1
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE TEOLOGIA
VOCAÇÃO: O CHAMADO PARA SERVIR
Cerlândia Aguiar Barbosa
São Bernardo do Campo, Novembro de 2003
2
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE TEOLOGIA
VOCAÇÃO: O CHAMADO PARA SERVIR
Por
CERLÂNDIA AGUIAR BARBOSA
T RABALHO APRESENTADO À CONGREGAÇÃO DA FACULDADE DE TEOLOGIA
COMO REQUISITO P ARA CONCLUSÃO DO CURSO DE BACHAREL EM T EOLOGIA
São Bernardo do Campo, Novembro de 2003
3
A Comissão, tendo examinado o presente Trabalho de Conclusão de
Curso, o considera
_______________________________
_______________________________
Prof. . Josias Pereira
Orientador
_______________________________
Prof. Dr. James Farris
Leitor
4
"Ao sermos vocacionados para Vida fomos postos em
sela definitiva e insuperável.
Nossa vocação é a partir de outras vocações.
A vida que, num ato primeiro, a ti pertence como
tesouro intransferível é, na verdade, patrimônio
compartilhado com tantos outros e outras que receberam
o mesmo presente que nós, todavia com digitais
diferentes.
Estamos entrelaçados, amarrados, aprisionados e
amalgamados com outros como nós.
O curioso e irônico é que esta sela está com sua
porta e suas janelas abertas.
- O quê?
Estamos presos aos caminhos de outros e somos
livres pelas mãos de outros.
Assim, nosso abismo mostra-se ainda mais profundo e
convidativo, apaixonante e impactante."
Hugo Fonseca - Hu
5
DEDICATÓRIA
Dedico esta conquista á minha família:
á minha querida mãe Maria,
meu pai Francisco
e irmãos: Joice
Cirlândia e
Deybid.
6
AGRADECIMENTOS (Valeu, pessoal !!)
Agradeço a todos/as que me apoiaram, pois a amizade é essencial à alma
humana.
Aos meus pais, Maria e Francisco, cujas vidas de lutas e dedicação
permitiram-me estudar mesmo em meio às dificuldades. Às minhas irmãs
Joice, Cirlândia e irmão Deybid, pelas brigas e brincadeiras que
embelezaram minha infância.
À família Campanharo. Percebi que os laços familiares estão acima do vínculo
sangüíneo.
Ao professor: Josias, meu orientador, pela paciência e incentivo. Suas
palavras de vovô marcaram minha vida.
Ao professor James, meu leitor, pela atenção e cuidado na análise deste texto.
Ao professor Rui, pois suas palavras aqueceram a minha alma e coração. São
palavras que ecoam dentro de mim apontando para minha vocação.
A mestra Margarida, sempre presente na minha vida. Exemplo de humildade
e dedicação. É alguém que fez da vida uma eterna doação.
À Igreja Metodista em Presidente Epitácio pela recomendação e orações. À
Igreja Metodista em Perequê, aprendi o valor da comunhão. À Igreja
Metodista em Vila Mazzei, acolhimento, carinho e reconhecimento.
À mestra Elena, minha pastora e amiga de jornada. Com quem pude contar
nas tristezas e alegrias. À Thays, menina sapeca.
7
À minha turma “Os Hiatos”, ainda que de modos diferentes, juntos sonhamos
e buscamos - Conseguimos!
Ao único anjo iluminado e doce que conheci na terra. Elly seu brilho nunca
deixará de cessar.
A Bate-Caverna, pela alegria de brindar a constante comunhão com os mais
que amigos. Lugar onde aprendi o verdadeiro sentido da espiritualidade, lugar
de crescimento e enriquecimento teológico
Aos amigos do Sul, Simone, Vilquer e Flávia – a distância é pequena para
amizades verdadeiras.
Ao Luciano Frei amigo “incomparável” e ao Luis Carlos Corno – amigo mor ,
pelas aventuras no mundo da sétima arte, e outras.
Ao João Luiz, amigo de todas as horas, inclusive na digitação dos trabalhos.
Graças a você minha vida preto-branco ficou COLORIDA.
Aos parceiros hereges da quinta região: Renatinho da Praia, Baiano – o Don
Juan -, Dennis – o pimentinha. Ao meu amigo internacional Sthefan “o
maluco doidão”.
Às minhas amigas Deborah (abelhuda), Priscila (Prê) e Cimara (Cizinha),
amantes da vida e da beleza com que ela nos agracia.
Aos Santos Mártires, Hugo (só na moral) – amigo e confidente, Malafaia (o
profeta), Marquinhos (ovelha), Evandro (Fifi), Carlão (deus entre os
homens), Tatuapú, Geison (demônio), João Luiz, Deborah, Luis Carlos,
Emanuel, João Aparecido, pela Singela Melodia dos momentos de “Batida”.
Ao companheiro João Batista, pelas alegrias do caminho à casa do Senhor. À
Vanuza, Socorro que foi bem presente nos dias de angústia.
Ao amigo Giovanni pelas aventuras na Selva de Pedra.
A todos/as os demais amigos/as que partilharam comigo da eucaristia da vida.
Todos/as eternizados, pois sempre os levarei dentro de mim.
Agradeço finalmente a Deus, que encontrei em cada uma dessas pessoas
citadas aqui.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO _________________________________________________ 10
I. Vocação: O Ponto de Partida _________________________________ 13
I.I Considerações _________________________________________ 13
I.II Os Conceitos de Vocação _______________________________ 15
I.II.I Do Hebraico _____________________________________ 15
I.II.II Do Grego_______________________________________ 16
I.II.III Do Latim ______________________________________ 18
I.III Vocação No Catolicismo _______________________________ 19
I.III.I Vocação, Carisma e Dom ________________________ 20
I.III.II Vocação Comum e Universal de todos/as _________ 22
I.III.III Vocação Cristã ________________________________ 24
I.III.IV Vocações Específicas ___________________________ 25
I.IV Vocação no Metodismo ________________________________ 29
9
I.IV.I Vocação nos Documentos da Igreja _______________ 30
I.IV. II Vocação na Tradição Wesleyana _________________ 33
II. Vocação na Bíblia ___________________________________________ 37
II.I. Introdução ao Tema___________________________________ 37
II.II Vocação no Antigo Testamento_________________________ 39
II.II.I Vocação como Chamado para Missão _____________ 40
II.II.II Características comuns Presentes na Vocação _____ 44
II.III Vocação no Novo Testamento _________________________ 47
II.III.I Vocação como Chamado para Missão_____________ 48
II.III.II Vocação Pastoral para o Serviço ________________ 51
II.IV Vocação Hoje ________________________________________ 56
III. Psicologia e Vocação _______________________________________ 60
III.I Compreensão do Comportamento Humano ______________ 60
III.II A Contribuição da Psicologia __________________________ 61
III.II.I Na Compreensão da Vocação ____________________ 64
III.II.II Na Compreensão das Crises ____________________ 68
III.II.III Na compreensão das Crises Específicas _________ 71
III.III Saúde Integral do/a Vocacionado/a ___________________ 79
CONCLUSÃO __________________________________________________ 83
BIBLIOGRAFIA ________________________________________________ 86
10
INTRODUÇÃO
Num primeiro momento, falar de vocação nos dias de hoje é mais do
que falar sobre concepções e motivações que levam homens e mulheres
a escolherem entre muitos serviços um que se encaixe sempre com seu
perfil. É mais do que fazer um teste vocacional, pois vocação é um
chamado, que para muitos pode ser divino, mas é um chamado
universal para servir.
Serviço que proporcione a dignificação da profissão por meio da missão.
Essa dimensão de dignificação não diz respeito apenas a vocação para o
ministério pastoral, mas aos serviços, ocupações, tarefas, profissões que
11
na sua prestação de serviço, de alguma forma, seja capaz de promover
vida.
A vocação como chamado para servir revela um horizonte novo na
compreensão da vocação, pois ela desvenda, por meio da perspectiva
do serviço, a necessidade do agir, fazer e proporcionar ao/a outro/a
vida, revela também, àqueles/as que o fazem, sua responsabilidade
perante o grupo que indiretamente ou diretamente é privilegiado por
meio da sua atividade exercida.
Nessa perspectiva de vocação como chamado para servir, o presente
trabalho se propõe a esclarecer o sentido da vocação na tradição
católica e protestante, na Bíblia e na psicologia.
Desta forma este trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro
inicia-se com algumas considerações, seguindo uma abordagem do
conceito de vocação, etimologicamente no Hebraico, no Grego e Latim.
No segundo momento é abordada a vocação no catolicismo enquanto
carisma e dom, a diferença entre vocação comum e universal, vocação
cristã e vocações específicas. No final deste capítulo é enfocada a
vocação no metodismo, segundo os documentos da igreja e como a
mesma é vista na tradição wesleyana.
12
No segundo capítulo a vocação ganha um enfoque segundo a Bíblia,
iniciando com uma pequena introdução ao tema, seguido de uma análise
da vocação como chamado para missão e suas características comuns
de acordo com o Antigo Testamento, assim também, se faz a mesma
análise da vocação como chamado para missão e pastoral para serviço,
desta vez, conforme o Novo Testamento.
No terceiro e último capítulo a pesquisa volta-se para a contribuição da
psicologia observando-se, segundo ela, a compreensão da vocação,
crises e de crises específicas. O capítulo encerra-se como exposição
sobre a saúde integral do/a vocacionado/a.
13
I.
VOCAÇÃO:
O PONTO DE PARTIDA
I.I
Considerações
O termo vocação é aplicado na literatura teológico-pastoral dentro da tradição católica quanto da protestante -
tanto
para especificar
apenas um chamado peculiar ou particular, “o chamado divino”. Dentro
dessa
dimensão religiosa a palavra sofre um certo reducionismo por
representar apenas um caráter sobrenatural, fugindo da dimensão mais
concreta da vida humana. Essa dicotomia da palavra vocação dá-se ao
fato de que o chamado divino pressupõe a separação/consagração
14
daquele/a que recebe o chamado de Deus, no caso específico do/a
pastor/a ou o/a sacerdote/isa (vocação religiosa ou sacerdotal).
A palavra vocação como chamado trás uma série de dificuldades para
sua compreensão, primeiro por caracterizar a vontade absoluta de Deus
sobre o querer e agir humano. No segundo momento a palavra sofre
grande influência cultural como histórica, sendo dificílimo entender o seu
significado primeiro.
Quanto à influência cultural sobre o seu significado, o padre Victoriano
Baquero explica que “para o oriental, vocação é ‘chamado especial’ para
o ocidental, é uma ‘função’, um cargo, para realizar o bem comum da
1
sociedade” .
O uso da palavra vocação, como se vê, não é tão simples como se
pensa. Antes de solucionar qualquer questão primordial é necessário
delinear alguns aspectos importantes no problema em torno da palavra
vocação. Desta forma é preciso saber como ela é apresentada nos
dicionários, qual seria o conceito das diferentes culturas, como é
apresentada pela tradição protestante e católica e como é apresentada
pelas raízes etimológicas.
1
Vitoriano BAQUERO, Tenho vocação? orientações metodológicas, p. 8.
15
I.II
Os conceitos de vocação
I.II.I
Do Hebraico
Do verbo e da raiz
ad""q"
(qārā̉) chamar, avisar, citar, convocar,
convidar, recrutar, nomear, denominar, anunciar, proclamar, gritar,
clamar, invocar, apelar, chamar nominalmente, , ter o sobrenome de 2.
Segundo Coppes, a raiz
ad""q" significa
basicamente a enunciação de um vocábulo ou
mensagem específica. No caso deste último uso, a
enunciação é dirigida geralmente a um receptor
específico com objetivo de obter uma resposta
específica (por conseguinte, pode-se traduzir o
verbo por “apregoar”, “convidar”). Umas poucas
vezes qārā̉ denota simplesmente um clamor
(e.g., SL 147.9: Is 34.14) (...) Os sinônimos que
aparecem com maior freqüência são ts/za‘aq,
shāwa‘, “clamar urgentemente por ajuda” (Jr
3
20.8) .
O verbo (qārā̉
) também indica quando um nome é especificado, ou seja
quando Deus nomeia alguém. Aqui igualmente fica subentendida a
seleção para uma determinada tarefa.
2
3
Luis Alonso SCHÖKEL, Dicionário bíblico hebraico-português, pp. 588 – 589.
Leonard J. COPPES, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 1364.
16
Quando o verbo (qārā̉
) é usado como substantivo (miqrā̉
) denotando o
chamado para um serviço específico, designa primeiramente uma
convocação pública ou de caráter exclusivamente religioso; num
segundo momento faz alusão a uma leitura feita em alta voz. A raiz
comparada com o sinônimo mō‘ēd significa “hora marcada” ou “encontro
4
marcado” .
I.II.II
Do Grego
Do verbo 
(kaleo
́
) “chamar” - falar a alguém diretamente ou por
meio
de
um
intermediário;
suas
variações:
o
substantivo
̃




klếsis


chamada, convite – ato de convidar, seria uma
convocação oficial feita por meio de uma autoridade, quando feita por
um
poder
militar
ou
assembléia
é
“convocar”;
o
adjetivo

ó

(klētos), chamado, convidado etc.
Segundo o Dicionário Teológico Internacional de Teologia no Novo
Testamento, as palavras kaleõ e klêsis no grego clássico
raras vezes se empregam para uma vocação
divina. Este uso é mais próximo das religiões
místicas (e.g. a Ísis), da influência da LXX, e
4
Id. Ibid, p. 1365.
17
especialmente do emprego no NT. A partir daí,
kaleÕ toma sobre si as idéias de “reclamar para
si”
(Herm.,
119
B
III,
10-11)
e
“comissionamento” (CPR 18, 9). Em contraste
com esta vocação pessoal, os estóicos entendiam
klêsis de modo impessoal, significando a
exigência que uma posição crítica faz dele, no
sentido de ele manter a veracidade e o poder dos
seus princípios (cf. Epict., Dissertações, 1, 29,
5
49) .
Na sociedade grega o conceito de “vocação” não era entendido como
“chamada”, mas era ligada a atividade exercida por alguém dentro da
sociedade. Seria uma função ou trabalho exercido por alguém. O termo
vocação “permanecia restrito a sacerdotes, e, até certo ponto, àqueles
que se dedicavam as tarefas intelectuais e administrativas” 6.
Conforme M. Moreno Villa, o grego clássico desconhece que
as palavras έ (chamar) e
̃



(chamado)
não têm significado primeiramente religioso. Por
outro lado, o sentido de vocação interpessoal que
encontramos na tradição religiosa bíblica é
desconhecido por completo no mundo grego (...) 7.
Quando o termo kaleõ (o que ocorria raras vezes), aludia a chamada,
referia-se à ordem, nunca um simples convite. Assim sendo, a resposta
Coenen LOTHAR & Colin BROWN, Dicionário Teológico Internacional de Teologia no Novo Testamento,
p. 350.
6
Id. Ibid. p. 350.
7
Dicionário de Pensamento Contemporâneo, p. 776.
5
18
ao chamado era necessário. Quanto a resposta, o ser humano era livre
apara obedecer ou não.
I.II.III
Do Latim
Do latim “vocare”, que significa “chamar”. Segundo José Lisboa Moreira
de Oliveira é importante entender a etimologia da palavra “vocação”
para que se possa compreender de forma inequívoca seu conteúdo mais
profundo.
Seguindo este princípio, José Lisboa Moreira de Oliveira afirma:
A palavra vocação deriva do verbo latino vocare,
que significa simplesmente “chamar”. Ela é, pois,
a tradução do termo vocatione, que por sua vez
quer dizer chamado, chamada, convite, apelo. Por
detrás de todos esses termos está a raiz vox,
vocis, isto é, voz. Portanto, vocação quer dizer
tão-somente chamamento ou chamado. Nada
mais!8.
O Dicionário Teológico da Vida Consagrada acrescenta à definição citada
duas liberdades: Deus, possuidor da liberdade absoluta, é aquele que
chama; o homem e a mulher seriam a liberdade humana, é aquele/a
que recebe o chamado. Seguindo o raciocínio proposto pelo presente
8
José Lisboa Moreira de OLIVEIRA, Teologia da vocação: temas fundamentais, p. 19.
19
dicionário, toda vocação autêntica ou chamado autêntico é iniciativa de
Deus. Contudo há a preocupação de não reduzir a vocação apenas “ao
momento inicial do chamado divino e muito menos à simples resposta
do homem e da mulher” 9, para que esse erro não ocorra, a vocação
seria entendida como conseqüência de um diálogo entre Deus e o ser
humano.
Por meio desta definição é possível discernir que a vocação não se reduz
exclusivamente a aptidão, contudo ela revela uma conotação de
mistério, algo transcecedente. Seria pensar a experiência religiosa a
partir da vocação, que só poderia ser entendida a partir de uma
realidade teológica.
I.III
Vocação no Catolicismo
O catolicismo reconhece a presença de uma vocação universal para
todos/as,
contudo
destacam-se
dentro
deste
chamado
universal
diferentes “vocações”: a) vocação comum e universal de todos/as; b) a
vocação cristã; c) vocações específicas 10. Antes de analisar como o
chamado ou vocação se dá especificamente em cada item dessa
9
Dicionário Teológico da Vida Consagrada, p. 1143.
Id. Ibid. p. 1168.
10
20
subdivisão, é necessário esclarecer que ela provém, antes de qualquer
coisa, do entendimento sobre carismas e dons.
I.III.I
Vocação, carisma e dom
É possível verificar que a vocação fundamental humana e cristã, se vive
de formas bem distintas e particulares. Essa diversidade do viver a
vocação dá-se pelo reconhecimento de carismas, qualidades e dons
distintos dentro da vocação universal que tem como objetivo favorecer o
bem comum, a vida. Nessa perspectiva José Lisboa Moreira de Oliveira
argumenta que esses carismas
são totalmente diferentes uns dos outros.
Praticamente não existem carismas iguais, pois “a
cada um é dada a manifestação do Espírito” e
sempre “conforme ele quer” (1Cor 12,7.11).
Pode-se igualmente pensar numa simultaneidade
de carismas, que não deve ser vista apenas como
coincidência, no sentido de que vários carismas
diferentes coexistem ao mesmo tempo numa
comunidade ou numa pessoa. A isso também
podemos chamar sincronização, isto é, a relação
que perpassa, que acontece entre eles, numa
autêntica interação. O carisma
não é algo
independente, autônomo, só existe na relação de
interdependência com os demais: “O olho não
pode dizer à mão: ‘Não preciso de ti’. Nem
tampouco a cabeça aos pés: ‘Não necessito de
vós”’ (1Cor 12,21)11.
11
José Lisboa de OLIVEIRA, Op. Cit. p. 19.
21
Seguindo o conceito acima fica quase que impossível existir uma
comunidade sem o carisma. Os carismas não são especificamente dons
extraordinários, mas podem existir como “dons mais extraordinários” e
“carismas mais ordinários”.
Conforme José Dias Goulart o carisma suscita um serviço ou ministério
eclesial, que possuem qualidades distintas, porém inseparáveis.
É um serviço bem determinado, como a
catequese,
o
ensino,
a
enfermagem,
a
coordenação pastoral; É um serviço perpétuo ou
de certa duração, e não apenas momentâneo; É
confiado pela comunidade a uma pessoa ou
12
grupo .
Esse esclarecer do que seria dom e carisma é indispensável porque
dentro do catolicismo é impossível fazer referência a vocação sem
abordar o tema de carisma, pois este se entrelaça por completo ao
dinamismo da vocação.
Com as definições dadas sobre carisma e dons aclarou de como os dois
temas confundem-se. Contudo é possível a partir dos dados das citações
definir: a) dom seria o talento inato, próprio de cada indivíduo, sua
capacidade pessoal; b) carisma seria o dom somado a ação de Deus que
12
José Dias GOULART, Vocação: convite para servir, p. 61.
22
é evidenciado por meio do ministério/serviço; c) vocação seria o estar
a serviço de Deus, ou seja, a especificidade do chamado para. Ambos
não possuem como fim em si mesmos, mas existem para missão, essa é
sua finalidade.
I.III.II
Vocação comum e universal de todos/as
O ser humano é chamado primeiramente para viver sua existência que
implica na sua liberdade de escolha. O ser humano faz parte de uma
criação, a criação de Deus. Ele é uma criatura não como outra qualquer,
é um ser social e consciente que no encontro com o outro encontra a si
mesmo.
Essa vocação comum é o chamado à vida, bem expressa no dicionário
Lexicon:
A primeira grande vocação identifica-se com o
chamado à vida. Toda vida é vocação, e por essa
vocação, que é pessoal, a pessoa pode viver em
comunhão com Deus, torna-se capaz de dialogar
com Ele, de colaborar. A pessoa criada à imagem
de Deus por vocações é chamada a realizar-se no
nível individual e comunitário em aliança com
Ele 13.
13
LEXICON: Dicionário Teológico Enciclopédico, p. 799.
23
Assim sendo, todo ser humano possui uma vocação superior vinda de
Deus, que chama e cria para a vida. Essa vocação consiste em cumprir
um plano do Criador traçado por aqueles dons que Ele depositou nele/a.
Leonardo Boff refere-se a essa vocação como sendo a concretização das
potencialidades da personalidade humana.
A tarefa da existência é desenvolver o que Deus
semeou na vida de cada um. A parábola dos
talentos que o Senhor “entregou a cada qual
segundo a sua potencialidade” (Mt 25, 14-30)
vem aqui ao caso. O Senhor cobra de cada um
em dobro os lucros dos talentos. Há que
desenvolvê-los, fazê-los render. Traduzido: cada
um deve realizar as potencialidades que foram
depositadas no ministério da existência humana.
Nisso está o processo de hominização. O ser
humano não nasceu ainda. Está sempre em
gestação e por nascer. O empenho de cada um é
criar, com talentos que Deus lhe galardoou, a sua
estatura humana. Cada um é e se faz imagem e
semelhança de Deus, na medida em que realiza
na sua caminhada pessoal a sua humanidade”14.
Essa vocação requer a participação do ser humano. Que ele possa
responder esse chamado para vida, aceitando a proposta de Deus para
usar seus dons a serviço em favor da humanidade.
14
Leonardo BOFF, Crise: oportunidade de crescimento, p. 135.
24
I.III.III
Vocação cristã
Aqui a vocação é direcionada para Cristo, a união do ser humano com
Cristo. O chamado do Criador é dirigido as pessoas de forma individual e
se finaliza por meio da salvação universal em Cristo, “para quem toda a
história converge como termo e modelo” 15.
Esse
chamado
é
evidenciado
na
participação
das
pessoas
nos
sacramentos da Igreja, assim José Dias Goulart coloca:
Ora, os cristãos participam dessa missão de Jesus
em força do sacramento do Batismo, e mais
intensamente pela Crisma. Com Jesus, eles
podem e devem conduzir seus semelhantes para
Deus, e levar Deus para seus semelhantes. Nisso
consiste o “sacerdócio cristão” de todos os fiéis
batizados16.
Este chamado se concretiza na comunhão com Deus por intermédio de
Cristo. E sendo a Igreja o sinal e mensageira do reino de Deus - “ela é a
expressão do desejo da trindade de se encontrar com a humanidade” ...
“é iniciativa divina, a Igreja se apresenta à humanidade como lugar que
Deus nos oferece para contato, para o encontro, para comunhão com
15
16
Lexicon: Dicionário Teológico Enciclopédico. Op. Cit, p. 799.
José Dias GOULART, Op. Cit, p. 89.
25
Ele”
17
– é o lugar próprio na realização do chamado que se faz por meio
dos dons particulares.
I.III.IV
Vocações específicas
No que diz a respeito às vocações específicas, convém, antes de tudo,
fazer algumas considerações a respeito da evolução das Instituições
Ministeriais, pois por meio dela o conceito de vocação como chamado
especial restringiu-se apenas as autoridades eclesiásticas.
As vocações específicas constituem os elementos fundamentais da vida
e da missão da Igreja, além de enriquecer a mesma com a diversidade
de carismas. Seria um tipo de serviço que Deus determina para
desenvolver
o
dom
específico
da
pessoa.
Esse
serviço
é
bem
abrangente, pois possui várias áreas de atuação.
Contudo, por volta do terceiro século, com a evolução das Instituições
Ministeriais é ampliada uma noção de sucessão apostólica por Santo
Irineu, bispo de Lião. Visão essa que permanece até hoje na tradição
religiosa,
tanto
no
catolicismo
quanto
no
protestantismo.
Essa
compreensão de sucessão apostólica tinha como objetivo primordial
17
Id. Ibid. p. 49
26
garantir a autencidade do ensinamento da palavra de Deus, também
visava uma certa legitimidade da instituição dos ministros 18.
Entende-se daí que a figura do clérigo, sacerdote, pastor, ou seja a
autoridade religiosa é conexada ao “processo de institucionalização da
Igreja cristã e das lutas posteriores instituídas dentro do campo
religioso” 19.
Com esse processo fica fácil entender que a vocação compreendida pelo
catolicismo é totalmente ligada ao clero. Desta forma o chamado divino
justifica a eleição daqueles que foram vocacionados por Deus para uma
vida religiosa, principalmente a de ordem hierárquica.
Com a realização do Concílio Vaticano II ouve uma ampliação do
conceito de vocação e houve mudanças significativas nas estruturas da
vida religiosa.
Retratando as mudanças ocasionadas por meio do Concílio Vaticano II,
José Lisboa Moreira de Oliveira coloca:
A partir do concilio Vaticano II voltou-se a
perceber a Igreja como sendo “o povo reunido na
18
19
André LEMAIRE, Os Ministérios na Igreja, p. 60.
Leonildo Silveira CAMPOS, Contribuição das Ciências Sociais para uma Analise do Perfil do Estudante de
Teologia Candidato a Pastor Protestante. Trabalho realizado para o Simpósio da Aste, onde o tema de
estudo era “A prática do cuidado pastoral em instituições teológicas. 2002. p.4.
27
unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
Esta nova visão da comunidade eclesial contribuiu
muito para re-definição da vocação, vista agora
como chamado à comunhão com o Pai, pelo filho,
no Espírito Santo. A partir do Vaticano II vai-se
configurando cada vez mais esta dimensão
trinitária: “Cada vocação está ligada ao designo
do Pai, à missão do Filho, à obra do Espírito
Santo. Cada vocação é iluminada e fortalecida à
luz do mistério de Deus”. Ao realçar esta
dimensão trinitária da vocação os textos acima
mostram também a ligação que existe entre a
vocação,
a
vida
e
conseqüentemente
a
espiritualidade. A vocação passa a ser entendida
como relacionamento pessoal com Deus vivido no
interior de uma comunidade bem concreta. Deus
chama para um encontro com Ele, a partir das
solicitações de um povo que sofre (CF. Êx 3,110;Jr 11,4-10). A vocação é, pois, uma “sedução”
(Jr 20,7), uma “conquista do coração” (Os 2,16)
por parte de Deus, para uma vida de intimidade,
de comunhão com Ele. É um convite para ficar
com Ele, para participar da sua vida (cf.1Ts
4,17;Jo 17,24;1Pd 5,1)20.
Embora as mudanças provocadas a partir do Vaticano II, os religiosos
foram, de certa forma, nomeados os/as “vocacionados/as de
Deus”,
àqueles/as que são consagrados/as a fazerem uma obra muito especial
de caráter divino. É desta forma que popularmente se vê um/a
cristão/cristã com um chamado distinto para o exercício do ministério
dentro da Igreja.
José
Lisboa
Moreira
de
OLIVEIRA,
Teologia
http://www.ipv.org.br/teologia%20e%20eclesiologia.htm.
20
e
eclesiologia
da
vocação.
28
Entretanto nota-se que o modo de entender vocação está mudando aos
poucos, ela se torna paulatinamente mais abrangente, não apenas de
caráter religioso.
Com essa abertura dentro do catolicismo, a vocação ganha uma
conotação de envolvimento e passa a ser mais direcionada para a
missão, ou seja, o compromisso com a vida.
Como se encaixaria as vocações específicas neste contexto? É simples,
pois o seu serviço estaria na mesma dimensão da vocação universal e
da vocação cristã, isto é, direcionadas na promoção da vida. Embora
seja uma vocação ligada a Igreja, não descaracteriza seu objetivo de
envolvimento com a comunidade, ou seja, fazer missão (servir), por
meio da promoção da vida.
Na grande maioria das literaturas que retratam o tema das vocações
específicas,
elas
são
subdivididas
para
melhor
dinamismo
e
compreensão das mesmas. Além do mais, cada cristão tem sua vocação
específica; alguns/mas são chamados/as por Deus para exercerem o
sacerdócio ministerial, para serem leigos/as, para terem uma vida
consagrada, para serem ministros/as ordenados/as. Essas seriam
vocações vividas e desenvolvidas na Igreja.
29
I.IV
Vocação no Metodismo
É oportuno esclarecer que a fundamentação teórica a respeito da
vocação
dentro
do
metodismo
é
restrita
e
limitada,
por
não
disponibilizar de estudos sistemáticos, seja na área de teologia como da
sociologia. Por isso, as fontes mais viáveis são os Documentos da Igreja.
Max Weber fazendo alusão ao tema de vocação, na sua crítica à ética
protestante a partir da idéia
do capitalismo, acreditava que o
metodismo “como produto tardio não ajuntou nada de novo ao
desenvolvimento da idéia da vocação”21. Talvez esse fato se deu pelas
influências que o metodismo sofreu ao longo do seu processo de
formação.
Contudo, Weber não teve acesso aos Documentos da Igreja, que
retratam e fazem uma leitura crítica sobre o pensamento de Wesley
para os dias de hoje.
É a partir da elaboração e prática desses documentos que a Igreja deixa
de ser centralizadora e passa a ser participativa, permitindo, assim, uma
21
Max WEBER, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, p. 101.
30
maior ação do Espírito Santo, já que “os dons são instrumentos que o
Senhor dá à sua Igreja para o desempenho de sua missão”22.
I.IV.I
Vocação nos documentos da Igreja
Esses documentos não falam diretamente o que seria vocação, mas este
tema, ou a sua retratação está subentendido dentro de Dons e
Ministérios. Não obstante a formulação do que é vocação no ministério
pastoral na Igreja Metodista desvenda-se, também, à luz das tradições
wesleyanas.
Falar de Dons e Ministérios é pensar sobre carismas e serviço que
pressupõe de forma direta o chamado para exercê-lo. Pautando-se
nesta premissa verifica-se uma relação especial entre o serviço, dons e
ministérios com a dinâmica da Igreja, na sua manutenção e na
propagação dos Sinais do Reino de Deus.
É nesta relação de comprometimento e conexidade entre dons,
carismas, ministério e Igreja que a vocação se faz presente, pois se
testifica os/as que são vocacionados/as a partir da execução do seu
serviço por meios de dons e carismas na promoção da missão do Reino
22
A Igreja de Dons e Ministérios: a visão dos Bispos Metodistas. Piracicaba, Agentes da Missão, 1991. p. 33.
31
de Deus. É desta forma que o documento “Igreja Ministerial: Desafios e
oportunidades” acentua o princípio da vocação.
Todos os homens e mulheres que hoje aceitam a
Jesus Cristo, numa autêntica experiência de
espiritualidade comprometida, encarnam a missão
do Filho de Deus, do Pastor e do Servo de Deus.
Deste modo, estão a serviço de Deus que os
vocaciona para a missão no mundo. O pomo
central daquelas imagens é o serviço prestado ao
Reino de Deus, em face de seu chamado. Deus
vocaciona e municia para as tarefas do Reino.
Entende-se, por isso mesmo, que os serviços,
dons, carismas e ministérios distribuídos pelo
Espírito Santo (1 Co 12.1-11; Ef 4.7-16) são as
ferramentas para a participação na missão
23
divina .
Essa citação respalda que aqueles/as vocacionados/as para a missão de
Deus deverão ter dons que expressem serviço. Serviço prestado a Deus
como ao próximo, ou seja a humanidade em sua totalidade. Wesley
entendia que de nada valia os dons sem a experiência da graça divina.
“Os dons para ele eram o reconhecimento do chamado do Espírito e os
frutos, a comprovação na prática da graça e dos dons” 24.
Bispos da Igreja Metodista. Igreja Ministerial: Desafios e Oportunidades. São Bernardo do Campo:
Imprensa Metodista, 1991.p. 35.
24
Colégio Episcopal da Igreja Metodista. Carta pastoral sobre Dons e Ministérios. p. 16
23
32
A retratação dos Dons e Ministérios dentro da Igreja Metodista surge
para resgatar o princípio do “sacerdócio universal de todos os crentes” 25
há muito esquecido. Cada pessoa, com seu dom, pode exercer seu
ministério, promovendo a missão e o estabelecimento do Reino de
26
Deus .
Assim sendo, um ministério passa a ser visto, conforme o livro “Dez
anos de Dons e Ministérios”, como:
Um MINISTÉRIO é assim, um serviço que traz um
benefício real e concreto a alguém ou a algum
grupo de pessoas. Este é precisamente o sentido
do ministério pastoral e deve ser o sentido dos
diferentes ministérios dos leigos 27.
Deste modo, a idéia de “sucessão apostólica”, que dava a conotação de
poder/status as autoridades religiosas, foi desfeita. Como ao mesmo
25
Lutero Desenvolve no cenário da Alemanha e Europa uma doutrina chamada “Sacerdócio Universal dos
Cristãos” que tinha como objetivo a valorização da participação de todos os cristãos sem distinção, inclusive
com os clérigos. Lutero acreditava que a visão de uma hierarquia institucionaliza era reduzir a dime nsão da
Comunhão dos Santos. Essa maneira de compreender a Igreja possibilitou uma nova forma de organizar a
mesma, pois, os clérigos agora eram vistos como colaboradores de uma obra maior. E o povo também
poderia participar juntamente com os clérigos dess a obra. Houve, desta forma, uma nova compreensão do
que seria o sacerdócio, pois ele deixou de ser ligado apenas à ordenação, dessa maneira, a participação do
laicato tornou-se maior, em conseqüência da sua valorização. A partir dessa compreensão do sacerd ócio
universal, todos eram vistos como que “chamados” a participarem do sacerdócio universal de cristo. De
acordo com esse conceito, o ministério pastoral foi entendido como um ministério entre outros. Assim, o dom
é para serviço e não uma forma de ganhar status ou poder dentro da Igreja. – JOSGRILBERG, Rui de Souza
& REILY, D.A. A reforma da Igreja e dos ministérios. In: Dons e Ministérios, fontes e desafios. Piracicaba,
Imprensa Metodista, 1991. pp. 50-53.
Clóvis Pinto de CASTRO & Magali do Nascimento CUNHA, Forjando uma nova Igreja: dons e
ministérios em debate, pp. 34-35.
27
Dez Anos de Dons e Ministérios. Piracicaba, Agentes da Missão, 1995. p. 18.
26
33
tempo, a idéia de cargo é poder, “ao contrário dessa conotação, um
Ministério é serviço que deve ser exercido ao lado de outros ministérios,
28
no conjunto do corpo de Cristo” .
Ao tratar o que seria vocação dentro dos Dons e Ministérios, pressupõese
o
reconhecimento
de
uma
vocação
que
não
se
fecha
ao
individualismo de uma eleição particular, mas uma vocação para a
missão prevista e um serviço.
I.IV.II
Vocação na tradição Wesleyana
A vocação em Wesley encontra-se nesta dimensão de missão e, foi a
crença na prática dessa mesma dimensão que impulsionou Wesley em
sua caminhada de renovação da sociedade inglesa, como também o
manteve firme em sua vocação 29.
É bom destacar que Wesley acreditava que quem se sente chamado por
Deus
não
pode
viver
de
modo
algum
de
forma
intimista
ou
individualista. Por isso, a dimensão cristã da vocação é, ao mesmo
tempo, também uma dimensão eclesial. Deste modo, a idéia de vocação
28
29
Id. Ibid. p. 18.
Francis Gerald ENSLAY, João Wesley, o evangelista, p. 43.
34
supõe o serviço. Essa verdade pode ser observada na frase que Wesley
fazia questão de repetir sempre:
Dizia
Wesley
que
o
“Cristianismo
é
essencialmente uma religião social, e torná-lo
uma religião solitária é destruí-lo... O evangelho
de Cristo não conhece outra religião senão a
religião social; nenhuma santidade senão a
santidade social”30.
Desta maneira, averigua-se que a vocação no pensamento de Wesley
possuía esse caráter comunitário e social. A vocação não é desenvolvida
no aspecto puramente individual ou solitário, mas com um aspecto de
envolvimento com outras pessoas.
A vocação teria aqui um aspecto coletivo, só é possível desenvolver a
vocação com a coletividade, ou seja, no encontro com o outro é possível
viver o chamado de Deus. Esse chamado foi encarnado da forma mais
profunda na vida de Wesley e experimentado por toda uma geração que
necessitava ser salva, não apenas da alma, mas integralmente.
Então é possível dizer que Wesley, a partir do que ele foi e significou
para
30
a
Inglaterra
Id. Ibid. pp. 37-38.
do
século
XVIII,
foi
realmente
um
homem
35
vocacionado. Pois foi chamado “para reformar a nação e espalhar a
santidade de Deus por toda terra” 31.
Todos que encarnaram esse chamado especial de Deus para reformar a
nação da Inglaterra, estavam vocacionados para viverem uma vida
cristã dentro da Inglaterra que surtisse efeito, que apontasse os sinais
do Reino de Deus.
Wesley conseguiu encarnar na sua época, o caráter mais profundo da
vocação, pois ele nunca quis que o seu ministério fosse movido só por
interesses, na verdade o seu ministério foi sempre abdicar de alguma
coisa: ele abdicou muito da carreira acadêmica; ele abdicou do salário
que ganhava, retirando do mesmo, o suficiente para sua manutenção (o
32
mínimo necessário), o restante ele doava .
Compreende-se que a vocação de Wesley tem aspectos muito próprios
de doação, de confiança no outro, confiança nos companheiros,
confiança no movimento metodista, mesmo sendo rejeitado pela igreja
da Inglaterra.
IGREJA METODISTA. Ecumenismo: carta pastoral do colégio episcopal da Igreja Metodista. (Biblioteca
Vida e Missão, pastorais, 4). p. 35.
32
Richard P. HEITZENRATER, Wesley e o Povo Chamado Metodista, p. 127.
31
36
Seus atos só vêem testificar o seu chamado e a sua vocação para servir,
proporcionando por meio do seu ministério os Sinais do Reino de Deus,
que se tornaram visíveis aos desesperançosos de sua época.
Heitzenrater, de forma singela, comenta sobre a vocação de Wesley:
A maneira pela qual o próprio Wesley via o seu
chamado,
raramente
constrangida
pela
humildade, estava visivelmente estampada em
sua vida longa e ativa, e refletida na inscrição
gravada em sua lápide atrás da Capela na City
Road: “esta grande luz surgiu pela singular
providência de Deus, para iluminar estas nações,
e para reavivar, reforçar e defender a doutrina
apostólica pura e prática da Igreja Primitiva, que
ele continuou a defender tanto por seu trabalho
como por seus escritos, durante mais de meio
século; e quem, para sua inexprimível alegria,
não apenas viu sua influência se estendendo, e
sua eficácia sendo testemunhada nos corações e
nas vidas de muitos milhares, tanto no mundo
ocidental como nestes reinos, mas também,
muito acima de todo o poder e expectativa
humana, viveu para ver a provisão feita, pela
singular graça de Deus, para sua continuação e
estabelecimento, para a alegria das futuras
gerações” (...) 33.
João Wesley foi um dos grandes personagens religiosos da história,
como também, do nosso tempo. Por uma série de circunstâncias,
mostrou seu caráter humano. Realmente foi um modelo, do ideal
concreto do que seria vocação, o chamado para servir.
33
Id. Ibid. pp. 324 - 325.
37
II. VOCAÇÃO NA BÍBLIA
II.I
Introdução ao Tema
Por meio da abordagem que o primeiro capítulo trilhou, verificou-se que
vocação é muito mais do que um chamado individual, não é apenas uma
relação vertical, mas tem uma dimensão horizontal. Noutras palavras,
seria um chamado para missão, um envolver-se com toda criação,
proporcionando por meio do serviço a promoção da vida em toda a sua
amplitude.
38
Conferiu-se que nessa vocação há o reconhecimento dos dons e
carismas especiais que caracterizam o porquê do chamado divino, como
também, seriam eles, uma fonte perceptível para o seu discernimento.
Quanto ao chamado compreendido para o ministério dentro da Igreja, a
Instituição é apenas uma forma jurídica e canônica de reconhecimento e
autentificação da consagração especial que supõe o chamado de Deus.
(...) a Igreja entende que o carisma pastoral não
é
apenas
individual:
“Ele
precisa
de
reconhecimento e sua integração ao carisma da
Igreja como uma dimensão de sua apostolicidade.
Esse fato é assinalado de modo visível quando a
34
Igreja ordena para o ministério pastoral” .
O segundo capítulo propõe seguir esse horizonte apontado pelo
primeiro, vocação como chamado para servir. Deus chama para uma
missão, mas qual seria essa missão? Será que esse chamado é limitado
apenas numa relação entre aquele que foi chamado e Deus? Será que o
chamado de Deus é totalmente claro e explicito? Será que é possível
apontar
um
padrão
único
para
determinar
aqueles/as
que
são
vocacionados/as por Deus para exercerem um certo serviço?
34
Edílson de Assis VOLFE, Saúde Integral: uma abordagem desde a vocação pastoral até a conclusão do
curso de teologia na UMESP. São Bernardo do Campo: Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, 2003.
p. 60.
39
Com essas perguntas pretende-se verificar como procede a vocação ou
chamado divino no Antigo e no Novo Testamentos. Primeiramente podese apontar que a esse chamado não segue um padrão único, mas há
varias áreas de atuação, pois a vocação é muito abrangente e dinâmica.
Daí se dá a necessidade de analisar as circunstâncias do chamado de
Deus e suas diferenças peculiares nas narrativas do Antigo e do Novo
Testamentos.
II.II
Vocação no Antigo Testamento
Os relatos típicos de vocação no Antigo Testamento são bem diferentes
entre si, contudo continuamente traçam um objetivo concreto dentro da
história.
Deus sempre tem a iniciativa de escolhe alguém para cumprir a missão
de orientar o seu povo eleito. Seja qual for a dimensão que se tome
para analisar esse chamado, a nota dominante será sempre a de
missão, a do serviço para o bem estar comum, ou seja, a promoção
humana.
40
II.II.I
Vocação como chamado para missão
A definição de Leon-Dufour, vem de encontro à abordagem de vocação
como missão neste segundo momento da análise do termo vocação
como chamado para servir.
Vocação, a partir da compreensão de Leon-Dufour, é o chamado que
Deus dirige ao homem e a mulher a quem Ele escolheu para si e que
destina a uma obra especial no seu plano de salvação, há, portanto,
uma eleição divina; no seu termo, uma vontade a cumprir. Não
obstante, a vocação acrescenta algo à eleição e à missão: um chamado
pessoal dirigido à consciência mais profunda do indivíduo, produzindo
uma reviravolta na sua existência, não só nas condições exteriores, mas
no coração, fazendo dele/a um/a outro/a homem/mulher 35.
Na Bíblia, o tema da vocação está em relação
estreita com os de eleição e missão (...) A eleição
e as diversas vocações são sempre para um
serviço ou missão, dentro do projeto divino de
36
salvação do mundo .
A ocasião em que se dá o chamado de Deus varia de modelo, mas
permanece a premissa da missão. Esse objetivo está implícito no
35
36
Xavier S. J. LEON-DUFOUR, Vocabulário de Teologia Bíblica. p. 1099 -1102.
Dicionário Teológico da Vida Consagrada. Op. Cit. p. 1143.
41
chamado de Moisés (Êxodo 1.8-14; 2.23-25; 3.7), Gideão (Juízes 6.118), Isaías (6. 1-9), Jeremias (1.1 –10), Ezequiel (1.1-28 b,3 –15) e
outros.
Nesse processo de vocacionar é possível dizer que Deus é aquele que
chama, é Ele que cria a situação e capacita para a determinada missão.
No Antigo Testamento esse chamado sempre acontece em momentos
críticos, onde a vida é ameaçada e a paz é rompida pela injustiça. É
neste contexto que Deus vocaciona alguém, chama e envia para missão
de restabelecer a ordem, resgatar a esperança perdida e a justiça
abalada, dando harmonia necessária para uma vida plena.
De acordo com Machado Siqueira esses momentos conflituosos servem
... como pano de fundo do chamado divino,
devem ser vistos como parte de todo o drama do
vocacionado. Na Bíblia, o motivo do chamado é a
ameaça de vida e de paz sobre a terra. São
momentos de grande inquietação. Entretanto, é aí
que Deus convoca pessoas para resgatarem a
esperança e devolverem a justiça e o bem estar
37
na comunidade .
Seguindo esse raciocínio, Tércio Machado Siqueira, discute e analisa a
vocação
37
a
partir
de
um
chamado
para
missão,
enfatizando
a
Tércio Machado SIQUEIRA, Vocação e Compromisso. In: Vocação, Ministério para Ministério. São
Bernardo do Campo:Editeo. p. 9.
42
necessidade de verificar as circunstâncias em que se dá o chamado, pois
é por meio dessa investigação que se dá à possibilidade de tratar a
vocação profética como pastoral.
O sentido da vocação na Bíblia, em concordância ao artigo Vocação,
Ministério para Ministério é primeiramente
(...) necessário ao projeto de Deus; segundo,
percebemos que vocação é aquilo que Deus faz e
quer para o bem-estar do mundo; terceiro, o
chamado é determinado por Aquele que chama, e
nunca pela experiência e decisão da pessoa;
quarto, a legitimação do vocacionado vem de
Deus, e nunca da família, posição social, dinheiro,
formação intelectual, ou qualquer outro fator.
Assim, o chamado acontece num diálogo cuja
iniciativa é de Deus, em vista de uma missão que
possui uma dimensão tão ilimitada quanto o
38
universo e tão incompreensível quanto o amor .
A gratuidade da vida, da vocação, dos carismas e dos dons fazem parte
da iniciativa exclusiva do amor de Deus que se propõem à liberdade
humana com infinito respeito e solicitude. Desta forma, o chamado não
agride a liberdade do ser humano, visto que a vocação é a originalidade
do diálogo para o qual Deus convida a todos e todas.
Segundo o Lexicon a vocação é vista como
38
Id. Ibid. p.10.
43
... um dom para uma missão. Deus chama cada
pessoa a ser a manifestação do seu amor pela
humanidade. Por isso Deus chama para enviar
cada um ao serviço dos irmãos determinado pelos
dons particulares com que o enriqueceu (cf. Ex.3;
4,1-19; LG 11; AG 2,5,36)39.
É significante notar que o termo kalēo (έno seu sentido mais
profundo significa serviço e dedicação. Essa vocação tem como objetivo
incumbir aquele/a que foi chamado/a para uma tarefa. Esse chamado
implicará muitas vezes no sofrimento por amor a Deus. A situação de
isolamento, solidão e muitas vezes antipatia
provocados pela missão,
trazem aos vocacionados medo e temor diante da responsabilidade
proposta pela missão. Entretanto, Deus capacita e qualifica aqueles/as
40
que estão desprovidos/as de qualquer habilidade .
Essa missão na qual Deus chama não fica limitada apenas no espaço da
comunidade eleita, no templo, mas tem uma grande amplitude. Pois
exigem do/a vocacionado/a diversidades de atuação, seja no âmbito da
comunidade, política-econômica-social, como mais estrito nacional e
mais amplo, como internacional 41.
LEXICON: Dicionário Teológico Enciclopédico . Op.Cit. p. 799.
COENEN, Lothar. Dicionário Internacional de Teologia no Novo Testamento vl.I Op.Cit. p. 353.
41
Tércio Machado SIQUEIRA, Op. Cit. p. 11.
39
40
44
Nos relatos do Antigo Testamento, a realização dessa missão, raramente
trouxe a nenhum privilégio, sucesso, lucro e reconhecimento. Ao
contrário, trouxe dissabores e sacrifícios. Contudo a maior recompensa é
saber que diante das dificuldades enfrentadas, da solidão angustiante,
do não reconhecimento, houve uma vitória. O caminho da libertação foi
aberto por alguém que aceitou o doloroso desafio de fazer missão.
Mesmo que esse não concluísse com a missão proposta, foi ele que
abriu o caminho para que outro dê continuidade.
II.II.II
Características comuns presentes na vocação
Em contra partida, o Dicionário Teológico da Vida Consagrada faz uma
comparação dos relatos de vocação contidos no Antigo Testamento,
observa-se que a partir dessa comparação é possível dizer que eles
seguem uma linha bem próxima.
Tendo em vista que é possível pontuar algumas características comuns
entre esse chamado o referido Dicionário faz o seguinte esquema:
a)
Verifica-se que em todos os relatos sobre a vocação, há uma
introdução que descreve o ambiente, as condições históricas, a
data do episódio do chamado;
45
b)
Há a presença de uma revelação ou teofania. Seria a presença
de
Deus
chamando
o/a
vocacionado/a
para
sua
missão
específica. Essa manifestação se faz por meio de uma visão ou
audição.
c)
Há uma tarefa a fazer, é necessário cumprir uma missão.
Contudo há sempre uma objeção por parte do/a convocado/a,
por isso essa missão é confirmada por meio da assistência
constante de Deus. Essa assistência é bem expressa na frase
“Eu estarei contigo” ou por outras expressões equivalentes.
d)
Pela confirmação da missão. Um sinal sempre garante ao/a
vocacionado/a que foi Deus quem o enviou. Seria esse sinal a
capacitação para o cumprimento da missão, manifesta muitas
vezes por uma investidura solene, seja no sentido sacramental
ou de consagração.
e)
E a conclusão que encerra o episódio que muitas vezes trás o
resumo de um tema básico, aprovando mais uma vez o
objetivo da missão e o seu caráter libertador 42.
42
Dicionário Teológico da Vida Consagrada. Op. Cit. p. 1144.
46
Essas
características
comuns
estão
presentes
principalmente
nos
episódios da vocação de Abraão, Moisés, Josué, Gideão, Sanção, Isaías,
Jeremias
e
Ezequiel.
Em
alguns
momentos
haverá
uma
certa
divergência em um ponto e outro, mas na maioria o esquema proposto
pelo Dicionário é bem válido.
Embora o Dicionário tenha apontado um padrão único para verificar os
vocacionados por Deus ou como se dá esse processo de chamado, ainda
assim, não é possível dizer com toda certeza se esse esquema é válido
para todos e todas, como também se é possível aplicá-lo para os dias de
hoje.
Tendo em vista que a vocação é um chamado fundamentalmente
dinâmico - não é estático e muito menos linear – ela (vocação) não é
concedida ao homem e a mulher uma única vez e já pronta, mas
se
43
constrói no dia a dia .
Entretanto, verifica-se em todos eles, a necessidade de libertação e da
promoção da vida. Coincide também, que aqueles/as que foram
chamados/as para cumprirem essa missão, sentiam-se incapacitados/as
e frágeis para fazê-lo. Mas nesse ambiente de medo e temor Deus
estabelece como promessa a sua companhia, estímulo e capacitação.
43
Fernando A. FIGUEREDO, Elementos Evangélicos e Teológicos da Vocação. In: Revista Convergência.
Dez, 1997, ano VI, Nº 64, Vozes, Petrópolis. p. 607.
47
Averiguou-se neste último ponto, que os profetas não são apenas
ensinadores de costumes, práticas e piedade – visão que se tem
popularmente – mas homens que fizeram conhecer publicamente à
vontade de Deus nas situações mais difíceis e concretas na história de
um povo que lutava para viver uma vida melhor.
II.III
Vocação no Novo Testamento
Para se falar de vocação no contexto do Novo Testamento, neste
segundo momento da pesquisa, conforme a sugestão do Tércio Siqueira,
é necessário “tirar o pó de uma palavra chave”, ou seja, esclarecer
“apóstolo”, palavra que tem suma importância na compreensão da
vocação ou chamado de Deus.
O termo apóstolo (enviar ou enviar para longe), será a palavra que
destrinchará muito da compreensão dada a vocação neste segundo
momento. Apóstolo no contexto do Novo Testamento é uma junção da
preposição apo “de” (para longe), com o verbo “stello” (colocar,
aprontar).
No Novo Testamento, um apóstolo é um enviado ou
emissário com poderes de representar quem
enviou. Assim, há uma conexão direta e estreita
entre o enviado (apóstolo) e aquele que o enviou.
Este conceito de apóstolo traduz perfeitamente o
48
sentido do verbo hebraico salah “enviar”, no Antigo
Testamento 44.
A Igreja Cristã associa de forma bem clara o/a “enviado/a” como
“missionário/a”, mas o Antigo Testamento não tem essa compreensão
muito clara e sim distinta uma da outra.
O verbo salah, embora não compreendido claramente no Antigo
Testamento, como citado acima, tem uma função de destaque no
evento do êxodo (libertação de Israel da escravidão exercida pelo
Egito). O seu uso nesta conjuntura é muito significativo, pois o seu
sentido está ligado à concepção de missão de libertar o povo cativo e
resgatar à vida plena dos escravos hebreus com seus familiares. O
libertar não seria apenas livrar de um contexto de escravidão, mas vai
além, a missão também é proporcionar um novo recomeçar, a partir de
uma terra para plantar e morar45.
II.III.I
Vocação como Chamado para Missão
Seguindo o apontamento do item anterior, o termo “enviar” está ligado
ao termo “vocação” como chamado para missão, fica, pois, evidente que
Tércio Machado SIQUEIRA, “Tirando o Pó das Palavras”. In: Mensageiro. Boletim informativo da Igreja
em Vila Mariana. 31 de Agosto de 2003.
45
Idem.
44
49
é impossível desassociar a vocação como um exercício para a realização
da missão. É desta forma que o dicionário Lexicon aponta a vocação
46
como “um dom para uma missão” .
Paulo Garcia em seu texto “Bases Bíblicas para Missão” define o que
seria missão e o seu caráter de “envio” no contexto no Novo
Testamento.
A palavra missão origina-se do latim “missio” ou
“missiones”. O sentido da palavra é: enviar
para. No sentido mais amplo, a palavra denota,
também, a idéia de libertação, soltura (de um
preso)
e
despedida.
Nessa
etimologia,
percebemos a relação que há de missão com
envio, partida. Deste modo, missão não é um
substantivo
comum,
mas
denota
ação,
movimento. Cumprir a missão é aceitar o envio.
Ser enviado, pressupõe sair de um lugar, de uma
situação e buscar um outro lugar ou uma outra
situação. A verdadeira missão quebra as amarras
47
da constância e da estabilidade .
Verifica-se acima que a missão é relacionada com envio para uma
determinada tarefa. Tarefa que não se realiza sozinha, pois para haver
missão é necessário o encontro com o/a outro/a. Encontro que
possibilite a percepção da necessidade de uma ação, do movimento.
Neste aspecto, de certa forma, a vocação liga-se diretamente aos
46
47
LEXICON: Dicionário Teológico Enciclopédico . Op. Cit. p. 799.
Paulo Roberto GARCIA, Bases Bíblicas para a Missão. Seminário efetuado na disciplina Missão e
Evangelização – docentes: Clovis Pinto de Castro e Magali do Nascimento Cunha – p. 11.
50
próprios atos de Jesus que sempre viveu em coletividade, vivendo por
meio dela, o encontro com o outro.
Assim, é possível dizer que a vocação de Jesus Cristo é desenvolvida
com os próprios amigos, ele sempre se encontrou rodeado, até mesmo
num círculo mais íntimo dos discípulos e dos apóstolos, que sempre
caminharam junto com ele48. Seguindo o parâmetro apontado por Jesus
Cristo ao longo de sua jornada salvívica do encontro com o outro, é
possível aquele/a que é vocacionado/a na sua prática de missão
encontrar a fase do/a outro/a. É esse encontro o gerador da busca de
novos horizontes. Horizontes que direcionam os oprimidos a uma vida
mais humana.
De acordo com Paulo Garcia, no livro Vocação, Ministério para
Ministério 49,
todos/as
os/as
cristãos/ãs
são
chamados/as
–
vocacionados/as a testemunharem por meio da ação, como também,
possibilitarem a outros/as essa vida.
A vocação toma aqui uma nova direção, além do seu caráter de missão,
ela é um chamado para o amor (Vocação é comportar-se como Jesus
Cristo se comportou ao longo de sua vida). A vocação é um chamado
48
49
André LEMAIRE, Op. Cit. p. 12.
Paulo Roberto GARCIA, Vocação e Responsabilidade. In: Vocação, Ministério para Ministério. São
Bernardo do Campo: Editeo, 1992.p. 14.
51
para exercer por meio do serviço o amor. Seria esse o amor expresso
nas palavras de Teresa de Lisieux, citada por Oliveira?
Percebi e reconheci que o amor encerra em si
todas as vocações, que o amor é tudo, abraça
todos os tempos e lugares, numa palavra, o amor
é eterno. Então, delirante de alegria, exclamei: ó
Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocação:
minha vocação é o amor 50.
Esta visão de vocação transmite a grandiosidade do chamado para viver
a missão. A vocação é fazer missão, é servir, é amar o/a outro/a no seu
encontro. Não é apenas uma relação pessoal com Deus, mas é um
chamado à participação da vida com o/a próximo/a, é compartilhar, é
dar a vida em defesa da vida 51.
II.III.II
Vocação pastoral para o serviço
José Lisboa Moreira reconhece que dentro desta responsabilidade
comum da vocação para fazer missão ou da “vocação primeira de
anunciador da Vida” 52, a distinção da vocação pastoral (ministério
pastoral) como uma vocação especial dentro da Igreja. Pois essa
50
José
Lisboa
Moreira
de
OLIVEIRA,
Teologia
http://www.ipv.org.br/teologia%20e%20eclesiologia.htm.
51
OLIVEIRA,
José
Lisboa
Moreira
de.
Teologia
http://www.ipv.org.br/teologia%20e%20eclesiologia.htm.
52
GARCIA, Paulo Roberto, Vocação e Responsabilidade, p. 14.
e
eclesiologia
da
vocação.
e
Eclesiologia
da
Vocação.
52
vocação cumpre o caráter de “orientação e capacitação do povo de Deus
em sua prática de vida cristã” 53.
A prática de diaconia ao povo de Deus consiste,
inicialmente, em despertar e alimentar a
consciência de povo missionário, a serviço do
Reino de Deus. A vocação ministerial é tarefa
profética. (...) É tarefa desses vocacionados atuar
na capacitação do povo de Deus. A vocação
ministerial é tarefa pedagógica. (...) É tarefa do
ministério pastoral estar desafiando e auxiliando o
povo de Deus a viver uma vida verdadeiramente
comunitária. A vocação ministerial é tarefa de
organização do povo de Deus54.
Em vários casos, a tarefa do ministério pastoral é refletida na função de
direcionar a Igreja. Entretanto, o cerne do ministério é o “serviço”, é a
premissa da “diaconia” (

). Por isso, o desempenho primeiro do
́
ministério é servir, ajudar no desenvolvimento, aperfeiçoamento e na
55
ordenação dos dons .
Essa vocação ministerial, que tem como tarefa sustentar e organizar o
povo de Deus, também é retratada na pesquisa de Ana Claudia
Figueroa. Na pesquisa, é colocada a necessidade de que os candidatos
fossem qualificados para essa função, pois somente com capacitados
53
Id. Ibid. p. 14.
Id. Ibid. p. 15.
55
Arnold BITTLINGER, Dons e Ministérios, p.27.
54
53
seria possível “garantir o seu reto exercício, propiciar uma certa garantia
para a comunidade diante dos desafios externos e internos”56.
Quanto ao caráter profético da vocação ministerial, Ana Claudia
Figueroa coloca em sua pesquisa da seguinte forma:
(...) O carisma profético em 1Tm 1.18 e 4.14 é
ordenado exclusivamente para o ministério, como
57
prestação de serviço .
Sabendo-se que vocação para o ministério pastoral é conectado ao tema
de missão, e que sua maior tarefa é realizar esse serviço, surge a
seguinte pergunta: “Mas qual seria o sentido de ministério neste
momento?”
(...) O ministro é alguém que foi chamado e
capacitado por Deus e que, orientado pelo Espírito
Santo, tomou consciência de sua vocação
condizente com seu dom, e cuja vocação é
reconhecida e confirmada pela Igreja (ref. Gl
1.15s; 2.7s).(...) Antes de tudo, a vocação de ser
um ministro não é um privilégio fundado em
razões de raça nem de família, como ocorria no
sacerdócio do judaísmo, mas de uma livre escolha
divina, dom de “misericórdia”. Isto se torna mais
claro em II Co 4.1, quando Paulo diz o seguinte:
“Pelo que, tendo este ministério, segundo a
56
Ana Claudia FIGUEROA, Comunidade e Heresia na Ásia Menor: um Estudo sobre as Variações
Teológicas de alguns Escritos neotestamentários do final do século I. 1993, 185p. (Dissertação de
mestrado. Instituto Ecumênico de Pós-graduação em Ciências da Religião – Instituto Metodista de Ensino
Superior). p. 63.
57
Id. Ibid. p. 65.
54
misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos
(...)”58.
Paulo compreende que sua vocação foi um chamado de Deus atribuído a
ele não por merecimento, mas pela graça e misericórdia divina. É desta
forma que ele entende sua vocação retratada em Atos 9. Não foi uma
experiência de conversão, mas um chamado de Deus para o exercício da
missão.
Essa vocação é reconhecida por Paulo como semelhante às vocações
narradas no Antigo Testamento, especificamente as dos profetas. Da
mesma forma que os profetas, ele teve uma visão quando vocacionado
por Deus. Segue-se em sua experiência vocacional o medo de
corresponder devidamente ao chamado por não se sentir capacitado.
Contudo “sua vontade humana é invertida pela graça a ponto de Deus
59
mesmo realizar a obra que lhe foi confiada” .
Para Paulo, a vocação ou chamado do ministro está ligada a figura de
Jesus como servo. Ele encontra na figura de Jesus sinais norteadores no
exercício de sua vocação60.
Luis Wesley SOUZA, Uma Compreensão Bíblico-Teológica do Ministério em Paulo, pp. 10-11.
Lucien CERFAUX, O Cristão na teologia de São Paulo, p. 73.
60
Luis Wesley SOUZA, Op. Cit. p. 19.
58
59
55
Jesus expressa sua vocação no exercício de sua missão libertadora
(ministério profético) de um povo que, em sua época, vivia à margem
da sociedade religiosa. Jesus foi o “bom pastor”, pois foi aquele que, a
exemplo da vocação de Moisés, libertou de todo o tipo de opressão,
61
“oriunda das autoridades da sinagoga o seu povo” .
Jesus em sua missão, iniciada na Galiléia, lugar onde encontravam-se os
menos favorecidos, convida os apóstolos, na participação do seu projeto
de vida: “Dirigi-vos, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt
10.6). Ele tem como objetivo defender a vida daqueles/as que eram
conhecidos como “anônimos/as”, ou seja, inexistentes perante a
sociedade da época. Jesus reconhece, mesmo opondo-se à mentalidade
habitual da época, que sua responsabilidade era fazer do pobre e do
humilde, participantes do Reino que tanto anunciava 62.
É reconhecido na prática de Jesus o seu caráter de “pastor” (poimém),
aquele que cuida. Em busca da promoção da vida, Jesus convida o
grupo dos apóstolos na participação deste projeto. Esse convite visa a
participação de todos na denúncia dos produtores da morte. Em
contrapartida, é anunciada a mensagem de salvação. Salvação que vai
Manuel Rodrigues da SILVA, “São como Ovelhas sem Pastor”: a liderança de Jesus como “Paradigma”
para o pastorado, pp. 59-60.
62
André LEMAIRE, Op. Cit. p. 34.
61
56
além da crença na ressurreição de Cristo, ela é direcionada ao cuidado
da existência do outro, na promoção da sua vida.
II.IV
Vocação Hoje
A apreciação, embora breve, é dirigida neste momento, para discutir a
perda do sentido original sobre vocação como prática da missão
geradora e fomentadora da vida.
Foi abordado neste segundo capítulo como era entendida a vocação na
Bíblia, no contexto do Antigo e do Novo Testamentos. Considerou-se
que nas duas perspectivas abordadas, a vocação, antes de qualquer
coisa, tinha como objetivo mostrar o seu caráter de missão, contudo,
com o processo de transmissão religiosa da tradição, esse caráter sofreu
alterações.
Numa sociedade secularizada, o pastor/a é visto/a, muitas vezes, como
reprodutor/a de uma tradição, que tem como objetivo administrar ritos,
tornando-se desta forma, apenas um/a especialista orientado/a para
63
perpetuar certa memória religiosa .
63
Dário Paulo Barreira RIVEIRA, Tradição, memória e modernidade – a precariedade da memória religiosa
contemporânea. In: Estudos de Religião, ano XIV, nº 18, junho de 200, S.B. do Campo, SP: Umesp. p.
129.
57
É processado neste ambiente a super valorização do/a especialista
letrado/a.
A interpretação da Bíblia e o debate sobre a
verdade do cristianismo convertem-se em uma
tarefa de exegetas e doutores. Desenvolve-se
assim o que Willaime chama “magistério
ideológico dos doutores”. Na tradição protestante
o pastor-teológo será o verdadeiro bispo, embora
legitimado mais pelo seu saber teológico que por
algum status sagrado que o diferencia dos
64
leigos” .
O/A pastor/a perde o seu caráter profético, de cuidador/a e assume o
carisma de função, porque é representante de uma determinada
instituição eclesiástica. Possuidor/a de um carisma fadado apenas na
execução de um cargo, por representar a Igreja, e enfraquecido por
“depender apenas de uma coerência ideológica do discurso de uma
transmissão ritual do carisma”65. Como a sua autoridade depende
apenas do seu discurso bem elaborado, o carisma é reduzido apenas
para dimensão pessoal.
Para Gustavo Gutiérrez, é necessário neste ambiente de secularização,
onde reina a exploração, uma linguagem que faça a diferença na prática
e não apenas num discurso bem elaborado. É
64
65
Id. Ibid. p. 134.
Id. Ibid. p.134.
urgente à vocação
58
profética, pois só ela é capaz de denunciar a situação injusta, e suas
causas estruturais66.
“O que me dá mais alegria é o trabalho pastoral.
Sinto que essa é minha função primaria como
sacerdote. Não fui ordenado para fazer teologia,
mas para proclamar o evangelho. Considero a
teologia somente uma ajuda para isso, nada
mais 67.
É necessário sair do reducionismo de um “chamado para dentro”,
“caráter pessoal” para um chamado para fora, que alcance o/a
marginalizado/a e/a sofredor/a. A função do/a pastor/a como cuidador/a
é contribuir com seus estudos na prática respaldada na ética para um
melhor engajamento da missão, e que ela tenha como finalidade ajudar
a todos e todas a terem acesso a vida.
Que seja possível neste contexto conflituoso, resgatar o sentido de
vocacionado/a como “chamado/a para fazer missão”. Que o/a pastor/a
não seja apenas um/a letrado/a, mas um/a enviado/a àqueles/as que se
encontram à espera de alguém que aponte um horizonte de vida e que
seja capaz de conduzi-los/as como um/a bom/a pastor/a, seguindo o
paradigma de Jesus.
66
67
Odair Pedroso MATEUS, Gustavo Gutiérrez: pastor e teólogo. In: Estudos de religião 6. p. 75
Id. Ibid. p.75.
59
(...) Assim, enquanto o Novo Testamento
caracteriza o “enviado” com a missão de “fazer
discípulos”, o Antigo Testamento mostra que sua
missão é de libertar os escravizados e oferecerlhes cidadania. A junção desses dois objetivos
seria muito salutar para prática da Igreja, nos
dias de hoje 68.
Que a junção desses dois adjetivos seja uma constante na prática do
ministério profético daqueles/as que se consideram chamados/as por
Deus e que foram reconhecidos/as pela Igreja como vocacionados/as
para o ministério pastoral.
68
Tércio Machado SIQUEIRA, “Tirando o pó das palavras”.
60
III. PISCOLOGIA E A VOCAÇÃO
III.I
Compreensão do comportamento humano
A preocupação com o interior do ser humano e com a maneira pela qual
ele se relaciona consigo próprio e com o seu ambiente sempre fez e se
faz presente nos tipos de estudos que envolvem a questão do
comportamento humano.
O comportamento humano é uma questão
que levanta inúmeras perguntas, nem todas, respondidas.
Ambas,
perguntas e respostas, ao longo dos tempos, são reformuladas
buscando acompanhar o dinamismo da época e sociedade, na qual a
cultura deve ser observada.
61
Devido às transformações radicais, os anseios e às preocupações que
tomam conta do cotidiano humano, o ser humano tem sido envolvido, a
tal ponto de se sentir embaraçado pelas angústias e aflições decorridas
em seu dia-a-dia.
Tentando compreender as reações humanas face aos problemas que são
levantados insurge a psicologia a fim de auxiliar o indivíduo, levando-o a
refletir sobre si mesmo e o meio em que vive, oferecendo alternativas e
explicações afim de livrá-lo dos males que lhe aflige.
A ciência do comportamento, como é também chamada à psicologia,
tem um sentido mais amplo: perceber o comportamento humano não
apenas no que se restringe às reações exteriores, mas igualmente à
atividades do consciente e do inconsciente num plano indiretamente
observável 69.
III.II
A Contribuição da Psicologia
Muito se tem falado do acompanhamento/aconselhamento pastoral em
momentos de crises, como também das múltiplas funções que o/a
69
Maria Luiza Silveira TELES, O que é Psicologia, p. 9.
62
pastor/a precisa exercer na prática de seu ministério: pregação,
visitação, discipulado, administração e muitas outras que requerem
interesse e dedicação. Contudo se esquece que o/a vocacionado/a
também é humano/a e passa por momentos difíceis em sua vida.
A Pessoa vocacionada é, antes mesmo de ter e
ser sua vocação, uma pessoa, é gente. E continua
sendo gente após o chamado, sujeita a tudo o
que é inerente à raça humana. Durante sua
formação teológica não é diferente, isto é, o/a
aluno/a continua sua caminhada, em meio a
acertos e erros, em obediência ao seu chamado
na
busca
de
capacitação
teológica
e
70
administrativa da Igreja .
Aos olhos da comunidade o/a pastor/a é um/a conselheiro/a. É a ele/a a
quem as pessoas recorrem quando se encontram em meio aos variados
tipos de problemas e crises. Tal fato mostra claramente que o/a
pastor/a não pode abster-se dessa realidade, pois, este caráter, levará a
comunidade a procurar soluções para os seus problemas diários ou
particulares. Sendo a comunidade constituinte da sociedade, ela não
ficará imune às condições do individualismo que acarretam sentimentos
de angústia, ansiedade, tristeza e solidão.
70
Edílson de Assis VOLFE, Op. Cit. p. 55.
63
Verifica-se neste primeiro momento como o/a vocacionado/a para o
ministério pastoral necessita ter um certo preparo e conhecimento da
psicologia na sua função de aconselhador/a. Esse preparo é exigido
pelas próprias circunstâncias que se apresentarão no decorrer do seu
ministério (como já verificado no parágrafo acima). É neste ponto que
vem a indagação: Será que a psicologia apenas contribui em obras que
exaltam a sua importância na prática pastoral, deixando de lado que o/a
vocacionado/a para o ministério pastoral, em muitos momentos da sua
vida, ocupará não mais o papel de aconselhador/a, mas devido às crises
e dúvidas, ocupará o papel de aconselhado/a? Neste caso, qual é a
contribuição da psicologia? Como ela pode auxiliar o/a vocacionado/a
em
seus
momentos
de
dúvidas
e
crises?
Quais
são
as
suas
considerações na mudança de papéis “pastor/a - aconselhador/a para
pastor/a - aconselhado/a”?
Diante de tais questões qual seria o parecer ou alternativas propostas
para auxiliar o/a vocacionado/a nestes momentos tão cruciais de sua
vida, que muitas vezes são decisivos para a sua permanência ou
desistência no ministério pastoral?
É desta forma que o presente item reconhece a psicologia como
colaboradora
no
entendimento
do
comportamento
humano
e
64
conseqüentemente,
como
se
verá
a
seguir,
contribuidora
na
compreensão em que se dá o processo vocacional e suas implicações no
comportamento do/a vocacionado/a.
III.II.I
Na compreensão da vocação
Primeiramente é importante saber como é compreendida a vocação
dentro da psicologia. Diferentemente da teologia, a psicologia entende
vocação como:
Diz-se que há vocação quando uma pessoa
manifeste tendência a exercer certa forma de
atividade – em particular, de caráter profissional
– e suficientemente forte, para que pareça
responder a uma espécie de apelo (ou chamado
interior), de acordo com as aptidões requeridas
nessa atividade71.
A vocação não estaria ligada ao processo do “chamado divino”, mas
liga-se a um certo potencial e disposição próprios de cada homem e
mulher. Seriam aptidões ou potencialidades, que no desejo interno do/a
vocacionado/a, serão desenvolvidos ao longo da atividade escolhida.
Entende-se
desta
forma
que
a
psicologia
associa
a
vocação
a
potencialidades próprias de cada um/a. É interessante destacar a que
71
Henri PIÉRON, Dicionário de Psicologia, p. 450.
65
72
muitas vezes há “confusão no uso da palavra aptidão” , pois verifica-se
a sua ocorrência como:
Esse termo, freqüentemente empregado do modo
errôneo como sinônimo de capacidade, designa o
substrato constitucional de uma capacidade,
preexistindo
a
esta,
que
dependerá
do
desenvolvimento natural da aptidão, da formação
educativa e do exercício. Apenas a capacidade é
que pode ser objeto de avaliação direta, já que a
aptidão constituí, unicamente, uma virtualidade.
O termo inglês ability compreende, sem distinção,
73
as noções de aptidão e de capacidade” .
Para Dulce Helena a vocação não foge do já mencionado acima. A
vocação, nas palavras da mencionada autora seria:
Se a vocação é entendida como uma realidade de
determinado interesse somado à potencialidade,
pode-se afirmar que ela existe. A vocação não é
algo inato, mas sim algo que pode ser
desenvolvido a partir da experiência da vida. O
interesse e a potencialidade são dois aspectos
fundamentais na escolha da profissão. Uma dose
de cada um pode levar a uma vida profissional
satisfatória e, porque não dizer feliz!(...)74.
A psicologia trabalha esse tema mais na linha conhecida como
“acompanhamento vocacional” ou “teste vocacional” o mais conhecido
popularmente. Ela proporciona ao/a vocacionado/a, principalmente
72
Dicionário de Psicologia , Organização de Roland Doran, p. 80.
Henri PIÉRON, Op. Cit. p. 34.
74
Dulce Helena Penna SOARES, O que é escolha profissional, p. 48.
73
66
aqueles/as que têm dúvidas a que profissão escolher, auxílio para que
essa escolha seja a mais adequada à sua área de serviço75.
A área da psicologia do comportamento vocacional ainda encontra-se
limitada, pois na grande maioria dos casos sua pesquisa focaliza-se
apenas ao processo do desenvolvimento humano, ou seja, infância e
adolescência, onde se concentraria “uma educação vocacional” que
determinaria a futura opção do/a vocacionado/a a uma determinada
profissão76. (Essa perspectiva fugiria muito da vocação para o ministério
pastoral, já que na maioria dos casos os/as candidatos/as decide-se a
partir de um chamado diferenciado das demais profissões, o “chamado
divino”).
Embora haja a restrição nesta área, ainda assim é possível levar em
consideração
alguns
fatores
que
contribuem
ou
determinam
o
comportamento vocacional.
Nesta direção destaca-se Holland, citado por Pelletier, Noiseux e Bujold,
que trouxe notáveis subsídios no plano conceitual e empírico, o que
forneceu aos profissionais e pesquisadores desta área instrumentos
75
76
Donald E. SUPER, Bohn JR., Martin J. Psicologia ocupacional, p. 19
Carlos Roberto MARTINS, Psicologia do comportamento vocacional: contribuição para o estudo da
psicologia do comportamento vocacional. São Paulo: E.P.U, 1978. pp. 24-27.
67
77
capazes de facilitar sua empreitada . Direcionando sua pesquisa mais
para as tendências pessoais que se apresentam no momento da escolha
profissional.
Em síntese, sua teoria propõe que no momento
em que uma pessoa faz uma escolha profissional,
ela é nesse momento de sua evolução um produto
de sua hereditariedade e de várias influências dos
companheiros, de seu meio familiar, de sua classe
social, de sua cultura, do meio físico em que
cresceu. Essas experiências o levaram a
desenvolver um enfoque particular em face das
exigências que tem de enfrentar. E esse enfoque
ou esse estilo particular procura exprimir-se no
meio físico e social que lhe convém. O indivíduo
procurará então ambientes e ocupações que lhe
permitam utilizar suas aptidões inatas ou
adquiridas, exprimir suas atitudes e seus valores,
assumir os papéis gratificantes e evitar os que lhe
desagradam. Em outros termos, a pessoa que faz
uma escolha profissional procura o ambiente que
melhor convenha àquilo que Holland chama sua
“orientação pessoal”, seu comportamento pode
assim ser explicado pela interação entre sua
orientação pessoal e o ambiente 78.
Dentro da sugestão de Holland, destacasse a questão do ambiente como
contribuidora para a decisão de que profissão escolher. Levando em
consideração esse fator surge uma pergunta que ainda não é possível
responder por não haver conhecimentos da existência de que seria
possível alguém sentir-se chamado/a ao ministério pastoral fora de um
Denis PELLETIER & Gilles NOISEUX & Charles BUJOLD, Desenvolvimento Vocacional e Crescimento
Pessoal: enfoque operatório. p. 29
78
Id. Ibid. p. 29.
77
68
ambiente ou contato religioso?. “Será que o ambiente religioso e a
experiência com esse mundo sagrado somado a profunda experiência da
conversão não contribui nesta educação ou tendência a optar pelo
ministério pastoral?”. São perguntas que merecem um aprofundamento
teórico, mas também de uma análise prática sobre o seu grau de
influência exercida aquele/a que se sente chamado/a ao ministério
pastoral.
III.II.II
Na compreensão das crises
O teólogo Karl Barth em seu livro Introdução à Teologia Evangélica no
item “Os perigos que a teologia enfrenta” coloca sua preocupação com a
crise que o/a pastor/a enfrenta em seu ministério e a sua permanência
no mesmo.
Barth coloca que quem se engajar com a teologia se verá levado a uma
estranha e angustiante solidão. O/A teólogo/a deverá satisfazer-se em
tratar de seu assunto dentro de certo isolamento, não só referente ao
mundo, mas também à própria igreja. A inevitável solidão da teologia e
do/a teólogo/a se evidenciará fazendo-lhe saltar aos olhos, com
dolorosa freqüência, em que grau ele é forçado a viver solitário, não só
69
no mundo, mas também na comunidade e também entre muitos de seus
colegas teólogos 79.
As crises são uma constante na vida de qualquer homem e mulher, não
seria diferente aquele/a que é chamado/a para o ministério pastoral –
bem pontuado por Karl Barth.
Para Farris a crise é definida como sendo:
Em geral, uma crise é uma experiência ou uma
série de experiências que se apresentam ao
indivíduo como uma ameaça profunda para sua
identidade, seu ego, ou para suas relações. Crises
são eventos ou processos que parecem ter o
poder de ameaçar ou sacudir o mundo de uma
pessoa. Quanto as suas características, as crises
podem aparecer rapidamente, como em casos de
morte, de suicídios, de acidentes, ou pela perda
do
emprego;
ou
podem
manifestar-se
lentamente, determinadas por problemas dentro
de uma relação, pela aposentadoria, ou quando
uma filha ou um filho sair de casa etc. Podem,
portanto, ser repentinas ou se caracterizar por um
surgimento e um lento desenvolvimento. A crise
pode ser um evento terrível ou a acumulação de
eventos vários , ou ambos80.
Além das crises serem compreendidas como eventos ou processos que
parecem ter o poder de ameaçar ou sacudir o mundo de uma pessoa,
79
80
Karl BARTH, Introdução à Teologia Evangélica, p. 85 ss.
James Reaves FARRIS, Intervenção na Crise: perspectivas teológicas e implicações práticas. In: Estudos da
Religião – revista semestral de estudos e pesquisas em religião. – Ano XI, nº 12, dezembro de 1996.
p. 105.
70
também é compreendida, segundo a teologia, como uma experiência
capaz
de
proporcionar
questões
que
são
fundamentais
para
o
81
entendimento da própria vida .
Além dessas crises, bem definidas por Farris, que ocorrem no processo
natural da vida humana, é identificado por Ellen Janosik, uma crise
especifica àqueles/as que exercem o ministério pastoral. Essa crise é
ocasionada por um desequilíbrio psicológico promovido pelos desafios e
situações que envolvem o próprio chamado 82.
A crise do/a vocacionado/a pode, então, ser
consigo mesmo/a, com sua vocação, com sua
família, com a Igreja, com a sociedade, ou tudo
ao mesmo tempo. No que diz respeito à crise na
vocação, conforme César, alguns fatores seriam:
a fragilidade da natureza humana, a demora dos
resultados, o descuido espiritual, a desmotivação,
o estresse, e também a superficialidade da
vocação, tal como a hereditariedade, a dedicação
de berço, a emoção, a manifestação sobrenatural
83
e a desinformação doutrinária .
Como se viu até o presente momento a vocação não foge das crises e o
ministério pastoral por tratar da dimensão religiosa não estaria imune
das grandes lutas e dificuldades da vida e da sua própria função. Muitos
por não compreenderem essa realidade e fantasiarem/romantizarem o
81
Id. Ibid. p. 107.
Ellen JANOSIK, Crisis Couwseling, pp. 03-39.
83
Edílson de Assis VOLFE, Op. Cit. p. 69.
82
71
ministério pastoral acabam por desistindo ou exercendo o seu serviço de
forma irresponsável e negligente. Esses momentos de crises que o/a
vocacionado/a passa acabam provocando um grande impacto à saúde
mental, física, emocional e psicológica dos/as “chamados/as para esse
ministério especifico”, ministério pastoral.
III.II.III
Na compreensão das crises específicas
Serão tratadas neste subsubtítulo questões a respeito das crises de
caráter específico que o/a vocacionado/a enfrenta ao longo de sua
jornada
vocacional.
Para
tanto,
serão
levados
em
consideração
apontamentos fundados em pesquisas já realizadas nesta área.
Para Paulo Barreira uma das maiores dificuldades que o/a clérigo/a
enfrenta é a questão da “ambigüidade da função do/a pastor/a”.
Segundo os princípios protestantes:
... o pastor é um leigo. Desde a intenção de
entrar nos seminários teológicos, o candidato já
se coloca o dilema sobre sua condição leiga ou
sagrada.
Todas
as
Igrejas
protestantes
desenvolveram alguma forma de distinção
sacramental para o pastor. Regra geral tratava-se
da ordenação 84.
84
Dário Paulo Barreira RIVEIRA, Desencantamento e reencantamento: sociologia da pregação protestante na
América Latina. In: Estudos de Religião, ano XVI, nº23, S.B. do Campo, SP: Umesp. p. 65
72
Segundo Barreira, o/a pastor/a em conseqüência dessa ambigüidade
sente-se consagrado/a para realizar determinadas tarefas, mas em
outras continua sendo um/a mero/a leigo/a. Essa confusão estaria
ligada aos princípios da Reforma em igualar uma função cotidiana às
tarefas sagradas dos sacerdotes. A frase abaixo expressa muito bem
esse assunto.
“O camponês que ara, a criada que limpa, o
ferreiro que bate na bigorna fazem uma obra tão
louvável e saudável como o bom pregador
evangélico cujo ofício é doutrinar o povo cristão –
muito mais que o odiado monge que mussita seus
85
sempiternos pai-nossos” .
O/A pastor/a acaba perdendo o seu caráter de consagrado/a, em
conseqüência o seu ministério pastoral acaba sendo comparado com
qualquer outro cargo ou atividade cotidiana.
Segundo Leonildo Silveira Campos uma das maiores problemáticas que
o/a
pastor/a
enfrenta
em
seu
ministério
é
a
secularização
do
86
pastorado , em conseqüência das transformações provocadas pela pósmodernidade. Essa secularização acaba afetando a confiança que o
pastor tem na execução de sua tarefa.
85
86
Id. Ibid. p. 66.
Leonildo Silveira CAMPOS, Contribuição das Ciências Sociais para uma Ánalise do Perfil do Estudante de
Teologia Candidato a Pastor Protestante. Trabalho realizado para o Simpósio da Aste, onde o tema de
estudo era “A prática do cuidado pastoral em instituições teológicas. 2002. p. 12-13.
73
Hoje as sociedades experimentam um rápido
processo de “desmontagem” das instituições
tradicionais de gestão do sagrado, dentro dos
limites da chamada “pós-modernidade”. Ao lado
disso surgem novos grupos e movimentos
religiosos, os quais elaboram a figura do líder
religioso e definem o seu papel a partir de um
novo
design. Fala-se, freqüentemente em
sociedades
pós-modernas
ou
mínimo
em
contextos de alta modernidade, privilegiando-se
nessas discussões tanto os paradigmas da
“secularização” como também de uma suposta
“revanche do sagrado” 87.
Neste mundo de intensas e radicais transformações em que o/a
vocacionado/a encontra-se, principalmente as decorrentes da pósmodernidade, a crise resultante da mesma não é apenas de ordem
pessoal, mas de acordo com o Dr. Leonildo Silveira envolve entre
muitas
mudanças,
as
de
ordem:
econômica,
sociológica,
psico-
sociológica.
Além da solidão, da dúvida, da tentação que desafiam o/a pastor/a, tão
mencionados por Karl Barth, encontra-se o “desafio de compor uma
identidade em meio à pluralidade”88. Segundo Vilmar Noé, essa
identidade
entraria
em
choque
a
partir
do
momento
que
o/a
vocacionado/a desloca-se para o centro de formação teológica. É neste
87
88
Id. Ibid. p.13.
Sdnei Vilmar NOÉ. Reflexões sobre o trabalho pastoral com estudantes de teologia. Trabalho realizado para
o Simpósio da Aste, onde o tema de estudo era “A prática do cuidado pastoral em instituições teológicas.
2002. p.4.
74
ambiente que o vocacionado/a será “confrontado com a multiformidade
e heterogeneidade”. É neste confronto que surgirá a seguinte questão –
Quem sou eu? - essa pergunta fará com que o/a vocacionado/a busque
sua identidade própria, noutras palavras, também revela, uma crise de
identidade.
(...) a identidade do eu da pessoa chamada vai se
formando conforme “o sentido de unidade e
continuidade interior que perdura no tempo e nas
diversas circunstâncias, unido à capacidade de
manter solidariedade com um sistema realístico
de valores”. Tendo em vista o que foi exposto, é
necessário perguntarmos: “O sacerdote está
orientado em termos de tempo, espaço e
identidade? Ele sabe em que tempo está, onde
está e quem é?” Podemos afirmar que “... é
fundamental para a saúde mental de um homem
que ele esteja orientado em termos de tempo,
espaço e identidade, ou – em outras palavras –
que ele esteja consciente de si mesmo”. Caso
contrário, uma crise de identidade individual de
alguém refere-se aos níveis básicos de sua
personalidade, ele sofre de uma patologia grave.
Depressão
profunda,
atitudes
compulsivas,
obsessivas,
e
diferentes
formas
de
comportamento psicótico indicam a necessidade
de ajuda psiquiátrica e, ás vezes, até de
hospitalização”89.
Neste período de faculdade, e das crises ocorridas pela mesma, seria
adequado um acompanhamento multidisciplinar em seus desafios, pois
89
Edílson de Assis VOLFE, Op. Cit. p. 54.
75
as crises e os desafios enfrentados são de ordem emocional e
psicológica, social, vocacional e espiritual 90.
Para Maria Eugenia essa crise de identidade do/a pastor/a vai além das
controvérsias teológicas, elas revelam uma profunda crise estrutural do
próprio pastorado. “Muitas vezes o pastor não tem consciência desta
crise; tem problemas com sua comunidade, com sua opção de vida,
91
com seu papel” .
Em concordância com a proposta de Sidnei Vilmar, Hannuch expressa
sua preocupação no preparo dos docentes, além do preparo docente
seria
necessário
o
preparo
psicopedagógico.
Quanto
à
crise
de
identidade promovida, não apenas com o contato com a teologia, mas
do ambiente que o/a vocacionado/a enfrentará após sua formação,
garante Hannuch que é possível amenizar esse processo por meio da
92
“instalação de pastorados de equipe” . Já Sidnei Vilmar, considera que
esse acompanhamento deverá começar dentro do campus de formação
teológica, assim ele propõe:
Somente
o
acompanhamento
técnico
e
profissional, todavia, não será suficiente para que
a formação teológica envolva seus estudantes em
90
Sidnei Vilmar NOÉ, Op. Cit. p. 4.
Maria Eugenia Madi HANNUCH, Conflitos no exercício do ministério pastoral. In: Ciências da Religião.
Cadernos de Pós – Graduação, nº 7, outubro de 1992. p. 51.
92
Maria Eugenia Madi HANNUCH, Op. Cit. p. 56.
91
76
um
clima
de
amadurecimento
emocional,
cognitivo, comportamental e espiritual. O campus
de formação teológica, para proporcionar uma
formação integral em todos esses níveis – o que é
um imperativo na qualificação para o trabalho
comunitário – precisa ter uma “alma” 93.
Que esse ambiente, juntamente com todos/as aqueles/as que o
compõem, seja uma especie de “útero comunitário”, ao que tudo indica,
esse ambiente deveria funcionar como um “espaço terapêutico”.
Segundo a pesquisa realizada por Guilherme de Amorim94, as questões
que mais promovem crises no/a vocacionado/a e no percurso do seu
ministério são:
1) crises vocacionais: As crises que evolvem diretamente a questão
da vocação, promovem intranqüilidades e a incerteza de ser
realmente chamado/a para o ministério pastoral, como também,
se existe ou não vocação?
2) crises relacionadas com a liderança da igreja: Destaca-se aqui o
ciúme da parte da liderança da igreja em relação ao/a pastor/a,
93
94
Sidnei Vilmar NOÉ, Op. Cit. p. 5.
Guilherme de Amorim Ávilla GIMENEZ, A Crise no Ministério Pastoral: Uma análise das relações entre a
vocação e as crises ministeriais na perspectiva da teologia prática. 2002, (Dissertação de mestrado.
Instituto Ecumênico de Pós-graduação em Ciências da Religião – Instituto Metodista de Ensino
Superior). pp. 50-92.
77
como também: líderes muito difíceis, os que querem mandar no/a
pastor/a etc;
3) crises com a igreja: Destacam-se neste item questões advindas
do relacionamento entre o/a pastor/a e a Igreja: membros/as
insubordinados/as à autoridade pastoral, oposição de membros da
Igreja, famílias tradicionais da Igreja não aceitam a orientação
pastoral e disputam a liderança, frieza espiritual da Igreja com o/a
pastor/a, sem amigos/as na Igreja etc;
4) crises pessoais: Estariam correlacionadas as crises pessoais
questões emocionais e questões individuais do/a pastor/a como:
auto-estima, frustração, aflição, saúde, stresse, falta fé etc;
5) crises financeiras: Ligam-se a este tema a problemática referente
ao sustento do/a pastor/a: salário muito baixo; não conseguir
administrar as financias pessoais, não receber o salário durante
um determinado tempo etc;
6)
crises
familiares:
Destacam-se
aqui
o
divórcio,
mau
relacionamento com os filhos, a distância e falta de tempo em
relação a família etc.
78
Esses seis itens foram o resultado da pesquisa elaborada por Guilherme
de Amorim. Ela comprova que a crise vocacional é o principal elemento
de conflito no ministério pastoral, ou seja, a vocação é o maior
motivador de crises 95.
Até aqui se obteve a constatação que as crises que envolvem o/a
vocacionado/a e o seu ministério pastoral não são apenas de ordem
pessoal, mas envolvem a dúvida de ser ou não vocacional, problemas
de relacionamento, problemas com a igreja, crises promovidas pelas
mudanças radicais da pós-modernidade e outras. Verifica-se assim, que
a crise ou as crises é e são uma constante na vida do/a vocacionado/a.
Assim sendo, como o/a vocacionado/a poderia lidar com essas crises,
será que elas contribuem no crescimento e amadurecimento do mesmo?
É aqui que a psicologia dá sua contribuição de forma mais concreta no
entendimento das crises e na promoção de uma vida mais saudável
dos/as chamados/sa para esse ministério, que nos dias de hoje é tão
desvalorizado.
95
Guilherme de Amorim Ávilla JIMÉNEZ, Op. Cit. p. 82.
79
III.III
Saúde Integral do/a Vocacionado/a
Para que a psicologia auxilie o/a vocacionado/a neste momento tão
crucial de crise, primeiramente é necessário, antes de qualquer
encaminhamento psicológico, que o/a vocacionado/a reconheça que
96
precisa de ajuda, segundo May seria o “encorajar a si mesmo” ,
admitir que sozinho não será possível resolver as crises que envolvem o
ministério pastoral, esse é um passo para a futura solução das crises.
“O pastor é chamado por Deus mas isso não lhe
tira as características de homem. Ele tem uma
missão como ministro de Deus mas isso não lhe
isenta de sofrer as mesmas angústias que os
homens sofrem. Para ajudar outros o pastor
precisa reconhecer-se homem. A vocação não
97
rouba os atributos humanos do pastor” .
O que se torna mais difícil para o/a vocacionado/a é admitir-se como ser
humano sujeito aos perigos, doenças, falhas, erros e crises como
qualquer outra pessoa. Isso ocorre pela má compreensão em torno do
seu chamado, pois se o chamado provém de Deus, automaticamente
o/a vocacionado/a torna-se imune a qualquer problema ou males da
vida. Contudo percebeu-se que isso não é verdade e que quão
96
97
Gerald G MAY, Saúde da Mente, Saúde do Espírito: psiquiatria e atendimento pastoral, p. 125.
Guilherme de Amorim Ávilla GIMÉNEZ, Op. Cit. p. 97.
80
importante e necessário é saber a fragilidade do ser humano aos
desafios e mudanças decorrentes da vida.
Mas, embora o sofrimento seja uma realidade
presente e inevitável, não deve ser aceito de
forma conformista e passiva. Todos devem ser
levados a compreender o sofrimento, e sua
compreensão conduz, naturalmente, ao alívio da
dor, à cura da ferida 98.
Segundo, para que o/a homem e a mulher tenham uma vida equilibrada
é preciso que ele/a apresente harmonia nos três níveis da vida:
psicofisiológico, é o nível ligado mais aos estados físicos do ser humano
(necessidades fisiológicas e orgânicas); psicossocial, é a necessidade do
convívio social; e racional-espiritual, necessidades existenciais, a busca
99
do sentido das coisas .
Outro aspecto é que na conceituação de
saúde/doença
estamos
concebendo
o
ser
humano, como um ser total e que a saúde só é
alcançada quando todos os aspectos de sua
personalidade são atingidos , o que redunda num
estado de harmonia com o conseqüente estado de
100
equilíbrio psicossomático .
Josias PEREIRA, A Função Terapêutica na e da Comunidade Cristã. In: Caminhando, Revista Teológica da
Igreja Metodista, ano III – nº 5 – 1992, São Bernardo do Campo, SP: Editeo/Umesp. p. 31.
99
Amedeo CENCINI & Alessandro MANENTI, Psicologia e Formação, p. 13-16.
100
Josias PEREIRA, Op. Cit. p. 29.
98
81
Dessa forma, conclui-se que a psicologia levará o/a vocacionado/a em
estado de crise a compreender que a saúde integral não diz respeito
apenas ao espiritual – a cura da alma – mas que ela é adquirida no
processo do viver a cada dia de maneira mais plena possível, integrando
a ela o reconhecimento de si mesmo e do outro. O ser humano é um ser
de corpo, mente e espírito em comunidade. No caso especifico do/a
vocacionado/a, que lida diretamente com a religião, o seu espaço de
vivência – a comunidade – deverá proporcionar, assim como a
psicologia,
subsídios
para
a
superação
de
crises,
“bem
como,
sedimentações de sentido da vida” 101.
Sabemos que a crise se faz através de dificuldades que o ser humano
enfrenta no processo da vida, neste caso, onde à crise vocacional se
encaixaria? Será que ela não poderia ser a continuidade de uma outra
crise mal resolvida, gerando assim, uma confusão de objetivos originais
e crise de identidade? Neste ponto, se segue a linha de pensamento de
Erik H. Erikson, que esclarece sobre a crise como um degrau das fases
do desenvolvimento da personalidade e, coloca também, que cada fase
está em conexão com outra fase. Estando a personalidade ligada a
101
Blanches de PAULA, Espaço Potencial e Religião. In: Caminhando: Revista da Faculdade de teologia
Metodista, v 6, nº 8, jul. 2001. São Bernardo do Campo, SP: Editeo/Umesp, 1982 -. p. 184
82
todas as fases do desenvolvimento humano qualquer implicação ou não
superação em determinada fase poderia ocasionar em uma crise 102.
Decorrendo
sobre
a
temática
“crises
vocacionais” e
sobre
suas
implicações no processo de formação, percebe-se então, a importância
do tema para uma melhor compreensão das reações de alguns
acadêmicos perante situações que implicariam no seu desenvolvimento
pastoral.
102
Blanches de PAULA, Estágios da Fé: Fé e Desenvolvimento Humano. São Bernardo do Campo: Faculdade
de Teologia da Igreja Metodista, 1994. pp. 30-32.
83
CONCLUSÃO
A presente pesquisa não tem como objetivo fechar o assunto em torno
do que seria vocação, mas esta pesquisa cumpre o papel de acrescentar
ao material, por sinal bem escasso, já publicado sobre o tema.
Segundo a pesquisa realizada percebe-se que primeiramente a vocação
é destinada ao serviço, ao bem da comunidade. Se Cristo, razão de toda
vocação, veio para servir e não para ser servido, denota que toda
pessoa é chamada a servir. A Bíblia considera os termos “vocação” e
“chamado” não como experiência pessoal simplesmente, mas uma
experiência que leva o/a vocacionado/a a uma atitude de serviço. Já na
84
compreensão da Igreja, ela pretende afirmar que esse serviço é limitado
apenas à comunidade de fé, o que diverge do verdadeiro caráter de
missão. Assim sendo, toda vocação não é somente para a Igreja, mas
para o serviço que beneficie a comunidade e sociedade, seja ela cristã
ou não.
Nessa perspectiva, a vocação torna-se “um chamado para servir”. Podese dizer que aquele/as que assumem esse chamado para servir,
assumem um caráter mais humano, pois por meio do seu serviço,
tornam-se capazes de conhecer o rosto do próximo, sobretudo das
vítimas
de
injustiças.
Isso
nos
mostra
que
a
vocação
passa
obrigatoriamente por uma compreensão comunitária, isso é possível
pela necessidade de pensar sempre, segundo a ética, no bem das outras
pessoas.
Aquele/a que se sente chamado/a ou vocacionado/a, não pode viver
esse chamado de forma individualista, pelo contrário, deverá perceber
que o caráter divino desta vocação se dá a partir do momento em que,
quem está sendo esmagado pela opressão manifesta seu grito, e então
o vocacionado/a vai de encontro à vítima .
85
É confiado ao vocacionado/a, de forma mais enfatizada, àqueles/as que
exercerão o chamado para ministério pastoral, uma responsabilidade
muito grande, e como conseqüência enormes cobranças e pressões no
exercício do seu ministério/serviço. Decorrente dessas exigências, e
outros
aspectos,
o/a
vocacionado/a
acaba
passando
por
crises
vocacionais.
A vocação ainda é um elemento fundamental para o exercício do
ministério
pastoral,
contudo,
compreende-se
que
falar
de
crise
vocacional ainda é um tabu na formação teológico-pastoral. Contudo
sabe-se que ela está presente, seja como conseqüência de uma outra
crise no processo de formação da personalidade ou até mesmo
decorrentes do próprio meio acadêmico. A crise, de fato, acontece,
culminando muitas vezes na falta de direção original. Entendendo como
essa crise acontece ficará mais fácil desenvolver um trabalho junto a
tantos que estão perdidos em meio a tantas crises e dúvidas.
86
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