PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO ÉDEN FERNANDO BATISTA FERREIRA MODELO DE AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DO AMBIENTE DE CIRCULAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS BELÉM 2012 1 PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO ÉDEN FERNANDO BATISTA FERREIRA MODELO DE AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DO AMBIENTE DE CIRCULAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia - UNAMA, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre. Linha de Pesquisa: Planejamento, Tecnologia e Infraestrutura em Ambientes Construídos. Orientadora: Profa. Dra. Maisa Sales Gama Tobias BELÉM 2012 2 ÉDEN FERNANDO BATISTA FERREIRA MODELO DE AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DO AMBIENTE DE CIRCULAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia - UNAMA, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre. Linha de Pesquisa: Planejamento, Tecnologia e Infraestrutura em Ambientes Construídos. Orientadora: Profa. Dra. Maisa Sales Gama Tobias Apresentado em: ____/____/_____ Conceito: ____________________ Banca Examinadora: _________________________________________ Profa. Dra. Maisa Sales Gama Tobias - Orientadora Universidade da Amazônia _________________________________________ Profa. Dra. Andreia do Socorro Conduru de Sousa Cardoso - Examinadora Interna Universidade da Amazônia _________________________________________ Prof. Dr. Benedito Coutinho Neto - Examinador Externo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Campus Belém BELÉM 2012 3 Aos meus pais Luiz Fernando e Benedita, minha esposa Thaís e filha Maria Fernanda e a meu irmão Júnior, pois vem deles a motivação. 4 AGRADECIMENTOS A Deus, Jesus Cristo e Nossa Senhora a quem tenho profunda fé e que permitiram que tudo pudesse acontecer. A meus pais Luiz Fernando e Benedita, pois foram suas decisões no passado que oportunizaram esta conquista. À minha esposa Thaís, pela paciência, compreensão e por ter me dado o maior presente no início desta caminhada, só para tornar as coisas mais interessantes, nossa filha Maria Fernanda. Ao meu irmão Fernando Simon Júnior que, mesmo de longe, sempre me apoiou sem contestação. À Professora Maisa Sales Gama Tobias, minha orientadora, pela paciência, dedicação e confiança em me conduzir neste processo. Aos meus queridos alunos e alunas da UEPA e da Unama que voluntariamente me ajudaram na pesquisa. À professora Tonya Penna, principal responsável por eu ter ingressado no Programa de Mestrado, graças ao seu incentivo incondicional. Ao professor Benedito Coutinho, no meu entendimento, uma referência docente e de ser humano. 5 RESUMO Nesta dissertação propõe-se um modelo de avaliação que permita analisar o ambiente de circulação urbana sob o ponto de vista dos usuários, relacionando com sua percepção de funcionalidade e capacidade. Parte-se da hipótese de que este método de avaliação pode ser utilizado como suporte aos processos de tomada de decisão, no planejamento e desenvolvimento de intervenções em ambientes de circulação, para que os mesmos possam estar adequados às características funcionais de seus usuários. Adotou-se como estudo de caso para teste e validação do modelo proposto, a avenida Marquês de Herval, em Belém, onde foram aplicados questionários elaborados a partir da análise e adaptação dos componentes e domínios propostos pela Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Saúde - CIF. Como resultado, identificou-se que as respostas concentraram-se na percepção da via como facilitadora em relação aos seus fatores ambientais, assim como, às dificuldades e deficiências em relação ao engajamento em atividades ou a condição das funções e estruturas do corpo, foram identificadas como dificuldades leves. Porém, o modelo mostrou-se importante na identificação de elementos ambientais e pessoais que podem influenciar na condição de mobilidade no ambiente urbano. PALAVRAS-CHAVE: Mobilidade Urbana. Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Saúde. Percepção. Ambiente de Circulação. Modelo de Avaliação 6 ABSTRACT This dissertation proposes an evaluation model for analyzing the urban environment movement from the point of view of users, correlating with their perception of functionality and capability. It starts with the assumption that this evaluation method can be used as support for the decision making process, in planning and development interventions in environments of movement, in order that they can be appropriate for the functional characteristics of their users. Adopted as a case study to test and validate the proposed model Marquês de Herval Avenue in Belém, were applied questionnaires developed from the analysis and adaptation of components and areas proposed by the ICF. As a result, it identified that the responses are concentrated in the perception of the road as a facilitator in relation to their environmental factors, as well as the difficulties and shortcomings in relation to engaging in activities or the condition of the body functions and structures, difficulties have been identified as light. However, the model proved to be important in identifying environmental and personal factors that can influence the condition of mobility in the urban environment. KEY-WORDS: Urban Mobility. International Classification of Functioning Disability and Health. Perception. Circulation Environment. Evaluation Model. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Estrutura, meios sistema e ambiente de circulação Figura 02 – Sistema viário hierarquizado em área urbana: vias arterial, coletiva e local Figura 03 – Diagrama de um sistema Figura 04 – Interações entre os componentes da CIF Figura 05 – Relação entre componentes da CIF e mobilidade Figura 06 – Modelo de avaliação da percepção do ambiente de circulação Figura 07 – Localização da Avenida Marquês de Herval Figura 08 – Localização do bairro da Pedreira Figura 09 – Equipamentos instalados na via: espaço criança e academia ao ar livre Figura 10 – Ciclovia Figura 11 – Vagas para estacionamento Figura 12 – Nivelamento e sinalização das calçadas Figura 13 – Academia ao ar livre Figura 14 – Playgrounds Figura 15 – Espaço de convivência 25 28 32 46 54 61 63 64 66 92 92 92 93 93 93 8 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 – Perfil dos entrevistados por gênero Gráfico 02 – Perfil dos entrevistados por faixa etária Gráfico 03 – Perfil dos entrevistados por ocupação Gráfico 04 – Perfil dos entrevistados por renda Gráfico 05 – Perfil dos entrevistados por escolaridade Gráfico 06 – Percepção sobre a influência do clima Gráfico 07 – Percepção do som e qualidade do ar Gráfico 08 – Percepção sobre os Serviços, sistemas e políticas - SSP Gráfico 09 – Quantitativo de respostas entre barreiras e facilitadores Gráfico 10 – Percepção sobre a categoria Atividade e participação Gráfico 11 – Quantitativo de respostas aprendizagem e aplicação do conhecimento Gráfico 12 – Percepção da capacidade de andar Gráfico 13 – Percepção sobre a utilização de transporte Gráfico 14 – Distribuição por item, vida comunitária, social e cívica Gráfico 15 – Funções e estruturas do corpo Gráfico 16 – Distribuição por respostas, funções mentais Gráfico 17 – Percepção de funções sensoriais Gráfico 18 – Funções neuromusculoesqueléticas e relacionadas ao movimento Gráfico 19 – Percepção sobre estrutura óssea e ligamentar Gráfico 20 – Relação entre percepção de barreiras ligadas a SSP arquitetura e construção e avaliação da função mobilidade articular Gráfico 21 – Relação entre percepção de sistemas de transporte como barreiras e percepção sobre capacidade de utilização de transporte público Gráfico 30 – Relação entre percepção sobre fatores ambientais e faixa etária 70 70 70 71 71 76 77 78 79 79 80 81 82 83 83 84 85 86 86 88 89 90 9 LISTA DE QUADROS Quadro 01 – Elementos norteadores da CIF Quadro 02 – Relação das condições de comportamento com categorias da CIF Quadro 03 – Domínios e componentes dos fatores ambientais Quadro 04 – Domínios e componentes de atividade e participação Quadro 05 – Domínios e componentes, funções e estruturas do corpo Quadro 06 – Qualificadores de barreira e facilitadores Quadro 07 – Qualificador de atividades e participação e funções e estruturas do corpo Quadro 08 – Intervalos de pontuações atribuídas por qualificador Quadro 09 – Distribuição das entrevistas 45 54 56 58 59 60 60 61 69 10 LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Percepção de barreiras Tabela 02 – Percepção de facilitadores Tabela 03 – Percepção de atividades e participação Tabela 04 – Percepção de funções e estruturas do corpo Tabela 05 – Percepção predominante por categoria Tabela 06 – Relação entre percepção de barreiras ligadas a SSP arquitetura e construção e avaliação da função mobilidade articular Tabela 07 – Relação entre percepção de sistemas de transporte como barreiras e percepção sobre capacidade de utilização de transporte público Tabela 08 – Relação entre percepção sobre fatores ambientais e faixa etária 72 73 74 75 76 87 88 89 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................12 1.1 PLANO DE TRABALHO ..................................................................................13 1.1.1 Justificativa ................................................................................................13 1.1.2 Caracterização do problema .....................................................................15 1.1.3 Objetivos .....................................................................................................16 1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ..................................................................16 2 CIDADE E MOBILIDADE URBANA ..................................................................18 2.1 CIDADE: influência histórica na mobilidade. ...................................................18 2.1.1 Aspectos Históricos...................................................................................19 2.1.2 A cidade como ambiente construído........................................................20 2.1.3 A mobilidade urbana ..................................................................................22 2.2 A CIDADE E O AMBIENTE DE CIRCULAÇÃO...............................................24 2.2.1 Estrutura de circulação: vias públicas e calçadas ..................................25 2.2.2 Modos de Circulação .................................................................................29 2.3 O PROCESSO DE PERCEPÇÃO ...................................................................33 2.3.1 Avaliação do ambiente de circulação a partir da percepção do usuário ............................................................................................................35 2.3.2 Instrumentos legais para avaliação ..........................................................38 3 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, INCAPACIDADE E SAÚDE - CIF .........................................................................41 3.1 A CIF COMO INSTRUMENTO DE ENTENDIMENTO DA SAÚDE .................41 3.2 A ESTRUTURA DA CIF ..................................................................................44 3.3 USO E APLICAÇÕES DA CIF.........................................................................46 4 MODELO DE AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DO AMBIENTE DE CIRCULAÇÃO ...............................................................................................50 4.1 MÉTODOS PARA AVALIAÇÃO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO....................50 4.2 PREMISSAS DO MODELO PROPOSTO .......................................................53 4.2.1 Relação da CIF com o modelo de avaliação proposto............................54 4.2.2 Definição das variáveis..............................................................................55 4.3.2 Procedimentos de aplicação e análise .....................................................59 5 ESTUDO DE CASO: Avenida Marquês de Herval – Belém - Pará.................63 5.1 ÁREA DE ESTUDO.........................................................................................63 5.2 PLANEJAMENTO DA PESQUISA ..................................................................66 5.3 SELEÇÃO DA AMOSTRA ..............................................................................68 5.4 COLETA DE DADOS ......................................................................................69 5.5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .........................................................69 5.6 ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................................................90 6 CONCLUSÕES ..................................................................................................97 REFERÊNCIAS ..................................................................................................100 APÊNDICE A – Questionário ............................................................................106 APÊNDICE B – Mapa de Cálculos ....................................................................108 12 1 INTRODUÇÃO O ambiente físico urbano é objeto de estudo de diferentes tipos de pesquisas, onde se busca identificar, em geral as influências deste ambiente na vida dos cidadãos. A mobilidade é foco importante destes estudos uma vez que consiste numa condição básica para sobrevivência e desenvolvimento das atividades humanas na cidade. A expansão urbana, reflexo, em grande parte, da ocupação desordenada da cidade, influencia o padrão desta mobilidade, interferindo negativamente no cotidiano das pessoas. Esta interferência pode gerar consequências à saúde das pessoas, uma vez que a Organização Mundial de Saúde - OMS considera o estado satisfatório de saúde quando há o completo bem-estar físico, mental e social. Seguindo esta perspectiva, a OMS desenvolveu a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade1 e Saúde – CIF, que tem como objetivo proporcionar uma base científica para compreensão e o estudo da saúde e das condições relacionadas à saúde, na qual se aplica o ambiente físico de circulação. Diante disso, entende-se que a mobilidade no ambiente de circulação possui relação direta com as condições de funcionalidade e capacidade de seus usuários. Neste sentido, a avaliação de um projeto de urbanização deve permitir identificar se as estratégias, recursos e equipamentos utilizados no projeto, atende as necessidades dos usuários em relação as suas capacidades, dificuldades e deficiências encontradas. A grande maioria dos instrumentos de pesquisa não estabelece este tipo de relação entre o ambiente de circulação e a funcionalidade e capacidade dos usuários. Portanto, neste estudo propõe-se um modelo de avaliação que permita analisar o ambiente físico urbano sob o ponto de vista dos usuários, como forma de identificar as relações com as condições de capacidade e funcionalidade necessárias para engajamento em atividades cotidianas. 1 O termo Incapacidade, descrito na CIF, é um termo genérico referente a deficiências, limitações de atividades e restrições de participação. Entretanto, como neste estudo não se estabeleceu o foco específico nas pessoas com deficiência, e sim no cidadão usuário do ambiente de circulação, que pode, ou não, apresentar uma limitação, será utilizado o termo capacidade para se referir às condições de participação das pessoas em suas atividades. 13 1.1 PLANO DE TRABALHO Nesta seção, estão apresentados os pontos desencadeadores e norteadores do trabalho que envolve a justificativa, a caracterização do problema e os objetivos da pesquisa, para efeito de entendimento da proposta inicial da dissertação, bem como do trabalho de pesquisa e resultados alcançados. 1.1.1 Justificativa Na perspectiva da mobilidade, o ambiente urbano é, comumente, analisado sob a ótica da infraestrutura de vias, condições e adequação às modalidades de transportes, acessibilidade, entre outras, e para o desenvolvimento destas análises, diversos instrumentos são utilizados. Neste estudo, propõe-se um modelo de instrumento avaliativo que dê condições de analisar este ambiente sob o ponto de vista do usuário. Busca-se identificar as relações da mobilidade urbana com os fatores relacionados à saúde. Parte-se do pressuposto de que a percepção que os usuários possuem sobre o ambiente de circulação possui relações diretas com as condições de capacidade e funcionalidade. Este entendimento vem de estudos como os de Rozestraten (1988) e Silva P. (2001), os quais mostram que o comportamento dos usuários do ambiente de circulação é influenciado por estímulos ambientais presentes nas vias. A expansão das grandes cidades associados ao crescimento da população estão tornando o deslocamento cada vez mais necessário. O capitalismo, com a fragmentação da atividade econômica e mercantilização dos serviços, leva a vida do cidadão urbano cada vez mais para fora de casa, aumentando a necessidade destas pessoas em deslocar-se pela cidade (VILLAÇA, 2001). Os deslocamentos tornamse, portanto, uma condição básica para sobrevivência e desenvolvimento das atividades humanas no meio urbano – circulação de pessoas, mercadorias e serviços. Para que esta condição seja efetivada, é necessário, entre outras coisas, uma eficaz adequação da infraestrutura viária da cidade, de modo a atender de forma satisfatória os diferentes tipos de usuários. Entretanto, a cidade como ambiente construído apresenta formas espaciais provenientes de um processo histórico e político de desenvolvimento urbano. Assim, a paisagem urbana é o resultado de um 14 arranjo espacial predeterminado e de um arranjo espacial espontâneo e aos cidadãos são impostas estas formas espaciais como condição física de circulação. Esta interação dos deslocamentos de pessoas e bens com a cidade é que configura a mobilidade urbana (ALBANO, 2006). Porém, com o crescimento das cidades as vias podem sofrer sobrecarga de pessoas e serviços gerando conflitos entre os usuários, repercutindo no padrão de viagens e deslocamento de cada pessoa. A consequência iminente desta crise é a limitação da mobilidade e a acessibilidade das pessoas no ambiente da cidade. De uma maneira simplificada, Alves e Raia Jr. (1999) diferenciam estes dois conceitos, considerando a “mobilidade urbana” como a facilidade de deslocamentos de pessoas e de bens dentro de um espaço urbano e, “acessibilidade” como o acesso da população para realizar suas atividades e deslocamentos. O impedimento ou a dificuldade em realizar plenamente as atividades que compõem o cotidiano das pessoas, pode repercutir diretamente na sua condição de saúde, tendo em vista que a saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), e não apenas ausência de doença (SCLIAR, 2007). Portanto, a participação efetiva nas atividades diárias, pode refletir neste bem-estar completo, independente da ausência ou não de enfermidades. Para reforçar esta perspectiva a OMS lançou em 2001 a International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF), traduzido para língua portuguesa como Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF. A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionada às condições de saúde, a partir do entendimento sobre as condições das funções e estruturas do corpo, assim como, das condições de engajamento em atividades sociais no meio ambiente que a pessoa vive (FARIAS; BUCHALLA, 2005). Para o contexto da cidade, a CIF propõe os Fatores Ambientais como um de seus componentes de análise, considerando-os como fatores de impacto direto sobre todos os componentes da funcionalidade e incapacidade. Isto quer dizer que, mesmo com condições de funções e estruturas do corpo preservadas e sem alterações, fatores ambientais ainda podem comprometer o engajamento em atividades. Por este motivo, a OMS (2002) considera que a CIF, em um nível social, tem entre suas aplicações: avaliações de projetos arquitetônicos universais, 15 implementação de acessibilidade, identificação de facilitadores e barreiras e mudanças de políticas sociais. Este tipo de aplicação contribui com a identificação da qualidade de vida de uma determinada população em relação ao seu ambiente de circulação. No município de Belém, algumas vias estão passando por processos de reurbanização, onde se observa a tentativa de tornar estas vias cada vez mais acessíveis aos seus usuários com implementação de nova pavimentação, ciclovias áreas de lazer, entre outros. Essas modificações na estrutura e componentes da via podem gerar impactos na vida dos seus usuários e moradores. Tais impactos podem repercutir nos padrões de mobilidade e atividades e, consecutivamente, na qualidade de vida dessas pessoas. Esses impactos nem sempre podem ser qualificados ou quantificados por instrumentos de pesquisa que enfatizam a estrutura física da via. A compreensão de como a qualidade de vida desses moradores pode ser influenciada pela estrutura da cidade perpassa pela identificação da percepção de que esses moradores têm da via, de si mesmos e das atividades que desenvolvem. Este entendimento complementa a discussão sobre a importância da elaboração e implementação de políticas voltadas à mobilidade urbana. 1.1.2 Caracterização do problema Observa-se que a mobilidade no ambiente de circulação possui relação direta com as condições de funcionalidade e capacidade de seus usuários. Neste sentido, a avaliação de um projeto de urbanização, deve permitir identificar se as estratégias, recursos e equipamentos utilizados no projeto atendem as necessidades dos usuários em relação as suas capacidades de participação em atividades ou dificuldades e deficiências. Entretanto, a grande maioria dos instrumentos de pesquisa não estabelece este tipo de relação entre o ambiente de circulação e a funcionalidade e capacidade dos usuários. Portanto, propõe-se a utilização da CIF como base para subsidiar a elaboração de um instrumento que permita analisar um ambiente físico do município de Belém, a partir da percepção do usuário. Com este instrumento é possível identificar como a percepção das condições de mobilidade da cidade está relacionada com a percepção, com a funcionalidade e capacidade dos usuários. 16 A hipótese é de que seja possível estabelecer um método de avaliação de percepção dos usuários como suporte aos processos de tomada de decisão por parte do poder público em intervenções em ambientes de circulação, para que os mesmos possam estar mais adequados às características de funcionalidade, capacidade e saúde de seus usuários. 1.1.3 Objetivos Este trabalho foi elaborado com o direcionamento para os seguintes objetivos: Geral: desenvolver um modelo de avaliação para analisar a percepção dos usuários sobre o ambiente de circulação em Belém. Específicos: • definir domínios e categorias da CIF aplicáveis a uma avaliação de percepção; • propor um modelo de avaliação de percepção do ambiente de circulação; • testar um instrumento de avaliação da percepção dos usuários a partir dos componentes da CIF; • relacionar as condições de mobilidade urbana com a percepção de funcionalidade e capacidade dos usuários. 1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO O capítulo 1 é o introdutório, onde é apresentado o plano de trabalho com os componentes que caracterizam a motivação e relevância do trabalho e objetivos de pesquisa, como: a justificativa, a caracterização do problema que motivou o presente estudo e os objetivos: geral e específico, que nortearam o trabalho. No capítulo 2, apresenta-se o quadro conceitual sobre a cidade e a mobilidade, em seções onde foram tratados os aspectos históricos relacionados à mobilidade urbana, o ambiente de circulação com referência aos componentes chaves para este estudo, assim como tratou-se sobre o processo de percepção e a aplicação da percepção como instrumento de avaliação do ambiente. 17 O capítulo 3 faz referencia à Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Saúde, apresentando a sua relação na fundamentação de uma concepção ampliada de saúde, os componentes que a integram e as possibilidades de uso e aplicação. O capítulo 4 refere-se ao modelo de avaliação do ambiente de circulação, no qual são abordados, inicialmente, os aspectos relacionados a métodos de avaliação do ambiente e em seguida apresenta-se o desencadeamento de ideias que gerou o modelo proposto, bem como, os aspectos que fundamentam o instrumento. No capítulo 5, é desenvolvido o estudo de caso em questão, com apresentação da área de estudo, o planejamento da pesquisa, a seleção da amostra, a coleta de dados e apresentação de resultados alcançados. No capítulo 6, os resultados são analisados e são apresentadas as considerações sobre o estudo de caso. Seguido do capítulo 7, com as conclusões da pesquisa. E, por fim, as referências, onde são apresentadas todas as fontes de consulta utilizadas para o aporte teórico desta pesquisa. 18 2 A CIDADE E A MOBILIDADE URBANA Estabelecer a relação do ambiente de circulação da cidade com o processo de saúde e qualidade de vida dos seus usuários recai na construção de entendimentos que perpassam pelas discussões sobre o processo de produção da cidade, os quais envolvem a compreensão histórica do desenvolvimento da cidade e a mobilidade; as discussões sobre o ambiente de circulação; e sobre o processo de avaliação. 2.1 CIDADE: influência histórica na mobilidade O crescimento populacional nas grandes cidades, em virtude, entre outros, da migração rural, faz com que estas se expandam cada vez mais, como consequência, as distâncias e os deslocamentos necessários no dia a dia dos seus habitantes se tornam cada vez maiores. Este processo de urbanização é reflexo da organização interna da cidade gerada pela dinâmica da produção do espaço. Tal dinâmica produz, historicamente, espaços que se diferem a partir das atividades predominantes (comércio e serviços) ou da realidade socioeconômica da população (SOUZA, 2003). Neste contexto, a mobilidade assume destaque em todo esse processo, sofrendo influência e influenciando a característica da cidade. A relação das atividades predominantes e realidade socioeconômica pode ser utilizada como base para o início da compreensão sobre cidade, uma vez que pode ser entendida como início da passagem histórica da indústria de manufatura para o início de uma indústria mais elaborada, na qual surgiram os maquinários e outras tecnologias, que com o passar dos tempos se tornaram ainda mais evoluídas. Neste período é possível visualizar a passagem do mundo rural para o urbano (VERAS, 2009). Buscar uma definição consensual sobre cidade pode ser um trabalho sem sucesso, pois no decorrer da história e com a evolução do pensamento e método científico o entendimento sobre o tema foi se tornando cada vez mais diversificado. Porém, torna-se salutar para este trabalho buscar a conexão histórica do desenvolvimento das cidades com a mobilidade. 19 2.1.1 Aspectos Históricos A princípio, pensa-se a cidade, imaginando-se um povoado de casas, com um determinado número de habitantes, que viveriam das atividades econômicas de mercado, por exemplo, ou como nas definições dos filósofos gregos descritos por Moreno (2002) que considera que a “cidade é uma grande casa e a casa uma cidade pequena”. Entretanto, a cidade possui relações muito mais complexas que simplesmente estas. Em uma análise cronológica descrita por Moreno (2002) sobre a cidade, observa-se que o homem passa a se agrupar em aldeias desde o período Neolítico há mais de 10 mil anos atrás, quando aprende a cultivar plantas e criar animais, para produzir seus alimentos; há 5 mil anos, na Idade do Bronze começam a se formar as cidades mais antigas construídas pelo homem; na Idade do Ferro 1200 a. C. desenvolvem-se a civilização grega e romana. Foi na Idade Média (séculos XI a XIV) com a sociedade industrial, que a cidade se contrapõe ao campo e com isso nasce a cidade moderna. A cidade ocidental, ainda possui, neste período, funções específicas conforme grau de importância no processo de produção e de mercantilização como, por exemplo, cidades de produtores, de consumidores, industrial, principesca, artesãos. Evidenciando o distanciamento entre a cidade e o campo, na qual, com o passar do tempo esta relação estabelece mais definidamente, que o campo torna-se subalterno da cidade, pela prática do associativismo e da formação da burocracia nas cidades (VÉRAS, 2009). A partir disso, as cidades e os entendimentos construídos sobre elas evoluem, como no século XV que, com o desenvolvimento da imprensa, favoreceu que os projetistas urbanísticos pudessem apresentar suas teorias e experiências, como os escritos de Marco Vitrúvio, Antônio Averlino e Leonardo Da Vinci. No século XVI, em 1516, Thomas More publica o livro Utopia, em que formula o modelo de uma sociedade e uma cidade ideais, que passam a ser o paradigma da perfeição dessas instituições, bem como, ainda no século XVI, os Grandes Descobrimentos exigem a formulação de políticas para os assentamentos construídos nos novos territórios. No século XIX o novo plano urbanístico imposto por Haussmann, que modernizou Paris, serviu de exemplo para outras cidades como Barcelona, Florença 20 e Viena, que transformaram as estruturas medievais em ambientes abertos, servindo de inspiração, no século XX, para os urbanistas dos Estados Unidos. No século XX, com o avanço tecnológico generalizado, o processo produtivo e de reprodução da vida, padronizou as funções econômicas e as práticas sociais dominantes. E, por volta da década de 1970, as novidades tecnológicas aceleram as descobertas da microeletrônica, transformando toda a vida do homem urbano. A cidade se torna o epicentro das relações virtuais, aproximando e segmentando pessoas e sociedades. Toda essa evolução histórica da cidade é reflexo das relações sociais e de trabalho que se estabelece em cada momento histórico. Como consequência tem-se a produção de um espaço da cidade cada vez mais complexo decorrente das demandas que essa evolução submete a sociedade. 2.1.2 A cidade como ambiente construído Ao trabalhar a cidade como um ambiente construído, Vasconcelos (2001) afirma que a cidade pode ser entendida como um conjunto numeroso de estruturas físicas destinadas a sustentar o processo de desenvolvimento. Este ambiente, segundo este autor, não é estático e está sujeito a um processo constante de construção e destruição, em meio a processos econômicos complexos. Assim, ainda sob a perspectiva deste autor, o ambiente construído envolve um vasto sistema de recursos criados pelo homem, compreendendo valores de uso incrustados no meio físico e que podem ser utilizados para produção, troca e consumo. Em cada cidade se materializa um sistema espacial complexo, que compreende uma montagem interdependente de áreas funcionais. Estas áreas ou estruturas podem ser analisadas de formas distintas, como: a) estrutura de produção, referente à parte do ambiente construído onde ocorre a maior parte do processo de produção e envolve indústrias, o comércio, serviços e empresas públicas; b) estrutura de reprodução, no qual ocorre principalmente a reprodução biológica, social e cultural das pessoas e classes sociais, representado em grande parte pelas residências, mas também por escolas, serviços médicos e locais de lazer, atividades sociais e políticas; e 21 c) estrutura de circulação que é a parte do ambiente construído que permite a circulação física de pessoas e mercadorias. Esta separação é artificial, segundo Vasconcelos (2001), pois na prática estas estruturas são inter-relacionadas, já que parte da produção pode ser doméstica e a reprodução pode ocorrer no local de trabalho, por exemplo. Porém, a separação permite ampliar a análise sobre a dinâmica do espaço. Nesse sentido, entende-se que a dinamicidade do espaço é inerente à dinâmica da sociedade, visto que esta produz seu próprio espaço de acordo com sua realidade. Santos (1978) afirma que a dinâmica do espaço, antes de tudo, lhe tende a reproduzir a estrutura que lhe deu origem, ao mesmo tempo em que essa reprodução social é imposta como uma mediação indispensável que às vezes altera o objetivo inicial ou lhe imprime uma orientação particular. Esta perspectiva é reforçada por Assunção e Araújo (2008), as quais consideram que o espaço urbano como produto social caracteriza-se por suas transformações constantes em seu interior refletindo as peculiaridades da sociedade que o habita em determinado momento histórico. Ao discutir sob a égide da lógica capitalista, por exemplo, estas autoras consideram que o espaço urbano caracteriza-se como produto social em constante transformação, refletindo as características da sociedade capitalista, onde predomina o acesso desigual ao espaço, a segregação socioespacial, o conflito de interesses por parte dos agentes sociais. E que este é produtor e ao mesmo tempo produto das relações capitalistas de produção. Estas características diretamente ligadas ao espaço urbano, como discutido neste trabalho, se refletem no processo de urbanização. É por meio das características do espaço urbano que Rolnik (2004) considera que a cidade conta sua própria história, por meio de sua natureza fabricada proveniente, em grande parte de sua arquitetura, que consolida suas peculiaridades, tornando a cidade como um registro ou materialização de sua própria existência. Portanto, a cidade pode ser compreendida como um espaço construído pelas relações estabelecidas econômica, social e politicamente dentro do seu próprio ambiente. E, são estas relações, materializadas na própria estrutura da cidade, que configuram o espaço urbano. 22 2.1.3 A mobilidade urbana A mobilidade urbana assume características resultantes desta produção do espaço. Villaça (2001) considera que o homem na época medieval tinha a sua residência como o seu local de trabalho, entretanto com a evolução da sociedade capitalista houve a fragmentação das atividades econômicas e a mercantilização de serviços que antes eram considerados domésticos, como alimentação, costura, entre outros, que passaram a ser vistos como produtos. Com isso a cidade capitalista foi fragmentada em áreas: industrial, comercial e residencial. Esta fragmentação, como descrita por este autor, com o deslocamento, muitas vezes, dos trabalhadores para a periferia, reforça a necessidade dos deslocamentos pela cidade. Segundo Carlos (2007), o acesso ao espaço na cidade se torna, portanto, submetido ao mercado, onde a propriedade privada do solo urbano surge como condição do desenvolvimento do capitalismo. A propriedade privada está diretamente relacionada à divisão e parcelamento da cidade, e à profunda desigualdade do processo de produção do espaço urbano, o que se percebe claramente na vida cotidiana. A consequência desta disputa de espaço é o aumento das distâncias que recai sobre os usuários da cidade, ou seja, os cidadãos, que precisam deslocar-se de suas moradias para realizar suas atividades cotidianas, seja, o trabalho, a escola, compras ou lazer. E, com o aumento das distâncias, tem-se a inviabilidade do deslocamento a pé, gerando a necessidade do uso de equipamentos de transporte, coletivos ou individuais. Entre as várias possibilidades de equipamentos de transportes existentes, do mais simples e individual ao mais complexo e de uso coletivo, Almeida (2008) considera que existam várias possibilidades, entretanto, o autor afirma que a opção entre eles vai depender de vários fatores: distância a percorrer, tempo disponível, conforto desejado e disponibilidade de recurso para se adquirir o equipamento adequado. Em sua análise sobre estes fatores que influenciam a escolha do transporte, este mesmo autor considera que a escolha é definida, muitas vezes, somente pela questão tempo, uma vez que os demais fatores como distância, conforto, disponibilidade de recurso e equipamento se tornam variáveis fixas, tornando a redução de tempo de percurso como única solução a ser viabilizada. 23 Nesta perspectiva, Villaça (2001) considera que a cidade é produzida a partir da disputa entre o controle do tempo e o custo de transporte. Na disputa do que na cidade torna-se “perto” ou “longe”, o perto se transforma em fator determinante na produção do ambiente. O autor considera ainda, que esta relação entre perto e longe é resultado da adequação do sistema de transporte, da disponibilidade de transporte entre as camadas sociais, bem como, da distribuição das classes e dos serviços na sociedade. O processo de urbanização no Brasil torna esta análise da condição de circulação na cidade mais evidente, já que este processo foi caracterizado por um crescimento acelerado da população urbana vinculado a um modelo de expansão rarefeita e de baixa densidade, um espraiamento urbano (SILVA C., 2010). Esta característica gerou grandes distâncias de deslocamento na cidade que, quando não supridas por serviços de transporte de qualidade, no que se refere à tarifa, oferta e conforto, condicionam o deslocamento ao uso do automóvel, tornando as vias urbanas, cada vez mais preparadas para receber este tipo de modalidade em detrimentos a outras. Desta forma, o entendimento sobre perto e longe, relacionados, principalmente, ao tempo de viagem entre “origem” e “destino”, são conceitos que ultrapassam a questão meramente espacial na cidade. A estes termos são incluídos a perspectiva de condição de deslocamento e tempo, ou seja, de que forma e qual tempo gasto para desenvolver um percurso pela cidade. Seguindo esta compreensão, os percursos refletem o padrão de mobilidade em uma cidade, pois podem ser entendidos como as rotas utilizadas nos deslocamentos das pessoas na cidade, por intermédio de espaços livres que formam trajetórias, ou seja, os percursos são caminhos utilizados pelas pessoas (pedestres, ciclistas e usuários de automóveis) nos seus deslocamentos cotidianos pelas cidades (SILVEIRA, 2007). A cada forma ou modalidade de transporte (ônibus, veículo de passeio, a pé, bicicleta) utilizada para desempenhar um percurso na cidade o usuário deve enfrentar e ultrapassar desafios que a cidade impõe para alcançar seu objetivo final (destino), como dificuldade de fluidez de veículos, infraestrutura urbana inadequada, ausência de vias específicas a determinados usuários como pedestres e ciclistas, entre outros exemplos. Estes desafios são reflexos, portanto, de todo este processo 24 histórico e político de desenvolvimento urbano da cidade, que, em geral, nas grandes cidades, são marcados por ocupações territoriais sem planejamento. Diante disso, entende-se que ocupação desordenada das cidades e o número crescente de veículos, impulsionados, entre outras coisas, pela relativização do tempo e espaço na cidade, são fatores fundamentais na consolidação da crise generalizada da mobilidade urbana, que resulta na limitação da acessibilidade (SILVA C., 2010). E no centro desta situação está o cidadão que necessita fazer uso do espaço da cidade para realização de suas atividades, entretanto, o desempenho satisfatório desta atividade é resultante da relação entre as condições de funcionalidade e capacidade de cada usuário com o ambiente onde circula. 2.2 A CIDADE E O AMBIENTE DE CIRCULAÇÃO Para desenvolver o entendimento de ambiente de circulação, Vasconcelos (2001) perpassa sua discussão sobre a perspectiva da estrutura de circulação. O autor considera que esta estrutura de circulação refere-se a um espaço mediador entre outras duas estruturas: a estrutura de produção e a estrutura de reprodução. A estrutura de circulação refere-se, portanto, à parte do ambiente construído que permite a circulação física de pessoas e mercadorias: vias públicas, calçadas, vias férreas e terminais de passageiros e cargas. A estrutura de circulação é o suporte físico onde ocorre os deslocamentos, seja a pé ou utilizando qualquer outro equipamento de transporte, que o autor denomina como meios de circulação. Vasconcelos (2001) afirma que da combinação entre a estrutura e os meios é formado o sistema de circulação, entendendo-se que é o que liga fisicamente todas as atividades que ocorrem no ambiente físico, no qual estas atividades se processam. Desta forma, tem-se que a combinação entre o sistema de circulação e o ambiente construído constitui o ambiente de circulação (Figura 1). Esta forma de pensar sobre o ambiente em que a mobilidade se desenvolve na cidade será adotada neste trabalho como base para formação do arcabouço teórico que irá fundamentar a elaboração do modelo de avaliação da percepção. Portanto, o ambiente de circulação será considerado como todo o sistema viário e os elementos que o compõem, acrescido das construções responsáveis pelas 25 atividades desenvolvias ao longo da via, o mobiliário urbano e de tráfego e, ainda, as condições ambientais, incluindo, iluminação, clima, qualidade do ar, etc. Figura 01 - Estrutura, meios, sistema e ambiente de circulação. Estrutura de circulação (vias, calçadas, terminais) Sistema de circulação Meios de circulação (corpo, veículos) Ambiente de circulação Ambiente construído (construções, atividades) Fonte: Vasconcelos (2001). 2.2.1 Estrutura de circulação: vias públicas e calçadas Nas grandes cidades o palco da mobilidade são as vias públicas, onde circulam pessoas a pé (calçadas) ou utilizam veículos (pista de rolamento). No sistema viário, que ocupa cerca de 20% da área, ocorrem, praticamente, todos os deslocamentos (PIRES; VASCONCELOS; SILVA, 1997). As cidades são constituídas por espaços funcionais e de circulação que estão em contínua transformação e crescimento. As modificações ocorridas no meio urbano implicam, entre outros aspectos, na ocupação de novos espaços ou na renovação de ocupações tradicionais. O desenho dos elementos da via tem grande responsabilidade sobre o desempenho operacional das diferentes modalidades de transportes no sistema viário, podendo vir a estimular ou restringir a circulação cotidiana, principalmente, de portadores de necessidades especiais, pedestres e ciclistas, pois referem-se aos grupos mais vulneráveis do sistema. A influência do desenho é destacada por Gondim (et al, 2003), pois transparece tanto nas condições de segurança, de conforto, de atratividade, quanto no desempenho das atividades econômicas, podendo ditar a valorização ou desvalorização dos lotes e edificações. Estes autores consideram, ainda que, o sistema viário é composto de uma ou mais redes de circulação, de acordo com o 26 tipo de espaço urbano (para receber veículos automotores, bicicletas, pedestres, entre outros). As vias de circulação urbana podem ser compreendidas como uma composição de dois elementos básicos, quais sejam: calçada e caixa carroçável. A calçada possui uma faixa útil para circulação de pedestres (ou passeio), que deve guardar uma determinada distância dos elementos circundantes, como meio-fio, paredes das edificações, muros, vitrines, árvores e mobiliário urbano (postes, quiosques, bancos, jardins, entre outros). A caixa carroçável corresponde a toda infraestrutura da via para veículos, que inclui: pista de rolamento, canteiro central, ciclovia e estacionamento. Em resumo, os projetos de vias urbanas podem conter cinco espaços construtivos ou elementos básicos: calçada, ciclovia, acostamento, pista de rolamento e canteiro central, os quais são priorizados conforme a importância dedicada ao usuário específico seja ele pedestre, ciclista, passageiro de transporte coletivo ou usuário do carro particular. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), Lei no 9.503/1997, no Anexo I, define “Via como sendo a superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro central”. Estas vias compõem o sistema viário da cidade. Na discussão sobre o sistema viário traçada por Puppi (1988 apud ZMITROWICZ; NETO, 1997) considera-se que o sistema viário urbano deve se amoldar à configuração topográfica a ser delineada tendo-se em vista: • os deslocamentos fáceis e rápidos, obtidos com percursos os mais diretos possíveis, entre os locais de habitação e os de trabalho e de recreação, e com comunicações imediatas do centro com os bairros e destes entre si; • a propiciação das melhores condições técnicas e econômicas para a implantação dos equipamentos necessários aos outros subsistemas de infraestrutura urbana; • a constituição racional dos quarteirões, praças e logradouros públicos; • a conjugação sem conflitos ou interferências antifuncionais da circulação interna com a do subsistema viário regional e interurbano; e 27 • a limitação da superfície viária e seu desenvolvimento restrito ao mínimo realmente necessário, em ordem a se prevenir trechos supérfluos e se evitarem cruzamentos arteriais excessivos ou muito próximos. Além disso, as vias, que constituem o subsistema viário, deverão conter as redes e equipamentos de infraestrutura que compõem seus demais subsistemas, em menor ou maior escala. Complementa este sistema o subsistema de drenagem de águas pluviais, que assegura ao viário o seu uso sob quaisquer condições climáticas. O CTB classifica as vias urbanas abertas à circulação, ainda, de acordo com a utilização (artigo 60) em vias de trânsito rápido, arterial, coletora e local. Esta classificação reflete a uma estrutura hierárquica da via. A via de trânsito rápido ou expressa é caracterizada por acessos especiais com trânsito livre, sem interseções em nível, sem acessibilidade direta aos lotes lindeiros e sem travessia de pedestres em nível; normalmente, com dois sentidos de tráfego, cujas pistas estão separadas por canteiro central e seus acessos controlados por faixas laterais paralelas ou por rampas de interconexão viária. Elas atendem, majoritariamente, ao tráfego de longo curso e de passagem e, portanto, são inadequadas para o estacionamento ao longo da pista e o tráfego de veículos não motorizado (GONDIM et al., 2003). A via arterial é caracterizada por interseções em nível, geralmente controlada por semáforo, com acessibilidade aos lotes lindeiros e às vias secundárias e locais, possibilitando o trânsito entre as regiões da cidade (CTB, 1997). A coletora se caracteriza por coletar e distribuir o trânsito que tenha necessidade de entrar ou sair das vias de trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o trânsito dentro das regiões da cidade. Gondim et al (2003) considera que as vias coletoras de uso comercial atraem considerável número de pedestres, ciclistas e usuários de veículos motorizados, aumentando o potencial de conflitos e, portanto, necessitando de calçadas confortáveis e de infraestrutura para bicicletas. A via local, caracterizada por interseções em nível não semaforizadas, destinada apenas ao acesso local ou a áreas restritas. Porém, com o crescimento das cidades as vias podem sofrer sobrecarga de pessoas e serviços gerando conflitos entre os usuários, repercutindo no padrão de viagens e deslocamento de cada pessoa. Os critérios utilizados para a implementação da classificação funcional das vias, segundo Silva P. (2001), dizem respeito principalmente ao papel que as mesmas desempenham dentro do quadro geral das ligações que o sistema viário 28 propicia. A figura 2 ilustra representações esquemáticas do sistema viário urbano hierarquizado. Figura 02 - Sistema viário hierarquizado em área urbana: vias arterial, coletora e local. via arterial via coletora área comercial área pública via local Fonte: American Association of State Highway and Transportation Officials - AASHTO (2000 apud Silva P., 2001). Assim, Silva P. (2001) considera que, nos meios urbanos, os sistemas arteriais são responsáveis pelas ligações entre os principais centros de atividade da cidade; em geral as vias arteriais são, em boa parte, prolongamentos das ligações interurbanas oferecidas pelas vias rurais. As vias locais são responsáveis pelas ligações capilares, ou seja, aquelas que dão acesso aos lotes. Os sistemas coletores são responsáveis pela transição entre os outros dois, cabendo-lhes cumprir, eventual e localizadamente, funções de ligação ou de acesso. Este mesmo autor afirma que no Brasil ainda é pequena a iniciativa dos órgãos responsáveis de implementar a hierarquização dos sistemas viários. Assim, veem-se situações em que uma determinada via, com vocação claramente local, serve de ligação entre polos de atração de viagens de grande porte, com evidentes danos principalmente à qualidade da população que habita nos seus arredores. 29 2.2.2 Modos de circulação Os meios de circulação serão compreendidos, neste trabalho, com a mesma perspectiva de modo de transporte, segundo Tobias (2009, p. 41): “o conceito de transporte está ligado ao deslocamento de pessoas e mercadorias em um espaço físico e temporal, a maneira ou modo como isso ocorre”. Os modos de transporte fazem referência à maneira como o transporte é realizado. Existem vários modos utilizados na área urbana: a pé, de bicicleta, em motocicleta, de carro, de ônibus, de trem, de bonde, entre outros. Estes modos podem ser classificados de diversas maneiras e, segundo Ferraz e Torres (2001) duas características são determinantes: quanto à origem do esforço e quanto à propriedade do veículo (liberdade de uso e capacidade). No que diz respeito à origem do esforço utilizado no deslocamento, esses autores classificam como modos de transportes motorizados e não motorizados. Os não motorizados referem-se a todos os modos em que o esforço para movimento é realizado por homem ou animal. Nos motorizados a fonte de energia que produz o deslocamento não é proveniente de origem animal ou humana, e sim de energia mecânica produzida, em geral, por um motor. Em relação à propriedade do veículo, liberdade de uso e capacidade, os modos são classificados como: privado ou individual; público, coletivo ou de massa; e semipúblico. O privado ou individual são os modos em que o veículo pertence, mesmo que temporariamente, a quem o utiliza, há flexibilidade de escolha de rota e horário, porém o número de passageiros é pequeno, com deslocamento, em geral, porta a porta, como exemplos tem-se: a pé, bicicleta, carro, motocicleta, etc. O modo público, coletivo ou de massa é caracterizado pelo uso simultâneo por muitas pessoas, o veículo pertence a uma empresa ou pessoa, não há flexibilidade de uso em relação a itinerário e horário, pois são fixos, há a necessidade de complementar o percurso com outros modos. São exemplos, ônibus metrô, trem subterrâneo, etc. Os semipúblicos possuem características intermediárias entre os anteriores, por exemplo: táxi, lotação, ônibus fretado, etc. Como parte integrante do ambiente de circulação, mais especificamente do sistema de circulação, o usuário é o foco principal deste trabalho, uma vez que se busca identificar qual a percepção que este possui do ambiente em que está inserido. São usuários dos sistemas de tráfego os ocupantes dos veículos, guiando- 30 os ou não, ciclistas, motociclistas, motoristas de carros de passeio, coletivos e caminhões e os pedestres, principalmente. Os movimentos de pedestres correspondem à grande parte dos deslocamentos urbanos. Eles são maioria nas cidades pequenas e mesmo nas metrópoles são responsáveis por cerca de um terço das viagens. Os pedestres são muito vulneráveis no trânsito e, no caso brasileiro, correspondem a 60% a 80% das mortes (em grandes cidades). Nos bairros periféricos, os pedestres percorrem longas distâncias para chegar à rede de transporte coletivo ou aos equipamentos públicos como escolas, postos de saúde, bancos. Os pedestres são os elementos mais frágeis do sistema de trânsito e que representam um papel em que todos os habitantes de uma comunidade o exercem em um momento ou outro (CUCCI NETO, 1996). No Brasil, a taxa de mortalidade por atropelamento, segundo as informações do Ministério da Saúde, é de aproximadamente 5,6 óbitos por 100 mil habitantes (2003), nível quase três vezes maior que o de países como Estados Unidos, Inglaterra e Canadá. A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT define pedestre como “toda a pessoa que anda a pé que esteja utilizando-se de vias terrestres ou aéreas abertas ao público, desde que não esteja em veículo a motor, trem, bonde, transporte animal ou outro veículo, ou sobre bicicleta ou animal”. O homem é o maior responsável pelos acidentes de trânsito, portanto, é o mais importante entre as três variáveis do sistema: usuário, veículo, via. É também a variável mais complexa e a que oferece maiores dificuldades de intervenções em termos de segurança viária. As ações contidas no clássico tripé formado pela Engenharia, Educação e Fiscalização podem influir consideravelmente no comportamento do homem (ROZESTRATEN, 2005). A engenharia através do desenvolvimento de projetos que proporcionem viagens mais seguras, confortáveis, rápidas e econômicas. A educação pode contribuir para o desenvolvimento do sentido de segurança viária através do ensino das normas e condutas corretas aos usuários do sistema de trânsito e do constante reforço a essas atitudes. As ações da fiscalização modificam o comportamento do homem, a partir do momento que impõem penalidades ao não cumprimento da legislação vigente. Neste sentido, não há como pensar num trânsito organizado sem uma fiscalização eficiente, que inclui não somente os agentes que executam esse papel, 31 mas também os equipamentos eletrônicos que, contribuem para a redução do excesso de velocidade nas ruas das cidades brasileiras. Da mesma maneira, não há como pensar em educação e fiscalização sem compreender a importância do planejamento, implementação e conservação das soluções de engenharia, que sejam robustas para dimensionar os fluxos de veículos, tanto quanto as necessidades humanas e ambientais, e flexíveis para adaptar-se às constantes mudanças no organismo vivo das grandes cidades. A educação, dentro desse conjunto, cumpre papel integrador, levando aos usuários, de todas as idades, a inteligência de gestão e fiscalização, a serviço da coletividade. Deve ser capaz de traduzir em múltiplas linguagens as razões desse serviço, para públicos de todas as idades e potenciais multiplicadores, para que motoristas e pedestres compreendam a importância da fiscalização e da engenharia. E deve ser capaz de mobilizar nos cidadãos a consciência dos riscos e responsabilidades, além dos procedimentos básicos de segurança como condutores e como pedestres. Deve-se ressaltar que essas três ações, segundo Cucci Neto (1996) devem ser aplicadas continuamente ao sistema para surtirem efeito no comportamento do homem. Ações isoladas na área de educação, como campanhas esporádicas ou ausência de fiscalização efetiva e de intervenções de engenharia não surtem efeitos em relação à segurança e nada acrescentam em termos de alteração de comportamento. Entretanto, as três ações comentadas não são os únicos fatores a interferirem no comportamento do homem no trânsito. Existem certas condições nas quais não é possível ao engenheiro de tráfego interferir nem em longo prazo, como distúrbios na saúde (que podem gerar acidentes no trânsito), personalidade (agressividade) e crises sociais, por exemplo. Em uma análise sobre os usuários do sistema de tráfego Silva P. (2001) considera que este pode ser analisado como um sistema que, recebendo uma entrada, processa-a e produz uma saída, como o autor ilustra na Figura 3. Para este autor, neste caso, a entrada seriam os estímulos sofridos pelos usuários, a saída seriam as reações correspondentes e ainda se insere na análise o tempo decorrido entre a ocorrência do estímulo e a reação do usuário, a qual é composta de quatro parcelas, conhecido como PIEV, do inglês: Perception (Percepção), Identification (Identificação), Emotion (Decisão) e Volition (Ação). 32 Figura 03 - Diagrama de um sistema. entrada λ saída Fonte: Silva P. (2001). Nesta perspectiva, o PIEV torna-se um fator fundamental para um bom desempenho dos usuários dentro do sistema de tráfego, ou do ambiente de circulação como um todo. O ideal é que seja reduzido o tempo de PIEV do usuário, ou seja, o tempo gasto entre receber e reagir a um estímulo no trânsito e, paralelamente a isso, deve-se maximizar o tempo disponível para sua reação, o que favorece uma reação ou comportamento mais adequado a cada situação. Em outra perspectiva, desta vez descrita por Rozestraten (1988), a autora considera que, para que se produzam comportamentos adequados no trânsito, são necessárias pelo menos três condições: a) a presença de estímulos que possam ser observados e percebidos, onde se entende que quanto mais clara e menos ambígua a situação ou estímulo, melhor poderá ser a adaptação comportamental em relação a ela; b) um organismo em condições de perceber e de reagir adequadamente aos estímulos percebidos, neste caso refere-se à presença de deficiências mentais ou motoras que prejudiquem uma reação ao estímulo; c) uma aprendizagem prévia dos sinais e das normas que devem ser seguidos, utilizados como referência por este organismo para adequar seu comportamento dentro do sistema em que está inserido. Não obstante o entendimento de que estas três condições são fatores que influenciam no comportamento do usuário do ambiente de circulação, para efeito desta pesquisa existem fatores implícitos nessas condições que, para que sejam atendidos, estão ligados à funcionalidade, capacidade e saúde do ser humano. Ou seja, as condições podem ser suficientemente atendidas se houver um organismo em condições de perceber e reagir adequadamente aos estímulos do ambiente de trânsito. 33 Diante disso, foi estabelecida a proposta deste trabalho, que é a avaliação da percepção do indivíduo sobre o ambiente de circulação onde vive e que é afetada pelas suas condições humanas de saúde tais como grau de motricidade, de visão, de audição, aspectos que reconhecidamente são influenciados pela idade ou gênero, por exemplo. 2.3 O PROCESSO DE PERCEPÇÃO A percepção tem papel importante na compreensão da relação do ser humano com o ambiente em que vive. A discussão sobre percepção não é recente, Barber e Legge (1976) definiram percepção como o “processo de recepção, seleção, aquisição, transformação e organização das informações fornecidas através de nossos sentidos”. Considerado como um dos principais temas da psicologia científica, o estudo da percepção norteou diversas escolas de psicologia como a dos introspeccionistas, dos funcionalistas e dos gestaltistas, devido sua vasta abrangência, já que, segundo Simões e Tiedemann (1985), sempre há estímulos externos e internos responsáveis pelos comportamentos dos organismos. Estes autores consideram que a percepção é a porta de entrada para toda a informação que a pessoa recebe e processa, o que por si só, já justificaria o seu estudo, mas, além disso, é também uma janela para observação dos pesquisadores, pois através dela o pesquisador pode vislumbrar o funcionamento do cérebro e conjecturar sobre os processos mentais. Na discussão sobre o processo da percepção Tobias (2009), ao citar Karsaklian (2000), considera que para que seja desencadeado é necessário que ocorra a exposição a uma informação ou a um objeto, a atenção sobre ele e a decodificação do mesmo. Este processo contribui para que a percepção possua as seguintes características: a) subjetiva: a maneira própria como a pessoa percebe, se apropria da informação ou do objeto percebido e lhe atribui um significado de realidade, chamado de viés perceptual; b) seletiva: capacidade de selecionar, diante de uma série de informações e objetos, somente um grupo deles, abandonando um grupo que, naquele momento não 34 corresponde ao centro de interesse e, também, aquele grupo que exige concentração em demasia; c) simplificadora: esta característica é identificada diante da incapacidade da pessoa perceber todas as informações e objetos, a partir de um nível de complexidade, que é rapidamente atingido, somente a repetição da exposição à informação propicia que seja gravada; d) limitada no tempo: refere-se à característica da percepção relacionada com o tempo em que uma informação ou objeto é conservado no cérebro, pois a capacidade do cérebro é bastante restrita, a menos que nesse período ocorra o processo de memorização; e) cumulativa: a soma de diversas percepções ocasiona uma impressão do que é visto. Assim, para que ocorra o processo de percepção, o que é visto precisa gerar o interesse de quem percebe e ter um valor cognitivo. Como não são percebidos todos os estímulos do ambiente simultaneamente pela mesma pessoa, quem percebe seleciona aspectos do meio ambiente e integra a diversas percepções da informação ou objeto, resultado em uma estrutura cognitiva. Portanto, a percepção pode ser compreendida como o resultado dos estímulos recebidos através dos sentidos e decodificados pelo sistema nervoso. Esse processo pode ser composto de duas fases distintas: a sensação e a interpretação (SERRANO, 2000 apud TOBIAS, 2009). A sensação é um mecanismo fisiológico em que os órgãos sensoriais registram estímulos externos, a partir dos quais gera uma resposta direta e imediata dos órgãos sensoriais a um estímulo básico como a luz, a cor, o som ou o tato, variando a sensibilidade ao estímulo de acordo com a qualidade sensorial dos órgãos receptores e a quantidade e intensidade de estímulos, aos quais as pessoas estão expostas. Neste sentido, Karsaklian (2000) considera que os estímulos são determinantes da percepção, possuindo as seguintes características: a) intensidade: seleciona-se, geralmente, os estímulos mais fortes; b) tamanho: os estímulos maiores são melhor observáveis; c) forma: há uma tendência a se observar os estímulos com forma e contornos definidos; d) cor: os estímulos mais coloridos estimulam mais a atenção; e) mobilidade: os estímulos mais móveis são mais atrativos; 35 f) contraste: a sensação é por natureza diferencial; ou seja, aquilo que se distingue do geral, nos desvios e irregularidades, possui maior tendência a ser observado; g) localização: a ordem de exposição ao estímulo pode influenciar na capacidade de ser percebido, pois há uma tendência dos primeiros estímulos de serem mais observados, dentro de um grupo de informações e objetos expostos em determinado momento; h) Insólito: o estímulo que se diferencia dos demais do seu grupo por sua natureza, cor, tamanho ou qualquer outra característica fora do comum, provoca uma situação de escolha mais favorável. É a partir das sensações que surge a fase da percepção que permite a organização dos estímulos percebidos, dando-lhes significado: a interpretação. Temse, portanto, uma combinação entre sensação e interpretação, que proporciona a quem percebe o contato com o mundo (TOBIAS, 2009). A compreensão de interpretação está no pressuposto de que as sensações são acompanhadas de significados e experiência passadas, o que leva ao entendimento do mundo exterior. Na interpretação das situações o estado psicológico é fator preponderante da percepção. Os estados psicológicos que influenciam na percepção são, sobretudo, as experiências passadas e as emoções (FARIA, 1985). As experiências vivenciadas agem no estado motivador das pessoas como uma força interna que gera ações ou atitudes. Assim, a percepção de um objeto como um todo unitário e não apenas como uma coleção de estímulos, também, é atribuída a um resultado de aprendizagem e a tendências inatas de organização perceptiva (interpretação de sensações). Portanto, as pessoas não se limitam apenas a selecionar estímulos aos quais estão expostas, mas elas os organizam e os interpretam. É a partir desta organização e interpretação, gerada pela percepção dos estímulos, que as pessoas definem suas atitudes e comportamentos, os quais, no contexto da cidade, se tornaram foco deste estudo sobre a avaliação do ambiente de circulação. 2.3.1 Avaliação do ambiente de circulação a partir da percepção do usuário Nas discussões traçadas para fundamentar este trabalho, o estudo da percepção assume importância, pois permite compreender, um tema de repercussão coletiva, que é o ambiente de circulação urbana, a partir do olhar individual, pois, 36 como afirma Macedo (2000), cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente às ações sobre o ambiente em que vive e as repostas decorrentes destas ações são consequências das percepções (individuais e coletivas), dos processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada pessoa. Por este motivo, o estudo da percepção acabou por ultrapassar os limites da psicologia alcançando áreas como a arquitetura e a geografia (MARIN, 2008). Esta autora apresenta dados que mostram que em levantamentos sobre grupos de estudos sobre percepção ambiental no período de 1997 a 2001, 64% se identificam como da área da psicologia, 18% da arquitetura e urbanismo e o restante de outras áreas (PINHEIRO, 2005 apud MARIN, 2008). A discussão sobre este tema em outras áreas além da psicologia é reforçado por Rio e Oliveira (1996) ao afirmarem que, com estudos relacionados à percepção é possível desenvolver uma melhor compreensão sobre as inter-relações entre o homem e o meio ambiente, suas expectativas, julgamentos e condutas. Para estes autores, a população de uma cidade assume uma percepção sobre este espaço, por sentir diretamente os impactos da qualidade ambiental durante seu uso cotidiano. E esta percepção pode explicar o comportamento da população em relação à cidade. A apreensão da realidade se dá por meio dos cinco sentidos comuns (visão, audição, olfato, paladar e tato), como também por sentidos considerados especiais, como o sentido das formas, da harmonia, do equilíbrio, do espaço, do lugar. É importante a compreensão da topofilia, elo afetivo entre pessoa e o lugar, abordados na obra de Tuan (1980) como: percepções, atitudes e valores. O valor que se atribui ao ambiente vivido está diretamente relacionado com a solução de problemas de atendimento às necessidades. Nesse sentido, são considerados úteis os objetos que permitem dar satisfação às necessidades do homem. A valorização do espaço vivido dá-se na medida em que ele seja dotado de um significado pessoal e cumpra a função de abrigar e oferecer segurança e proteção. Com base em estudos de percepção ambiental, que admitem que os atributos do meio ambiente – natural ou construído – influenciam o processo perceptivo da população, particularmente o visual, acredita-se no reconhecimento de qualidades ambientais e a formação de imagens compartilhadas pela população (LYNCH, 1988 apud GERLOFF, 2000). 37 A perspectiva descrita por Mucelin e Bellini (2008), propõe uma tríade que constitui a percepção como entes interdependentes e indecomponíveis que permitem que se analise e caracteriza isoladamente cada um deles. Assim, em toda percepção existem elementos: percepto ou objeto, verdadeira coisa em si mesma, que independe daquilo que se possa pensar, devido a sua existência e insistência sobre os sentidos sem nada manifestar; o percipuum ou o modo como o percepto, captados pelos órgãos sensoriais, é imediatamente interpretado no julgamento de percepção; e o julgamento de percepção que corresponde a uma espécie de proposição a informar sobre aquilo que está sendo percebido. Dentro do contexto da cidade, Lynch (1999) menciona como essenciais as vias, os limites, os bairros, os pontos nodais e os marcos. Tais constituintes são, necessariamente, signos perceptíveis, pelos quais as imagens urbanas são engendradas individual e coletivamente. Quanto aos constituintes da cidade, este autor ressalta que os elementos móveis, em especial as pessoas e suas atividades, são tão importantes quantos os fragmentos ambientais que lhes são próprios, ou seja, as partes físicas estacionárias. Não obstante todas estas perspectivas, Tuan (1980) entende que o valor da percepção é fundamental quando se busca solução de determinadas agressões ambientais: percepção, atitudes e valores – a partir, primeiramente, da compreensão de si mesmo. Sem a autocompreensão não se pode esperar por soluções duradouras para os problemas ambientais que, fundamentalmente, são problemas humanos. Estes problemas humanos são resultantes, muitas das vezes, das atitudes ou comportamentos do ser humano frente à percepção que estabelece da cidade. Por este motivo as atitudes têm sido estudadas para explicar o comportamento social, tendo como resultado que as observações das atitudes podem contribuir para a previsão de comportamentos. Porém, Tobias (2009) ressalta que na relação atitude versus comportamento nem sempre se verifica coerência. Pois se deve considerar que o comportamento humano não é só determinando pelo que as pessoas gostariam de fazer, mas também pelo que elas deveriam e poderiam fazer. A autora considera ainda que, após as informações ou objeto serem escolhidos, ou seja, percebidos, as atitudes formam-se de acordo ou desacordo com as situações, as quais são passíveis de mensuração. Neste sentido, diversas 38 técnicas são utilizadas para desenvolver avaliações de percepção, tendo em vista a análise do comportamento e atitudes dos usuários. Dentre estas técnicas, Brandalise (2005) destaca em seu estudo a Escala de Thurstone, Escalas de Diferencial Semântico, Escalas de Stapel, Modelo de Atitude em Relação ao Objeto, Escalas Likert, entre outras. Segundo esta autora, o conhecimento sobre as atitudes é determinante para o conhecimento do comportamento. É seguindo este entendimento que se trabalha o tema da percepção nesta pesquisa, uma vez que, como afirmam Silva L. e Egler (2002), o estudo da percepção pode revelar ideias e impressões que grupos possuem sobre algo, considerando que possuem necessidades, valores, interesses e expectativas. Assim, se trabalha a percepção dos usuários sobre o ambiente de circulação, levando em consideração a percepção que fazem sobre suas capacidades e dificuldades em realizar suas atividades. 2.3.2 Instrumentos legais de avaliação Diferentes instrumentos de avaliação são criados com a perspectiva de identificar problemas e apontar soluções relacionadas à cidade e desenvolvimento urbano, entretanto, todos estes instrumentos devem ter um referencial legal para direcionamento e acompanhamento das políticas públicas. Assim, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 182, ao atribuir aos municípios a responsabilidade na definição de suas políticas de desenvolvimento urbano, com a finalidade de ordenar o pleno incremento das funções sociais das cidades, a partir da implementação do chamado Plano Diretor, deu um passo importante para enfrentar este desafio (BRASIL, 1988). Em decorrência desta questão, surgiu o Estatuto das Cidades (Lei Federal no 10.257/2001), reforçando o papel do Plano Diretor como instrumento fundamental de planejamento sustentável das cidades. O grande objeto do Plano Diretor, segundo Moreira (2008) é construir cidades com uma qualidade urbana para todos, evitando a formação de assentamentos irregulares e informais. Expressa no seu contexto, variáveis como habitação, saneamento básico, transporte urbano, uso e ocupação do solo urbano, visando, sobretudo, a preservação da qualidade ambiental das cidades. 39 A Resolução no 34 de 1º de julho de 2005, do Conselho das Cidades, vinculado ao Ministério das Cidades, formula orientações e recomendações quanto ao conteúdo mínimo de Plano Diretor, a saber: as ações e medidas para assegurar o cumprimento das funções sociais da cidade, considerando o território rural e urbano, bem como, o cumprimento da função social da propriedade urbana, tanto privada como pública; os objetivos, temas prioritários e estratégias para o desenvolvimento da cidade e para a reorganização territorial do município, considerando sua adequação aos espaços territoriais adjacentes; e os instrumentos da política urbana, vinculando-os aos objetivos e estratégias estabelecidos no Plano Diretor. Por intermédio do Plano Diretor é que se define a função social da propriedade e da cidade, cujo alcance se concretizará pela intervenção pública na busca da redução de desigualdades, segregações e exclusões sociais, contribuindo decisivamente para a expansão da cidadania. Deve conter previsão expressa de implantação de sistema de planejamento baseado em mecanismos de gestão democrática, capazes de garantir a mais ampla participação da população na elaboração, fiscalização e avaliação da política urbana, permitindo a conquista da real cidadania e a defesa da qualidade de vida. Em relação ao ambiente de circulação, destaca-se como qualidade de vida, o direito do usuário em relação à mobilidade e à acessibilidade, como fator determinante. Limitar ou dificultar o livre deslocamento de pessoas dentro da cidade cerceia um direito fundamental do cidadão brasileiro, garantido no artigo 5° da Constituição Federal de 1988, inciso XV, no qual garante a livre locomoção no território nacional a qualquer pessoa, nos termos da lei, podendo nele entrar, permanecer ou dele sair (BRASIL, 1988). Portanto, todo cidadão brasileiro tem o direito de circulação no território nacional, o qual inclui todas as áreas de circulação comum, de pequenas vias de acesso a pedestres a estradas que perpassam por vários estados. Porém, este direito não é respeitado, a partir do momento que as vias públicas não permitem esta livre circulação, seja pela ausência de infraestrutura adequada de vias, ou simplesmente, pela ausência da via, gerando problemas na mobilidade urbana e acessibilidade. A base do direito à acessibilidade na Constituição de 1988 está, segundo Feijó (2009), no direito à igualdade, exposto na artigo 5°, que considera todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país, iguais perante a lei, sem distinção de 40 qualquer natureza, garantindo-lhes a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade privada. Este autor justifica que os direitos dos cidadãos são os mesmos, mas as condições para exercê-los não, por este motivo, atribui-se a importância de se aplicar o direito a igualdade aos demais direitos, como o da acessibilidade. O que se observa na realidade é que, além de um direito não ser respeitado quando o espaço urbano não favorece a acessibilidade dos seus usuários, este problema pode gerar impactos na saúde dos cidadãos. Assim, entende-se que um modelo de avaliação adequado às necessidades permitirá subsidiar estratégias e soluções que garantam, além de estrutura viária adequada, a defesa de direitos e garantia de saúde aos usuários. Neste sentido, identificar como estes usuários percebem o ambiente de circulação pode se tornar um instrumento eficiente na obtenção destas informações, uma vez que permite uma visão integrada do ambiente e usuário. 41 3 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, INCAPACIDADE E SAÚDE - CIF A Organização Mundial de Saúde (OMS), ao criar a CIF já previa a sua utilização para avaliação de projetos arquitetônicos, implementação de acessibilidade, entre outras ações. Entretanto, o número de trabalhos utilizando a CIF com este objetivo ainda são reduzidos. Para o desenvolvimento deste estudo será desenvolvida uma discussão que envolve a origem da CIF, os elementos que a compõem e as possibilidades de uso e aplicação. 3.1 A CIF COMO INSTRUMENTO DE ENTENDIMENTO DA SAÚDE Para Sabroza (2010), o conceito de saúde pode ser incluído dentre os considerados imprecisos que, não obstante, ser aplicado a categorias concretas e de relevância, não permite sua definição com objetividade. Porém, nem por isso deixa de ser utilizado, definido por elementos centrais que compõem seu entendimento. Esse autor considera, ainda, que os processos de saúde e doença são reconhecidos a partir de cada observador, como alteração celular, sofrimento ou problema de saúde pública e a seleção de uma destas perspectivas está relacionada tanto por questões metodológicas como pelas possibilidades de ações eficazes do observador e sua visão de mundo. Um passeio histórico por concepções e buscas por uma definição comum sobre saúde foi descrito por Scliar (2007). Este autor descreve como a definição de saúde pode ser influenciada pelos contextos e conjunturas históricas, bem como, pode influenciar as definições subsequentes. Até o ano de 1948 não havia um conceito universalmente aceito sobre saúde, somente após a Segunda Guerra Mundial com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e da OMS se reconheceu a saúde como direito e assumiu como dever do Estado promover e protegê-la. Para isso, a OMS divulgou o conceito que define a saúde como “o mais completo bem-estar físico, mental e social não apenas a ausência de enfermidade”. Esta definição, apesar de receber críticas sob a perspectiva de que a abrangência da definição tornaria a saúde como algo inatingível ou que permitiria abusos por parte do Estado, que utilizaria o pretexto de cuidar da saúde para interferir na vida das pessoas, ainda é defendida e utilizada como referência para o 42 desenvolvimento de políticas de saúde. Sabroza (2010) defende a utilização deste tipo de definição, ao considerar que a OMS, ao lançar mão deste conceito, não propõe um critério classificatório e sim uma direção, haja vista que, a imprecisão do conceito de saúde está mais vinculada a uma concepção de vir a ser, de objetivos a serem alcançados em um projeto de saúde, seja individualmente ou socialmente. Seguindo este princípio, a ações da OMS passaram a envolver o levantamento de questões sociais com o aparecimento de doença, substituindo o olhar especificamente para questões biológicas. Uma das funções da OMS é desenvolver classificações internacionais para aplicação em vários aspectos da saúde. Estas classificações possibilitam uma linguagem comum que facilita o sistema mundial de informação em saúde e estabelecem referências que codificam doenças, outros aspectos relacionados à saúde e intervenções na referida área, sendo uma ferramenta para pesquisas epidemiológicas, gerenciamento e tomada de decisões nos sistemas de saúde pelo mundo, com grandes contribuições para a saúde pública (MARTINS et al., 2010). Nas classificações internacionais da OMS, as condições de saúde (doenças, perturbações, lesões, etc.) são classificadas principalmente na CID (Classificação Internacional de Doenças). Desde sua primeira versão, em 1893, a CID foi a pioneira da família de classificações internacionais e passou por uma série de revisões, encontrando-se hoje na sua décima edição – CID10. Porém, apesar da sua importância e grande utilização, a OMS apontou que a classificação de doenças não é suficiente para se descreverem todos os aspectos relacionados à saúde. Buscava-se ainda identificar as consequências da doença na vida de cada pessoa. Para atender a esta demanda, a OMS lançou a Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens (CIDID) em 1980, em caráter experimental para propósitos de teste, na qual se incorporavam categorias que correspondiam às consequências duradouras das doenças (DI NUBILA; BUCHALLA, 2008). A CIDID foi adotada por serviços específicos, principalmente relacionados à reabilitação, e após uma revisão, em 1993, passou a ser conhecida como CIDID-2. O interesse despertado pela CIDID-2 foi respondido com a organização de grupos, Centros Colaboradores da OMS, em vários países da Europa e na América do Norte, e em 1996 a OMS coordenou a iniciativa de uma nova revisão. Fazia parte desse projeto a elaboração de versões que seriam testadas e avaliadas e que 43 gerariam novas versões até o momento que, após ter sido suficientemente testada, a classificação pudesse ser apresentada à Assembleia Mundial de Saúde. Apesar de ser um passo importante para a ampliação da forma como se entende e aplica a concepção de saúde, a CIDID apresentava fragilidades, segundo Farias e Buchalla (2005), como a falta de relação entre as dimensões que a compõem e a não abordagem dos aspectos sociais. Frente a isso, após ter sido testada em mais de 50 países, envolvendo um número superior a 1800 profissionais de saúde, a Assembleia Mundial de Saúde aprovou em 2001 a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Esta classificação é baseada numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes nos níveis corporais e sociais. Assim, trata-se de uma evolução do modelo biomédico, baseado em diagnósticos, para um que incorpora três dimensões: a biomédica, a psicológica e a social, onde cada nível age sobre e sofre a ação dos demais, sendo todos influenciados pelos fatores ambientais. O objetivo geral da CIF, segundo a OMS (2008), é proporcionar uma linguagem de forma unificada e padronizada, bem como, uma estrutura que descreva a saúde e os estados relacionados à saúde. Este instrumento propõe que a incapacidade funcional resulta não apenas de uma deficiência orgânica, mas de influência mútua entre a disfunção apresentada pelo indivíduo, limitação de suas atividades, restrição da participação social, em razão de fatores ambientais e pessoais, que interferem no seu desempenho em atividades da vida diária, podendo funcionar como barreiras ou facilitadores do estado funcional (MAIA; SOUSA; OLIVEIRA, 2011). Neste sentido, Mângia, Muramoto e Lancman (2008) reafirmam que a CIF substituiu a CIDID, alvo de muitas críticas por seu caráter biomédico e por ser prioritariamente focado nas limitações individuais como principal fator determinante da incapacidade. Buscando afastar-se deste modelo, a CIF propõe que a incapacidade seja considerada na interseção entre o corpo biológico e as estruturas sociais e institucionais. Estas autoras consideram que a CIF define a incapacidade/desabilidade como um fenômeno relacional por meio do qual as limitações funcionais de um déficit ou deficiência podem tornar-se incapacitantes devido a relações sociais mais amplas e atitudes. Diante disso, a CIF tem aplicação universal e pode ser utilizada como instrumento para identificar a saúde em uma perspectiva ampliada, não se referindo 44 unicamente a pessoas com incapacidades, uma vez que a preocupação internacional sobre os resultados de cuidados de saúde foi deslocada para avaliação da funcionalidade no nível do ser humano completo, na vida diária (OMS, 2002). 3.2 A ESTRUTURA DA CIF A CIF constitui-se em um modelo de funcionalidade e incapacidade e em um sistema de classificação. O modelo proposto codifica domínios relacionados ao corpo na sua perspectiva individual, coletiva e social por meio de lista de códigos para funções e estruturas do corpo, para atividades e participação individual e coletiva, além de incluir lista de códigos para fatores ambientais. Portanto, uma abordagem biopsicossocial é utilizada buscando uma integração das várias dimensões da saúde (biológica, individual e social) (LIMA et al., 2010). A CIF classifica a saúde e os estados relacionados com a saúde, organizando-os em duas partes: (1) Funcionalidade e Incapacidade e (2) Fatores Contextuais (OMS, 2003). No Quadro 1 é possível ter uma visão geral da CIF. A Funcionalidade e a Incapacidade incluem os componentes Funções e Estruturas do corpo e Atividades e Participação. O componente Corpo inclui duas classificações, uma para as funções dos sistemas orgânicos e outra para as estruturas do corpo (OMS, 2003). O componente Atividades e Participação cobre a faixa completa de domínios que indicam os aspectos da funcionalidade, tanto na perspectiva individual como social e descreve como o indivíduo exerce suas atividades diárias e se engaja na vida social, considerando as funções e estruturas do seu corpo. O conteúdo desse componente é organizado desde simples tarefas e ações até áreas mais complexas da vida, sendo incluídos itens referentes à aprendizagem e aplicação do conhecimento; tarefas e demandas gerais; comunicação, mobilidade, cuidados pessoais, atividades e situações da vida doméstica; relações e interações interpessoais; educação e trabalho; autossuficiência econômica; vida comunitária (FARIAS; BUCHALLA, 2005). 45 Quadro 01 - Elementos norteadores da CIF Componentes Domínios Parte 1: Funcionalidade e Incapacidade Funções e Atividades e Estruturas do corpo Participação Funções do corpo Estruturas do corpo Áreas da Vida (Tarefas ações) Mudanças nas funções do corpo (fisiológicas) Capacidade: Execução de tarefas em ambiente padrão Construtos Mudanças na estrutura do corpo (anatômicas) Aspecto positivo Aspecto negativo Desempenho: Execução de tarefas no ambiente habitual Integridade Atividades funcional e Participação estrutural Funcionalidade Limitação da atividade Deficiência Restrição de participação Incapacidade Parte 2: Fatores Contextuais Fatores ambientais Fatores Pessoais Influências externas sobre a funcionalidade e a incapacidade Influências internas sobre a funcionalidade e a incapacidade Impacto facilitador ou limitador das características do mundo físico, social e de atitude Impacto dos atributos de uma pessoa Facilitadores Não aplicável Barreiras/ Obstáculos Não aplicável Fonte: OMS (2008). Por sua vez, os Fatores Contextuais têm como componentes os fatores ambientais, ou fatores externos, que podem atuar como facilitadores ou barreiras e os fatores pessoais (internos ao indivíduo) (LIMA et al., 2010). O componente de Fatores Ambientais tem um impacto sobre todos os componentes da funcionalidade e da incapacidade e estão organizados de forma sequencial, do ambiente mais imediato do indivíduo até o ambiente geral. Constituem o "ambiente físico, social e de atitudes" em que as pessoas vivem e conduzem suas vidas, e inclui itens referentes a produtos e tecnologia; ambiente natural como clima, luz, som; apoios e relacionamentos como a família imediata, "cuidadores" e assistentes sociais; atitudes individuais e sociais; normas e ideologias; serviços, sistemas e políticas de previdência social, saúde, educação, trabalho, emprego, transportes, dentre outros (FARIA; BUCHALLA, 2005). Os Fatores Pessoais também são um componente dos Fatores Contextuais, mas eles não estão classificados na CIF devido à grande variação social e cultural associada aos mesmos (OMS, 2003). A Figura 4 ilustra as interações entre os componentes da CIF segundo a OMS (2008). Figura 04 - Interações entre os componentes da CIF 46 Condição de Saúde (distúrbio ou doença) Funções e Estruturas do corpo Fatores Ambientais Atividade Participação Fatores Pessoais Fonte: OMS (2008). Neste diagrama proposto pela OMS (2008), entende-se que a funcionalidade de um indivíduo em um domínio específico é uma interação ou relação complexa entre estado ou condição de saúde e fatores contextuais. Esta interação é dinâmica e as intervenções em um elemento interferem em um ou mais de outros elementos. 3.3 USO E APLICAÇÕES DA CIF Cada um dos componentes da classificação pode ser descrito em termos positivos ou negativos. Aspectos da saúde que não apresentam problemas (neutros) são agrupados sob o termo funcionalidade (estrutura e função corporal, atividade e participação), e os aspectos negativos (deficiência na estrutura e função corporal, limitação de atividade e restrição de participação), sob o termo “incapacidade”. Na utilização habitual da CIF, cada componente consiste de vários domínios, dentro dos quais existem categorias, que são utilizadas como unidades de classificação. A saúde e os estados relacionados à saúde de uma pessoa são registrados através da seleção do código ou códigos apropriados da categoria e do acréscimo de um qualificador, representado por códigos numéricos que especificam a magnitude da funcionalidade ou incapacidade naquela categoria, ou a extensão na qual um fator ambiental é facilitador ou barreira (OMS, 2002). Cada um desses domínios age e sofre a ação dos demais, sendo que essas interações são específicas, mas nem sempre ocorrem de forma previsível e linear, e a funcionalidade é resultante da interação entre a condição de saúde apresentada pelo indivíduo e os fatores do contexto (LIMA et al., 2010). Por conter uma série de ferramentas e permitir várias abordagens, a CIF pode ser usada em muitos setores que incluem a saúde, educação, previdência social, medicina do trabalho, 47 estatísticas e políticas públicas, sendo uma classificação utilizada em práticas clínicas, ensino e pesquisa (FARIAS; BUCHALLA, 2005). Dada a flexibilidade do seu enquadramento, o detalhe e abrangência das suas classificações e o fato de cada domínio estar operacionalmente definido, com inclusões e exclusões, espera-se que a CIF tenha uma miríade de utilizações com vista a responder a uma vasta gama de questões. Em relação às questões sociais, a CIF pode ser utilizada para avaliação do meio ambiente no que se refere ao desenho (design) universal, implementação das normas de acessibilidade, identificação de facilitadores e de barreiras ambientais e modificações operadas na política social (OMS, 2002). A OMS (2002) define que entre outros tipos de usos da CIF podem ser incluídos: o desenvolvimento de políticas, em análises econômicas, uso em pesquisas, em estudos de intervenção e em fatores ambientais. Para desenvolvimento de políticas a organização considera que vai além dos setores da saúde, caso envolvam o estado funcional das pessoas, em situações como seguridade social, emprego, educação e transporte, existe um importante papel que a CIF pode assumir. Isto sem falar que o desenvolvimento de políticas nestes setores requer dados populacionais válidos e confiáveis sobre o estado funcional. Nestes casos, a classificação pode ser adotada como um modelo único e coerente de um processo de criação de incapacidade, utilizado em definições legislativas e regulatórias de incapacidade que precisam ser consistentes e fundamentadas. Se for para a criação de critérios de elegibilidade para pensões por incapacidade, o desenvolvimento de regulações para o acesso à tecnologia assistiva ou a determinação de políticas de abrigo ou transporte que acomodem indivíduos com incapacidade intelectual, sensorial ou de mobilidade, a CIF pode fornecer uma estrutura para uma política social ampla e coerente relacionada à incapacidade. Em relação às Análises Econômicas a CIF pode ser utilizada para determinar se recursos são efetivamente usados nos cuidados de saúde e outros serviços sociais, que requer uma classificação consistente e padronizada de saúde e de resultados relacionados à saúde que podem ser custeados e comparados internacionalmente. É possível obter informações sobre a carga da incapacidade de várias doenças e estados de saúde. Para assegurar que a sociedade pode efetivamente prevenir limitações em atividades e restrições na participação, é necessário avaliar os custos do impacto econômico das limitações funcionais 48 quando comparado aos custos de modificar o ambiente físico e social. A CIF torna possíveis ambas as tarefas. Em pesquisas geralmente, a CIF auxilia na pesquisa científica por fornecer uma estrutura ou modelo para pesquisa em incapacidade e por produzir resultados de pesquisa comparáveis. Nestes casos, a necessidade é de uma classificação universalmente aplicável e instrumentos de avaliação, ambos para níveis de atividade e níveis gerais de participação, em áreas básicas e papéis da vida social. Os estudos de intervenção que comparem resultados de intervenções em populações semelhantes são de particular interesse em pesquisa. A CIF pode facilitar este tipo de pesquisa por distinguir claramente intervenções – e codificar resultados – à luz do aspecto de incapacidade a que a intervenção se dirige. Intervenções no nível do corpo ou de deficiências são primariamente médicas ou reabilitativas, e tentam prevenir ou melhorar limitações na pessoa ou no nível de funcionalidade social corrigindo ou modificando funções intrínsecas ou estruturas corporais. Outras estratégias de tratamento reabilitativo e intervenções são projetadas para aumentar os níveis de capacidade. Intervenções que estão focadas no contexto real de desempenho de um indivíduo podem ser direcionadas seja para a melhora da capacidade ou mesmo buscar modificação ambiental, seja por eliminar barreiras ambientais ou criar facilitadores ambientais para desempenho expandido de ações e tarefas na vida diária. Entretanto, apesar de todas estas possibilidades, a OMS (2002) considera que uma das principais inovações da CIF é a presença de uma classificação de fatores ambientais que permite a identificação de barreiras e de facilitadores do meio ambiente, tanto no que se refere à capacidade como ao desempenho de tarefas e de atividades na vida diária. Com este sistema de classificação, que pode ser utilizado tanto de forma individual como na obtenção de dados da população, é possível criar instrumentos que avaliam o meio ambiente em termos do seu nível de facilitação ou de criação de barreiras para diferentes tipos e níveis de incapacidade (OMS, 2002). Sendo assim, a utilização da CIF pode auxiliar a desenvolver e implementar diretrizes para o desenho universal e outros regulamentos relativos ao meio ambiente que otimizem os níveis de funcionalidade das pessoas com incapacidades nas diferentes atividades da vida diária (OMS, 2002). Portanto, esta fundamentação 49 configura a viabilidade desta pesquisa, pois se propõe a utilização dos elementos norteadores da CIF para subsidiar a elaboração de um instrumento que permita avaliar o ambiente de circulação a partir da percepção dos próprios usuários. 50 4 MODELO DE AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DO AMBIENTE DE CIRCULAÇÃO Diversos instrumentos e modelos de avaliação do ambiente de circulação já foram propostos e são utilizados no contexto da cidade, entretanto, durante a pesquisa constatou-se que estes instrumentos, em sua maioria, direcionavam para aspectos do ambiente urbano sem uma referência direta ao usuário, seja direcionado para a infraestrutura da via, a disponibilização do mobiliário, entre outros. 4.1 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE AMBIENTES DE CIRCULAÇÃO Para Alvim et al. (2006), no Brasil não se dispõem de metodologias consolidadas de avaliação, acompanhamento e controle na implementação de políticas públicas urbanas, e esta situação torna evidente a necessidade da construção de metodologias e de sistemas de indicadores para a análise da eficácia, eficiência e efetividade de planos e ações urbanísticas integrados a políticas públicas formuladas na instância do poder local, como no caso dos municípios. Processos de avaliação e acompanhamento sistemáticos de ações urbanísticas – estruturados em torno dos conceitos de eficácia, eficiência e efetividade, podem contribuir para a construção de ambientes urbanos mais equilibrados e justos. Em termos gerais, ainda sob a perspectiva de Alvim et al. (2006) avaliação é ato ou efeito de avaliar, implicando a atribuição de utilidade, de valores ou ambos. A ideia de análise vem de forma implícita na noção de avaliação, no qual se tem: decomposição em partes, exame minucioso, esquadrinhamento de um sujeito, objeto, relação ou processo. Bem como, traz implícita a ideia de atribuição de valor, e nesse sentido, as avaliações inscrevem-se no processo político-social no sentido de tomada de posição em relação a quais objetivos e a quais valores dos diferentes grupos sociais esses valores estão referidos. Um modelo de sistema de avaliação, além de incorporar a dimensão qualitativa da realidade, deve sustentar-se em um paradigma ambiental urbano que esteja articulado com as mudanças dos processos urbanos e a dimensão ambiental na perspectiva da sustentabilidade do desenvolvimento. 51 Existem diversos estudos para avaliação da qualidade dos serviços ofertados pelo sistema de transporte. A grande maioria desses estudos contempla o transporte motorizado. Porém, é possível destacar alguns métodos que podem ser utilizados para avaliação do ambiente de circulação, bem como para outros modos de transporte não motorizados, como pedestre e ciclístico. A metodologia de avaliação de espaços para pedestres criada por Ferreira e Sanches (1998) é composta por três etapas: a primeira consiste na avaliação técnica com base em indicadores de qualidade das calçadas, ao qual se atribui uma pontuação correspondente a cada nível de serviço; a segunda, da ponderação destes indicadores de acordo com a percepção dos usuários e, a terceira, é a avaliação final dos espaços considerando a pontuação obtida na avaliação técnica e avaliação dos usuários. O método desenvolvido por Sarkar (1995) é baseado na classificação dos diferentes tipos de separação entre pedestres e veículos, com base em seus atributos físicos, o que permite comparar o desempenho dessas separações em termos de segurança, equidade, conforto e conveniência para os diferentes usuários das vias. Em relação à segurança do pedestre, Sarkar descreve um método de avaliação composto por duas dimensões diferentes: a avaliação holística dos espaços para pedestres e problemas relativos à segurança advindos da interface dos pedestres com outros modos de transporte sobre as calçadas e interseções. O método divide-se em duas partes distintas: macronível e micronível. O macronível – utiliza um nível de serviço (NS), que varia de “A” até “F”, para avaliar o projeto e as condições das calçadas e interseções, com base na qualidade da separação entre modos. O micronível – utiliza um nível de qualidade do serviço (NQS), que varia de “A” até “F”, para avaliar o projeto e as condições das calçadas e interseções, baseado nos seguintes aspectos: proteção contra conflitos e existência de obstáculos na calçada; proteção contra conflitos e existência de obstruções nas interseções; projeto visual e psicológico para modificação do comportamento dos motoristas; eliminação das possibilidades de quedas e ferimentos dos pedestres e percepção da segurança social (seguridade). A metodologia de FRUIN (1971) propõe a utilização do conceito de Nível de Serviço (NS) baseado em fatores quantitativos e qualitativos, para avaliar projetos de espaços destinados aos pedestres. Para tanto, o procedimento adotado envolve o conceito de capacidade, oriundo dos princípios básicos empregados na 52 Engenharia de Tráfego. O autor baseou seus estudos em fotos tiradas em pequenos intervalos de tempo, para o estabelecimento de relações entre volume, velocidade e conveniência humana para diferentes concentrações de pedestres. Os resultados finais do estudo permitiram a definição de seis níveis de serviço para o projeto de calçadas. Estes níveis de serviço fornecem um método quantitativo para se planejar um novo ambiente de uso de pedestres ou avaliar um ambiente. O Highway Capacity Manual – HCM (2000) apresenta uma metodologia para avaliação do nível de serviço para pedestre a partir da análise da infraestrutura viária. Nível de Serviço (NS) é uma medida qualitativa que descreve as condições operacionais de uma corrente de tráfego, baseada em medidas de serviço tais como a velocidade e tempo de viagem, a liberdade para manobrar, as interrupções de fluxo viário, o conforto e a conveniência. Por outro lado, Borja (1998) alega que a falta de condições políticas e de recursos financeiros dos governos locais para promover rapidamente uma urbanização capaz de suprir as demandas sociais e permitir a melhoria da qualidade ambiental e das condições de vida da maioria da população tem exigido a revisão drástica dos mecanismos de decisão sobre o uso dos recursos, a fim de fomentar um desenvolvimento que incorpore o controle social e a definição de prioridades de investimentos respaldados nas necessidades da população. Neste sentido, a autora considera ainda que, apesar da emergência da problemática ambiental na atualidade, no campo do conhecimento, o aparato teórico e metodológico ainda está por ser construído. As análises atuais da questão ambiental têm buscado superar tanto o determinismo do meio quanto a ênfase antropocêntrica, apontando para uma concepção histórica e filosófica que incorpore o espaço não apenas social como também natural. A interdisciplinaridade tem-se colocado como uma alternativa, integrando a ecologia com outras disciplinas – sociologia, economia, geografia, filosofia etc. A questão ambiental urbana, portanto, não pode ser reduzida aos campos específicos das ciências da natureza ou das humanas; ela exige o entrelaçamento de diversos campos do saber. É sob esta base de raciocínio que se propõe, com este trabalho, inserir o campo das ciências biológicas e da saúde como forma de analisar o contexto da cidade. 53 4.2 PREMISSAS DO MODELO PROPOSTO O modelo de avaliação proposto procura evidenciar como o usuário percebe seu ambiente de circulação e percebe a si mesmo em relação a possíveis dificuldades ou deficiências. Como resultado do entendimento destas percepções, é possível identificar dentre outras coisas, como projetos urbanísticos estão influenciando na mobilidade dos usuários, independentemente do nível de funcionalidade e incapacidade que os mesmos possuem. Para a elaboração do modelo de avaliação foi utilizada a CIF como referência para subsidiar os componentes a serem avaliados. A CIF será adotada para esta análise por ser um instrumento que possibilita coletar dados vitais de um modo consistente e comparável internacionalmente, bem como, possibilita a identificação de barreiras e facilitadores ambientais que influenciam na capacidade e desempenho das pessoas em tarefas da vida diária (OMS, 2002). Na utilização habitual da CIF cada componente consiste de vários domínios, dentre os quais, existem categorias que são utilizadas como unidades de classificação. Portanto, a CIF não é um instrumento avaliativo, e sim classificatório, onde a saúde e os fatores relacionados à saúde de uma pessoa são identificados a partir de avaliações clínicas, e registrados através da seleção de códigos apropriados à categoria analisada, que especificam a magnitude da funcionalidade ou capacidade (OMS, 2002). Para efeito desta pesquisa, como não se pretende realizar avaliações clínicas, e sim analisar a percepção dos usuários sobre fatores condicionantes de saúde relacionados ao ambiente de circulação, os domínios e categorias descritos na CIF serão utilizados como referência para as perguntas aplicadas no Instrumento de pesquisa. A base para elaboração do modelo de avaliação da percepção do ambiente de circulação a partir da CIF está no entendimento de que os três componentes propostos na classificação para identificar o nível de funcionalidade e capacidade das pessoas (Fatores ambientais, Atividade e Participação e Funções e estruturas do corpo) podem ser utilizados nos estudos sobre a mobilidade urbana. Este entendimento parte de discussões como as descritas por Rozestraten (1988), onde o autor define condições que determinam o comportamento no trânsito, a saber: a presença de estímulos ou situações que possam ser observadas e 54 percebidas, as condições de percepção e reação adequada aos estímulos e a capacidade de aprendizagem prévia. Portanto, entende-se que o desempenho satisfatório da mobilidade é resultado da interação entre os fatores ambientais, representado pelas vias e seus componentes, naturais ou não; as atividades e participação, representadas pela capacidade e desempenho de engajamento em atividades da vida cotidiana; e as funções e estruturas do corpo, representada funcionalidade relacionada com as funções dos órgãos e estruturas anatômicas do corpo (Figura 5). Figura 05 - Relação entre componentes da CIF e Mobilidade. Fatores Ambientais Atividades e participação Funções e estruturas do corpo Mobilidade Fonte: Autor da dissertação. Neste modelo de avaliação estes três elementos foram adotados como categorias de análise, a partir das quais são identificados os domínios que as compõem e que possam ser avaliados ou qualificados pelo próprio entrevistado, adotando-se como instrumento de avaliação da percepção um questionário. 4.2.1 Relação da CIF com o modelo de avaliação proposto Ao analisar as três condições sobre o comportamento no trânsito descritas por Rozestraten (1988) foi possível estabelecer as devidas relações com as categorias principais da CIF: fatores ambientais, funções e estruturas do corpo e atividade e participação. Estas relações estão representadas no Quadro 2. Quadro 02 - Relação Condições de Comportamento com Categorias da CIF. Condições de Comportamento Categorias da CIF Presença de estímulos ou situações que possam ser Fatores Ambientais observadas e percebidas Capacidade de aprendizagem prévia Condições de percepção e reação adequada aos estímulos Fonte: Autor da dissertação. Atividades e Participação Funções e Estruturas do Corpo 55 A relação da categoria fatores ambientais, que na CIF entende-se como o ambiente físico, social e de atitudes em que as pessoas vivem e conduzem sua vida (OMS, 2002), foram relacionados com a condição presença de estímulos ou situações que possam ser observadas e percebidas, por se entender que os fatores relacionados ao ambiente de circulação são estímulos que influenciam o comportamento do usuário, seja favorecendo ou interferindo no livre deslocamento. Entende-se que um ambiente de circulação que favoreça uma mobilidade eficiente aos usuários deve conter elementos distribuídos de tal forma que o usuário consiga identificá-los, confrontá-los e superá-los sem prejuízo em seu deslocamento. Para que isso ocorra, estes elementos devem ser identificados como facilitadores do deslocamento e isso envolve a qualidade do terreno, a iluminação, os equipamentos, as estratégias de utilização do espaço, entre outros. A categoria atividade e participação da CIF foi relacionada com a capacidade de aprendizagem prévia por ser composto de elementos que permitem identificar, entre outras coisas, a capacidade do usuário em aprender e aplicar o conhecimento aprendido, além da capacidade de planejamento, organização e gerenciamento de tarefas e atitudes no cotidiano. Entende-se que o usuário ajusta seu comportamento, no sentido de escolha de trajetória e destino, por exemplo, de acordo com o sistema viário, equipamento de transporte, condições de deslocamento e atividade de interesse. A categoria funções e estruturas do corpo foi relacionada com as condições de percepção e reação adequada a estímulos, pois para Rozestraten (1988) esta condição é alcançada quando um organismo possui condições sensório-motoras ou mentais, de perceber e reagir a estímulos. Portanto, ao lançar mão de elementos que permitam identificar as condições de dificuldades ou deficiências das funções mentais, sensoriais ou de estruturas relacionadas com o movimento, a CIF torna-se uma referência significativa para o desenvolvimento deste estudo. 4.2.2 Definição das variáveis A CIF define para cada categoria, domínios e componentes que são utilizados para sistematizar e nortear o processo de classificação das condições de saúde das pessoas. Neste modelo, como já mencionado, a CIF não foi utilizada como um instrumento classificatório e sim como referência para definição das variáveis de 56 análise. Portanto, foram definidos critérios, a partir dos quais se identificou os domínios e componentes da CIF que poderiam ser utilizados como variáveis. Em relação à categoria fatores ambientais, a CIF propõe cinco domínios: a) produtos e tecnologia, b) ambiente natural e mudanças ambientais feitas pelo ser humano, c) apoio e relacionamentos, d) atitudes, e c) serviço, sistemas e políticas. Cada domínio possui novas categorias que, são denominadas neste trabalho como componentes. Para identificação dos que poderiam ser utilizados como variáveis, os domínios e componentes foram analisados de acordo com os seguintes critérios: a) deveria ser um estímulo ambiental recorrente nas vias da cidade; e b) deveria permitir a expressão da percepção do usuário. De acordo com estes critérios, a distribuição dos componentes utilizados para compor o instrumento de avaliação da percepção está representada no Quadro 3. Quadro 03 - Domínios e componentes dos fatores ambientais. Domínio Produtos e Tecnologias Ambiente natural e mudanças ambientais feitas pelo ser humano Serviços, sistemas e políticas2 Componentes Usados em projeto, arquitetura e construção para entrada e saída de edifícios de uso público. Do desenvolvimento da zona urbana. Geografia física – formas de terreno População – Mudanças demográficas Densidade Populacional Flora e Fauna – Plantas Animais Clima – Temperatura Umidade Precipitação (chuva) Vento Variação Sazonal Luz Som Qualidade do Ar Serviços, sistemas e políticas de arquitetura e construção Serviços, sistemas e políticas de planejamento de espaços abertos Serviços, sistemas e políticas dos serviços públicos Serviços, sistemas e políticas de transporte Fonte: Autor da dissertação. 2 A questão política é entendida nesse trabalho segundo a descrição proposta pela CIF, onde representam as normas, regulamentos e convenções e padrões estabelecidos pelos governos e outras autoridades reconhecidas, de nível local, regional, nacional e internacional. Estas políticas regem e regulam os sistemas que organizam, controlam e supervisionam os serviços, programas estruturados e em funcionamento em vários setores da sociedade. Neste sentido, não se busca compreender o entendimento dos entrevistados sobre esta questão, mas sim a percepção que possuem relacionando-a com os fatores do ambiente. 57 Assim, o domínio Apoio e Relacionamentos e o domínio Atitudes, não foram incluídos como componentes de análise. O domínio Apoio e Relacionamentos e seus componentes não foram utilizados por fazer referências a pessoas ou animais que fornecem apoios físicos ou emocionais. Por sua vez, o domínio Atitude e seus componentes foram retirados por se tratar de consequências observáveis de costumes, práticas, ideologias (OMS, 2002). Portanto, ambos não se enquadram nos critérios utilizados. Para a categoria atividade e participação, a CIF define nove domínios, a saber: a) aprendizagem e aplicação de conhecimentos; b) tarefas e demandas gerais; c) comunicação; d) mobilidade; e) cuidado pessoal; f) vida doméstica; g) relações e interações interpessoais; h) áreas principais da vida; e f) vida comunitária, social e cívica. A seleção dos domínios e respectivos componentes desta categoria seguiu os seguintes critérios: a) referem-se capacidades e habilidades aprendidas utilizadas diretamente no ambiente de circulação; b) questões que podem ser avaliadas e respondidas pelo próprio usuário; c) elementos que geram motivação ao deslocamento. Frente a esses critérios, o instrumento foi direcionado aos seguintes domínios: aprendizagem e aplicação de conhecimentos; tarefas e demandas gerais; comunicação; mobilidade; áreas principais da vida; e vida comunitária social e cívica. A distribuição dos componentes destes domínios está apresentada no Quadro 4. A categoria Funções e estruturas do corpo é descrita na CIF de forma separada em: Funções do corpo, onde envolve os domínios: a) Funções mentais, Funções sensoriais e dor; b) Funções da voz e fala; c) Funções do sistema cardiovascular, hematológico, imunológico e respiratório; d) Funções do sistema digestivo, metabólico e endócrino; e) Funções geniturinárias e reprodutivas; f) Funções neuromusculoesqueléticas e relacionadas ao movimento; g) e Funções da pele e estruturas relacionadas. E Estruturas do corpo que envolve os domínios: a) Estruturas do sistema nervoso; b) Olho, ouvido e estruturas relacionadas; c) Estruturas relacionadas à voz e fala; d) Estruturas dos sistemas cardiovascular, imunológico e respiratório; e) Estruturas relacionadas aos sistemas digestório, metabólico e endócrino; f) Estruturas relacionadas aos sistemas geniturinário e 58 reprodutivo; g) Estruturas relacionadas ao movimento; e h) Pele e estruturas relacionadas. Quadro 04 - Domínios e Componentes de Atividade e Participação Domínios Componentes Ler Escrever Aprendizagem e aplicação do conhecimento Calcular Resolver Problemas Tomar Decisões Tarefas e demandas gerais Comunicação Mobilidade Áreas Principais da Vida Realizar a rotina diária Conversação Mudar a posição básica do corpo Manter a posição do corpo Andar – Distâncias curtas; Distâncias longas; Sobre superfícies diferentes; Desviando de obstáculos Deslocar-se por diferentes locais: Dentro de casa; Dentro de outros edifícios; Fora de casa e outros edifícios Deslocar-se utilizando algum tipo de equipamento Utilização de Transporte: Tração humana; Motorizado privado; Transporte público Dirigir – Tração humana Veículos motorizados Educação Trabalho e emprego Recreação e Lazer Vida comunitária, social e cívica Religião e espiritualidade Vida política e cidadania Fonte: Autor da dissertação. Neste modelo de avaliação, estes aspectos serão incorporados numa categoria única: Funções e estruturas do corpo. Os domínios foram selecionados para compor o instrumento de avaliação a partir dos seguintes critérios: a) Refere-se a funções e estruturas que permitam que o usuário imprima sua percepção; c) Refere-se a funções e estruturas básicas para o deslocamento e mobilidade. Os componentes adotados para análise estão relacionados no Quadro 5. Cada componente descritos nos Quadros 3, 4 e 5 foram organizados no formato de perguntas em um questionário (APÊNDICE A), de tal forma que os entrevistados pudessem avaliar cada item de acordo com sua percepção. 59 Quadro 05 - Domínios e Componentes Funções e Estrutura do Corpo Domínios Funções Mentais Funções sensoriais e dor Componentes Funções de Orientação Funções de energia e impulsos Funções de atenção Funções de memória Funções cognitivas superiores: - Organização e planejamento - Gerenciamento Visão Auditivas Vestibular Funções da voz e fala Funções neuromusculoesqueléticas e relacionadas ao movimento Estruturas relacionadas ao movimento Funções da Voz: - Produção - Qualidade Articulações Força muscular Estrutura óssea Estrutura Ligamentar Fonte: Autor da dissertação. 4.3.2 Procedimentos de aplicação e análise da avaliação O questionário proposto para este modelo (APÊNDICE A) está organizado por categoria. Optou-se por manter no instrumento os termos que caracterizam os domínios e componentes da CIF, entretanto, o formato e a estratégia de aplicação do questionário são próprios deste modelo em estudo. Portanto, o questionário deve ser aplicado em forma de entrevista, para que o entrevistador possa esclarecer ao entrevistado, caso haja necessidade, alguns termos presentes no instrumento. Para que permitisse a avaliação da percepção, as questões foram sistematizadas no formato de escala de Likert. Estas escalas, também chamadas de Escalas Somadas, requerem que os entrevistados indiquem seu grau de concordância ou discordância com declarações relativas à atitude que está sendo medida. As respostas devem refletir a força e a direção da reação do entrevistado à declaração. A ponderação das respostas parte de valores mais altos para os positivos e mais baixos para os aspectos negativos. Para os fatores ambientais, o entrevistado deve classificar, primeiramente, cada fator questionado como uma barreira ou facilitador. Em seguida, para cada item classificado, o entrevistado o quantifica como barreira ou facilitador de 0 (zero) a 4 (quatro) de acordo com o Quadro 6. 60 Quadro 06 - Qualificadores de barreira e facilitador. Barreira Facilitador 0 Nenhuma barreira 0 Nenhum facilitador 1 Barreira Leve 1 Facilitador Leve 2 Barreira Moderada 2 Facilitador Moderado 3 Barreira Grave 3 Facilitador Considerável 4 Barreira Completa 4 Facilitador Completo Fonte: Autor da dissertação. Em relação às categorias Atividade e participação e Funções e estruturas do corpo, o entrevistado deve quantificar sua percepção em relação às dificuldades ou deficiências a cada item questionado, de 0 (zero) a 4 (quatro), na ordem de nenhuma dificuldade à dificuldade completa, como descrito no Quadro 7. Quadro 07 – Qualificadores Atividade e Participação e Funções e Estruturas do Corpo. Quantificador Atividade e Participação Funções e estruturas do corpo Nenhuma Dificuldade ou 0 Nenhuma Dificuldade Deficiência 1 Dificuldade Leve Dificuldade ou Deficiência Leve Dificuldade ou Deficiência 2 Dificuldade Moderada Moderada 3 Dificuldade Grave Dificuldade ou Deficiência Grave Dificuldade ou Deficiência 4 Dificuldade Completa Completa Fonte: Autor da dissertação. Com todos os itens avaliados, é possível identificar a percepção predominante da amostra entrevistada sobre a via. Esta percepção é identificada pela soma das freqüências de respostas por item do questionário, multiplicado pelo peso atribuído por qualificador (0, 1, 2, 3 ou 4). Este resultado é convertido em valor percentual, por meio de um cálculo proporcional entre ele mesmo e a pontuação máxima possível da amostra por categoria. Para obter esta pontuação máxima possível da amostra, é necessário multiplicar, primeiramente, o número de itens que compõe uma categoria do questionário pelo maior peso atribuível, ou seja, 4. Este valor deve ser multiplicado pelo número total da amostra entrevistada. O resultado deste cálculo passa a ser compreendido como 100% para desenvolver o cálculo de proporção, pois refere-se a maior pontuação que poderia ser atribuída pela amostra naquela categoria. O valor percentual resultante é analisado de acordo com as escalas de porcentagem e as respectivas interpretações por categoria descritas no Quadro 8. 61 Quadro 08 - Intervalos de pontuações atribuídas por qualificador. Pontuação Funções e estruturas atribuída em Barreira Facilitador do corpo % Nenhuma Nenhum Nenhuma Dificuldade 0 – 4% barreira facilitador ou Deficiência Facilitador Dificuldade ou 5 – 24% Barreira Leve Leve Deficiência Leve Barreira Facilitador Dificuldade ou 25 – 49% Moderada Moderado Deficiência Moderada Facilitador Dificuldade ou 50 – 95% Barreira Grave Considerável Deficiência Grave Barreira Facilitador Nenhuma Dificuldade 96 – 100% Completa Completo ou Deficiência Fonte: Autor da dissertação. Atividade e Participação Nenhuma Dificuldade Dificuldade Leve Dificuldade Moderada Dificuldade Grave Dificuldade Completa Figura 06 - Modelo de Avaliação da Percepção do Ambiente de Circulação. Ambiente de Circulação Variáveis ambientais, de participação e funcionais Domínios e categorias dos fatores ambientais Domínios e categorias atividades e participação Domínios e categorias funções e estruturas do corpo Análise dos usuários Instrumento de Coleta de Dados: Questionário Resultado da percepção dos usuários Percepção dos fatores ambientais Percepção sobre atividades e participação Condições de acessibilidade sobre o ambiente de circulação na percepção dos usuários Fonte: Autor da dissertação. Percepção sobre funções e estruturas do corpo 62 Diante do exposto, o processo que envolve a elaboração e sistematização do Modelo de Avaliação da Percepção dos Usuários sobre o Ambiente de Circulação fica representado pela seguinte estrutura representada na Figura 6. Assim como na CIF, as categorias de análise podem ser entendidas de forma independente entre si, mas é a interação resultante da relação entre elas que permite visualizar as condições de funcionalidade, capacidade e saúde de cada usuário. Portanto, uma possível avaliação satisfatória ou não do ambiente de circulação será o resultado da percepção dos usuários, associada a condições funcionais de capacidade e saúde, bem como, ligadas ao nível de informações, sensação e interpretação que possuem (KARSAKHAN, 2009). 63 5 ESTUDO DE CASO: Avenida Marquês de Herval – Belém - Pará Neste capítulo, tem-se um estudo de caso para teste e avaliação do modelo proposto. O local escolhido foi a avenida Marquês de Herval, em Belém do Pará, por ela ter sido um espaço recente de transformação urbanística e de engenharia de trânsito, com revisão de projeto viário, incorporando espaço de lazer e de uso exclusivo para bicicletas e pedestres. Anteriormente, possuía características de uma via comum, tal como as demais do seu entorno, porém, o projeto de reurbanização, executado pela Prefeitura, a transformou em um importante espaço de convivência social para a comunidade e de vanguarda na adoção de medidas de engenharia, visando à melhoria da mobilidade urbana. 5.1 ÁREA DE ESTUDO A avenida Marquês de Herval, segundo o Plano Diretor de Belém (BELÉM, 2008), é classificada como via arterial em relação à malha viária do município. Com limites na avenida Nove de Janeiro e avenida Dr. Freitas, a avenida é considerada importante via de ligação entre o centro e a área de expansão da cidade. Ver Figura 7. Figura 07 – Localização da Avenida Marquês de Herval Fonte: Autor da dissertação. 64 A via encontra-se no bairro da Pedreira, no limite da Primeira Légua Patrimonial do Município de Belém, a avenida Dr. Freitas. A Primeira Légua corresponde à área doada por meio da Carta de Doação e Sesmaria, pelo Governo da Província do Maranhão e Grão-Pará, em 1° de setembro de 1927, para que se pudesse explorá-la economicamente e que, posteriormente fora tomada como posse pelo Conselho da Câmara de Belém e demarcada em 20 de agosto de 1703 (CARDOSO et al., 2008). O bairro da Pedreira é caracterizado como residencial de classe média, razoavelmente, tranquilo e localizado entre a periferia e o centro. Antônio Lemos, intendente de Belém, na virada do século XIX para o XX, com os recursos propiciados pelas exportações da borracha amazônica, foi quem planejou esse bairro, assim como o bairro do Marco, com avenidas de 40m de largura e transversais medindo 20m de largura. A Pedreira possui uma população estimada em 69.608 habitantes, baseado no Censo Demográfico do IBGE de 2010, com uma extensão territorial de aproximadamente 3.683.443,68 m², fazendo parte da Primeira Légua Patrimonial sendo limítrofe aos seguintes bairros: Sacramenta (noroeste), Telégrafo (oeste), Marco (leste), Souza (nordeste), Fátima – Antiga Matinha (sul) e Umarizal (sudoeste) e fazendo parte da microbacia do Una, juntamente com os bairros de São Brás, Fátima, Umarizal, Marco, Telégrafo, Sacramenta, Marambaia, Souza e Benguí (IBGE, 2009). Figura 08 – Localização bairro da Pedreira Fonte: Prefeitura Municipal de Belém 65 Apesar de ser considerada, atualmente, como uma das áreas de melhor infraestrutura e mais valorizada da Rede Metropolitana de Belém, esta região apresenta contrastes importantes, entre os bairros que a compõem. Isto porque a própria estrutura espacial de Belém possui relações claras com sua estratificação social, uma vez que a ocupação do território foi marcada por limitações impostas pela formação geográficas e condições do sítio: a elite local em áreas altas e firmes e a população pobre, dividida entre os nascidos em Belém que ocupavam áreas de transição entre terras e firmes e as alagadas; e outros, os pobres migrantes, em geral do interior do estado, em áreas alagáveis, e ligadas à dinâmica ribeirinha, graças à proximidade com os portos (CARDOSO, et al, 2008). A ocupação do bairro da Pedreira foi iniciada no século XIX pelas populações de baixa renda que foram perdendo espaços nas áreas centrais da cidade de Belém e acabaram sendo manejadas para espaços periféricos, onde esses espaços de certa maneira não apresentavam as mínimas condições de moradia, sem falar dos espaços alagadiços que também foram sendo ocupados. Essa ocupação foi iniciada no final do século XIX, por volta de 1890, quando começaram a surgir os primeiros caminhos em uma área de muitos igarapés e outros cursos d’água. Uma das primeiras intervenções na área foi com o médico Pedro Miranda, que era muito popular em Belém, o qual passou a sanear os espaços alagados que apresentavam nenhuma infraestrutura (BORGES; MARIM; RODRIGUES, 2010). O crescimento do bairro, segundo estes autores, é acompanhado com o crescimento populacional da cidade de Belém, principalmente nas décadas de 1950, 1960 e 1970, quando o bairro foi sendo ocupado ainda por uma população de baixa renda, principalmente nas áreas mais alagadas próximas ao canal do Galo e o canal da Pirajá. O aspecto físico e social da Pedreira passou por uma reconfiguração entre as décadas de 1960 e 1970 do século passado, quando uma nova configuração socioespacial passara a fazer parte da realidade do bairro, em consequência principalmente da intervenção pública para a melhoria de sua infraestrutura urbana, pois se destaca que o espaço urbano possui como características o dinamismo, que leva à produção e reprodução de áreas na cidade de acordo com os interesses das forçais sociais que nelas atuam. Nos anos 1990, a Pedreira voltou a ser alvo de outro projeto de estruturação do espaço urbano em decorrência do modelo de ocupação presente no bairro. Essa intervenção pública estava baseada no projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una 66 (recuperação das áreas de baixada). Este projeto objetivou, principalmente, resolver os problemas de inundação nas áreas de baixada de Belém, através da implantação de sistema de drenagem, além de promover a urbanização das mesmas, com a pavimentação das vias, saneamento básico e arborização beneficiando os bairros da Pedreira, Marambaia, Telégrafo, Benguí, Marco, Umarizal, Sacramenta, Souza e Fátima (BORGES; MARIM; RODRIGUES, 2010). A avenida Marquês de Herval, que foi escolhida para o desenvolvimento deste estudo, passou por um projeto de reurbanização, concluído em 2011, sendo considerada pela Prefeitura de Belém como a primeira “Via Parque” do município, por contar com calçadas com sinalização tátil, ciclovia, parques infantis, academias ao ar livre, entre outras estruturas de serviço. Alguns destes equipamentos estão ilustrados na Figura 9. Portanto, esta avenida é o objeto de estudo no emprego deste modelo, buscando-se a visão do ambiente de circulação que a compõe, na percepção dos seus usuários, considerando o projeto urbanístico executado pela Prefeitura de Belém. Figura 09 – Equipamentos instalados na via: Espaço Criança e academia ao ar livre. Fonte: Autor da dissertação. 5.2 PLANEJAMENTO DA PESQUISA O presente trabalho, do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva, com aplicação de estudo de caso. O método de estudo de caso foi escolhido por ser um método de pesquisa que permite o levantamento de dados primários utilizados para descrever uma situação ou conceito (YIN, 2005). O estudo de caso pode ser simples, quando se analisa um 67 único caso ou de múltiplos casos quando permite a ampliação do número de casos em análise. Este estudo tem como objeto a avenida Marquês de Herval, mais especificamente os moradores de sua extensão. A pesquisa foi realizada segundo os preceitos da Declaração de Helsinque e do Código de Nuremberg, respeitadas as Normas de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Res. CNS 196/96) do Conselho Nacional de Saúde, e após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP, da Universidade da Amazônia – UNAMA. O desenvolvimento da pesquisa poderá gerar benefícios importantes, pois contribuirá para o campo de conhecimento teórico-prático sobre o desenvolvimento e meio ambiente urbano, bem como, estimula a construção de novos estudos científicos relacionados com o tema em questão. Com a conclusão do trabalho poderão, ainda, ser propostas recomendações de melhorias ligadas ao ambiente físico da cidade, subsidiadas como fatores que podem favorecer a melhoria da qualidade de vida e saúde da população. A pesquisa caracteriza-se como exploratória, pois se pretende estabelecer maior familiaridade com o problema definido, com intenção de torná-lo explícito. O caráter descritivo desta pesquisa atribui-se ao fato de se buscar estabelecer relações entre as variáveis aplicadas no instrumento e a percepção das pessoas sobre o objeto de estudo. Outra característica importante deste tipo de pesquisa, segundo Gil (2007) está na utilização de técnicas padronizadas de coletas de dados, tais como o questionário, que para efeito deste estudo foi elaborado a partir de questões relacionadas com o modelo proposto (ver o questionário no Apêndice A). Os dados coletados através do questionário são analisados sob a abordagem quantitativa por favorecer a descrição e estabelecimento de correlações estatísticas e causais entre os fatos (TURATO, 2004). Um questionário é um instrumento de investigação que visa recolher informações baseando-se, geralmente, na inquisição de um grupo representativo da população em estudo. Para Lakatos (1999), trata-se de um instrumento de coleta de dados constituído por uma série de perguntas, que devem ser respondidas por escrito. Os questionários da pesquisa foram aplicados no domicílio de pessoas residentes ao longo da avenida Marquês de Herval em Belém, após contato prévio e aceite de participação. No aspecto de organização do questionário o diferencial está em relação à ordenação das questões, que foram sistematizadas para que pudessem ser trabalhadas no formato de escala de Likert. 68 5.3 SELEÇÃO DA AMOSTRA A amostra dos participantes foi definida a partir do cálculo amostral sobre o universo de lotes domiciliares obtidos do cadastro multifinalitários de Belém da avenida Marquês de Herval, em um total de 600 lotes (CODEM, 2000), excluindo-se lotes comerciais ou desocupados. Assim, para um intervalo de confiança de 90% e um erro admissível e (em relação à média) de 5%, obteve-se o tamanho da amostra domiciliar da avenida objeto de estudo, através da equação que segue (FONSECA; MARTINS, 2008). N. Z2 . p . (1- p) n= Z2 . p. (1- p) + e2 . (N – 1) Onde: n - amostra calculada. N – população, ou seja, 600 lotes. Z - variável normal padronizada associada ao nível de confiança, 90% cujo valor é 1,64. p - probabilidade do evento ser verdadeiro, dado como 0,5 ou (1-p) o contrário, ou seja, aproximadamente, p + (1-p) = 1,0. e - erro amostral de 10% ou 0.1. A aplicação da equação aos parâmetros relacionados gerou um tamanho amostral mínimo de 60 domicílios. Definiu-se que para cada domicílio deveria ser entrevistado um morador. Não foram estabelecidos critérios para seleção dos domicílios. A escolha seguiu uma ordem aleatória condicionada ao atendimento e disponibilidade dos moradores ao serem abordados pelo pesquisador, porém buscando cobrir toda a extensão da via. A seleção dos participantes seguiu dois critérios: moradores maiores de 18 anos e em condições de expressar suas opiniões, portanto, não foram definidas características funcionais, de capacidade, deficiência ou idade para seleção destas pessoas. Diante destas condições, foram realizadas 100 entrevistas, sendo todas utilizadas para análise dos resultados. 69 5.4 COLETA DE DADOS O período de aplicação do instrumento de pesquisa foi de 1o de dezembro de 2011 à 13 de março de 2012, nos períodos matutino e vespertino. Como estratégia para aplicação do questionário, de forma que atendesse toda a extensão da via, foi estabelecida uma divisão em regiões composta por dois a três quarteirões da avenida, nos quais foram aplicados os questionários em dias distintos em cada região. Os participantes foram abordados em suas residências. Após os esclarecimentos dos objetivos da pesquisa, foram aplicados os questionários para a amostra de residentes que aceitaram assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Resolução CNS 196/96) e as entrevistas foram distribuídas por quarteirões da via. Os resultados das abordagens estão descritos no Quadro 9. Quadro 09 – Distribuição de entrevistas Quarteirões 1° Trecho (Avenida Dr. Freitas a trav. Mauriti) 2° Trecho (Trav. Mauriti a trav. Timbó) 3° Trecho (Trav. Timbó a trav. Vileta) 4°Trecho (Trav. Vileta a trav. do Chaco) 5° Trecho (Trav. do Chaco a trav. 9 de Janeiro) Entrevistas 23 21 18 18 20 Fonte: Autor da dissertação. 5.5 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS Os resultados obtidos dos 100 questionários, a amostra determinada, estão apresentados a seguir. O perfil socioeconômico dos entrevistados foi determinado por gênero, faixa etária, ocupação, renda e escolaridade e estão apresentados nos Gráficos 1, 2, 3, 4 e 5, respectivamente. 70 Gráfico 01 – Perfil dos entrevistados por gênero. 61% 70% 60% 39% 50% Masculino 40% 30% Feminino 20% 10% 0% Fonte: Autor da dissertação. Gráfico 02 – Perfil dos entrevistados por faixa etária. 35% 31% 30% 25% 21% 19% 20% 15% 14% 15% 10% 5% 0% 18 a 25 anos 26 a 37 anos 38 a 48 anos 49 a 60 anos mais de 60 anos Fonte: Autor da dissertação Gráfico 03 – Perfil dos entrevistados por ocupação. 30% 26% Assalariado 25% 22% 22% Autonômo 20% Aposentado 15% 12% 11% Funcionário Público 10% Estudante 5% 0% Fonte: Autor da dissertação. 71 Gráfico 04 – Perfil dos entrevistados por renda. 25% 23% 19% 20% 17% 15% 10% 6% 4% 3% 5% 0% Até 1 SL Entre 1SL até 2SL Entre 2SL até 4SL Entre 4SL até 7 SL Entre 7SL até 10 SL Acima de 10 SL Fonte: Autor da dissertação. Gráfico 05 – Perfil dos entrevistados por escolaridade. 45% 45% Analfabeto/Fundamental Incompleto 40% 35% 26% 30% 20% 25% Médio Completo/Superior Incompleto 20% 15% Fundamental Completo/Médio Incompleto 9% Superior Completo 10% 5% 0% Fonte: Autor da dissertação. Assim, observa-se que os entrevistados apresentam perfis bastante diversificados, porém destaca-se o número maior de mulheres pessoas na faixa etária de 26 a 37 anos, autônomos, que possuem renda entre 1 até 2 salários e que concluíram o ensino médio. Os dados coletados com a aplicação do questionário foram tabulados e estão apresentados para cada variável, de acordo com a categoria que representam: fatores ambientais barreiras (Tabela 1), facilitadores (Tabela 2); atividades e participação (Tabela 3); e funções e estruturas do corpo (tabela 4), expressas em frequência simples e frequência relativa. Adotou-se a denominação “base” para as frequências simples, pois a partir delas que são calculadas as relativas. Vale ressaltar que as variáveis foram avaliadas na escala de 0 (zero) a 4 (quatro), onde 0 72 representa a percepção mínima de barreiras, facilitadores ou dificuldades e 4 significa a percepção máxima desses qualificadores. Os dados relativos à percepção de barreiras e percepção de facilitadores estão apresentados em separado nas Tabelas 1 e 2, respectivamente, para evitar a sobreposição de pontuação relativa à escala utilizada. Esta organização permite a comparação das respostas por item ou domínio agrupado. Tabela 01 – Percepção de barreiras FATORES CONTEXTUAIS ITEM VARIÁVEIS FATORES AMBIENTAIS 0 BARREIRA 2 1 3 4 1 Produtos de Tecnologia % Base % Base % Base % Base % Base 1 Arquitetura e construção de edifícios para uso público: Entrada e saída 5,0 5 7,0 7 4,0 4 7,0 7 6,0 6 2 A influência do desenvolvimento de zona urbana na mobilidade 8,0 8 4,0 4 9,0 9 7,0 7 4,0 4 % Base % Base % Base % Base % Base 0,0 1,0 0 1 2,0 4,0 2 4 20,0 6,0 20 6 6,0 9,0 6 9 9,0 11,0 9 11 3 4 2 Ambiente natural e mudanças ambientais feitas pelo ser humano Formas do terreno Mudanças demográficas 5 Mudanças na Densidade populacional 7,0 7 8,0 8 7,0 7 15,0 15 7,0 7 6 7 Presença de plantas Presença de Animais 5,0 7,0 5 7 9,0 23,0 9 23 0,0 23,0 0 23 7,0 8,0 7 8 8,0 10,0 8 10 8 Temperatura 13,0 13 21,0 21 18,0 18 11,0 11 9,0 9 9 10 11 12 13 14 15 Umidade Chuva Vento Variação sazonal Luz na via Som na via Qualidade do ar 9,0 3,0 6,0 9,0 5,0 10,0 4,0 9 3 6 9 5 10 4 13,0 21,0 7,0 9,0 7,0 8,0 25,0 13 21 7 9 7 8 25 18,0 15,0 6,0 23,0 9,0 11,0 28,0 18 15 6 23 9 11 28 26,0 19,0 9,0 19,0 8,0 32,0 13,0 26 19 9 19 8 32 13 8,0 9,0 8,0 8,0 7,0 11,0 9,0 8 9 8 8 7 11 9 3 Serviços, sistemas e políticas % Base % Base % Base % Base % Base 16 Serviços, sistemas e políticas de arquitetura e construção 4,0 4 2,0 2 11,0 11 7,0 7 6,0 6 17 Serviços, sistemas e políticas de planejamento de espaços abertos 5,0 5 2,0 2 11,0 11 9,0 9 9,0 9 5,0 5 7,0 7 11,0 11 13,0 13 5,0 5 9,0 9 11,0 11 11,0 11 17,0 17 9,0 9 Serviços, sistemas e políticas dos serviços públicos Serviços, sistemas e 19 políticas de transporte Fonte: Autor da dissertação. 18 73 Tabela 02 – Percepção de Facilitadores ITEM FATORES CONTEXTUAIS FACILITADOR 0 1 2 VARIÁVEIS FATORES AMBIENTAIS 3 4 1 Produtos de Tecnologia % Base % Base % Base % Base % Base 1 Arquitetura e construção de edifícios para uso público: Entrada e saída 9,0 9 13,0 13 11,0 11 21,0 21 17,0 17 2 A influência do desenvolvimento de zona urbana na mobilidade 8,0 8 9,0 9 13,0 13 14,0 14 24,0 24 % Base % Base % Base % Base % Base 5,0 2,0 5 2 9,0 6,0 9 6 7,0 11,0 7 11 19,0 22,0 19 22 23,0 28,0 23 28 3 4 2 Ambiente natural e mudanças ambientais feitas pelo ser humano Formas do terreno Mudanças demográficas 5 Mudanças na Densidade populacional 1,0 1 4,0 4 14,0 14 17,0 17 20,0 20 6 7 Presença de plantas Presença de Animais 6,0 0,0 6 0 7,0 6,0 7 6 9,0 8,0 9 8 18,0 11,0 18 11 31,0 4,0 31 4 8 Temperatura 0,0 0 7,0 7 5,0 5 7,0 7 9,0 9 9 10 11 12 13 14 15 Umidade Chuva Vento Variação sazonal Luzna via Som na via Qualidade do ar 8,0 3,0 4,0 4,0 4,0 5,0 6,0 8 3 4 4 4 5 6 1,0 6,0 6,0 6,0 7,0 4,0 3,0 1 6 6 6 7 4 3 7,0 5,0 20,0 5,0 13,0 8,0 5,0 7 5 20 5 13 8 5 8,0 7,0 12,0 9,0 11,0 6,0 5,0 8 7 12 9 11 6 5 2,0 12,0 22,0 8,0 29,0 5,0 2,0 2 12 22 8 29 5 2 3 Serviços, sistemas e políticas % Base % Base % Base % Base % Base 16 Serviços, sistemas e políticas de arquitetura e construção 7,0 7 5,0 5 21,0 21 28,0 28 9,0 9 17 Serviços, sistemas e políticas de planejamento de espaços abertos 3,0 3 8,0 8 11,0 11 23,0 23 19,0 19 18 Serviços, sistemas e políticas dos serviços públicos 6,0 6 11,0 11 15,0 15 18,0 18 9,0 9 19 Serviços, sistemas e políticas de transporte 8,0 8 6,0 6 11,0 11 9,0 9 9,0 9 Fonte: Autor da dissertação. As respostas relacionadas às categorias Atividade e participação e Funções e estruturas do corpo estão apresentadas nas Tabelas 3 e 4, seguindo a mesma forma de organização e apresentação dos resultados. 74 Tabela 03 - Percepção atividades e participação. VARIÁVEIS IIAtividade e Participação ITEM 1 Aprendizagem e aplicação do conhecimento 1 Desempenho para Ler 2 Desempenho para Escrever 3 Desempenho para Calcular Desempenho para Resolver 4 problemas Desempenho para Tomar 5 decisões 2 Tarefas e demandas gerais Desempenho para realizar a 6 rotina diária 3 Comunicação 7 Desempenho para conversação 4 Mobilidade 8 Mudar a posição básica do corpo Manter a posição do corpo: em 9 pé Capacidade de andar: distâncias 10 curtas Capacidade de andar: distâncias 11 longas Capacidade de andar: sobre 12 superfícies diferentes Capacidade de andar: desvio de 13 obstáculos 14 Deslocar-se: dentro de casa 15 Deslocar-se: outros edifícios Deslocar-se: fora de casa e 16 prédios Deslocar-se utilizando algum tipo 17 de equipamento Utilização de transporte: Tração 18 humana Utilização de transporte: 19 Motorizado privado Utilização de transporte: 20 transporte público Desempenho para dirigir: tração 21 humana Desempenho para dirigir 22 Motorizados 5 Áreas principais da vida 23 Atividades de educação 24 Atividade de trabalho e emprego 6 Vida comunitária, social e cívica 25 Atividade de recreação e Lazer Atividade de Religião e 26 espiritualidade Atividade de vida política e 27 cidadania Fonte: Autor da dissertação. 0 1 2 3 4 % Base % Base % Base % Base % Base 54,0 47,0 38,0 54 47 38 25,0 21,0 31,0 25 21 31 11,0 22,0 20,0 11 22 20 6,0 10,0 9,0 6 10 9 4,0 0,0 2,0 4 0 2 39,0 39 32,0 32 10,0 10 13,0 13 6,0 6 41,0 41 26,0 26 17,0 17 11,0 11 5,0 5 % Base % Base % Base % Base % Base 58,0 58 15,0 15 19,0 19 3,0 3 5,0 5 % 8,0 % 6,0 Base 8 Base 6 % 5,0 % 2,0 Base 5 Base 2 % 60,0 % 53,0 Base % Base % Base 60 18,0 18 9,0 9 Base % Base % Base 53 27,0 27 12,0 12 57,0 57 19,0 19 11,0 11 9,0 9 4,0 4 64,0 64 27,0 27 4,0 4 2,0 2 3,0 3 40,0 40 20,0 20 28,0 28 7,0 7 5,0 5 43,0 43 29,0 29 19,0 19 7,0 7 2,0 2 41,0 41 12,0 12 28,0 28 13,0 13 6,0 6 68,0 55,0 68 55 11,0 19,0 11 19 15,0 18,0 15 18 2,0 5,0 2 5 4,0 3,0 4 3 51,0 51 18,0 18 13,0 13 14,0 14 4,0 4 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 31,0 31 19,0 19 9,0 9 9,0 9 8,0 8 36,0 36 13,0 13 9,0 9 7,0 7 5,0 5 53,0 53 23,0 23 11,0 11 7,0 7 6,0 6 39,0 39 17,0 17 7,0 7 8,0 8 16,0 16 29,0 29 10,0 10 9,0 9 3,0 3 18,0 18 Base % Base % Base % Base 39 32,0 32 11,0 11 12,0 12 62 29,0 29 2,0 2 4,0 4 % 6,0 3,0 Base 6 3 % Base % Base % Base % Base % Base 41,0 41 32,0 32 19,0 19 5,0 5 3,0 3 39,0 39 26,0 26 13,0 13 11,0 11 11,0 11 37,0 37 35,0 35 13,0 13 7,0 7 8,0 8 % 39,0 62,0 75 Tabela 04 – Percepção de Função e Estruturas do corpo. VARIÁVEIS ITEM 1 9 4 % Base % Base % Base % Base Capacidade de orientação 44,0 44 39,0 39 7,0 7 7,0 7 3,0 3 39,0 39 37,0 37 16,0 16 7,0 7 1,0 1 41,0 41 32,0 32 15,0 15 10,0 10 2,0 2 36,0 36 32,0 32 15,0 15 15,0 15 2,0 2 Capacidade de organização, 36,0 planejamento e gerenciamento 36 29,0 29 22,0 22 5,0 5 8,0 8 Capacidade de Memória 8 3 Base 4 6 7 2 % 3 5 1 1- Funções Mentais Energia e motivação para realizar atividades Capacidade de Atenção 2 0 III- Funções do Corpo 2- Funções sensoriais e dor Função da visão Função auditiva Função vestibular e de equilíbrio 3- Funções da voz e fala Função da voz em relação a produção e qualidade % Base % Base % Base 46,0 46 35,0 35 11,0 11 60,0 60 28,0 28 8,0 8 % 5,0 2,0 Base % 5 3,0 2 2,0 Base 3 2 58,0 58 26,0 26 11,0 11 3,0 3 2,0 2 % Base % Base % Base % Base % Base 66,0 66 15,0 15 9,0 9 8,0 8 2,0 2 % Base % Base % Base % Base % Base 10 4 Funções neuromusculoesqueléticas e relacionadas ao movimento Mobilidade das articulações 53,0 53 22,0 22 14,0 14 7,0 7 4,0 4 11 Força muscular 55,0 55 26,0 26 7,0 7 8,0 8 4,0 4 % Base % Base % Base % Base % Base 12 5- Estruturas relacionadas ao movimento: Estrutura óssea 41,0 41 20,0 20 20,0 20 15,0 15 4,0 4 13 Estrutura ligamentar 45,0 45 32,0 32 11,0 11 6,0 6 6,0 6 Fonte: Autor da dissertação. Os dados descritos nas Tabelas 1, 2, 3 e 4, serviram de base para a obtenção da percepção predominante dos usuários sobre a via. Este resultado foi obtido pela soma das frequências de respostas por item do questionário, multiplicado pelo peso atribuído por qualificador (0, 1, 2, 3 ou 4). O valor resultante foi representado em percentual (como descrito na p. 60) e classificado segundo os intervalos descritos no Quadro 8. O mapa de cálculo deste resultado está apresentado no Apêndice B. Diante disso, na Tabela 5, estão expostas as percepções predominantes por categoria, as quais indicam que os fatores ambientais foram qualificados como barreira moderada, atribuída por 26,4% das pontuações e como facilitador moderado por 32%. A categoria Atividades e participação obteve um total de 19,7%, representando uma percepção de dificuldade leve e a categoria referente a Funções e estruturas do corpo obteve a pontuação equivalente a 12,1% o que configura a percepção de dificuldade leve. 76 Tabela 05 – Percepção predominante por categoria. Categoria Resultado em % Fatores Ambientais - Barreiras 26,4 Fatores Ambientais - Facilitadores 32,1 Atividades e Participação 19,7 Funções e estruturas do corpo 12,1 Fonte: Autor da dissertação. Qualificador Barreira moderada Facilitador moderado Dificuldade Leve Dificuldade ou deficiência leve Este resultado permite inferir que os usuários do ambiente de circulação em questão percebem os fatores ambientais que o compõem como facilitadores e barreiras regulares, portanto, as mudanças ocorridas pela implementação do projeto urbanístico não possui total aprovação dos seus usuários. Em relação à funcionalidade e capacidade dos usuários, os dados da Tabela 5, indicam que os entrevistados percebem dificuldades ou deficiências leves em relação às atividades e participação e funções e estruturas do corpo, esse resultado indica que os problemas referidos, em geral, não comprometem o desempenho em realizar plenamente suas atividades cotidianas. Diante disso, é possível destacar percepções relevantes que influenciaram o resultado geral. Os dados descritos nas Tabelas 1 e 2 permitem identificar que, dentre os elementos que podem influenciar no ambiente de circulação, os fatores relacionados a condições naturais, dentre os quais a temperatura, a umidade, a chuva e a variação sazonal, foram apontados como barreiras por mais de 60% dos entrevistados. No Gráfico 6 é possível identificar que somente o vento foi identificado como um facilitador. Gráfico 06 – Percepção sobre a influência do clima 80% 74% 72% 68% 67% 70% 64% 60% Barreira 50% 40% 30% 33% 28% 36% 32% 26% 20% 10% 0% Temperatura Umidade Fonte: Autor da dissertação. Chuva Vento Variação sazonal Facilitador 77 Os fatores climáticos, neste caso, compreendidos como o forte calor, a alta umidade relativa, as frequentes chuvas e as mudanças constantes de temperatura, foram apontados, na percepção dos usuários, como fatores que comprometem a mobilidade. Estes fatores possuem forte característica da região Norte do Brasil, mas podem ter agravamento com as mudanças na estrutura da via, relacionadas com a diminuição de áreas arborizadas e o trânsito pesado de veículos. Outros fatores ambientais que podem ser destacados das Tabelas 1 e 2 considerados pelos entrevistados como barreiras, refere-se à percepção sobre o som na via, representado pelos ruídos provenientes dos carros, pessoas, obras, entre outros, e a qualidade do ar que na avenida em questão, sofre bastante influência do trânsito carregado de veículos. Nos dados lustrados no Gráfico 7, é possível constatar que o som é considerado uma barreira grave por 32% dos entrevistados, enquanto a qualidade do ar uma barreira moderada pela maioria dos entrevistados, o que representa 28%. Gráfico 07 - Percepção do som e qualidade do ar. 35% 32% 28% 30% 25% 25% Nenuma Barreira Barreira leve 20% 11% 10% 10% Barreira moderada 13% 15% 11% 9% 8% Barreira grave Barreira Completa 4% 5% 0% Som na via Qualidade do ar Fonte: Autor da dissertação. Destacam-se, ainda, entre os dados apresentados nas Tabelas 1 e 2, os referentes à avaliação da percepção dos usuários sobre os Serviços, Sistemas e Políticas (SSP) implementadas na via, pode-se destacar que os relacionados à arquitetura e construção, planejamento de espaços abertos e serviços públicos foram considerados facilitadores do deslocamento, enquanto que os SSP de transporte foram considerados por 57% dos entrevistados como uma barreira, observado no Gráfico 8. 78 Este resultado representa uma avaliação favorável no que diz respeitos às medidas tomadas pelo poder público frente, entre outras coisas, à adequação e sinalização das calçadas, a redução dos desníveis na via, a implementação de ambientes de lazer e de prática de esportes, porém indica, uma insatisfação no que se refere à oferta de transporte público de qualidade, por exemplo. Gráfico 08 – Percepção sobre o domínio Serviços, sistemas e políticas - SSP. 70% 70% 64% 59% 57% 60% 50% 43% 41% SSP de planejamento de espaços abertos 36% 40% SSP de arquitetura e construção 30% 30% SSP dos serviços públicos 20% SSP de transporte 10% 0% Barreira Facilitadores Fonte: Autor da dissertação. Os demais elementos que fizeram parte do instrumento de avaliação, entre eles: a influência do desenvolvimento da zona urbana, que consiste na percepção das modificações das áreas urbanas que afetam o ambiente externo das pessoas por meio da implementação de políticas de uso do solo, por exemplo; as formas do terreno, representado pela percepção das características da forma do terreno onde a via está situada; as mudanças demográficas e de densidade populacional na via, que refletem a percepção sobre a quantidade de pessoas que transitam e residem na via, foram considerados por mais de 60% dos entrevistados como elementos facilitadores. No Gráfico 9 é possível comparar a proporção entre o total de respostas destes elementos como facilitador ou barreira, apresentados na Tabela 1 e 2. 79 Gráfico 09 – Quantitativo de respostas entre barreira e facilitadores. 69% 70% 56% 60% 50% 40% 68% 63% Formas do terreno 44% Mudanças demográficas 37% 31% 32% 30% Mudanças na Densidade populacional 20% Desenvolvimento da zona urbana 10% 0% Barreiras Facilitadores Fonte: Autor da dissertação. Em relação à categoria Atividade e participação, em uma análise do total das frequências das respostas apresentadas na Tabela 3, identificou-se que 48,3%, referiram não possuir nenhuma dificuldade em relação aos itens entrevistados, 23,7% referiram uma dificuldade leve, 14,3% das respostas se enquadraram como dificuldade moderada, 7,9% como dificuldade grave e 5,8% como dificuldade completa (Gráfico 10). Gráfico 10 – Percepção sobre a categoria Atividade e Participação. Nenhuma dificuldade 7,9% 5,8% Dificuldade leve 14,3% 48,3% Dificuldade moderada Dificuldade grave 23,7% Dficuldade completa Fonte: Autor da dissertação. Estes resultados indicam que, em relação à capacidade de engajamento em atividades, pode-se destacar o número representativo, 48,3%, de pessoas que não referem dificuldades, ou seja, que conseguem desenvolver suas ações cotidianas com desempenho satisfatório. Por outro lado, as pessoas que percebem algum tipo 80 de dificuldade somam 51,7% dos entrevistados, estas queixas variam entre dificuldades leves que não comprometem significativamente a participação em atividades à queixas de dificuldades completas, segundo a percepção dos usuários. Entre os domínios avaliados nesta categoria, destaca-se o que se refere ao “aprendizado e aplicação do conhecimento”, que envolve a percepção sobre o desempenho para ler, escrever, calcular, resolver problemas e tomar decisões. Observa-se a partir dos dados da Tabela 3, que o índice de respostas foi maior em relação ao qualificador nenhuma dificuldade, alcançando 54% em relação ao desempenho para ler. Porém, ressalta-se que, entre as respostas que apontavam alguma dificuldade, a avaliação sobre o desempenho em resolver problemas, para calcular e tomar decisões obteve um percentual de respostas maior do que os outros elementos, chegando a uma diferença média de 10%, no qualificador dificuldade moderada, como observado no Gráfico 11. Gráfico 11 – Quantitativo das respostas: aprendizado e aplicação do conhecimento. 60% 54% 50% 40% 47% Desempenho para Ler 41% 39% 38% Desempenho para Escrever 32% 31% Desempenho para Calcular 30% 25% 26% 21% 22% 20% 20% Desempenho para Resolver problemas 17% 11% 10% 10% Desempenho para Tomar decisões 13% 11% 10% 9% 6% 5% 6% 4% 2% 0 0% Nenhuma dificuldade Dificuldade leve Dificuldade moderada Dificuldade grave Dficuldade completa Fonte: Autor da dissertação. Estes elementos estão diretamente relacionados com a capacidade dos usuários para aprender, aplicar o conhecimento aprendido, pensar, resolver problemas e tomar decisões, elementos fundamentais para definir o comportamento das pessoas no ambiente de circulação, uma vez que, estas capacidades permitem que as pessoas assimilem e exerçam regras de conduta, avaliem e planejem seus deslocamentos, reconheçam sinalizações de orientação e criem estratégias para 81 resolver problemas e imprevistos durante o deslocamento. Portanto, estes resultados apontam uma parcela dos entrevistados que referem dificuldades em diferentes níveis em relação a estas capacidades. O domínio “mobilidade” foi composto pelos seguintes itens: mudar a posição básica do corpo, manter a posição do corpo em pé, capacidade de andar distâncias curtas, distâncias longas, sobre superfícies diferentes, desvios de obstáculos, deslocar-se dentro de casa, em outros edifícios, fora de casa e prédios, deslocar-se utilizando algum equipamento de ajuda, a utilização de transporte de tração humana, motorizado privado, transporte público, desempenho para dirigir veículos de tração humana e motorizados. Dentre os itens do componente mobilidade destaca-se a percepção sobre a capacidade de andar em condições diversas. O Gráfico 12 permite que sejam comparados os dados apresentados na Tabela 3 referente a este item, onde observa-se que a maioria, cerca de 40 à 60% dos entrevistados referiram não possuir dificuldades, porém a capacidade de desviar de obstáculos foi a que obteve o maior índice, cerca de 30%, entre os que perceberam algum tipo de dificuldade. Gráfico 12 – Percepção da capacidade de andar. Desvio de obstáculos Sobre superfícies diferentes Dficuldade completa Dificuldade grave Dificuldade moderada Distâncias longas Dificuldade leve Nenhuma dificuldade Distâncias curtas 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Fonte: Autor da dissertação. Estes resultados reforçam a necessidade de políticas de adequação das vias para pedestres, principalmente as calçadas, incluindo a redução ou eliminação das barreiras arquitetônicas que comprometem a mobilidade e a acessibilidade destes usuários, como as medidas implementadas na via, avaliadas como facilitador pela maioria dos usuários. 82 Em relação à utilização de transporte, buscou-se identificar a percepção dos usuários sobre dificuldades na utilização de transportes públicos, caracterizadas, principalmente pelos ônibus; motorizado privado, ou seja, veículos próprios; e de tração humana como a bicicleta. No Gráfico 13, podem-se comparar os dados representados na Tabela 3, onde se constata que a maioria dos entrevistados, entre 25 e 50% não refere dificuldades, porém do veículo de tração humana foi o que obteve maior percepção de dificuldade completa. Gráfico 13 – Percepção sobre utilização de transportes. 60% 50% 40% 30% 20% Transporte público Motorizado privado 10% Tração humana 0% Nenhuma dificuldade Dificuldade leve Dificuldade moderada Dificuldade grave Dficuldade completa Fonte: Autor da dissertação. Em relação a estes dados, somente responderam as pessoas que utilizavam o determinado tipo de transporte, portanto, além da identificação da percepção do desempenho, esse resultado indica o transporte público como o meio de transporte mais utilizados pelos entrevistados. A vida comunitária, social e cívica dos entrevistados também compôs o instrumento de avaliação, por meio da identificação da participação em atividades de recreação e lazer, atividade de religião e espiritualidade e atividades de vida política e cidadania. A distribuição das respostas apresentadas na Tabela 3 e ilustradas no Gráfico 14 repetem a tendência dos itens anteriores, indicando a prevalência de respostas referentes a percepção de nenhuma dificuldade. Porém, há o destaque para as atividades de religião e espiritualidade que representam o maior número em dificuldade grave e moderada, entre 11% e 13% respectivamente. Estas atividades foram incluídas no modelo de avaliação por fazer referência a ações e tarefas comuns, ligadas à vida social e organizadas fora do âmbito 83 familiar, em áreas da vida comunitária. Portanto, são atividades que requerem o deslocamento e a interação com o ambiente de circulação. Gráfico 14 - Distribuição por item: Vida comunitária, social e cívica. 45% 41% 40% 39% 37% 35% 35% 32% 30% Atividade de recreação e Lazer 26% 25% Atividade de Religião e espiritualidade 19% 20% 15% 13% 13% 11% 11% 10% Atividade de vida política e cidadania 8% 7% 5% 5% 3% 0% Nenhuma dificuldade Dificuldade leve Dificuldade moderada Dificuldade grave Dficuldade completa Fonte: Autor da dissertação. A categoria Funções e estruturas do corpo foi inserida neste modelo de avaliação de tal forma que permitisse que os entrevistados avaliassem sua percepção sobre possíveis deficiências ou dificuldades relacionadas a funções do seu corpo ou qualquer segmento que o componha. Na análise do total dos dados apresentados na Tabela 4 constatou-se que a maior parte das respostas foram relacionadas à ausência de deficiências ou dificuldades, representado por 47,7%, seguido de 28,7% das respostas que consideravam a presença de uma dificuldade leve, 12,8% de dificuldade moderada, 7,5% de dificuldade grave e 3,3% de dificuldade completa, como destaca o Gráfico 15. Gráfico 15 – Funções e estruturas do corpo. 7,5% Nenhuma dificuldade Dificuldade leve 3,3% 12,8% 47,7% Dificuldade moderada Dificuldade grave Dficuldade completa 28,7% Fonte: Autor da dissertação. 84 Este resultado indica que 52,3% das pessoas relataram possuir algum tipo de dificuldades ou deficiências que variam de leves a completas. No contexto da mobilidade, entende-se que os componentes e domínios analisados neste processo de avaliação contribuem para um desempenho satisfatório das pessoas no ambiente de circulação. O domínio Funções mentais foi um destes itens analisados e foi composto pelas seguintes variáveis: capacidade de orientação, energia e motivação, atenção, memória e organização planejamento e gerenciamento. A distribuição das respostas apresentadas na Tabela 4, por item avaliado e sua qualificação está ilustrada no Gráfico 16, onde se destaca que número de entrevistados que consideraram não possuir nenhuma dificuldade, em todos os itens, supera os demais. Entretanto, o número de pessoas que referem dificuldades leves merece ser ressaltado, pois varia de 39% na função de orientação a 29% dos entrevistados na função de organização e planejamento, o que é considerado um valor significativo. Gráfico 16 - Distribuição das respostas: funções mentais. 50% 45% 44% 41% 40% 39% 39% 36% 36% 37% Orientação 35% 32%32% Energia e motivação 29% 30% Atenção 25% 22% 20% Memória 16% 15% 15% 15% 15% 10% 10% 7% 8% 7%7% Organização, planejamento e gerenciamento 5% 5% 3% 2%2% 1% 0% Nenhuma dificuldade Dificuldade leve Dificuldade moderada Dificuldade grave Dficuldade completa Fonte: Autor da dissertação. Este resultado indica que, entre os entrevistados, há uma parcela que possui dificuldades que envolvem a capacidade de estabelecer relações mentais adequadas entre a pessoa consigo mesma, com outras pessoas, com o tempo e com o ambiente. Estas dificuldades recaem em prejuízos na mobilidade independente e segura, já que pode comprometer a capacidade de orientar-se no 85 espaço, de perceber sinais, de planejar ou memorizar trajetórias importantes, ações fundamentais para executar um deslocamento no ambiente urbano. Outro componente incluído no instrumento de avaliação está relacionado com as Funções sensoriais, no qual foram adotados como itens: a função da visão, função auditiva e a função vestibular e de equilíbrio. De acordo com os dados apresentados na Tabela 4, a maioria dos entrevistados, entre 40% e 50%, não referiram dificuldades em relação a essas funções, porém entre os que referiram algum tipo de dificuldade, destacam-se as funções da visão e vestibular como maior percepção de dificuldades em relação à auditiva (Gráfico 17). Gráfico 17 – Percepção de funções sensoriais. 60% 50% 40% 30% 20% Função vestibular e de equilíbrio Função auditiva Função da visão 10% 0% Nenhuma Dificuldade Dificuldade Dificuldade Dficuldade dificuldade leve moderada grave completa Fonte: Autor da dissertação. Este resultado retrata um grupo de pessoas que possuem dificuldades, em diferentes níveis, ligadas à percepção de luz, formas, tamanho, cor; a percepção e discriminação de sons; e de manter o equilíbrio do corpo. A identificação destas pessoas como usuários do ambiente de circulação reforça a necessidade de equipamentos urbanos sinalizados, perceptíveis, sem obstáculos, para que sejam percebidos de forma eficiente pela população em seus deslocamentos diários. Em relação ao componente Funções neuromusculoesqueléticas e relacionadas ao movimento, buscou-se avaliar a percepção dos entrevistados sobre a mobilidade de suas articulações e a força muscular; nestes dois itens a maior parte dos entrevistados referiram não possuir nenhuma dificuldade ou deficiência, como observa-se no Gráfico 18. 86 Gráfico 18 - Funções neuromusculoesqueléticas e relacionadas ao movimento. 60% 55% 53% 50% 40% Nenhuma dificuldade Dificuldade leve 26% 30% 22% 20% Dificuldade moderada Dificuldade grave 14% 7% 10% 7% Dficuldade completa 8% 4% 4% 0% Mobilidade das articulações Força muscular Função: Autor da dissertação. Da mesma forma, é observado em relação aos componentes estrutura óssea e estrutura ligamentar, que fizeram parte da categoria Estruturas relacionadas ao movimento o modelo de avaliação. No Gráfico 19, que ilustra os resultados descritos na Tabela 4, é possível observar que os resultados indicam que, em ambos os componentes, a maioria dos entrevistados considera não possuir deficiências em relação às estruturas ósseas e estrutura ligamentar. Gráfico 19 – Percepção sobre estrutura óssea e ligamentar. 45% 45% 41% 40% 35% 32% 30% 25% 20% Estrutura óssea 20% 20% 15% 15% Estrutura ligamentar 11% 10% 6% 6% 4% 5% 0% Nenhuma dificuldade Dificuldade leve Dificuldade moderada Dificuldade grave Dficuldade completa Fonte: Autor da dissertação. As consequências de problemas ligados à mobilidade das articulações, força muscular e estruturas ósseas e ligamentar, envolvem limitação de movimentos 87 amplos, necessidade de dar passos mais curtos ao andar, problemas para utilizar degraus ou desviar-se de obstáculos, entre outros. Neste caso, os dados mostram que mais da metade dos entrevistados pode não possuir estes tipos de problemas, porém uma parcela importante refere queixas nestes aspectos. Portanto, estes são fatores que podem comprometer o deslocamento diário e, consecutivamente, em uma análise sobre percepção, influenciar na avaliação dos usuários sobre a via. Por esse motivo, buscou-se estabelecer relações entres os resultados alcançados nas categorias de análise, o que permitiu identificar em que medida a ausência ou a presença de dificuldades ou deficiências percebidas pelos usuários influenciam na percepção sobre o ambiente de circulação. Para que este tipo de resultado seja alcançado são estabelecidas associações entre os dados obtidos por item da entrevista. Neste sentido, foi possível contabilizar, por exemplo, as respostas obtidas nos questionários e estabelecer a relação entre o número de respostas que consideraram os serviços, sistemas e políticas de arquitetura e construção da via (item 16 dos Fatores Ambientais) como barreira (30% dos entrevistados de acordo com a Tabela 2), com a percepção sobre as funções de mobilidade articular ligadas ao movimento (item 10 das Funções e estruturas do corpo). Os valores absolutos referentes à distribuição das respostas estão apresentados na Tabela 6. Tabela 6 - Relação entre percepção de barreiras ligadas a SSP arquitetura e construção e avaliação da função mobilidade articular. SSP de Funções neuromusculoesqueléticas e relacionadas ao movimento: mobilidade articular arquitetura Dificuldade Dificuldade Dificuldade Dficuldade e Nenhuma dificuldade leve moderada grave completa construção Percepção de 9 3 5 7 8 Barreiras Fonte: Autor da dissertação. Estes resultados estão ilustrados no Gráfico 20, onde se observa que 30% dos que identificaram o SSP de arquitetura e construção como barreira não possuíam dificuldades em relação à mobilidade articular; por outro lado, entre os que referiram algum tipo de dificuldade, constata-se uma elevação dos números de acordo com o aumento da percepção de dificuldades ligadas ao componente de mobilidade articular, chegando a 27% dos que referiram dificuldade completa. 88 Gráfico 20: Relação entre percepção de barreiras ligadas a SSP arquitetura e construção e avaliação da função mobilidade articular. 30% 30% 27% 23% 25% 20% SSP de arquitetura e construção 13% 15% 10% 7% 5% 0% Nenhuma dificuldade Dificuldade leve Dificuldade moderada Dificuldade grave Dficuldade completa Mobilidade das articulações Fonte: Autor da dissertação. Este resultado permite inferir que grande parte das pessoas que consideram as estruturas ligadas à arquitetura e construção da via como barreira são pessoas que não possuem comprometimentos articulares, ou seja, as dificuldades que esta variável pode gerar na mobilidade são percebidas e destacadas, também, por pessoas que não possuem uma deficiência específica. Esta informação reforça a necessidade de que, no processo de planejamento de espaços públicos urbanos, deve-se considerar o nível de capacidade e funcionalidade das pessoas em geral, uma vez que a percepção de limitações não está condicionada a uma deficiência. Outra relação estabelecida, identifica o nível de capacidade referente ao componente Utilização de transporte público (item 20 Tabela 3) dentre os 57% dos entrevistados que consideraram como barreira o componente Serviços, sistemas e políticas de transporte (item 19 Tabela 1). Esta relação foi estabelecida contabilizando-se as respostas destes 57% de entrevistados sobre a capacidade de utilização de transporte público, o que resultou a Tabela 7. Tabela 7 - Relação entre percepção de SSP de transporte público com a avaliação da capacidade de utilização de transporte público Percepção sobre a capacidade de utilização de transporte público SSP de transporte Nenhuma Dificuldade Dificuldade Dificuldade Dificuldade público dificuldade leve moderada grave completa Barreira 27 12 8 6 4 Fonte: Autor da dissertação. 89 Este resultado está exposto no Gráfico 21, onde se constata que, dos 57% que referem o SSP de transporte público como barreira, 47,4% não consideram possuir dificuldades para utilização de transporte público. Este resultado aponta que a identificação do componente como barreira não está condicionada a um problema funcional ou incapacidade, mas sim a questões externas à pessoa como a pouca oferta de transporte ou a qualidade e quantidade insuficiente, por exemplo. Gráfico 21 – Relação entre percepção de sistemas de transportes como barreiras e percepção sobre capacidade de utilização de transporte público. 47,4% 50,0% 45,0% 40,0% Nenhuma dificudade 35,0% Difculdade leve 30,0% Dificuldade moderada 21,1% Dificuldade grave 25,0% Dificuldade completa 14,0% 20,0% 10,5% 15,0% 7,0% 10,0% 5,0% 0,0% Percepção de barreira Fonte: Autor da dissertação. Os dados coletados podem ser relacionados, ainda com o perfil socioeconômico dos entrevistados. A Tabela 8 demonstra uma relação estabelecida entre a faixa etária e o número de respostas relacionadas à percepção de barreiras por domínio da categoria fatores ambientais. Tabela 08 - Relação entre percepção sobre fatores ambientais e faixa etária. Faixa Etária Produto e Tecnologia 18 a 25 anos 26 a 37 anos 38 a 48 anos 49 a 60 anos mais de 60 anos Fonte: Autor da dissertação. 0 3 5 4 3 Ambiente natural e mudança ambientais feitas pelo ser humano Serviços sistemas e políticas 2 11 9 7 4 1 4 2 5 2 No Gráfico 22 é possível visualizar esta proporção entre as respostas, onde se destaca o domínio Ambiente natural e mudanças ambientais feitas pelo ser 90 humano, como o item com maior percepção de barreiras em todas as faixas etárias, chegando cerca de 42% entre 38 e 48 anos. Este resultado aponta, principalmente, que os elementos animados e inanimados do ambiente natural ou físico e os componentes desse ambiente que foram modificados pelas pessoas, como o mobiliário urbano implementado, são os que recebem maior destaque pelos entrevistados em suas respectivas faixas etárias. Gráfico 22: Relação entre percepção sobre fatores ambientais e faixa etária. 42,8% 45% 40% 36,8% 35,5% 35% 28,5% 30% 26,3% 23,8% 25% 21,0% 21,4% 20% 15% 13,3% 14,2% 12,9% 9,5% 9,6% 10% Ambiente natural e mudança ambientais feitas pelo ser humano Serviços sistemas e políticas 6,6% 5% 0% Produto e Tecnologia 0% 18 a 25 anos 26 a 37 anos 38 a 48 anos 49 a 60 anos mais de 60 anos Fonte: Autor da dissertação. 5.6 ANÁLISE DOS RESULTADOS Com os dados obtidos na aplicação do modelo de avaliação na avenida Marquês de Herval, foi possível identificar que a população avalia como regular o projeto de urbanístico implementado pela Prefeitura Municipal de Belém. O resultado das pontuações atribuídas, apresentado na Tabela 5, apontou que a amostra, em geral, identifica os componentes do ambiente de circulação como barreiras e facilitadores moderados, ou seja, na percepção dos usuários, alguns elementos ainda precisam ser melhorados para garantir a mobilidade satisfatória. Os principais fatores referidos como barreiras pela população entrevistada estão relacionados a condições ambientais como: a temperatura, a umidade, a chuva e a variação sazonal que são elementos influenciados, em grande parte, pela característica climática da região norte do Brasil. A alta temperatura associada a uma frequência de chuvas quase diária, influenciada pela umidade e a variação 91 sazonal, também frequente, são os elementos que, na percepção de cerca de 70% dos usuários da via, comprometem a circulação (Gráfico 6). Apesar de ser uma característica natural, algumas soluções podem ser tomadas para amenizar estes fatores como a arborização, controle e organização dos equipamentos urbanos e construções para que não comprometam a circulação eficiente de ventilação para amenizar as altas temperaturas e um eficaz equipamento de drenagem de águas pluviais para evitar o acúmulo de águas durante as chuvas e permitir a livre circulação. Outros elementos apontados como barreiras pelos usuários são: a qualidade do ar (72%) e o som na via (79%) (Gráfico 7). Estes dois aspectos podem ser considerados como consequência negativa da própria reforma realizada na avenida, pois com as modificações realizadas, a avenida Marquês de Herval, que sempre foi um importante corredor de tráfego do município, teve um aumento no número de motoristas que utilizam a via como opção de deslocamento e itinerário diário. Com o maior número de veículos, aumenta-se o índice de ruído, bem como, a emissão de gases que comprometem a qualidade do ar. Os serviços, sistemas e políticas de transporte compõem o grupo de elementos dos fatores ambientais considerados como barreira pelos entrevistados (Gráfico 8). Entendido como os serviços e programas voltados para o deslocamento de pessoas ou mercadorias por meio de transporte público ou privado, incluindo aqueles que prestam serviços, ainda são vistos como insuficientes para favorecer a mobilidade satisfatória, por 57% da população entrevistada (Tabela 1). O transporte público é uma das queixas frequentes, no que diz respeito aos serviços de transporte, estas queixas remetem à qualidade do serviço e à relação oferta e demanda. Porém, algumas estratégias que influenciam no deslocamento dos usuários da via obtiveram maior aceitação como as ciclovias (Figura 10) e adequação de vagas para estacionamento no canteiro central (Figura 11). Apesar das percepções que, em parte, não aprovam as alterações urbanísticas ocorridas na avenida Marquês de Herval, houve elementos avaliados positivamente pelos entrevistados. As obras de arquitetura e construção como o nivelamento das calçadas (Figura 12), os serviços públicos como coleta de lixo e o planejamento dos espaços que envolvem a implementação das academias ao ar livre (Figura 13), Playgrounds (Figura 14), ciclovias (Figura 10) foram elementos avaliados positivamente por 70% dos entrevistados (Gráfico 8). Estes elementos, 92 além de favorecer a circulação na via, garantindo a acessibilidade, garantem a função social da cidade no ambiente urbano, contribuem para as relações sociais por meio dos espaços de convivência e com a qualidade de vida dos moradores (Figura 15). Figura 10 - Ciclovia Fonte: Autor da dissertação. Figura 11 – Vagas para estacionamento. Fonte: Autor da dissertação. Figura 12 – Nivelamento e sinalização das calçadas. Fonte: Autor da dissertação. 93 Figura 13 – Academia ao Ar Livre. Fonte: Autor da dissertação. Figura 14 – Playgrounds. Fonte: Autor da dissertação. Figura 15 – Espaço de convivência. Fonte: Autor da dissertação. 94 As mudanças demográficas e de densidade populacional são consequências da nova característica que a avenida assumiu depois da reforma, pois passou a atrair o comércio e estimular o mercado imobiliário, aumentando o número de pessoas que transitam e residem no local. Estas mudanças poderiam ser percebidas como negativas pelos entrevistados, uma vez que pode gerar uma sobrecarga do ambiente de circulação, entretanto, foram avaliados como facilitadores por 69% e 56% dos entrevistados, respectivamente (Gráfico 9). Para o modelo proposto, a escolha das pessoas a ser entrevistadas foi aleatória, pois se buscou o cidadão comum que pode ou não apresentar algum problema que comprometa a sua atividade e participação, ou seja, a priori não houve restrição quanto ao tipo de grau de mobilidade dessas pessoas, em função de algum problema físico. A percepção predominante na categoria Atividade e participação apresentada na Tabela 5 indica um nível de dificuldade leve em relação ao engajamento e participação em atividades. Entretanto, quando os dados são analisados por componente da entrevista (Gráfico 10) pode-se perceber que, apesar de 48,3% não referirem dificuldades, existe um grupo, representado pelos outros 51,7% dos entrevistados, que percebem dificuldades em diferentes níveis no espaço de estudo. Neste sentido, foi identificado que, entre os moradores que utilizam a via diariamente, encontram-se pessoas que referem algum tipo de problema pertinente à categoria Atividades e participação. Entende-se que os elementos que pertencem a esta categoria são fundamentais para determinar o comportamento no ambiente de circulação, pois se refere a atividades e habilidades aprendidas e aplicadas no cotidiano. Os dados obtidos permitiram identificar problemas em relação à habilidade de ler, escrever ou calcular (Gráfico 11), sendo elementos que influenciam na aprendizagem prévia de sinais e normas que devem ser seguidas no ambiente de circulação. Em relação ao domínio mobilidade, em questões que estão diretamente relacionadas ao deslocamento ao ambiente de circulação como a capacidade de andar (Gráfico 12) e de utilização de transporte (Gráfico 13), foi possível identificar uma parcela significativa da população, representada por mais de 50% dos entrevistados, que referem ter dificuldades, de leve a completa. Estas informações podem ser tomadas como referência para identificar o tipo de dificuldades 95 existentes e propor soluções ligadas à implementação de estratégias urbanísticas que atendam estas demandas. A participação em atividades que compõem a vida comunitária, como as atividades de lazer, religião e política (Gráfico 14) seguem com uma representação menor em relação às pessoas que apresentam dificuldades em desempenhá-las, mas que podem chegar a mais de 50% se analisados conjuntamente, por isso devem ser ressaltados, pois estas dificuldades podem ter diversas origens, entre comprometimentos sensório-motores a questões sociais como as relacionadas à segurança pública. Todavia, o levantamento dessas informações contribui para a identificação das principais demandas da população e pode influenciar na tomada de decisão durante a elaboração de um projeto urbanístico, visando a garantia do acesso a todos ao ambiente de circulação, universalmente. A categoria Funções e estruturas do corpo segue o mesmo princípio de análise da categoria anterior. O foco da pesquisa não foi em pessoas com deficiência previamente identificada, com isso o resultado apresentado na Tabela 5 aponta a percepção geral dos entrevistados como uma dificuldade ou deficiência leve. Entretanto, na análise dos dados apresentados no Gráfico 15 é possível identificar que as deficiências, mesmo as consideradas leves estão presentes e se somadas podem chegar a 53,3% dos entrevistados. As funções e estruturas do corpo vão garantir que os usuários possam analisar e reagir adequadamente aos estímulos que o ambiente oferece. Estas análises e reações permitem, entre outras coisas, a elaboração e planejamento de um deslocamento ou a identificação e o desvio de obstáculos presentes na via, por exemplo. Os dados apresentados no Gráfico 16, relativos às capacidades mentais, demonstram que somando os que consideraram possuir algum tipo de dificuldade ou deficiência têm-se mais de 40% dos entrevistados. Dentre as dificuldades ligadas a este domínio, encontram-se a capacidade de orientação, dificuldades de memória e organização de ações, planejamento e gerenciamento, aspectos que estão ligados à capacidade de planejamento e execução de um deslocamento. Outros elementos que influenciam neste deslocamento como as funções sensoriais (Gráfico 17), funções neuromusculoesqueléticas e estruturas relacionadas ao movimento (Gráficos 18 e 19), seguem a mesma compreensão, ao constatar que o número de pessoas que referem alguma dificuldade, ao ser 96 analisado em conjunto, tem uma representatividade entre 25% a 48%, portanto que não deve ser esquecido nos processos de tomada de decisão por parte do poder público em intervenções em ambientes construídos. Os dados obtidos do modelo de avaliação permitem estabelecer relações entre as categorias, assim como, podem ser relacionados com o perfil da população entrevistada, seja por faixa etária, ocupação, escolaridade ou gênero. No Gráfico 20 constatou-se, por exemplo, que entre as pessoas que avaliaram os sistemas e políticas de arquitetura e construção como barreira, 30% referiam nenhuma dificuldade em relação à função mobilidade articular. Assim como, no Gráfico 21, a relação foi estabelecida entre a percepção dos serviços, sistemas e políticas de transporte como barreira e a capacidade de utilização de transporte público, onde se identificou que 47,7% indicaram não possuir dificuldades ou deficiências nesse quesito. De outra forma, ao se estabelecer a relação entre a percepção de barreiras com a faixa etária dos entrevistados, foi possível identificar que, nas diferentes faixas de idade, o ambiente natural e as mudanças feitas pelo ser humano é a principal barreira considerada, alcançando 42,8%, entre a faixa etária de 38 a 48 anos (Gráfico 22). Esses padrões de resultados apontam que a percepção de barreiras nos Fatores Ambientais nem sempre está condicionada a dificuldades ou deficiências identificadas em relação a funções e estruturas do corpo ou à atividade e participação. Portanto, para que os projetos urbanísticos atendam as demandas dos seus usuários, as soluções elaboradas não podem partir de ideias preconcebidas, mas sim do reconhecimento das necessidades que estão, muitas das vezes, além da deficiência observável. Concluindo, os dados demonstram que o ambiente de circulação da avenida Marquês de Herval é percebido pela maioria das pessoas entrevistadas, como um ambiente que favorece a circulação, porém com algumas limitações, uma vez que a maior parte dos elementos que compõem a via são considerados como facilitadores da circulação, bem como, os elementos identificados como barreiras não comprometem o deslocamento, pois foram considerados como barreiras moderadas. Porém, os dados permitem identificar a relação dos fatores ambientais com o engajamento das pessoas em suas atividades diárias, subsidiando a relação com a mobilidade no contexto da cidade. 97 6 CONCLUSÕES A análise final da pesquisa confirmou que o modelo proposto pode ser utilizado como um método de avaliação para subsidiar a tomada de decisão por parte do poder público em intervenções em ambientes de circulação, pois foi possível definir a percepção dos usuários da via sobre os fatores ambientais e estabelecer relações desta percepção com as condições de funcionalidade e capacidade do usuário. Constatou-se que o projeto urbanístico aplicado na avenida Marquês de Herval e as suas consequências foram avaliados como regular pela maioria dos entrevistados. Os elementos que são resultados diretos do projeto como os relacionados à implementação de equipamentos de lazer como os Playgrounds e a academia ao ar livre; espaços de convivência como bancos e espaços para jogos; de circulação como ciclovia e adequação das calçadas, foram bem aceitos pela maioria da amostra entrevistada, incluindo as pessoas que referiam algum tipo de dificuldade funcional. As consequências resultantes da reforma como as mudanças demográficas e na densidade populacional, também tiveram avaliação positiva pelos usuários. A avenida evoluiu de um simples corredor de tráfego ou via alternativa de trânsito, para um importante polo atrativo de pessoas e serviços. A avaliação positiva em relação a essas consequências pode estar relacionada com valorização imobiliária, a garantia de infraestrutura satisfatória do espaço, o acesso facilitado a serviços essenciais e de lazer, que para alguns moradores pode ser a caracterização do desenvolvimento satisfatório do espaço. Entretanto, foi possível identificar pela avaliação feita, que alguns aspectos avaliados negativamente pela população têm relação direta com esta característica atrativa da via, como a temperatura, o som, a qualidade do ar e os serviços de transporte. O aumento no número de veículos motorizados (carros, ônibus, motocicletas) que circulam na via, é um dos principais causadores desses problemas, a temperatura dos motores, a emissão de gases poluentes, o ruído emitido frequentemente e os engarrafamentos resultantes, evidenciam estes problemas que nem sempre tem essa relação percebida pelos moradores. O modelo proposto permitiu que a avaliação fosse além do olhar para o aspecto ambiental, conseguiu-se estabelecer relações com a percepção de 98 funcionalidade e capacidade dos usuários. Foi identificado que a maioria dos entrevistados não referia dificuldades em se engajar em atividades, assim como, não referiam algum comprometimento funcional ou estrutural do corpo. Porém, não foi este resultado que determinou a avaliação do aspecto ambiental como favorável. O método utilizado na avaliação permitiu que as variáveis fossem analisadas em separado, e essa análise apontou que o número de pessoas que referem algum tipo de dificuldade, também é significativo, o que indica que as avaliações positivas do ambiente também foram feitas por pessoas que referiram alguma dificuldade. Este é um resultado importante de ser ressaltado, pois os dados indicam que muitas pessoas que avaliaram um determinado componente do ambiente como negativo, não referiam possuir dificuldades ou deficiências nas outras categorias, assim como, o inverso foi verdadeiro, pessoas que referiam dificuldades ou deficiências nas categorias de atividade e participação ou funções e estruturas do corpo, avaliaram positivamente os fatores ambientais. Esta informação pode ser entendida a partir da concepção de que a funcionalidade e a (in)capacidade não está relacionada simplesmente a um componente sensório-motor preservado ou a uma deficiência, por exemplo, mas sim é resultante da relação do ser humano com o ambiente, intermediado pelas atividades que desenvolve. Neste sentido, a escolha da CIF para embasar o modelo de avaliação proposto foi fundamental para se obter o desempenho satisfatório do instrumento. Os domínios e componentes apresentados na classificação possibilitaram que as variáveis fossem identificadas, da mesma forma, que favoreceu que as relações entre elas fossem estabelecidas. Esta característica do modelo determinou a elaboração de um instrumento de aplicação simples, que favorece o entendimento e, portanto, a resposta do entrevistado, garantindo a confiabilidade dos resultados alcançados. Entretanto, vale ressaltar que o modelo tem restrições, uma delas refere-se a sua sensibilidade. A forma como foi sistematizado, está adequado para a área em questão, pois as principais características e especificidade do ambiente de estudo já eram conhecidas, portanto, a aplicação sem as devidas adaptações, em um local diferenciado, poderia gerar os resultados não confiáveis. Diante disso, este modelo pode servir de base para estudos posteriores, como: em ambientes que não sofreram intervenções recentes, pois se trabalharia com os usuários mais adaptados à realidade, o que poderia gerar percepções 99 diferenciadas sobre o ambiente; poderiam ser inseridos outros fatores não presentes neste modelo; no formato de estudo comparativo entre situações ou ambientes com características semelhantes dentro do espaço urbano; ou a utilização do modelo no planejamento de novas intervenções urbanísticas. Por fim, considera-se que o objetivo geral do trabalho foi alcançado, uma vez que se conseguiu desenvolver um modelo que permitisse identificar e analisar a percepção dos usuários sobre um ambiente de circulação de Belém, estabelecendo as devidas relações com a percepção de funcionalidade e capacidade que possuem. 100 REFERÊNCIAS ALBANO, J. J. Circulação e Mobilidade Urbana. Lastran/ URFGs. Disponível em: <http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/disciplinas/494_15_1mobilidade_aspectos_c onceituais_%5Bmodo_de_compatibilidade%5D.pdf>. Acesso em: 22 out 2010. ALMEIDA, M. A. R. de. Mobilidade e adensamento urbano. URBS, São Paulo, Ano XII, n° 47, set. 2008. Disponível em: <www.vivaocentro.org.br/publicacoes/urbs/urbs47.pdf>. Acesso em: 22 de Nov. de 2011. ALVES, P.; RAIA JR, A. A. Mobilidade e Acessibilidade Urbanas Sustentáveis: a gestão da mobilidade no Brasil. São Carlos: [s.n.],1999. Disponível em: <www.ambiente-augm.ufscar.br/uploads/A3-039.pdf>. Acesso em: 23 out 2010. ALVIM, A. A. T. 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( )Barreira ( ) Facilitador 2.2 Como você avalia as mudanças demográficas para mobilidade? ( )Barreira ( ) Facilitador; 2.3 Como você avalia as mudanças na Densidade populacional para mobilidade? ( )Barreira ( ) Facilitador 2.4 Como você avalia a presença de plantas? ( )Barreira ( ) Facilitador; 2.5Como você avalia a presença de Animais? ( )Barreira ( ) Facilitador 2.6 Como você avalia a influência do Clima? Temperatura ( )Barreira ( ) Facilitador / Umidade ( )Barreira ( ) Facilitador / Chuva ( )Barreira ( ) Facilitador / Vento ( )Barreira ( ) Facilitador / Variação sazonal ( )Barreira ( ) Facilitador 2.7 Como você avalia a Luzna via?: ( )Barreira ( ) Facilitador 2.8 Como você avalia a Som na via? ( )Barreira ( ) Facilitador 2.9 Como você avalia a qualidade do ar? ( )Barreira ( ) Facilitador 3 Serviços, sistemas e políticas 3.1 Como você avalia os Serviços, sistemas e políticas de arquitetura e construção? ( )Barreira ( ) Facilitador 3.2 Como você avalia os Serviços, sistemas e políticas de planejamento de espaços abertos? ( )Barreira ( ) Facilitador 3.3 Como você avalia os Serviços, sistemas e políticas dos serviços públicos? ( )Barreira ( ) Facilitador 3.4 Como você avalia os Serviços, sistemas e políticas de transporte? ( )Barreira ( ) Facilitador. II- Atividade e Participação 1 Aprendizagem e aplicação do conhecimento 1.1 Como você avalia seu desempenho para Ler? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 1.2 Como você avalia seu desempenho para Escrever? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 1.3 Como você avalia seu desempenho para Calcular? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 1.4 Como você avalia seu desempenho para Resolver problemas? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 1.5 Como você avalia seu desempenho para Tomar decisões? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 2 Tarefas e demandas gerais 2.1 Como você avalia seu desempenho para realizar a rotina diária? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 3 Comunicação 3.1 Como você avalia seu desempenho para conversação? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 4 Mobilidade 4.1 Como você avalia sua capacidade de mudar a posição básica do corpo? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 4.2 Como você avalia sua capacidade de manter a posição do corpo? Em pé ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 4.3 Como você avalia sua capacidade de andar? Distâncias curtas ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 Distâncias longas ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 Sobre superfícies diferentes ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 Desvio de obstáculos ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 4.4 Como você avalia sua capacidade de deslocar-se por diferentes locais? Dentro de casa ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 Outros edifícios ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 Fora de casa e prédios ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 4.5 Como você avalia sua capacidade de deslocar-se utilizando algum tipo de equipamento? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( ) Não se aplica 4.6 Como você avalia sua utilização de transporte? Tração humana ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 Motorizado privado ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 Transporte público ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 4.7 Como você avalia seu desempenho para dirigir? Tração humana ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 Motorizados ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 Não se aplica 5 Áreas principais da vida 5.1 Como você avalia sua participação em atividades de educação? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 5.2 Como você avalia sua participação em atividade de trabalho e emprego? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 6 Vida comunitária, social e cívica 6.1 Como você avalia sua participação em atividade de recreação e Lazer ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 6.2 Como você avalia sua participação em atividade de Religião e espiritualidade ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 6.3 Como você avalia sua participação em atividade de vida política e cidadania ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 107 III- Funções do Corpo 1- Funções Mentais 1.1- Como você avalia sua capacidade de orientação? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 1.2- Como você avalia sua energia e motivação para realizar atividades? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 1.3- Como você avalia sua capacidade de Atenção? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 1.4- Como você avalia sua capacidade de Memória? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 1.5- Como você avalia sua capacidade de organização, planejamento e gerenciamento? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 2- Funções sensoriais e dor 2.1- Como você avalia sua função da visão? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 2.2- Como você avalia sua função auditiva? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 2.3- Como você avalia sua função vestibular e de equilíbrio? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 3- Funções da voz e fala 3.1- Como você avalia sua função voz em relação a produção e qualidade: ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 4 Funções neuromusculoesqueléticas e relacionadas ao movimento 4.1- Como você avalia sua mobilidade das articulações? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 4.2- Como você avalia sua Força muscular? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 IV Estrutura do corpo 1- Estruturas relacionadas ao movimento: 1.1- Como você avalia sua estrutura óssea? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 1.2- Como você avalia sua estrutura ligamentar? ( )0 ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 DADOS PESSOAIS 24. Gênero: M ( ) F ( ) 15. Faixa Etária:15 a 25 anos ( ) 26 a 37 anos ( ) 38 a 48 anos( ) 49 a 60 anos ( ) mais de 60 anos 25. Ocupação: ( ) assalariado ( ) Autonômo ( ) Aposentado ( ) Funcionário Público ( ) Dona de Casa ( ) Profissional Liberal ( ) Estudante 8. ( ) Outros: especificar________________________________ 26. Renda: ( ) Até 1 SL; ( ) Entre 1SL até 2SL; ( ) Entre 2SL até 4SL; ( ) Entre 4SL até 7 SL; ( ) Entre 7SL até 10 SL; ( 10 SL 27. Escolaridade: ( ( ) Analfabeto/Fundamental Incompleto ( ) Fundamental Completo/Médio Incompleto ) Médio Completo/Superior Incompleto ( ) Superior Completo Data: / /2011 Tel. ou email: ) Acima de 108 APÊNDICE B - MAPA DE CÁLCULOS PERCEPÇÃO PREDOMINANTE a) Percepção de Barreiras Cálculo da pontuação máxima possível: Peso máximo atribuível por questão: 4 N° de itens da categoria: 19 Pontuação máxima possível por entrevistado: 19 x 4 = 76 Pontuação máxima possível da amostra: 76 x 100 = 7600 Pontuação atribuída (soma das frequências por item, multiplicado pelo peso atribuído: 0,1,2,3 ou 4) Total = 2010 Cálculo proporcional 7600 = 100% 2010 X= 26,4% X b) Percepção de Facilitadores Cálculo da pontuação máxima possível: Peso máximo atribuível por questão: 4 N° de itens da categoria: 19 Pontuação máxima possível por entrevistado: 19 x 4 = 76 Pontuação máxima possível da amostra: 76 x 100 = 7600 Pontuação atribuída (soma das frequências por item, multiplicado pelo peso atribuído: 0,1,2,3 ou 4) Total = 2445 Cálculo proporcional 7600 = 100% 2445 X X= 32% 109 b) Percepção sobre Atividades e Participação Cálculo da pontuação máxima possível: Peso máximo atribuível por questão: 4 N° de itens da categoria: 27 Pontuação máxima possível por entrevistado: 27 x 4 = 108 Pontuação máxima possível da amostra: 108 x 100 = 10800 Pontuação atribuída (soma das frequências por item, multiplicado pelo peso atribuído: 0,1,2,3 ou 4) Total = 2134 Cálculo proporcional 10800 = 100% 2134 X= 19,7% X b) Percepção sobre Funções e Estruturas do Corpo Cálculo da pontuação máxima possível: Peso máximo atribuível por questão: 4 N° de itens da categoria: 13 Pontuação máxima possível por entrevistado: 13 x 4 = 52 Pontuação máxima possível da amostra: 52 x 100 = 5200 Pontuação atribuída (soma das frequências por item, multiplicado pelo peso atribuído: 0,1,2,3 ou 4) Total = 631 Cálculo proporcional 5200 = 100% 631 X X= 12,1%