XXXV Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Aveia Universidade Federal do Rio Grande do Sul 07 a 09 de abril de 2015, Porto Alegre, RS 40 anos do Programa de Melhoramento Genético de Aveia da UFRGS ESTUDO DO MECANISMO DE TOLERÂNCIA AO HERBICIDA IODOSULFURONMETHYL EM GENÓTIPOS DE AVEIA BRANCA (Avena sativa L.) Andrew Rerison Silva de Queiroz1, Elouize Xavier2, Marisa de Cacia Oliveira3, Ribas Antonio Vidal4 Os inibidores da enzima ALS são herbicidas que atuam na inibição da acetolactato sintase (ALS), também conhecida como acetohidroxiácido sintase (AHAS), essencial na biossíntese dos aminoácidos de cadeia ramificada (valina, leucina e isoleucina) (DUGGLEBY et al., 2008). Compartilham este mecanismo de ação os herbicidas de diversos grupos químicos, incluindo imidazolinonas, sulfoniluréias, triazolopirimidinas, pirimidiniltiobenzoatos e sulfonilaminocarbonil-triazolinona (HEAP, 2015), sendo os quatro primeiros utilizados no Brasil. O iodosulfuron-methyl é um inibidor da ALS, pertencente ao grupo das sulfoniluréias, que começou a ser comercializado no mundo no final da década de 1990. Esse herbicida controla plantas daninhas pertencentes às classes das Magnoliopsidas e Liliopsidas nas culturas do trigo, triticale, centeio e cevada (KRAMER et al., 2012). Em aveia branca relata-se certo nível de tolerância a esse herbicida em alguns genótipos (QUEIROZ et al., 2014).Contudo, não se tem informações sobre o mecanismo envolvido. Sabe-se que em muitos casos, a ocorrência de alteração no local de ação conduz a tolerância para vários herbicidas que atuam num mesmo local. Porém, também há tolerância cruzada devido ao aumento do metabolismo (detoxificação ou degradação) (COBB E READE, 2010). O objetivo desse trabalho foi elucidar o mecanismo de tolerância de genótipos de aveia ao herbicida iodosulfuron-methyl por meio da avaliação da tolerância aos diferentes grupos químicos dos herbicidas inibidores da ALS e da análise da sensibilidade da enzima ALS de aveia. Durante o outono/inverno de 2013 foi realizado um experimento em casa de vegetação do Laboratório da Flora Ruderal (LAFLOR) pertencente à Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, situada em Porto Alegre, RS. Além de um ensaio com a atividade da enzima ALS de aveia no Laboratório de Bioquímica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus de Pato Branco, PR. Para o experimento em casa de vegetação foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado, em arranjo tri-fatorial, com três repetições e duas plantas por unidade experimental. O fator A foi constituído de quatro genótipos de aveia branca (‘UFRGS 14’, ‘URS Guará’, ‘URS Guria’ e ‘UFRGS 18’). O fator B foi composto por herbicidas inibidores de ALS de quatro grupos químicos: imazethapyr (imidazolinona), nicosulfuron (sulfoniluréia), penoxsulam (triazolopirimidina) e bispyribacsodium (pirimidinil-tiobenzoatos). O fator C pelas doses dos herbicidas: imazethapyr (0 e 212 g ha-1), nicosulfuron (0 e 100 g ha-1), penoxsulam (0 e 120 g ha-1) e bispyribac-sodium (0 e 100 g ha-1). No experimento conduzido em casa de vegetação, a aveia foi semeada em recipientes plásticos drenáveis com capacidade para 500 mL, contendo substrato na proporção de 1:1 (50% de Argissolo vermelho + 50% de areia) mais a adição de 24 g da formulação 5-20-30 de N-P-K e 10 g de uréia para cada 20 kg de substrato mais 5 kg de substrato comercial (Beifort A-100, Classe A). Em cada vaso foram colocadas seis sementes e quando as plântulas apresentavam duas folhas foi realizado o desbaste, deixando-se duas plantas por recipiente. A aspersão dos herbicidas foi realizada nas plantas quando se encontravam no estádio de 4-5 folhas, sendo utilizada câmara de aspersão regulada para um volume de calda equivalente a 1 Eng. Agr.,M.Sc., Estudante de Doutorado, UFRGS, Porto Alegre, RS. E-mail: [email protected] Eng.ª Agr.ª, M.Sc., Estudante de Doutorado, UTFPR, Pato Branco, PR. E-mail: [email protected] 3 Eng.ª Agr.ª, Dr.ª, Prof.ª, UTFPR, Pato Branco, PR. E-mail: [email protected] 4 Eng. Agr.,Dr., Prof., UFRGS, Porto Alegre, RS. E-mail: [email protected] 2 200 L ha-1. O herbicida imazethapyr (Imazetapir Plus Nortox, 106 g L-1) foi aplicado em conjunto com 0,5% v /v de Assist; nicosulfuron (Nicosulfuron Nortox, 40 g L-1) sem adição de adjuvante; penoxsulam (Ricer, 240 g L-1) com adição de 0,5% v /v de Óleo vegetal; bispyribac-sodium (Agribac-S, 20 g L-1) com 0,25% v /v de Fixade. As variáveis avaliadas foram: tolerância relativa e massa da parte aérea seca aos 30 dias após a aplicação (DAA) do herbicida. Para avaliação da tolerância relativa utilizou-se escala visual, atribuindo-se notas conforme o sintoma apresentado pelas plantas. As notas de tolerância relativa estavam compreendidas entre 0 (ausência de tolerância) e 100 (tolerância total). Entre esses valores extremos, os demais valores corresponderam à magnitude dos sintomas: redução das dimensões dos entrenós e folhas das plantas, descoloração, clorose e necrose dos tecidos foliares e meristemas. Para o ensaio in vitro da enzima ALS, as concentrações do herbicida iodosulfuronmethyl (Hussar, 50 g kg-1), nos microtubos, foram de 0 (100% da atividade da enzima), 5, 25 e 50 µM. Todos os tratamentos foram realizados com três repetições. Os procedimentos utilizados para a extração da enzima ALS de aveia e avaliação da sua atividade seguiram a mesma metodologia descrita por Xavier et al. (2013). Todos os resultados foram submetidos à análise de variância, assumindo até 5% de probabilidade de erro experimental. O teste de médias utilizado foi o Teste t a 5% de probabilidade. Nos dados de tolerância relativa avaliada aos 30 DAA, foi observada maior sensibilidade das plantas dos genótipos de aveia branca, em ordem decrescente, aos herbicidas nicosulfuron, imazethapyr e bispyribac-sodium quando em comparação com sua respectiva testemunha. Não houve diferença no nível de tolerância relativa das plantas dos genótipos UFRGS 14 e UFRGS 18 em relação a suas respectivas testemunhas para o penoxsulam (Figura 1 C). Quando realizada a comparação dentro da mesma condição de dose do herbicida, todas as plantas dos genótipos testados se mostraram sensíveis ao imazethapyr e nicosulfuron (Figura 1 A e B). Nas plantas tratadas com o herbicida penoxsulam foi verificada maior sensibilidade nas plantas dos genótipos URS Guará e URS Guria em relação aos genótipos UFRGS 14 e UFRGS 18 (Figura 1 C). A menor sensibilidade ao herbicida bispyribac-sodium foi obtida nas plantas do genótipo UFRGS 14 em comparação com os demais genótipos na mesma dose (Figura 1 D). Na variável de massa da parte aérea seca não foi verificada diferença na massa de plantas secas (na média de quatro genótipos) apenas no tratamento com penoxsulam, quando comparado com a testemunha. Para a mesma condição de herbicida se observaram maiores reduções na massa seca média (quatro genótipos) nos tratamentos com nicosulfuron, imazethapyr e bispyribac-sodium (dados não mostrados). Na literatura, em experimento realizado com espécies de inverno também foi observada tolerância de aveia e de cevada apenas ao herbicida do grupo das triazolopirimidinas (cloransulam) (NUNES et al., 2007). No genótipo de aveia Albasul, evidenciou-se situação similar, mas com tolerância cruzada aos herbicidas dos grupos das triazolopirimidinas penoxsulam e pirimidinil-tiobenzoatos bispyribac-sodium (HARTWIG et al., 2008). Na avaliação da seletividade de herbicidas a aveia branca também se observou alta sensibilidade ao herbicida imazethapyr e tolerância cruzada das plantas aos herbicidas inibidores da ALS dos grupos das sulfoniluréias (chlorimuron-ethyl e metsulfuron-methyl) e das triazolopirimidinas (diclosulam) (DALAZEN, 2012). Apesar de não confirmarem o mecanismo de tolerância, alguns desses estudos especularam o envolvimento de enzimas de detoxificação. Porém, determinadas pesquisas mostram que algumas modificações de nucleotídeos no gene als também podem promover tolerância a um ou mais grupos químicos de herbicidas inibidores da enzima ALS devido à redução da sensibilidade da enzima aos herbicidas (WHALEY et al., 2007; LEE et al., 2011). Neste aspecto, os resultados do ensaio enzimático com a ALS de aveia possibilitaram um maior esclarecimento do mecanismo de tolerância ao iodosulfuron-methyl. Constatou-se redução da atividade da enzima ALS proporcional ao incremento das concentrações do herbicida iodosulfuron-methyl (dados não mostrados). Um indicativo de que a enzima ALS de aveia é sensível ao herbicida iodosulfuron-methyl. Os resultados dos experimentos dessa pesquisa indicam que o mecanismo de tolerância ao iodosulfuron-methyl em aveia não está relacionado à menor sensibilidade da sua enzima ALS ao herbicida. As informações obtidas nesse estudo também contribuem para o entendimento do comportamento das plantas de aveia em relação a outros herbicidas inibidores da ALS, indicando possíveis produtos que poderiam ser seletivos para a cultura. Referências: COBB, A. H.; READE, J. P. H. Herbicides and plant physiology. 2. ED. Chichester: John Wiley & Sons Ltd, 2010. 295p. DALAZEN, G. Estratégias de controle e artropodofauna de buva (Conyza bonariensis) associada em lavoura de soja e em pastagem de inverno. 2012. 101f. Dissertação (Mestrado em Agronomia)Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2012. DUGGLEBY, R. G.; MCCOURT, J. A.; GUDDAT, L. W. Structure and mechanism of inhibition of plant acetohydroxyacid synthase. Plant Physiology and Biochemistry, Paris, v. 46, n. 3, p. 309-324, 2008. HARTWIG, I., et al. Tolerância de trigo (Triticum aestivum) e aveia (Avena sp.) a herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS). Planta Daninha, Viçosa, v. 26, n. 2, p. 361-368, 2008. HEAP, I. The international survey of herbicide www.weedscience.org. Acesso em: 01 de janeiro de 2015. resistant weeds. Disponível em: KRAMER, W. et al. Modern crop protection compounds. 2. ED. Weinheim: Wiley-VCH Verlag & Co. KGaA, 2012. v. 1-3. 1550p. LEE, H. et al. Single nucleotide mutation in the barley acetohydroxy acid synthase (ahas) gene confers resistance to imidazolinone herbicides. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, Washington, v. 108, n. 21, p. 8909-8913, 2011. NUNES, A. L. et al. Tolerância de espécies de inverno a herbicidas residuais. Scientia Agraria, Curitiba, v. 8, n. 4, p. 443-448, 2007. QUEIROZ, A. R. S. et al. Determinação da seletividade do herbicida iodosulfuron-metil em cultivares de aveia branca (Avena sativa L.). In: Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Aveia, 34. Castro, PR. 2014. Resumos... Castro: RCBPA, 2014. p. 1-4. WHALEY, C. M.; WILSON, H. P.; WESTWOOD, J. H. A new mutation in plant als confers resistance to five classes of als-inhibiting herbicides. Weed Science, Lawrence, v. 55, n. 2, p. 83-90, 2007. XAVIER, E. et al. Acetolactate synthase activity in Euphorbia heterophylla resistant to als - and protox- inhibiting herbicides. Planta Daninha, Viçosa, v. 31, n. 4, p. 867-874, 2013. (A) (B) 125 aA aA aA aA Tolerância relativa (%) Tolerância relativa (%) 100 75 50 aB aB aB 25 125 UFRGS 14 URS GUARÁ URS GURIA UFRGS 18 100 50 25 aB 0 aB aB 0 212 0 aB 100 nicosulfuron (g ha-1) imazethapyr (g ha-1) (C) (D) 100 UFRGS 14 URS GUARÁ URS GURIA UFRGS 18 125 aA 100 aA aA aA aA aA bB bB 75 50 25 Tolerância relativa (%) 125 Tolerância relativa (%) aA aA aA aA 75 aB 0 UFRGS 14 URS GUARÁ URS GURIA UFRGS 18 UFRGS 14 URS GUARÁ URS GURIA UFRGS 18 aA aA aA aA 75 aB 50 bB 25 bB bB 0 0 0 120 penoxsulam (g ha-1) 0 100 bispyribac-sodium (g ha-1) Figura 1.Tolerância relativa de plantas de quatro genótipos de aveia (UFRGS 14, URS Guará, URS Guria e UFRGS 18) a quatro herbicidas inibidores da ALS (imazethapyr (A), nicosulfuron (B), penoxsulam (C) e bispyribac-sodium (D)), determinada aos 30 dias após a aplicação dos herbicidas. Genótipos com a mesma letra minúscula numa mesma dose não são diferentes. Genótipo com mesma letra maiúscula nas duas doses não difere (P>0,05) da testemunha, pelo teste t. UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil, 2013.