A representação social dos adolescentes do bairro Potecas,São José, sobre a AIDS e a liberação da distribuição de preservativos em escolas públicas. Autora : Emanuelle Ribeiro Santana Profº Orientador:Leandro Castro Oltramari Introdução A importância de se estudar os processos que envolvem a comunicação, conhecimento e comportamentos das pessoas produzidos em seu contexto social é que constituem o que Moscovici chamou de representações sociais. Segundo Oliveira e Werba (1998,p.105), o autor buscou a partir do trabalho científico elucidar a realidade a favor das dimensões da histórico crítica , sendo contrário então as premissas dos funcionalistas e positivistas. A pesquisa qualitativa entra neste contexto como uma forma de entender os fenômenos que emergem da dinâmica de um grupo dentro de uma realidade social complexa. As oficinas que realizamos em nosso estudo com jovens de um bairro popular da cidade de São José em Santa Catarina foram baseadas nesta concepção bem como na teoria das representações sociais. Objetivos Geral Compreender as representações sociais da AIDS e do uso de preservativos por adolescentes do bairro Potecas em São José. Específicos Identificar as representações sociais da AIDS para adolescentes de uma comunidade de São José; Descrever suas perspectivas sobre sexualidade; Comparar os relatos de iniciação sexual de adolescentes homens e mulheres. Metodologia Foram realizadas 8 (oito) oficinas com 7 adolescentes que estudam em escolas públicas da localidade de São José de idades entre 13 e 18 anos, com a devida autorização dos responsáveis através do termo de consentimento livre e esclarecido. A dinâmica do grupo decorreu-se por temas significativos, tais como: sexualidade, Gênero, Iniciação sexual, Aids, escola, relacionamentos, dentre outros que surgiam durante os encontros, caracterizando-se, portanto como grupo focal. Foram classificadas categorias decorrentes dos objetivos do projeto de estudo, sendo o material coletado examinado através da análise de conteúdo. Resultados Verificou-se que a lógica representada pelos adolescentes em relação a AIDS e ao uso do preservativo está relacionada à confiança no parceiro sexual e atrelada em alguns momentos à idéia da existência de ‘grupos de risco’ para a AIDS. A escola foi considerada como positiva se pautada em uma proposta para a prevenção e orientação quanto aos aspectos da sexualidade em geral. As representações da sexualidade se deram pelas relações de gênero, o que propiciou a discussão e esclarecimentos referentes a assuntos de ordem sexual. Conclusões A partir dos encontros realizados com temas significativos para a explicação dos dados, construímos categorias decorrentes dos objetivos pré-estabelecidos como identificar as representações sociais da AIDS (Prevenção da Aids e responsabilidade dos parceiros; AIDS atrelada a percepção sobre “grupos de risco”; AIDS não atrelada a percepção sobre “grupos de risco.”), descrever suas perspectivas sobre a sexualidade (Representações sociais sobre sexualidade e roteiros sexuais de gênero) e por último caracterizar os relatos de iniciação sexual dos adolescentes homens e mulheres (Roteiros de iniciação sexual de homens e mulheres) com a ressalva que nos encontros houve o comparecimento de apenas um homem. As categorias por sua vez expostas nestes resultados foram construídas através das análises dos relatos dos encontros. O uso do preservativo está frequentemente associado às questões de gênero, por que ainda acontecem estereótipos de negociação da conduta, para os adolescentes as iniciativas devem ser do homem e a mulher deve “se fazer de difícil”, que fazem parte do cenário cotidiano e que não torna-se tão diferente das relações efetivamente sexuais A AIDS esteve atrelada a idéia de “grupos de risco” para a AIDS que está na cultura impedindo estratégias de prevenção, em conseqüência da lógica de que os ditos “normais” estão salvos ao contágio. O adolescente mesmo com uma forma diferente de se relacionar como no caso do “ficar” (iniciação sexual) apresentam suas atitudes e valores como uma forma de construir sua identidade. O contato com os grupos nos possibilitou observar que a distribuição de preservativos não está relacionada a um programa de orientação sexual do adolescente. Percebeu-se também muito claramente a necessidade que esses jovens têm de debater e questionar a realidade, é nesta necessidade que os programas orientados ao jovem devem se apoiar , pois a prevenção da AIDS deve estar de acordo com a interação dos atores sociais com seus roteiros sexuais permeados por questões substancialmente de gênero que permearam as categorias exploradas neste estudo. Por fim, compreendemos que diante desses resultados pudemos à priori conhecer as representações sociais que os adolescentes têm sobre os preservativos identificando que ainda é precário o contingente de informações sobre a efetividade deste método em relação a prevenção de AIDS e DSTs e que a prática de distribuição de preservativos não poderá apenas restringir-se a entrega ou ao uso de uma máquina de preservativos como pudemos perceber na fala de uma participante “É como comprar refrigerante com aquela máquina”(sic). Esta pesquisa não permite generalizações, mas sim uma reflexão sobre as políticas públicas para a prevenção da AIDS que são feitas muitas vezes de forma isolada em alguns projetos que reduzem-se a uma pequena parte da população. Estes projetos devem levar em conta um universo maior de sujeitos de diretos e necessidades, com suas fantasias, desejos, sentimentos, comportamentos, pensamentos e decisões, e como diria Paulo Freire (1993, apud PAIVA 2000), o indivíduo não pode ser apenas adestrado para a AIDS. Bibliografia PAIVA, Vera. Fazendo Arte com Camisinha. São Paulo: Summus, 2000. OLIVEIRA, Fátima O; WERBA, Graziela C. Representações Sociais. in STREY, Marlene. Psicologia social contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1998. Apoio Unisul