. O Air Bettle foi baseado no Vans RV-6A com grandes modificações, trata-se de um monomotor metálico de asa baixa e disposição de assentos lado a lado. Seu projeto teve a função de criar uma aeronave para substituir os antigos aviões de treinamento (British Aerospace Bulldog) da Força Aérea da Nigeria. A construção dos três protótipos começou em 1988, terminando em outubro de 1991. No total os protótipos voaram 1.750 horas até o fim do ano de 1993. O Air Bettle é disponível em três versões: T-16- versão com motor de 160hp (versão planejada); T-18 – versão padrão em produção utilizando motor de 180hp para operações de treinamento padrão; T-20 – versão com desempenho melhorado, usando para isso um motor de 200hp de potência. Este avião foi escolhido como possível candidato, porque foi um caso bem sucedido do uso de uma plataforma de projeto já consagrada na aviação de construção amadora, o RV-6A é um avião experimental com muita aceitação nos Estados Unidos e Canadá, pode ser comprado em forma de kit e tem um valor unitário bem baixo. Seu desenho estrutural e método de fabricação requerem, ferramentas básicas e pode ser montado por leigos. A configuração de assentos e a ampla cabine com excelente visibilidade são atributos positivos. Este seria considerado pelo autor como um possível avião para o programa de monitoramento em voo. 170 Abaixo, pode-se conferir as características em comparação às do T-25, notar as características de desempenho (evidenciadas pela cor cinza), com um motor mais econômico, utilizando aeronave mais leve. (Tabela 25). Figura 70 – Desenho em três vistas do avião de treinamento AIEP Air Beetle. 171 Tabela 25 – Dados das aeronaves Neiva T-25C Universal e AIEP T-18 Air Beetle. Aeronave Motor Hélice Peso vazio Peso máximo de decolagem Envergadura Comprimento Altura Superfície alar Capacidade de combustível Carga alar Carga de potência Velocidade máxima Velocidade de Cruzeiro (55%) Velocidade de Cruzeiro (75% de Neiva T-25-C Universal AIEP – T-18 Air Beetle Lycoming IO-540 K1D5 de 300hp Lycoming IO-360 A-1-A de 180hp Hartzell bipá (vel.constante) Hartzell HC-M2YR-1BF bipá ( vel. Constante) 1.200 kg 499 kg 1.700 kg 839 kg 11 m 7.1 m 8.6 m 6.2 m 3m 2.3 m 17.2 m2 10.2 m2 342 l 140 l 100 kg/m2 82.3 kg/m2 5.7 kg/hp 4.7 kg/hp 311 km/h 278 km/h 241 km/h 287 km/h (3.050m) 285 km/h 250 km/h 111 km/h/ com 60o flape 93 km/h / flape 1.050 pés/minuto – MSL 2.000 pés/minuto 5.000 m 6.100 m 1.500 km 973 km 650 m 225 m 760 m 300 m potência) Velocidade de Estol Razão de subida Teto de serviço Alcance máximo Distância de decolagem (15m) Distância de pouso (15m) 172 6.4 Novaer Craft - TX-C – Peregrino (Brasil) Em estágio inicial de desenvolvimento, esta aeronave é por enquanto a única possibilidade de produto nacional, para a substituição dos T-25. Em visita por ocasião da pesquisa, o autor pôde ver que boa parte dos instrutores da AFA conhece o projeto. A empresa presenteou inclusive, o segundo esquadrão, com uma maquete em escala reduzida do Peregrino. A empresa Novaer Craft, foi formada pela associação entre a Geômetra BTE (Bureau de Tecnologia e Engenharia Ltda.), a Winstal e a Flight Technologies, que muito embora pareçam estrangeiras pelos nomes são todas nacionais (REVISTA FORÇA AÉREA, n. 59, agosto/setembro 2009, p.78). A empresa Geômetra é especializada em projeto e certificação de estruturas aeronáuticas; a Winstall fabrica peças metálicas estampadas e usinadas; e a Flight Technologies é pioneira no desenvolvimento de aviônica embarcada e sistemas de controle de voo para aeronaves tripuladas e não tripuladas (VANT). O projeto foi apresentado no salão internacional de Paris em 15 de junho de 2009 e tem uma expectativa de uma centena de pedidos em âmbito nacional e cinco vezes mais se forem considerados os pedidos do mercado internacional. A concepção e o projeto estão a cargo de Joseph Kovács, o mesmo projetista de sucessos da indústria brasileira como o Embraer 312 (AT-27 Tucano), o Neiva Regente e o próprio T-25 Universal, de fabricação também da Neiva. No artigo da revista força aérea (número 59), a matéria faz uma apresentação do projeto, tratando o TX-C como um projeto derivado do K-51, o quinquagésimo primeiro projeto do projetista Kovács, porém, as aeronaves apresentam portes e valores de desempenho muito diferentes e, portanto, devem ser entendidos como primos distantes. Essa crítica é porque a revista faz um ensaio da aeronave K-51, como que predizendo as características do TX-C, o que é inadmissível. 173 Como substituto para o T-25, o Peregrino (nome dado ao TX-C), reúne as características ideais para força aérea brasileira, muitas delas, citadas nesta pesquisa, todavia se continuará gastando muito com uma aeronave de 300hp com peso na casa dos 1.200 kg, 400 kg mais pesado do que aeronaves de treinamento acrobáticas civis, homologadas, segundo os mesmos requisitos FAR 23, por exemplo. Aeronaves estas, que poderiam ser utilizadas no programa de monitoramento em voo. O TX-C foi totalmente projetado para ser construído em fibra de carbono, por isso, a designação C apresenta configuração de assentos lado a lado, aviônica de última geração e fabricação nacional, sendo composta por três monitores de LCD posicionados um a frente de cada tripulante e um centralizado, servindo como informações de parâmetros de motor, bem como dados de navegação. A presença de um para-quedas balístico é um fator inovador para esta força aérea e, sem duvida, é um aspecto positivo para este concorrente. A motorização é suprida por um motor Lycoming IO-540 de 300hp e terá capacidade FLEX, podendo ser abastecido com AVGAS e etanol, o que, com certeza, seria interessantíssimo. É claro, se houvesse uma política de preço especial para o fornecimento de etanol para a FAB. Há uma solução que traria o TX-C mais para esta realidade, que seria uma versão apresentada pela empresa Novaer Craft, destinada aos aeroclubes e proprietários civis, que seria equipada com motor de 180hp, o que poderia trazer desvantagens no desempenho, entretanto, vantagens econômicas. A expectativa é de que após a assinatura do contrato, a certificação possa ocorrer trinta meses depois. Além da versão com motorização menor, a empresa ainda terá uma versão utilitária com quatro lugares e o mesmo motor de 300hp, chamado de UX-C Stardream, que terá pressurização e versão com motor turbo, garantindo altas velocidades de cruzeiro em altitudes acima dos 20.000 pés. 174 A tabela 26, abaixo, conflita alguns dados do TX-C com os dados do T-25. Figura 71 – Desenho em três vistas do avião de treinamento Novaer Craft – TX-C. Fonte: Revista Força Aérea, n.59, agosto/setembro de 2009. 175 Tabela 26 - Dados das aeronaves Neiva T-25C Universal e Novaer Craft PX-C. Aeronave Motor Hélice Peso vazio Peso máximo de decolagem Envergadura Comprimento Altura Superfície alar Capacidade de combustível Carga alar Carga de potência Velocidade máxima Velocidade de Cruzeiro (55%) Velocidade de Cruzeiro (75% de Neiva T-25-C Universal Novaer Craft PX-C Peregrino Lycoming IO-540 K1D5 de 300hp Lycoming AEIO-540 de 300hp Hartzell bipá (vel.constante) Metálica tripa 1.200 kg 810 kg 1.700 kg 1.140 kg 11 m 9.2 m 8.6 m - 3m - 17.2 m2 - 342 l 257 l 100 kg/m2 kg/m2 5.7 kg/hp 3.8 kg/hp 311 km/h 376 km/h 241 km/h - 285 km/h 333.4 km/h 111 km/h/ com 60o flape 102 km/h / liso 1.050 pés/minuto - MSL 2.665 pés/minuto - MSL 5.000 m - 1.500 km 1.443 km 650 m 227 m 760 m - potência) Velocidade de Estol Razão de subida Teto de serviço Alcance máximo Distância de decolagem (15m) Distância de pouso (15m) 176 6.5 Diamond Aircraft – DA20 (USA) Aeronave de treinamento canadense, derivada a partir do motoplanador HK36R, trata-se de um monomotor de asa baixa, com assentos lado a lado e construção totalmente em materiais compósitos. O primeiro modelo foi batizado de DA20 Katana e foi produzido no Canadá, em 1994. O DA20-A1 e C1 são ambos certificados pela CAR 523 canadense e FAR 23 nos Estados Unidos. Embora o DA20 venha com instrumentos e aviõnicos para voo por instrumentos, em função de sua fuselagem em material compósito, não tem proteção contra raios, desta forma, não é certificado para IFR. Há versões diferentes do DA20, como, por exemplo, o Evolution, que é um produto mais simples (baixo custo), desenvolvido como treinador para escolas de instrução civil, utiliza um motor Continental IO-240B de 125hp. Entretanto, talvez a versão mais famosa seja o Falcon, que foi a variante desenvolvida para ser o avião de treinamento inicial de voo da USAF. Inicialmente, operados pela Universidade Embry Riddle, terceirizada da Força aérea até 2007, e hoje pela DOSS Aviation, no programa IFS (Introductory flight Screening). Foram quarenta e duas aeronaves encomendadas pela Doss Aviation. A aeronave teve boa aceitação no programa norte-americano e tem um valor baixo de aquisição de US$ 184, 980, o que a torna uma das possíveis aquisições para a FAB. O fato de ser a aeronave atual do programa americano, também a torna atraente. Em questão de desempenho, pode-se acompanhar na Tabela 27 que o Diamond DA20 não supera o T-25 em muitos aspectos, porém, é no custo de manutenção e operação que a vantagem seria mais notória. A motorização menos potente aliada ao baixo peso fazem diferença no consumo. Um fator positivo é a capacidade acrobática, a simplicidade dos sistemas e a grande razão de planeio que chega a 177 14:1, muito maior do que a das aeronaves de mesma categoria que são em média de 7:1. Figura 72 – Desenho em três vistas do avião de treinamento Diamond DA20. 178 Tabela 27 – Dados das aeronaves Neiva T-25C Universal e Diamond DA20 C-1 Falcon. Aeronave Motor Hélice Peso vazio Peso máximo de decolagem Envergadura Comprimento Altura Superfície alar Capacidade de combustível Carga alar Carga de potência Velocidade máxima Velocidade de Cruzeiro (55%) Velocidade de Cruzeiro (75% de Neiva T-25-C Universal Diamond DA20 C1 Lycoming IO-540 K1D5 de 300hp Continental IO-240 B de 125hp Hartzell bipá (vel.constante) Hoffman Sensenich bipá ( vel. Constante) 1.200 kg 529 kg 1.700 kg 800 kg 11 m 10.87 m 8.6 m 7.16 m 3m 2.2 m 17.2 m2 11.61 m2 342 l - 100 kg/m2 68.9 kg/m2 5.7 kg/hp 6.4 kg/hp 311 km/h 304 km/h 241 km/h 256 km/h (3.050m) 285 km/h - 111 km/h/ com 60o flape 78 km/h / flape 1.050 pés/minuto - MSL 1.000 pés/minuto 5.000 m 4.000 m 1.500 km 1.013 km 650 m - 760 m - potência) Velocidade de Estol Razão de subida Teto de serviço Alcance máximo Distância de decolagem (15m) Distância de pouso (15m) 179 6.6 Aeromot – AMT-600 Guri (Brasil). Este último avião analisado é solução brasileira para a falta de aeronaves de treinamento para os aeroclubes nacionais. Também desenvolvido a partir de um motoplanador, o Guri é filho do AMT-200 Ximango. Segundo a reportagem editada no número 105 da revista Avião Revue (junho 2008), de autoria de Décio Corrêa, o AMT-600 tem pouca potência e apontou também várias reclamações de instrutores e alunos com relação ao trem de pouso do nariz, que é de difícil controle mesmo para uma aeronave triciclo. Este fato requer duas horas de prática para o aprendizado e bom manejo. Como fatores positivos, Corrêa destaca fácil decolagem e limpeza aerodinâmica, o que proporciona um ganho em relação a arrastos de toda a espécie. A manobrabilidade, harmonia de comandos, espaço interno e cinto de cinco pontos foram itens bem avaliados. Apesar de ter apenas 116hp, a aeronave se comporta bem em subida, sendo dócil aos comandos. Acredita-se que se fosse feita uma revisão em algumas partes do projeto, começando com a instalação de um grupo motopropulsor maior com talvez 150 ou 160hp, além de uma revisão estrutural e do sistema de roda louca 15 do nariz, este seria o concorrente nacional para o programa de monitoramento em voo brasileiro. Figura 73 – Desenho em três vistas do avião de treinamento amt-600 Guri. 15 Roda Louca – Sistema que utiliza na roda do nariz da aeronave um ângulo no garfo, chamado CASTER. Esta mesma forma pode ser observada nos rodízios dos carrinhos de supermercado. Este ângulo tem a função de defasar o eixo da roda do ponto de apóio na aeronave, criando um momento, responsável pelo alinhamento da roda com a trajetória executada. 180 Tabela 28 – Dados das aeronaves Neiva T-25C Universal e Aeromot AMT-600 Guri. Aeronave Motor Hélice Peso vazio Peso máximo de decolagem Envergadura Comprimento Altura Superfície alar Capacidade de combustível Carga alar Carga de potência Velocidade máxima Velocidade de Cruzeiro (55%) Velocidade de Cruzeiro (75% de Neiva T-25-C Universal Aeromot AMT 600 “Guri” Lycoming IO-540 K1D5 de 300hp Lycoming IO-235 de 116hp Hartzell bipá (vel.constante) Sensenich bipá ( vel. Constante) 1.200 kg 675 kg 1.700 kg 900 kg 11 m 10.50 m 8.6 m 8.20 m 3m 2.51 m 17.2 m2 11.61 m2 342 l 90 l 100 kg/m2 kg/m2 5.7 kg/hp 7.8 kg/hp 311 km/h 222 km/h 241 km/h - 285 km/h 150 km/h 111 km/h/ com 60o flape 92 km/h / flape 1.050 pés/minuto - MSL 500 pés/minuto 5.000 m 3.660 m 1.500 km 540 km 650 m - 760 m - potência) Velocidade de Estol Razão de subida Teto de serviço Alcance máximo Distância de decolagem (15m) Distância de pouso (15m) 181 7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS A Tese aqui apresentada mostrou a possível interface no papel do designer industrial para o processo de projeto aeronáutico, participando do planejamento de um produto e estabelecendo os requisitos funcionais e operacionais. Muito embora com o passar do tempo no desenvolvimento de um projeto, os problemas tornem-se cada vez mais específicos, é, na fase inicial, em questões mais amplas e com condições de contorno pouco definidas, em que a contribuição do designer industrial pode trazer mais enriquecimento para o projeto. Seu modo de pensar apesar de analítico é pouco linear, o que facilita o surgimento de ideias criativas no processo de concepção do conceito. Para o autor, a pesquisa foi a oportunidade de aprofundar seu conhecimento sobre o processo da instrução, do qual participou como aluno e que se utilizando dessa oportunidade, pode ver que algumas de suas indagações, na época do curso de pilotagem, eram procedentes. Essas questões envolviam problemas com as características das próprias aeronaves e também com a falta de padronização no currículo de instrução, patente, quando se voava com vários instrutores em um curto espaço de tempo. Estes sinais foram apontados também nos trabalhos de Hays (2002) e Hussey (2004). A abordagem da Engenharia de Sistemas esteve presente em todo o processo de pesquisa, pois, a instrução de voo é um sistema dependente de três elementos principais: Homem, Máquina e Método. A análise, formulação do problema e a decisão por escolha de uma cabível solução demonstram também que a abordagem sistemática esteve presente no trabalho. Foi muito interessante acompanhar a história do processo de treinamento norteamericano desde os primórdios até a atualidade, já que foi muito vasta a documentação encontrada nessa área em específico. 182 As bibliografias eram muito transparentes com relação às falhas e à busca por melhorar todo o processo, que teve, e ainda hoje tem, seu ponto focal na diminuição do número de atrito e, colateralmente, no corte de gastos e na melhoria da qualidade. E se, por um lado, a abundância de material estrangeiro ajudou a compreensão e abordagem de várias questões de maneira certeira, a falta de relatos nacionais também acabou ajudando por assim dizer, pois motivou a busca por opiniões e conhecimentos diretamente com os profissionais envolvidos na instrução (pesquisa de campo). Talvez, se houvesse grande quantidade de bibliografia nacional, o autor teria ficado mais envolvido com a análise dos muitos dados, hipoteticamente, encontrados, o que resultaria em uma análise apenas documental. Com o capítulo três, pôde-se apresentar a atual fragilidade não só dos meios de instrução militar da Força Aérea Brasileira, como também, a presente situação dos aeroclubes, que por serem entidades autônomas, acabam por terem saídas menos burocráticas como ainda mais práticas e pontuais, mitigando, assim, os problemas mais emergentes. Os aeroclubes atualmente estão importando aeronaves de segunda mão e reformando-as para utilizar na instrução. É clara a necessidade de mudança no sistema de instrução, tanto quanto na compra de novos vetores de treinamento. O processo deverá ser adequado às aeronaves que estão entrando no inventário da FAB, além da otimização dos recursos gastos na manutenção e operação desses novos aviões. Segundo os trabalhos de Michael Hays e Ann Hussey, é clara a relação entre um programa de introdução ou monitoramento em voo e a queda no número de atrito. Observando que o uso de aeronaves mais pesadas e, consequentemente, mais inertes e com baixo desempenho, causam problemas inclusive de motivação como apontado nestes mesmos estudos, torna-se clara a necessidade do uso de uma plataforma inicial para as primeiras 40 horas, no mínimo, de um avião leve, ou mesmo um ultraleve avançado com capacidade acrobática. 183 A pesquisa com os instrutores pôde clarificar a legitimação das crenças, trazendo embasamento cruzado com informações colhidas nos trabalhos estrangeiros, de que, realmente, a solução para o problema: “QUAL AERONAVE SUBSTITUIRÁ OS T-25?” Passa por outros tantos pontos ainda sem respostas: Melhor seleção do candidato; Preparação teórica do aluno; Disposição para o voo; Desgaste físico e mental dos instrutores e alunos; Diminuição do atrito na fase primária de 30 para 15% (2o EIA); Doutrina de voo; Apoio familiar, entre outros. O tratamento mais holístico, deste estudo, fez clara a visualização de que o problema deve ser conduzido de maneira sistêmica realmente. No entanto, a pesquisa também apontou que mesmo com os problemas do método e do homem, durante o treinamento, é de caráter, mais imediato, realizarem-se estudos com as possíveis soluções a curto e médio prazo, simulando cenários extremos de corte de verba do ministério da defesa e o possível aumento na demanda de pilotos em decorrência do apoio a missões militares humanitárias ou programas de intensificação da presença militar nas extensas fronteiras (Amazônia) e regiões costeiras. Esta intensificação da soberania do Estado, neste território, é impulsionada por políticas governamentais de exploração de recursos naturais (pré-sal) ou mesmo coibição de voos ilegais caracterizados por narcotráfico e contrabando. O capítulo sobre a filosofia da solução mínima teve a função de não se deixar esquecer de que existe uma meta maior, no projeto de aeronaves, que é a da economia, principalmente se contemporizarem o conceito, para esta época, de preocupações com baixo impacto ambiental e racionalização do uso de recursos naturais não renováveis. 184 A figura de Joseph Kovács foi muito citada e deverá ser sempre lembrada como exemplo de que paixão e conhecimento conjugados são as sementes de um trabalho de ótima qualidade e, por conseguinte, excelentes aeronaves. Quanto ao sonho deste autor, de se consolidar o currículo de treinamento primário e básico civil e militar, não encontrou respaldo, ao menos na visão dos instrutores militares que, quase em sua totalidade, foram contra por considerarem a atividade de voo militar e civil distintas em suas necessidades. Um estudo muito bem vindo seria o estabelecimento de uma comissão mista de instrutores civis e militares para análise desta matéria, o ganho seria enorme. A análise da situação dos T-25 leva a crer que sua vida operacional está terminada por diversos fatores, entre os mais destacados: Baixo desempenho; Alto custo operacional; Aviônica ultrapassada; Falta de peças e suprimentos; Problemas com montagem de berços de motor e carenagens. A análise das aeronaves disponíveis no mercado nacional e internacional não teve o caráter de definir qual é o substituto, mas apenas demonstrar que há saídas e que, por serem de alguma forma diferentes em vários aspectos, é preciso se definir o que se deseja para esse avião. Requisitos estes apresentados na conclusão da pesquisa com os instrutores brasileiros em comparação com a pesquisa feita nos EUA, em 1990, pela Doss Aviation (vide p. 61). Nas tabelas comparativas das seis aeronaves, procuraram-se evidenciar os ganhos com desempenho, dimensões e pesos, principalmente: Velocidade de cruzeiro; Razão de subida; Baixo peso e carga alar; Autonomia. 185 Estas características foram apontadas pelos instrutores na pesquisa. Das seis aeronaves pesquisadas, este estudo apresentou quatro como realmente potenciais candidatos a substitutos do T-25C. Contudo, deve-se esclarecer de que a mudança proposta neste trabalho teria duas etapas, a saber: 1. Inclusão de um programa de introdução ou monitoramento em voo, utilizando-se aeronaves leves ou ultraleves avançados (programa com 20 ou 40 horas de voo respectivamente). 2. Compra do substituto dos T-25, em menor número, em virtude do uso das novas aeronaves leves, que supririam a instrução na fase inicial do programa no 2o Esquadrão de Instrução. O currículo teria 40 horas iniciais nos aviões leves e 20 finais no novo TX, repassando manobras acrobáticas e voo de formatura na nova aeronave. As seis aeronaves analisadas foram: 1. Enaer T-35 C Pillan; 2. Lasta 95; 3. AIEP Air Bettle; 4. Novaer Craft PX-C “Peregrino”; 5. Diamond D-20; 6. Aeromot AMT-600 “Guri”. Desses seis, os números 1 e 2 não foram indicados porque possuem desempenho e dimensões muito similares ao atual “Universal”, gastam quase a mesma quantidade de combustível, ambos também têm disposição dos assentos em tandem, o que está fora das especificações levantadas na pesquisa para a instrução primária. O T-35 Pillan é interessante como forma de trabalho de projeto de aproveitamento de plataforma já existente. Um caso que deve ser analisado seguramente pela comissão de estudos para a compra do TX da FAB. 186 O Peregrino poderia ser uma solução, comprada em menor número, mas somente se fosse implantado o sistema de monitoramento em voo. Tem desempenho melhorado em relação ao T-25 e é nacional, o que é importante. O quarto dos concorrentes – Air Bettle – é uma solução muito barata e fácil de ser implantado para a indústria, poderia ser fabricado aqui e garantiria eficazmente a implantação do programa de introdução ou monitoramento em voo. O Diamond D-20 é um tiro certo, com credenciais inegáveis, pois é o escolhido da USAF há quase uma década, com êxitos na redução do atrito e baixo índice de acidentes, porém não é nacional, o que é um ponto negativo para este autor. E, finalmente, o “Guri”, pode ser uma solução, todavia necessitaria de um pente fino em muitas características para ser homologado como acrobático e seguro para a instrução militar. Dessa forma, levando-se em consideração aspectos de desempenho e disponibilidade, foram elaboradas duas tabelas comparativas, sendo a primeira (Tabela 29) relativa a três aeronaves do mesmo porte do T-25, que seriam utilizadas como seu possível sucessor e a segunda (Tabela 30), que relaciona aeronaves leves, possíveis vetores para a implantação de um programa de monitoramento em voo. Os dados analisados foram: Velocidade Máxima Velocidade de Cruzeiro Velocidade de Estol Razão de Subida Disponibilidade Fabricação Nacional Disponibilidade imediata Adotou-se uma pontuação dos itens de 0 a 10, onde a nota 5 representa característica igual a do Neiva T-25 (Tabela 29) ou Cessna 152 (Tabela 30), utilizadas como aeronaves de referência. 187 As notas obedeceram aos seguintes intervalos: 0 ou 10 - valores de 87.6% a 100% superiores ou inferiores aos da aeronave de referência; 1 ou 9 - Valores de 62.6% a 87.5% superiores ou inferiores aos da aeronave de referência; 2 ou 8 - Valores de 37.6% a 62.5% superiores ou inferiores aos da aeronave de referência; 3 ou 7 - Valores de 17,6% a 37.5% superiores ou inferiores aos da aeronave de referência; 4 ou 6 - Valores de 10% a 17.4% superiores ou inferiores aos da aeronave de referência; 5 Valores iguais ou 9.9 % superiores ou inferiores aos da aeronave de referência; Tabela 29 – Tabela comparativa entre aeronaves de instrução Primário/Básico disponíveis no mercado. Tabela comparativa Aeronaves de Instrução Primário/ Básico. Critérios de Seleção Peso Desempenho Vel. Máxima Vel. Cruzeiro Vel. Estol Razão de subida Disponibilidade Fabricação.Nacional Inovação no projeto Pontuação Total Ranquiamento 50 10 10 10 10 30 10 10 Aeronave A Enaer T-35 “Pillan” Ref. T-25 311 241 111 1050 0 10 2 Valor Nota 300 259,3 114,8 1500 10 0 2 5 5 5 8 10 0 2 Aplic. Peso 50 50 50 80 300 0 20 550 2º Aeronave C Novaer Craft PX-C Aeronave B Lasta 95 Valor Nota 345 333 114,8 1770 5 0 2 6 7 5 9 5 0 2 Aplic. Peso 60 70 50 90 150 0 20 440 3º Valor Nota 376 333 102 2665 3 10 8 6 7 5 10 3 10 8 Aplic. Peso 60 70 50 100 90 100 80 550 1º Tabela 30 – Tabela comparativa entre aeronaves leves de instrução disponíveis no mercado. Tabela comparativa Aeronaves de Instrução Leve. Critérios de Seleção Peso Desempenho Vel. Máxima Vel. Cruzeiro Vel. Estol Razão de subida Disponibilidade Fabricação.Nacional Inovação no projeto Pontuação Total Ranquiamento 50 10 10 10 10 30 10 10 Aeronave A AIEP – Air Bettle Vans RV-6A Ref C172 204 198 79 715 Valor Nota 278 250 93 2000 8 0 5 7 7 3 10 8 0 5 Aplic. Peso 70 70 30 100 240 0 50 560 3º Aeronave B Diamond DA-20 Valor Nota 304 256 78 1000 10 0 10 8 7 5 8 10 0 10 Aplic. Peso 80 70 50 80 300 0 100 680 1º Aeronave C Aeromot AMT600 “Guri” Valor Nota 222 150 92 500 9 10 8 5 3 4 3 9 10 8 Aplic. Peso 50 30 40 30 270 100 80 600 2º 188 Conclui-se, assim, pelos diversos fatores apresentados que as aeronaves: Peregrino TX-C e Diamond seriam possíveis soluções para o problema da instrução na Academia da Força Aérea, lembrando que ambas seriam compradas para atuarem como aeronaves seqüenciais no programa de instrução revisado. Dessa forma, dos três objetivos delineados na proposta deste trabalho, todos, sem exceção, foram alcançados, tendo como tese que o atual sistema de instrução nacional militar praticado em a academia da força aérea brasileira apresenta falhas que podem ser corrigidas com o uso de uma nova metodologia chamada de introdução ao voo ou monitoramento em voo, de eficácia comprovada na força aérea dos Estados Unidos da América e que economizaria dinheiro aos cofres públicos, além de poder melhorar as condições da atual frota à disposição dos cadetes da força aérea brasileira e garantir um aumento de qualidade na instrução, preparando esta nação para a entrada na era das cabines digitais e virtuais dos mais modernos meios aéreos como os veículos não tripulados e caças de última geração que serão incorporados em breve à dotação da força. 7.1 Gráfico da Análise Sistêmica do processo de instrução de voo da AFA (Academia da Força Aérea Brasileira) Como a metodologia deste trabalho esteve permeada pela engenharia de sistemas, buscou-se fazer um fluxograma do processo de instrução, para que o leitor pudesse ter uma visão macro do sistema pesquisado, bem como, dos cenários propostos para a mitigação das falhas observadas. O gráfico apresentado abaixo, não esgota de maneira pretensiosa o assunto, apenas organiza, de maneira mais fácil, os dados obtidos tanto por via bibliográfica, quanto os levantamentos em campo. A razão da divisão em duas folhas foi meramente espacial, preservando desta maneira a fácil leitura. Os gráficos são em seqüência. 189 Esta Página foi deixada intencionalmente em branco 190 Homem 3. 4. Operação dosT25 até 2015 Processo de substituição e redação dos requisitos da proposta para a nova ACFT. DEFINIÇÃO DO (s) PROBLEMA(s) O1 - Melhorar acompanhamento para alunos e instrutores O2- Prover infra-estrutura para a ambiente de instrução Máquina 1- Idade das aeronaves 2- Desempenho 3- Aviônica ultrapassada 4- Custo operacional 5- Falta de peças e ferramentas O1 – Substituir os T-25 por ACFT de desempenho superior e baixo custo de aquisição e operação Método 1- Falta de padronização 2- Falta de revisão no sistema 3- Falta do uso de simuladores 4- Seleção falha 5- Sistema semelhante para alunos diferentes ANÁLISE DA SITUAÇÃO DEFINIÇÃO DO (s) PROBLEMA(s) O1 – Rever os métodos com o objetivo de preparar melhor o aluno para a nova geração de aviões e missões. O2 – Reduzir o número de Atrito de 30% para 15 % na fase Primário/ Básica da instrução. PROGRAMA ALVO Formulação dos objetivos Figura 74 – Fluxograma de análise do sistema de instrução da AFA. Fonte: elaborado pelo autor. Desenvolvimento de Alternativas de Solução (Construção de Cenários) 1- Problemas Psicológicos 2- Infra-estrutura 3- Limitações fisiológicas Acompanhamento e avaliação psicológica periódicas do aluno e instrutor Homem Melhoria nas estações de trabalho, instalações operacionais e ambientes de recreação dos profissionais envolvidos. PROGRAMA ALVO Máquina Compra de aeronaves leves Compra do substituto dos T-25 Realização de um estudo que relacione conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias ao aviador militar da F.A.B, no contexto contemporâneo e a atual doutrina e programa de instrução Método Introduzir na matriz de instrução um programa de introdução ao voo, utilizando aeronaves leves, aplicado nas primeiras 20 ou 25 horas de voo. Revisão de todo o sistema de instrução, aplicando os resultados da pesquisa sugerida no quadro acima, na criação de um PIVOR (Programa de Instrução de Voo Revisado Desenvolvimento de Alternativas de Solução (Construção de Cenários) Figura 75 – Fluxograma de análise do sistema de instrução da AFA. Fonte: elaborado pelo autor. 192 7.2 Sugestão para Trabalhos Futuros Dando continuidade a este estudo, o autor irá começar dois trabalhos: o Uma pesquisa nas principais forças aéreas do mundo, para entender outras experiências com relação às atividades de introdução e monitoramento em voo; o Traçar um mapa geral do ciclo de vida das aeronaves de treinamento (civis e militares), em voo na América latina, com vistas a dimensionar o mercado para um treinador primário de fabricação nacional. Apresentação deste trabalho para a Força Aérea Brasileira e para a Flyer – Indústria de ultraleves nacional que, atualmente, é a maior montadora de aeronaves Vans RV-6 (Projeto precursor do Air Bettle) no Brasil. A intenção é tentar fomentar uma parceria ou venda da ideia e sensibilizar os responsáveis. Ter o programa realmente implantado na AFA. 193 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Fernando. O Insuperável: Neiva T-25 Universal. Aero Magazine, São Paulo, ano 9, n. 104, p.14-20, jan.2003. _________. Treinador por excelência. Aero Magazine, São Paulo, ano 9, nº 107, p.18-23 ,abr.2003. ANDERTON, David. A. Gnat Wages Uphill Battle for Acceptance. In: Interavia/ Aeronautical engineering, Aviation Week, London, Oct.-1955. AUSINK, John A. et al. Assessing the impact of future operations on trainer aircraft requirements. Santa Monica, CA: Rand Corporation, 2005, 83p. BAXTER, Mike. Projeto de Produto-Guia prático para o design de novos produtos. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1998. BRAYBROOK, Roy. Entrenadores Militares. Revista aérea, New York, v.123, n.2, p.5-8, abril. 1998. CUTLER, John. Estructuras del avión. Madrid, 1984. DA ROSA, Edison. Projeto aeronáutico – Uma contribuição à competição SAE Aerodesign. Florianópolis: UFSC/GRANTE, 2006. 288p. DE ANDRADE, Donizeti. Introdução ao Projeto Aeronáutico: Notas de aula. São José dos Campos: ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2000. DUPONT. Catálogo do Kevlar®. Wilmington, s.d. ESCHENAUER, A. Germany´s “De Refinement Programme” in retrospect. In: Interavia, Switzerland, v. 7, nº 7, 1952, p 371. FLAP international. Aviação militar na América Latina. ano 45,n. 43. São Paulo: Grupo Editorial Spagat, 2008. FROM short-Life to Pocket size aircraft. Interavia, Switzerland, v.X, n.3, 1955. GAINES, Mike. Pillan: Enaer´s little devil: Flight International, October 8, 1988. GALLOIS, Pierre. The west turns out its pockets. Interavia, Switzerland, v. 7, n. 7, p. 364 a 370. 1952. HAYS, Michael D. The Training of Military Pilots Men, Machines and Methods. School of Advanced Airpower Studies: Maxwell-Alabama, 2002, 59p. HEINEMANN, Edward Henry. Design of Lightweight, Simplified Combat Aircraft. In: Interavia, v. 10, nº 3, 1955, p. 172 a 178. 194 HEINKEL, Ernst. Gênesis of the HE 162 “Volksjäger”. Interavia, Switzerland, v. 7, n.7, p. 372 a 375, 1952. HOLLMANN, Martin. Composite aircraft design. Monterey CA: M. Hollmann, 1983. HUSSEY, Ann Krueger. Air Force Flight Screening: Evolutionary changes, 1917 - 2003. Randolph AFB - Texas: Office of History and Air Education and Training Command (USAF), 2004. 69p. INTERVIEW with W.E.W. Petter. Interavia, Switzerland, v. 10, nº 3, 1955, p. 179 e 180. KALAY, Yehuda E. The impact of information technology on design methods, products and practices. Design Studies Vol. 27 No.3. University os California, Berkley -Department of Architecture, 2006. KATSANOS, Anastácio. Qual a geração de um caça. Revista Força Aérea, Rio de Janeiro ano 13, n. 52, xxxxx2008. KLOTZEL, Ernesto. O avião que deu asas ao Brasil. In: Aeromagazine. ano 13, n. 150, 2006. KOVÁCS, Joseph. Filosofia de projeto: Um roteiro para desenvolvimento de aeronaves. São José dos Campos: CTA. Centro Técnico Aeroespacial, 1986. _______. Análise de aviões treinadores-treinamento de pilotagem. São José dos Campos: CTA - Centro Técnico Aeroespacial/ IAE – Divisão de ensaios em voo, 1996. LASEAU, Paul. Graphic problem solving for architects and designers. New York: Van Nostrand, 1986. LEÃO, Marcelo Soares. Aerospace design. ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica. São José dos Campos. S.d. LIASCH Filho, Jonas. Aero Boero: Um avião polêmico – variedades e mitos sobre o treinador-padrão dos aeroclubes brasileiros. Aviação em revista, no 679, Disponível em: http://www.aviacaoemrevista.com.br/news_atual_2.htm. Acesso em 28 jul-2008. MORAN, Shane. A Brief History of the Cadet Airmanship Programs at the United States Air Force Academy. Office of History and Air Education and Training Command (USAF), 2004. 69p. MESKO, Jim. OV-10 Bronco. In Action. Carrolton, TX: Squadron Signal publications, Inc, 1995. NO ninho do Tucano. Aero Magazine, ano 5, nº 57, fev-1998. 195 OLIVEIRA, Marcelo S. Estudo de compósitos poliméricos e polímeros expandidos na absorção de impacto em capacetes aeronáuticos. 1998. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Materiais)-Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 1998. PAHL, Gerhard et al. Projeto na engenharia: Fundamentos do desenvolvimento eficaz, métodos e alicações. São Paulo: Edgard Blücher, 2005. PEREIRA, Roberto. Enciclopédia de aviões brasileiros. São Paulo: Globo, 1997. RAYMER, Daniel. Aircraft Design: A conceptual approach. Washington D.C: AIAAAmerican Institute of Aeronautics and Astronautics, 1992. ______. Aircraft Design Engineering Insights. Los Angeles: Conceptual research corporation, 2002. SAINTIVE, Newton Soler. Teoria de voo – Introdução à aerodinâmica. São Paulo: Asa, 1998. SLOAN, Jeff. When design and engineering meet. Composites technology, Cincinnati, v.13, n.2, april.2007. STINTON, Darrol. The Design of the aeroplane. London: Blackwell Science, 1983. ULRICH, karl, EPPINGER, Steven D. Product Design and Development. New York: McGraw Hill, 2008. VINCENTI, Valter. What engineers know and how they know it: Analytical studies from aeronautical history. London: John Hopkings University, 1990. VUCMIRIVICK, Dejan; KULUNDZIÇ, Dragon. Balcan trainer revived to answer serbian shortfall. Flight International – 13-19 April 2004. 196 APÊNDICE A – Questionários da pesquisa com instrutores e Sargentos especialistas em manutenção da Academia da Força Aérea Brasileira. QUESTIONÁRIO P-1 (Instrutores 2º EIA) Patente: _____________ Turma da AFA: _____________ No de horas totais de vôo: _______________________ Número de horas de vôo como instrutor: _____________ 1- A qual aviação pertence? (Ataque Caça Transporte, Patrulha, Asa Rotativa). 2- Quais aeronaves de treinamento foram empregadas em sua formação na AFA?(seguindo a ordem: instrução primário-básica e avançada). 3- Cite ao menos um aspecto positivo e um negativo destas aeronaves. 4- Quais as aeronaves de treinamento primário/básico o senhor já voou como piloto em comando? 5- O senhor acredita que o vetor de treinamento tem influência na qualidade da instrução e no nível do piloto formado? 6- O senhor tem conhecimento de algum sistema de instrução estrangeiro?Qual? 7- O senhor está familiarizado com o JSUPT-Joint Specialized Undergraduate Pilot Training da USAF ou com o ISD (Instructional Systems Development)? 8- O senhor já ouviu falar em “Flight Screeening”? 9- Considerando apenas a fase primário-básica da instrução de voo, o senhor acredita na unificação nos currículos civil e milita, tendo em vista a economia e a melhoria no desempenho dos alunos? Se a resposta for negativa, por favor, justifique. 197 10- Tendo em vista a mudança da tecnologia embarcada nas aeronaves operacionais nestas últimas décadas, o senhor acha o T-25 uma aeronave adequada para a instrução nos próximos 10 anos? Por quê? 11- Quais são os pontos que o senhor modificaria, e que em seu julgamento tornariam o T-25 Universal adequado para a tarefa? 12- Qual aeronave mais leve que o senhor já pilotou? 13- Quais os principais problemas, relacionados às características da máquina que os cadetes enfrentam no voo dos T-25? (desempenho, ergonomia, envelope de voo, inadequação do equipamento). 14- O senhor acredita que uma aeronave leve (de baixo consumo), com capacidade “FULL” acrobática, poderia ser utilizada no treinamento primário-básico dos cadetes? Se negativa a resposta: Justifique. 15- O senhor já ouviu falar no PX-C Peregrino, Aeronave de treinamento projetada por Joseph Kovács (projetista do T-25 e T-27), e que está sendo desenvolvida por uma empresa nacional? 16- Se o sistema de instrução for dividido em: Homem, máquina e método, cite três (3) problemas relacionados a cada um dos elementos? 17- Atribua valores de 1 a 5 para o grau de importância de algumas características de uma aeronave de treinamento primário-básica, sendo 1 para pouca importância e 5 para a máxima importância. a. Aeronave de estrutura metálica. ( ) b. Aeronave asa baixa. ( ) 198 c. Disposição dos assentos lado a lado. ( ) d. Disposição dos assentos (1p e 2p) em Tandem. ( ) e. Trem de pouso retrátil. ( ) f. Capacidade de voo IFR. ( ) g. Hélice de passo ajustável. ( ) h. Coluna de comando tipo bastão (stick). ( ) i. Coluna de comando tipo direção (Yoke). ( ) j. Configuração de motorização tratora. ( ) k. Configuração de motorização “Pusher”. ( ) l. Para-quedas balístico. ( ) m. Ar condicionado. ( ) 18- O senhor acredita em um programa de “flight screening” para a nossa força aérea? Por quê? 19- Qual aeronave que o senhor conhece de fabricação nacional ou estrangeira seria um possível substituto para o T-25 em sua opinião e por quê? 20- O que poderia ser feito para reduzir o atrito nas fases iniciais de instrução? Muito Obrigado! OBS: Algo que o senhor gostaria de comentar, e não foi abordado por nenhuma questão... 199 QUESTIONÁRIO P-2 (Comandante do 2º EIA) Patente: _____________ Turma da AFA: _____________ No de horas totais de vôo: _______________________ Número de horas de vôo como instrutor: _____________ Tempo no comando do 1º EIA: _____________ 1. A qual aviação pertence? (Ataque Caça Transporte, Patrulha, Asa Rotativa). 2. Quais aeronaves de treinamento foram empregadas em sua formação na AFA?(seguindo a ordem: instrução primário-básica e avançada). 3. Cite ao menos um aspecto positivo e um negativo destas aeronaves. 4. Quais as aeronaves de treinamento primário/básico o senhor já voou como piloto em comando? 5. Quantos instrutores o senhor tem sob seu comando? 6. Do que os instrutores mais se queixam com relação à: Aeronave de treinamento; Método de instrução; Características dos cadetes. 7. Qual a média do número de atrito nos últimos 2 anos? 8. Quais os principais problemas relacionados aos desligamentos, se possível listar em ordem crescente de influência? 9. O senhor acredita que o vetor de treinamento tem influência na qualidade da instrução e no nível do piloto formado? 200 10. O senhor tem conhecimento de algum sistema de instrução estrangeiro?Qual? 11. O senhor está familiarizado com o JSUPT-Joint Specialized Undergraduate Pilot Training da USAF ou com o ISD (Instructional Systems Development)? 12. O que poderia ser feito para reduzir o atrito nas fases iniciais de instrução? 13. O senhor já ouviu falar em “Flight Screeening”? 14. Tendo em vista a mudança da tecnologia embarcada nas aeronaves operacionais nestas últimas décadas, o senhor acha o T-25 uma aeronave adequada para a instrução nos próximos 10 anos? Por quê? 15. Quais são os pontos que o senhor modificaria, e que em seu julgamento tornariam o T-25 Universal adequado para a tarefa? 16. Qual aeronave mais leve que o senhor já pilotou? 17. Quais os principais problemas, relacionados às características da máquina que os cadetes enfrentam no voo dos T-25? (desempenho, ergonomia, envelope de voo, inadequação do equipamento). 18. O senhor acredita que uma aeronave leve (de baixo consumo), com capacidade “FULL” acrobática, poderia ser utilizada no treinamento primário-básico dos cadetes? Se negativa a resposta: Justifique. 19. O senhor já ouviu falar no TX-C Peregrino, Aeronave de treinamento projetada por Joseph Kovács (projetista do T-25 e T-27), e que está sendo desenvolvida por uma empresa nacional? 201 20. Se o sistema de instrução for dividido em: Homem, máquina e método, cite três (3) problemas relacionados a cada um dos elementos? 21. Atribua valores de 1 a 5 para o grau de importância de algumas características de uma aeronave de treinamento primário-básica, sendo 1 para pouca importância e 5 para a máxima importância. Aeronave de estrutura metálica. ( ) Aeronave asa baixa. ( ) Disposição dos assentos lado a lado. ( ) Disposição dos assentos (1p e 2p) em Tandem. ( ) Trem de pouso retrátil. ( ) Capacidade de voo IFR. ( ) Hélice de passo ajustável. ( ) Coluna de comando tipo bastão (stick). ( ) Coluna de comando tipo direção (Yoke). ( ) Configuração de motorização tratora. ( ) Configuração de motorização “ Pusher” ( ) Para-quedas balístico. ( ) Ar condicionado. ( ) 22. O senhor acredita em um programa de “flight screening” para a nossa força aérea? Por quê? 23. Qual aeronave que o senhor conhece de fabricação nacional ou estrangeira seria um possível substituto para o T-25 em sua opinião e por quê? Muito Obrigado! 1. OBS: Algo que o senhor gostaria de comentar, e não foi abordado por nenhuma questão... 202 QUESTIONÁRIO P-3 (Instrutores 1º EIA) Patente: _____________ Turma da AFA: _____________ No de horas totais de vôo: _______________________ Número de horas de vôo como instrutor: _____________ 1- A qual aviação pertence? (Ataque Caça Transporte, Patrulha, Asa Rotativa). 2- Quais aeronaves de treinamento foram empregadas em sua formação na AFA?(seguindo a ordem: instrução primário-básica e avançada). 3- Cite ao menos um aspecto positivo e um negativo destas aeronaves. 4- Quais as aeronaves de treinamento primário/básico o senhor já voou como piloto em comando? 5- O senhor acredita que o vetor de treinamento tem influência na qualidade da instrução e no nível do piloto formado? 6- O senhor tem conhecimento de algum sistema de instrução estrangeiro?Qual? 7- O senhor está familiarizado com o JSUPT-Joint Specialized Undergraduate Pilot Training da USAF ou com o ISD (Instructional Systems Development)? 8- O senhor já ouviu falar em “Flight Screeening”? 9- Quais dificuldades os cadetes encontram na transição do T-25 para o T-27? 10- A alguma dificuldade no treinamento operacional do piloto recém formado, que ingressa na aviação de transporte ou patrulha, que seja relacionado à diferença do porte e configuração das aeronaves? 203 11- O senhor acredita que o treinamento na academia poderia ser todo feito baseado nos T-27, desde as primeiras horas? Por quê? 12- Se o sistema de instrução for dividido em: Homem, máquina e método, cite três (3) problemas relacionados a cada um dos elementos? 13- O senhor acha que o T-25 é uma aeronave ideal para a instrução primáriobásica na academia? 14- Qual aeronave que o senhor conhece de fabricação nacional ou estrangeira seria um possível substituto para o T-25 em sua opinião e por quê? 15- O que poderia ser feito para reduzir o atrito na fase avançada da instrução? Muito Obrigado! OBS: Algo que o senhor gostaria de comentar, e não foi abordado por nenhuma questão... 204 QUESTIONÁRIO P-4 (Pessoal de manutenção da AFA) Patente: _____________ Turma da EEAR: _______________________ Tempo de trabalho em manutenção: ___________Anos Especialidade: ______________________ 1- Quais esquadrões e com quais aeronaves o senhor trabalhou em seu tempo de serviço na F.A.B? 2- O senhor conhece estruturas aeronáuticas em material compósito? 3- Quais são os maiores problemas de manutenção que os T-25 apresentam em sua especialidade? 4- Qual a freqüência de ocorrência de reparos em sua especialidade nos T-25? a. Diário ( ) número de ocorrências ( ) b. Semanal ( ) número de ocorrências ( ) c. Mensal ( ) número de ocorrências ( ) d. Anual ( ) número de ocorrências ( ) 5- O senhor está familiarizado com as técnicas de reparo em estruturas feitas em material compósito? 6- O senhor consegue pensar em alguma implicação negativa no caso da adoção de uma aeronave de material compósito, para ser utilizada na instrução antes do T-25? 7- Em sua opinião, quais características de manutenção específicas em sua área de especialização seriam ideais em uma nova aeronave de treinamento? Muito Obrigado! OBS: Algo que o senhor gostaria de comentar, e não foi abordado por nenhuma questão... 205 APÊNDICE B – Entrevista com o Engenheiro Joseph Kovács Entrevista: Joseph Kovacs Quinta Feira 29 de Maio de 2008 Local: Aeroclube de São José dos Campos M: Eu na verdade, eu fiz algumas perguntas até aqui, do que eu achava que era... J: Quando eu tava propondo mais um outro, outro projeto, eu acabei fazendo uma coletânea de trabalhos, de artigos, particularmente de revista americana ou inglês, né! Uns dois livros também, apartir daqui até aqui é só, só, só-ai, ai conta a história... M: Dos projetos que o senhor-É Porque o senhor fala muito no Foland GNAT, no naquele Heinkel, né?Então. J: é, Volksjager. M: Então, eu na verdade, até fiz aqui, até aqui, porque não conhecia o Breguet Taon, Aí eu J: Breguet Ton M:Ai eu fui ver o que que era, qual era o avião, tinha uma entrada de ar diferente, né ? J: Isso,isso. M: Eu na verdade queria, o que que era a minha idéia . J: Espera aí ! Eu tenho não sei se é este, tenho uma tabela que eu juntei um montão de aviões monstruoso. M:A, tem tudo em relação ao DC-3, não era isto ? J: Isto. M: Aí é este ai? J: E aqui têm alguns que já nasceram antes, Gnat, Taon, Douglas A-4, que veio um pouco depois, e, e salamander, bom, Volksjägger, enfim é. M: O senhor acha que a questão da, da solução mínima, já foi resolvida. Hoje como é que o senhor enxerga hoje? Porque eu lembro que uma das coisas que o senhor fala aqui é, é não complicar em termos de sistemas, por exemplo. J: Bom são quatro básicos, condições para fazer um bom desenvolvimento neste sentido, é um, pensa-lo, pensar leve, é buscar tal espiral que serve para subir com uma facilidade e serve para descer com muita dificuldade. 206 M: Acrescentar peso é sempre mais fácil, né ? J: Pois é. Este é um, outro é- deixa ver como é que, como é que eu - Reduzir equipamentos e sistemas ao mínimo operacional, o que vai precisar, não adianta carregar coisas durante anos para precisar... M: Talvez precisar. J: Besteira é. Terceiro, este é sensacional eu acho, terceiro é utilizar um componente com mais de uma função, um componente se for simultâneo ou defasado, tanto faz, tanto faz não, mas mesmo se for é, coincidente a utilização para várias coisas , ainda vale a pena muito, mas isso é tão bem, tão bem mostrado aqui. M: Eu lembro que no Foland , no Foland, o senhor fala , que a própria tampa do trem de pouso já é um “ Speed Brake “ , né ? J: Mais o pior é uma única peça – acho que está por aqui - Aqui se dá para ver – Não, este aqui não tem , deixa eu ver. Utilizar. Tem uma única peça no Foland , forjado, fundido, forjado em fim, mais trabalhoso. M: O resto é só chapa dobrada, não é? Quer dizerTampado e... J: Tudo chapaiada. M:Parece que é uma seção central, não é ? Faz a junção da asa. J: Esta é a peça pó, esta é uma peça cara, uma peça trabalhosa, solicitada mais tempo, mas ele quantas coisas faz. É a ligação asa-fuselagem, ligação trem de pouso, com... M: A estrutura toda. J: A ligação de, de, de canhão, cada canhão daqueles de quatro centímetros,. Depois ligação do trem de pouso também. J:Trem de pouso acaba pendurado nele. M: Quer dizer que ele ancora tudo? J:Bom, já até ali tem quatro, imagina que tivesse uma peça dessa, desse tamanho, desse jeito, desse trabalho é, quatro vezes, não tem, o negócio é impressionante. Pode ser que ele atirando com os dois canhões, dar uma solicitação desgraçada no mesmo tempo, tem é carga de asa tudo.com tudo Isso é uma vantagem tremenda, muitas vezes não coincide, então melhor ainda. M:Se as soluções não coincidirem ? 207 J:Exato. Então na comparação é impressionante se não aproveitar isso, aonde é que vai parar claro que na hora de projetos preliminares, na hora de concepção prática da coisa, precisa pensar nisso como é que .... M: Isso acontece na fase de concepção né? O pessoal acaba não entendendo a importância do projeto preliminar, não é? J: Pois é isso. Já contei os quatro?´ M: Já contou três. J: Três? M: Então foi pensar leve, reduzir os sistemas para nível operacional. J:Somente M: Negócio das peças de várias posições. J: Escolher turbina leve e consumo específico baixo, este é importante também né. M: Mesmo se eu tiver trabalhando com pistão, mesmo se for um motor... Para pistão também vale isso? J: Olha motor convencional, já não tem assim tanta opção, porque ta lá, até por volta de 250 gramas por cavalo hora, e não foge disto, é claro que também pode ter... M: É eu não tinha este dado, vou até anotar. Duzentos e cinqüenta cavalos por? J: Duzentos e cinqüenta gramas por cavalo hora. M: Duzentos e cinqüenta gramas por cavalo hora. J: Mais isso inclusive se for mais ou menos este tamanho, ele. Claro que o motor a explosão tem um corretor, sempre tem um corretor EGT, é você pode manobrar coisas, mas tem que trabalhar com cuidado porque aquece demais, em fim, contudo o motor convencional não tem muito... M: Como fugir né? J: Não tem como fugir, tem que saber operar claro. Este por exemplo, o velho, vovozinho também. M: Heinemann? J: Não é Heinemann não, é um piloto que vivia fazendo vôos malucos, é da Aus... M: Lindenberg ? 208 J: Não consigo lembrar, mas o velho que vivia atravessando com J-3, o oceano e com Piper. M: Era famoso na aviação? J: Era bastante famoso sim, mas já bastante, já morreu já faz tempo. Twin Comanche, vinha de Cape Town até Califórnia pô, passa baixo para aproveitar o “ Ground Effect” da água , um negócio. O velho era um vovozinho, ele tinha uns macetes para fazer estes vôos malucos , quase não tem muito o que fazer, o avião convencional, mas pensando em recordes, por exemplo, ai tem que... M: Tem que igualar, e tem que ir ao extremo né? J: Ai tem que medir a temperatura da entrada de ar, e regular com uma caixa de de ar quente né. Um jeito que seja adequado,ele com EGT que mostra, vai reduzindo, vai aumentando a temperatura de cabeça do cilindro e reduzindo o consumo específico, vai para um ponto máximo, começa a cair a temperatura, é engraçado. Só que ai o motor já ta pedindo água, já ta no limite, já ta começando a ficar áspero. Ai com essas coisas, jogando desta maneira que normalmente para gente mortal ai, não vai até, pega a ligação do cilindro mais quente do EGT, e vai até o máximo e volta um risco. M: Um risquinho certo, um coeficiente de segurança lá. J: Mas para o vovozinho, não bastava isso, tinha que... M: Senão não, não atravessava o Atlântico né? J: De certa forma é, tem também algo a ver, mas operacionalmente, assim normalmente não pensando em vôos excepcional, recorde não sei o que, é... M: Mais para a operação normal né? J: Agora num jato, acho que as coisas são mais esparramadas, é consumo por peso específico. M: Pode ter de tudo né? Pode ter desde um consumo alto até um consumo baixo, quer dizer a turbina faz muita diferença né? J: Sim faz diferença e o pessoal, naturalmente batalha nisso, os fabricantes dos motores, procuram fazer um consumo específico tão baixo quanto possível. Em fim, é mais estes quatro itens que... M: São os itens, eu, eu....Então na verdade... J: Ele está dentro daqueles 4 pontos. M: O conceito de solução mínima pra o senhor é... Utilizar estes quatro fundamentos? 209 J: Isso, levando assim bastante sério claro, e eu não inventei este negócio, simplesmente ia aparecendo e eu abracei, e é claro não vi em nenhum lugar uma tabela daquelas , mostrando a coisa mas... M: Aquela tabela foi de autoria do senhor? J: Isto é meu mesmo e os caras, não sei quantos caras tem ai no meio, acho que não viveram para me agradecer. M: Fazer uma defesa. J: Uma defesa tão é... M: A o Peter do Gnat! J: Ouvi dizer que depois deste rolo de acabar com a indústria Inglesa, ele acabou se recolhendo lá na Suíça, nas montanhas para se dedicar a estudos religiosos. M: Seu Kovacs, sua formação é engenharia Aeronáutica mesmo? J: Industrial, Aeronáutica na Hungria naquela miséria, não tinha luxo de se fazer isso que se tem aqui (referindo-se as riquezas deste nosso Brasil) J:Eu vou achar a cara do Peter, eu analisava, seria um deleite estudar a vida deste cara. M: Eu acho que não tem uma biografia sobre ele, não tem nada sobre ele? J: Devia ter, eu acredito que até tenha, mas ele naquele tempo, brigava com as vacas sagradas na Inglaterra, Sidney Camer, por exemplo. Ele já tinha projetado, por exemplo, o Westland Lysander. M: Eu me lembro do Lysander, motor radial não é? J: Radial, simpático o bicho, eles utilizavam muito para levar gente para as áreas ocupadas, recolhia também pessoas. M: Um avião de ligação e transporte. J: Pousava curto. M: Convencional, com o trem de pouso bem parrudo (forte) na frente. J: Westland Lysander e muitos outros, fabricados pela Westland, o English Electric. M: Que era o antecessor do Lightning II? J: Isso supersônico. O Camberra. M: O Camberra era dele também. 210 J: O Camberra é dele pó... M: Os Estados Unidos usou depois do Vietnã, durante muito tempo, a Argentina e muitos outros países. Uma plataforma com tantas derivações, não é? Avião multiuso desde ataque noturno Até... J: E ainda mais outros aviões. Ele (Peter) tinha uma cara muito engraçada, mas não era moleque. O mais gozado é que tem umas conferências proferidas por ele, por exemplo, no Royal Aeronautical Society, onde se vêem comentários posteriores mostrando os questionamentos e suas respostas. M: Quer dizer que caiam em cima dele? J: Caiam em cima. M: E ele respondia a altura, não é? J: Coisa bacana mesmo depois de qualquer forma, quem trabalhou no lay-out , um avião maciço deste , não é verdade? M: O senhor chegou a ver um GNAT de perto? J: Eu sentei dentro dele pó. É que depois daquela história de acabar com a indústria, a Inglaterra tinha que fazer isto por questões econômicas, mas havia indústrias grandes como, por exemplo, a Gloster, tinha um monte de empresas famosíssimas que iriam disputar para ver quem permaneceria. Depois eles não conseguiram vencer, quer dizer Peter, ele entrou na FOLNAD, não era da FOLAND nunca, mas a Foland não tinha uma personalidade no sentido do desenvolvimento, e para se ter personalidade, tem que ter realizações assim. M: Uma história e tradição não é? J: Ele estava pensando naquela empresa que era magra, sem gordura (enxuta do ponto de vista de pessoal e recursos). Empresas grandes como a EMBRAER, em pensamento custa não sei quanto... Mas o Peter fez um trabalho fabuloso, e tão diferente que a maneira do Inglês, bitolado, não conseguia aceitar o negócio, achavam que alguma coisa estivesse errada. Eles são muito tradicionais. M: Quer dizer ele quebrou todo um paradigma da época? J: Quebrou e quebrou lá, tinha um companheiro Heinemann, que acabou quebrando do outro lado(referindo-se a américa do norte). Mas a Finlândia, um, país pequeno de economia limitada, gostou muito da coisa e comprou e fabricou sob licença. A Finlândia tinha alguns aviões que ela acabou comprando da pré-série e eles os operaram. 211 A Índia também comprou inclusive de fabricação da turbina “ORPHEUS”, inclusive esta turbina nasceu em função da necessidade deste avião (Gnat). E eles fabricaram na Índia dentro das instalações que os próprios ingleses, andaram deixando por lá, na libertação. É claro que a Índia, tinha um padrão seguramente inferior ao dos ingleses, mas eles os fabricaram sob licença, e os chamavam por outro nome é INDUSTAN, não sei o que mais... M: Batizaram de novo? J: Eles adoraram o bicho, eles treinaram bem nele, e das duas ou três guerras com o Paquistão, (eles faziam guerra a torto e direito não é?) eles chamaram o avião de: “Matador de Sabres”, e olhe que ele não tinha hiper-sustentador de bordo de ataque, Slot etc... M: Que os F-86 tinham, não é? J: Tinha, mas o bicho era tão ágil. Eu li tudo o que apareceu a respeito, porque naquele tempo eu convenci inclusive o Coronel Aldo, naquele tempo Coronel e hoje é Brigadeiro reformado, com noventa e tantos anos de idade, e ainda é professor em Stanford. Ele (Cel. Aldo) escreveu para o próprio Peter, olha o correio veio como se fosse um e-mail, e naquele tempo não tinha, não é? Veio rápido porque eles estavam doidos para achar alguém que quisesse continuar a coisa, mas somente na Índia a coisa continuou efetivamente com bastante sucesso, com mão de obra local, inclusive na fabricação da turbina. Eles não tinham a mesma confiabilidade dos ingleses, mas de qualquer forma... M: Usaram bastante o avião. J: Usaram bastante o avião. Então em 1957, não que ano foi à feira internacional em São José dos Campos? M: Acho que foi em 1973. J: Acho que 1974, eles trouxeram um GNAT aqui os Hindus, mas até na maneira da embalagem era meio... M: Meio mal feito, meio caseiro, não é? J: Eu cheguei até a sentar nele pô. M: E como era o conforto da cabine, era bom? J: Olha, eu não posso nem te dizer, porque este avião além de rápido, eu não iria achar nenhum defeito nele.( falou entusiasmado em função de sua admiração pelo projeto). A gente percebeu a qualidade da mão de obra, coisas diferentes, ai então ele fez a demonstração de vôo e em fim. M: E voou bem direitinho, voava bonito o avião? 212 J: Ele é pequeno, então sendo pequeno, parece muito mais rápido, do que é. M: Fica ágil. J: Bom , Não vem ao caso mas, eles tentaram fazer engrenar com a Finlândia porque a Finlândia tinha um padrão de mão de obra clássico, mas acho que eles só queriam ... Ma a Inglaterra mesmo disse, não vingou o Gnat, fizeram o Midget. M: O Midget era o biplace? J:Não, Midget era o menor, que não tinha armamentos, que não tinha uma porção de coisas. M: O que os RED ARROWS utilizaram era o Midget? J: Não aquele era o Foland Trainer. M: Então não era o mesmo avião, teve uma evolução? J: Dá para ver ele é um pouquinho maior, tinha superfícies de comando também diferentes, e algumas outras coisas, ,mas o pessoal dos Red Arrows, choraram quando trocaram de avião, alguém falou isso, que tinha conversado com os pilotos da esquadrilha, mas não poderiam mantê-lo porque já estavam velhos, já não existia mais a empresa. De qualquer forma não aceitaram o Gnat, só na Índia e operou algum tempo na Finlândia, então o bicho morreu né, quer dizer. Tem que espalhar-se não sei por quantos países, sei lá,ai entra o aspecto comercial, entra política, não dá para saber(falando sobre o sucesso de um projeto de avião). A estas alturas já estavam para os ingleses as duas empresas que acabaram ficando. M: Quem ficou então? J: Ficou uma que foi criada a British Aerospace, que até chamavam brincando: de BOAT AEROSPACE, a Hawker. Na Inglaterra dão dó algumas coisas, que aconteceram como a história do COMET, e até o trabalho de um avião fantástico, que a Tatcher, acabou com ele, uma série de coisas e eles acabaram ficando para trás mesmo. M: Senhor Kovacs o dimensional, por exemplo, se a gente fizer uma cabine que acomode o piloto, mas que tenha uma dimensão reduzida, e daí a gente ter por exemplo o comprimento do avião, um pouco mais reduzido, isto também é solução mínima, quer dizer trabalhar no dimensional do avião, é solução mínima também? J: Olha solução mínima, eu usava este termo naqueles tempos, solução mínima também tem seu preço, acho que o Foland foi espremido demais, foi demais. M: Foi ao extremo então? J: Foi ao extremo, provavelmente para demonstrar as coisas, mas se passar da medida acaba não sendo economia. Acaba não sendo econômico, de manutenção difícil, ele apresentou uma série de genialidades muito boas. 213 M: Em quanto o senhor procura, vou tirar uma foto, porque hoje o serviço é completo, foto, gravação etc. J: Foto de lixo, pô. Às vezes escrevem umas coisas sobre o Tucano, eu tenho algumas revistas , algumas delas exageraram, fizeram um textos assim, depois de um avião(Tucano),ter ido para a Inglaterra. Sempre tem um homem por detrás destas coisas, como na Inglaterra o Siney Camer e o Reginald Mitchell, o Sidney Camer, que era uma das vacas sagradas lá, mas aqueles dois ganharam títulos de Lord e o diabo, salvadores da Inglaterra, realmente. M: O Spitfire foi uma... J: E o outro também ficou vivo, porque o Reginald Mitchell, faleceu, estava já na época canceroso terminal, e ele sabia, tinha consciência e estava com pressa de definir as coisas, teve umas idéias novas e acabou colocando no projeto, tanto que a filosofia do Spitfire é completamente diferente do Hurricane. Hurricane por exemplo é do Sidney Camper, ele continuou fazendo Tempest. Thyphoon. M: Aquelas coisas enormes. J: Trecos horrorosos. M: Pareciam prédios, não é? Radiadores na frente umas bocas grandes. J: Ele estava com pressa, ele viu o protótipo voar, mas não viveu o suficiente para ver seu sucesso, em combate etc. M: Mas cá entre nós, seu Kovacs, o Tucano foi um marco para a gente, concorda?Marcou o recomeço de uma indústria com cara nossa. J: é um marco sim, mas acho que foi porque foi feito por uma empresa grande, que tava por trás dele, e começou tendo a felicidade de ser escolhido-muitos dizem que por política também-lá na Inglaterra, e que decorrente disto, o mundo inteiro acabou escolhendo, quantos países, dezenas de países. M: Arábia Saudita, Egito, nossa senhora! J: Espalhou pelo mundo, isso marcou, mas eu pessoalmente estou mais vinculado ao T-25, que coitado ninguém comprou, o Chile comprou, mas... M: Mas que também era um avião e tanto. J: Era diferente era uma transição de uma época, que a F.A.B, só usava os lixos que os Estados Unidos Doavam, algumas pessoas falavam que eram o pior donativo,porque eles já não usavam mais, enfim ... e ai a F.A.B toda estava precisando reformar, precisando mudar a filosofia de vôo, e o pessoas não sabiam na escola AFA(Academia da Força Aérea), não sabia fazer invertido, invertido era só era a posição, mas não o fator de carga, entende? 214 M: Não faziam G negativo? J: G negativo eles não faziam. M: Porque o avião não comportava! J: Os T Meia, não tinham lubrificação e nem alimentação no dorso, então todo aquele negócio, o pessoal era muito bom, mas poxa numa certa altura pediram para o Bertelli, faze-los acostumar a executar o vôo invertido, quando pegaram o Fouga Magister, que fazia invertido, não tinha assento ejetável, mas fazia invertido. Entende, eles não estavam acostumados mesmo, se o Coronel Braga, por exemplo não fazia invertido, não ensinava para os outros também. M: Então o T-6 não fazia invertido? J: Não fazia, no fim bombeando ia um pouquinho, mas a lubrificação ia falhando enfim. M: De qualquer jeito não era para fazer. J: Essa geração nessa época... Falei caramba, na Europa qualquer 100 cavalos vagabundos já têm carburador invertido, e a acrobacia começa no dorso e termina no dorso, não pode. Eu tinha que fazer um avião de transição, não delicado demais como o Zlin Trainer, tinha que ser um pouco mais parrudo, porque o pessoal estava acostumado. M: Com ataques ao solo, cada pouso é um Catrapo, não é?(catrapo é como e chamada a operação de pouso em navios porta-aviões). J: Catrapo, é que realmente os T-meia agüentavam qualquer coisa, então se for um avião delicado, ele desmancha na rolagem. Eles receberam uns tantos Bonanza, a F.A.B, e acabaram com eles. M: Eram os T-34 ou os Bonanza mesmo? J: Parece-me que eram os Bonanza, não eram os Mentor não, devia ter sido, mas enfim... Distruiram todos eles, não estavam acostumados a lidar com um avião fino assim. Então tinha que fazer um avião de transição, que fosse capaz de fazer vôo invertido (lubrificação e alimentação), que dava esta chance... O que aconteceu muito felizmente, é que tinham na AFA, dois caras talvez três, que eram maravilhosos, os bichos levavam o livro de acrobacia ao banheiro para não perder tempo. Um deles era o Vilarinho o outro era o Faria. M: Que depois foram da esquadrilhada fumaça? J: Acabaram sendo, todos os dois foram, só que o Faria ficou mais tempo como líder, aqueles dois topavam qualquer coisa, então coincidência de um avião com capacidade no total muito melhor, comando muito bom, embora tenha ficado uma 215 pata choca depois e os dois caras esta reunião foi a combinação perfeita, e se tornou a nova FUMAÇA, que podia ir a qualquer lugar do mundo, batendo os recordes, da esquadrilha toda voando de dorso, esse negócio todo. Então é diferente eu estou mais ligado ao T-25, porque aquilo é toda concepção nossa, mesmo. M: O avião que o senhor apadrinharia, mesmo seria o T-25? J: Seria sim o mais chegado ao coração, com toda a pata choca que é... M: Quanto tempo já está em serviço, 40 anos? J: 40 anos mesmo!Agora o Tucano é diferente, o Tucano tem comando mais pesado. M: Mas é um avião com uma linha maravilhosa, não é? J: Ele te uma linhazinha que... M: O avião parece estar voando , mesmo estando parado. J: Os ingleses mesmo andaram chamando-o de avião sexy. M: Seu Kovacs, quem seriam os projetistas que o senhor indicaria como adeptos da solução mínima?O Peter o Ed Heynemann... J: Aqueles no final da folha naquela relação. M: Heinemann? J: Heinemann e o próprio Foland, que era o diretor da empresa. Ele era tipicamente um projetista, ele concebia as coisas. M: Como é que o senhor está de horário? J: Estou olhando, mas não tem problema, ainda não! M: O que estás sendo construído aqui, este é um One Design? J: Não, este é o cinqüenta e cinco, acrobático. Olhe a foto do Peter. M: Cara de mulher. J: Não parece um Padre? M: Qual a tradução para o Inglês do termo Solução mínima? Foio senhor que criou, ou tinha alguma coisa como: minimal... J: É chamavam de “Pocket Fighter”, mas esta não é a expressão correta, também chamavam de “Short life fighter”. 216 M: O senhor acha que nestes artigos tem o nome em inglês do conceito da solução mínima? J: Tem. M: O conceito de solução mínima parece estar aplicado na nova safra de jatos executivos pessoais, os VLJ (very light jets), a gente vê muito isto. J: Já passou a época, essa fase. M: Mas o senhor acha que não é mais época de solução mínima? J: é. M: Acho que sempre é tempo, não é? J: Sempre é tempo, hoje Já não tem nem a consciência de que estão fazendo a solução mínima. M: Hoje faz parte de uma metodologia. J: Quando fizeram o F-16, já não tinham consciência de que eles aprenderam algumas normas, algumas coisas do Peter. M: Então é como se houvéssemos incorporado a filosofia numa nova concepção? J: E alguns monstros daqueles, monstruosos realmente, inclusive o Delta Dagger, Delta Dart, o Convair Delta, são inclusive descendentes do Multhop, ele era um aerodinamicista famoso e que ninguém conhece como projetista. Ele e o Lipisch foram as duas pessoas que influenciaram toda a aviação, mais do que qualquer outro. A história do Multhop é mais surpreendente, porque todo mundo conhecia ele como aerodinamicista, que não é, ele tem artigos de aeronáutica, teoria da asa finita, teoria da sustentação, uma porção de coisas, esse cara era professor dele (referindo-se e apontando para uma foto do físico alemão ??? Prant, presa à parede). M: Ele foi aluno do Prant? J: Ele (Prant), disse que jamais passou por ele um cara tão talentoso, como ele; mas o pior é que ele não tinha paciência de terminar nada, queria trabalhar fazer, até hoje aparecem artigos dele, algumas pessoas tem dez centímetros de títulos abreviados, e ele tem nada mais do que seu nome Hans Multhop. M: Qual é a importância do projeto preliminar, na conceituação ou na definição das características do novo avião, quer dizer que peso senhor daria em importância ao projeto preliminar? J: Nossa muita coisa, aí é que no projeto preliminar, nasce tudo, agora um projetista inexperiente pode se enganar em uma série de coisas, e o que vai sair acaba sendo completamente diferente de tudo, bem, mas é lá que tudo nasce. 217 M: O senhor acha que o CRI-CRI do projetista francês Michel Colomban, e o BD-5 do americano Jim Bede, são soluções mínimas?Posso ter solução mínima também nos experimentais, quer dizer podemos sair dos caças? J: Olha nessa confusão toda de solução mínima e máxima, eu sempre perseguia e me incomodava, o avião popular, realmente popular, milagroso talvez, mas não é simples de concepção e nem operação, não é barato, então deixa de ser popular. M: Mas o senhor nunca gostou do BD-5? J: Olha o BD-5, não é nada de jogar fora, mas não é isso que estou pensando como... O cara que chegou mais perto da solução popular realmente era o francês Henry Mignet, projetista do Pu del Ciel. Eu voei com ele. M: E o que o senhor acha do Cri-Cri? J: Bom o Cri-Cri é interessante, bacana. M: O senhor, não acha que estes aviões seriam soluções mínimas então? J: Não deixa de ser, mas são soluções mínimas que de repente todo mundo quer ter. M: O avião popular sem muito refinamento de projeto. J: Henry Mignet, todo mundo queria ter, e morreu um bocado de gente, ele chegou a ter que fugir. M: O que é então projeto preliminar? J: Tem um negócio talvez aqui (procurando no volume pessoal de seus manuscritos), uma distribuição de carga de trabalho. (Já com o gráfico em mãos, continua) Este aqui até aqui é o primeiro vôo, a distribuição de carga, que podem ser pessoas, horas, meses, no início avança devagar, gasta 30%do tempo total, até aqui, 100% da data alfa do projeto, do primeiro vôo do protótipo. Até 30% gasta seis virgula alguma coisa do volume toital, depois rapidamente pode crescer porque já definiu, amadureceu a idéia. O pior pecado é o de não querer gastar os 30%, para tão pouca mão de obra, então rapidamente cresce ai é ruim. M: Quer dizer que é ruim, quer dizer já está definida muita coisa, ele já nasce meio que definido, não é? J: não sabe como orientar um monte de gente. M: Não tem uma definição. J: É M: Entendi. 218 J: Ele tem que gastar esse tempo com paciência, esse é um pessoal muito especial... M: Tem que ter uma visão geral do projeto do avião. J: Definiu ai pode crescer bastante. M: Seu nome completo então é JOSEPH KOVACS, formado em engenharia Industrial na escola técnica superior de Budapeste. A escola foi fundada em 1878, pouco antes do término da escravidão no Brasil, mas não é a mais antiga lá, tem mais antiga. M: Bom, acho que o senhor respondeu quase tudo, tem uma última pergunta que eu coloquei desta forma: Hoje com a redução do peso e dos valores dos aviônicos, quer dizer hoje a gente compra um “Storm Scope” com mil Dólares, compra um equipamento de “EFIS”, com mil e quinhentos dois mil Dólares, e com o peso também diminuindo, em comparação aos equipamentos da década de 50 e 60, temos a capacidade de hoje de incrementar mais o “cockpit“ dos projetos modernos, porém o senhor citava que estes itens, de mais equipamentos seriam onerosos. O senhor acha que teve mudança neste sentido, hoje podemos não por muito peso mas ter um aumento em... J: Preço Bom. M: Em preço, bem, acho que isto foi uma mudança não foi? J: Olha, mas uma mudança, mas acho que tem tantas surpresas, na área da eletrônica , impressionante, surgem coisas leves até e baratas , acaba barateando com o tempo, gozado que aquele segundo item da filosofia, talvez não esteja valendo. M: Que é o número de equipamentos? J: É. M: Isto eu falei mesmo para provocar, para questionar se houve uma mudança nesta questão, pois este pode ser um ponto a abordar em minha tese. J: Tem um monte de coisas, naquele tempo eu falava que um dia, a gente tinha que chegar lá, de surgir equipamentos baratos , leves e confiáveis que pudessem substituir essa tranqueira toda, antigamente tinha o VHF, que era um caixote. M: Um trambolho! J: Um negócio bom agora tem o GPS, por exemplo, mas ainda não está homologado. M: Não é procedimento padrão, não é? 219 J: Ainda tem certas restrições legais inclusive. E se o GPS falhar?Mas cada vez falha menos. 220 País Unidade Tipo de Instrução Aeronave Quantidade País de fabricação Escola de aviação Primário militar Escola de aviação Elementar e básica naval Argentina Escola de aviação do Primária exército Primária Beech B-45 29 Arg/U.S.A 10 U.S.A 5 U.S.A 2 U.S.A 3 U.S.A 16 Brasil 6 Brasil Beech T-34 A/B 15 U.S.A Neiva T-25 C 82 Brasil Mentor Beech T-34 C-1 Turbo Mentor Cessna T-41D Mescalero Piper PA-18 Super Cub Avançada: Emb 312 Tucano Restante de treinamento Operacional Gendarmeria Nacional Básica Primária Bolívia Colégio Militar de Aviação F.A.B Academia da Força Aérea Aerotec T-23 Uirapurú Neiva T-25 Universal Básica Brasil Cessna 152 Primária e Básica Universal Avançada: Emb 312 Tucano APÊNDICE B – Tabela com a frota de aeronaves de treinamento na América-Latina Obs: Enaer T-35A/B Escola de Aviação Militar Primária e Básica Chile Aviação Naval do Primária e básica Chile Colômbia Escola Militar de Força Aérea de Pilatus PC-7 Turbo trainer Cessna T-41D 24 Chile 7 Suiça 8 U.S.A 10 U.S.A 20 Republ. Tcheca 2 França 1 U.S.A 5 Chile Mescalero Aviação F.A.C Cuba Primária Pillán Básica Beech T-34A Mentor Primária e Básica Zlin 326 Cuba Socata 235 GTA Rallye Primária El Salvador Escola Superior Militar de Aviação Cessna T-41 Mescalero Básica Enaer T-35B-6 Pillán 222 Escola Superior Militar Primária e Básica Cessna 150L Aerobat 7 U.S.A de Aviação Avançada: Beech T34C Turbo Mentor Equador Aviação Naval Primária e Básica Beech T-34C-1 Enaer T-35B-6 Pillán Aviação do Exército Guatemala Honduras México 2 U.S.A 4 Chile Primária e Básica Maule MT-7-7-235 2 U.S.A Primária Cessna 172K 3 U.S.A Basica e Avançada Enaer T-35B Pillan 5 Chile Maule MT-7-235 4 U.S.A Básica Cessna 172 H 6 U.S.A Primária/ Básica Aeromacchi SF-260 U 27 Itália Básica Beech F-33 C Bonanza 29 U.S.A Inicial/ Básica Zlin 242- L - Moravan 10 Republ. Tcheca Escola de Aviação Militar Academia Militar de Aviação Primária Avançada: Emb 312 Tucano Escola de Aviação Militar – F.A.M Escola de Aviação Naval 223 Nicarágua Panamá Força Aérea do Exército da Nicarágua Primária / Básica Piper PA-18 Cub 1 U.S.A Serviço Aéreo Nacional do Panamá Primário/Básico Enaer T-35 B/D Pillán 7 Chile Primária Enaer T-35 Pillán 10 Chile Neiva T-25 6 Brasil Primária e Básica Cessna 150 M 2 U.S.A Força Aérea do Peru – Esq. Aéreo 511 Primária Zlin 242L 16 Republ. Tcheca Aviação Naval – Grupo Aeronaval No 2 Primária e Básica Beech T-34C Turbo Mentor (Tubarão) 4 U.S.A Aviação do Exército do Peru Primária e Básica Cessna 150/152 Aerobat 1/3 U.S.A Primária/Básica Enaer T-35 B Pillán 6 Chile Força Aérea do Paraguai Paraguai Básica Aviação Navla – Escola de Aviação Naval Peru República Dominicana Escola de Aviação Militar 224 Escola Militar de Aeronáutica F.A.U Primária/Básica Aeromacchi SF-260 U 12 Itália Primária/Básica Beech T-34 B / T-34 C 1/2 U.S.A Primária Aeromacchi SF-260 U 12 Itália Básica Embraer 312 Tucano 20 Brasil Perimária/Básica Cessna 210 1 U.S.A Uruguai Escola de Aviação Naval Escola de aviação Militar – F.A.V Venezuela Esquadrão Aeronaval de Adestramento 225 Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo